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CARGO/ESPECIALIDADE: ANALISTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS SERVIÇO SOCIAL ÍNDICE CONHECIMENTOS GERAIS 1. A política pública da assistência social no contexto da política de seguridade social no Brasil. ...... 1 2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva Sistema Único de Assistência Social: seus objetivos, princípios, diretrizes, conceitos fundamentais, organização institucional, programas, projetos e seus usuários. ....................................................................................................................... 3 3. Concepção de Assistência Social no Brasil: com ênfase na sua gestão (informação, avaliação e monitoramento), execução, controle e financiamento. .......................................................................... 18 4. Tipificação dos serviços socioassistenciais. ...................................................................................... 26 5. Benefícios assistenciais. .................................................................................................................... 42 6. A atuação de assistentes sociais e psicólogos no SUAS: ênfase no trabalho com famílias.............. 47 Legislação: 1. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. (versão atualizada)........................ 53 2. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 8.742 de 7 de de- zembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993. ........................................................ 64 3. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 12.435, de 6 de julho de 2011, altera a Lei n.° 8.742 de 7 de dezembro de 1993. ................................................................. 70 4. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 12.470, de 31 de agosto de 2011, altera a Lei n°. 8.742 de 7 de dezembro de 1993. ..................................................... 73 5. Brasil. Presidência da República. Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n°. 8.069, de 13 de julho de 1990. ........................................................................................................................................ 74 6. Brasil. Presidência da República: Lei n°. 12.010 de 03 de agosto de 2009. - Dispõe sobre adoção; altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943; e dá outras provi- dências. ................................................................................................................................................. 97 7. Brasil. Presidência da República. Lei n°. 8.842 de 4 de janeiro de 1994 dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências.................................. 104 8. Brasil. Presidência da República. Estatuto do IDOSO. Lei n°. 10.741, de 1° de outubro de 2003..... 106 9. Brasil. Presidência da República. Decreto Lei n°. 3298 de 20 de dezembro de 1999 - Regulamen- ta a Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências........... 113 10. Prefeitura de Belo Horizonte. Lei Municipal n°. 9.078 de 19 de janeiro de 2005 que estabelece a Política da pessoa com deficiência para o município de Belo Horizonte. ............................................. 119 11. Brasil. Presidência da República. Lei 13.340 de 07 de agosto de 2006 - Lei Maria da Penha - Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. ...........................- 123 123 12. Brasil. Presidência da República. Decreto 7.492 de 02 de junho de 2011 - Institui o Plano Brasil sem Miséria. 13. Brasil. Presidência da República. Lei 12.101 de 27 de novembro de 2009 - Dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social; regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social; altera a Lei n° 8.742, de 7 de dezembro de 1993 ... e dá outras providências. .................................................................................................................. 127 14. Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil. - Brasília: Ministério do De- estaçao-02 Nota Paginas Frente e Verso: 3-272,277-612 Reduzir: 94% senvolvimento Social e Combate à Fome, UNESCO, 2009. Parte 1. ................................................... 15. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistên- cia Social - PNAS. Brasília, 2004. 150 132 16. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica NOB/Suas. Brasília, 2005. ..................................................................................................................... 151 17. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos NOB-RH/Suas. Brasília, 2006. .............................................................................. 160 18. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais - Resolução 109, de 11 de novembro de 2009, publicada no Diário Oficial da União em 25 de novembro de 2009. ............................................ 172 19. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único da Assistência Soci- al. ........................................................................................................................................................... 188 20. Brasil. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução n° 017. ............................................. 193 21. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 1 - Configurando os Eixos de Mudança. Março/2007. ................................................................................ 194 22. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 2 - De- safios da Gestão do SUAS nos Municípios e Estados. Março/2007...................................................... 207 23. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 3 - Pla- nos de Assistência Social: Diretrizes para Elaboração. Março/2007. ................................................... 225 24. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Benefícios Eventuais da Assis- tência Social - Cadernos de Estudos n.°12 - Desenvolvimento Social em Debate. Março/2010........... 240 25. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Centros de Referência de As- sistência Social - CRAS - Orientações Técnicas. ano/2009. ................................................................. 246 26. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações sobre a Gestão do Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS - 1ª Versão. ano/2011................ 258 27. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações sobre o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua e Serviço Especializado para Pes- soas em Situação de Rua - Centro Pop. ano/2011. .............................................................................. 264 28. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Metodologia de Trabalho Social com Família na Assis- tência Social. Belo Horizonte, 2007. ......................................................................................................265 29. Benefícios da Previdência Social. .................................................................................................... 266 30. Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais e Psicólogos na política de Assistência Social. Série: Trabalho e Projeto profissional nas Políticas Sociais. Brasil-2009.............................................. 267 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS 1. Estado, Política Social e Questão Social: no contexto da globalização e da reestruturação produtiva. ............. 1 2. Concepção de Seguridade Social no Brasil: formulação, administração, gestão, financiamento e execução das políticas públicas. .............................................................................................................................................. 8 3. Legislação Social: direitos sociais na atual conjuntura brasileira. ....................................................................... 13 4. Direitos humanos e a interface com o Serviço Social. ........................................................................................ 23 5. Realidade brasileira e Serviço Social: trajetória histórica e debate contemporâneo. .......................................... 29 6. Desafios ético-políticos e demandas à profissão: orientação e acompanhamento social a indivíduos, grupos e famílias; mobilização social e práticas educativas; supervisão de estagiários de serviço social; Instruções soci- ais de processos, sentenças, decisões e pareceres. .............................................................................................. 36 7. Planejamento e trabalho profissional, com ênfase no trabalho interdisciplinar na Política de assistência Soci- al: objetivos, intervenção, investigação, sistematização, avaliação e elaboração de projetos de pesquisa............ 59 8. Serviço social e o projeto ético-político: Código de Ética Profissional do assistente social e regulamentação profissional. .............................................................................................................................................................. 67 9. Família e Serviço Social. ..................................................................................................................................... 79 10. Avaliação e monitoramento de políticas, programas e projetos sociais............................................................. 84 Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 1 CARGO/ESPECIALIDADE: ANALISTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS/SERVIÇO SOCIAL E PSICOLOGIA(ÁREA DE A- TUAÇÃO: ASSISTÊNCIA SOCIAL) 1. A política pública da assistência social no contexto da política de seguridade social no Brasil. 2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva Sistema Único de Assistência Social: seus objetivos, princípios, diretrizes, conceitos fundamentais, organização institucional, programas, proje- tos e seus usuários. 3. Concepção de Assistência Social no Brasil: com ênfase na sua gestão (informação, avaliação e monitoramento), execução, controle e financiamento. 4. Tipificação dos serviços socioassistenciais. 5. Benefícios assistenciais. 6. A atuação de assistentes sociais e psicólogos no SUAS: ênfase no trabalho com famílias. 1. A política pública da assistência social no contexto da políti- ca de seguridade social no Brasil. Políticas Públicas de Assistência Social brasileira: avanços, limites e desafios Larissa Dahmer Pereira Introdução Ao abordarmos as políticas públicas de assistência social, seus avanços, limites e desafios, é imprescindível pontuar a concepção da qual se parte acerca das políticas públicas. As políticas públicas são compostas por políticas de cunho social e econômico e foram construídas ao longo do desenvolvimento da ordem burguesa, com a emergência do Estado-Nação, a partir do século XVI. A transição de uma sociedade de organização feudal para a or- dem burguesa teve no Estado um sujeito fundamental, que permitiu a territorialização da política, o controle monetário, a garantia de proteção à propriedade privada dos meios de produção e o discipli- namento brutal de homens “livres como pássaros” para a venda de sua força de trabalho à futura indústria capitalista. O Estado, desde sua origem, nasce voltado para o fortalecimento da nascente ordem burguesa e promove ações para a sua consolidação. O século XVIII marca, através das Revoluções Industrial (1769), Americana (1776) e Francesa (1789), a passagem definitiva para a nova ordem burguesa, cujo princípio é o da acumulação e o funda- mento é a propriedade privada dos meios de produção. Aquele século inaugura a era dos direitos civis, necessários à ordem bur- guesa, pois era preciso o direito de ir e vir, de vender “livremente” a sua força de trabalho e, principalmente, ter a garantia - através da força estatal - da segurança à propriedade privada. O século XIX assistirá à emergência da classe trabalhadora, or- ganizada, que passou - frente às terríveis condições de vida - a exigir o direito de organização em sindicatos e de participar da vida política, até então reservada aos detentores de renda e propriedade. Este século, através de lutas sangrentas, vê nascer os direitos polí- ticos. Já o século XX testemunha o nascimento dos direitos sociais, resultado das inúmeras lutas enfrentadas pela classe trabalhadora desde meados do século XIX. Tal processo – de nascimento do que conhecemos hoje como cidadania (direitos civis, políticos e sociais) – desenvolveu-se na Inglaterra, centro do desenvolvimento capitalis- ta, e espraiou-se, de formas diferenciadas e de acordo com as lutas de classes, nos demais países. O Estado foi fundamental para “regular” os inúmeros conflitos das lutas de classes, regulamentando leis políticas e sociais, mas mantendo sua função primordial: a de manter e fortalecer a ordem capitalista e, ao mesmo tempo, transfigurar-se como um ente (ilusó- rio) acima das classes sociais. Além do importante papel político, o Estado desenvolveu desde o seu nascedouro ações econômicas cruciais para o desenvolvimento da empresa capitalista. A passagem para o século XX, com a transição do capitalismo de tipo concorrencial para o monopolista, fez o Estado assumir, de vez por todas, a sua função de “empresário” da classe capitalista. Assim, desenvolveu políticas públicas – com recursos públicos, oriundos da extração de mais-valia da classe trabalhadora – volta- das para o processo de monopolização capitalista. A partir da déca- da de 1930 – com a crise de 1929 – até os anos 1960/1970, configu- rou-se o que conhecemos por padrão fordista-keynesiano: um pa- drão de produção em massa voltado para o consumo em massa articulado à feroz ação estatal de impulso da economia capitalista, através de ações voltadas para a área de infra-estrutura, políticas fiscal, monetária, salarial e, por fim, políticas sociais, que proporcio- naram salários indiretos à classe trabalhadora, liberando parte de seus salários para a realização do consumo em massa. Este pro- cesso foi estratégico para o “equilíbrio” das insatisfações da classe trabalhadora e a ameaça concreta de construção de outra socieda- de (socialista) no contexto de um mundo bipolar. Por sua vez, trata- ram-se também de demandas efetivas e conquistas da classe traba- lhadora por melhores condições de vida. O padrão fordista-keynesiano manteve-se até o final dos anos 1960, ao deparar-se com um esgotamento dos mercados europeu e japonês. A década de 1970 marca a eclosão de nova crise capitalis- ta e é preciso realizar um reordenamento societário global. A partir deste período temos o desenvolvimento de processos de reestrutu- ração produtiva, a mundialização do capital financeiro e o avanço da ideologia neoliberal por todo o globo. O Estado, mais uma vez, é o sujeito principal que irá transferirrecursos, antes voltados para o provimento de políticas sociais, para os interesses do capital, sobre- tudo o financeiro. Irá, ainda, desregulamentar a legislação trabalhis- ta e social, abrir mercados, e proporcionar as leis necessárias para o processo global de reação burguesa à crise capitalista, o que afetará a classe trabalhadora em suas condições de vida e trabalho e em suas formas tradicionais de organização. A partir daquele período até o momento atual, o desemprego e a precarização do trabalho tornam-se ameaças constantes na vida dos trabalhadores. Políticas públicas no Brasil: breve histórico O processo supra-referido ocorreu de diversas formas nos dife- rentes países capitalistas, concomitante à erosão do bloco soviético. No Brasil – um país capitalista periférico – entramos no mundo industrial somente a partir da década de 1930. O Estado foi o impul- sionador central daquele processo - no contexto ideológico nacional- desenvolvimentista - com políticas econômicas voltadas para a indústria, na nascente zona urbana, e que mantinham o poder do latifúndio, no campo. O padrão brasileiro de políticas sociais base- ou-se na “cidadania regulada”: isto é, tinham acesso à proteção social somente aqueles que detivessem a carteira de trabalho, com profissão e sindicato reconhecidos pelo Estado varguista. Aqueles que não detinham a carteira de trabalho e/ou questionassem a ordem vigente eram tratados com violenta repressão estatal. Este padrão de política social – subjugada à política econômica - atra- vessou o governo e a ditadura Vargas (1930/1945), o período popu- lista (1946/1963), a longa ditadura militar (1964/1984) e só foi modi- ficado com a promulgação da CF88 A Assistência Social foi historicamente, no contexto brasileiro, detida pelas instituições religiosas e utilizada como “moeda de troca” política, seja na zona urbana, seja na zona rural, com o poder dos coronéis. O Estado varguista criou grandes instituições, como a LBA, que não fugiu à lógica da benemerência, do primeiro-damismo e do “favor aos pobres”: a política social de assistência sempre foi, portanto, cunhada pela ótica do favor, a serviço da manutenção da miséria e dos interesses das elites brasileiras. O processo de constituição da cidadania no Brasil foi marcado pela restrição das liberdades civis, enquanto o Executivo ficou com o “papel” de criar os direitos sociais, como um distribuidor repressor e paternalista de empregos e favores. A ação política voltava-se para a negociação direta com o governo, sem passar pela mediação das representações políticas. A cultura política brasileira foi, portan- to, mais orientada para o Estado do que para o fortalecimento de representações políticas na sociedade civil: é a “estadania” em contraste com a “cidadania”. Somente com os ventos democrático- populares da década de 1980 e a promulgação da CF88 inaugurou- se um padrão de proteção social afirmativo de direitos sociais en- quanto direitos de cidadania. Contudo, tem-se, na década de 1990, um avanço fenomenal do projeto neoliberal, que se espalhou pelo Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 2 mundo e realizou, com o seu programa de ajuste fiscal, um verda- deiro “desajuste social” por toda a América Latina No Brasil, o governo Collor (1990/1992) inaugurou a entrada do projeto neoliberal no país, com intensos processos de desregula- mentação, abertura dos mercados, incentivos à reestruturação das empresas e a disseminação ideológica por toda a sociedade brasi- leira de que a causa dos males sociais centrava-se no “gigantismo” do Estado e a solução seria reduzi-lo ao máximo, transferindo suas funções para empresas, supostamente mais eficientes. No campo das políticas sociais, o governo Collor simplesmente ignorou os preceitos constitucionais, através da desconsideração do Sistema de Seguridade Social inscrito na CF88. Nesta, a Seguridade Social é compreendida como um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência. Assim, a Seguridade Social requer uma proposta de orçamento elaborada de forma integrada e um Ministério da Seguridade Social, o que não foi realizado. O governo Collor fragmentou a Seguridade Social em ministérios diferentes, dando-lhe margem para realizar, na Saúde, um boicote orçamentário sistemático ao SUS. Na Previdência, lançou um paco- te de reforma previdenciária já em 1992, cuja função era retirar direitos dos trabalhadores conquistados na CF88. Na Assistência, vetou a LOAS, desrespeitando a CF88. A Carta Magna insere a Assistência Social no conjunto do sistema de Seguridade Social e afirma-a como uma política pública, direito de todos, dever do Esta- do e da sociedade. Contudo, para o artigo 203 referente à Assistên- cia Social traduzir-se em políticas públicas, seria necessário a LO- AS, vetada pelo governo Collor e sancionada somente no governo Itamar, em 1993, após o impeachment de Fernando Collor de Melo e intensas mobilizações sociais. O governo Itamar sancionou a LOAS, mas preparou o terreno para a continuidade da política neoliberal, agora com um verniz intelectualizado. Foi assim que FHC assumiu o Ministério da Fazen- da, lançou o Plano Real e Lei Orgânica da Assistência Social (LO- AS). Brasil. Lei n.8742, de 7 de dezembro de 1993 – Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Lei Orgânica da Assistência Social. Fernando Henrique Cardoso elegeu-se, em 1994, para a Presi- dência da República. Com o governo FHC, pode-se afirmar que as políticas neoliberais foram eficientemente implantadas pelo Estado brasileiro: (i) no plano econômico, através de ajuste fiscal, privatização da maior parte do patrimônio público, desregulamentação trabalhis- ta, abertura dos mercados, apoio total ao capital financeiro; (ii) no plano político, o Estado operou uma verdadeira dis- seminação ideológica de que era preciso transferir para a sociedade civil – o “Terceiro Setor” - as tarefas do Estado. Assim, implementou, com relativo sucesso, o projeto de reforma do Estado brasileiro, diminuindo suas funções bruscamente (para a classe trabalhadora) e mantendo-se sempre alerta para responder às demandas do capital; (iii) no plano social, realizou um verdadeiro desmonte do que foi construído ao longo do período da “cidadania regulada” (1930/1984). Na Saúde, manteve o boicote orçamentário ao SUS; na Previdência, realizou reformas no regime dos funcionários públi- cos e tornou mais rígidas as regras previdenciárias, e, na Assistên- cia Social, criou o Programa Comunidade Solidária, passando ao largo do que a LOAS estabelece. O Comunidade Solidária recebia recursos, sem controle social do Conselho Nacional de Assistência Social e configurou-se como uma política assistencialista, indo na contra-corrente dos avanços inscritos na CF88 e na LOAS (1993). O governo FHC não cumpriu com a lei, ignorando a necessidade de construção do SUAS, para que os preceitos indicados pela CF88 e LOAS fossem efetivamente concretizados. Após oito anos, o governo FHC operou um verdadeiro “desmon- te da nação” e, desgastado com promessas de melhoria na vida da população, foi derrotado, em 2002, pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Embora com promessas de mudanças, sobretudo na área social, o governo Lula manteve a fragmentação das políticas de Seguridade Social, com a criação, no primeiro ano de governo, do MESA - responsável pela implantação do Programa Fome Zero - e a manutenção dos MA, MPS e MS. No início de 2004, com a reforma ministerial e as dificuldades enfrentadas pelo Programa Fome Zero para a efetivação de ações, o governo dissolveu o ME- SA e o MAS e criou o MDS, que reúne as competências do MESA, do MAS e da Secretaria-Executiva do Programa Bolsa-Família. Outra ação governamental foia manutenção dos MS e MPS, com orçamentos separados, o que possibilitou a justificativa do “déficit da Previdência” para a realização da Reforma da Previdência, uma das primeiras ações políticas do primeiro ano do governo Lula. A Reforma da Previdência, inserida na PEC-40 e realizada sob o argumento da “justiça social”, não incluiu os 40 milhões de trabalha- dores sem qualquer cobertura previdenciária, mas limitou-se a reali- zar um novo disciplinamento no regime de previdência dos servido- res públicos, com o rebaixamento do teto dos benefícios, o que abriu um enorme mercado – extremamente lucrativo - para a “Previ- dência Complementar”. Na Saúde, o atual governo mantém a reten- ção de recursos e investimentos para a área, ao mesmo tempo em que direciona ações voltadas para a regulamentação dos Planos Privados de Saúde, o que esvazia o SUS e favorece os empresários do setor privado. No campo da Assistência Social, foi realizada, em dezembro de 2003, a IV CNAS, em caráter extraordinário, o que significou um avanço no que diz respeito à retomada da valorização de espaços de controle social. A plenária final da IV CNAS aprovou a PNAS, que prevê a construção e implantação do SUAS, cujo modelo de gestão é descentralizado e participativo. A implantação do SUAS objetiva o rompimento com a fragmentação programática entre as esferas governamentais e a articulação e provisão de proteção social básica e especial para os segmentos populacionais usuários da política de Assistência Social no país. Seus princípios e diretrizes apontam para a universalização do sistema; a territorialização da rede; a descentralização político-administrativa; a padronização dos serviços de assistência social; a integração de objetivos, ações, serviços, benefícios, programas e projetos; a garantia da proteção social; a substituição do paradigma assistencialista e a articulação de ações e competências com os demais sistemas de defesa de direitos humanos, políticas sociais e esferas governamentais. A proposta do SUAS é um avanço e concretiza um modelo de gestão que possibilita a efetivação dos princípios e diretrizes da política de assistência, conforme definido na LOAS. O princípio organizativo da Assistência Social baseado num modelo sistêmico aponta para a ruptura do assistencialismo, da benemerência, de ações fragmentadas, ao sabor dos interesses coronelistas e eleito- reiros. Afirma a Assistência Social como uma política pública, dever do Estado e direito de todos os cidadão e cidadãs, com a afirmação do controle social por parte da sociedade civil. A deliberação refe- rente à PNAS e a construção do SUAS expressa um esforço coleti- vo que, desde a promulgação da CF88 e da LOAS, em 1993, vem se empenhando na tarefa de colocar a Assistência Social brasileira no campo da garantia dos direitos sociais. Em setembro de 2004, o MDS, através da SNAS, tornou pública a versão final da PNAS, após a realização de seminários que publi- cizaram a discussão, o que deve ser ressaltado como positivo, dada a mudança de postura do atual governo em relação ao anterior, que centralizava as decisões e não colocava em debate suas propostas para a área de Assistência Social. Yasbek ressalta como aspectos positivos da nova PNAS a incorporação das demandas da socieda- de na área da assistência social, a inovação em trabalhar com a noção de território, a centralidade da família e de sua proteção e, sobretudo, pela perspectiva de constituição do SUAS. Quanto aos aspectos negativos, aponta a visão de que a família pobre precisa ser reestruturada do ponto de vista moral e afetivo, sem considerar o quadro econômico mais amplo, como se o problema de miséria fosse da família. Outro ponto negativo é a desconsideração de que essa população pertence a uma classe social e de que a questão social é uma questão política. O SUAS – aprovado pelo Conselho Nacional de Assistência So- cial em julho de 2005 através da Norma Operacional Básica/SUAS – é um sistema descentralizado, participativo e não-contributivo, que organiza e regula as responsabilidades das esferas de governo e da sociedade civil em relação à política de assistência social e afirma que a assistência social é uma política pública e compõe o sistema de seguridade social. A NOB/SUAS/2005 indica as seguintes prerrogativas para a construção efetiva do SUAS: 1) a gestão compartilhada, o co- financiamento e a cooperação técnica entre os três entes federati- Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 3 vos. 2) divisão de responsabilidades entre os entes federativos para instalar, regular, manter e expandir as ações de assistência social como dever de Estado e direito do cidadão. 3) fundamenta-se nos compromissos da PNAS/2004; 4) orienta-se pela unidade de propó- sitos, principalmente quanto ao alcance de direitos pelos usuários; 5) regula em todo o território nacional a hierarquia, os vínculos e as responsabilidades do sistema cidadão de serviços, benefícios, pro- gramas, projetos e ações de assistência social, de caráter perma- nente e eventual, sob critério universal e lógica de ação em rede hierarquizada (âmbitos municipal, estadual e federal). 6) respeita a diversidade das regiões. 7) reconhece as diferenças e desigualda- des regionais, considerando-as no planejamento e execução das ações. 8) articula sua dinâmica às organizações e entidades de assistência social reconhecidas pelo SUAS. O SUAS apresenta como eixos estruturantes: (i) Precedência da gestão pública da política; (ii) Alcance de direitos sócio- assistenciais; (iii) Matricialidade sócio-familiar; (iv) Territorialização; (v) Descentralização político-administrativa; (vi) Financiamento partilhado entre os entes federados; (vii) Fortalecimento da relação democrática Estado-sociedade civil;(viii) Valorização da presença do controle social; (ix) Participação popular; (x) Qualificação de recur- sos humanos; (xi) Informação, monitoramento, avaliação e sistema- tização de resultados. Para a efetivação da proteção social, o SUAS dispõe de duas modalidades de proteção: básica e especial: (a) a proteção social básica (PSB) objetiva prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades, com fortale- cimento dos vínculos familiares e comunitários. Destina-se à popu- lação que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação e/ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social. A PSB tem por referência o serviço de acompanhamento de grupos territoriais até 5.000 famílias sob situa- ção de vulnerabilidade em núcleos com até 20.000 habitantes e será operada pelo CRAS, por rede de serviços sócio-educativos; BPC; benefícios eventuais; serviços e projetos de inserção produtiva. (b) A proteção social especial (PSE) objetiva prover atenções sócio-assistenciais a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cum- primento de medidas sócio-educativas, em situação de rua, dentre outras. Ambos os tipos de proteção tem como suposto o princípio de proteção social pró-ativa, o que significa não mais considerar os usuários dos serviços de assistência social como objetos de inter- venção, mas sim como sujeitos de direitos. O SUAS aponta ainda a implantação de um sistema de vigilân- cia sócio-assistencial, que consiste no desenvolvimento da capaci- dade e de meios de gestão assumidos pelo órgão público gestor da assistência social para conhecer a presença de pessoas em situa- ção de vulnerabilidade. A rede sócio-assistencial indicada no SUAS é um conjunto inte- grado de ações de iniciativa pública e da sociedade que ofertam e operam benefícios, serviços, programas e projetos, o que supõe a articulação entre todas estas unidades de provisão de proteção social sob a hierarquiade básica e especial e ainda por níveis de complexidade. O SUAS supõe a gestão compartilhada de serviços, como uma política federativa entre União, Distrito Federal, estados e municí- pios, o que exige a utilização de instrumentos de cooperação entre os entes federativos, como convênios, consórcios, comissões de pactuação, dentre outros. Os tipos e níveis de gestão são caracteri- zados como gestão inicial, gestão intermediária e gestão plena, o que determinará o valor do piso de proteção social que o município receberá e as competências de cada município. Por fim, o financiamento do SUAS aponta para: a) a descentrali- zação político-administrativa, com autonomia dos entes federativos, mas mantendo o princípio de cooperação. b) os Fundos de Assis- tência Social – os repasses só podem ocorrer via Fundo. c) o SUAS como referência. d) condições gerais para transferência dos recur- sos federais: d.1. níveis de gestão, d.2. comprovação de execução orçamentária, d.3. acompanhamento e controle da gestão dos re- cursos através do Relatório Anual de Gestão, d.4. manutenção do Cadastro Único atualizado e realimentado, d.5. repasse dos recur- sos do Fundo Nacional de Assistência Social para os serviços, programas, projetos e benefícios, identificados entre os níveis de proteção básica e especial. e) Mecanismos de transferência: e.1. repasse de recursos fundo a fundo, de forma sistemática e automá- tica. e.2. nova sistemática de convênios, com aplicativos informati- zados para co-financiamento de projetos eventuais. f) Critérios de partilha, como proteção social básica e especial, e de transferência; g) o co-financiamento entre municípios, estados e União, respeitan- do-se os princípios de subsidiariedade e cooperação e a diversidade existente entre municípios, metrópoles, estados e União. Possibilidades da Política de Assistência Social: avanços e limites Ao longo do presente texto, procurou-se mostrar que políticas públicas são compostas por políticas econômicas e sociais e têm no Estado o seu formulador e executor. No Brasil, historicamente, as políticas sociais estiveram submetidas às necessidades da política econômica, a serviço dos interesses das elites e do processo de produção capitalista. Considera-se que as políticas sociais, na ordem burguesa, terão sempre limites, relativos ao próprio sistema capitalista. Portanto, é preciso, para compreender os limites e possibilidades de avanço da política de assistência social, apreender o significado da Política Social no capitalismo, em determinado contexto histórico e segundo as lutas de classes internas às particularidades de cada país. No Brasil, a década de 1990 significou uma verdadeira “festa” para o capital financeiro, a despeito do empobrecimento contínuo da classe trabalhadora. O governo Lula, que historicamente tem suas raízes fincadas em bandeiras democrático-populares, foi coerente, no campo da Assistência Social, quando possibilitou a aprovação da PNAS e a construção do SUAS, mas, contraditoriamente, permane- ce com ações dicotômicas, que separam a política social da política econômica, proporcionando lucros recordes ao capital financeiro, e, com isto, subordina os direitos sociais à lógica mercantil. Portanto, na vida real – e não no plano ideológico, do discurso – por mais que se afirme os direitos sociais, a cidadania, etc, estes encontram-se extremamente limitados, dada a perpetuação do direcionamento neoliberal à política econômica, com o consequente resultado de se produzir uma política social pobre para os pobres. Neste contexto, ressalta-se a necessidade dos diversos sujeitos coletivos captarem a Política Pública em sua totalidade, o que signi- fica analisar a política social intimamente articulada à política eco- nômica. No campo da Assistência Social, alerta-se para a importân- cia de iniciativas políticas que afirmem os princípios da Seguridade Social, e, particularmente, do seu caráter sistêmico, o que significa a fuga de uma ótica setorialista das políticas sociais, para não cairmos na armadilha de uma “compensar” a outra. Outra questão importan- te é a defesa da Seguridade Social articulando-a aos interesses mais gerais da sociedade e ao questionamento da evasão das ri- quezas geradas pela classe trabalhadora brasileira para o cumpri- mento das metas de ajuste fiscal. Ressaltamos que os espaços de controle social – Conselhos e Conferências – são fóruns privilegia- dos para a defesa da Seguridade Social e da Política de Assistência Social. Tratar, portanto, a política social separada da política econômica é cair na ilusão de que uma é possível sem a outra. A existência de uma política econômica neoliberal é possível e indica a ausência e/ou drástica redução da política social. Mas, uma política social de cunho universalista e baseada nos princípios da Seguridade Social exige uma política econômica radicalmente oposta da que vem sendo implementada até os dias atuais. 2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva Sistema Único de Assistência Social: seus objetivos, princí- pios, diretrizes, conceitos fundamentais, organização institu- cional, programas, projetos e seus usuários. Sistema Único de Assistência Social Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é o modelo de gestão utilizado no Brasil para operacionalizar as ações de assistência social. O SUAS foi criado pelo Ministério do Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 4 Desenvolvimento Social e Combate à Fome a partir do previsto na lei federal nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Política de Seguridade Social / LOAS Assim como a saúde a assistência social é um direito do cidadão e dever do Estado, suas ações fazem parte da Política de Seguridade Social não contributiva (contribuições especiais) pois no Brasil, embora haja uma estrutura formal de proteção social estabelecida pela Constituição (como Seguridade Social) potencialmente capaz de combater a pobreza e diminuir as desigualdades, o raio de ação de tal estrutura ainda é restrito e insuficiente para enfrentar as imensas carências que assolam a população. Coordenada inicialmente pelo Ministério do Bem-Estar Social e substituído pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) por sua vez originário de três estruturas governamentais extintas: Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional (Mesa), Ministério da Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família em 2004 para prover os mínimos sociais, realizando através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade e garantir o atendimento às necessidades básicas característicos da assistência social. O MDS tem por objetivos a execução da LOAS, ou seja: a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. (Benefício de prestação continuada) A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. A participação popular no cumprimento de tais proposições jurídicas ficou assegurada com a criação do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), órgão do governo brasileiro, vinculado na época de sua criação ao Ministério do Desenvolvimento Sociale Combate à Fome observando-se os princípios e diretrizes estabelecidos por proposições específicas das políticas de assistência social estaduais e municipais. O SUAS tem como eixos estruturantes: a matricialidade sócio- familiar; descentralização político-administrativa e territorialização estabelecendo novas bases para a relação entre Estado e sociedade civil; financiamento; controle social com participação popular e normas definidas para informação o monitoramento e a avaliação além de política de recursos humanos própria. Estabelecendo ainda a organização da assistência em dois níveis de proteção, divididos em proteção social básica e proteção social especial de média e alta complexidade. Proteção social básica e especial A proteção social básica tem por objetivo prevenir a violação dos direitos sua porta de entrada e ações executivas são Centro de Referência de Assistência Social – CRAS Localizando-se nas áreas de maior vulnerabilidade previamente identificadas por estudos específicos como de maior risco social constituindo-se como uma unidade permanente de prestação de serviços definidos para a população residente na sua área de abrangência. A equipe inclui profissionais de serviço social e psicologia em número variável segundo articulados por um coordenador, cujo perfil é: técnico de nível superior, concursado, com experiência em trabalhos comunitários e gestão de programas, projetos, serviços e benefícios sócio-assistenciais. Proteção especial atua quando os direitos já foram violados, tem como unidade assistencial os Centros de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS) configura-se como uma unidade pública e estatal, que oferta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas sócio-educativas em meio aberto, etc.). As atividades do psicólogo no CRAS como definidas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) / Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) devem estar voltadas para a atenção e prevenção a situações de risco, objetivando atuar nas situações de vulnerabilidade por meio do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições pessoais e coletivas promovendo e/ou favorecendo o desenvolvimento da autonomia dos indivíduos, oportunizando o empoderamento da pessoa, dos grupos e das comunidades. Fonte: Wikipédia GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NA PERSPECTIVA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SO- CIAL – SUAS Conceito e base de organização do Sistema Único de Assistên- cia Social – SUAS O SUAS, cujo modelo de gestão é descentraliza- do e participativo, constitui-se na regulação e organização em todo o território nacional da rede de serviços socioassistenciais. Os servi- ços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua complexidade. Pressupõe, ainda, gestão compartilhada, co-financiamento da política pelas três esferas de governo e defini- ção clara das competências técnico-políticas da União, Estados e Municípios. O SUAS materializa o conteúdo da LOAS, cumprindo no tempo histórico dessa política as exigências para a realização dos objetivos e resultados esperados que devem consagrar direitos de cidadania e inclusão social. “Trata das condições para a extensão e universalização da pro- teção social aos brasileiros através da política de assistência social e para a organização, responsabilidade e funcionamento de seus serviços e benefícios nas três instâncias de gestão governamental”. O SUAS define e organiza os elementos essenciais e imprescin- díveis à execução da política de assistência social possibilitando a normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e da rede socioassistencial e, ainda, os eixos estruturantes e de sub- sistemas conforme aqui descritos: _ Matricialidade Sócio-Familiar; _ Descentralização político-administrativa e Territorialização; _ Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil; _ Financiamento; _ Controle Social; _ O desafio da participação popular/cidadão usuário; _ A Política de Recursos Humanos; _ A Informação, o Monitoramento e a Avaliação. Os serviços socioassistenciais no SUAS são organizados se- gundo as seguintes referências: vigilância social, proteção social e defesa social e institucional: Vigilância Social: refere-se à produção, sistematização de infor- mações, indicadores e índices territorializados das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e social que incidem sobre famí- lias/pessoas nos diferentes ciclos da vida (crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos); pessoas com redução da capacidade pessoal, com deficiência ou em abandono; crianças e adultos víti- mas de formas de exploração, de violência e de ameaças; vítimas de preconceito por etnia, gênero e opção pessoal; vítimas de apar- tação social que lhes impossibilite sua autonomia e integridade, fragilizando sua existência; vigilância sobre os padrões de serviços de assistência social em especial aqueles que operam na forma de albergues, abrigos, residências, semi-residências, moradias provisó- rias para os diversos segmentos etários. Os indicadores a serem construídosdevem mensurar no território as situações de riscos sociais e violação de direitos. . Proteção Social: Os serviços de proteção básica e especial de- vem garantir as seguintes seguranças: Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 5 • Segurança de Sobrevivência: através de benefícios continua- dos e eventuais que assegurem: proteção social básica a idosos e pessoas com deficiência sem fonte de renda e sustento4; pessoas e famílias vítimas de calamidades e emergências; situações de forte fragilidade pessoal e familiar, em especial às mulheres chefes de família e seus filhos; • Segurança de Convívio: através de ações, cuidados e serviços que restabeleçam vínculos pessoais, familiares, de vizinhança, de segmento social, mediante a oferta de experiências sócio- educativas, lúdicas, sócio-culturais, desenvolvidas em rede de nú- cleos sócio-educativos e de convivência para os diversos ciclos de vida, suas características e necessidades; • Segurança de Acolhida: através de ações, cuidados, serviços e projetos operados em rede com unidade de porta de entrada desti- nada à proteger e recuperar às situações de abandono e isolamento de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, restaurando sua autonomia, capacidade de convívio e protagonismo mediante a oferta de condições materiais de abrigo, repouso, alimentação, higienização, vestuário e aquisições pessoais desenvolvidas através de acesso a trabalho sócio-educativo; . Defesa Social e Institucional: os serviços de proteção básica e especial devem ser organizados de forma a garantir aos seus usuá- rios o acesso ao conhecimento dos direitos socioassistenciais e sua defesa. São direitos socioassistenciais a serem assegurados na operação do SUAS a seus usuários: • Direito ao atendimento digno, atencioso e respeitoso, por parte de todos os serviços socioassistenciais, ausente de procedimentos vexatórios e coercitivos; • Direito ao tempo, de modo a acessar a rede de serviço com re- duzida espera e de acordo com a necessidade, sendo-lhes garanti- dos os seguintes procedimentos; • Direito à informação sobre o funcionamento dos serviços, en- quanto direito primário do cidadão, sobretudo àqueles com vivência de barreiras culturais, de leitura, de limitações físicas; • Direito do usuário ao protagonismoe manifestação de seus in- teresses; • Direito do usuário à oferta qualificada de serviço; • Direito de convivência familiar e comunitária. O processo de gestão do SUAS prevê as seguintes bases orga- nizacionais: Matricialidade Sócio-Familiar As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direi- tos sociais assegurados pelo Estado democrático de um lado, e, por outro, dos constrangimentos provenientes da crise econômica e do mundo do trabalho, determinaram transformações fundamentais na esfera privada, resignificando as formas de composição e o papel das famílias. Por reconhecer as fortes pressões que os processos de exclusão sócio-cultural geram sobre as famílias brasileiras, acen- tuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua cen- tralidade no âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida. Essa correta percepção é condizente com a tradução da família na condição de sujeito de direitos, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistên- cia Social e o Estatuto do Idoso. A família, independentemente dos formatos ou modelos que as- sume é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando, continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida. Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades, além de que nas sociedades capitalistas a família é fundamental no âmbito da proteção social. Em segundo lugar, é preponderante retomar que as novas feições da família estão intrínseca e dialeti- camente condicionadas às transformações societárias contemporâ- neas, ou seja, às transformações econômicas e sociais, de hábitos e costumes e ao avanço da ciência e da tecnologia. O novo cenário tem remetido à discussão do que seja a família, uma vez que as três dimensões clássicas de sua definição (sexualidade, procriação e convivência) já não têm o mesmo grau de imbricamento que se acreditava outrora. Nesta perspectiva, podemos dizer que estamos diante de uma família quando encontramos um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consangüíneos, afetivos e, ou, de solidariedade. Como resultado das modificações acima menciona- das, superou-se a referência de tempo e de lugar para a compreen- são do conceito de família. O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está explícito no artigo 226, da Constituição Federal do Brasil, quando declara que a “família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, endossando, assim, o artigo 16, da Declaração dos Direitos Humanos, que traduz a família como sendo o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. No Brasil, tal reconhecimento se reafirma nas legislações específicas da Assistência Social – Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Estatuto do Idoso e na própria Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, dentre outras. Embora haja o reconhecimento explícito sobre a importância da família na vida social e, portanto, merecedora da proteção do Esta- do, tal proteção tem sido cada vez mais discutida, na medida em que a realidade tem dado sinais cada vez mais evidentes de pro- cessos de penalização e desproteção das famílias brasileiras. Nes- se contexto, a matricialidade sócio-familiar passa a ter papel de destaque no âmbito da Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Esta ênfase está ancorada na premissa de que a centralida- de da família e a superação da focalização, no âmbito da política de Assistência Social, repousam no pressuposto de que para a família prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal. Nesse sentido, a formulação da política de Assistência Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indiví- duos. Essa postulação se orienta pelo reconhecimento da realidade que temos hoje através de estudos e análises das mais diferentes áreas e tendências. Pesquisas sobre população e condições de vida nos informam que as transformações ocorridas na sociedade con- temporânea, relacionadas à ordem econômica, à organização do trabalho, à revolução na área da reprodução humana, à mudança de valores e à liberalização dos hábitos e dos costumes, bem como ao fortalecimento da lógica individualista em termos societários, redun- daram em mudanças radicais na organização das famílias. Dentre essas mudanças pode-se observar um enxugamento dos grupos familiares (famílias menores), uma variedade de arranjos familiares (monoparentais, reconstituídas), além dos processos de empobre- cimento acelerado e da desterritorialização das famílias gerada pelos movimentos migratórios. Essas transformações, que envolvem aspectos positivos e nega- tivos, desencadearam um processo de fragilização dos vínculos familiares e comunitários e tornaram as famílias mais vulneráveis. A vulnerabilidade à pobreza está relacionada não apenas aos fatores da conjuntura econômica e das qualificações específicas dos indiví- duos, mas também às tipologias ou arranjos familiares e aos ciclos de vida das famílias. Portanto, as condições de vida de cada indiví- duo dependem menos de sua situação específica que daquela que caracteriza sua família. No entanto, percebe-se que na sociedade brasileira, dada as desigualdades características de sua estrutura social, o grau de vulnerabilidade vem aumentando e com isso au- menta a exigência das famílias desenvolverem complexas estraté- gias de relações entre seus membros para sobreviverem. Assim, essa perspectiva de análise, reforça a importância da po- lítica de Assistência Social no conjunto protetivo da Seguridade Social, como direito de cidadania, articulada à lógica da universali- dade. Além disso, há que considerar a diversidade sócio-cultural das famílias, na medida em que estas são, muitas vezes, movidas por hierarquias consolidadas e por uma solidariedade coativa que re- dundam em desigualdades e opressões. Sendo assim, a política de Assistência Social possui papel fundamental no processo de eman- cipação destas, enquanto sujeito coletivo. Postula-se, inclusive, uma interpretação mais ampla do estabelecido na legislação, no sentido de reconhecer que a concessão de benefícios está condicionada à impossibilidade não só do beneficiário em prover sua manutenção, mas também de sua família. Dentro do princípio da universalidade, portanto, objetiva-se a manutenção e a extensão de direitos, em sintonia com as demandas e necessidades particulares expressas pelas famílias. Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 6 Nesta ótica, a centralidade da família com vistas à superação da focalização, tanto relacionada a situações de risco como a de seg- mentos, sustenta-se a partir da perspectiva postulada. Ou seja, a centralidade da família é garantida à medida que na Assistência Social, com base em indicadores das necessidades familiares, se desenvolva uma política de cunho universalista, que em conjunto com as transferências de renda em patamares aceitáveis se desen- volva, prioritariamente, em redes socioassistenciais que suportem as tarefas cotidianas de cuidado e que valorizem a convivência familiar e comunitária. Além disso, a Assistência Social, enquanto política pública, que compõe o tripé da Seguridade Social, e considerando as caracterís- ticas da população atendida por ela, deve fundamentalmente inserir- se articulação intersetorial com outras políticas sociais, particular- mente, as públicas de Saúde,Educação, Cultura, Esporte, Empre- go, Habitação, entre outras, para que as ações não sejam fragmen- tadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos serviços para todas as famílias e indivíduos. A efetivação da política de Assistência Social, caracterizada pela complexidade e contraditoriedade que cerca as relações intrafamilia- res e as relações da família com outras esferas da sociedade, espe- cialmente o Estado, colocam desafios tanto em relação à sua pro- posição e formulação quanto à sua execução. Os serviços de proteção social, básica e especial, voltados para a atenção às famílias deverão ser prestados, preferencialmente, em unidades próprias dos municípios, através dos Centros de Referên- cia da Assistência Social básico e especializado. Os serviços, pro- gramas, projetos de atenção às famílias e indivíduos poderão ser executados em parceria com as entidades não-governamentais de assistência social, integrando a rede socioassistencial. Descentralização político-administrativa e Territorialização No campo da assistência social, o artigo 6º, da LOAS, dispõe que as ações na área são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assis- tência social, articulando meios, esforços e recursos, e por um con- junto de instâncias deliberativas, compostas pelos diversos setores envolvidos na área. O artigo 8º estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, observados os princípios e dire- trizes estabelecidas nesta Lei, fixarão suas respectivas Políticas de Assistência Social. A política de assistência social tem sua expressão em cada nível da Federação na condição de comando único, na efetiva implanta- ção e funcionamento de um Conselho de composição paritária entre sociedade civil e governo, do Fundo, que centraliza os recur- sos na área, controlado pelo órgão gestor e fiscalizado pelo conse- lho, do Plano de Assistência Social que expressa a Política e suas inter-relações com as demais políticas setoriais e ainda com a rede socioassistencial. Portanto, Conselho, Plano e Fundo são os ele- mentos fundamentais de gestão da Política Pública de Assistência Social. O artigo 11o da LOAS coloca ainda que as ações das três esfe- ras de governo na área da assistência social realizam-se de forma articulada, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos programas, em suas res- pectivas esferas, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Dessa forma, cabe a cada esfera de governo, em seu âmbito de atuação, respeitando os princípios e diretrizes estabelecidas na Política Nacional de Assistência Social, coordenar, formular e co- financiar além de monitorar, avaliar, capacitar e sistematizar as informações. Considerando a alta densidade populacional do país e, ao mes- mo tempo, seu alto grau de heterogeneidade e desigualdade socio- territorial presentes entre os seus 5.561 municípios, a vertente terri- torial faz-se urgente e necessária na Política Nacional de Assistên- cia Social. Ou seja, o princípio da homogeneidade por segmentos na definição de prioridades de serviços, programas e projetos torna- se insuficiente frente às demandas de uma realidade marcada pela alta desigualdade social. Exige-se agregar ao conhecimento da realidade a dinâmica demográfica associada à dinâmica socioterrito- rial em curso. Também, considerando que muitos dos resultados das ações da política de assistência social impactam em outras políticas sociais e vice-versa, é imperioso construir ações territorialmente definidas, juntamente com estas políticas. Importantes conceitos no campo da descentralização foram in- corporados a partir da leitura territorial como expressão do conjunto de relações, condições e acessos inaugurados pelas análises de Milton Santos, que interpreta a cidade com significado vivo a partir dos “atores que dele se utilizam”. Dirce Koga, afirma que “os direcionamentos das políticas públi- cas estão intrinsecamente vinculados à própria qualidade de vida dos cidadãos. É no embate relacional da política pública entre go- verno e sociedade que se dará a ratificação ou o combate ao pro- cesso de exclusão social em curso. Pensar na política pública a partir do território exige também um exercício de revista à história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive neste terri- tório (...). A perspectiva de totalidade, de integração entre os setores para uma efetiva ação pública... vontade política de fazer valer a diversidade e a inter-relação das políticas locais” (2003:25). Nesta vertente, o objeto da ação pública, buscando garantir a qualidade de vida da população, extravasa os recortes setoriais em que tradicionalmente se fragmentaram as políticas sociais e em especial a política de assistência social. Menicucci (2002) afirma que “o novo paradigma para a gestão pública articula descentralização e intersetorialidade, uma vez que o objetivo visado é promover a inclusão social ou melhorar a qualida- de de vida, resolvendo os problemas concretos que incidem sobre uma população em determinado território”. Ou seja, ao invés de metas setoriais a partir de demandas ou necessidades genéricas, trata-se de identificar os problemas concretos, as potencialidades e as soluções, a partir de recortes territoriais que identifiquem conjun- tos populacionais em situações similares, e intervir através das políticas públicas, com o objetivo de alcançar resultados integrados e promover impacto positivo nas condições de vida. O que Aldaíza Sposati tem chamado de atender a necessidade e não o necessita- do. Dessa forma, uma maior descentralização, que recorte regiões homogêneas, costuma ser pré-requisito para ações integradas na perspectiva da intersetorialidade. Descentralização efetiva com transferência de poder de decisão, de competências e de recursos, e com autonomia das administra- ções dos microespaços na elaboração de diagnósticos sociais, diretrizes, metodologias, formulação, implementação, execução, monitoramento, avaliação e sistema de informação das ações defi- nidas, com garantias de canais de participação local. Pois, esse processo ganha consistência quando a população assume papel ativo na reestruturação. Para Menicucci (2002), “a proposta de planejamento e interven- ções intersetoriais envolve mudanças nas instituições sociais e suas práticas”. Significa alterar a forma de articulação das ações em segmentos, privilegiando a universalização da proteção social em prejuízo da setorialização e da autonomização nos processos de trabalho. Implica, também, em mudanças na cultura e nos valores da rede socioassistencial, das organizações gestoras das políticas sociais e das instâncias de participação. Torna-se necessário, cons- tituir uma forma organizacional mais dinâmica, articulando as diver- sas instituições envolvidas. É essa a perspectiva que esta Política Nacional quer implemen- tar. A concepção da assistência social como política pública tem como principais pressupostos a territorialização, a descentralização e a intersetorialidade aqui expressos. Assim, a operacionalização da política de assistência social em rede, com base no território, constitui um dos caminhos para superar a fragmentação na prática dessa política. Trabalhar em rede, nessa concepção territorial significa ir além da simples adesão, pois há necessidade de se romper com velhos paradigmas, em que as práticas se construíram historicamente pautadas na segmentação, na fragmentação e na focalização, e olhar para a realidade, conside- rando os novos desafios colocados pela dimensão do cotidiano, que se apresenta sob múltiplas formatações, exigindo enfrentamento de forma integrada e articulada. Isso expressa a necessidade de se repensar o atual desenho da atuação da rede socioassistencial, redirecionando-a na perspectiva de sua diversidade, complexidade, cobertura, financiamento e do número potencial de usuáriosque dela possam necessitar. A partir daí a Política Nacional de Assistência Social caracterizará os muni- cípios brasileiros de acordo com seu porte demográfico associado aos indicadores socioterritoriais disponíveis a partir dos dados censi- Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 7 tários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE5, com maior grau de desagregação territorial quanto maior a taxa de den- sidade populacional, isto é, quanto maior concentração populacio- nal, maior será a necessidade de considerar as diferenças e desi- gualdades existentes entre os vários territórios de um município ou região. A construção de indicadores a partir dessas parcelas territo- riais termina configurando uma “medida de desigualdade intraurba- na”. Esta medida, portanto, sofrerá variações de abrangência de acordo com as características de cada cidade, exigindo ação articu- lada entr e as três esferas no apoio e subsídio de informações, tendo como base o Sistema Nacional de Informações de Assistência Social e os censos do IBGE, compondo com os Campos de Vigilân- cia Social, locais e estaduais, as referências necessárias para sua construção. Porém, faz-se necessária a definição de uma metodologia unifi- cada de construção de alguns índices (exclusão/inclusão social, vulnerabilidade social) para efeitos de comparação e definição de prioridades da Política Nacional de Assistência Social. Como forma de caracterização dos grupos territoriais da Política Nacional de Assistência Social será utilizada como referência a definição de municípios como de pequeno, médio e grande porte 6 utilizada pelo IBGE agregando-se outras referências de análise realizadas pelo Centro de Estudos das Desigualdades Socioterritori- ais7, bem como pelo Centro de Estudos da Metrópole8 sobre desi- gualdades intraurbanas e o contexto específico das metrópoles: • Municípios de pequeno porte 1 – entende-se por município de pequeno porte 1 aquele cuja população chega a 20.000 habitantes (até 5.000 famílias em média. Possuem forte presença de popula- ção em zona rural, correspondendo a 45% da população total. Na maioria das vezes, possuem como referência municípios de maior porte, pertencentes à mesma região em que estão localizados. Necessitam de uma rede simplificada e reduzida de serviços de proteção social básica, pois os níveis de coesão social, as deman- das potenciais e redes socioassistenciais não justificam serviços de natureza complexa. Em geral, esses municípios não apresentam demanda significativa de proteção social especial, o que aponta para a necessidade de contarem com a referência de serviços des- sa natureza na região, mediante prestação direta pela esfera esta- dual, organização de consórcios intermunicipais, ou prestação por municípios de maior porte, com cofinanciamento das esferas esta- duais e Federal. • Municípios de pequeno porte 2 – entende-se por município de pequeno porte 2 aquele cuja população varia de 20.001 a 50.000 habitantes (cerca de 5.000 a 10.000 famílias em média). Diferenci- am-se dos pequeno porte 1 especialmente no que se refere à con- centração da população rural que corresponde a 30% da população total. Quanto às suas características relacionais mantém-se as mesmas dos municípios pequenos 1. • Municípios de médio porte – entende-se por municípios de mé- dio porte aqueles cuja população está entre 50.001 a 100.000 habi- tantes (cerca de 10.000 a 25.000 famílias). Mesmo ainda precisando contar com a referência de municípios de grande porte para ques- tões de maior complexidade, já possuem mais autonomia na estru- turação de sua economia, sediam algumas indústrias de transfor- mação, além de contarem com maior oferta de comércio e serviços. A oferta de empregos formais, portanto, aumenta tanto no setor secundário como no de serviços. Esses municípios necessitam de uma rede mais ampla de servi- ços de assistência social, particularmente na rede de proteção social básica. Quanto à proteção especial, a realidade de tais municípios se assemelha à dos municípios de pequeno porte, no entanto, a probabilidade de ocorrerem demandas nessa área é maior, o que leva a se considerar a possibilidade de sediarem serviços próprios dessa natureza ou de referência regional, agregando municípios de pequeno porte no seu entorno. • Municípios de grande porte – entende-se por municípios de grande porte aqueles cuja população é de 101.000 habitantes até 900.000 habitantes (cerca de 25.000 a 250.000 famílias). São os mais complexos na sua estruturação econômica, pólos de regiões e sedes de serviços mais especializados. Concentram mais oportuni- dades de emprego e oferecem maior número de serviços públicos, contendo também mais infra-estrutura. No entanto, são os municí- pios que por congregarem o grande número de habitantes e, pelas suas características em atraírem grande parte da população que migra das regiões onde as oportunidades são consideradas mais escassas, apresentam grande demanda por serviços das várias áreas de políticas públicas. Em razão dessas características, a rede socioassistencial deve ser mais complexa e diversificada, envolven- do serviços de proteção social básica, bem como uma ampla rede de proteção especial (nos níveis de média e alta complexidade). • Metrópoles – entende-se por metrópole os municípios com mais de 900.000 habitantes (atingindo uma média superior a 250.000 famílias cada). Para além das características dos grandes municípios, as metrópoles apresentam o agravante dos chamados territórios de fronteira, que significam zonas de limites que configu- ram a região metropolitana e normalmente com forte ausência de serviços do Estado. A referida classificação tem o propósito de instituir o Sistema Ú- nico de Assistência Social, identificando as ações de proteção bási- ca de atendimento que devem ser prestadas na totalidade dos mu- nicípios brasileiros e as ações de proteção social especial, de média e alta complexidade, que devem ser estruturadas pelos municípios de médio, grande porte e metrópoles, bem como pela esfera esta- dual, por prestação direta como referência regional ou pelo assesso- ramento técnico e financeiro na constituição de consórcios intermu- nicipais. Levar-se-á em conta, para tanto, a realidade local, regional, o porte, a capacidade gerencial e de arrecadação dos municípios, e o aprimoramento dos instrumentos de gestão, introduzindo o geo- processamento como ferramenta da Política de Assistência Social. Novas bases para a relação entre o Estado e a Sociedade Civil A Lei Orgânica de Assistência Social propõe um conjunto inte- grado de ações e iniciativas do governo e da sociedade civil para garantir proteção social para quem dela necessitar. A gravidade dos problemas sociais brasileiros exige que o Esta- do assuma a primazia da responsabilidade em cada esfera de go- verno na condução da política. Por outro lado, a sociedade civil participa como parceira, de forma complementar na oferta de servi- ços, programas, projetos e benefícios de Assistência Social. Possui, ainda, o papel de exercer o controle social sobre a mesma. No entanto, somente o Estado dispõe de mecanismos fortemen- te estruturados para coordenar ações capazes de catalisar atores em torno de propostas abrangentes, que não percam de vista a universalização das políticas, combinada com a garantia de eqüida- de. Esta prerrogativa está assegurada no art. 5º, inciso III, da LOAS. Para tanto, a administração pública deverá desenvolver habili- dades específicas, com destaque para a formação de redes. A noção de rede tem se incorporado ao discurso sobre política social. Nos anos recentes, novas formas de organização e de relaciona- mento interorganizacional, entre agências estatais e, sobretudo, entre o Estado e a sociedade civil, têm sido propostas pelos atores sociais. O imperativo de formar redes se faz presente porduas razões fundamentais. Primeiramente, conforme já mencionado, porque a história das políticas sociais no Brasil, sobretudo, a de assistência social, é marcada pela diversidade, superposição e, ou, paralelismo das ações, entidades e órgãos, além da dispersão de recursos huma- nos, materiais e financeiros. A gravidade dos problemas sociais brasileiros exige que o Esta- do estimule a sinergia e gere espaços de colaboração, mobilizando recursos potencialmente existentes na sociedade, tornando impres- cindível contar com a sua participação em ações integradas, de modo a multiplicar seus efeitos e chances de sucesso. Desconhecer a crescente importância da atuação das organizações da sociedade nas políticas sociais é reproduzir a lógica ineficaz e irracional da fragmentação, descoordenação, superposição e isolamento das ações. Na proposta do SUAS, é condição fundamental a reciprocidade das ações da rede de proteção social básica e especial, com centra- lidade na família, sendo consensado o estabelecimento de fluxo, referência e retaguarda entre as modalidades e as complexidades de atendimento, bem como a definição de portas de entrada para o sistema. Assim, a nova relação público e privado deve ser regulada, tendo em vista a definição dos serviços de proteção básica e espe- cial, a qualidade e o custo dos serviços, além de padrões e critérios Brasil Concursos Conhecimentos Gerais 8 de edificação. Neste contexto, as entidades prestadoras de assis- tência social integram o Sistema Único de Assistência Social, não só como prestadoras complementares de serviços sócio-assistenciais, mas, como co-gestoras e co-responsáveis em garantir direitos dos usuários da assistência social. Esse reconhecimento impõe a necessidade de articular e inte- grar ações e recursos, tanto na relação intra como interinstitucional. Ao invés de substituir a ação do Estado, a rede deve ser alavan- cada a partir de decisões políticas tomadas pelo poder público em consonância com a sociedade. É condição necessária para o traba- lho em rede que o Estado seja o coordenador do processo de articu- lação e integração entre as Organizações Não-Governamentais – ONG’s, Organizações Governamentais – OG’s e os segmentos empresariais, em torno de uma situação ou de determinado territó- rio, discutindo questões que dizem respeito à vida da população em todos os seus aspectos. Trata-se, enfim, de uma estratégia de arti- culação política que resulta na integralidade do atendimento. No caso da assistência social, a constituição de rede pressupõe a presença do Estado como referência global para sua consolidação como política pública. Isso supõe que o poder público seja capaz de fazer com que todos os agentes desta política, OG’s e, ou, ONG’s, transitem do campo da ajuda, filantropia, benemerência para o da cidadania e dos direitos. E aqui está um grande desafio a ser en- frentado pelo Plano Nacional, que será construído ao longo do pro- cesso de implantação do SUAS. Cabe ao poder público conferir unidade aos esforços sociais a fim de compor uma rede socioassistencial, rompendo com a prática das ajudas parciais e fragmentadas, caminhando para direitos a serem assegurados de forma integral, com padrões de qualidade passíveis de avaliação. Essa mudança deverá estar contida nas diretrizes da política de supervisão da rede conveniada que definirá normas e procedimentos para a oferta de serviços. Financiamento No Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência Soci- al, que toma corpo através da proposta de um Sistema Único, a instância de financiamento é representada pelos Fundos de Assis- tência Social nas três esferas de governo. No âmbito federal, o Fundo Nacional, criado pela LOAS e regulamentado pelo Decreto nº 1605/95, tem o seguinte objetivo: “proporcionar recursos e meios para financiar o benefício de prestação continuada e apoiar servi- ços, programas e projetos de assistência social” (art. 1º, do decreto nº 1605/95). Com base nessa definição, o financiamento dos benefícios se dá de forma direta aos seus destinatários, e o financiamento da rede socioassistencial se dá mediante aporte próprio e repasse de recur- sos fundo a fundo, bem como de repasses de recursos para projetos e programas que venham a ser considerados relevantes para o desenvolvimento da política de assistência social em cada esfera de governo, de acordo com critérios de partilha e elegibilidade de muni- cípios, regiões e/ou estados, pactuados nas comissões intergesto- ras e deliberados nos conselhos de assistência social. Assim, o propósito é o de respeitar as instâncias de gestão compartilhada e de deliberação da política nas definições afetas ao financiamento dos serviços, programas, projetos e benefícios com- ponentes do Sistema Único de Assistência Social. De acordo com a diretriz da descentralização e, em consonância com o pressuposto do co-financiamento, essa rede deve contar com a previsão de recursos das três esferas de governo, em razão da co-responsabilidade que perpassa a provisão da proteção social brasileira. O financiamento deve ter como base os diagnósticos socioterritoriais apontados pelo Sistema Nacional de Informações de Assistência Social9 que considerem as demandas e prioridades que se apresentam de forma específica, de acordo com as diversidades e parte de cada região ou território, a capacidade de gestão e de atendimento e de arrecadação de cada município/região, bem como os diferentes níveis de complexidade dos serviços, através de pac- tuações e deliberações estabelecidas com os entes federados e os respectivos conselhos. No entanto, tradicionalmente, o financiamento da política de as- sistência social brasileira tem sido marcado por práticas centraliza- das, genéricas e segmentadas, que se configuram numa série histó- rica engessada e perpetuada com o passar dos anos. Tal processo se caracteriza pelo formato de atendimentos pontuais e, em alguns casos, até paralelos, direcionados a programas que muitas vezes não correspondem às necessidades estaduais, regionais e munici- pais. Tal desenho não fomenta a capacidade criativa destas esferas e nem permite que sejam propostas ações complementares para a aplicação dos recursos públicos repassados. Ainda deve ser ressaltado no modelo de financiamento em vigor, a fixação de valores per capita, que atribuem recursos com base no número total de atendimentos e não pela conformação do serviço às necessidades da população, com determinada capacidade instala- da. Essa orientação, muitas vezes, leva a práticas equivocadas, em especial no que tange aos serviços de longa permanência, que acabam por voltar-se para a manutenção irreversível dos usuários desagregados de vínculos familiares e comunitários. Outro elemento importante nessa análise da forma tradicional de financiamento da política de assistência social são as emendas parlamentares que financiam ações definidas em âmbito federal, de forma desarticulada do conjunto das instâncias do sistema descen- tralizado e participativo. Isso se dá, muitas vezes, pela não articula- ção entre os poderes Legislativo e Executivo no debate acerca da Política Nacional de Assistência Social, o que se pretende alterar com a atual proposta. Ao longo dos 10 anos de promulgação da LOAS, algumas ban- deiras têm sido levantadas em prol do financiamento da assistência social, construído sobre bases mais sólidas e em maior consonância com a realidade brasileira. Juntamente com a busca de vinculação constitucional de percentual de recursos para o financiamento desta política nas três esferas de governo, figuram reivindicações que, no debate da construção do SUAS, têm protagonizado as decisões do órgão gestor federal. São elas: o financiamento com base no territó- rio, considerando os portes dos municípios e a complexidade dos serviços, pensados de maneira hierarquizada e complementar;
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