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01 Segredos da Fama @BIBLIOTECAVIRTUALBR Sil Zafia

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Copyright © 2019 by Sil Zafia
Publicado independente por Sil Zafia
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de qualquer processo
eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa
da autora.
Diagramado e editado por Silmara Záfia.
Revisado por Sophia Castro.
Capa por Silmara Záfia.
Ilustrações por Haila Sant.
Primeiro volume da série Nos Bastidores
O livro foi publicado, inicialmente, como fanfic na plataforma Wattpad, pelo
user Silmara Zafia.
A autora tem os direitos legais registrados e assegurados pela Biblioteca
Nacional.
Silmara Záfia,
Resende - RJ – Tel: (24) 98127-7404, Email: silzafia@icloud.com, que se
reserva a propriedade de todos os direitos desta edição.
Conheça outros livros da autora Na Amazon.
Para Gerciane Martins, Bruna Brito, Alessandra Souza, Jussara Silva,
Valquíria Gonçalves e Iasmin Freitas, por cada palavra dita.
Completamente sozinha eu assisto você observá-la
Como se ela fosse a única garota que você já viu
Você não se importa, você nunca se importou
Você não dá a mínima para mim
Sim, sozinha eu vejo você observá-la
Ela é a única coisa que você já viu
Como é que você nunca nota?
Que você está me matando lentamente
Eu te odeio, eu te amo
Odeio te amar
Não quero, mas não posso
colocar mais ninguém acima de você
Eu te odeio, eu te amo
Eu odeio querer você
Você quer ela, você precisa dela
E eu nunca vou ser ela
♫ ♫ ♫
Gnash – I Hate You I Love You – Participação Olivia O’Brien
Nota da autora
Querido leitor,
Um dia, quando estiver mais velho, você vai olhar para trás e se lembrar
de todas as coisas que já fez.
Um dia, todos nós deixaremos essa vida para trás.
Leia todas as páginas desse livro, acompanhe essa estória até o final, mas
não se esqueça de levar a vida que você vai querer lembrar. Viva noites e dias
que nunca irão se apagar nas suas melhores recordações. Mas se algo
acontecer, e você não puder continuar, lembre-se de mim, de como eu espero
que tenha uma vida maravilhosa.
Não deixe para fazer as coisas quando não puder mais fazê-las.
Um dia, tudo que amamos simplesmente se vai. Até você. Até eu.
PRÓLOGO
Era dia 24 de dezembro, mas meu novo chefe parecia não se importar
com datas especiais. O verão mal havia começado e eu já sentia que iria ser o
melhor de toda a minha existência.
Pela primeira vez, o Brasil seria sede de um dos melhores festivais de
música eletrônica do planeta, o Tomorrow is Mystery. Cinco dias de festa.
Seis semanas de reunião entre os DJ’S.
Para que tudo ocorresse tranquilamente, os organizadores fizeram uma
seleção entre os estudantes universitários de Produção e Eventos de duas
faculdades de Teresópolis — onde o Tomorrow is Mystery Brasil
aconteceria. Os candidatos aprovados estagiariam como assistentes dos DJ’S
convidados.
Juntos, todos ficariam hospedados por seis semanas em um resort
chamado Colline Hotel.
Era uma oportunidade única e, com muita sorte, consegui uma dessas
vagas de assistente. Tinha terminado o segundo semestre da faculdade. Uma
das minhas melhores amigas, Ariele, também tinha sido selecionada. Um
casal de namorados que estava no segundo ano do curso, uma garota exótica
que eu não sabia o nome, três alunos do terceiro ano que andavam sempre em
bando — Murilo, Amanda e Denis —, além de, Dine, uma garota do último
ano que estava se recuperando de uma cirurgia para retirada de um câncer.
A simples menção a essa palavra me causava um nó na garganta. Só que
não era hora para ficar deprimida. Eu passaria seis semanas trabalhando com
os melhores DJ’S do mundo.
Os demais assistentes eram alunos da outra faculdade e eu não os
conhecia.
Meu coração batia rápido enquanto Jack, o responsável pelos assistentes,
anunciava quem trabalharia com quem.
Para o meu pânico total, fui escolhida para ser assistente não só de um,
mas um grupo chamado Swedish Legends, formado por três DJ’S.
Todos no auditório se viraram para mim. Arregalei os olhos e engoli a
saliva com dificuldade.
Não podia ser verdade. Eu só estava no primeiro ano do curso e o
Swedish Legends era composto por nada mais nada menos que os primeiros
DJ’S a fazerem sucesso nos quatro cantos do planeta. Além disso, Axel
Hansson, Vincent Cavallari e Guto Bergman eram os produtores mais
respeitados daquele meio. Vários dos DJ’s mais novos tinham se inspirado
neles.
Eu só tinha cursado dois semestres e não estava preparada.
— São três... três... DJ’S — balbuciei baixinho enquanto os demais
assistentes e Jack me olhavam.
— Como disse? — ele quase berrou, fazendo com que eu me encolhesse.
— Posso trocar? — perguntei com minha melhor e mais clichê cara de
cachorro que caiu do caminhão de mudança.
Imaginei que Jack fosse me queimar viva com seu olhar imponente,
enquanto seu rosto ficava muito vermelho. Minha nuca foi esquentando e os
lábios ficaram frios. Comecei a escorregar na cadeira, fantasiando poder fugir
dali rastejando.
De repente, ele continuou anunciando os outros nomes, como se meu
vexame não tivesse acontecido. Me virei e vi o casal de namorados do
segundo ano. O rapaz se chamava Jensen. Eu sabia que ele estava na sua
segunda graduação e parecia extremamente adulto e responsável. Sem
dúvidas, o mais indicado entre os universitários presentes naquele auditório
para trabalhar com músicos tão importantes.
Vi também Denis, do terceiro ano. Ele tinha um ótimo porte físico e suas
feições bonitas passavam confiança. Poderia muito bem trocar de lugar
comigo.
Fechei a cara. Não era lá muito justo.
Pensei em desabafar com mamãe e tentarmos encontrar juntas uma
solução para aquilo, mas ela ainda estava furiosa comigo por eu ter trocado
Medicina para trabalhar com festivais de música eletrônica. Ela era pediatra e
tinha planejado meu futuro. Ficou maluca quando resolvi não seguir seus
planos.
Aos poucos, as pessoas se distraíram novamente, exceto por Ariele que
não parava de me beliscar. Era uma dessas tietes do Swedish Legends. Talvez
eu conseguisse fazer uma pequena troca.
Respirei fundo algumas vezes, tentando me manter centrada. Mas o fato
é que, o verão que eu planejava ser o melhor da minha vida, talvez se
transformasse em um inferno.
“Se eu dissesse que isso só iria doer
Se eu te avisasse que o fogo iria queimar
Você andaria nele?”
Martin Garrix – In The Name Of Love (Feat. Beba Rexha)
♫
— Não tem mesmo como fazer aquela troca? — perguntei para Jack. Era
a última tentativa de me livrar do Swedish Legends. Mordisquei o lábio
inferior ao me dar conta de que tinha feito aquele pedido em voz alta. Jack
era um dos organizadores do primeiro Tomorrow is Mystery Brasil.
Obviamente ele não tinha tempo nem saco para ouvir minhas tietagens.
— Se não quiser o estágio, suma da minha frente agora! — ele berrou da
sua mesa.
— Eu quero. É claro que quero. Tudo bem — respondi e murchei os
ombros, tentando imediatamente desfazer um vinco de preocupação na testa.
— Agora vá, garota — ele esbravejou fazendo sinal para a porta do seu
escritório. — E lembre-se: aqueles três são seus donos agora. Faça tudo que
eles quiserem sem reclamar. Faça um boquete nos três ao mesmo tempo se
esse for o desejo deles. Sua obrigação é deixá-los satisfeitos; não quero ser
incomodado com qualquer chilique de celebridade.
Arregalei os olhos, perplexa com suas palavras, mas tentei engolir as
reações.
— Tudo bem. Obrigada pela oportunidade — agradeci antes de sair para
encontrar o grupo do qual seria “babá”, por seis semanas inteiras, antes de o
Tomorrow is Mystery Brasil começar.
Segui às pressas para a saída do Colline Hotel, que estaria fechado para
vários músicos e seus respectivos funcionários, e eles aproveitariam seis
semanas para produzir músicas que iriam estourar no próximo verão europeu,
além de buscarem novas parcerias e tudo mais. Um resort com uma
propriedade gigantesca, reservado exclusivamente para eles.
Aquele estágio deveria ser minha porta de entrada para o ramo de
produção de festivais de música eletrônica, e eu havia batalhado muito para
chegar até ali, nãopoderia desapontar ninguém.
Me colocaram dentro de um luxuoso Hummer de cor preta. A porta foi
fechada fazendo um barulho oco. Engoli em seco tentando memorizar tudo
que sabia sobre Swedish Legends. Tremi por dentro. Não sabia quase nada.
— Vincent é o mais alto, Axel é o loiro, e o que sobrar é o Guto —
murmurei. — Não posso cometer a gafe de trocar os nomes. Simplesmente
não posso fazer isso.
O motorista ligou o Hummer e partiu em alta velocidade para o heliporto
do resort, a cinco quilômetros e meio da recepção do hotel. Fomos seguidos
por outro utilitário, também preto, que levava funcionários uniformizados
para carregarem a bagagem do grupo, além de um segurança.
O carro seguia as curvas sinuosas da propriedade do Colline, por entre as
montanhas de Teresópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro. A cada metro
percorrido, meu coração ameaçava parar. Mesmo que não tivesse sido
sorteada para ser assistente de Nils Edberg, um dos DJ’S mais jovens e
badalados a participar do Tomorrow is Mystery Brasil, ainda estaria entre
todas as celebridades que faziam as melhores festas de House Music do
hemisfério norte, isso não tinha preço. Era com aquilo que eu queria trabalhar
para o resto da vida.
Fui jogada para a frente quando o automóvel fez uma curva brusca e
parou. Olhei pela janela de vidro fumê e constatei que tínhamos chegado ao
heliponto.
— Antes cedo do que atrasados — sussurrei enquanto tentava sem muito
sucesso manter a calma.
Aproveitei para verificar tudo que havia dentro do carro. O Hummer era
um daqueles automóveis especiais para transportar bandas, uma espécie de
limusine, com uma porta de correr na lateral oeste, um banco na parte sul,
outro ao norte, e mais outro ao leste do veículo; um vidro preto que separava
a cabine do motorista e um frigobar entre um dos bancos, além de toda a
sorte de aparelhos eletrônicos para distrair os passageiros em viagens longas.
O motorista, vestindo um terno preto, abriu a porta e me estendeu a mão para
que eu saísse. Me apoiei nele e pulei para fora do veículo.
Arrumei a saia jeans no lugar, puxei a barra da blusa branca até estar com
a barriga completamente coberta, coloquei os óculos escuros e passei a ponta
da língua pelas brakets do meu aparelho odontológico. O sol estava quase se
pondo atrás das montanhas, deixando um rastro cor de rosa no céu.
— Celular pessoal — continuei falando sozinha —, confere. Nextel
confere.
Engoli em seco.
— Fique calma — o motorista disse. Pude ver em seu crachá que ele se
chamava Daniel. — Você é meiga, eles vão gostar de você.
— Impossível! — Minha voz soou desesperada. — Olha só meu
tamanho! Ninguém dá muita credibilidade a garotas baixinhas.
O fato é que meu 1,53m de altura não me ajudava em muita coisa.
— Se você chegou até aqui é porque mereceu.
Daniel era um homem moreno, de meia idade, quase careca, uns trinta
centímetros mais alto que eu, e só o fato de ele não ter olhado para minha
bunda devia significar que era um ótimo marido.
Meu celular vibrou no bolso traseiro da saia. O peguei e vi o sms da
minha mãe desejando um bom início de trabalho, que aquele era apenas um
pequeno passo de uma longa jornada, e blá blá blá. Corri os dedos pela tela
digitando rapidamente uma resposta.
“Obrigada, mãe! Estou nervosa e acabo de ver o helicóptero deles se
aproximando; ligo quando for possível. Te amo.”
Ao ver o pontinho preto no céu vindo em nossa direção, enquanto
ganhava forma e tamanho, minha ansiedade adquiriu novas proporções,
chegando a me corroer por dentro. Por mais que seguir uma banda durante
suas “férias” no vale do sol parecesse tarefa simples, não era. Atender
determinadas exigências de artistas mimados, arrogantes e egocêntricos
poderia trazer algumas dores de cabeça. Por esse motivo, mesmo sabendo que
os três estavam comprometidos, já tinha para onde ligar caso eles pedissem
prostitutas — ou prostitutos, nunca se sabe o gosto de cada um — e também
tinha conseguido contatos que conheciam alguém que vendia drogas; só não
sabia se ia dar conta de fazer, como disse o Jack, “um boquete nos três ao
mesmo tempo”.
— Controle a ansiedade! — O grito de Daniel sobressaiu ao barulho das
hélices do helicóptero que se aproximava cada vez mais. — Seu nervosismo
está passando para mim.
Em questão de instantes eles pousariam.
Nunca vi um helicóptero tão de perto!
O ruído frenético das hélices parecia estar sincronizado com as batidas
do meu coração. Em menos de um minuto, minha vida estaria entregue nas
mãos do trio por seis semanas.
Nunca cheguei perto de homens que valem milhões de dólares!
O helicóptero fez uma curva e pairou acima das nossas cabeças.
Eles são três e eu sou apenas uma!
A aeronave começou a descer lentamente em linha reta.
Nunca conversei com suecos!
A menos de cinco metros do solo, o vento proporcionado pelas hélices
era feroz e jogava areia contra minha pele que ardia.
Deus, quem é quem mesmo? Quais são os nomes? Quem sou eu?
O helicóptero pousou.
Deveria ter desistido quando tive oportunidade.
Só percebi que estava completamente catatônica quando senti o calor da
mão de Daniel no meu ombro, fazendo uma leve pressão para que eu
acordasse daquele transe.
— Eles são seres humanos como você e eu.
— Não, não são — respondi por entre os dentes.
O vento e o barulho começaram a diminuir, então percebi que o motor do
helicóptero havia sido desligado para que os músicos descessem. Permaneci
petrificada quando o primeiro apareceu na porta lateral e desceu.
Tinha o cabelo escuro e curto, era bem alto e estava vestido de preto dos
pés à cabeça.
— Vincent Cavallari. — Esbocei um sorriso vitorioso, feliz por tê-lo
reconhecido.
Me ignorando por completo, ele passou por mim. Ah, não! Deveria ter
dito alguma coisa. Tudo bem. Cumprimentarei o próximo.
Em seguida desceu Guto Bergman, um pouco mais cheinho que Vincent,
alguns centímetros mais baixo, barba curta e cerrada, cabelo escuro e
parcialmente coberto por um boné vermelho de aba reta que estava virado
para trás.
O cumprimente!, meu cérebro gritou quando ele passou por mim. Fale
“olá” em algum idioma, mas diga alguma coisa! Diga! Diga! Diga!
O último saiu do helicóptero vestindo uma calça bege e uma camiseta
azul de gola V, tinha cabelo loiro mel e liso que caia um pouco abaixo da
altura do queixo, barba rala, praticamente da mesma altura que o segundo, e
visivelmente mais atlético que qualquer um dos outros.
— Axel Hansson — sussurrei empolgada por ver que eles até que não
eram de se jogar fora, e que eu tinha feito tempestade em copo d’água. Ao
passar por mim, o loiro inclinou a cabeça para meu lado, só que, graças aos
óculos escuros que ele usava, não consegui ter certeza se ele realmente havia
me notado.
Apenas quando os funcionários do Colline começaram a descarregar as
malas, é que me dei conta que Daniel não estava mais ao meu lado. Ainda
atordoada, e sem querer acreditar que tinha ficado ali parada feito uma
estátua de mármore, sem dirigir uma palavra que fosse para os rapazes, girei
nos calcanhares e forcei minhas pernas a me levarem de volta ao Hummer.
Meu coração já não estava mais tão acelerado e eu começava a esboçar uma
representação do que seria uma assistente calma e profissional.
Daniel estava ao lado da porta de entrada dos passageiros e estendeu a
mão para que eu conseguisse subir no carro sem parecer uma babaca nanica.
Pude jurar que o último olhar que ele me lançou foi de tristeza enquanto
deslizava a porta, como se ele estivesse com pena de me trancar com os
tigres.
No interior do carro, me sentei no espaço vago do banco mais ao sul, ao
lado de Vincent. Apenas o frigobar separava nossas pernas. À minha frente
estava Axel, e ao seu lado, Guto.
Quando o carro começou a andar rumo ao hotel, os três me olharam, e
dois deles começaram a conversar em sueco, então não pude entender
nenhuma palavra do que falaram a meu respeito.
— Não se esqueçam do trato — Axel Hansson falou usando um
português com sotaque, mas claro e fluente. Sua voz era áspera, rude e, ao
mesmo tempo, convidativa.
Eles falam português?Uau!
Os outros trocaram mais algumas palavras no seu idioma, e Guto
Bergman foi o primeiro a falar comigo.
— Então, você é filha do motorista — sua pronúncia, bem como a voz,
era mais suave —, amiga do segurança, ou só está pegando uma carona?
— Eles sempre fazem isso — Vincent Cavallari murmurou com uma voz
grossa e o sotaque carregado.
— Ah, não! — respondi rapidamente. As palavras enfim fluíam, ao me
dar conta de que eles pensavam que eu estava ali de penetra. — Desculpa não
ter me apresentado antes; me chamo Lucy e serei a assistente de vocês
durante o tempo que ficarem aqui no Brasil.
Os três começaram a me analisar. Axel tirou os óculos escuros, e pude
notar que seus olhos eram azuis, num tom bem mais bonito que o da camisa
que ele vestia.
— Então você trabalhará para nós? — Vincent Cavallari perguntou.
— Sim — respondi depressa.
— E o que exatamente você vai fazer por nós durante esse tempo? — foi
a vez de Guto Bergman me questionar.
— Tudo que vocês precisarem — dei de ombros e respondi lentamente
para que eles entendessem cada palavra do meu português —, desde pegar
um café fresquinho até resolver detalhes de equipamento e estúdio. Qualquer
coisa que desejarem é só falar comigo e tratarei com os responsáveis. Uma
ligação, viagem, ensaio, cardápio desejado...
— Que organizados vocês são! — Guto comentou.
— É a primeira vez que te vejo dizer isso. — Vincent riu. — Se precisar
de um carro, você conseguirá um para mim?
— O mais rápido possível. — Minha voz saiu confiante, pois sabia que
eles estavam gostando de mim, exceto por Axel que olhava
desinteressadamente pela janela como se seus pensamentos fossem muito
mais importantes que qualquer coisa dentro do carro. Logo, percebi que ele
era o mais metido e vaidoso dos três, com o narizinho fino e empinado como
se fosse alguém da realeza, e todos ali no carro, seus súditos, então ele não se
daria ao trabalho de trocar algumas palavras com a gente.
— Podemos ver seus olhos? — A voz grossa de Vincent me tirou
daquela onda repentina de raiva.
Me dei conta de que ainda estava usando os óculos escuros.
— Ah, sim! É que meus olhos doem com a luz do sol — menti com
naturalidade.
Os retirei e enfiei-os dentro da bolsa que estava jogada no meu banco.
Dentro dela, encontrei os rádios que deveria dar a eles.
— Tem um rádio Nextel para cada um, assim vocês podem me chamar
rapidamente quando eu não estiver por perto. Meu número está salvo na
agenda.
Estiquei o braço sobre o frigobar e entreguei um dos rádios para Vincent.
Inclinei-me para frente, só então percebi que não poderia esticar meus curtos
braços pelo longo espaço entre mim e os outros dois, pois não os alcançaria.
Me imaginei tendo que rastejar até eles, de quatro, enquanto tentava não cair
com os balanços do Hummer em movimento.
— Jogue! — Guto disse como se pudesse ouvir meu sofrimento mental.
Seu sorriso era amistoso, bonitinho e bem simpático. Já estava gostando
dele, afinal. Joguei os rádios para os dois a minha frente e senti a deliciosa
sensação de mais uma tarefa cumprida.
Quando o carro parou na entrada principal do Colline e, um a um, eles
foram saindo, percebi, que já estava exausta, e era só o começo.
— É bom chegar antes para se adaptar ao lugar. — O som áspero da voz
de Axel Hansson tomou conta do saguão do hotel, onde o check-in dos três
precisava ser feito.
Havia alguma coisa de errado com sua voz, não exatamente um erro, mas
uma singularidade. Nunca tinha escutado um timbre de voz como o dele e
sabia que, a partir do momento em que o ouvi falar pela primeira vez,
reconheceria sua voz em qualquer lugar. O modo como ele pronunciava cada
palavra em português fazia eu me sentir estranha de alguma maneira que não
consegui entender de imediato. Mas eu estava muito empolgada por eles
falarem português fluente, e o que sentia em relação à voz de Axel era um
detalhe insignificante.
Quis perguntar quando eles tinham aprendido meu idioma, mas resolvi
aceitar aquilo e agradecer porque não precisaria me arriscar a passar
vergonha com um inglês precário de quem nunca viajou ao exterior.
♫♫♫
O cansaço caiu sobre mim como se fosse um saco grande de areia. Às
23h estava jogada desconfortavelmente num sofá de couro claro, em um
estúdio no décimo andar, montado exclusivamente para a banda, equipado
com o que havia de mais moderno no mercado. Os rapazes trabalhavam na
apresentação de uma festa que aconteceria dali a poucos dias, sentados em
cadeiras giratórias com laptops da Apple sobre o colo.
Eu não ouvia o que tocava nos seus headphones e estava cochilando
como se fosse uma velhinha tentando assistir à novela das nove. Precisava
muito dormir, além de ligar para minha mãe, mas sabia que não poderia sair
dali antes do trio. Existia a possibilidade dos meus serviços serem
necessários, e seria um estresse para todos, principalmente para mim, se eu
não estivesse de prontidão.
As horas que passei com eles tinham sido cansativas, mas nada de
alarmante aconteceu. Os acomodei, um por vez, em suas suítes
exageradamente luxuosas da cobertura. Guardei, como se fossem minha
própria vida, as cópias dos cartões magnéticos que abriam as portas dos
quartos e do estúdio deles, além das chaves da despensa, cozinha e bar.
Depois que os três já tinham tomado banho e relaxado por algum tempo,
jantamos no restaurante do Colline.
Por sorte, tive tempo de tomar um banho rápido, arrumar o cabelo e
vestir uma roupa limpa. Depois de perceber que o ar-condicionado era forte
em todas as áreas do hotel, optei por uma legging de montaria preta e uma
blusa bege, de mangas longas, com alguns botões dourados no decote. Deixei
dois botões abertos, prendi o cabelo de lado, deixando as longas ondas
castanhas sobre meu seio esquerdo, e calcei sapatos Oxford floridos.
Imaginei que deveria sentar em uma mesinha pequena para comer
rapidamente e os observar na espreita, enquanto o grupo fazia sua refeição,
pronta para correr até eles ao menor sinal; ao invés disso, fui convidada para
sentar à mesa com eles, me fartando da mesma comida servida àqueles
homens milionários.
Os três aparentavam ser unidos como irmãos, o que facilitou minha vida.
Era reconfortante saber que tudo estava se encaminhando bem no primeiro
dia. Apesar de eles não serem nada cavalheiros e falarem palavrões o tempo
todo, eu ainda não tinha precisado comprar drogas nem tive que fazer um
boquete em nenhum. Com a boca suja deles eu podia lidar facilmente.
Nunca ouvi tantas vezes e em pouco tempo as palavras — se é que
poderiam ser chamadas assim — “foder”, “buceta” e “caralho”. Era um tal de
“vou comer a buceta deles”, “vamos fodê-los com força”, “vou foder o
caralho na buceta daquele lugar”, “fodemos aquele lugar com penetração
dupla” entre outras coisas que não fazia ideia do que poderiam significar. Até
dei umas boas risadas quando, sentado ao meu lado, Vincent Cavallari se
dirigiu a Guto Bergman a nossa frente:
— Se você me passar o sal, juro que chupo sua buceta.
Guto olhou pasmo e sério de Vincent para Axel, que estava comendo
com seu maldito nariz empinado e era importante demais para rir de qualquer
piada.
— Eu nem sabia que tinha buceta! — Guto respondeu me fazendo
gargalhar alto.
Axel não disse nada, e nem mesmo olhou na minha direção, mas, pela
maneira como seu maxilar trincou ao me ouvir rir, eu soube que ele odiava
qualquer som que saía da minha boca. Me senti mal só de estar no mesmo
ambiente que ele.
Vincent riu ao meu lado fazendo com que eu me sentisse melhor. Tive
vontade de dizer que ele era legal e que estava feliz por tê-lo conhecido.
Pensei em dizer que já o considerava da minha família. Mas, como aquele
ainda era o primeiro dia, resolvi ficar na minha.
Agora eu precisaria esperar eles irem dormir, só então poderia descansar.
Ainda teria que acordar para ficar a disposição deles na manhã seguinte.
— Preciso de um piano! — Guto Bergman girou na cadeira, retirando os
headphones e ficando de frente para mim. Dominada pelo sono, não sabia se
devia ficar de pé e ir até ele ou simplesmente permanecer onde estava.— Um piano...? — Minha voz soou insegura.
— Um só meu, bem ali naquele canto — ele informou apontando para o
lado leste do estúdio. — E cuide para que ninguém além de mim toque nele.
— Você precisa disso, tipo, agora? — Eu estava entrando em pânico.
Onde arranjaria um piano no meio do nada quase à meia noite?
— Hoje não! — Guto deu aquele sorriso simpático, me acalmando. —
Só preciso que seja essa semana.
— Vou dar um jeito nisso — respondi tendo em mente que teria que
levantar no mínimo trinta minutos antes do planejado para tentar falar com
Jack, aguentando seu mau humor e gritos, e descobrir se haveria um piano
desocupado que pudesse ser de uso exclusivo de Guto. Caso contrário,
precisaria comprar um, além de cuidar para que ele fosse transportado o mais
rápido possível ao Colline.
— Preciso de cervejas. — Vincent esticou os braços acima da cabeça se
alongando.
— Posso conseguir agora. — Pelo menos isso.
— Perfeito.
— Precisam de mais alguma coisa? — perguntei olhando para cada um
deles e, instintivamente, fiquei com medo do que eles responderiam.
— Cheetos — Guto pediu me fazendo sorrir. Um gordinho querendo se
entupir de salgadinhos. Mas quem não ama salgadinhos?
— E amendoins — Vincent disse voltando a colocar os fones.
Levantei antes que Axel me pedisse para trazer carne de cordeiro ou
caviar. Abri a porta e fui surpreendida por ele atrás de mim.
— Vou ajudar — Axel falou com aquela voz errada ao me encarar.
— Não precisa — eu disse tentando soar o mais determinada possível,
mas ele já estava no corredor fechando a porta do estúdio.
O fitei com o olhar furioso enquanto o observava enfiar a mão no bolso
do jeans escuro e apanhar seu celular.
— Não preciso de ajuda para pegar algumas cervejas — falei tentando
disfarçar o ódio.
— Não teime comigo — ele murmurou com rispidez.
Me perguntei se seria capaz de quebrar aquele maldito nariz empinado
com um soco bem dado, mas ele já estava distraído com o aparelho.
Ergui a cabeça o mais dignamente possível e caminhei pisando forte
rumo ao elevador mais próximo.
— Essa é Freja Hansson, minha esposa. — Axel me alcançou, estendeu a
tela do celular para mim e esperou que eu olhasse, mas o fato é que não tinha
o menor interesse em saber nada sobre sua vida espetacular.
— Hum... — murmurei ao olhar a mulher morena na tela. Ela até poderia
ser bonita se não fosse os lábios artificiais e o excesso de maquiagem
marcando as maçãs do rosto. — Ela parece ser uma pessoa incrível.
Menti. Os dois certamente se mereciam.
Ele deslizou o dedo pela tela e apareceu a foto de um garotinho de mais
ou menos dois anos de idade.
— Esse é Liam, nosso filho mais velho.
O menino, também moreno, não era nada parecido com Axel. Ri por
dentro ao imaginar ele criando o filho de outro homem enquanto estava certo
de que era o pai. Corno egocêntrico. Mas tive que desmanchar a cara feia,
simplesmente amava crianças.
— Ele deve ser uma coisinha muito fofa! — minha voz saiu relaxada e
ouvi o riso dele atrás de mim, mas não virei para olhá-lo enquanto chamava o
elevador.
Acima da porta de aço polido, observei os números dos andares aonde o
elevador passava, e parecia estar parando em cada um deles.
— E esse será Noah. — Axel conseguiu se enfiar entre a porta de acesso
ao elevador e eu para exibir a foto de uma barriga de grávida.
— Sua esposa está esperando bebê? — o interroguei surpresa.
— Sim. De cinco meses — ele respondeu recolhendo o celular.
Recuei um passo para conseguir um pouco de espaço.
— Parabéns, você tem uma família maravilhosa. — Olhei os números só
para constatar que o elevador não tinha chegado nem na metade do caminho
até nós.
— Eu sei — Axel falou todo orgulhoso.
Me preparei para revirar os olhos, mas seu sorriso me fez parar. Foi a
primeira vez que vi aquilo nele. Eu tinha uma obsessão louca por covinhas
em bochechas, e lá estavam elas, uma em cada lado do seu rosto, bem fundas
e meigas. Fiquei surpresa por não ter percebido antes. Acontece que, durante
todo tempo que havia passado perto de Axel, eu estava irritada demais com
seu jeito orgulhoso e não tinha o observado direito.
— Você não se importa de deixar sua mulher grávida, sozinha na Suécia,
por quase dois meses? Não fica com saudade do seu filho?
Axel voltou a ficar sério e as covinhas desapareceram instantaneamente.
— Me importo muito em perder parte da gestão e sinto saudade, tanto do
meu filho quanto dela e do resto da minha família, mas preciso trabalhar —
ele falou com sinceridade. Seu sotaque predominava a cada vez que ele
pronunciava o “r”.
— Por que não os trouxe com você?
— Imagine a confusão que seria se todos nós trouxéssemos nossas
famílias.
Não consegui imaginar, mas ele era europeu, e essa gente deve saber
separar muito bem trabalho e família, dando prioridade ao primeiro.
— Posso imaginar — menti novamente.
— Ela entende que tenho uma carreira e que preciso viajar com
frequência. Até diz que o tempo que ficamos separados ajuda no casamento.
Eu queria comentar algo sobre ser estranho uma mulher gostar de ficar
tanto tempo afastada do marido, só que o elevador chegou, e nós entramos.
Apertei o botão do restaurante e a porta se fechou. Todos os lados do
elevador, incluindo a porta, eram revestidos com espelhos que me davam
uma ampla visão de nós dois. Ostentação.
Com uma breve espiada no meu reflexo à frente, vi que meu cabelo
estava bagunçado. Então, puxei o elástico, o prendi entre os dentes e levantei
os braços para enrolar o cabelo e fazer um coque no alto da cabeça. Nessa
movimentação, a blusa que eu usava ergueu-se, deixando aparecer um pouco
da minha barriga.
Quando já estava passando o elástico em volta do coque é que prestei
atenção no reflexo de Axel. Ele estava encostado no espelho mais distante de
mim, com os lábios entreabertos e os olhos azuis grudados... na minha bunda!
Perdi o fôlego.
Tire seus olhos de mim agora mesmo!
Senti a pele do rosto e da parte de trás do pescoço esquentarem, abaixei
os braços e os cruzei. Então ele percebeu que eu o tinha flagrado e seu rosto
assumiu uma cor vermelha muito preocupante. Tentando disfarçar, ele ergueu
a mão e coçou os olhos, os piscando várias vezes e olhando para os tênis.
Mas suas bochechas cheias de sardas ainda estavam coradas. Nunca tinha
visto o homem ficar tão tímido assim.
— O que estava olhando, Axel? — Não consegui evitar perguntar.
Ele pareceu querer enfiar a cabeça em um buraco. Ficou muito sério,
trincou o maxilar, cruzou os braços e voltou a me ignorar como tinha feito
desde que chegou.
— Tem algum problema comigo? — insisti. Nervosa, passei a língua
pelas brakets do meu aparelho. Se Axel escutou, fingiu não ter ouvido.
“Não se preocupe, não se preocupe, filho
Veja, o céu tem um plano para você
Não se preocupe, não se preocupe agora”
Swedish House Mafia – Don’t You Worry Child (Feat. John Martin)
♫
Me recordo da sensação. Me lembro como se fosse hoje. Eu tinha
deixado a neve na Suécia para um verão ensolarado no Brasil.
Fui o último a descer do helicóptero. Meus olhos ardiam por baixo das
lentes de contato, mas eu não queria substituí-las pelos óculos. Não gostava
de ser visto com eles. Não usava óculos de grau em público desde que tinha
começado a ser DJ.
O sol estava se pondo quando coloquei o pé em terra firme, dei o
primeiro passo para seguir meus colegas de banda, sem saber que aquele era
o instante em que a confusão estaria começando.
Como sempre, havia uma equipe nos esperando alguns metros adiante.
Pisquei os olhos para me livrar do incômodo, usando óculos escuros por
cima. Então eu a vi.
Estava do lado do motorista. Ao longe, parecia uma garotinha de doze
anos. Só quando me aproximei é que pude perceber que ela não era tão nova
assim. Notei as pernas grossas e os peitos, que estavam apertados um contra o
outro dentro do sutiã, uma blusa muito frágil mal os cobria.
Detectando gostosa. Recue soldado. Alerta de peitos. Recue soldado.
Isso! Olhe para o outro lado. Não! Bunda gostosa não! Não olhe para a
bunda! Mantenha a cabeça erguida, soldado.
Era uma brincadeiraidiota, mas eu sempre repetia isso em pensamentos
quando via uma mulher gostosa. Estava com minha esposa desde os
dezenove anos e era fiel a ela, mas não era cego. Sabia que admirar uma
garota bonita por míseros segundos não ia fazer de mim um cretino. Tinha
consciência de que minha esposa também devia olhar para outros homens
daquele jeito. Era um instinto natural do ser humano.
Entrei no carro e me acomodei enquanto Guto e Vincent interrogavam
aquela menina pequena sentada no banco à minha frente.
Disse que se chamava Lucy e era muito sexy. Mas não foi por causa das
coxas torneadas exibidas por uma saia minúscula, muito menos pela calcinha
que aparecia porque ela não parava quieta no banco. Apenas de onde eu
estava dava para ver o pedaço da lingerie branca, e ela enfiava a mão entre as
pernas para tentar se cobrir, o que piorava ainda mais as coisas. Só que
também não foi por causa dos peitos de tamanho médio formando uma fenda
muito provocante nem pela renda do sutiã aparecendo no decote da blusa
pequena. Não foi pelo umbigo que ela exibiu quando ergueu a blusa tentando
cobrir os peitos. Tudo isso fez meu pau ficar duro e latejar, mas não teria sido
um grande problema. Eu viajava muito e estava acostumado a ver mulheres
seminuas em festas o tempo todo.
Foi mais pelo jeito como ela ficou corada quando se deu conta de que
não poderia cobrir os peitos e umbigo ao mesmo tempo com aquela blusa
pequena. Foi ainda mais pelo sorriso que ela deu quando Guto perguntou se
ela era filha do motorista. Seus lábios se abriram e eu vi o aparelho
ortodôntico. De um jeito discreto e meigo, Lucy passou a ponta da língua
pela parte da frente do aparelho branco, quase invisível de longe. Foi isso!
Uma garota linda como aquela de aparelho.
Eu tinha usado por alguns anos na adolescência, e não foi uma
experiência que deixou boas lembranças. Ainda mais com os óculos.
Ver essa garota, que contava que seria nossa assistente enquanto
estivéssemos no Brasil, fez um milhão de emoções voltarem.
Quando ela tirou os óculos escuros e eu pude ver seus olhos grandes e
esverdeados, eu já estava com raiva dela por ter me feito sentir essas coisas
em menos de vinte minutos de convivência.
Havia uma palavra em inglês que a descreveria muito bem: Gorgeous.
Com G maiúsculo porque ela merecia.
Com medo das emoções que Lucy me causava, fechei a cara quando ela
me olhou com aquele sorriso meigo. Fiquei encarando a janela ao meu lado
até chegar ao Colline Hotel.
Previ que poderia ter problemas com aquela garota grudada no grupo o
tempo todo. Havia muitas coisas nela que me atraíam, e seria muito foda
tentar ignorar. Por essa razão, quando ela abriu a porta da minha suíte e
entrou para me mostrar os detalhes do quarto, eu já estava arrependido de ter
aceitado participar dessa reunião e pensava seriamente em voltar para casa,
abraçar minha esposa e dizer o quanto a amava.
Mas Lucy continuava falando. Se ela fizesse ideia das coisas que se
passavam na minha cabeça naquele momento, no que eu pensava enquanto
estava hipnotizado com aquela boca pequena e os lábios carnudos se
movendo sem parar, ela sairia correndo da suíte.
Garotas como ela não se interessavam por caras como eu. Ela era meiga,
inteligente, sexy, sabia conversar e tinha um corpo incrível. Imaginei que
Lucy não era do tipo de mulher que só ficava com um cara por ele ser
famoso. Que ela não se deslumbrava com essas coisas fúteis.
E se tirasse o meu dinheiro e a minha fama como DJ, o que sobraria? Só
o rapaz tímido que eu costumava ser até os dezoito anos. O tipo de rapaz que
nunca se aproximaria de uma garota perfeita como ela, pois tinha consciência
de que levaria o fora do século, e não precisava dessa humilhação.
Então, trinquei o maxilar e fechei a cara enquanto ela desfilava as curvas
pela suíte, abrindo portas e cortinas, acendendo e apagando luzes, explicando
coisas que eu não era capaz de prestar atenção.
Quando ela se virou e me olhou bem séria com os olhos arregalados,
minha cabeça estava latejando, meus olhos queimavam por baixo das lentes,
meu corpo ardia, e não era só por causa do calor.
Comecei a fantasiar aquela boca sexy de aparelho me chupando. Isso
nunca tinha acontecido, nem mesmo tinha beijado uma garota de aparelho.
Conheci minha esposa um pouco antes de começar a ter meu trabalho
reconhecido. Foi Guto que me apresentou a Freja. Ela tinha vinte e três anos
na época, e eu dezenove. Não tinha ficado com muitas garotas até então,
estava começando a perder a timidez, e a ideia de namorar uma mulher mais
velha era bem erótico para mim. Nos casamos dois anos depois. Nunca
pensei que fosse sentir por outra pessoa o que sentia por ela.
— Os outros marcaram de jantar às 20h. Precisa de mais alguma coisa?
— Ela perguntou e passou a ponta da língua pelo aparelho outra vez.
Desesperado com aquela cena, desviei os olhos do seu rosto, vi que seus
peitos subiam e desciam bem rápido com a respiração acelerada. Meus
batimentos cardíacos aceleraram e engoli a saliva ao encarar sua barriga
aparecendo por causa da blusa curta. Quando dei por mim, estava andando na
sua direção, querendo agarrá-la, beijá-la. Éramos só nós dois ali, e eu não
dava uma boa trepada há semanas, para ser bem sincero, não conseguia me
lembrar da última vez em que tinha transado, por causa da gravidez difícil e
dos enjoos. Lucy era como um prato de comida e eu um mendigo morto de
fome.
Não sei como fui capaz de passar por ela sem cometer a maior burrada da
minha vida, mas consegui. Talvez pela ideia de Lucy me denunciar por
assédio, e eu arrumar confusão logo no primeiro dia, ou pelo medo de ela não
me querer.
Será que ela tinha namorado? Eu queria perguntar, mas não fazia
diferença para mim. Eu era casado e não tinha motivos para fazer uma
pergunta tão pessoal como aquela. Seria outro motivo para ela me denunciar
por assédio.
— Não preciso de nada — resmunguei com raiva ao fechar a porta do
banheiro.
Quando a ouvi deixar a suíte, entrei embaixo do chuveiro e esmurrei a
parede para eliminar a vontade de bater uma fantasiando aquela boca sexy me
chupando. 
Mas esmurrar a parede não fez a temperatura do meu corpo baixar. A
cabeça de cima doía e a de baixo latejava de tanta vontade, enquanto eu
tentava me lembrar do homem descente e respeitador que sempre fui, e que
aquela situação toda era ridícula e inaceitável — eu tinha acabado de
conhecer Lucy. Não fazia o menor sentido estar assim.
O homem de família dentro de mim encontrou uma justificativa para
aquilo: as alterações nos meus níveis de testosterona e o pico da minha libido
era só efeito do calor e do fuso horário. Enquanto me vestia, torci para que a
situação estivesse controlada na hora do jantar. Permaneci com as lentes de
contato. Não ia substituí-las pelos óculos em público, mesmo que elas não
parassem de incomodar.
♫♫♫
Guto e eu fomos os primeiros a chegar ao restaurante do Colline. Quando
Vincent apareceu, começamos a conversar sobre o que iríamos tocar na
primeira apresentação que o Swedish Legends faria no Brasil. Tentei com
toda a minha força de vontade focar o pensamento nisso.
—... Outro efeito e aí os fogos de artifício. Vão simplesmente morrer —
Vin dizia. — Vamos foder aquele lugar com penetração dupla!
— Que versão de “Where’s the party” você acha que deveríamos tocar?
— Guto me perguntou, mas a verdade é que eu não tinha nenhum plano
ainda, nenhuma ideia. Estava trocando mensagens de texto com Freja,
perguntando como estavam nossos filhos, mantendo o controle dos meus
pensamentos.
— Podemos misturar algumas... — respondi vagamente. 
— Vamos dar conta dessa festa sem muito estresse — Guto respondeu
com tranquilidade, o que era estranho para o padrão Guto Bergman. 
— Só vamos mandar ver — Vin disse enquanto passava os olhos pelo
cardápio. — Bebemos uns drinks, fazemos nosso som, nada demais. Aí
poderemos focar no que viemos fazer aqui.
— Ótimo — comentei enfiando o celular no bolso da calça. Meus olhos
dispararam para a entrada do restaurante antes que eu conseguisse raciocinar.
Não sabia se Lucyjantaria com a gente ou se os assistentes não se
misturavam com os artistas na hora das refeições. Ainda tinha a
possibilidade de ela sair para jantar na cidade com o suposto namorado, afinal
era domingo à noite. Trinquei o maxilar com a ideia, mas fiz um esforço para
manter os pensamentos em ordem e continuar a conversa. — Vamos nos
divertir enquanto estivermos no Brasil. É disso que se trata.
Vin e Guto continuavam dando ideias para o show da banda, quando ela
surgiu, atravessando o restaurante com pressa, parando sem fôlego ao lado da
nossa mesa.
Senti uma agitação no peito ao perceber que o suposto namorado não era
tão importante assim, afinal, ela o tinha deixado em plena noite de domingo
para jantar com a gente. Sorri ao imaginar a cara que ele devia ter feito
quando Lucy o dispensou com a desculpa de que ia passar a noite com três
DJ’S. Tinha quase certeza de que ele não gostava de música eletrônica nem
festas agitadas. Devia ser o tipo que trabalhava de terno e gravata o dia todo
em um escritório — advogado, contador, ou alguma outra profissão bem
inteligente. Sem dúvidas, seu suposto namorado era inteligente. Talvez um
professor. E quando ele ia buscá-la em casa ou na faculdade, ela abria esse
sorriso que estava dando agora. E ele era muito sortudo por namorá-la. Se eu
tivesse oportunidade, diria para ele cuidar muito bem dela. Também daria um
soco bem no meio da sua cara, só de raiva, por saber que eu nunca poderia
estar no lugar dele.
Suas bochechas estavam coradas quando ela deslizou a língua pelo
aparelho, me fazendo fechar a cara. Pelo menos estava de calça comprida e
blusa de mangas longas, e eu não ia ter que ficar evitando olhar suas curvas.
Deus estava sendo misericordioso comigo, depois de ter jogado uma de suas
obras de arte na minha vida sem nenhum aviso prévio.
Cobri minha cara com o cardápio, o usando como escudo, enquanto ela
esticava os braços na minha direção. Ergui a cabeça devagar, com medo do
que ia sentir quando nossos olhos se encontrassem. Seus olhos verdes
estavam arregalados, mas ela carregava aquela segurança de quem um dia
seria alguém muito importante. Me fazia lembrar uma garota por quem fui
apaixonado quando estava no colegial. Ela nunca tinha me dado bola, nem
mesmo quando comecei a fazer sucesso nas festas onde tocava. A minha
existência não fazia a menor diferença para ela. Não a culpo. Que garota
como ela ia se interessar pelo nerd tímido e esquisito, de óculos e aparelho,
com um probleminha de dicção? Era tão constrangedor relembrar isso tudo
que fazia meu peito doer. De repente, eu senti vergonha até de falar na
presença de Lucy. Não queria que ela percebesse a dificuldade que eu tinha
de pronunciar algumas palavras.
— Boa noite — ela disse me olhando com um sorriso que exibia o
aparelho. Perdido nas lembranças de uma adolescência difícil, demorei um
segundo para entender que ela iria me abraçar. Aquilo de abraçar o tempo
todo era muito comum no Brasil, assim como em outros países latinos e,
ainda que eu fosse do Sul da Suécia, onde as pessoas são muito discretas, já
estava acostumado com aquele calor humano e energia positiva que as
pessoas latinas gostavam de transmitir através de um abraço. Mesmo assim,
abraçar Lucy era outra coisa.
— Boa noite — respondi de má vontade, mas continuei sentado e,
quando ela se curvou e passou os braços em volta dos meus ombros, prendi a
respiração para não sentir seu perfume, pois seria uma coisa a mais para ter
que lidar, e eu não precisava da lembrança do seu cheiro para me provocar.
Enquanto Lucy apertava os lábios contra minha bochecha, apoiei a mão
que não estava segurando o cardápio em sua cintura o mais breve possível;
pelo menos ela não sentiria o gelo que eu estava tentando dar.
Depois de me cumprimentar, Lucy foi até Guto que estava ao meu lado.
Ele ficou de pé e aceitou o abraço dela, envolvendo o corpo pequeno com
seus braços cheios de tatuagens. Guto a beijou no rosto e disse que ela
deveria sentar com a gente. Perfeito! Eu ia ficar mudo durante todo o jantar,
como se não bastasse os olhos ardendo.
Dando a volta na mesa, Lucy chegou até Vin, sentado de frente para
mim, que também ficou de pé para lhe dar boa noite, fazendo com que eu me
sentisse um completo idiota por ter permanecido sentado enquanto ela vinha
toda educada falar comigo. Seu merda! Rapidamente consegui me arrepender
de não ter aproveitado aquele abraço para descobrir que cheiro ela tinha.
Como Vin era o mais alto de nós, Lucy precisou ficar na ponta dos pés
para alcançá-lo. Percebi que não deveria ter contado vitória antes do tempo.
Por mais que suas pernas estivessem cobertas, a calça que ela vestia parecia
ainda mais provocante que a minissaia de antes; o tecido estava todo agarrado
à sua pele, revelando com precisão o contorno do seu corpo perfeito. Aquilo
só me deixou com vontade de ver o que se escondia por baixo da roupa.
No movimento de encontrar o pescoço de Vin, ela empinou ainda mais
sua bunda na minha direção e, neste momento, não consegui desviar os olhos,
porque não havia nada de melhor para se olhar em todo o restaurante. Foi
difícil assistir meu amigo agarrando sua cintura estreita e a erguendo do chão.
Vin apertou Lucy tão forte que os ossos dela se estalaram e, por um momento
que me pareceu interminável, desejei ser ele só para poder sentir seu corpo
encostado no meu corpo. Mas Vincent tinha terminado o noivado com Hanna
e estava solteiro, podia abraçar assim quem quisesse.
Merda! Merda! Merda! Acabei ficando com o pau duro na mesa de
jantar, como se fosse um garoto na puberdade que não era capaz de ficar
perto de uma mulher gostosa sem querer se trancar em algum lugar para se
masturbar.
— O que tem de errado com você, Ax? — Guto quis saber ao perceber a
cara que eu fazia.
Obriguei meus olhos a focarem em outra coisa que não fosse o corpo
perfeito de Lucy.
— É só... — uma ereção. Tive que mentir. — Minha cabeça dói.
— Por que não descansou no seu quarto? — Vin perguntou depois de ter
soltado o que minha mente já queria chamar de minha Lucy.
— Estava ocupado.
— Com o que? — Guto insistia.
— Trabalhando numa coisa para o DJ Set — menti novamente.
— Quer um remédio? — Lucy perguntou com a voz melódica.
— Não! — respondi prontamente. Na verdade, eu precisava mesmo de
um remédio que só ela era capaz de me dar, mas não podia dizer isso para
minha assistente, muito menos na frente dos dois.
Incapaz de me dominar, comecei a pensar em desculpas inocentes para
me encontrar a sós com ela. Seria fácil demais ficar sozinho com Lucy, então
poderia cheirá-la, tocá-la e, se ela topasse, acabaria com aquele drama hoje
mesmo. Uma única vez e ponto final. Mas não era isso que eu queria de
verdade. Não podia ser.
Com o pior mau humor de todos, percebi o que estava arquitetando. Não
faria aquilo com Freja. Não queria para ela o que não queria para mim; ainda
mais no primeiro dia. Fechei a cara e tentei ignorar tudo naquele restaurante.
Eu disse tentei.
Enquanto comiam, meus amigos falavam tanta babaquice que eu
realmente estava começando a ficar com dor de cabeça. Quase ri ao pensar
que estaria participando da conversa idiota se Lucy não estivesse ali. Não
queria que ela percebesse meu problema de dicção, então fiquei calado. Por
falar em Lucy, em algum momento do jantar, dentro da minha bolha de
isolamento anti-Lucy, comecei a fantasiar que ela poderia ser lésbica.
O restaurante estava com pouca movimentação, pois a maioria dos
músicos ainda não havia chegado ao Brasil. O fato é que Caleb Hayden, que
se encontrava a poucas mesas de nós, estava sendo paparicado por mais de
uma dúzia de mulheres eufóricas, mas Lucy parecia não o notar. E era Caleb
Hayden! Não pense que eu estava achando Caleb Hayden bonito. Não! Para
mim não existe isso de homem bonito. Como uma criatura que tem barba e
pênis pode ser chamada de bonito? Não mesmo!
Enfim, nós homens às vezes conseguimos perceber quando outro cara
chama atenção do sexo oposto, e Caleb Hayden sem dúvidas era um desses;
mas talvez fosse só por causa da fama e do dinheiro...Apesar disso, Lucy
estava concentrada na nossa mesa e provavelmente não tinha visto que ele
estava ali. Ou talvez esse negócio de pênis não fosse a praia dela, ou ela não
ligava para a fama, ou não gostava do Caleb Hayden, ou era completamente
distraída a ponto de não ter notado aquele alvoroço no restaurante. Tinha a
possibilidade de ela ser muito fiel ao suposto namorado, mesmo o tendo
dispensado no domingo à noite. E na melhor/pior de todas as hipóteses, Lucy
estava a fim de mim. Haaa!
♫♫♫
A segui para o elevador quando meus amigos exigiram que ela trouxesse
cervejas e aperitivos. Considerava aquela a melhor chance de descobrir se ela
era comprometida. Precisava muito saber a resposta ou enlouqueceria.
Já tinha imaginado Lucy ficando com 80% dos meus colegas de
profissão que estariam hospedados no Colline, incluindo Vincent, e a
sensação não era nada boa. Por isso, eu queria muito que o suposto namorado
existisse, assim eu não precisaria lidar com a dor de ver nenhum colega meu
beijando aquela garota maravilhosa. Sim, eu sabia que ia doer se isso
acontecesse.
Comecei apresentando fotos da minha família para Lucy, assim ela não
veria como assédio se eu perguntasse se ela era solteira. Mas ela não me deu
muita atenção. Na verdade, seu humor longe de Vincent e Guto mudou
drasticamente.
E foram meus olhos que arruinaram o plano. Olhos com vida e vontade
própria. Quando o elevador se fechou, com todas as paredes revestidas de
espelhos, minha visão foi atraída pela bunda de Lucy. Eu queria ser
respeitoso, não a comer com os olhos, não queria de modo algum ser o
homem que se acha no direito de olhar para uma bunda daquele jeito. Mas
meus olhos não conseguiram desviar a tempo, e Lucy me flagrou. Senti a pele
da face esquentar. Se eu perguntasse se ela tinha namorado depois disso, seria
processo na certa.
— O que está olhando, Axel? — ela perguntou com raiva.
Por sorte, a porta do elevador se abriu no sexto andar. Um casal entrou
de mãos dadas.
— Lucy — o rapaz, que não deveria ter mais que 21 anos, cumprimentou
minha assistente.
— Oi, Dennis — ela respondeu com um leve aceno de cabeça.
Senti o cheiro de álcool invadir o elevador e observei a moça loira que o
acompanhava. Os dois aparentavam estar bêbados. Passaram para os fundos
do elevador, ao meu lado, e começaram a se pegar sem o menor pudor. Dei
alguns passos à frente e parei ao lado de Lucy.
Ela estava respirando pela boca enquanto, pelo espelho, eu podia ver o
rapaz erguendo a saia da loira que parecia uma modelo. A mulher gemeu.
Lucy arfou. Seus olhos estavam arregalados, seu peito subia e descia
enquanto ela tentava manter a atenção em suas mãos.
O casal começou a transar atrás de nós. Pornô gratuito. Eu teria lidado
bem com a situação se não fosse pela garota ao meu lado. Porque eu queria
fazer aquilo com ela: sexo naquele elevador, sem vergonha, sem planos, sem
rotina, só desejo animal.
Vi ela erguer as mãos para apertão um botão do elevador. Meu corpo
inteiro queimava enquanto o rapaz entrava e saía da garota atrás de nós.
Segurei a mão de Lucy antes que ela apertasse o botão e entrelacei nossos
dedos.
Naquele instante, esqueci do homem de família e do medo de ser
denunciado por assédio. Esfreguei meus dedos nos seus. Sua mão era tão
macia, quente e pequena. Tínhamos só alguns segundos até o elevador chegar
ao térreo. Virei o rosto na sua direção e ela fez o mesmo, enquanto meus
dedos acariciavam a palma da sua mão. Então Lucy me lançou o olhar mais
sexy que eu já tinha visto, com um brilho carregado de desejo. Meu corpo
incendiou e o pau ficou duro quando ela mordeu o lábio inferior. Era a
ninfeta mais tentadora do universo.
Nós dois queríamos aquilo. Levei sua mão até a altura do meu rosto e
mordi a pele que cobria os nós dos seus dedos. Virei o corpo na sua direção,
sem um pingo de juízo, pronto para matar meu desejo de agarrá-la, quando a
maldita porta do elevador se abriu. Ela puxou a mão da minha e saiu.
Levei um segundo para piscar os olhos e me dar conta do que quase tinha
feito. Deixei o casal promiscuo para trás e dei alguns passos largos até
alcançá-la, estudando seu rosto com receio.
— Não acredito no que acabei de ver — Lucy comentou enquanto
caminhava, por sorte, não parecia chateada comigo, só constrangida. —
Como eles não ficaram com vergonha de nós?
Não pensei no meu descontrole emocional e no quanto corria o risco de
errar ao tentar pronunciar algumas palavras, só respondi.
— Todo mundo faz sexo, Lucy. Por que ter vergonha?
Ela me lançou um breve olhar, mas não retrucou.
A cozinha do hotel estava escura e não tinha luzes com sensores de
movimento. Lucy entrou primeiro no ambiente escuro.
Tateei a mão pela parede à procura do interruptor, quando senti o toque
macio e quente nas costas da minha mão. Lucy se afastou bem rápido.
— Onde acende a porcaria da luz? — ela reclamou.
Demorei, mas consegui trazer a claridade ao cômodo. Ela parecia
nervosa e irritada enquanto abria as portas dos armários e enchia uma sacola
com salgadinhos. Pelo menos não reclamou por eu ter segurado sua mão.
Será que tinha gostado?
Foi engraçado quando peguei os engradados de cerveja e os carreguei na
direção da saída. Ela começou a me pedir para deixá-la levar as bebidas, que
aquele era seu trabalho. Será que ela pensava que, só porque eu era famoso,
não faria uma coisa básica como não deixar uma garota carregar peso?
— Sou perfeitamente capaz de fazer isso — ela resmungou tentando me
alcançar.
— Mas sou incapaz de deixar uma garota fazer o trabalho pesado —
respondi.
— Você é Axel Hansson, eu sou a assistente, pelo amor de Deus!
Respirei fundo. Enquanto apagava a luz da cozinha com o cotovelo. Não
queria começar um discurso sobre ser um cara normal, que a única coisa que
me diferenciava da maioria dos outros homens era que minha profissão me
fazia ser reconhecido no mundo todo. Longe dos palcos, eu era um ser
humano qualquer, um pouco tímido e quieto, mas normal.
♫♫♫
— Ax, o que acha de levá-la para a cama? — a voz de Vincent tirou
minha concentração na música, e eu tinha demorado muito para conseguir
manter o foco.
— Levá-la aonde? — Tirei meus fones de ouvido, mas permaneci com o
laptop no colo. Vin estava sugerindo que eu levasse nossa assistente para a
cama? Assim, numa boa? Assim, logo de cara? Não haveria problema?
— Ela está toda torta aí nesse sofá. — Ele havia afastado os fones de
ouvido e me encarava. — Sei lá, só pensei que ela merecia descansar. Parece
estar tão cansada e fica falando umas coisas estranhas...
— Tudo bem — tentei demonstrar pouco interesse.
— O número do quarto está na chave magnética — Vin disse mostrando
o cartão que abria a porta do quarto de Lucy.
Me levantei da cadeira, deixei o computador em cima da bancada e fui
até o sofá. Vin estava passando os braços por baixo do seu corpo. Seus olhos
grandes e castanho-esverdeados estavam escondidos atrás das pálpebras que
se agitavam, Lucy deveria estar sonhando. O decote da blusa revelava uma
boa parte dos seus peitos.
Como se quisesse protestar por estarmos mexendo nela, Lucy balbuciou
palavras indecifráveis no sono pesado. Algumas mechas de cabelo escuro e
longo cobriam parte de seu rosto, suas bochechas estavam bem vermelhas,
pensei que ela poderia estar no meio de um sonho erótico onde eu realizava
sua fantasia de transar do elevador. Devanear era de graça, de qualquer
forma.
Vincent colocou Lucy no colo, e a tiramos dali. Quando chegamos à sua
porta, passei o cartão magnético e tive a ideia de ficar com ele para mim.
Seria bom ter acesso total aquele quarto. Mas logo desisti desse pensamento
psicopata.
Vin a colocou na cama enquanto eu dava uma boa olhada no quarto.
Parecia com os quartos de hotéis onde ficávamos hospedados no começo da
nossa carreira. Tudo era simples: uma cama pequena — bem, não era
pequena para Lucy, mas seria pequena para nós dois, já que eu tinha me
acostumado a dormir em camas grandes, e o que você, Ax, tem a ver com o
tamanho do colchão dela? — uma janela estreita com cortinas de uma cor
deprimente,criados-mudos, espelho, uma cômoda, uma mesinha, um par de
cadeiras, além da mala de Lucy jogada num canto do chão, provavelmente
cheia de calcinhas tentadoras.
O que mais chamou minha atenção foi a pilha de livros colocada sobre a
mesinha. Havia mais de uma dúzia e meia de livros. Me aproximei devagar e
passei os dedos pelas lombadas. Livros de fantasia, suspense, aventura em
geral. Não vi nenhuma autoajuda. Nada contra esse último gênero, mas era
bom saber que ela gostava de ler as mesmas coisas que eu. Abri um sorriso
ao perceber que aquela garota sexy possuía pouquinho de nerdice, mesmo
que só alguns traços. Segurei o livro de cima da pilha, feliz por termos algo
em comum, assim eu teria assunto para uma conversa produtiva com Lucy.
Distraído, levei um susto quando vi o que meu amigo fazia.
— Que porra você está fazendo? — perguntei já me preparando para dar
um soco nele se fosse preciso. Vin, inclinado sobre Lucy, tinha erguido um
pouco sua blusa e estava tentando tirar sua calça.
— É... — Vin, gaguejando, ergueu as palmas das mãos para dizer que
não estava fazendo nada de errado. — Isso... essa... Só parece muito
desconfortável e apertado...
— Você ia tirar a calça dela? — minha voz ecoou perturbada pelo
quarto.
Mesmo com meus gritos, Lucy não se moveu.
— Só queria deixá-la confortável...
— E ainda acha isso natural? Tirar a roupa de alguém que você mal
conhece enquanto ela dorme. Lucy não é uma criança que você tem que
cuidar.
— Está com ciúmes? — Vin me acusou ao ficar de pé.
— Meu Deus, Vincent, você acha que a garota é um parque de diversões
onde as lendas têm passe livre?
— Quer saber, ela é toda sua. Faça o que bem entender com ela. —
Abriu a porta do quarto. — Eu só estava tentando ajudar.
Saiu.
Levei alguns minutos para conseguir retomar a calma. Não era ciúme,
como ele tinha me acusado, era bom senso de saber que ninguém pode tirar a
calça de uma garota sem sua permissão, ainda mais enquanto ela está
inconsciente.
Ainda com o livro de Lucy em mãos, minha mente se iluminou com mais
uma das minhas ideias de como descobrir se ela era comprometida. Era um
plano com várias tendências ao fracasso, mas pelo menos eu conseguiria
passar um tempo descente com ela.
Na manhã seguinte, pediria a Lucy para me levar em uma livraria. Se ela
gostasse mesmo de ler como eu imaginava, íamos ter muito assunto, nem iria
estranhar quando eu perguntasse, no meio da conversa, se ela tinha
namorado.
Fiquei por alguns minutos a observando dormir, tomado pelo apavorante
e real pensamento de que coisas ruins aconteciam a pessoas que não podiam
se defender.
Quando notei que era muita estupidez ficar ali parado, fui até ela, tentei
arrumar seus cabelos e tirei seus sapatos com cuidado para não acordá-la.
Lucy parecia exausta. Me perguntei se ela tinha sofrido de insônia por causa
da ansiedade do primeiro dia de trabalho conosco.
Se eu não saísse logo daquele quarto, acabaria me deitando ao seu lado, e
eu sabia que já estava invadindo toda sua privacidade ficando ali, parado, a
observando dormir, como se fosse um maldito psicopata esperando para
atacar. Fui até a janela e puxei as cortinas pesadas, voltei à cama, liguei o ar
condicionado e cobri Lucy com o edredom; desesperado para sair dali e, ao
mesmo tempo, implorando para ficar, deixei o quarto sem roubar a chave
“Pensando sobre esta noite, o que eu vou fazer
Mas eu simplesmente não consigo me concentrar
Porque eu estou pensando em você”
Axwell /\ Ingrosso -Thinking In About You
♫
— Lucy?
Despertei num sobressalto ao ouvir uma voz chamar meu nome. Olhei
em volta, perdida no escuro e pisquei os olhos até me dar conta de que estava
em um quarto do Colline hotel.
— Lucy? — a voz me chamou novamente. Era masculina e áspera.
Agarrei o rádio Nextel quando percebi que um deles estava me
chamando. Será que eu tinha perdido a hora?
O nome Axel Hansson estava na tela do rádio. O relógio marcava 8h37.
— Bom dia, Axel! — respondi tentando não demonstrar a voz de sono.
— Acordei você? — ele quis saber.
Sua voz era tão... sexy, que acabei recordando o que tinha acontecido na
noite anterior, quando ele segurou minha mão no elevador enquanto Dennis
— um dos veteranos do curso de produção de eventos da minha faculdade —
fazia aquela cena exibicionista com outra assistente atrás de nós.
— Te acordei? — perguntou novamente quando não respondi.
— Não! Eu já estou de pé — menti.
— Ótimo. Preciso que vá comigo à cidade. Pode conseguir um carro?
— Claro!
— Te espero na minha suíte às nove. Tudo bem?
— Sim — menti outra vez. Eu tinha menos de meia hora para organizar a
ida de uma celebridade à Teresópolis, sendo que eu ainda estava na cama. —
Posso saber o que vai fazer? Só para poder me organizar melhor.
— Nada demais — Axel disse. — Quero que me leve a uma livraria.
Franzi o cenho com sua resposta.
— Te beijo daqui a pouco, Lucy.
— O que?
— Te vejo daqui a pouco, Lucy.
Fiquei feito uma pateta olhando para o teto no quarto escuro. Ele tinha
errado a palavra ou eu é quem tinha me enganado? Ou Axel fez de propósito?
Não havia motivos para isso. Era só o sono da manhã me fazendo ouvir
coisas.
A propósito, como eu tinha vindo parar naquele quarto? Um dia de
trabalho e já estava ficando louca.
Pulei da cama e corri para o banho, arrancando as roupas no caminho.
Escovei os dentes embaixo do chuveiro e liguei para o motorista de plantão
enquanto me vestia. Esse se chamava Roberto. Pedi que ele ficasse de
prontidão às nove em ponto.
Usando o primeiro short e blusinha que eu tinha encontrado na mala,
calçando um par de tênis, com o estômago vazio e a mente confusa, corri
para pegar o elevador.
Ao parar na porta da suíte de Axel Hansson, olhei no rádio e vi que
estava cinco minutos atrasada.
— Maldição! — praguejei terminando de fazer a trança que eu tinha
começado no elevador e o chamei no rádio. — Estou na sua porta.
Em poucos segundos ele abriu. Falava ao telefone em sueco e gesticulou
para que eu entrasse. Lambi meu aparelho enquanto o seguia até o centro da
sala. Sua suíte parecia um apartamento de luxo, com vidraças separando a
sala do quarto, lustres pendendo do teto, abajures elegantes, detalhes
dourados e mais vidraças que davam acesso à sacada, onde uma mesa de café
da manhã estava preparada e intocada.
Seu cheiro me envolveu. Me peguei pensando: se ele se perfumava assim
só para ir a uma livraria de manhã, imagino como ficava cheiroso para ir a
um encontro. Mas Axel não tinha encontros, ele era casado. Então imaginei
como ele se perfumava para sua esposa.
Ele continuava falando ao telefone, olhando para a sacada
despreocupadamente e sorrindo, como se eu não estivesse plantada no meio
da sala. Aproveitei sua distração para observá-lo sem que ele notasse.
Era mais alto que eu cerca de 25 centímetros, o cabelo liso ainda estava
úmido e jogado para trás, tinha feito a barba. A camiseta branca não era justa
do tipo “meninas, olhem para mim, agora estou indo à academia”, só era do
tamanho certo. A forma de suas costas largas aparecia no tecido, mas não
pude confirmar nada a respeito do seu abdômen, apenas que ele não tinha
nenhuma barriguinha de chope. Correndo os olhos para abaixo de sua cintura,
fiquei de queixo caído.
Que bunda gostosa era aquela?
Nunca fui muito de reparar no traseiro dos homens, mas ali estava algo
que valia a pena comentar. A calça escura emoldurava a bunda deliciosa e as
coxas grossas. Ele não era como esses homens que se matam para criar
músculos nos braços e esquecem da parte de baixo, ficando com pernas tão
finas que mais parecem palitos de dente.
Axel provavelmente nasceu com a puta de uma sorte. Tinha a estrutura
óssea perfeita, muita carne e músculos para cobrir os ossos. Na certa, ele nem
perdia horas e horas na academia, pois era gostoso por natureza. Muito
gostoso. Senti inveja de sua esposa, ela podia beliscar, apertar e morder
aquela bunda, e eu não podia fazer nada daquilo, a não ser olhar e engolir em
seco.
Pensei que tinha acabado de descobrir o motivo de ele ser tão metido a
ponto de me fazerir ao seu quarto para ficar o assistindo falar ao telefone:
sua beleza. Além do corpo, ele ainda tinha olhos azuis e covinhas. Como o
maldito pode ter covinhas e eu não? Voltei a ficar com raiva dele, o que me
agradou muito.
Meu estômago reclamou enquanto eu obrigava meus olhos a se
desgrudarem da sua bunda e focarem nas torradas e as frutas sobre a mesa.
Uma xícara de café cairia muito bem, obrigada. Cruzei os braços e comecei a
bater o pé no chão, inquieta, pensando que poderia ter comido pelo menos um
pãozinho.
— Já tomou café da manhã? — Axel perguntou ao desligar o celular e
enfiá-lo no bolso da calça.
— Já, obrigada. — Dei um sorriso amarelo, desviando o olhar das frutas.
— Tem certeza? Pensei ter ouvido seu estômago roncar.
Arregalei os olhos enquanto lambia o aparelho dentário. Que vergonha!
— Não precisa... Não se incomode. Não quero atrapalhar. Posso esperar
no corredor ou na recepção — falei o mais rápido que consegui.
— Tem comida suficiente para nós dois aqui. Não é incômodo. Eu
insisto.
Tinha algo na sua voz que me fazia querer ouvi-lo por horas. Talvez
fosse um tipo estranho de magnetismo. E pelo jeito que ele falou, sorri
esquecendo da raiva e o acompanhei até a sacada.
Enquanto me sentava na cadeira oposta à sua, não fiquei pensando em
como ele era rico e importante, pelo contrário, de algum modo, consegui me
sentir à vontade na sua presença. Só me concentrei em saciar a fome.
— Te carregamos para seu quarto quando você adormeceu no sofá do
estúdio — Axel disse quando encheu uma xícara de café para mim. — Vin e
eu.
Pensei em acusá-lo de invasão de privacidade, mas um “obrigada” foi
tudo que consegui dizer. Os imaginei no meu quarto minúsculo e bagunçado.
Era constrangedor.
— Vi que você gosta de ler — ele continuou.
— Amo ler — falei passando patê de peru em uma torrada.
— Por isso te pedi para me levar a uma livraria. Quero que me ajude a
escolher bons livros nacionais. Ler é uma das melhores formas de se adaptar
a uma língua.
— Livraria era o último lugar do mundo onde eu imaginava que você
fosse querer ir numa segunda de manhã — comentei antes de dar a primeira
mordida.
— Não tenho cara de quem gosta de ler?
Fiz que não com a cabeça enquanto mastigava.
— Gosto muito. Já li alguns dos livros que vi no seu quarto.
Pensei naquilo por alguns segundos. Um homem bonito, com uma bunda
muito sexy, com esse sotaque, covinhas, o cabelo incrível e ainda gostava de
ler... Sua esposa tinha muita sorte mesmo! Qual era a probabilidade de eu
encontrar alguém assim?
Então lembrei que Axel era metido e esnobe e me conformei.
Provavelmente, só estava me contando aquilo para se exibir, tentar me
impressionar ou algo do tipo.
Respirei fundo. Odiava gente que se sentia superior aos outros. Se era
essa sua intenção, não tinha dado certo. Aquela suíte chique de hotel, a mesa
farta de café da manhã e todos os livros que ele podia comprar não
significavam nada se ele tinha um rei na barriga.
Ergui a cabeça pensando em dizer umas boas verdades a Axel.
Acho que ele percebeu minha mudança de humor, porque ficou em
silêncio enquanto acabava o café e durante a viagem.
— Conhece uma livraria mais reservada? — ele quis saber quando
entramos na cidade.
Fiz que sim com a cabeça e instruí o motorista a nos levar.
No estacionamento, ele colocou um boné de aba reta e óculos escuros.
Quando entramos na livraria, o levei direto para a seção de clássicos da
literatura nacional. O ambiente estava vazio, exceto por um funcionário que
organizava uma prateleira e não reparou em nós. O apresentei livros que já
tinha lido no colegial, alguns ele conhecia pelos títulos em inglês. Separamos
alguns e acabamos indo parar na seção de fantasia. Tínhamos mesmo gostos
em comum. Apreciávamos livros que narravam sobre mundos distintos, seres
mágicos, aventuras. Livros com mais de 600 páginas.
Axel conseguiu encontrar algumas séries que eu não tinha lido ainda e se
ofereceu para comprá-los para mim. Recusei a princípio. Eu era muito
orgulhosa, mas acabei cedendo, afinal eram livros, a coisa que eu mais
gostava de comprar na vida.
— Seu namorado também lê fantasia? — ele perguntou enquanto
folheava um livro aleatório.
Dei meu sorriso amarelo e puxei um volume grosso da prateleira.
— Não tenho namorado.
Senti seus olhos me investigando por um momento. Isso me deixou
envergonhada, mas tentei disfarçar. Virei o rosto na sua direção. Axel havia
tirado os óculos e me encarava com curiosidade.
— E sua esposa? — perguntei baixinho. Meu coração estava começando
a bater mais forte, mas não havia nenhuma explicação para isso.
— Não, ela não gosta de ler — ele disse ao devolver o livro para a
prateleira.
— Tem espaços para leitura e café no andar de cima — comentei de
repente e sem pensar muito. — Quer ficar um pouco lá?
Ele esfregou o polegar no lábio inferior, sem se dar conta de que estava
fazendo isso, e balançou a cabeça positivamente.
Pegamos nossas pilhas de livros e seguimos até a escada. Fui na sua
frente, ciente de que meu short era curto e que Axel podia estar olhando
minhas pernas enquanto subíamos. De algum modo, isso não me incomodou.
Meu corpo estava quente quando chegamos a sala de leitura. Me senti
tentada a levá-lo até a mesa mais distante, mas acabei indo para a mais
próxima das escadas, onde colocamos os livros e nos sentamos em poltronas
lado a lado.
Peguei um exemplar e comecei a folheá-lo na esperança de relaxar por
alguns minutos. Mas tinha algo que não permitia que eu me concentrasse no
prólogo. Meu coração batia muito forte, minha pele estava sensível à brisa
que soprava por duas janelas abertas.
Foi um choque quando Axel segurou minha mão de repente. Perdi o
fôlego. Minha mão esquerda estava apoiada na minha coxa quando ele a
pegou. Olhei para baixo, puxando o ar pela boca, e observei seu polegar
esfregando minha pele, a fazendo arder. Levei alguns segundos para decidir
reagir. Puxei a mão com descrição e segurei o livro tentando disfarçar, então
ele afastou a sua da minha perna.
Mordi o lábio com força, ainda com a respiração pesada e o coração
batendo rápido. Porque Axel tinha feito aquilo? Eu tinha perguntado sobre
sua esposa há poucos minutos, não fazia sentido.
Acabei lembrando do jeito como ele tinha segurado minha mão no
elevador e mordido os nós dos meus dedos. O que esses gestos significavam?
O que ele queria com aquilo?
O observei pelo canto do olho. Era só um costume da Suécia segurar a
mão das pessoas ou...?
Meu coração começou a me trair. Virei o rosto devagar e o vi com os
olhos no livro aberto sobre a mesa. Ele estava inclinado naquela direção,
parecia concentrado, com a mão direita agora sobre o braço da poltrona. A
aba do boné fazia sombra no seu rosto. Mesmo assim, dava para ver as sardas
e os pequenos sinais em seu maxilar. Parecia um menino tímido perdido em
um mundo de fantasia. Era muito fácil esquecer o resto o olhando assim.
Meu coração quase explodiu quando estiquei a mão e segurei a sua. Me
senti ousada e sexy ao fazer isso. Meu corpo ficou mais quente. Desisti de ler.
Axel virou a palma para cima e eu comecei a traçar suas linhas com a ponta
do meu dedo indicador. A pele era áspera e minha mão pequena se perdia
dentro da sua.
Passei a língua nos lábios tomada por uma atração física muito forte.
Tentei manter a respiração regular, mas estava difícil. Então ele começou a
acariciar as veias do meu pulso, deixando seu dedo escorregar para cima.
Era só um gesto simples, um carinho inocente, mas me fazia imaginar e
sentir um monte de coisas nada inocentes. Seu dedo continuou subindo, e eu
escorreguei na poltrona até apoiar a nuca no encosto macio. Quando ele
atingiu meu ombro, partes bem distintas do meu corpo começaram a palpitar.
Apertei as coxas ao senti-lo tocar meu pescoço e escorregar pelo meu decote.
Arfei quando o dedo passou sobre meu seio, por cima da blusa. Lambi os
lábios desejando com todas as forças que Axel não parasse.
— Tem alguém vindo? — perguntou com um sussurro, passando o dedo
por baixo da blusa, em volta do meu umbigo. Sua vozme fez incendiar.
— Não — respondi ao olhar para a escada.
O senti se aproximar, o rosto se inclinando na minha direção. A ponta do
seu nariz encostou no meu pescoço. Estremeci e arfei enquanto ele percorria
do meu maxilar até a clavícula.
Não era mais só um dedo. Sua mão estava entrando no cos do meu short.
Não havia nenhuma parte de mim que queria que Axel parasse.
— O que está fazendo? — perguntei baixinho.
Axel se afastou e nos encaramos.
— Estou cheirando você, Lucy.
Ouvi-lo pronunciar meu nome me fez perder o resto da razão, se é que
ainda havia alguma.
— E o que achou do meu cheiro?
— Amazing. — Sua resposta em inglês foi fatal.
Perdi a consciência e me virei na sua direção. O interior das minhas
coxas formigava, minha calcinha estava molhada e quando me movi, senti
uma sensação de prazer e pecado. Coloquei a mão livre no seu ombro e senti
seu cheiro delicioso, mordi seu lóbulo e gemi baixinho.
— Eu quero… — comecei a dizer, mas fui interrompida por uma voz
que chamava meu nome no Nextel.
Era Ariele, uma amiga que estava estagiando como assistente do Caleb
Hayden.
Pisquei os olhos e me afastei de Axel. O que diabos tinha acontecido
entre nós?
— Fala. — Atendi o rádio.
— Bom dia para você também! — Ariele disse com sarcasmos. — Está
ocupada?
— Bom dia. Estou na cidade com Axel Hansson. Precisa de alguma
coisa? — falei tentando parecer o mais profissional possível.
— Só liguei para saber se tinha alguma novidade. A gente conversa
depois. Beijo.
— Beijo — respondi ficando de pé e enfiando o rádio no bolso logo em
seguida. Me virei para Axel. — Não sei o que falaram para você sobre as
assistentes, mas não sou essa garota que você está imaginando. Queria me
comprar com livros? Procura outra. Só quero cumprir meu papel de
assistente. Por favor, não misture as coisas.
Sem esperar sua resposta, segui para as escadas e saí da livraria, o
deixando para trás. Entrei no carro e bati a porta com força.
— Merda! — praguejei sem me importar com as perguntas do motorista
sobre onde estava o DJ.
O pior não era ele ter dado em cima de mim e tentado me impressionar
com todo aquele papo de leitor. Não! O pior era saber que eu estava caindo
no seu jogo, que estava gostando e querendo mais.
Precisava me concentrar nos meus deveres, manter o foco, lembrar de
quem eu era e a carreira que queria seguir. Não podia ficar deslumbrada,
tinha que manter meus pés no chão.
Alguns minutos depois de ter deixado a livraria, Axel abriu a porta do
carro e, com a ajuda de um funcionário, colocou pilhas de livros no banco ao
meu lado. Deu uma nota de cinquenta reais para o rapaz e entrou no carro.
Passando os olhos pelas capas, vi os que ele tinha escolhido para me dar.
— Já falei que não vou aceitar esses livros — murmurei.
— Não são para você — ele respondeu com a voz tão áspera e
indiferente que eu quase voei no seu pescoço e o estrangulei. Como alguém
podia ser tão metido?
Estava tão furiosa que minhas mãos tremiam. A ideia de que ele ia fazer
o mesmo jogo com outra garota me deixava louca. Pensei em matá-lo, mas
me controlei e consegui ignorá-lo durante a viagem de volta para o Colline
Hotel.
♫♫♫
No restaurante do hotel, na hora do almoço, os três se reuniram para
comer e conversar. Sentei junto com eles e fiquei feliz por Vincent Cavallari
e Guto Bergman me tratarem muito bem e me deixarem participar da
conversa, enquanto Axel Metido Hansson fazia uma chamada de vídeo com a
digníssima esposa.
Mas na hora da sobremesa, os dois começaram a mexer nos celulares.
Sentia uma coisa ruim no estômago ao ver os olhos de Axel grudados na tela
do iPhone, mas não conseguia desviar a atenção da cena. Ele a olhava como
se ela fosse a única mulher no mundo, e me irritava saber que ele tinha feito
toda aquela palhaçada de manhã e que agora não dava a mínima para mim.
Me irritava mais ainda perceber o quando eu estava o deixando me afetar.
— Já está apaixonada? — O sussurro de Ariele contra meu ouvido me
fez saltar na cadeira.
— O que? — perguntei mais alto do que pretendia.
Agachada ao meu lado, ela o indicou com o queixo.
— Você está olhando para Axel Hansson como uma boba apaixonada —
cochichou para que só eu ouvisse.
— Começou a usar drogas? — perguntei com ironia. — Você só pode
estar drogada para falar uma merda dessas.
— Não se faça de besta! Não culpo você, ele tem cara de quem tem um
beijo muito gostoso — ela sussurrou com malícia.
Dei um tapa nada delicado no seu ombro.
— Ai! — ela gritou, o que fez com que os três nos olhassem.
— Essa é Ariele, assistente de Caleb Hayden — a apresentei depressa
para os rapazes da banda. — Ela é uma grande fã de vocês.
A indiscreta da minha melhor amiga os cumprimentou, um a um, com
um abraço e um beijo no rosto, antes de dizer que precisava ir. Por sorte, não
tinha dado nenhuma demonstração de tietagem, o que era contra as regras dos
assistentes.
— Não sei se você pesquisou no Google sobre eles — ela sussurrou no
meu ouvido ao se despedir de mim —, mas, caso não tenha feito, saiba que
Axel é casado. Tem até filho.
— Vou matar você! — gritei descontrolada com as idiotices dela. —
Juro que vou!
— Tem alface grudado no seu aparelho — ela ainda teve o atrevimento
de dizer em alto e bom som antes de se afastar.
Quase a chamei de vaca, mas estava ocupada passando a língua nos
dentes e abrindo a câmera frontal do celular, só para constatar que ela tinha
blefado.
Vincent estava rindo.
— Vocês devem ser muito amigas para serem tão gentis uma com a outra
— ele brincou.
— Você nem faz ideia — respondi.
Me policiei para não deixar Axel entrar no meu campo de visão
novamente.
♫♫♫
Já conseguiu o piano que te pedi? — Guto Bergman perguntou ao se
virar para mim na sua cadeira giratória do estúdio gelado.
— Ainda não — respondi no susto. Durante o dia, fiquei tão distraída
odiando Axel que tinha esquecido de fazer isso. — Mas já estou
providenciando.
Era mentira.
Urgh!
Ele concordou com a cabeça e me pediu para buscar bebidas e petiscos.
O loiro egocêntrico do Swedish Legends me seguiu até o elevador. Por
sorte, havia duas garotas lá dentro. Ambas eram ruivas, uma de cabelo
vermelho e a outra acobreado. As cumprimentei e tentei ficar o mais distante
de Axel possível. Ele usava jeans escuro e uma camiseta preta. Meus olhos
foram atraídos para sua bunda, mas consegui me controlar. Sorri vitoriosa.
No segundo andar, as garotas saíram do elevador, nos deixando a sós.
— Menti sobre os livros — ele disse assim que as portas se fecharam.
— Não quero saber — murmurei de cara amarrada.
— Eles são para você — Axel continuou como se eu não tivesse dito
nada.
— Não quero livro nenhum.
— Sei que quer. Não tive a intenção de te ofender e jamais tentaria
impressionar uma garota com livros.
— Eu. Não. Quero. Saber! — Pronunciei cada palavra devagar para que
ele entendesse.
Chegamos ao andar onde estava localizada a cozinha e seguimos para a
despensa. Quando entramos, tratei de encher uma grande sacola com
salgadinhos e outros petiscos o mais rápido que consegui.
— Não pensei nada de ruim sobre você, Lucy — ele falou para chamar
minha atenção. — Tudo que penso sobre você é que é linda e muito
inteligente.
Pisquei os olhos, sem encará-lo, e mordi o lábio inferior.
— Não pensou que eu fosse uma dessas mulheres oportunistas? —
perguntei ciente de que ele não ia me deixar em paz se eu não fingisse que
estava acreditando nas suas palavras.
— Tudo que eu pensei quando te vi foi: essa é o tipo de garota que nunca
ficaria com alguém como eu.
Ele disse de um jeito tímido e fofo. Se estava sendo falso, era um ótimo
ator.
— Por que você é casado — eu disse largando a sacola de petiscos sobre
a bancada de mármore.
— Não é por isso. — Axel sorriu e olhou para o chão. Suas bochechas
ficaram rosadas. Eu precisava admitir que seu sorriso tímido era um charme.
— E pelo que, então? — eu quis saber.
— Deixa para lá.
Aquilo derrubou minha guarda, se é que ainda existia alguma. A
curiosidade falou mais alto.
— Eu quero saber — falei segurando sua mão num ato impensado.
Era a terceira

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