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Copyright © 2019 by Sil Zafia Publicado independente por Sil Zafia Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa da autora. Diagramado e editado por Silmara Záfia. Revisado por Sophia Castro. Capa por Silmara Záfia. Ilustrações por Haila Sant. Primeiro volume da série Nos Bastidores O livro foi publicado, inicialmente, como fanfic na plataforma Wattpad, pelo user Silmara Zafia. A autora tem os direitos legais registrados e assegurados pela Biblioteca Nacional. Silmara Záfia, Resende - RJ – Tel: (24) 98127-7404, Email: silzafia@icloud.com, que se reserva a propriedade de todos os direitos desta edição. Conheça outros livros da autora Na Amazon. Para Gerciane Martins, Bruna Brito, Alessandra Souza, Jussara Silva, Valquíria Gonçalves e Iasmin Freitas, por cada palavra dita. Completamente sozinha eu assisto você observá-la Como se ela fosse a única garota que você já viu Você não se importa, você nunca se importou Você não dá a mínima para mim Sim, sozinha eu vejo você observá-la Ela é a única coisa que você já viu Como é que você nunca nota? Que você está me matando lentamente Eu te odeio, eu te amo Odeio te amar Não quero, mas não posso colocar mais ninguém acima de você Eu te odeio, eu te amo Eu odeio querer você Você quer ela, você precisa dela E eu nunca vou ser ela ♫ ♫ ♫ Gnash – I Hate You I Love You – Participação Olivia O’Brien Nota da autora Querido leitor, Um dia, quando estiver mais velho, você vai olhar para trás e se lembrar de todas as coisas que já fez. Um dia, todos nós deixaremos essa vida para trás. Leia todas as páginas desse livro, acompanhe essa estória até o final, mas não se esqueça de levar a vida que você vai querer lembrar. Viva noites e dias que nunca irão se apagar nas suas melhores recordações. Mas se algo acontecer, e você não puder continuar, lembre-se de mim, de como eu espero que tenha uma vida maravilhosa. Não deixe para fazer as coisas quando não puder mais fazê-las. Um dia, tudo que amamos simplesmente se vai. Até você. Até eu. PRÓLOGO Era dia 24 de dezembro, mas meu novo chefe parecia não se importar com datas especiais. O verão mal havia começado e eu já sentia que iria ser o melhor de toda a minha existência. Pela primeira vez, o Brasil seria sede de um dos melhores festivais de música eletrônica do planeta, o Tomorrow is Mystery. Cinco dias de festa. Seis semanas de reunião entre os DJ’S. Para que tudo ocorresse tranquilamente, os organizadores fizeram uma seleção entre os estudantes universitários de Produção e Eventos de duas faculdades de Teresópolis — onde o Tomorrow is Mystery Brasil aconteceria. Os candidatos aprovados estagiariam como assistentes dos DJ’S convidados. Juntos, todos ficariam hospedados por seis semanas em um resort chamado Colline Hotel. Era uma oportunidade única e, com muita sorte, consegui uma dessas vagas de assistente. Tinha terminado o segundo semestre da faculdade. Uma das minhas melhores amigas, Ariele, também tinha sido selecionada. Um casal de namorados que estava no segundo ano do curso, uma garota exótica que eu não sabia o nome, três alunos do terceiro ano que andavam sempre em bando — Murilo, Amanda e Denis —, além de, Dine, uma garota do último ano que estava se recuperando de uma cirurgia para retirada de um câncer. A simples menção a essa palavra me causava um nó na garganta. Só que não era hora para ficar deprimida. Eu passaria seis semanas trabalhando com os melhores DJ’S do mundo. Os demais assistentes eram alunos da outra faculdade e eu não os conhecia. Meu coração batia rápido enquanto Jack, o responsável pelos assistentes, anunciava quem trabalharia com quem. Para o meu pânico total, fui escolhida para ser assistente não só de um, mas um grupo chamado Swedish Legends, formado por três DJ’S. Todos no auditório se viraram para mim. Arregalei os olhos e engoli a saliva com dificuldade. Não podia ser verdade. Eu só estava no primeiro ano do curso e o Swedish Legends era composto por nada mais nada menos que os primeiros DJ’S a fazerem sucesso nos quatro cantos do planeta. Além disso, Axel Hansson, Vincent Cavallari e Guto Bergman eram os produtores mais respeitados daquele meio. Vários dos DJ’s mais novos tinham se inspirado neles. Eu só tinha cursado dois semestres e não estava preparada. — São três... três... DJ’S — balbuciei baixinho enquanto os demais assistentes e Jack me olhavam. — Como disse? — ele quase berrou, fazendo com que eu me encolhesse. — Posso trocar? — perguntei com minha melhor e mais clichê cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança. Imaginei que Jack fosse me queimar viva com seu olhar imponente, enquanto seu rosto ficava muito vermelho. Minha nuca foi esquentando e os lábios ficaram frios. Comecei a escorregar na cadeira, fantasiando poder fugir dali rastejando. De repente, ele continuou anunciando os outros nomes, como se meu vexame não tivesse acontecido. Me virei e vi o casal de namorados do segundo ano. O rapaz se chamava Jensen. Eu sabia que ele estava na sua segunda graduação e parecia extremamente adulto e responsável. Sem dúvidas, o mais indicado entre os universitários presentes naquele auditório para trabalhar com músicos tão importantes. Vi também Denis, do terceiro ano. Ele tinha um ótimo porte físico e suas feições bonitas passavam confiança. Poderia muito bem trocar de lugar comigo. Fechei a cara. Não era lá muito justo. Pensei em desabafar com mamãe e tentarmos encontrar juntas uma solução para aquilo, mas ela ainda estava furiosa comigo por eu ter trocado Medicina para trabalhar com festivais de música eletrônica. Ela era pediatra e tinha planejado meu futuro. Ficou maluca quando resolvi não seguir seus planos. Aos poucos, as pessoas se distraíram novamente, exceto por Ariele que não parava de me beliscar. Era uma dessas tietes do Swedish Legends. Talvez eu conseguisse fazer uma pequena troca. Respirei fundo algumas vezes, tentando me manter centrada. Mas o fato é que, o verão que eu planejava ser o melhor da minha vida, talvez se transformasse em um inferno. “Se eu dissesse que isso só iria doer Se eu te avisasse que o fogo iria queimar Você andaria nele?” Martin Garrix – In The Name Of Love (Feat. Beba Rexha) ♫ — Não tem mesmo como fazer aquela troca? — perguntei para Jack. Era a última tentativa de me livrar do Swedish Legends. Mordisquei o lábio inferior ao me dar conta de que tinha feito aquele pedido em voz alta. Jack era um dos organizadores do primeiro Tomorrow is Mystery Brasil. Obviamente ele não tinha tempo nem saco para ouvir minhas tietagens. — Se não quiser o estágio, suma da minha frente agora! — ele berrou da sua mesa. — Eu quero. É claro que quero. Tudo bem — respondi e murchei os ombros, tentando imediatamente desfazer um vinco de preocupação na testa. — Agora vá, garota — ele esbravejou fazendo sinal para a porta do seu escritório. — E lembre-se: aqueles três são seus donos agora. Faça tudo que eles quiserem sem reclamar. Faça um boquete nos três ao mesmo tempo se esse for o desejo deles. Sua obrigação é deixá-los satisfeitos; não quero ser incomodado com qualquer chilique de celebridade. Arregalei os olhos, perplexa com suas palavras, mas tentei engolir as reações. — Tudo bem. Obrigada pela oportunidade — agradeci antes de sair para encontrar o grupo do qual seria “babá”, por seis semanas inteiras, antes de o Tomorrow is Mystery Brasil começar. Segui às pressas para a saída do Colline Hotel, que estaria fechado para vários músicos e seus respectivos funcionários, e eles aproveitariam seis semanas para produzir músicas que iriam estourar no próximo verão europeu, além de buscarem novas parcerias e tudo mais. Um resort com uma propriedade gigantesca, reservado exclusivamente para eles. Aquele estágio deveria ser minha porta de entrada para o ramo de produção de festivais de música eletrônica, e eu havia batalhado muito para chegar até ali, nãopoderia desapontar ninguém. Me colocaram dentro de um luxuoso Hummer de cor preta. A porta foi fechada fazendo um barulho oco. Engoli em seco tentando memorizar tudo que sabia sobre Swedish Legends. Tremi por dentro. Não sabia quase nada. — Vincent é o mais alto, Axel é o loiro, e o que sobrar é o Guto — murmurei. — Não posso cometer a gafe de trocar os nomes. Simplesmente não posso fazer isso. O motorista ligou o Hummer e partiu em alta velocidade para o heliporto do resort, a cinco quilômetros e meio da recepção do hotel. Fomos seguidos por outro utilitário, também preto, que levava funcionários uniformizados para carregarem a bagagem do grupo, além de um segurança. O carro seguia as curvas sinuosas da propriedade do Colline, por entre as montanhas de Teresópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro. A cada metro percorrido, meu coração ameaçava parar. Mesmo que não tivesse sido sorteada para ser assistente de Nils Edberg, um dos DJ’S mais jovens e badalados a participar do Tomorrow is Mystery Brasil, ainda estaria entre todas as celebridades que faziam as melhores festas de House Music do hemisfério norte, isso não tinha preço. Era com aquilo que eu queria trabalhar para o resto da vida. Fui jogada para a frente quando o automóvel fez uma curva brusca e parou. Olhei pela janela de vidro fumê e constatei que tínhamos chegado ao heliponto. — Antes cedo do que atrasados — sussurrei enquanto tentava sem muito sucesso manter a calma. Aproveitei para verificar tudo que havia dentro do carro. O Hummer era um daqueles automóveis especiais para transportar bandas, uma espécie de limusine, com uma porta de correr na lateral oeste, um banco na parte sul, outro ao norte, e mais outro ao leste do veículo; um vidro preto que separava a cabine do motorista e um frigobar entre um dos bancos, além de toda a sorte de aparelhos eletrônicos para distrair os passageiros em viagens longas. O motorista, vestindo um terno preto, abriu a porta e me estendeu a mão para que eu saísse. Me apoiei nele e pulei para fora do veículo. Arrumei a saia jeans no lugar, puxei a barra da blusa branca até estar com a barriga completamente coberta, coloquei os óculos escuros e passei a ponta da língua pelas brakets do meu aparelho odontológico. O sol estava quase se pondo atrás das montanhas, deixando um rastro cor de rosa no céu. — Celular pessoal — continuei falando sozinha —, confere. Nextel confere. Engoli em seco. — Fique calma — o motorista disse. Pude ver em seu crachá que ele se chamava Daniel. — Você é meiga, eles vão gostar de você. — Impossível! — Minha voz soou desesperada. — Olha só meu tamanho! Ninguém dá muita credibilidade a garotas baixinhas. O fato é que meu 1,53m de altura não me ajudava em muita coisa. — Se você chegou até aqui é porque mereceu. Daniel era um homem moreno, de meia idade, quase careca, uns trinta centímetros mais alto que eu, e só o fato de ele não ter olhado para minha bunda devia significar que era um ótimo marido. Meu celular vibrou no bolso traseiro da saia. O peguei e vi o sms da minha mãe desejando um bom início de trabalho, que aquele era apenas um pequeno passo de uma longa jornada, e blá blá blá. Corri os dedos pela tela digitando rapidamente uma resposta. “Obrigada, mãe! Estou nervosa e acabo de ver o helicóptero deles se aproximando; ligo quando for possível. Te amo.” Ao ver o pontinho preto no céu vindo em nossa direção, enquanto ganhava forma e tamanho, minha ansiedade adquiriu novas proporções, chegando a me corroer por dentro. Por mais que seguir uma banda durante suas “férias” no vale do sol parecesse tarefa simples, não era. Atender determinadas exigências de artistas mimados, arrogantes e egocêntricos poderia trazer algumas dores de cabeça. Por esse motivo, mesmo sabendo que os três estavam comprometidos, já tinha para onde ligar caso eles pedissem prostitutas — ou prostitutos, nunca se sabe o gosto de cada um — e também tinha conseguido contatos que conheciam alguém que vendia drogas; só não sabia se ia dar conta de fazer, como disse o Jack, “um boquete nos três ao mesmo tempo”. — Controle a ansiedade! — O grito de Daniel sobressaiu ao barulho das hélices do helicóptero que se aproximava cada vez mais. — Seu nervosismo está passando para mim. Em questão de instantes eles pousariam. Nunca vi um helicóptero tão de perto! O ruído frenético das hélices parecia estar sincronizado com as batidas do meu coração. Em menos de um minuto, minha vida estaria entregue nas mãos do trio por seis semanas. Nunca cheguei perto de homens que valem milhões de dólares! O helicóptero fez uma curva e pairou acima das nossas cabeças. Eles são três e eu sou apenas uma! A aeronave começou a descer lentamente em linha reta. Nunca conversei com suecos! A menos de cinco metros do solo, o vento proporcionado pelas hélices era feroz e jogava areia contra minha pele que ardia. Deus, quem é quem mesmo? Quais são os nomes? Quem sou eu? O helicóptero pousou. Deveria ter desistido quando tive oportunidade. Só percebi que estava completamente catatônica quando senti o calor da mão de Daniel no meu ombro, fazendo uma leve pressão para que eu acordasse daquele transe. — Eles são seres humanos como você e eu. — Não, não são — respondi por entre os dentes. O vento e o barulho começaram a diminuir, então percebi que o motor do helicóptero havia sido desligado para que os músicos descessem. Permaneci petrificada quando o primeiro apareceu na porta lateral e desceu. Tinha o cabelo escuro e curto, era bem alto e estava vestido de preto dos pés à cabeça. — Vincent Cavallari. — Esbocei um sorriso vitorioso, feliz por tê-lo reconhecido. Me ignorando por completo, ele passou por mim. Ah, não! Deveria ter dito alguma coisa. Tudo bem. Cumprimentarei o próximo. Em seguida desceu Guto Bergman, um pouco mais cheinho que Vincent, alguns centímetros mais baixo, barba curta e cerrada, cabelo escuro e parcialmente coberto por um boné vermelho de aba reta que estava virado para trás. O cumprimente!, meu cérebro gritou quando ele passou por mim. Fale “olá” em algum idioma, mas diga alguma coisa! Diga! Diga! Diga! O último saiu do helicóptero vestindo uma calça bege e uma camiseta azul de gola V, tinha cabelo loiro mel e liso que caia um pouco abaixo da altura do queixo, barba rala, praticamente da mesma altura que o segundo, e visivelmente mais atlético que qualquer um dos outros. — Axel Hansson — sussurrei empolgada por ver que eles até que não eram de se jogar fora, e que eu tinha feito tempestade em copo d’água. Ao passar por mim, o loiro inclinou a cabeça para meu lado, só que, graças aos óculos escuros que ele usava, não consegui ter certeza se ele realmente havia me notado. Apenas quando os funcionários do Colline começaram a descarregar as malas, é que me dei conta que Daniel não estava mais ao meu lado. Ainda atordoada, e sem querer acreditar que tinha ficado ali parada feito uma estátua de mármore, sem dirigir uma palavra que fosse para os rapazes, girei nos calcanhares e forcei minhas pernas a me levarem de volta ao Hummer. Meu coração já não estava mais tão acelerado e eu começava a esboçar uma representação do que seria uma assistente calma e profissional. Daniel estava ao lado da porta de entrada dos passageiros e estendeu a mão para que eu conseguisse subir no carro sem parecer uma babaca nanica. Pude jurar que o último olhar que ele me lançou foi de tristeza enquanto deslizava a porta, como se ele estivesse com pena de me trancar com os tigres. No interior do carro, me sentei no espaço vago do banco mais ao sul, ao lado de Vincent. Apenas o frigobar separava nossas pernas. À minha frente estava Axel, e ao seu lado, Guto. Quando o carro começou a andar rumo ao hotel, os três me olharam, e dois deles começaram a conversar em sueco, então não pude entender nenhuma palavra do que falaram a meu respeito. — Não se esqueçam do trato — Axel Hansson falou usando um português com sotaque, mas claro e fluente. Sua voz era áspera, rude e, ao mesmo tempo, convidativa. Eles falam português?Uau! Os outros trocaram mais algumas palavras no seu idioma, e Guto Bergman foi o primeiro a falar comigo. — Então, você é filha do motorista — sua pronúncia, bem como a voz, era mais suave —, amiga do segurança, ou só está pegando uma carona? — Eles sempre fazem isso — Vincent Cavallari murmurou com uma voz grossa e o sotaque carregado. — Ah, não! — respondi rapidamente. As palavras enfim fluíam, ao me dar conta de que eles pensavam que eu estava ali de penetra. — Desculpa não ter me apresentado antes; me chamo Lucy e serei a assistente de vocês durante o tempo que ficarem aqui no Brasil. Os três começaram a me analisar. Axel tirou os óculos escuros, e pude notar que seus olhos eram azuis, num tom bem mais bonito que o da camisa que ele vestia. — Então você trabalhará para nós? — Vincent Cavallari perguntou. — Sim — respondi depressa. — E o que exatamente você vai fazer por nós durante esse tempo? — foi a vez de Guto Bergman me questionar. — Tudo que vocês precisarem — dei de ombros e respondi lentamente para que eles entendessem cada palavra do meu português —, desde pegar um café fresquinho até resolver detalhes de equipamento e estúdio. Qualquer coisa que desejarem é só falar comigo e tratarei com os responsáveis. Uma ligação, viagem, ensaio, cardápio desejado... — Que organizados vocês são! — Guto comentou. — É a primeira vez que te vejo dizer isso. — Vincent riu. — Se precisar de um carro, você conseguirá um para mim? — O mais rápido possível. — Minha voz saiu confiante, pois sabia que eles estavam gostando de mim, exceto por Axel que olhava desinteressadamente pela janela como se seus pensamentos fossem muito mais importantes que qualquer coisa dentro do carro. Logo, percebi que ele era o mais metido e vaidoso dos três, com o narizinho fino e empinado como se fosse alguém da realeza, e todos ali no carro, seus súditos, então ele não se daria ao trabalho de trocar algumas palavras com a gente. — Podemos ver seus olhos? — A voz grossa de Vincent me tirou daquela onda repentina de raiva. Me dei conta de que ainda estava usando os óculos escuros. — Ah, sim! É que meus olhos doem com a luz do sol — menti com naturalidade. Os retirei e enfiei-os dentro da bolsa que estava jogada no meu banco. Dentro dela, encontrei os rádios que deveria dar a eles. — Tem um rádio Nextel para cada um, assim vocês podem me chamar rapidamente quando eu não estiver por perto. Meu número está salvo na agenda. Estiquei o braço sobre o frigobar e entreguei um dos rádios para Vincent. Inclinei-me para frente, só então percebi que não poderia esticar meus curtos braços pelo longo espaço entre mim e os outros dois, pois não os alcançaria. Me imaginei tendo que rastejar até eles, de quatro, enquanto tentava não cair com os balanços do Hummer em movimento. — Jogue! — Guto disse como se pudesse ouvir meu sofrimento mental. Seu sorriso era amistoso, bonitinho e bem simpático. Já estava gostando dele, afinal. Joguei os rádios para os dois a minha frente e senti a deliciosa sensação de mais uma tarefa cumprida. Quando o carro parou na entrada principal do Colline e, um a um, eles foram saindo, percebi, que já estava exausta, e era só o começo. — É bom chegar antes para se adaptar ao lugar. — O som áspero da voz de Axel Hansson tomou conta do saguão do hotel, onde o check-in dos três precisava ser feito. Havia alguma coisa de errado com sua voz, não exatamente um erro, mas uma singularidade. Nunca tinha escutado um timbre de voz como o dele e sabia que, a partir do momento em que o ouvi falar pela primeira vez, reconheceria sua voz em qualquer lugar. O modo como ele pronunciava cada palavra em português fazia eu me sentir estranha de alguma maneira que não consegui entender de imediato. Mas eu estava muito empolgada por eles falarem português fluente, e o que sentia em relação à voz de Axel era um detalhe insignificante. Quis perguntar quando eles tinham aprendido meu idioma, mas resolvi aceitar aquilo e agradecer porque não precisaria me arriscar a passar vergonha com um inglês precário de quem nunca viajou ao exterior. ♫♫♫ O cansaço caiu sobre mim como se fosse um saco grande de areia. Às 23h estava jogada desconfortavelmente num sofá de couro claro, em um estúdio no décimo andar, montado exclusivamente para a banda, equipado com o que havia de mais moderno no mercado. Os rapazes trabalhavam na apresentação de uma festa que aconteceria dali a poucos dias, sentados em cadeiras giratórias com laptops da Apple sobre o colo. Eu não ouvia o que tocava nos seus headphones e estava cochilando como se fosse uma velhinha tentando assistir à novela das nove. Precisava muito dormir, além de ligar para minha mãe, mas sabia que não poderia sair dali antes do trio. Existia a possibilidade dos meus serviços serem necessários, e seria um estresse para todos, principalmente para mim, se eu não estivesse de prontidão. As horas que passei com eles tinham sido cansativas, mas nada de alarmante aconteceu. Os acomodei, um por vez, em suas suítes exageradamente luxuosas da cobertura. Guardei, como se fossem minha própria vida, as cópias dos cartões magnéticos que abriam as portas dos quartos e do estúdio deles, além das chaves da despensa, cozinha e bar. Depois que os três já tinham tomado banho e relaxado por algum tempo, jantamos no restaurante do Colline. Por sorte, tive tempo de tomar um banho rápido, arrumar o cabelo e vestir uma roupa limpa. Depois de perceber que o ar-condicionado era forte em todas as áreas do hotel, optei por uma legging de montaria preta e uma blusa bege, de mangas longas, com alguns botões dourados no decote. Deixei dois botões abertos, prendi o cabelo de lado, deixando as longas ondas castanhas sobre meu seio esquerdo, e calcei sapatos Oxford floridos. Imaginei que deveria sentar em uma mesinha pequena para comer rapidamente e os observar na espreita, enquanto o grupo fazia sua refeição, pronta para correr até eles ao menor sinal; ao invés disso, fui convidada para sentar à mesa com eles, me fartando da mesma comida servida àqueles homens milionários. Os três aparentavam ser unidos como irmãos, o que facilitou minha vida. Era reconfortante saber que tudo estava se encaminhando bem no primeiro dia. Apesar de eles não serem nada cavalheiros e falarem palavrões o tempo todo, eu ainda não tinha precisado comprar drogas nem tive que fazer um boquete em nenhum. Com a boca suja deles eu podia lidar facilmente. Nunca ouvi tantas vezes e em pouco tempo as palavras — se é que poderiam ser chamadas assim — “foder”, “buceta” e “caralho”. Era um tal de “vou comer a buceta deles”, “vamos fodê-los com força”, “vou foder o caralho na buceta daquele lugar”, “fodemos aquele lugar com penetração dupla” entre outras coisas que não fazia ideia do que poderiam significar. Até dei umas boas risadas quando, sentado ao meu lado, Vincent Cavallari se dirigiu a Guto Bergman a nossa frente: — Se você me passar o sal, juro que chupo sua buceta. Guto olhou pasmo e sério de Vincent para Axel, que estava comendo com seu maldito nariz empinado e era importante demais para rir de qualquer piada. — Eu nem sabia que tinha buceta! — Guto respondeu me fazendo gargalhar alto. Axel não disse nada, e nem mesmo olhou na minha direção, mas, pela maneira como seu maxilar trincou ao me ouvir rir, eu soube que ele odiava qualquer som que saía da minha boca. Me senti mal só de estar no mesmo ambiente que ele. Vincent riu ao meu lado fazendo com que eu me sentisse melhor. Tive vontade de dizer que ele era legal e que estava feliz por tê-lo conhecido. Pensei em dizer que já o considerava da minha família. Mas, como aquele ainda era o primeiro dia, resolvi ficar na minha. Agora eu precisaria esperar eles irem dormir, só então poderia descansar. Ainda teria que acordar para ficar a disposição deles na manhã seguinte. — Preciso de um piano! — Guto Bergman girou na cadeira, retirando os headphones e ficando de frente para mim. Dominada pelo sono, não sabia se devia ficar de pé e ir até ele ou simplesmente permanecer onde estava.— Um piano...? — Minha voz soou insegura. — Um só meu, bem ali naquele canto — ele informou apontando para o lado leste do estúdio. — E cuide para que ninguém além de mim toque nele. — Você precisa disso, tipo, agora? — Eu estava entrando em pânico. Onde arranjaria um piano no meio do nada quase à meia noite? — Hoje não! — Guto deu aquele sorriso simpático, me acalmando. — Só preciso que seja essa semana. — Vou dar um jeito nisso — respondi tendo em mente que teria que levantar no mínimo trinta minutos antes do planejado para tentar falar com Jack, aguentando seu mau humor e gritos, e descobrir se haveria um piano desocupado que pudesse ser de uso exclusivo de Guto. Caso contrário, precisaria comprar um, além de cuidar para que ele fosse transportado o mais rápido possível ao Colline. — Preciso de cervejas. — Vincent esticou os braços acima da cabeça se alongando. — Posso conseguir agora. — Pelo menos isso. — Perfeito. — Precisam de mais alguma coisa? — perguntei olhando para cada um deles e, instintivamente, fiquei com medo do que eles responderiam. — Cheetos — Guto pediu me fazendo sorrir. Um gordinho querendo se entupir de salgadinhos. Mas quem não ama salgadinhos? — E amendoins — Vincent disse voltando a colocar os fones. Levantei antes que Axel me pedisse para trazer carne de cordeiro ou caviar. Abri a porta e fui surpreendida por ele atrás de mim. — Vou ajudar — Axel falou com aquela voz errada ao me encarar. — Não precisa — eu disse tentando soar o mais determinada possível, mas ele já estava no corredor fechando a porta do estúdio. O fitei com o olhar furioso enquanto o observava enfiar a mão no bolso do jeans escuro e apanhar seu celular. — Não preciso de ajuda para pegar algumas cervejas — falei tentando disfarçar o ódio. — Não teime comigo — ele murmurou com rispidez. Me perguntei se seria capaz de quebrar aquele maldito nariz empinado com um soco bem dado, mas ele já estava distraído com o aparelho. Ergui a cabeça o mais dignamente possível e caminhei pisando forte rumo ao elevador mais próximo. — Essa é Freja Hansson, minha esposa. — Axel me alcançou, estendeu a tela do celular para mim e esperou que eu olhasse, mas o fato é que não tinha o menor interesse em saber nada sobre sua vida espetacular. — Hum... — murmurei ao olhar a mulher morena na tela. Ela até poderia ser bonita se não fosse os lábios artificiais e o excesso de maquiagem marcando as maçãs do rosto. — Ela parece ser uma pessoa incrível. Menti. Os dois certamente se mereciam. Ele deslizou o dedo pela tela e apareceu a foto de um garotinho de mais ou menos dois anos de idade. — Esse é Liam, nosso filho mais velho. O menino, também moreno, não era nada parecido com Axel. Ri por dentro ao imaginar ele criando o filho de outro homem enquanto estava certo de que era o pai. Corno egocêntrico. Mas tive que desmanchar a cara feia, simplesmente amava crianças. — Ele deve ser uma coisinha muito fofa! — minha voz saiu relaxada e ouvi o riso dele atrás de mim, mas não virei para olhá-lo enquanto chamava o elevador. Acima da porta de aço polido, observei os números dos andares aonde o elevador passava, e parecia estar parando em cada um deles. — E esse será Noah. — Axel conseguiu se enfiar entre a porta de acesso ao elevador e eu para exibir a foto de uma barriga de grávida. — Sua esposa está esperando bebê? — o interroguei surpresa. — Sim. De cinco meses — ele respondeu recolhendo o celular. Recuei um passo para conseguir um pouco de espaço. — Parabéns, você tem uma família maravilhosa. — Olhei os números só para constatar que o elevador não tinha chegado nem na metade do caminho até nós. — Eu sei — Axel falou todo orgulhoso. Me preparei para revirar os olhos, mas seu sorriso me fez parar. Foi a primeira vez que vi aquilo nele. Eu tinha uma obsessão louca por covinhas em bochechas, e lá estavam elas, uma em cada lado do seu rosto, bem fundas e meigas. Fiquei surpresa por não ter percebido antes. Acontece que, durante todo tempo que havia passado perto de Axel, eu estava irritada demais com seu jeito orgulhoso e não tinha o observado direito. — Você não se importa de deixar sua mulher grávida, sozinha na Suécia, por quase dois meses? Não fica com saudade do seu filho? Axel voltou a ficar sério e as covinhas desapareceram instantaneamente. — Me importo muito em perder parte da gestão e sinto saudade, tanto do meu filho quanto dela e do resto da minha família, mas preciso trabalhar — ele falou com sinceridade. Seu sotaque predominava a cada vez que ele pronunciava o “r”. — Por que não os trouxe com você? — Imagine a confusão que seria se todos nós trouxéssemos nossas famílias. Não consegui imaginar, mas ele era europeu, e essa gente deve saber separar muito bem trabalho e família, dando prioridade ao primeiro. — Posso imaginar — menti novamente. — Ela entende que tenho uma carreira e que preciso viajar com frequência. Até diz que o tempo que ficamos separados ajuda no casamento. Eu queria comentar algo sobre ser estranho uma mulher gostar de ficar tanto tempo afastada do marido, só que o elevador chegou, e nós entramos. Apertei o botão do restaurante e a porta se fechou. Todos os lados do elevador, incluindo a porta, eram revestidos com espelhos que me davam uma ampla visão de nós dois. Ostentação. Com uma breve espiada no meu reflexo à frente, vi que meu cabelo estava bagunçado. Então, puxei o elástico, o prendi entre os dentes e levantei os braços para enrolar o cabelo e fazer um coque no alto da cabeça. Nessa movimentação, a blusa que eu usava ergueu-se, deixando aparecer um pouco da minha barriga. Quando já estava passando o elástico em volta do coque é que prestei atenção no reflexo de Axel. Ele estava encostado no espelho mais distante de mim, com os lábios entreabertos e os olhos azuis grudados... na minha bunda! Perdi o fôlego. Tire seus olhos de mim agora mesmo! Senti a pele do rosto e da parte de trás do pescoço esquentarem, abaixei os braços e os cruzei. Então ele percebeu que eu o tinha flagrado e seu rosto assumiu uma cor vermelha muito preocupante. Tentando disfarçar, ele ergueu a mão e coçou os olhos, os piscando várias vezes e olhando para os tênis. Mas suas bochechas cheias de sardas ainda estavam coradas. Nunca tinha visto o homem ficar tão tímido assim. — O que estava olhando, Axel? — Não consegui evitar perguntar. Ele pareceu querer enfiar a cabeça em um buraco. Ficou muito sério, trincou o maxilar, cruzou os braços e voltou a me ignorar como tinha feito desde que chegou. — Tem algum problema comigo? — insisti. Nervosa, passei a língua pelas brakets do meu aparelho. Se Axel escutou, fingiu não ter ouvido. “Não se preocupe, não se preocupe, filho Veja, o céu tem um plano para você Não se preocupe, não se preocupe agora” Swedish House Mafia – Don’t You Worry Child (Feat. John Martin) ♫ Me recordo da sensação. Me lembro como se fosse hoje. Eu tinha deixado a neve na Suécia para um verão ensolarado no Brasil. Fui o último a descer do helicóptero. Meus olhos ardiam por baixo das lentes de contato, mas eu não queria substituí-las pelos óculos. Não gostava de ser visto com eles. Não usava óculos de grau em público desde que tinha começado a ser DJ. O sol estava se pondo quando coloquei o pé em terra firme, dei o primeiro passo para seguir meus colegas de banda, sem saber que aquele era o instante em que a confusão estaria começando. Como sempre, havia uma equipe nos esperando alguns metros adiante. Pisquei os olhos para me livrar do incômodo, usando óculos escuros por cima. Então eu a vi. Estava do lado do motorista. Ao longe, parecia uma garotinha de doze anos. Só quando me aproximei é que pude perceber que ela não era tão nova assim. Notei as pernas grossas e os peitos, que estavam apertados um contra o outro dentro do sutiã, uma blusa muito frágil mal os cobria. Detectando gostosa. Recue soldado. Alerta de peitos. Recue soldado. Isso! Olhe para o outro lado. Não! Bunda gostosa não! Não olhe para a bunda! Mantenha a cabeça erguida, soldado. Era uma brincadeiraidiota, mas eu sempre repetia isso em pensamentos quando via uma mulher gostosa. Estava com minha esposa desde os dezenove anos e era fiel a ela, mas não era cego. Sabia que admirar uma garota bonita por míseros segundos não ia fazer de mim um cretino. Tinha consciência de que minha esposa também devia olhar para outros homens daquele jeito. Era um instinto natural do ser humano. Entrei no carro e me acomodei enquanto Guto e Vincent interrogavam aquela menina pequena sentada no banco à minha frente. Disse que se chamava Lucy e era muito sexy. Mas não foi por causa das coxas torneadas exibidas por uma saia minúscula, muito menos pela calcinha que aparecia porque ela não parava quieta no banco. Apenas de onde eu estava dava para ver o pedaço da lingerie branca, e ela enfiava a mão entre as pernas para tentar se cobrir, o que piorava ainda mais as coisas. Só que também não foi por causa dos peitos de tamanho médio formando uma fenda muito provocante nem pela renda do sutiã aparecendo no decote da blusa pequena. Não foi pelo umbigo que ela exibiu quando ergueu a blusa tentando cobrir os peitos. Tudo isso fez meu pau ficar duro e latejar, mas não teria sido um grande problema. Eu viajava muito e estava acostumado a ver mulheres seminuas em festas o tempo todo. Foi mais pelo jeito como ela ficou corada quando se deu conta de que não poderia cobrir os peitos e umbigo ao mesmo tempo com aquela blusa pequena. Foi ainda mais pelo sorriso que ela deu quando Guto perguntou se ela era filha do motorista. Seus lábios se abriram e eu vi o aparelho ortodôntico. De um jeito discreto e meigo, Lucy passou a ponta da língua pela parte da frente do aparelho branco, quase invisível de longe. Foi isso! Uma garota linda como aquela de aparelho. Eu tinha usado por alguns anos na adolescência, e não foi uma experiência que deixou boas lembranças. Ainda mais com os óculos. Ver essa garota, que contava que seria nossa assistente enquanto estivéssemos no Brasil, fez um milhão de emoções voltarem. Quando ela tirou os óculos escuros e eu pude ver seus olhos grandes e esverdeados, eu já estava com raiva dela por ter me feito sentir essas coisas em menos de vinte minutos de convivência. Havia uma palavra em inglês que a descreveria muito bem: Gorgeous. Com G maiúsculo porque ela merecia. Com medo das emoções que Lucy me causava, fechei a cara quando ela me olhou com aquele sorriso meigo. Fiquei encarando a janela ao meu lado até chegar ao Colline Hotel. Previ que poderia ter problemas com aquela garota grudada no grupo o tempo todo. Havia muitas coisas nela que me atraíam, e seria muito foda tentar ignorar. Por essa razão, quando ela abriu a porta da minha suíte e entrou para me mostrar os detalhes do quarto, eu já estava arrependido de ter aceitado participar dessa reunião e pensava seriamente em voltar para casa, abraçar minha esposa e dizer o quanto a amava. Mas Lucy continuava falando. Se ela fizesse ideia das coisas que se passavam na minha cabeça naquele momento, no que eu pensava enquanto estava hipnotizado com aquela boca pequena e os lábios carnudos se movendo sem parar, ela sairia correndo da suíte. Garotas como ela não se interessavam por caras como eu. Ela era meiga, inteligente, sexy, sabia conversar e tinha um corpo incrível. Imaginei que Lucy não era do tipo de mulher que só ficava com um cara por ele ser famoso. Que ela não se deslumbrava com essas coisas fúteis. E se tirasse o meu dinheiro e a minha fama como DJ, o que sobraria? Só o rapaz tímido que eu costumava ser até os dezoito anos. O tipo de rapaz que nunca se aproximaria de uma garota perfeita como ela, pois tinha consciência de que levaria o fora do século, e não precisava dessa humilhação. Então, trinquei o maxilar e fechei a cara enquanto ela desfilava as curvas pela suíte, abrindo portas e cortinas, acendendo e apagando luzes, explicando coisas que eu não era capaz de prestar atenção. Quando ela se virou e me olhou bem séria com os olhos arregalados, minha cabeça estava latejando, meus olhos queimavam por baixo das lentes, meu corpo ardia, e não era só por causa do calor. Comecei a fantasiar aquela boca sexy de aparelho me chupando. Isso nunca tinha acontecido, nem mesmo tinha beijado uma garota de aparelho. Conheci minha esposa um pouco antes de começar a ter meu trabalho reconhecido. Foi Guto que me apresentou a Freja. Ela tinha vinte e três anos na época, e eu dezenove. Não tinha ficado com muitas garotas até então, estava começando a perder a timidez, e a ideia de namorar uma mulher mais velha era bem erótico para mim. Nos casamos dois anos depois. Nunca pensei que fosse sentir por outra pessoa o que sentia por ela. — Os outros marcaram de jantar às 20h. Precisa de mais alguma coisa? — Ela perguntou e passou a ponta da língua pelo aparelho outra vez. Desesperado com aquela cena, desviei os olhos do seu rosto, vi que seus peitos subiam e desciam bem rápido com a respiração acelerada. Meus batimentos cardíacos aceleraram e engoli a saliva ao encarar sua barriga aparecendo por causa da blusa curta. Quando dei por mim, estava andando na sua direção, querendo agarrá-la, beijá-la. Éramos só nós dois ali, e eu não dava uma boa trepada há semanas, para ser bem sincero, não conseguia me lembrar da última vez em que tinha transado, por causa da gravidez difícil e dos enjoos. Lucy era como um prato de comida e eu um mendigo morto de fome. Não sei como fui capaz de passar por ela sem cometer a maior burrada da minha vida, mas consegui. Talvez pela ideia de Lucy me denunciar por assédio, e eu arrumar confusão logo no primeiro dia, ou pelo medo de ela não me querer. Será que ela tinha namorado? Eu queria perguntar, mas não fazia diferença para mim. Eu era casado e não tinha motivos para fazer uma pergunta tão pessoal como aquela. Seria outro motivo para ela me denunciar por assédio. — Não preciso de nada — resmunguei com raiva ao fechar a porta do banheiro. Quando a ouvi deixar a suíte, entrei embaixo do chuveiro e esmurrei a parede para eliminar a vontade de bater uma fantasiando aquela boca sexy me chupando. Mas esmurrar a parede não fez a temperatura do meu corpo baixar. A cabeça de cima doía e a de baixo latejava de tanta vontade, enquanto eu tentava me lembrar do homem descente e respeitador que sempre fui, e que aquela situação toda era ridícula e inaceitável — eu tinha acabado de conhecer Lucy. Não fazia o menor sentido estar assim. O homem de família dentro de mim encontrou uma justificativa para aquilo: as alterações nos meus níveis de testosterona e o pico da minha libido era só efeito do calor e do fuso horário. Enquanto me vestia, torci para que a situação estivesse controlada na hora do jantar. Permaneci com as lentes de contato. Não ia substituí-las pelos óculos em público, mesmo que elas não parassem de incomodar. ♫♫♫ Guto e eu fomos os primeiros a chegar ao restaurante do Colline. Quando Vincent apareceu, começamos a conversar sobre o que iríamos tocar na primeira apresentação que o Swedish Legends faria no Brasil. Tentei com toda a minha força de vontade focar o pensamento nisso. —... Outro efeito e aí os fogos de artifício. Vão simplesmente morrer — Vin dizia. — Vamos foder aquele lugar com penetração dupla! — Que versão de “Where’s the party” você acha que deveríamos tocar? — Guto me perguntou, mas a verdade é que eu não tinha nenhum plano ainda, nenhuma ideia. Estava trocando mensagens de texto com Freja, perguntando como estavam nossos filhos, mantendo o controle dos meus pensamentos. — Podemos misturar algumas... — respondi vagamente. — Vamos dar conta dessa festa sem muito estresse — Guto respondeu com tranquilidade, o que era estranho para o padrão Guto Bergman. — Só vamos mandar ver — Vin disse enquanto passava os olhos pelo cardápio. — Bebemos uns drinks, fazemos nosso som, nada demais. Aí poderemos focar no que viemos fazer aqui. — Ótimo — comentei enfiando o celular no bolso da calça. Meus olhos dispararam para a entrada do restaurante antes que eu conseguisse raciocinar. Não sabia se Lucyjantaria com a gente ou se os assistentes não se misturavam com os artistas na hora das refeições. Ainda tinha a possibilidade de ela sair para jantar na cidade com o suposto namorado, afinal era domingo à noite. Trinquei o maxilar com a ideia, mas fiz um esforço para manter os pensamentos em ordem e continuar a conversa. — Vamos nos divertir enquanto estivermos no Brasil. É disso que se trata. Vin e Guto continuavam dando ideias para o show da banda, quando ela surgiu, atravessando o restaurante com pressa, parando sem fôlego ao lado da nossa mesa. Senti uma agitação no peito ao perceber que o suposto namorado não era tão importante assim, afinal, ela o tinha deixado em plena noite de domingo para jantar com a gente. Sorri ao imaginar a cara que ele devia ter feito quando Lucy o dispensou com a desculpa de que ia passar a noite com três DJ’S. Tinha quase certeza de que ele não gostava de música eletrônica nem festas agitadas. Devia ser o tipo que trabalhava de terno e gravata o dia todo em um escritório — advogado, contador, ou alguma outra profissão bem inteligente. Sem dúvidas, seu suposto namorado era inteligente. Talvez um professor. E quando ele ia buscá-la em casa ou na faculdade, ela abria esse sorriso que estava dando agora. E ele era muito sortudo por namorá-la. Se eu tivesse oportunidade, diria para ele cuidar muito bem dela. Também daria um soco bem no meio da sua cara, só de raiva, por saber que eu nunca poderia estar no lugar dele. Suas bochechas estavam coradas quando ela deslizou a língua pelo aparelho, me fazendo fechar a cara. Pelo menos estava de calça comprida e blusa de mangas longas, e eu não ia ter que ficar evitando olhar suas curvas. Deus estava sendo misericordioso comigo, depois de ter jogado uma de suas obras de arte na minha vida sem nenhum aviso prévio. Cobri minha cara com o cardápio, o usando como escudo, enquanto ela esticava os braços na minha direção. Ergui a cabeça devagar, com medo do que ia sentir quando nossos olhos se encontrassem. Seus olhos verdes estavam arregalados, mas ela carregava aquela segurança de quem um dia seria alguém muito importante. Me fazia lembrar uma garota por quem fui apaixonado quando estava no colegial. Ela nunca tinha me dado bola, nem mesmo quando comecei a fazer sucesso nas festas onde tocava. A minha existência não fazia a menor diferença para ela. Não a culpo. Que garota como ela ia se interessar pelo nerd tímido e esquisito, de óculos e aparelho, com um probleminha de dicção? Era tão constrangedor relembrar isso tudo que fazia meu peito doer. De repente, eu senti vergonha até de falar na presença de Lucy. Não queria que ela percebesse a dificuldade que eu tinha de pronunciar algumas palavras. — Boa noite — ela disse me olhando com um sorriso que exibia o aparelho. Perdido nas lembranças de uma adolescência difícil, demorei um segundo para entender que ela iria me abraçar. Aquilo de abraçar o tempo todo era muito comum no Brasil, assim como em outros países latinos e, ainda que eu fosse do Sul da Suécia, onde as pessoas são muito discretas, já estava acostumado com aquele calor humano e energia positiva que as pessoas latinas gostavam de transmitir através de um abraço. Mesmo assim, abraçar Lucy era outra coisa. — Boa noite — respondi de má vontade, mas continuei sentado e, quando ela se curvou e passou os braços em volta dos meus ombros, prendi a respiração para não sentir seu perfume, pois seria uma coisa a mais para ter que lidar, e eu não precisava da lembrança do seu cheiro para me provocar. Enquanto Lucy apertava os lábios contra minha bochecha, apoiei a mão que não estava segurando o cardápio em sua cintura o mais breve possível; pelo menos ela não sentiria o gelo que eu estava tentando dar. Depois de me cumprimentar, Lucy foi até Guto que estava ao meu lado. Ele ficou de pé e aceitou o abraço dela, envolvendo o corpo pequeno com seus braços cheios de tatuagens. Guto a beijou no rosto e disse que ela deveria sentar com a gente. Perfeito! Eu ia ficar mudo durante todo o jantar, como se não bastasse os olhos ardendo. Dando a volta na mesa, Lucy chegou até Vin, sentado de frente para mim, que também ficou de pé para lhe dar boa noite, fazendo com que eu me sentisse um completo idiota por ter permanecido sentado enquanto ela vinha toda educada falar comigo. Seu merda! Rapidamente consegui me arrepender de não ter aproveitado aquele abraço para descobrir que cheiro ela tinha. Como Vin era o mais alto de nós, Lucy precisou ficar na ponta dos pés para alcançá-lo. Percebi que não deveria ter contado vitória antes do tempo. Por mais que suas pernas estivessem cobertas, a calça que ela vestia parecia ainda mais provocante que a minissaia de antes; o tecido estava todo agarrado à sua pele, revelando com precisão o contorno do seu corpo perfeito. Aquilo só me deixou com vontade de ver o que se escondia por baixo da roupa. No movimento de encontrar o pescoço de Vin, ela empinou ainda mais sua bunda na minha direção e, neste momento, não consegui desviar os olhos, porque não havia nada de melhor para se olhar em todo o restaurante. Foi difícil assistir meu amigo agarrando sua cintura estreita e a erguendo do chão. Vin apertou Lucy tão forte que os ossos dela se estalaram e, por um momento que me pareceu interminável, desejei ser ele só para poder sentir seu corpo encostado no meu corpo. Mas Vincent tinha terminado o noivado com Hanna e estava solteiro, podia abraçar assim quem quisesse. Merda! Merda! Merda! Acabei ficando com o pau duro na mesa de jantar, como se fosse um garoto na puberdade que não era capaz de ficar perto de uma mulher gostosa sem querer se trancar em algum lugar para se masturbar. — O que tem de errado com você, Ax? — Guto quis saber ao perceber a cara que eu fazia. Obriguei meus olhos a focarem em outra coisa que não fosse o corpo perfeito de Lucy. — É só... — uma ereção. Tive que mentir. — Minha cabeça dói. — Por que não descansou no seu quarto? — Vin perguntou depois de ter soltado o que minha mente já queria chamar de minha Lucy. — Estava ocupado. — Com o que? — Guto insistia. — Trabalhando numa coisa para o DJ Set — menti novamente. — Quer um remédio? — Lucy perguntou com a voz melódica. — Não! — respondi prontamente. Na verdade, eu precisava mesmo de um remédio que só ela era capaz de me dar, mas não podia dizer isso para minha assistente, muito menos na frente dos dois. Incapaz de me dominar, comecei a pensar em desculpas inocentes para me encontrar a sós com ela. Seria fácil demais ficar sozinho com Lucy, então poderia cheirá-la, tocá-la e, se ela topasse, acabaria com aquele drama hoje mesmo. Uma única vez e ponto final. Mas não era isso que eu queria de verdade. Não podia ser. Com o pior mau humor de todos, percebi o que estava arquitetando. Não faria aquilo com Freja. Não queria para ela o que não queria para mim; ainda mais no primeiro dia. Fechei a cara e tentei ignorar tudo naquele restaurante. Eu disse tentei. Enquanto comiam, meus amigos falavam tanta babaquice que eu realmente estava começando a ficar com dor de cabeça. Quase ri ao pensar que estaria participando da conversa idiota se Lucy não estivesse ali. Não queria que ela percebesse meu problema de dicção, então fiquei calado. Por falar em Lucy, em algum momento do jantar, dentro da minha bolha de isolamento anti-Lucy, comecei a fantasiar que ela poderia ser lésbica. O restaurante estava com pouca movimentação, pois a maioria dos músicos ainda não havia chegado ao Brasil. O fato é que Caleb Hayden, que se encontrava a poucas mesas de nós, estava sendo paparicado por mais de uma dúzia de mulheres eufóricas, mas Lucy parecia não o notar. E era Caleb Hayden! Não pense que eu estava achando Caleb Hayden bonito. Não! Para mim não existe isso de homem bonito. Como uma criatura que tem barba e pênis pode ser chamada de bonito? Não mesmo! Enfim, nós homens às vezes conseguimos perceber quando outro cara chama atenção do sexo oposto, e Caleb Hayden sem dúvidas era um desses; mas talvez fosse só por causa da fama e do dinheiro...Apesar disso, Lucy estava concentrada na nossa mesa e provavelmente não tinha visto que ele estava ali. Ou talvez esse negócio de pênis não fosse a praia dela, ou ela não ligava para a fama, ou não gostava do Caleb Hayden, ou era completamente distraída a ponto de não ter notado aquele alvoroço no restaurante. Tinha a possibilidade de ela ser muito fiel ao suposto namorado, mesmo o tendo dispensado no domingo à noite. E na melhor/pior de todas as hipóteses, Lucy estava a fim de mim. Haaa! ♫♫♫ A segui para o elevador quando meus amigos exigiram que ela trouxesse cervejas e aperitivos. Considerava aquela a melhor chance de descobrir se ela era comprometida. Precisava muito saber a resposta ou enlouqueceria. Já tinha imaginado Lucy ficando com 80% dos meus colegas de profissão que estariam hospedados no Colline, incluindo Vincent, e a sensação não era nada boa. Por isso, eu queria muito que o suposto namorado existisse, assim eu não precisaria lidar com a dor de ver nenhum colega meu beijando aquela garota maravilhosa. Sim, eu sabia que ia doer se isso acontecesse. Comecei apresentando fotos da minha família para Lucy, assim ela não veria como assédio se eu perguntasse se ela era solteira. Mas ela não me deu muita atenção. Na verdade, seu humor longe de Vincent e Guto mudou drasticamente. E foram meus olhos que arruinaram o plano. Olhos com vida e vontade própria. Quando o elevador se fechou, com todas as paredes revestidas de espelhos, minha visão foi atraída pela bunda de Lucy. Eu queria ser respeitoso, não a comer com os olhos, não queria de modo algum ser o homem que se acha no direito de olhar para uma bunda daquele jeito. Mas meus olhos não conseguiram desviar a tempo, e Lucy me flagrou. Senti a pele da face esquentar. Se eu perguntasse se ela tinha namorado depois disso, seria processo na certa. — O que está olhando, Axel? — ela perguntou com raiva. Por sorte, a porta do elevador se abriu no sexto andar. Um casal entrou de mãos dadas. — Lucy — o rapaz, que não deveria ter mais que 21 anos, cumprimentou minha assistente. — Oi, Dennis — ela respondeu com um leve aceno de cabeça. Senti o cheiro de álcool invadir o elevador e observei a moça loira que o acompanhava. Os dois aparentavam estar bêbados. Passaram para os fundos do elevador, ao meu lado, e começaram a se pegar sem o menor pudor. Dei alguns passos à frente e parei ao lado de Lucy. Ela estava respirando pela boca enquanto, pelo espelho, eu podia ver o rapaz erguendo a saia da loira que parecia uma modelo. A mulher gemeu. Lucy arfou. Seus olhos estavam arregalados, seu peito subia e descia enquanto ela tentava manter a atenção em suas mãos. O casal começou a transar atrás de nós. Pornô gratuito. Eu teria lidado bem com a situação se não fosse pela garota ao meu lado. Porque eu queria fazer aquilo com ela: sexo naquele elevador, sem vergonha, sem planos, sem rotina, só desejo animal. Vi ela erguer as mãos para apertão um botão do elevador. Meu corpo inteiro queimava enquanto o rapaz entrava e saía da garota atrás de nós. Segurei a mão de Lucy antes que ela apertasse o botão e entrelacei nossos dedos. Naquele instante, esqueci do homem de família e do medo de ser denunciado por assédio. Esfreguei meus dedos nos seus. Sua mão era tão macia, quente e pequena. Tínhamos só alguns segundos até o elevador chegar ao térreo. Virei o rosto na sua direção e ela fez o mesmo, enquanto meus dedos acariciavam a palma da sua mão. Então Lucy me lançou o olhar mais sexy que eu já tinha visto, com um brilho carregado de desejo. Meu corpo incendiou e o pau ficou duro quando ela mordeu o lábio inferior. Era a ninfeta mais tentadora do universo. Nós dois queríamos aquilo. Levei sua mão até a altura do meu rosto e mordi a pele que cobria os nós dos seus dedos. Virei o corpo na sua direção, sem um pingo de juízo, pronto para matar meu desejo de agarrá-la, quando a maldita porta do elevador se abriu. Ela puxou a mão da minha e saiu. Levei um segundo para piscar os olhos e me dar conta do que quase tinha feito. Deixei o casal promiscuo para trás e dei alguns passos largos até alcançá-la, estudando seu rosto com receio. — Não acredito no que acabei de ver — Lucy comentou enquanto caminhava, por sorte, não parecia chateada comigo, só constrangida. — Como eles não ficaram com vergonha de nós? Não pensei no meu descontrole emocional e no quanto corria o risco de errar ao tentar pronunciar algumas palavras, só respondi. — Todo mundo faz sexo, Lucy. Por que ter vergonha? Ela me lançou um breve olhar, mas não retrucou. A cozinha do hotel estava escura e não tinha luzes com sensores de movimento. Lucy entrou primeiro no ambiente escuro. Tateei a mão pela parede à procura do interruptor, quando senti o toque macio e quente nas costas da minha mão. Lucy se afastou bem rápido. — Onde acende a porcaria da luz? — ela reclamou. Demorei, mas consegui trazer a claridade ao cômodo. Ela parecia nervosa e irritada enquanto abria as portas dos armários e enchia uma sacola com salgadinhos. Pelo menos não reclamou por eu ter segurado sua mão. Será que tinha gostado? Foi engraçado quando peguei os engradados de cerveja e os carreguei na direção da saída. Ela começou a me pedir para deixá-la levar as bebidas, que aquele era seu trabalho. Será que ela pensava que, só porque eu era famoso, não faria uma coisa básica como não deixar uma garota carregar peso? — Sou perfeitamente capaz de fazer isso — ela resmungou tentando me alcançar. — Mas sou incapaz de deixar uma garota fazer o trabalho pesado — respondi. — Você é Axel Hansson, eu sou a assistente, pelo amor de Deus! Respirei fundo. Enquanto apagava a luz da cozinha com o cotovelo. Não queria começar um discurso sobre ser um cara normal, que a única coisa que me diferenciava da maioria dos outros homens era que minha profissão me fazia ser reconhecido no mundo todo. Longe dos palcos, eu era um ser humano qualquer, um pouco tímido e quieto, mas normal. ♫♫♫ — Ax, o que acha de levá-la para a cama? — a voz de Vincent tirou minha concentração na música, e eu tinha demorado muito para conseguir manter o foco. — Levá-la aonde? — Tirei meus fones de ouvido, mas permaneci com o laptop no colo. Vin estava sugerindo que eu levasse nossa assistente para a cama? Assim, numa boa? Assim, logo de cara? Não haveria problema? — Ela está toda torta aí nesse sofá. — Ele havia afastado os fones de ouvido e me encarava. — Sei lá, só pensei que ela merecia descansar. Parece estar tão cansada e fica falando umas coisas estranhas... — Tudo bem — tentei demonstrar pouco interesse. — O número do quarto está na chave magnética — Vin disse mostrando o cartão que abria a porta do quarto de Lucy. Me levantei da cadeira, deixei o computador em cima da bancada e fui até o sofá. Vin estava passando os braços por baixo do seu corpo. Seus olhos grandes e castanho-esverdeados estavam escondidos atrás das pálpebras que se agitavam, Lucy deveria estar sonhando. O decote da blusa revelava uma boa parte dos seus peitos. Como se quisesse protestar por estarmos mexendo nela, Lucy balbuciou palavras indecifráveis no sono pesado. Algumas mechas de cabelo escuro e longo cobriam parte de seu rosto, suas bochechas estavam bem vermelhas, pensei que ela poderia estar no meio de um sonho erótico onde eu realizava sua fantasia de transar do elevador. Devanear era de graça, de qualquer forma. Vincent colocou Lucy no colo, e a tiramos dali. Quando chegamos à sua porta, passei o cartão magnético e tive a ideia de ficar com ele para mim. Seria bom ter acesso total aquele quarto. Mas logo desisti desse pensamento psicopata. Vin a colocou na cama enquanto eu dava uma boa olhada no quarto. Parecia com os quartos de hotéis onde ficávamos hospedados no começo da nossa carreira. Tudo era simples: uma cama pequena — bem, não era pequena para Lucy, mas seria pequena para nós dois, já que eu tinha me acostumado a dormir em camas grandes, e o que você, Ax, tem a ver com o tamanho do colchão dela? — uma janela estreita com cortinas de uma cor deprimente,criados-mudos, espelho, uma cômoda, uma mesinha, um par de cadeiras, além da mala de Lucy jogada num canto do chão, provavelmente cheia de calcinhas tentadoras. O que mais chamou minha atenção foi a pilha de livros colocada sobre a mesinha. Havia mais de uma dúzia e meia de livros. Me aproximei devagar e passei os dedos pelas lombadas. Livros de fantasia, suspense, aventura em geral. Não vi nenhuma autoajuda. Nada contra esse último gênero, mas era bom saber que ela gostava de ler as mesmas coisas que eu. Abri um sorriso ao perceber que aquela garota sexy possuía pouquinho de nerdice, mesmo que só alguns traços. Segurei o livro de cima da pilha, feliz por termos algo em comum, assim eu teria assunto para uma conversa produtiva com Lucy. Distraído, levei um susto quando vi o que meu amigo fazia. — Que porra você está fazendo? — perguntei já me preparando para dar um soco nele se fosse preciso. Vin, inclinado sobre Lucy, tinha erguido um pouco sua blusa e estava tentando tirar sua calça. — É... — Vin, gaguejando, ergueu as palmas das mãos para dizer que não estava fazendo nada de errado. — Isso... essa... Só parece muito desconfortável e apertado... — Você ia tirar a calça dela? — minha voz ecoou perturbada pelo quarto. Mesmo com meus gritos, Lucy não se moveu. — Só queria deixá-la confortável... — E ainda acha isso natural? Tirar a roupa de alguém que você mal conhece enquanto ela dorme. Lucy não é uma criança que você tem que cuidar. — Está com ciúmes? — Vin me acusou ao ficar de pé. — Meu Deus, Vincent, você acha que a garota é um parque de diversões onde as lendas têm passe livre? — Quer saber, ela é toda sua. Faça o que bem entender com ela. — Abriu a porta do quarto. — Eu só estava tentando ajudar. Saiu. Levei alguns minutos para conseguir retomar a calma. Não era ciúme, como ele tinha me acusado, era bom senso de saber que ninguém pode tirar a calça de uma garota sem sua permissão, ainda mais enquanto ela está inconsciente. Ainda com o livro de Lucy em mãos, minha mente se iluminou com mais uma das minhas ideias de como descobrir se ela era comprometida. Era um plano com várias tendências ao fracasso, mas pelo menos eu conseguiria passar um tempo descente com ela. Na manhã seguinte, pediria a Lucy para me levar em uma livraria. Se ela gostasse mesmo de ler como eu imaginava, íamos ter muito assunto, nem iria estranhar quando eu perguntasse, no meio da conversa, se ela tinha namorado. Fiquei por alguns minutos a observando dormir, tomado pelo apavorante e real pensamento de que coisas ruins aconteciam a pessoas que não podiam se defender. Quando notei que era muita estupidez ficar ali parado, fui até ela, tentei arrumar seus cabelos e tirei seus sapatos com cuidado para não acordá-la. Lucy parecia exausta. Me perguntei se ela tinha sofrido de insônia por causa da ansiedade do primeiro dia de trabalho conosco. Se eu não saísse logo daquele quarto, acabaria me deitando ao seu lado, e eu sabia que já estava invadindo toda sua privacidade ficando ali, parado, a observando dormir, como se fosse um maldito psicopata esperando para atacar. Fui até a janela e puxei as cortinas pesadas, voltei à cama, liguei o ar condicionado e cobri Lucy com o edredom; desesperado para sair dali e, ao mesmo tempo, implorando para ficar, deixei o quarto sem roubar a chave “Pensando sobre esta noite, o que eu vou fazer Mas eu simplesmente não consigo me concentrar Porque eu estou pensando em você” Axwell /\ Ingrosso -Thinking In About You ♫ — Lucy? Despertei num sobressalto ao ouvir uma voz chamar meu nome. Olhei em volta, perdida no escuro e pisquei os olhos até me dar conta de que estava em um quarto do Colline hotel. — Lucy? — a voz me chamou novamente. Era masculina e áspera. Agarrei o rádio Nextel quando percebi que um deles estava me chamando. Será que eu tinha perdido a hora? O nome Axel Hansson estava na tela do rádio. O relógio marcava 8h37. — Bom dia, Axel! — respondi tentando não demonstrar a voz de sono. — Acordei você? — ele quis saber. Sua voz era tão... sexy, que acabei recordando o que tinha acontecido na noite anterior, quando ele segurou minha mão no elevador enquanto Dennis — um dos veteranos do curso de produção de eventos da minha faculdade — fazia aquela cena exibicionista com outra assistente atrás de nós. — Te acordei? — perguntou novamente quando não respondi. — Não! Eu já estou de pé — menti. — Ótimo. Preciso que vá comigo à cidade. Pode conseguir um carro? — Claro! — Te espero na minha suíte às nove. Tudo bem? — Sim — menti outra vez. Eu tinha menos de meia hora para organizar a ida de uma celebridade à Teresópolis, sendo que eu ainda estava na cama. — Posso saber o que vai fazer? Só para poder me organizar melhor. — Nada demais — Axel disse. — Quero que me leve a uma livraria. Franzi o cenho com sua resposta. — Te beijo daqui a pouco, Lucy. — O que? — Te vejo daqui a pouco, Lucy. Fiquei feito uma pateta olhando para o teto no quarto escuro. Ele tinha errado a palavra ou eu é quem tinha me enganado? Ou Axel fez de propósito? Não havia motivos para isso. Era só o sono da manhã me fazendo ouvir coisas. A propósito, como eu tinha vindo parar naquele quarto? Um dia de trabalho e já estava ficando louca. Pulei da cama e corri para o banho, arrancando as roupas no caminho. Escovei os dentes embaixo do chuveiro e liguei para o motorista de plantão enquanto me vestia. Esse se chamava Roberto. Pedi que ele ficasse de prontidão às nove em ponto. Usando o primeiro short e blusinha que eu tinha encontrado na mala, calçando um par de tênis, com o estômago vazio e a mente confusa, corri para pegar o elevador. Ao parar na porta da suíte de Axel Hansson, olhei no rádio e vi que estava cinco minutos atrasada. — Maldição! — praguejei terminando de fazer a trança que eu tinha começado no elevador e o chamei no rádio. — Estou na sua porta. Em poucos segundos ele abriu. Falava ao telefone em sueco e gesticulou para que eu entrasse. Lambi meu aparelho enquanto o seguia até o centro da sala. Sua suíte parecia um apartamento de luxo, com vidraças separando a sala do quarto, lustres pendendo do teto, abajures elegantes, detalhes dourados e mais vidraças que davam acesso à sacada, onde uma mesa de café da manhã estava preparada e intocada. Seu cheiro me envolveu. Me peguei pensando: se ele se perfumava assim só para ir a uma livraria de manhã, imagino como ficava cheiroso para ir a um encontro. Mas Axel não tinha encontros, ele era casado. Então imaginei como ele se perfumava para sua esposa. Ele continuava falando ao telefone, olhando para a sacada despreocupadamente e sorrindo, como se eu não estivesse plantada no meio da sala. Aproveitei sua distração para observá-lo sem que ele notasse. Era mais alto que eu cerca de 25 centímetros, o cabelo liso ainda estava úmido e jogado para trás, tinha feito a barba. A camiseta branca não era justa do tipo “meninas, olhem para mim, agora estou indo à academia”, só era do tamanho certo. A forma de suas costas largas aparecia no tecido, mas não pude confirmar nada a respeito do seu abdômen, apenas que ele não tinha nenhuma barriguinha de chope. Correndo os olhos para abaixo de sua cintura, fiquei de queixo caído. Que bunda gostosa era aquela? Nunca fui muito de reparar no traseiro dos homens, mas ali estava algo que valia a pena comentar. A calça escura emoldurava a bunda deliciosa e as coxas grossas. Ele não era como esses homens que se matam para criar músculos nos braços e esquecem da parte de baixo, ficando com pernas tão finas que mais parecem palitos de dente. Axel provavelmente nasceu com a puta de uma sorte. Tinha a estrutura óssea perfeita, muita carne e músculos para cobrir os ossos. Na certa, ele nem perdia horas e horas na academia, pois era gostoso por natureza. Muito gostoso. Senti inveja de sua esposa, ela podia beliscar, apertar e morder aquela bunda, e eu não podia fazer nada daquilo, a não ser olhar e engolir em seco. Pensei que tinha acabado de descobrir o motivo de ele ser tão metido a ponto de me fazerir ao seu quarto para ficar o assistindo falar ao telefone: sua beleza. Além do corpo, ele ainda tinha olhos azuis e covinhas. Como o maldito pode ter covinhas e eu não? Voltei a ficar com raiva dele, o que me agradou muito. Meu estômago reclamou enquanto eu obrigava meus olhos a se desgrudarem da sua bunda e focarem nas torradas e as frutas sobre a mesa. Uma xícara de café cairia muito bem, obrigada. Cruzei os braços e comecei a bater o pé no chão, inquieta, pensando que poderia ter comido pelo menos um pãozinho. — Já tomou café da manhã? — Axel perguntou ao desligar o celular e enfiá-lo no bolso da calça. — Já, obrigada. — Dei um sorriso amarelo, desviando o olhar das frutas. — Tem certeza? Pensei ter ouvido seu estômago roncar. Arregalei os olhos enquanto lambia o aparelho dentário. Que vergonha! — Não precisa... Não se incomode. Não quero atrapalhar. Posso esperar no corredor ou na recepção — falei o mais rápido que consegui. — Tem comida suficiente para nós dois aqui. Não é incômodo. Eu insisto. Tinha algo na sua voz que me fazia querer ouvi-lo por horas. Talvez fosse um tipo estranho de magnetismo. E pelo jeito que ele falou, sorri esquecendo da raiva e o acompanhei até a sacada. Enquanto me sentava na cadeira oposta à sua, não fiquei pensando em como ele era rico e importante, pelo contrário, de algum modo, consegui me sentir à vontade na sua presença. Só me concentrei em saciar a fome. — Te carregamos para seu quarto quando você adormeceu no sofá do estúdio — Axel disse quando encheu uma xícara de café para mim. — Vin e eu. Pensei em acusá-lo de invasão de privacidade, mas um “obrigada” foi tudo que consegui dizer. Os imaginei no meu quarto minúsculo e bagunçado. Era constrangedor. — Vi que você gosta de ler — ele continuou. — Amo ler — falei passando patê de peru em uma torrada. — Por isso te pedi para me levar a uma livraria. Quero que me ajude a escolher bons livros nacionais. Ler é uma das melhores formas de se adaptar a uma língua. — Livraria era o último lugar do mundo onde eu imaginava que você fosse querer ir numa segunda de manhã — comentei antes de dar a primeira mordida. — Não tenho cara de quem gosta de ler? Fiz que não com a cabeça enquanto mastigava. — Gosto muito. Já li alguns dos livros que vi no seu quarto. Pensei naquilo por alguns segundos. Um homem bonito, com uma bunda muito sexy, com esse sotaque, covinhas, o cabelo incrível e ainda gostava de ler... Sua esposa tinha muita sorte mesmo! Qual era a probabilidade de eu encontrar alguém assim? Então lembrei que Axel era metido e esnobe e me conformei. Provavelmente, só estava me contando aquilo para se exibir, tentar me impressionar ou algo do tipo. Respirei fundo. Odiava gente que se sentia superior aos outros. Se era essa sua intenção, não tinha dado certo. Aquela suíte chique de hotel, a mesa farta de café da manhã e todos os livros que ele podia comprar não significavam nada se ele tinha um rei na barriga. Ergui a cabeça pensando em dizer umas boas verdades a Axel. Acho que ele percebeu minha mudança de humor, porque ficou em silêncio enquanto acabava o café e durante a viagem. — Conhece uma livraria mais reservada? — ele quis saber quando entramos na cidade. Fiz que sim com a cabeça e instruí o motorista a nos levar. No estacionamento, ele colocou um boné de aba reta e óculos escuros. Quando entramos na livraria, o levei direto para a seção de clássicos da literatura nacional. O ambiente estava vazio, exceto por um funcionário que organizava uma prateleira e não reparou em nós. O apresentei livros que já tinha lido no colegial, alguns ele conhecia pelos títulos em inglês. Separamos alguns e acabamos indo parar na seção de fantasia. Tínhamos mesmo gostos em comum. Apreciávamos livros que narravam sobre mundos distintos, seres mágicos, aventuras. Livros com mais de 600 páginas. Axel conseguiu encontrar algumas séries que eu não tinha lido ainda e se ofereceu para comprá-los para mim. Recusei a princípio. Eu era muito orgulhosa, mas acabei cedendo, afinal eram livros, a coisa que eu mais gostava de comprar na vida. — Seu namorado também lê fantasia? — ele perguntou enquanto folheava um livro aleatório. Dei meu sorriso amarelo e puxei um volume grosso da prateleira. — Não tenho namorado. Senti seus olhos me investigando por um momento. Isso me deixou envergonhada, mas tentei disfarçar. Virei o rosto na sua direção. Axel havia tirado os óculos e me encarava com curiosidade. — E sua esposa? — perguntei baixinho. Meu coração estava começando a bater mais forte, mas não havia nenhuma explicação para isso. — Não, ela não gosta de ler — ele disse ao devolver o livro para a prateleira. — Tem espaços para leitura e café no andar de cima — comentei de repente e sem pensar muito. — Quer ficar um pouco lá? Ele esfregou o polegar no lábio inferior, sem se dar conta de que estava fazendo isso, e balançou a cabeça positivamente. Pegamos nossas pilhas de livros e seguimos até a escada. Fui na sua frente, ciente de que meu short era curto e que Axel podia estar olhando minhas pernas enquanto subíamos. De algum modo, isso não me incomodou. Meu corpo estava quente quando chegamos a sala de leitura. Me senti tentada a levá-lo até a mesa mais distante, mas acabei indo para a mais próxima das escadas, onde colocamos os livros e nos sentamos em poltronas lado a lado. Peguei um exemplar e comecei a folheá-lo na esperança de relaxar por alguns minutos. Mas tinha algo que não permitia que eu me concentrasse no prólogo. Meu coração batia muito forte, minha pele estava sensível à brisa que soprava por duas janelas abertas. Foi um choque quando Axel segurou minha mão de repente. Perdi o fôlego. Minha mão esquerda estava apoiada na minha coxa quando ele a pegou. Olhei para baixo, puxando o ar pela boca, e observei seu polegar esfregando minha pele, a fazendo arder. Levei alguns segundos para decidir reagir. Puxei a mão com descrição e segurei o livro tentando disfarçar, então ele afastou a sua da minha perna. Mordi o lábio com força, ainda com a respiração pesada e o coração batendo rápido. Porque Axel tinha feito aquilo? Eu tinha perguntado sobre sua esposa há poucos minutos, não fazia sentido. Acabei lembrando do jeito como ele tinha segurado minha mão no elevador e mordido os nós dos meus dedos. O que esses gestos significavam? O que ele queria com aquilo? O observei pelo canto do olho. Era só um costume da Suécia segurar a mão das pessoas ou...? Meu coração começou a me trair. Virei o rosto devagar e o vi com os olhos no livro aberto sobre a mesa. Ele estava inclinado naquela direção, parecia concentrado, com a mão direita agora sobre o braço da poltrona. A aba do boné fazia sombra no seu rosto. Mesmo assim, dava para ver as sardas e os pequenos sinais em seu maxilar. Parecia um menino tímido perdido em um mundo de fantasia. Era muito fácil esquecer o resto o olhando assim. Meu coração quase explodiu quando estiquei a mão e segurei a sua. Me senti ousada e sexy ao fazer isso. Meu corpo ficou mais quente. Desisti de ler. Axel virou a palma para cima e eu comecei a traçar suas linhas com a ponta do meu dedo indicador. A pele era áspera e minha mão pequena se perdia dentro da sua. Passei a língua nos lábios tomada por uma atração física muito forte. Tentei manter a respiração regular, mas estava difícil. Então ele começou a acariciar as veias do meu pulso, deixando seu dedo escorregar para cima. Era só um gesto simples, um carinho inocente, mas me fazia imaginar e sentir um monte de coisas nada inocentes. Seu dedo continuou subindo, e eu escorreguei na poltrona até apoiar a nuca no encosto macio. Quando ele atingiu meu ombro, partes bem distintas do meu corpo começaram a palpitar. Apertei as coxas ao senti-lo tocar meu pescoço e escorregar pelo meu decote. Arfei quando o dedo passou sobre meu seio, por cima da blusa. Lambi os lábios desejando com todas as forças que Axel não parasse. — Tem alguém vindo? — perguntou com um sussurro, passando o dedo por baixo da blusa, em volta do meu umbigo. Sua vozme fez incendiar. — Não — respondi ao olhar para a escada. O senti se aproximar, o rosto se inclinando na minha direção. A ponta do seu nariz encostou no meu pescoço. Estremeci e arfei enquanto ele percorria do meu maxilar até a clavícula. Não era mais só um dedo. Sua mão estava entrando no cos do meu short. Não havia nenhuma parte de mim que queria que Axel parasse. — O que está fazendo? — perguntei baixinho. Axel se afastou e nos encaramos. — Estou cheirando você, Lucy. Ouvi-lo pronunciar meu nome me fez perder o resto da razão, se é que ainda havia alguma. — E o que achou do meu cheiro? — Amazing. — Sua resposta em inglês foi fatal. Perdi a consciência e me virei na sua direção. O interior das minhas coxas formigava, minha calcinha estava molhada e quando me movi, senti uma sensação de prazer e pecado. Coloquei a mão livre no seu ombro e senti seu cheiro delicioso, mordi seu lóbulo e gemi baixinho. — Eu quero… — comecei a dizer, mas fui interrompida por uma voz que chamava meu nome no Nextel. Era Ariele, uma amiga que estava estagiando como assistente do Caleb Hayden. Pisquei os olhos e me afastei de Axel. O que diabos tinha acontecido entre nós? — Fala. — Atendi o rádio. — Bom dia para você também! — Ariele disse com sarcasmos. — Está ocupada? — Bom dia. Estou na cidade com Axel Hansson. Precisa de alguma coisa? — falei tentando parecer o mais profissional possível. — Só liguei para saber se tinha alguma novidade. A gente conversa depois. Beijo. — Beijo — respondi ficando de pé e enfiando o rádio no bolso logo em seguida. Me virei para Axel. — Não sei o que falaram para você sobre as assistentes, mas não sou essa garota que você está imaginando. Queria me comprar com livros? Procura outra. Só quero cumprir meu papel de assistente. Por favor, não misture as coisas. Sem esperar sua resposta, segui para as escadas e saí da livraria, o deixando para trás. Entrei no carro e bati a porta com força. — Merda! — praguejei sem me importar com as perguntas do motorista sobre onde estava o DJ. O pior não era ele ter dado em cima de mim e tentado me impressionar com todo aquele papo de leitor. Não! O pior era saber que eu estava caindo no seu jogo, que estava gostando e querendo mais. Precisava me concentrar nos meus deveres, manter o foco, lembrar de quem eu era e a carreira que queria seguir. Não podia ficar deslumbrada, tinha que manter meus pés no chão. Alguns minutos depois de ter deixado a livraria, Axel abriu a porta do carro e, com a ajuda de um funcionário, colocou pilhas de livros no banco ao meu lado. Deu uma nota de cinquenta reais para o rapaz e entrou no carro. Passando os olhos pelas capas, vi os que ele tinha escolhido para me dar. — Já falei que não vou aceitar esses livros — murmurei. — Não são para você — ele respondeu com a voz tão áspera e indiferente que eu quase voei no seu pescoço e o estrangulei. Como alguém podia ser tão metido? Estava tão furiosa que minhas mãos tremiam. A ideia de que ele ia fazer o mesmo jogo com outra garota me deixava louca. Pensei em matá-lo, mas me controlei e consegui ignorá-lo durante a viagem de volta para o Colline Hotel. ♫♫♫ No restaurante do hotel, na hora do almoço, os três se reuniram para comer e conversar. Sentei junto com eles e fiquei feliz por Vincent Cavallari e Guto Bergman me tratarem muito bem e me deixarem participar da conversa, enquanto Axel Metido Hansson fazia uma chamada de vídeo com a digníssima esposa. Mas na hora da sobremesa, os dois começaram a mexer nos celulares. Sentia uma coisa ruim no estômago ao ver os olhos de Axel grudados na tela do iPhone, mas não conseguia desviar a atenção da cena. Ele a olhava como se ela fosse a única mulher no mundo, e me irritava saber que ele tinha feito toda aquela palhaçada de manhã e que agora não dava a mínima para mim. Me irritava mais ainda perceber o quando eu estava o deixando me afetar. — Já está apaixonada? — O sussurro de Ariele contra meu ouvido me fez saltar na cadeira. — O que? — perguntei mais alto do que pretendia. Agachada ao meu lado, ela o indicou com o queixo. — Você está olhando para Axel Hansson como uma boba apaixonada — cochichou para que só eu ouvisse. — Começou a usar drogas? — perguntei com ironia. — Você só pode estar drogada para falar uma merda dessas. — Não se faça de besta! Não culpo você, ele tem cara de quem tem um beijo muito gostoso — ela sussurrou com malícia. Dei um tapa nada delicado no seu ombro. — Ai! — ela gritou, o que fez com que os três nos olhassem. — Essa é Ariele, assistente de Caleb Hayden — a apresentei depressa para os rapazes da banda. — Ela é uma grande fã de vocês. A indiscreta da minha melhor amiga os cumprimentou, um a um, com um abraço e um beijo no rosto, antes de dizer que precisava ir. Por sorte, não tinha dado nenhuma demonstração de tietagem, o que era contra as regras dos assistentes. — Não sei se você pesquisou no Google sobre eles — ela sussurrou no meu ouvido ao se despedir de mim —, mas, caso não tenha feito, saiba que Axel é casado. Tem até filho. — Vou matar você! — gritei descontrolada com as idiotices dela. — Juro que vou! — Tem alface grudado no seu aparelho — ela ainda teve o atrevimento de dizer em alto e bom som antes de se afastar. Quase a chamei de vaca, mas estava ocupada passando a língua nos dentes e abrindo a câmera frontal do celular, só para constatar que ela tinha blefado. Vincent estava rindo. — Vocês devem ser muito amigas para serem tão gentis uma com a outra — ele brincou. — Você nem faz ideia — respondi. Me policiei para não deixar Axel entrar no meu campo de visão novamente. ♫♫♫ Já conseguiu o piano que te pedi? — Guto Bergman perguntou ao se virar para mim na sua cadeira giratória do estúdio gelado. — Ainda não — respondi no susto. Durante o dia, fiquei tão distraída odiando Axel que tinha esquecido de fazer isso. — Mas já estou providenciando. Era mentira. Urgh! Ele concordou com a cabeça e me pediu para buscar bebidas e petiscos. O loiro egocêntrico do Swedish Legends me seguiu até o elevador. Por sorte, havia duas garotas lá dentro. Ambas eram ruivas, uma de cabelo vermelho e a outra acobreado. As cumprimentei e tentei ficar o mais distante de Axel possível. Ele usava jeans escuro e uma camiseta preta. Meus olhos foram atraídos para sua bunda, mas consegui me controlar. Sorri vitoriosa. No segundo andar, as garotas saíram do elevador, nos deixando a sós. — Menti sobre os livros — ele disse assim que as portas se fecharam. — Não quero saber — murmurei de cara amarrada. — Eles são para você — Axel continuou como se eu não tivesse dito nada. — Não quero livro nenhum. — Sei que quer. Não tive a intenção de te ofender e jamais tentaria impressionar uma garota com livros. — Eu. Não. Quero. Saber! — Pronunciei cada palavra devagar para que ele entendesse. Chegamos ao andar onde estava localizada a cozinha e seguimos para a despensa. Quando entramos, tratei de encher uma grande sacola com salgadinhos e outros petiscos o mais rápido que consegui. — Não pensei nada de ruim sobre você, Lucy — ele falou para chamar minha atenção. — Tudo que penso sobre você é que é linda e muito inteligente. Pisquei os olhos, sem encará-lo, e mordi o lábio inferior. — Não pensou que eu fosse uma dessas mulheres oportunistas? — perguntei ciente de que ele não ia me deixar em paz se eu não fingisse que estava acreditando nas suas palavras. — Tudo que eu pensei quando te vi foi: essa é o tipo de garota que nunca ficaria com alguém como eu. Ele disse de um jeito tímido e fofo. Se estava sendo falso, era um ótimo ator. — Por que você é casado — eu disse largando a sacola de petiscos sobre a bancada de mármore. — Não é por isso. — Axel sorriu e olhou para o chão. Suas bochechas ficaram rosadas. Eu precisava admitir que seu sorriso tímido era um charme. — E pelo que, então? — eu quis saber. — Deixa para lá. Aquilo derrubou minha guarda, se é que ainda existia alguma. A curiosidade falou mais alto. — Eu quero saber — falei segurando sua mão num ato impensado. Era a terceira
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