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NECRÓPSIA EM CADÁVERES CARBONIZADOS Lilian Brillinger Novello 1. ABREVIATURAS E SIGLAS DNA - ácido desoxirribonucleico 2. CONCEITO Denominam-se carbonizados aqueles cadáveres que tiveram os tecidos, total ou parcialmente, reduzidos ao estágio de “carvão”, por ação direta ou indireta de altas temperaturas, tendo o fogo como principal fonte causadora. 3. PROCEDIMENTOS Quanto ao exame propriamente dito, inicialmente se deve obter informações sobre o local de encontro do cadáver e, com familiares ou conhecidos, dados para a identificação da vítima, como idade, estatura, sexo, tatuagens, cicatrizes, cirurgias, próteses. O exame necroscópico segue a rotina habitual preconizada e composta pelos exames externo e interno. 3.1. Exame externo A desestruturação corporal pelo fogo se inicia pelos tecidos moles externos, seguida pela exposição das cavidades do corpo, amputação das extremidades e, finalmente, destruição dos órgãos internos, que se tornam sólidos, enegrecidos e reduzidos de tamanho, literalmente cozidos. Sempre que possível, realizar radiografias do crânio, tórax, abdômen e extremidades em busca de fraturas antigas com calo ósseo, próteses e cirurgias antigas, para a identificação da vítima. Pesquisar fraturas recentes, projéteis de arma de fogo ou outras lesões/objetos para a determinação da causa do óbito. Verificar a qualidade das impressões digitais, importantes auxiliares na identificação. Avaliar o estado e conservação dentária, a presença de próteses e elementos dentários e realizar radiografia da arcada dentária para confronto odontolegal, quando disponível. Observar a estrutura dos pelos e cabelos, que costumam estar chamuscados pela ação do fogo. Proceder à análise das vestes descrevendo cor, tipo de tecido, grau e forma de carbonização. Verificar as vestimentas íntimas quanto à disposição no corpo e integridade, nos casos de suspeita de violência sexual. 3.1. Exame interno Realizar abertura do couro cabeludo e crânio em busca de fraturas, hematomas ou outras lesões indicativas de ação externa recente. Atentar para descolamentos/aberturas da calota craniana e hematomas intracranianos produzidos naturalmente pela ação do calor e não por ações violentas externas. Explorar a região cervical em busca de sangramentos, hematomas, lesões da traquéia e osso hióide indicativas de esganadura ou estrangulamento. Avaliar o interior da traquéia e da árvore brônquica, principais locais para verificação de vitalidade, em busca de fuligem ou outros resíduos sólidos, edema ou hemorragia, indicativos de lesão in vivo. Nas cavidades torácica e abdominal atentar para o grau de integridade dos órgãos e para a presença de útero ou próstata, auxiliares na determinação do sexo quando há destruição da genitália externa. Como ação natural do calor pode haver extravasamento de líquido nestas cavidades e formação de pequenas gotículas de gordura nos grandes vasos ou no ventrículo direito, os quais não devem ser confundidos com sinais de vitalidade, pois são resultado da ação do calor pós-morte. 3.4. Análise Laboratorial A análise laboratorial envolve coleta de sangue, preferencialmente da cavidade cardíaca ou, na impossibilidade, da aorta ou seus ramos, para dosagem de álcool, psicotrópicos e monóxido de carbono. Envolve, ainda, coleta de conteúdo traqueal e/ou gástrico para pesquisa de fuligem e carvão e, quando necessário, para histopatologia. Para a identificação por DNA pode-se utilizar fragmentos de ossos longos, como o fêmur, dentes molares ou fragmentos de órgãos ou tecidos, quando viáveis. 4. PONTO CRÍTICOS As necrópsias em carbonizados são perícias complexas que envolvem a atuação conjunta de diversos profissionais do ramo forense, aqui incluídos médicos e odontolegistas, peritos criminais, peritos bioquímicos e especialistas em DNA. Exige destes profissionais tempo e cautela para a realização da perícia, devendo-se evitar exames às pressas ou sob pressão externa. A investigação forense deve, sempre que possível, determinar a identidade da vítima, a causa da morte e a vitalidade dos achados, ou seja, se a carbonização ocorreu in vivo ou não. A carbonização completa, como ocorre nos crematórios, pode ocorrer mas não é comum. Partes do corpo, especialmente ossos e algumas vísceras, permanecem com certa integridade, permitindo a determinação de alguns dados para identificação como sexo, estatura, idade aproximada, exame de DNA. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRANÇA, G.V.; Medicina Legal. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998; HERCULES, H. Medicina Legal: Texto e Atlas. 1 ed. Atheneu, 2005. MANUAL TÉCNICO-OPERACIONAL PARA OS MÉDICOS-LEGISTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2008; PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO – POP – INSTITUTO MÉDICO-LEGAL ARISTOCLIDES TEIXEIRA, ESTADO DE GOIÁS, abril de 2011; TSOKOS, M. Forensic Pathology Reviews. Volume I. Totoa, New Jersey: Humana Press, 2004, pags 3-27.
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