Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Física Geral e Experimental II Dr. José Osvaldo de Souza Guimarães C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; GUIMARÃES, José Osvaldo de Souza. Física Geral e Experimental II. José Osvaldo de Souza Gui- marães. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 400 p. “Graduação - EAD”. 1. Física 2. Geral . 3. Experimental 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1812-7 CDD - 22 ed. 621 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Crislaine Rodrigues Galan e Fabio Augusto Gentilin. Designer Educacional Janaína de Souza Pontes e Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Érica Fernanda Ortega e Cíntia Prezoto Ferreira. Editoração Isabela Mezzaroba Belido. Ilustração Bruno Pardinho, Marcelo Goto e Mateus Calmon. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-gra- duação Kátia Coelho; Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristia- ne Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock PALAVRA DO REITOR WILSON DE MATOS SILVA REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! WILLIAM DE MATOS SILVA PRÓ-REITOR DE EAD Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Janes Fidélis Tomelin PRÓ-REITOR DE ENSINO EAD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. Débora Leite DIRETORIA DE DESIGN EDUCACIONAL Kátia Coelho DIRETORIA DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO Leonardo Spaine DIRETORIA DE PERMANÊNCIA APRESENTAÇÃO Bem-vindo(a) à aventura que é o estudo da Física. O que faremos é parte de um desafio lançado há mais de 2500 anos, que foi compreender o mundo que nos cerca sem, em nenhum momento, atribuir causas sobrenaturais aos acontecimentos – um grande desafio que pressupõe que há regras, leis e se- quências nos acontecimentos e que, talvez, possamos descobrir algumas delas. Quanto mais conseguirmos, maispoderemos prever, projetar e construir engenhos que possam melhorar a produtividade, qualidade de vida e a capacidade humana. Nossa frente conta com 9 unidades, abordando 3 grandes temas. Na Unidade 1, começamos analisando como podemos aproveitar o mo- vimento ordenado de cargas elétricas, verificar seus níveis de energia e prever as potências que delas podemos extrair para motores e máquinas elétricas em geral. A Unidade 2 trata de uma característica pertinente a todos os condutores: a resistência elétrica. A importância do conhecimento dessa grandeza permite a você a previsão das perdas nas linhas de transmissão, o dimensio- namento de um chuveiro elétrico e, até mesmo, analisar os riscos da tensão elétrica nos seres vivos. Veremos, também, como é possível substituir um conjunto de resistores por um único que seja equivalente a esse conjunto. Passamos, na Unidade 3, a explorar uma das mais importantes caracterís- ticas da energia elétrica: a sua conversão em energia mecânica e vice-versa, com eficiência em torno de 90%, mesmo nos motores mais simples. Nessa unidade, começamos estudando os geradores, dos quais os exemplos mais simples são as pilhas comuns, mas também fazem parte desse grupo os rotores das turbinas de hidrelétricas e de termoelétricas, nucleares ou ali- mentadas por combustíveis convencionais. Como caracterizar os geradores ou os receptores? Quando compramos pilhas comuns, uma das características é a tensão, em geral 1,5 V, mas essa não é a única grandeza importante, e, por isso, temos pilhas de diversos tamanhos. A potência que podem fornecer e a durabilidade são também outros fatores importantes. No caso dos geradores das hidroelétricas, as características são a tensão e a potência em regime de vazão padronizada. Chegamos ao pontos mais interessante: interligar todos os elementos, ge- radores, receptores, resistores e capacitores formando um circuito elétri- co. Poderemos prever a intensidade da corrente nos vários elementos do circuito, as potências envolvidas em cada um deles, assim como a tensão. Qualquer que seja a modalidade de engenharia que você tenha escolhido, os circuitos elétricos estarão presentes. Chegamos ao magnetismo na Unidade 4. Historicamente, o magnetismo foi considerado algo à parte da eletricidade e só a partir do início do século XIX que foi possível relacionar o magnetismo com as cargas elétricas. Mesmo o magnetismo natural, os ímãs comuns, deve-se a particular dis- tribuição dos orbitais eletrônicos de determinado elemento, chamados de ferromagnéticos. Nessa unidade, aprenderemos a calcular o magnetismo gerado por corren- tes elétricas em espiras circulares e solenoides (bobinas). Assim como todo magnetismo está associado a cargas elétricas em movimento, se pusermos em movimento condutores que possuem portadores de cargas livres, po- demos gerar corrente elétrica. Na Unidade 5, aprenderemos como isso pode ser sintetizado pela Lei de Faraday. Poderemos, então, entender o princípio do funcionamento das turbinas nas hidrelétricas, por exemplo. Começamos a Física Térmica por conceituar e diferenciar bem as grandezas temperatura e calor. Na Unidade 6, aprendemos a construir diferentes escalas de temperaturas, medir quantidades de calor transferidas, analisar situações em que um corpo recebe calor sem mudar de temperatura (fusão do gelo, por exem- plo) e entendemos como avaliar a taxa de transmissão de calor de acordo com diferentes materiais, superfícies de transmissão e espessuras. Isso é importante tanto quando queremos um bom isolamento térmico de um ambiente quanto quando queremos uma boa taxa de refrigeração de um motor a combustão. Na Unidade 7, concentramos nossa atenção nos gases. Como eles podem apresentar grandes variações de volume com relativamente baixas varia- ções de pressão, os gases são elementos chaves nas máquinas térmicas, em particular nos motores de combustão interna. Continuamos a discussão da Unidade 7, incorporando o conceito de ener- gia interna do gás ao princípio da conservação da energia, apresentando a chamada 1ª Lei da Termodinâmica. Na Unidade 8, vamos analisar mais detalhadamente a transformação de calor em energia mecânica. Nosso foco é nas máquinas cíclicas. Carnot demonstrou que o limite de rendimento depende apenas da temperatura máxima e da mínima do ciclo, em seu famoso teorema de 1824. Nos veículos atuais, a maioria dos automóveis utiliza o ciclo Otto, e os ca- minhões e tratores, o ciclo Diesel. Discutimos as vantagens e desvantagens de cada um desses ciclos. Finalizamos o estudo da Termodinâmica com a análise dos ciclos de refrigeração e das bombas de calor, muito usadas hoje em dia para o aquecimento de piscinas e muito mais eficientes que aquecedores elétricos. A Unidade 9 aborda o terceiro e último grande tema de nossa frente. É importante constatar como conseguimos entender a reflexão e a refração da luz em simples leis geométricas. Por que conseguimos usar os espelhos côncavos como espelhos de aumentos? Por que os retrovisores de carro ligeiramente convexos permitem aumentar nosso campo de visão? Como funcionam as lentes? Parece muito, mas, ao final, quando você estiver rela- cionando todas as coisas e se sentindo parte dessa compreensão/descrição dos processos físicos, tenho certeza que a sensação será de “quero mais”. CURRÍCULO DOS PROFESSORES Dr. José Osvaldo de Souza Guimarães Possui Doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo sobre computação evolutiva aplicada às equações diferenciais não lineares no Espaço de Hilbert, mestrado em História da Ciência pela PUC-SP sobre Teoria da Relatividade e gra- duação em Física pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Estudou Engenharia Naval na Escola Polictécnica-USP e é autor de vários livros didáticos, artigos científicos e revisor de alguns periódicos internacionais. Fez pós-doutorado em propulsão nuclear, na Escola Poli- técnica - USP, com ênfase em métodos espectrais aplicados às equações da termo-hidráulica. Link para o currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/4795293938878813>. Fluxo da Energia Elétrica 15 Resistência Elétrica 41 Conversão da Energia Elétrica 77 Eletromagnetismo Indução Eletromagnética 123 155 Temperatura e Calor 195 Gases em Transformação Máquinas Térmicas 291 Óptica Geométrica 321 239 29 Potencia elétrica e sentido da corrente 57 Corrente em série e paralelo 110 Carga e descarga do capacitor 269 Termodinâmica 303 Motor a combustão Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Professor Dr. José Osvaldo de Souza Guimarães • Aprender a identificar os níveis de energia devido às ações de forças elétricas. • Conceituar corrente elétrica – o movimento ordenado dos portadores de carga. • Prever e calcular a potência elétrica que pode ser obtida nos dispositivos elétricos em geral. • Entender como mensurar o consumo de energia elétrica dos circuitos em geral, incluindo os residenciais. Potencial Elétrico e Nível de Energia Corrente Elétrica Consumo de Energia Elétrica Potência Elétrica Fluxo da Energia Elétrica Potencial Elétrico e Nível de Energia A dinâmica dos fenômenos naturais envolve transformações de energia. Isso ocorre desde as máquinas mais simples até fenômenos mais complexos, como as mudanças atmosféricas e o metabolismo da vida. Algumas formas de energia nos são bem fami- liares, como a energia gravitacional, por exemplo. Pelo nível de água de uma represa, podemos, em um primeiro olhar, ter uma ideia da quantidade de energia armazenada. Da mesma forma, se olharmos para uma estan- te com alguns objetos, identificaremos os vários níveis de energia simplesmente vendo as alturas de cada objeto. 17UNIDADE 1 Não temos a mesma percepção dos níveis de energia só olhando para um circuito elétrico ou mesmo para apenas um fio de cobre. En- tretanto, podemos mediresses níveis utili- zando um aparelho denominado voltímetro. Unidade de Potencial Elétrico A unidade de energia no Sistema Internacional de Unidades (SI) é o joule (símbolo J) e a de carga elétrica é o coulomb (símbolo C). Voltando à prateleira, para cada altura, temos uma determinada quantidade de jou- les para cada quilograma de massa que lá está. Da mesma forma, para cada ponto de um circuito elétrico, temos uma determinada quantidade de joules para cada unidade de carga que lá esteja. Esse é o potencial elétrico do ponto, o qual representamos por V. Em termos mais formais, podemos escrever: V = energia carga A unidade de potencial elétrico é, no SI, joule coulomb J C volt V= = = . Essa unidade foi assim denominada em homenagem ao cientista italiano Alessandro Volta (1745- 1827), que começou por identificar os fenômenos eletrodinâmicos em seres vivos. Portanto, 1 1 1 V joule coulomb = . A altura de um ponto depende da referência que escolhemos. Pode ser o piso do apar- tamento, o chão da rua ou mesmo em relação ao nível do mar, como é usual na aviação. Na eletricidade, procedemos da mesma forma. Usualmente, o nível zero é atribuído a um ponto a ligado à Terra, mas podemos, também, por conveniência, escolher outras refe- rências. Por exemplo, no caso dos automóveis, o chassis é adotado como potencial nulo, e a partir daí é possível mapear o potencial de todos os outros pontos de seus circuitos. Figura 1 - Objetos colocados em vários níveis de energia 18 Fluxo da Energia Elétrica Diferença de Potencial (ddp) A energia posta em jogo, quando as cargas elétricas se deslocam entre dois pontos de um circuito elétrico, depende da diferença de potencial elétrico (U) entre eles. Essa diferença de potencial (ddp) pode ser medida com o voltímetro, como ilustra a figura seguinte. Figura 2 - Voltímetro fazendo a leitura da tensão entre os polos Considerando dois pontos, A e B, de um circuito elétrico, a diferença de potencial entre eles é: U V VA B� � . Geralmente, trabalhamos com essa diferença em módulo, sem preocupação com o sinal. Em circuitos eletrônicos, como o de celulares e computadores portáteis, as tensões são da ordem de alguns volts, mas nas redes de distribuição de energia elétrica, as tensões podem ser da ordem de milhares de volts. Observe os três fios de uma entrada típica de energia elétrica para uma residência, na figura a seguir. 19UNIDADE 1 A B C Figura 3 - Exemplo de fios de entrada para abastecimento de energia elétrica de uma residência Fonte: o autor. Na Figura 3, os três fios têm potenciais diferentes: 110 V, 0 e –110 V. O fio B é o cha- mado neutro. Se uma ligação for feita entre os terminais A e B, teremos uma tensão de 110 V, o mesmo valor que teríamos se fosse entre C e B. Entretanto, se a ligação for feita entre A e C, a tensão será 220 V. Na falta de um voltímetro, uma lâmpada pode ser usada para testar os potenciais, mas nunca tocar os fios energizados. Associado aos potenciais gravitacionais, temos o campo gravitacional. Da mesma forma, associado aos potenciais elétricos, temos um campo elétrico, cujo sentido é do maior para o menor potencial. 20 Fluxo da Energia Elétrica Como podemos utilizar a matéria para conduzir energia elétrica? Para um material ser condutor de eletricidade, é necessário que ele possua portadores de carga elétrica (elétrons, íons positivos ou negativos) e que estes apresentem mobilidades no interior do material. Os materiais condutores podem ser clas- sificados em três grupos. Classificação dos Condutores Primeira classe: condutores metálicos Nesses condutores, temos a ligação metálica, que se caracteriza pela formação de uma rede crista- lina e de uma nuvem eletrônica constituída por elétrons quase livres (Figura 4): são os elétrons mais afastados do núcleo que apresentam fraca energia de ligação com o átomo. Esses elétrons, que se espalham, formam uma verdadeira nuvem pelo retículo cristalino, como um gás. São esses elétrons quase livres os portadores de carga nos metais em geral, como, por exemplo, cobre, alu- mínio, prata etc. Corrente Elétrica 21UNIDADE 1 + + + +++ + + + +++ Segunda classe: condutores eletrolíticos As soluções eletrolíticas têm os íons positivos e os negativos como portadores livres de carga elétrica. Na Figura 5, estão representados íons provenientes da dissociação iônica (compostos iônicos) e, na Figura 6, íons provenientes da ionização (compostos mole- culares) de compostos ácidos, básicos ou salinos em um solvente, normalmente a água. Figura 4 - Rede cristalina e nuvem eletrônica Fonte: o autor. + - Na+ -Cl + - H+-Cl Figura 5 - Solução aquosa de cloreto de sódio Figura 6 - Solução aquosa de ácido clorídrico Nosso corpo tem cerca de 70% de água, com vários íons dissolvidos e conduz ele- tricidade. Se nossa pele estiver molhada, a condutividade é bem mais intensa e os choques mais perigosos. Nesse caso, mesmo tensões residenciais podem ser letais. 22 Fluxo da Energia Elétrica Terceira classe: condutores gasosos Normalmente, um gás é isolante. No entanto, a ação de um forte campo elétrico pode ionizá-lo, formando, como portadores livres, íons positivos e elétrons. Uma vez ionizado, o gás é excelente condutor. É o que acontece nos relâmpagos e também nos tubos de lâmpadas florescentes. Semicondutores e supercondutores Além dos três tipos de materiais condutores descritos anteriormente, temos as subs- tâncias semicondutoras e as supercondutoras. Como exemplo de semicondutores, temos o silício – uma das substâncias mais abundantes na superfície terrestre – e o germânio. Ambos pertencem ao grupo 4A da tabela periódica. Em altos graus de pureza, esses elementos são praticamente isolantes, mas a inserção de pequenas quantidades de gálio ou arsênio, por exemplo (processo comumente chamado de “dopagem”), cria lacunas não preenchidas por elétrons ou elétrons livres, tornando o conjunto condutor. É um processo fundamental na eletrônica moderna. Como já havia sido observado no começo do século XX, com o mercúrio em temperaturas próximas ao zero absoluto, temos substâncias com resistência nula. Atualmente, fundindo-se diferentes materiais em proporções adequadas, obtêm-se “cerâmicas” supercondutoras a temperaturas bem acima do zero absoluto, mas ain- da muito baixas em relação à temperatura ambiente. Atualmente, sua utilização é pequena, devido ao dispêndio de energia para conservar as baixas temperaturas, no entanto, já está presente em supercomputadores e em linhas de pesquisa que exigem eletroímãs superpotentes. O Conceito de Corrente Elétrica Em um metal isolado, os elétrons livres não estão em repouso: eles descrevem um movimento caótico, sem nenhuma direção preferencial. No entanto, quando apli- camos uma diferença de potencial entre dois pontos do metal, estabelecemos um movimento de elétrons numa direção preferencial, do menor para o maior potencial elétrico, constituindo o que chamamos de corrente elétrica. 23UNIDADE 1 Corrente elétrica é o movimento ordenado de portadores de carga elétrica. Devemos entender o movimento ordenado, o que acontece numa direção preferencial em relação às demais. Ela pode ocorrer num meio condutor sólido, líquido ou gasoso. O Sentido Convencional da Corrente Elétrica O movimento ordenado dos portadores de carga fica restrito aos limites impostos pelo condutor, podendo acontecer em dois sentidos. No caso de portadores positivos, eles se movem no mesmo sentido do campo, e no caso de portadores negativos, eles se movem no sentido contrário ao campo elétrico. A figura seguinte é um esquema do movimento de um elétron livre particular, no interior de um fio metálico, antes e após a aplicação do campo elétrico. ivmédia vmédia vmédia E VAVB i = 0 i = 0 = 0 = 0 V = VA B V VA B> Movimento desordenado Movimento ordenado Figura 7 - Campo elétrico produzindo movimento ordenado de cargas Fonte: o autor. Se esse mesmo campo elétrico fosse aplicado em uma solução eletrolítica,teríamos íons positivos se movendo no sentido do campo e íons negativos se movimentando em sentido contrário. O sentido escolhido para a corrente elétrica é o sentido do movimento dos portadores de cargas positivos ou, de maneira equivalente, o sentido contrário ao do movimento dos portadores negativos. Tal escolha se presta tanto para as soluções eletrolíticas, como para os gases ionizados ou para os metais. Em suma, o sentido da corrente é o sentido do campo elétrico aplicado. 24 Fluxo da Energia Elétrica Intensidade da Corrente Elétrica Vamos escolher uma secção transversal do condutor. A grandeza escalar intensida- de de corrente elétrica (i) indica a quantidade de carga elétrica que atravessa essa secção por unidade de tempo. O esquema representa portadores de carga negativos atravessando a secção trans- versal de um fio metálico. - - - - - - - - - - - i Fio Metálico Secção Transversal Figura 8 - Sentido convencional da corrente elétrica Fonte: o autor. Sendo |Δq| o valor absoluto da quantidade de carga que atravessa a secção transversal em um intervalo de tempo Δt, a intensidade média da corrente elétrica (im) é: i q tm = D D No SI, a unidade para intensidade de corrente elétrica é o coulomb por segundo (C/s), que recebe a denominação especial ampère (A), em homenagem ao físico e matemático francês André Marie Ampère. Especialmente na eletrônica, em que se utilizam correntes elétricas de intensidade muito inferior a 1 A, é comum a utilização de submúltiplos do ampère. miliampère 1 mA = 10–3 A microampère 1 μA = 10–6 A Para os casos nos quais a intensidade de corrente elétrica varia com o tempo, utiliza- mos um diagrama horário para representar o seu comportamento. Como exemplo, consideremos que a intensidade de corrente elétrica varia com o tempo conforme mostra a figura seguinte. 25UNIDADE 1 A quantidade de carga que atraves- sa a secção transversal é numerica- mente igual à área compreendida entre a curva e o eixo das abscissas: ∆q N = Área O instrumento para medir corrente elétrica é o amperímetro. Normalmente, os aparelhos de medidas elétricas têm múltiplas funções, de forma que você possa mudá-lo de vol- tímetro para amperímetro apenas girando uma chave. Efeitos da Corrente Elétrica A seguir, vejamos alguns efeitos da circulação da corrente elétrica. Efeito magnético Toda corrente elétrica gera, no espaço ao seu redor, um campo magnético. Esse efeito, portanto, ocorre sempre. Efeito Joule Nos condutores se processa a transformação da energia elétrica em energia térmica. Esse é o princípio de funcionamento do chuveiro e do ferro elétrico. Efeito fisiológico Nossos impulsos nervosos são transmitidos por estímulos elétricos. Dessa forma, a corrente elétrica, por ínfima que seja (microampères), provoca contrações musculares; dependendo da intensidade, pode causar até uma parada cardíaca. Entretanto, embora pareçamos tão vulneráveis, a tensão necessária para produzir a situação descrita deve ser de centenas de volts, pois o corpo humano (seco) é péssimo condutor quando comparado aos metais, por exemplo. Efeito químico Corresponde aos fenômenos elétricos nas estruturas atômicas, objeto de estudo da eletroquímica. A exploração desse efeito é utilizada nas pilhas, na eletrólise, na pro- dução do alumínio, bem como na cromação e niquelação de objetos. i Área = Δq 0 t Figura 9 - Corrente elétrica com intensidade variável Fonte: o autor. 26 Fluxo da Energia Elétrica Efeito luminoso Também é um fenômeno elétrico de nível molecular. A excitação eletrônica pode dar margem à emissão de radiação visível, tal como observamos nas lâmpadas fluo- rescentes e nos relâmpagos. A intensidade de corrente elétrica varia com o tempo, por meio de um condutor, conforme mostrado na Figura 10. 10 5 i (A) 0 2 4 6 t(s) Figura 10 - Corrente elétrica variável Fonte: o autor. Determinar: a) A quantidade de carga elétrica que atravessa uma secção qual- quer do condutor, correspon- dente ao intervalo de tempo de 2,0 s a 4,0 s. b) A intensidade média de corrente elétrica no intervalo de tempo de 0 a 4,0 s. 1 EXEMPLO 10 5 i (A) 0 2 4 6 t(s) Figura 11 - Corrente elétrica variável Fonte: o autor. 27UNIDADE 1 Resolução a) A quantidade de carga elétrica (|Δq|), correspondente ao intervalo de 2,0 s a 4,0 s, é dada, numericamente, pela área do retângulo mostrado na figura: |Δq| = área do retângulo |Δq| = 2,0 · 10 ==> |Δq| = 20 C 10 5 i (A) 0 2 4 6 t(s) Figura 12 - Corrente elétrica variável Fonte: o autor. b) A intensidade média de corrente elétrica, no intervalo de 0 a 4,0 s, é dada por: i q tm � � � , sendo � �q N Área do trapézio destacado na figura ∆ = + ⋅ → ∆ = = → = q q C i i Am m 4 0 2 0 2 10 30 30 4 7 5 , , , 28 Fluxo da Energia Elétrica A potência de uma máquina é uma grandeza que nos diz com que rapidez a energia é transformada. Para qualquer máquina e, em particular, para os aparelhos elétricos, definimos potência (P) pela relação entre a quantidade de energia transfor- mada ou transferida (ΔE) e o intervalo de tempo (Δt) correspondente: = ∆ ∆ E t P . A unidade de potência é o watt, de forma que: 1 1 1 watt J s joule segundo = = . A energia transformada ou transferida corres- ponde ao trabalho da força elétrica, quando des- locamos uma certa quantidade de carga Δq entre dois pontos, cuja diferença de potencial seja U. Potência Elétrica 29UNIDADE 1 Vamos considerar um dispositivo elétrico qualquer, submetido a uma tensão U. Esse dispositivo pode ser um chuveiro, um liquidificador ou mesmo uma TV. Como vamos avaliar a potência desse aparelho? Com o aparelho funcionando, podemos medir a tensão no aparelho com um voltímetro. Podemos, também, medir a corrente com um amperímetro. E obtemos a potência do aparelho calculando o produto das duas medidas. No projeto de uma residência, o engenheiro verifica que, em uma situação de extremo consumo, com vários aparelhos ligados, a demanda dessa casa seria 5500 W. A casa é alimentada por uma rede que tem apenas dois fios, um neutro e outro com 220 V. a) Qual será a corrente elétrica nos fios de alimentação na situação de máxima demanda? b) Considerando que a situação de máxima demanda permaneça por meia hora, qual será a energia consumida pela casa nesse tempo? Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 2 EXEMPLO Aparelho U i Figura 13 - Aparelho elétrico sujeito a uma tensão Fonte: o autor. Potencia elétrica e sentido da corrente Assim, podemos escrever: τ τ = ∆ ⋅ = ∆ → = ∆ ⋅ ∆ → q U E q U t P = iUP 30 Fluxo da Energia Elétrica No exemplo do tópico anterior, vimos que, em apenas meia hora, uma casa consumiu quase 10 milhões de joules. Vemos que, para os padrões de consumo usuais, precisamos de uma unidade de energia bem maior. A escolha acabou recaindo em uma unidade prática, que, embora não seja do SI, mostrou-se adequada para os consumidores terem uma ideia de seus gastos. A unidade quilowatt-hora corresponde à quantidade de energia que um aparelho de 1 kW gastaria durante uma hora de funcionamento contínuo. Comparando-se com o joule, temos: 1 10 3600 3 6 10 3 6 103 6 6kWh W s J s s J= ⋅ = ⋅ = ⋅, , . A intenção dessa unidade é facilitar o cálculo do consumo de energia elétrica. Assim, para tirar proveito dessa unidade prática, devemos consi- derar a potência dos aparelhos em quilowatts e os intervalos de tempo em horas, obtendo, auto- maticamente, o consumo em kWh. Consumo de Energia Elétrica 31UNIDADE 1 Um chuveiro cujos dados nominais são 220V-4000 W é usado, em média, meia hora por dia. Qual será o custo mensal desse uso, sabendo-se que o quilowatt-hora custa R$ 0,40, já incluindo os impostos? Resolução Como = ∆ ∆ E t P , temos ∆ = ⋅∆E tP . Vamos obter o tempo mensal total de uso por: ∆ = ⋅ =t h 30 0 5 15, , considerando o mês de 30 dias. Usando a potência de 4000W = 4 kW, obtemos: � � � � �E kW h4 15 60 . Como cada quilowatt-hora custa R$ 0,40, o custo total será: custo = 0,4 · 60 --> custo = R$ 24,00 Nesta unidade, você aprendeu a conceituar e medir os níveis de energia associados aos portadores de carga elétrica, em particular se estiver contidos em fios conduto- res. Compreendeu as unidades para se medir níveis de energia e fluxo ordenado de portadores da carga – a corrente elétrica. Aprendemos, também, as características dos materiais diante da corrente elétrica, como condutores e isolantes. Em seguida, demos um importante passo avaliando com que rapidez um aparelho pode transformar energia elétrica, conceituando a potência elétrica e aprendendo a calculá-la. Encerramos a Unidade 1 apresentando uma unidade prática para medir o consumo de energia elétrica – o quilowatt-hora – usado, sobretudo, para medir os consumos de residências. 3 EXEMPLO 32 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Se uma corrente elétrica de 3 A percorre um fio durante 2 minutos, a carga elétrica em C, que atravessou a secção reta neste tempo, é: a) 60. b) 110. c) 360. d) 220. e) 180. 2. Uma lâmpada fluorescente contém, em seu interior, um gás que se ioniza após a aplicação de alta tensão entre seus terminais. Após a ionização, uma corrente elétrica é estabelecida e os íons negativos deslocam-se com uma taxa de 1,0 x 1018 íons/segundo para o polo A. Os íons positivos se deslocam, com a mesma taxa, para o polo B. A B Sabendo-se que a carga de cada íon positivo é de 1,6·10–19 C, pode-se dizer que a corrente elétrica na lâmpada será: a) 0,16 A. b) 0,32 A. c) 1,0 x 1018 A. d) 0,48 A. e) Nula. 33 3. A figura a seguir mostra como se pode dar um banho de prata em objetos, por exemplo, talheres. O dispositivo consiste de uma barra de prata e do objeto que se quer banhar imersos em uma solução condutora de eletricidade. Considere que uma corrente de 6,0 A passa pelo circuito e que cada coulomb de carga transportada tem, aproximadamente, 1,1 mg de prata. Solução Barra de Prata Objeto que leva o banho de prata ii a) Calcule a carga que passa nos eletrodos em uma hora. b) Determine quantos gramas de prata são depositados sobre o objeto da figura em um banho de 20 minutos. 4. Uma bateria aplica uma diferença de potencial de 12 V aos terminais de um motor elétrico que, ao ser ligado, é percorrido por uma corrente de 5,0 A. Nesse instante, a potência desenvolvida pelo motor é: a) 2,4 W. b) 17 W. c) 60 W. d) 150 W. e) 300 W. 34 5. Um professor esqueceu os faróis de seu carro acesos quando foi ministrar uma aula que durou 2 horas. Supondo que a corrente que percorre o filamento de cada farol é de 2 ampères e que a bateria de seu carro seja de 6 volts, podemos afirmar que a energia química da bateria foi reduzida de, aproximadamente: a) 24 joules. b) 2,4⋅104 joules. c) 48 joules. d) 17,28⋅104 joules. e) 17,28 joules. 6. A curva característica de um aparelho elétrico é vista na figura seguinte. 4 3 2 1 0 2 4 6 8 10 V (volts) i (mA) a) Qual a potência dissipada quando i = 10 mA? b) Qual é a carga que passa em 10 segundos, quando V = 2,0 V? 35 Sears & Remansky’s University Physics 12 ed. with Modern Physics Autor: Young & Freedman Editora: Pearson-Addison Wesley Sinopse: contém toda Física Básica do ensino superior, com extensa dedicação também à Física Moderna. Comentário: embora tenha mais de 1.600 páginas, esse livro tem a vantagem de reunir em um único exemplar, praticamente, todo vasto conteúdo da Física Básica do ensino superior. A tradução em português desdobrou a obra em 4 volumes e as figuras perderam um pouco da resolução. Há também a versão integral em espanhol. LIVRO Este é um curto vídeo em inglês, mas você pode ativar legendas em português para visualizar a sequência de deslocamentos dos elétrons em um condutor metálico quando submetido à tensão vinda de uma bateria e o circuito é fechado. Além disso, é mostrado o sentido convencional da corrente. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 36 FEYNMANN, R.; LEIGHTON, R.; SANDS, M. Lições de Física de Feynman. Porto Alegre: Artmed, 2008. Volume 3. GUIMARÃES, O.; PIQUEIRA, J. R. C.; CARRON, W. Física - Projeto múltiplo 3V. São Paulo: Ática, 2014. GUIMARÃES, O.; GUADALUPE, A. Sistema de Ensino Poliedro - Física. 4. ed. S. J. dos Campos: Editora Poliedro, 2014. Volume 4. GUIMARÃES, O.; CARRON, W. As faces da Física. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos de Física. 3. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1994. Volume 4. OKUNO, E.; CALDAS, I. L.; CHOW, C. Física para ciências biológicas e biomédicas. São Paulo: Harbra, 1982. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley, 2009. 37 1. C. 2. B. 3. a) 21600 C. b) 7,92 g. 4. C. 5. D. 6. a) 40 mW. b) 0,08 C. 38 39 40 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Aprender sobre uma característica pertinente a todos os condutores: a resistência elétrica. • Estabelecer como calcular a potência dissipada nos resis- tores de várias formas. • Conceituar associação de bipolos elétricos, em particular os resistores, e estudar a associação em série. • Analisar a associação em paralelo, associações mistas e o fenômeno do curto-circuito. Definição de Resistência Potência em um Resistor Associação em Paralelo Associação em Série Dr. José Osvaldo de Souza Guimarães Resistência Elétrica Definição de Resistência Os dispositivos elétricos podem ser classificados quanto à transformação de energia em geradores e receptores. Os que transformam qualquer modalidade de energia em energia elétrica são os geradores, por exemplo a pilha, a bateria, a usina hidroelétrica etc. Os receptores transformam energia elétrica em outra modalidade qualquer, por exemplo: a lâm- pada, o liquidificador, o ferro elétrico, o rádio etc. Os receptores são consumidores de energia elétrica e, de acordo com sua finalidade, podem ser agrupados em duas categorias: os resistivos e os ativos. • Receptores Resistivos Transformam energia elétrica exclusiva- mente em energia térmica. É o caso do chuveiro elétrico, do forno de resistência elétricas e das lâmpadas incandescentes, as quais têm como efeito secundário a in- candescência luminosa. Na categoria dos receptores resistivos, enquadram-se os condutores em geral. 43UNIDADE 2 • Receptores Ativos Transformam energia elétrica em alguma modalidade de energia, desde que não exclusivamente a energia térmica. São os aparelhos de som, a TV, o telefone e os motores elétricos em geral. Os receptores ativos são chamados simples- mente de receptores, e os receptores resistivos, de resistores. Resistência de um Condutor Quando se mantém uma diferença de potencial entre dois pontos de um condutor, estabelece-se uma corrente elétrica entre esses dois pontos, conforme a figura. iA B U Figura 1 - Corrente elétrica estabelecida no condutor Fonte: o autor. A razão entre a diferença de potencial (U) aplicada e a intensidade de corrente elétrica (i) obtida é a resistência do condutor entre os pontos que foi aplicada a ddp. Isto é: R U i = . A figura seguinte mostra como representamos um resistor. A B R i Figura 2 - Símbolo do resistor Fonte: o autor. De acordo com o sentido da corrente elétrica indicado, o potencial do ponto A (VA) é maior do que o do ponto B (VB). Para determinada tensão, quanto menor for a resistência elétrica, maior será a intensidade da corrente. Assim, a grandeza da resistência elétrica está associada, basicamente, a três fatores: • Mobilidade dos portadores de carga livres. • Quantidade de portadores de carga livres de que o condutor dispõe. • A geometria do condutor. No SI, a unidade de ddp é o volt (V), a de corrente elétrica é o ampère (A) e a de resistência elétrica é o ohm (Ω). 44 Resistência Elétrica Como R U i = , temos 1 1 1 � � V A . • A resistência de um condutor, emgeral, depende dos pontos em que esta- belecemos a tensão. Por exemplo, no corpo humano, a resistência entre os dois polega- res é diferente da resistência elétrica entre a ponta do pé e a ponta do nariz. • A resistência elétrica de um condutor, genericamente, varia com a tensão aplicada. • O sentido da corrente elétrica em um condutor é sempre do maior para o menor potencial, pois a passagem dos portadores de carga através dele é acompanhada de um “consumo” de energia potencial elétrica. Fixando-se dois terminais em um determinado condutor, liga-se a ele uma fonte de tensão variável. Em dois experimentos, são medidas a tensão e a corrente que se esta- belece no condutor, conforme a tabela a seguir, mantendo-se a temperatura constante: Situação U (volts) i (A) 1 2,70 3 2 4,50 5 Tabela 1 - Valores experimentais Fonte: o autor. a) Quais os valores da resistência do condutor em cada uma das situações? b) Qual é a potência dissipada na situação 2? Resolução a) Como R U i = , temos, para cada experimento: R1 2 70 3 0 9� � �, , e R2 4 50 5 0 9= = Ω, , . b) Como = iUP , temos: = ⋅ =5 4 5 22 5, , WP . 1 EXEMPLO 1 2 3 0 2 4 6 8 10 10 mA Figura 3 - Arranjo experimental para avaliação da resistência elétrica no corpo humano Fonte: o autor. 45UNIDADE 2 Primeira Lei de Ohm Georg Simon Ohm (1787-1854) observou que, em alguns condutores (particular- mente nos metais), permanecia constante a razão entre a tensão aplicada nos termi- nais e a corrente que neles se estabelecia. Em outras palavras, a resistência elétrica era constante, independentemente da tensão aplicada. A esses condutores foi dada a denominação condutores ôhmicos ou resistores ôhmicos. Para um condutor ôhmico, submetido a diferentes tensões, teremos: U i U i U i Rn n 1 1 2 2 = = = = =K constante Como a resistência é constante nos condutores ôhmicos, nela, a relação entre a tensão e a corrente U R i� �� � uma função linear cuja representação gráfica é uma reta que passa pela origem (Figura 4). Na Figura 5, o gráfico é um exemplo para um condutor não ôhmico. U i Figura 4 - Condutor ôhmico Fonte: o autor. Figura 5 - Condutor não ôhmico Fonte: o autor. U i Não devemos confundir a primeira lei de Ohm com a definição de resistência. Esta se aplica aos condutores em geral: ela não garante a constância da resistência. Já a primeira lei de Ohm só é válida para os condutores ôhmicos. É importante observar que, mesmo um condutor ôhmico, quando submetido a gran- des variações de temperatura, pode apresentar variações em sua resistência elétrica. 46 Resistência Elétrica Vamos considerar apenas os elementos resistivos, ôhmicos ou não. Para esses elementos, temos: R U i i U R e U Ri= = =, Como = iUP (I), vamos obter: = = ⋅iU U R UP --> = U R 2 P (II). Ou, ainda, = = ⋅ ⋅iU i R iP --> =Ri2P (III). Essas duas novas expressões para cálculo da po- tência (II e III) aplicam-se apenas aos condutores em que a tensão nos terminais se deve unicamente à resistência. A expressão (I) aplica-se aos apare- lhos em geral, sem restrições. Qual delas usar? Depende da conveniência em cada problema. Potência em um Resistor 47UNIDADE 2 Um chuveiro elétrico é construído para funcionar em 220 V e apresentar uma po- tência elétrica de 4.400 W. a) Em condições normais de funcionamento, qual é a resistência elétrica do chuveiro? b) Considerando o chuveiro como condutor ôhmico, qual será sua potência quando ligado em 110 V? Resolução a) Como foram dadas a tensão e a potência, vamos usar: = U R 2 P . Temos: 4400 220 220 11= ⋅ Ω R R⇒ b) Considerando que o chuveiro é um condutor ôhmico, sua resistência é cons- tante. Assim, a potência correspondente a uma tensão de 110 V vale: = U R 2 P , = 110 11 2 P --> = 1100 WP . Observe que, em um condutor ôhmico, quando a tensão é reduzida à metade de seu valor original, a potência se reduz a um quarto do seu valor original. Segunda Lei de Ohm A segunda lei de Ohm nos permite calcular a resistência de um condutor em função de suas características. Assim, dado um condutor homogêneo, de comprimento L e área de secção transversal A (Figura 6), a resistência elétrica R entre seus extremos é: R L A = r Nessa expressão, r representa uma característica de cada material, chamada de resistividade elétrica. A L Figura 6 - Segmento de fio cuja resistência é R L A = r 2 EXEMPLO 48 Resistência Elétrica Uma lâmpada incandescente (100 W, 120 V) tem um filamento de tungstênio de comprimento igual a 31,4 cm e diâmetro 4,0 · 10–2 mm. A resistividade do tungstênio à temperatura ambiente é de 5,6 · 10–8 Ωm. a) Qual a resistência do filamento quando ele está à temperatura ambiente? b) Qual a resistência do filamento com a lâmpada acesa? Resolução a) Como R L A = r e A r d� � � � � � � � �p p 2 2 2 , vamos obter: A m� � �� � � � � � � 3 14 4 10 4 3 14 4 10 5 2 10 2 , , . Assim, R = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = − − −5 6 10 3 14 10 3 14 4 10 148 1 10, , , Ω . b) Em geral, com o aumento de temperatura, a resistividade dos materiais au- menta. Assim, a resistência do filamento com a lâmpada acesa é diferente da resistência do filamento em temperatura ambiente. Vejamos: = U R 2 P , logo 100 120 144 2 = → = R R Ω Reostato Na Figura 7, temos um cir- cuito elétrico constituído por uma fonte de tensão, por um amperímetro (aparelho que indica a medida da corrente elétrica), por uma lâmpada e por um reostato. A posição do cursor no reostato determi- na o comprimento do resistor (fio muito fino enrolado no corpo do reostato). Desse modo, podemos obter, com o reostato, valores variados de resistência elétrica. O funcionamento do reostato se baseia em dois aspectos da 2ª lei de Ohm. • O fio é bem longo e a resistência é proporcional ao comprimento. • O fio é bem fino, de forma que a resistência por unidade de comprimento não seja desprezível (ela é inversamente proporcional à área da secção transversal). 3 EXEMPLO A Amperímetro Fonte de Tensão Reostato Cursor Figura 7 - Montagem de um reostato Fonte: o autor. 49UNIDADE 2 Curto-Circuito Em um circuito elétrico, a função dos fios (condutores elétricos) é conduzir a energia elétrica. No extremo ideal, os fios somente conduziriam, sem dissipação de energia pela circulação da corrente elétrica. Na prática, as resistências dos fios usados na configuração dos circuitos são, geralmente, muito menores que a dos outros aparelhos envolvidos, de modo que podem ser desprezadas. Observe, na Figura 8, um trecho de fio, com destaque para dois pontos, X e Y. Se esse fio não dissipa energia, então esses dois pontos têm o mesmo potencial. x y Figura 8 - Pontos em curto-circuito Fonte: o autor. De fato, aplicamos esse conceito no dia a dia. Se queremos ligar um aparelho qualquer, mas ele está muito longe da tomada, usamos uma extensão. A extensão apenas leva os potenciais da tomada até os terminais do aparelho. Do ponto de vista da potência, temos: = UiP , mas como U = 0, a potência dissipada é nula, qualquer que seja a intensidade da corrente. Dizemos que os pontos X e Y estão em curto-circuito. Lei de Nós Chama-se nó o ponto de junção de três ou mais fios. A Figura 9 mostra uma junção de três fios que conduzem, respectivamente, as cor- rentes elétricas i1, i2 e i3. Nó i1 i2 i3 Figura 9 - Fios convergindo em um nó Fonte: o autor. 50 Resistência Elétrica As quantidades de carga elétrica, por unidade de tempo, que atravessam os fios 2 e 3, são provenientes do fio 1. Como sabemos que carga elétrica não se perde nem se ganha, apenas se transfere, concluímos então que: i i i1 2 3� � Genericamente, enunciamos assim a lei dos nós: o somatório das intensidades de corrente elétrica que se aproximam de um nó deve ser igual ao somatório das inten- sidades de corrente elétrica que se afastam desse mesmo nó. A figura ilustra dois resistores percorridos pelas correntes indicadas. a) Considerando os pontos A e B, qual deles tem o maior potencial?b) Qual é a intensidade da corrente elétrica i1? c) Quais são as resistências R2 e R3, sabendo-se que a tensão entre os pontos A e B é de 36 V? A 1i 2R 3R 2i = 3 A 3 i = 4 A B Figura 10 - Resistores em uma associação Fonte: o autor. 4 EXEMPLO 51UNIDADE 2 Resolução a) Nos resistores, o sentido da corrente é do maior potencial elétrico para o menor potencial, logo, pelo sentido da corrente, concluímos que o potencial elétrico de A é maior que o de B (VA > VB). Examinado os pontos que estão interligados por um fio ideal, vemos que todos os pontos destacados por um círculo vermelho têm o mesmo potencial do ponto A (VA), ao passo que os pontos destacados com um círculo preto têm o mesmo potencial que o ponto B (VB). b) Pela lei dos nós, temos: i1 = i2 + i3 , assim i1 = 3+4 , portanto i1 = 7 A Devemos notar que a corrente i1 se refere a um trecho de curto-circuito. Nesse trecho, tanto a tensão como também a resistência elétrica são nulas. A determinação da intensidade da corrente é, então, feita pela lei dos nós. c) Vamos aplicar, para cada resistor, a definição de resistência. R U i U R R R R = = → = = → = = 36 36 4 36 3 9 12 1 2 1 2V Ω Ω 3 3 52 Resistência Elétrica Em várias situações práticas, é comum precisar- mos de um certo valor de resistência não disponí- vel isoladamente ou, ainda, ligar um aparelho em uma rede cuja tensão é maior que a especificada para o aparelho. Em tais circunstâncias, torna-se necessário associar resistores, a fim de atingirmos o objetivo desejado. Vamos analisar três tipos de associação: a associação em série, a associação em paralelo e, finalmente, uma composição de ambas, chamada de associação mista. Dois ou mais dispositivos elétricos, em particular os resistores, estão associados em série quando são percorridos pela mesma corrente elétrica. Para que isso ocorra, é suficiente que, entre os dispositivos, não existam nós. Associação em Série 53UNIDADE 2 Na Figura 11, há dois resistores associados em série. i1 A U i 1 AB UBC UAC 2 i i B CR R i1 A U i 1 AB UBC UAC 2 i i B CR R Figura 11 - Resistores associados em série Fonte: o autor. Propriedades da Associação em Série Vamos analisar as propriedades desse tipo de associação: 1. A tensão entre os extremos da associação é a soma das tensões em cada resistor. U U UAC AB BC� � Essa propriedade é um dos desta- ques da associação em série. Como cada resistor está submetido a uma parcela da tensão total, essa associa- ção é usada para distribuir a tensão total entre dois ou mais resistores. Se os resistores são idênticos, as tensões a que estão submetidos tam- bém são idênticas. Como exemplo, podemos considerar duas lâmpadas idênticas, fabricadas para funcionar sob tensão de 6 V, num local em que somente se dispõe de uma bateria (fonte) de 12 V. Ligando-se essas duas lâmpadas em série, a tensão em cada uma será exatamente 6 V, e elas funcionarão em condições normais (Figura 12). 6 V 6 V 12 V Figura 12 - Duas lâmpadas idênticas associadas em série Fonte: o autor. 54 Resistência Elétrica A desvantagem da associação em série é que, se uma das lâmpadas queima, o cir- cuito fica aberto, e a outra lâmpada deixa de funcionar. As lâmpadas não funcionam de forma independente. 2. A maior resistência corresponde a maior potência dissipada, pois =R i2.P . Como a intensidade de corrente elétrica (i) é a mesma nos dois resistores, a potência é diretamente proporcional à resistência. Assim, se: R R1 2 1 2> → >P P 3. As tensões individuais são proporcionais às resistências, pois U R i� � , e a intensidade de corrente é a mesma para todos os resistores. 4. Vamos imaginar que os resistores R1 e R2, associados em série, sejam substi- tuídos por um único resistor, denominado resistor equivalente (Req.). Situações Equivalentes Req A A AB C C R i i i ii 1 B R2 U BCU ACU ACU Figura 13 - Associação e o resistor equivalente Fonte: o autor. 55UNIDADE 2 Esse resistor equivalente, ligado aos pontos A e C, é submetido à diferença de potencial UAC, percorrido pela corrente elétrica i, tal que: U R iAC eq� � Como U U UAC AB BC= = , temos: R i R i R ieq. � � � � �1 2 --> R R Req. � �1 2 . Genericamente, para vários resistores associados em série, temos: R Req i i . �� . Três resistores estão associados em série, conforme ilustra a figura. Aplica-se, então, uma tensão de 120 V entre os terminais A e B dessa associação. 120 V 30 Ω 10 Ω20 ΩA B Figura 14 - Associação de resistores Fonte: o autor. Determine: a) A resistência equivalente da associação. b) A intensidade da corrente elétrica em cada resistor. c) A tensão em cada resistor. d) A potência total dissipada pela associação. Resolução a) A resistência equivalente pode ser obtida por: R Req i i . �� , isto é R Req eq= + + → =20 30 10 60 Ω. b) A intensidade da corrente é a mesma para todos os resistores. U R i i AAB eq= → = = 120 60 2⋅ c) Vamos aplicar U R i� � para um dos resistores. U U e U V20 2 40 30 2 60 10 2 20= ⋅ = = ⋅ = = ⋅ =,V V . d) Vamos aplicar: . 5 EXEMPLO 56 Resistência Elétrica Dizemos que dois ou mais aparelhos, em particu- lar os resistores, estão associados em paralelo se estiverem submetidos à mesma tensão. Vamos admitir que tenhamos uma bateria que forneça uma tensão constante para um conjunto de resistores. Como exemplo, podemos considerar a bateria de um automóvel, a qual estejam ligadas três lâmpadas diferentes, cujas resistências são R1, R2 e R3. As três lâmpadas funcionam de maneira independente. O fato de apagarmos qualquer uma das lâmpadas não interfere no funcionamento das outras, pois continuam sob a mesma tensão e com a mesma resistência. Associação em Paralelo 57UNIDADE 2 Observando os potenciais elétricos dos pontos em que estão ligadas as lâmpadas, po- demos montar um outro circui- to, que não é igual ao primeiro, mas é eletricamente equivalente (as lâmpadas continuam sob a mesma tensão elétrica), com vantagem de economizar alguns trechos de fio. Os circuitos de cada uma das lâmpadas funcionam paralela- mente, não no sentido geomé- trico, mas sim no sentido de que são independentes. VA VA VA R1 R2 R3 V A B A VB VB VB VB VA VA VA R1 R2 R3 V A B A VB VB VB VB Figura 15 - Lâmpadas associadas em paralelo Fonte: o autor. Figura 16 - Circuito equivalente ao da Figura 15 Fonte: o autor. Podemos representar, esquematicamente, a associação desses três resistores, conforme ilustra a figura seguinte. Corrente em série e paralelo 58 Resistência Elétrica VA VBi i i1 i2 i3 R1 R2 R3 Figura 17 - Resistores em paralelo Fonte: o autor. UAB = VA – VB. Propriedades da associação de resistores em paralelo Pela lei dos nós, podemos escrever: i i i i� � �1 2 3 A menor resistência corresponde a maior potência dissipada, pois P U R = 2 , e a tensão (U) é a mesma para todos os resistores. A intensidade da corrente elétrica em cada resistor é inversamente proporcional a sua resistência, pois, pela definição de resistência, U R i� � , logo , ou seja, Resistor equivalente Para a associação em paralelo, podemos também usar a ideia de substituir todos os resistores associados por um único: o resistor equivalente. VA VBi i Req. VA VBi i i1 i2 i3 R1 R2 R3 Circuitos equivalentes Figura 18 - Resistor equivalente Fonte: o autor. 59UNIDADE 2 i i i i i U R � � � � � � � �� 1 2 3 , assim: U R U R U R U R AB eq AB AB AB . � � � 1 2 3 , logo 1 1 1 1 1 2 3R R R Req. � � � Casos particulares Para apenas dois resistores, a equação anterior pode ser desenvolvida como: 1 1 1 1 2 1 2 1 2R R R R R R Req. � � � � � → R R Req. = +1 2 . Se forem “n” resistores iguais: 1 1 1 R R R n R R R n n eq. vezes eq. � � � � � �... � �� �� Três resistores de resistências R1 = 60 Ω; R2 = 30 Ω e R3 = 20 Ω estão associados em paralelo, sendo a ddp da associação igual a 120 V. VA VBi i i1 i2 i3 R= 60 Ω1 R = 30 Ω2 R = 20 Ω3 U = 120V Figura 19 - Associação em paralelo Fonte: o autor. Determinar: a) A corrente elétrica em cada resistor. b) A corrente total que se estabelece na associação. c) A resistência equivalente à associação. d) A potência total dissipada. Resolução a) A ddp é a mesma em todos os resistores. Como a intensidade de corrente elétrica pode ser obtida por i U R = , temos: i1 120 60 = , logo i A1 2 0= , i2 120 30 = , logo i A2 4 0= , i3 120 40 = , logo i A3 6 0= , 6 EXEMPLO 60 Resistência Elétrica b) A corrente total que se estabelece na associação é i i i i� � �1 2 3 , assim i i A= + + =2 4 6 12, c) A resistência equivalente à associação é dada por 1 1 1 1 1 2 3R R R Req � � � , logo 1 1 60 1 30 1 20Req. � � � 1 1 2 3 60 6 60 1 10R .eq � � � � � → Req. = 10 Ω d) Para o cálculo da potência total, utilizamos a corrente total i. Pt = iU, logo Pt = 12·120 --> Pt = 1440 W. Associação Mista O exemplo a seguir ilustra vários resistores associados. Eles não estão todos em série e nem todos exclusivamente em paralelo. Em casos como este, a resolução será por partes, até que atinjamos a meta final que é reduzir a associação a um único resistor que seja equivalente à associação, acompanhando os seguintes passos: • Substituímos os resistores que estejam associados em série, em cada trecho, por um resistor equivalente. • Substituímos os resistores que estejam em paralelo, em cada trecho, por um resistor equivalente. • Retornamos ao passo inicial, até que tenhamos reduzido todo o conjunto a um único resistor que lhe seja equivalente. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Determinar a resistência equivalente da associação mista dada na Figura 20. A B10 Ω 30 Ω 20 Ω15 Ω 25 Ω 5 Ω Figura 20 - Associação mista de resistores Fonte: o autor. 7 EXEMPLO 61UNIDADE 2 Resolução Comecemos pelo cálculo do equivalente nos trechos em que os resistores estão em série. A B10 Ω 30 Ω 60 Ω 20 Ω15 Ω 25 Ω 5 Ω R R s s � � � � � 25 15 20 60 Agora, resolvemos os associados em paralelo. A B10 Ω 20 Ω 30 Ω 60 Ω 5 Ω 1 1 60 1 30 1 2 60 1 20 20 R R p p= + = + = → = Ω O novo circuito equivalente é: A B10 Ω 20 Ω 5 Ω Como estão todos em série: R R = + + = 10 20 5 35 Ω No circuito a seguir, determinar a intensidade da corrente no resistor de 3 Ω, saben- do-se que a tensão entre os pontos A e B é de 18 V. 4 Ω 6 Ω 3 Ω A B 8 EXEMPLO 62 Resistência Elétrica Resolução A sequência seguinte ilustra os vários passos, até a obtenção do resistor equivalente. 4 Ω 6 Ω R = 2 ΩP 3 Ω A B 4 Ω 2 ΩA B 6 ΩA B Pela definição de resistência: U R iAB eq= . 18 6 3� � � �i i A Considerando-se o ponto M, intermediário entre A e B, vamos observar: 4 Ω 2 ΩA M B 12 V 6 V 18 V U U AM AM = ⋅ = 4 3 12 V U U MB MB = ⋅ = 2 3 6 V Convém observar que U U UAM MB AB+ = = 18 V . Voltando ao circuito original, a tensão no resistor de 6 Ω é portanto 6 V. U R i i i A = = → =6 6 11 1 Explorando a Lei de Nós A compreensão da Lei dos Nós, em conjunto com a definição de resistência, consti- tui-se num ponto chave para o aprendizado de toda a eletrodinâmica. Vamos considerar os exemplos seguinte, que resolveremos utilizando esses dois aspectos. 63UNIDADE 2 Resistor em curto-circuito Quando os terminais de um resistor estão interligados por um fio ideal, dizemos que esse resistor está em curto-circuito. A tensão nesse resistor é nula e, em decorrência, ele não está em funcionamento, podendo ser descartado por ocasião do cálculo do resistor equivalente. No exemplo seguinte, o resistor de 12 Ω está em curto. A resistência equivalente entre os pontos A e C é de 6 Ω. 4 Ω Nó 1 12 Ω 2 ΩBAA i i C Figura 21- O resistor de 12 ohms está em curto-circuito Fonte: o autor. A corrente no curto-circuito tem a mesma intensidade que a corrente total. Isso ocorre por uma imposição física que é a lei dos nós, uma vez que é nula a corrente no resistor de 12 Ω. O esquema a seguir representa um circuito sujeito a uma tensão total de 36 V, sendo o potencial do ponto A maior que o potencial do ponto B. Qual a intensidade e o sentido da corrente em cada um dos ramos? 12 6 4 BA Gerador = 36 V Figura 22 - Circuito com alguns curtos Fonte: o autor. 9 EXEMPLO 64 Resistência Elétrica Resolução Primeiramente, vamos identificar cada um dos nós utilizando as propriedades do curto-circuito. Como fizemos no caso anterior, começamos pelos extremos. A figura ilustra o resultado desse processo, com destaque para os sentidos das correntes. Como sabemos, nos resistores, o sentido da corrente é do menor para o maior potencial (de A para B). Observe que, devido aos curtos, o potencial de A1 é o mesmo de A, e o de B1 é o mesmo de B. 12 B1 A1 6 4 BA Gerador = 36 V Figura 23 - Circuito com 3 resistores e alguns curtos-circuitos Fonte: o autor. Assim, em todos os resistores, a ddp é 36 V. i U R U U V i A i A i A AB = = = → = = = = = = 36 36 12 3 36 6 6 36 4 9 1 2 3 Para os curtos, vamos aplicar a lei dos nós: j A j A 1 2 3 6 9 6 9 15 � � � � � � � � � Com relação às correntes j3 e j4, teremos: j A e j A3 43 15 18 9 9 18� � � � � � Método do varal Para a obtenção do resistor equivalente em situações mais complexas, podemos re- correr a esse método, que simplifica o arranjo dos resistores e permite uma melhor visualização dos tipos de associação. 65UNIDADE 2 O método se constitui dos seguintes passos: • Desenhamos duas linhas, representando fios ideais, que correspondem aos dois extremos da associação, atribuindo uma letra ao potencial de cada uma delas (por exemplo A e B). • Fazemos uma primeira simplificação do circuito, obtendo o resistor equi- valente das associações que seguramente estão feitas em série e em paralelo. • Em seguida, atribuímos uma letra a cada um dos potenciais intermediários. Lembrar que pontos ligados por um fio ideal têm o mesmo potencial. • Entre os dois extremos, desenhamos as linhas referentes aos potenciais inter- mediários. • Transportamos os resistores para esse novo desenho, tendo como base os potenciais a que estão ligados. • Apagamos as sobras dos fios de ligação. • Com esse novo desenho, calculamos o resistor equivalente. O exemplo seguinte ilustra esse processo. Considere a associação de resistores representada a seguir com os respectivos valores das resistências. X Y 6,0 Ω 6,0 Ω 6,0 Ω 6,0 Ω 3,0 Ω Qual é a resistência equivalente entre os pontos X e Y? Resolução Vamos identificar cada um dos nós e os respectivos potenciais. X X X Y B Y 6,0 Ω 6,0 Ω 6,0 Ω 6,0 Ω 3,0 Ω 10 EXEMPLO 66 Resistência Elétrica A sequência seguinte ilustra circuitos equivalentes, até chegarmos a um único resistor. 3 Ω 6 Ω 6 Ω 3 Ω X B Y 6 Ω 6 Ω X Y 6 Ω 3 Ω 6 Ω 6 Ω 3 Ω X B Y 6 Ω 6 Ω X Y 6 Ω R Req eq. .= → = 6 3 2 Ω Instalações Residenciais Para que o fato de uma lâmpada estar acesa ou apagada não interfira no funcionamento dos outros dispositivos elétricos, é comum, nas residências, que todos os aparelhos elé- tricos estejam associados em paralelo. Como na associação em paralelo a corrente total é a soma das correntes dos compo- nentes, para não sobrecarregar os fios, é comum dividir a instalação em grupos de cir- cuitos, e as correntes mais elevadas passam apenas pelos fios de entrada da rede externa. Esses fios de entrada serão, então, mais grossos, para suportar essas elevadas correntes. A Figura 24 mostra o esquema de uma instalação residencial com três circuitos: um para a sala, outro para a cozinha e um terceiro para o chuveiro. A alta potência desse último aparelho justifica a necessidade de um circuito separado para ele, com fios mais grossos. Agora, desenhamos o varal e “dependura- mos” os resistores. 6 Ω 6 Ω 6 Ω 6 Ω 3 Ω X B Y Apagamos as sobras dos fios de ligação 6 Ω 6 Ω 6 Ω 6Ω 3 Ω X B Y 67UNIDADE 2 Figura 24 - Típica instalação residencial Fonte: o autor. Além de elementos de proteção geral, na chegada da rede externa, as normas de segurança determinam que cada circuito tenha o seu próprio elemento de proteção. Isso permite que se possa fazer a manutenção em uma parte da casa sem desligar a energia elétrica de outros circuitos. É o que ocorre quando se usam, por exemplo, disjuntores para circuitos individuais. Outro elemento de segurança é o fio terra. A ligação à terra é representada pelo símbolo da Figura 25. Suponha que, por algum defeito, um dos fios energizados do chuveiro encoste na sua carcaça metálica externa. Se uma pessoa com o corpo molhado encostar na carcaça, poderá levar um choque de grande intensidade. Para evitar esse risco, liga-se a carcaça à terra por um fio bem grosso que desviará a maior parte da energia elétrica para o solo se houver algum defeito. Em alguns países, existe a exigência desses fios terra em todas as tomadas. Nesse caso, mesmo as tomadas de 127 V têm três furos: fase, neutro e terra. No Brasil, essa norma já entrou em vigor. Em resumo, temos: • Fios fase e neutro: são usados para distribuir a energia da rede elétrica às tomadas e aparelhos em geral de uma residência. O fio fase é energizado (po- tencial elétrico de 127 V) e o neutro possui potencial próximo de zero. • Fio terra: usado para prevenir choques. neutro circuito 1 20 W 15 W 15 W neutro fase 1 fase 1 fase 2 220 V circuito 2 circuito 3 circuito 3 (220V) 1 Chuveiro 5400 W200 W 50 W 80 W Circuito 1 (127V) 1 lâmpada 20 W 1 lâmpada 15 W 1 televisão 80 W Total 115 W fase 2 Circuito 2 (127V) 1 lâmpada 15 W 1 geladeira 200 W 1 rádio 50 W Total 265 W 5400 W 68 Resistência Elétrica Relacionamos a resistência elétrica com a tensão e a in- tensidade da corrente em um condutor. De quais fatores ela depende e como podemos calculá-la, conhecendo-se o material e a geometria do condutor? Encontramos essa resposta na 2ª Lei de Ohm e aprendemos como aplicá-la, encontrado a resistência de um resistor. Embora a ideia leiga de curto-cir- cuito seja de catástrofes nos circuitos elétricos, vimos que é por meio dos curtos que interligamos os resistores e outros elementos dos circuitos. Estuamos e aprendemos as pro- priedades das associações de resisto- res em série, paralelo e mistas, chegan- do ao conceito de resistor equivalente. Figura 25 - Símbolo para ligação do fio terra Fonte: o autor. 69 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A tabela a seguir reúne características de três condutores correspondentes à corrente elétrica que eles conduzem. CONDUTOR diferença de potencial (V) 5 10 15 20 25 A intensidade da corrente (A) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 CONDUTOR diferença de potencial (V) 15 25 30 35 40 B intensidade da corrente (A) 3 5 7 9 11 CONDUTOR diferença de potencial (V) 10 20 30 40 50 C intensidade da corrente (A) 4 8 12 16 20 Para quais desses condutores é válida a lei de Ohm? a) Apenas A. b) A e B. c) A e C. d) B e C. e) Apenas C. 2. Um fio metálico de resistividade 1⋅10-4 Ω cm tem comprimento de 20 m e secção circular de área 2 mm2. Quando uma corrente de 5 A percorre esse fio, a queda de potencial que ele provoca é: a) 5.000 V. b) 1.500 V. c) 500 V. d) 250 V. e) 50 V. 70 3. Uma cidade consome 1,0 · 108 W de potência e é alimentada por uma linha de transmissão de 1.000 km de extensão, cuja voltagem, na entrada da cidade, é 100.000 volts. Essa linha é constituída de cabos de alumínio cuja área da seção reta total vale A = 5,26 · 10-3 m2. A resistividade do alumínio é ρ = 2,63 · 10-8 Ωm. a) Qual é a resistência dessa linha de transmissão? b) Qual é a corrente total que passa pela linha de transmissão? c) Que potência é dissipada na linha? 4. A lâmpada de um certo instrumento de laboratório funciona normalmente dissipando uma potência de 48 W e foi fabricada para ser alimentada por uma fonte de tensão de 24 volts. Não dispondo de uma fonte desse tipo, o usuário do instrumento decidiu usá-lo na linha de 220 volts, tomando antes o seguin- te cuidado: ligou, em série com a lâmpada, uma resistência ôhmica, de valor previamente calculado, para que aquela tivesse funcionamento normal. Qual o valor, em ohms, dessa resistência? a) 1. b) 3. c) 100. d) 98. e) 108. 71 5. Na associação de resistores da figura a seguir, os valores de i e R são, respec- tivamente: 2 A 8 A R 2 R 40 Ω i a) 1 A e 10 Ω. b) 2 A e 2,5 Ω. c) 4 A e 2,5 Ω. d) 16 A e 5 Ω. e) 8 A e 5 Ω. 6. Um resistor de 10 Ω, no qual flui uma corrente elétrica de 3,0 ampères está associado em paralelo com outro resistor. Sendo a corrente elétrica total, na associação, igual a 4,5 ampères, o valor do segundo resistor, em ohms, é: a) 5,0. b) 10. c) 20. d) 30. e) 60. 72 Física para cientistas e engenheiros Autor: Paul A. Tipler e Gene Mosca Editora: LTC Sinopse: aborda o Eletromagnetismo com mais profundidade, mas exige conhe- cimentos de cálculo. Embora o nível seja avançado, o livro é bastante didático e a linguagem é acessível. Comentário: o livro é interessante para quem tem algum pendor para a pesquisa e tenha tempo para aprofundamentos. O grau de dificuldade dos exercícios é de médio para alto. LIVRO Vídeo sobre a segunda Lei de Ohm, curto e simples. As legendas em português podem ser ativadas. O vídeo compara o fluxo de um fluido por um canal com o fluxo de elétrons pelos fios e apresenta as grandezas resistividade e conduti- vidade e ainda como calcular a resistência a partir da geometria do condutor e das propriedades do material. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 73 FEYNMANN, R.; LEIGHTON, R.; SANDS, M. Lições de Física de Feynman. Porto Alegre: Artmed, 2008. Volume 3. GUIMARÃES, O.; PIQUEIRA, J. R. C.; CARRON, W. Física - Projeto múltiplo 3V. São Paulo: Ática, 2014. GUIMARÃES, O.; CARRON, W. As faces da Física. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos de Física. 3. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1994. Volume 4. OKUNO, E.; CALDAS, I. L.; CHOW, C. Física para ciências biológicas e biomédicas. São Paulo: Harbra, 1982. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley, 2009. 74 1. B. 2. A. 3. a) 5 Ω. b) 1000 A. c) 5.106 W. 4. D. 5. D. 6. C. 75 76 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir e estudar os geradores, os rotores das turbinas de hidrelétrica e de termoelétricas, nucleares ou alimentadas por combustíveis convencionais. • Explorar uma das mais importantes características da energia elétrica, os receptores. • Interligar todos os elementos, geradores, receptores, re- sistores e capacitores, formando um circuito elétrico. • Entender e conceituar o funcionamento de um capacitor. Geradores Receptores Capacitores Leis de Kirchhoff Dr. José Osvaldo de Souza Guimarães Conversão da Energia Elétrica Geradores Neste módulo, vamos aprender sobre formas de gerar a energia elétrica, formas de tirar proveito dessa modalidade de energia e acionar máquinas, sobre a distribuição de correntes nos circuitos e, finalmente, os capacitores como elementos capa- zes de armazenar a energia elétrica. Os dispositivos elétricos podem ser classifica- dos quanto à transformação de energia. Os que transformam qualquer outra modalidade de ener- gia em energia elétrica são os geradores, como, por exemplo, uma pilha comum. Os portadores de carga, ao atravessarem a pilha, têm um ganho de energia potencial elétrica, as custas da energia química que é transformada. 79UNIDADE 3 Força Eletromotriz Para cada unidade de carga que atravessa um gerador, existe, em correspondência, uma quantidade de energia de outra modalidade que se transforma em elétrica. Essa quantidade seria o ganho de energia potencial elétrica (DE ), por unidade de carga (Dq ), caso se tratassede um gerador ideal. A essa grandeza denominamos força eletromotriz (fem). Algebricamente: e � � � E q , cuja unidade é joule coulomb volt V= ( ) . Pela própria unidade que essa grandeza apresenta, vemos que a designação força não é apropriada, uma vez que ela tem a mesma natureza de uma diferença de po- tencial. O nome apenas permanece por motivos históricos. Existe uma diferença entre a força eletromotriz e a tensão. Ela reside no fato de que esta última é sempre medida entre dois pontos distintos de um circuito elétrico, ao passo que a força eletromotriz acontece localmente, no interior do gerador. Resistência Interna Para que os portadores de carga recebam energia potencial elétrica, é necessário que eles atravessem o gerador. O interior do gerador oferece, à circulação dos portadores de carga, uma determinada resistência. Gerador ideal é aquele em que não há tal resistência. Na prática, tratamos como ideal o gerador que possuir uma resistência interna desprezível em relação à equivalente do circuito elétrico que ele alimenta. Cálculo das potências A Figura 1 ilustra uma bateria em operação. Suponhamos que o poten- cial do polo A (VA) seja de 20 V e que VB seja 8 V. A tensão entre os terminais da ba- teria é U V V VA B� � �12 . + - i A B Figura 1 - Bateria alimentando uma lâmpada Fonte: o autor. 80 Conversão da Energia Elétrica O polo de maior potencial é comumente chamado de polo positivo, mas vemos, por esse exemplo, que os sinais dos polos, na verdade, referem-se a qual deles tem maior potencial e qual tem menor potencial. Isto é, o polo negativo não é, necessariamente, negativo. O sentido da corrente elétrica, no interior da bateria, é do menor para o maior po- tencial, pois trata-se de um movimento forçado, onde os portadores de carga ganham energia potencial elétrica para, em seguida, fornecê-la ao circuito (lâmpada) em que está ligada a bateria. Potência total (Pt) Essa potência se refere à energia de qualquer outra modalidade que é consumida para produzir energia elétrica por unidade de tempo. Da definição de força eletromotriz, temos: � � ��E qe . Como � � � E t , podemos escrever: P q t P it t� �� � � � � e e . Potência dissipada (Pd) É a potência consumida pela resistência interna. Conforme já vimos, a potência dissipada em uma resistência pode ser calculada por: P r id � � 2 Potência útil (Pu) É a potência elétrica que o gerador fornece ao circuito ligado entre seus polos. Con- siderando que o circuito ligado aos terminais do gerador seja um aparelho qualquer submetido à tensão U, a potência útil é: P U iu � � Equação do gerador Em eletricidade, procuramos sempre estabelecer, para cada aparelho, uma relação entre a intensidade da corrente elétrica que o atravessa (i) e a tensão entre os seus terminais (U), ou seja, procuramos determinar uma função U tal que U = U(i). Como já calculamos cada uma das potências envolvidas no funcionamento do gerador, vamos relacioná-las, considerando o princípio da conservação da energia. 81UNIDADE 3 Pt = Pu + Pd ei = Ui + r · i2 e = U + r · i Þ U = e – r · i Essa última expressão é chamada de equação característica do gerador. Símbolo do gerador Dois fenômenos ocorrem simultaneamente em um gerador: • A transformação de um outro tipo de energia em energia elétrica, traduzida por um ganho de potencial elétrico (ε). • Consumo de energia elétrica devido à resistência interna, traduzido por uma redução no potencial elétrico (r · i). A Figura 2 representa um gerador elétrico. Devemos observar que o sentido da cor- rente elétrica é do menor para o maior potencial elétrico, ou seja, os portadores de carga têm um ganho de energia potencial elétrica ao atravessar o gerador. i gerador rε U - + Figura 2 - Símbolo do gerador Fonte: o autor. Perfil dos potenciais Olhando para uma montanha russa, é fácil visualizar os pontos onde o carrinho tem maior ou menor energia potencial, devido à ação da gravidade. Basta avaliarmos a altura de cada posição. Porém, como nos circuitos elétricos essa visualização não é diretamente possível, utilizamos um esquema gráfico denominado perfil dos po- tenciais (veja a figura seguinte) para representar os ganhos ou as perdas de energia potencial elétrica dos portadores de carga. 82 Conversão da Energia Elétrica i r ε ε U - + U ri Figura 3 - Níveis de energia ao longo do percurso no gerador Fonte: o autor. Vamos analisar as transformações de energia, considerando o sentido convencional da corrente elétrica. Ao serem alçados, do menor para o maior potencial elétrico, os portadores de carga ganham energia potencial elétrica. Ao atravessar a bateria, uma parte dessa energia é dissipada devido à resistência interna (efeito Joule). O restante da energia é fornecida ao aparelho que está ligado ao gerador. Curva Característica do Gerador A função U(i) = ε – r · i , onde ε e r são constantes, é uma função U de primeiro grau na variável i. O gráfico dessa função é uma reta, conforme Figura 4: 0 i = i curto-circuito circuito aberto ε ε r U CC Figura 4 - Pontos notáveis no funcionamento do gerador Fonte: o autor. 83UNIDADE 3 Observando-se o ângulo α da figura seguinte, temos: tg r rα ε ε = = 0 i = i (A) ε ε r U CC α β Figura 5 - Curva de um gerador Fonte: o autor. Pontos notáveis Na curva característica de um gerador, merecem destaque dois pontos: o do circuito aberto e o do curto-circuito. Circuito aberto (i = 0, U = ε) Se i = 0, não há consumo de energia na resistência interna. Nessa condição, a tensão entre os terminais do gerador é a própria força eletromotriz (fem). Dizemos que o circuito está aberto, pois não há circulação dos portadores de carga. Medir a tensão entre os terminais de uma bateria, com o circuito aberto, é um procedimento usual para estabelecermos qual é sua força eletromotriz. Curto-circuito U i i rcc � � �� � � � � �0, e Para que os dois polos do gerador tenham o mesmo potencial elétrico, basta ligarmos esses pontos com um fio ideal; o gerador ficará numa situação de curto-circuito. Nessa situação, a potência útil é nula e toda energia de outra modalidade que está se transfor- mando em energia elétrica é dissipada internamente no próprio gerador. Se o gerador for, por exemplo, uma pilha comum, observa-se que ela se descarregará rapidamente. 84 Conversão da Energia Elétrica Podemos dizer que, exceto em situações acidentais, o interesse relativo à essa situação é meramente teórico, pois, na prática, estaríamos danificando o gerador. Lei de Pouillet Consideremos um gerador alimentando um circuito exclusivamente resistivo. Pode- mos ter, nesse circuito, vários resistores associados, mas é sempre possível substituí-los por um único: o resistor equivalente. A A BB i i i i r Rε Figura 6 - Circuito elétrico elementar Fonte: o autor. Conforme vemos, pela Figura 6, há um único percurso fechado – chamado de malha – para a circulação dos portadores de carga. Sempre que essa condição é obedecida, dizemos que se trata de um circuito de malha única. Vemos, pelos potenciais relativos aos pontos A e B, que a tensão nos terminais do gerador é a tensão fornecida ao resistor: U r i U R i r i R i � � � � � � � � � � � � � e e logo e � � �( )R r i, que podemos expressar por e � � � ��R i Caso tenhamos mais de um gerador, mas ainda obedecendo à condição de malha única, a expressão se torna: e� �� � ��R i (lei de Pouillet) O somatório das forças eletromotrizes e�� � é igual à soma das tensões em todos os resistores R i R i�� � � � �� ��� , internos e externos. 85UNIDADE 3 Observe que quem “dá as cartas”, ou seja, determina o sentido da corrente, é o gerador, e neste, o sentido da corrente é do menor para o maior potencial, impondo que a corrente tenha o sentido horário. Rendimento O rendimento (η) de uma máquina qualquer é a relação entre a potência útil e a potência total consumida. Nos geradores, vamos, então, escrever: P h = P P
Compartilhar