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SABERES, TÉCNICAS E ORGANIZAÇÃO DAS SOCIEDADES PRÉ- COLOMBIANAS – EF07HI02 HISTÓRIA – PROFª LETÍCIA Grande parte dos historiadores acredita que as mais antigas cidades da América se formaram em torno de grandes centros cerimoniais, nas regiões da Mesoamérica e dos Andes. Há pelo menos 5 mil anos, já existiam ali sociedades organizadas em cidades, nas quais o poder estava centralizado nas mãos de governantes. Nelas, havia especialização do trabalho e atividade comercial. Muitos povos e civilizações indígenas habitaram o continente americano antes da chegada dos colonizadores europeus. Além dos maias, os astecas e os incas desenvolveram na América e com as quais os espanhóis tiveram contato na época da conquista. Algumas pesquisas estimam que, no final do século XV, cerca de 50 milhões de pessoas viviam na América, distribuídas em sociedades muito diversas entre si, dos pontos de vista cultural, político, econômico e social. Mesoamérica é o termo utilizado para se referir a uma grande área geográfica e cultural do continente americano. Algumas das principais características do modo de vida mesoamericano eram a utilização do milho como base da alimentação, a construção de grandes pirâmides escalonadas, o uso de um sistema de calendário baseado em dois ciclos simultâneos e a criação e a utilização de escritas pictoglíficas, que combinam elementos pictóricos (cenas figuradas) e glíficos (símbolos ou desenhos). Os arqueólogos identificaram intenso intercambio cultural entre os diversos povos da região, ocorridos em diferentes momentos da História. Assim, uma das sociedades mais influentes que se formou na Mesoamérica, a asteca, incorporou elementos culturais desenvolvidos anteriormente por outros povos, como os olmecas, os toltecas e os maias. Os maias A sociedade maia desenvolveu-se na área que corresponde hoje ao sul do atual México, à Guatemala, a Belize, Honduras e à parte leste de El Salvador. O auge dessa civilização estendeu-se de 250 até o ano 900 da era cristã. Os maias viviam em cidades governadas por chefes e com poder hereditário. O chefe de cada cidade exercia funções políticas e religiosas, e era auxiliado por um conselho composto de líderes tribais, nobres guerreiros e sacerdotes. Esse grupo formava a elite maia e detinha a posse das terras. Quem cultivava essas terras eram os camponeses, que viviam em moradias rústicas, e tinham o direito apenas a uma parte do que produziam. Essa sociedade hierarquizada pode ter sido, segundo muitos estudiosos, resultado da influência do povo olmeca, que se relacionou com os maias principalmente por meio de trocas comerciais. As relações comerciais também ocorriam entre as várias cidades maias. O principal produto comercializado era o tecido. Embora o comércio fosse uma atividade econômica bastante importante, a agricultura constituía a base da economia maia. O principal produto cultivado era o milho, tão relevante que, segundo os mitos maias, foi utilizado pelos deuses como matéria-prima para criar o homem. Os maias também produziam cacau, algodão, feijão, pimenta, abobora, mamão e abacate. Além disso, criavam cães (para a caça e a alimentação), perus e abelhas, e praticavam a pesca. O conjunto arquitetônico maia é bastante exuberante e revela a relação entre arte, astronomia e religião. Além disso, grandes templos e palácios eram construídos para inspirar respeito e admiração. Desde o início da história maia, os sacerdotes procuravam entender os movimentos dos corpos celestes como uma forma de explicar os desígnios dos deuses. Por isso, os sacerdotes maias também eram matemáticos e astrônomos. Em relação ao desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos, os maias criaram um símbolo para representar o zero e o utilizavam em cálculos matemáticos. Além disso, eles conheciam o movimento do Sol, da Lua e de Vênus e os eclipses solares e lunares; e criaram dois calendários, que utilizavam simultaneamente: um sagrado, de 260 dias (astrológico), e outro não religioso, de 365 dias (solar). Graças e esses calendários, os sacerdotes conseguiam indicar as épocas propícias para o preparo do campo, a semeadura e a colheita. Os maias construíram e mantiveram suas cidades até aproximadamente o ano 900, quando começaram a entrar em declínio. Não se sabe ao certo o motivo desse processo, mas há algumas hipóteses, como o surgimento de epidemias, guerras internas, invasões de outros povos, entre outras. Estudos recentes sugerem, ainda, que esse declínio pode estar relacionado a causas ambientais. O uso de técnicas agrícolas rudimentares teria levado ao esgotamento do solo, o que diminuiu a produtividade das lavouras e, consequentemente, a oferta de alimentos. Outro estudo aponta uma prolongada estiagem como a causa do declínio dessas cidades. Muitas delas, como Tikal, foram planejadas para armazenar água da chuva para uma população de até 10 mil habitantes por um período de 18 meses. O longo período de seca restringiu o acesso da população à água e, assim, teria contribuído para diminuir a autoridade dos governantes das cidades, já que o controle dos reservatórios e o fornecimento de água para a população eram atribuições importantes desses líderes. O declínio das cidades, porém, não significou, como muitos acreditam, o fim dos maias. Atualmente, mais de 6 milhões de indígenas de grupos linguísticos maias estão distribuídos por regiões do México, de Belize, de Honduras e, principalmente, da Guatemala, onde vive a maior parte deles. As etnias indígenas de origem maia mantiveram os mitos e as tradições do seu passado pré-colombiano, renovando-os com crenças e práticas religiosas incorporadas do cristianismo. Entre as principais atividades econômicas dos grupos remanescentes maias, estão o cultivo do milho e do feijão e a produção de artesanato. A formação do Império Asteca De acordo com uma lenda asteca, o deus Huitzilopochtli prometeu conduzir seu povo da região de Aztlán, ao norte do altiplano central mexicano, para um novo local mais ao sul. Segundo o sacerdote de Huitzilopochtli, esse local prometido seria revelado aos astecas por uma visão: a de uma ilha rochosa da qual se avistaria “uma água pousada em um cacto com uma serpente na boca”. Ali, os astecas deveriam erguer um templo e construir uma cidade. Em 1325, depois de anos de peregrinação, os mexicas (astecas) chegaram ao local indicado pelo sacerdote, uma ilhota ao lado do lago Texcoco, onde construíram uma pequena cabana de bambu, que foi o primeiro templo de Huitzilopochtli e o núcleo inicial da futura cidade de Tenochtitlán. Guerreiros e conquistadores iniciaram a dominação de cidades e povos vizinhos, o que resultou na formação de um grande império. A guerra era uma das atividades centrais dos astecas. Por meio dela, dominavam outras sociedades, obrigando-as a reconhecer sua autoridade política e militar e a pagar tributos. O domínio de outros povos e os tributos pagos aos chefes astecas na forma de produtos (como ouro e cacau) transformaram Tenochtitlán em uma grande e bela cidade. Estima-se que, no começo do século XVI, Tenochtitlán tivesse aproximadamente 300 mil habitantes e que o império reunisse ao todo mais de 25 milhões de pessoas. Para viver na pequena ilha do lago Texcoco onde o Tenochtitlán foi erguida e suprir as necessidades da população, os astecas realizaram obras que exigiram muito conhecimento técnico. Por causa das inundações periódicas do lado, construíram-se diques e barragens, que possibilitaram o controle do nível da água. Como o lago Texcoco era salgado, foi necessário encontrar uma forma de conduzir água potável das fontes ao interior da cidade, para isso construíram-se aquedutos. Para ampliar as terras agrícolas, as astecas criaram terraços sobre a água dos lagos, que se chamavam chinampas. Nesses canteiros“flutuantes”, eles cultivavam flores e hortaliças. A agricultura era a base da economia asteca. A sociedade estava organizada em comunidades aldeãs que produziam em terras coletivas para a própria subsistência e forneciam excedentes para o Estado em forma de tributos. Cultivavam-se milho, feijão, pimenta, abóbora, cacau, algodão, tabaco e uma grande variedade de frutas, legumes e verduras. Os astecas eram politeístas e construíram templos para os distintos deuses: Tlaloc (deus da chiva e do trovão), Quetzalcoatl (deus do vento, da escrita, do calendário e das artes), Chicomecoatl (deusa do milho e da fertilidade), entre outros. Às vezes, construíam templos grandiosos, em forma de pirâmides. Neles, os astecas realizavam cultos religiosos e sacrifícios humanas. Geralmente, as vítimas oferecidas como sacrifício eram prisioneiros de guerra ou escravos. Assim como ocorria com os maias, para os astecas, o Sul e a Lua ocupavam postos de destaques entre os deuses. Ao contrário dos maias, porém, os astecas acreditavam que o Sol e a Lua eram irmãos que viviam em eterno conflito. A batalha entre esses astros era vencida diariamente pelo Sol, que esmagava com furor a Lua e as estrelas para nascer. O culto a Huitzilopochtli, que era o deus guia da tribo e simbolizava o Sol, a guerra e os guerreiros, ajuda-nos a compreender uma das maiores características da sociedade asteca: a belicosidade. Como vimos, a guerra era muito importante, pois garantia a conquista de territórios, o pagamento de tributos ao Estado e prisioneiros que serviam de oferendas aos deuses. Os astecas desenvolveram dois calendários, um solar e outro sagrado. No calendário solar, o ano era dividido em 18 meses com 20 dias, que totalizavam 360 dias, cada qual representado por um símbolo: crocodilo, vento, casa, lagarto, serpente, cérebro, veado, coelho, égua, cachorro, macaco, ervas, cana, jaguar, águia, abutre, movimento, faca de pedra, chuva e flores. Havia, ainda, cinco dias especiais, dedicados aos sacrifícios. Dessa forma, completavam os 365 dias. Já o calendário sagrado era composto por 260 dias, divididos em 20 períodos de 13 dias. Os astecas acreditavam que a cada 52 anos os dois calendários se alinhavam, formando um ciclo. Os Incas Quando os espanhóis chegaram à América do Sul, no início da década de 1530, os incas dominavam uma enorme porção do território. Seu império incluía dezenas de outros pequenos reinos, comandados por povos que, assim como eles, eram herdeiros de um modo de vida construído ao longo de pelo menos 5 mil anos de história. Os diversos povos que compunham o império apresentavam algumas características em comum, como as técnicas de construções monumentais, a prática da agricultura intensiva e irrigada, a criação de lhamas e alpacas, a hierarquização social no interior de um mesmo grupo étnico, a existência de um Estado centrado na figura de um soberano, cercado de uma burocracia militar e sacerdotal, e o culto aos ancestrais. As condições climáticas e geográficas da região da Cordilheira dos Andes exigiram desses povos um grande esforço para o desenvolvimento de técnicas voltadas para a produção agrícola, o abastecimento da população e a circulação de pessoas e mercadorias dentro do império, o que permitiu estruturar sua civilização. Tahuantinsuyu: o império dos Incas Estudiosos e historiadores consideram que os incas tenham chegado às terras férteis da região de Cuzco, no sul do atual Peru, no final do século XIII. Influenciados pela cultura de outros povos que vivam na região, os incas construíram um império, chamado de Tahuantinsuyu (que significa “os quatro cantos do mundo”), o qual alcançou grande expressão por quase três séculos, até a chegada dos espanhóis. Estimativas indicam que os incas dominavam uma população de 7 milhões de pessoas, pertencentes a mais de 100 grupos étnicos distintos. De acordo com esse sistema, chamado de mita, os camponeses eram obrigados a prestar serviços ao Estado durante alguns dias do ano. Além disso, tinham suas vidas rigidamente controladas pelos governantes. Muitas vezes, eram forçados pelos administradores do império a migrar para outras regiões. Essa determinação procurava garantir a defesa do território e equilibrar o abastecimento de toda a população, mesmo em época de colheitas escassas. Visando conter os eventuais levantes, o governante inca mantinha um exército treinado e organizado. As famílias recebiam do governo uma porção de terra para plantar e compartilhavam com os demais habitantes do ayllu (agrupamento de clãs que formavam uma unidade social na organização do Império Inca) o cultivo das terras do império. As terras incas eram unificadas por meio de uma rede de estradas talhadas nas encostas das montanhas, percorridas por caravanas de lhamas e pelos mensageiros do imperador. A base econômica dos incas era a agricultura. Nas áreas desérticas, eles empregavam as técnicas de irrigação utilizadas pelos primeiros povos daquela região. Nas encostas das montanhas, construíram terraços em curva de nível (em forma de degraus), onde cultivavam milho, feijão, batata, algodão, tomate, quinoa, amendoim, pimenta, abacate a abacaxi, entre outros produtos. Os incas também domesticavam lhamas e alpacas, dos quais obtinham carne, leite e lã, além de utilizá-las como meio de transporte na acidentada geografia da região da Cordilheira dos Andes. O artesanato era bastante desenvolvido, com destaque para a tecelagem, a metalurgia e a produção de objetos de cerâmica. A mais alta autoridade do império era o Sapa Inca, visto como representante sagrado do Sol. Ele era cercado de funcionários administrativos recrutados, na maioria das vezes, entre jovens famílias nobres. Os integrantes das elites tinham sua orelha perfurada para exibir uma grande argola, um dos símbolos de sua posição. Quando o Sapa Inca morria, suas mulheres e seus servos eram sacrificados e seus corpos eram depositados, junto ao dele, no Templo do Sol. O sucessor não era necessariamente um dos seus filhos, já que a hereditariedade não era levada em consideração no processo de escolha do Sapa Inca, como mostra o texto a seguir: “O fim de cada reinado abria um período de anarquia mais ou menos longo, mas sempre marcado por violências. Os filhos do imperador morto [...] entravam em luta. Seus irmãos e sobrinhos, [...] e todos os que detinham uma posição de autoridade que lhes permitisse reivindicar o poder [...] combatiam-se [...]. O mundo organizado retornava ao caos [...] até que um dos pretendentes conseguisse triunfar sobre os rivais [...]. O império renascia a cada novo imperador”. FAVRE, Henri. A civilização inca. 1987. A cidade de Machu Picchu foi uma das poucas cidades que sobreviveram à conquista espanhola, provavelmente por não ter sido descoberta pelos europeus na época colonial. A cidade foi construída no topo de uma montanha no vae do rio Urubamba, a cerca de 2400 metros de altitude. Abandonada por seus habitantes em época incerta, a cidade ficou coberta pela vegetação. Machu Picchu conquistou fama ao ser encontrada pela expedição do arqueólogo estadunidense Hiram Bingham, em 1911. Por muito tempo, estudiosos acreditaram que a cidade fosse um local de culto às Virgens do Sol, pois os restos mortais encontrados ali eram de mulheres e crianças. Porém, recentes análises revelaram a existência de restos mortais de homens também. Os incas mumificavam seus mortos, especialmente os imperadores e membros da elite. Estudos indicam que essa prática era adorada porque, em suas crenças religiosas, a morte era o início de uma espécie de viagem para um mundo paralelo, que só era concluída com a desintegração total do corpo. As técnicas utilizadas pelos incas em suas obras arquitetônicas expressam conhecimentos bastante sofisticados. Uma delas é a técnicade encaixe de blocos de pedras, perfeitamente justapostos sem o uso de argamassa. A extrema resistência da estrutura das construções incas permitiu que muitas delas sobrevivessem ao tempo, e é possível encontrá-las, ainda hoje, na região andina do Peru. Os incas empregaram diversas técnicas na criação dos terraços para plantio, na construção de pontes, canais de irrigação e sistemas hidráulicos de canalização de água e esgoto. As dificuldades impostas pelos terrenos íngremes dos Andes, as baixas temperaturas e a escassez de terras férteis estimularam a busca de alternativas para aumentar as áreas cultiváveis e a produção agrícola. A rede de estradas criada pelos incas permitiu a integração, a comunicação, a circulação de produtos e a cobrança de tributos nas diversas regiões do vasto império.
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