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AULA 1 GESTÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Profª Andrea Arruda Vaz 02 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo a esta disciplina! Neste momento se imagine envolvido em um conflito corporativo em que as dimensões e a complexidade o cegam, a ponto de você já não conseguir olhar o problema com os olhos da racionalidade. E ainda se imagine vivenciando e tendo que apresentar respostas a uma situação de conflito em que todas as partes envolvidas aparentemente possuem suas razões e conseguem justificar que dentro daquele contexto são portadoras da razão. Imagine que você foi escolhido pela autoridade máxima da empresa em que trabalha para buscar uma solução para os conflitos em determinado departamento e que, independentemente da solução, isso irá de encontro com os princípios que estruturam a organização. E agora, como proceder? Você, como gestor de Recursos Humanos, por vezes, senão diariamente, será colocado em situações conflituosas, que nem sequer dizem respeito ao seu setor. Em determinados momentos, ao departamento de Recursos Humanos é dada a incumbência de descobrir os motivos da baixa produtividade, ou da rotatividade de pessoal, em outros departamentos da empresa. Isso pode lhe colocar em contato com profissionais dos mais diversos ramos científicos, assim como com conflitos técnicos de ordem até mesmo desconhecida. Este módulo apresentará a caracterização e conceituação do conflito sob a ótica dos conflitos e seu nascimento e desenvolvimento ao longo da história. É imprescindível conhecer o desenvolver histórico, para compreender os atuais delineares do instituto. A teoria evolutiva dos conflitos ao longo da história nos apresentará o modo como a sociedade lidou com os conflitos no transcorrer da história, assim como o surgimento da gestão de conflitos como meio de pacificação nos ambientes corporativos: surgimento e estruturação das formas de solução. O conflito e suas dimensões de complexidade, instabilidade e intersubjetividade também serão objeto de estudo no presente módulo, assim como a pesquisa apresentará algumas soluções e respostas possíveis ao conflito corporativo no Brasil. Apresentar-se-á uma visão voltada ao Departamento de Recursos Humanos. É nesse sentido que a disciplina Gestão e Mediação de conflitos lhe trará um suporte completo e eficiente. Primeiro precisaremos entender o que é o conflito 03 e o seu surgimento. Após, passaremos a estudar técnicas e métodos para solução de conflitos, nos mais diversos ambientes corporativos. Os estudos sempre estarão pautados em apresentações teóricas, aliadas a práticas e análises de casos. Esperamos que você goste! Afinal, é o conhecimento que move o mundo! O conhecimento é asa, para nos levar até nossos mais altos sonhos! Excelente módulo! CONTEXTUALIZANDO Conflito é igual a dissenso/falta de consenso/incompatibilidade/antagonismo. Ele decorre de uma divergência de entendimento, opinião ou interesse, sejam eles materiais ou não (Vasconcelos, 2017). O conflito decorre das contingências e da condição humana por si só. Ademais, é inerente à existência humana. A parte oposta é denominada parte adversária, contrária, e às vezes até inimiga. A forma como se define o outro lado, ou os outros lados, do conflito, depende muito da forma com que o enfrentamos. No âmbito de uma situação de conflito é natural que cada parte busque fundamentar, fortalecer e consolidar sua posição de forma unilateral, o que dificulta a busca por uma solução comum. A busca pela fundamentação ideal para se encontrar a razão no conflito pode levar as partes ao afastamento e com isso o distanciamento de uma solução. O conflito é fruto de opiniões e posições diferentes e divergentes, porém o conflito não pode ser encarado negativamente, mas como um fenômeno inerente à condição humana, logo, muitos deles inevitáveis. A visualização e a consciência de que o conflito é inerente à existência humana nos ajudam a compreender melhor os meios de solucioná-los, assim como o leque de opções de que naturalmente se dispõe para a busca de uma solução. Tal percepção é necessária para que o ser humano crie habilidades autocompositivas, evitando a conversão do conflito em confronto e violência. A solução transformadora do conflito exige o reconhecimento das diferenças e divergências de posições e opiniões, assim como dos pontos comuns e contraditórios. A possibilidade de solução pacífica do conflito exige uma reflexão consciente a respeito dos principais pontos do conflito, do comportamento das partes, assim como um repensar do conflito em si, agora com buscas a soluções 04 e possibilidades. Ademais, até o comportamento de uma ou ambas as partes interfere diretamente na busca pela solução. TEMA 1 – A CARACTERIZAÇÃO E CONCEITUAÇÃO DO CONFLITO As relações interpessoais em seu plexo de pluralidade e intensidade de percepções ampliam as “vivências de conflitos” (Vasconcelos, 2017, p. 22). A forma como as partes conduzem os conflitos e suas particularidades, se não for um atuar consciente e pautado num cuidado com a parte contrária, pode gerar outros conflitos, ou ainda aumentar o já existente. Para o dicionário, violência é a ação ou efeito de empregar força física ou ainda de utilizar a intimidação moral contra outrem. Para Vasconcelos, “As pessoas matariam menos se fossem reconhecidas em seu sofrimento e escutadas em sua dor”. A falta de se ouvir o conflito do outro o leva em forma escalonada em direção ao confronto e à violência, pois se vive numa sociedade dominada pela cultura da culpa, do julgamento e do castigo (2017, p. 23). Em tempos de modernidade e democratização da informação e dos meios de comunicação, as pessoas não mais estão acostumadas a ouvir, a entender, e a se colocar no lugar do outro. Proferir julgamento e até mesmo juízos de valor é uma atitude bem mais fácil e até mesmo confortável. Os conflitos decorrem de processos relacionais interpessoais voltados a crenças, sentimentos, cultura, comportamento, entre outros. Os conflitos acontecem no seio das relações interpessoais, seja por conta de crenças, cultura ou outro fator. Aproximando do tema proposto, em um departamento de Recursos Humanos, os conflitos podem ter os mais diversos temas, a exemplo: O empregado que, por conta de sua prática religiosa, se nega a trabalhar aos sábados. O empregado que, em função da esposa ciumenta, se nega a trabalhar extraordinariamente, para evitar conflitos familiares. O empregado que semanalmente precisa se ausentar para levar o filho para fazer hemodiálise no hospital público da cidade. O que se percebe é que os três exemplos decorrem de situações comuns e relacionadas a crenças, comportamento, sentimento e, até mesmo, imposições da vida. Ao RH cumpre dar respostas a tais questões, de modo a resolver os conflitos aí existentes, fazendo com que os empregados em questão atendam aos interesses da empresa, especialmente. 05 Os conflitos, segundo Vasconcelos (2017, p. 25), decorrem da convivência social e das contradições humanas e se subdividem em: I. Conflitos de valores – Diferenças morais, ideológicas, religiosas etc. II. Conflitos de informação – Relacionados a informações incompletas, distorcidas ou com conotações distorcidas ou até mesmo contraditórias. III. Conflitos estruturais – Diferenças sociais, políticas e econômicas. IV. Conflitos de interesses – Reivindicações de bens e direitos com interesses comuns ou contraditórios. Quando o assunto é conflito de valores, imediatamente vem à mente uma série de elementos, como, por exemplo, paz, responsabilidade, liberdade, amor, união, felicidade, tolerância, cooperação, honestidade, respeito, simplicidade, humildade, entre outros. Os itens exemplificativamente lançados na figura acima podem nos trazer à baila uma série de conflitos em que ambas as partes possuemsuas razões, assim como a discussão de preceitos morais e éticos, por vezes. Para ilustrar as possibilidades de conflitos de informação, vamos analisar a ilustração a seguir. Figura 1 – Qualidade da informação No caso em tela, é apenas um exemplo das possibilidades conflituais envolvendo a transmissão de informações. Estas podem ter ou não validade, determinado grau de relevância e precisão, entre outros aspectos. Todo esse 06 aparato pode ser objeto de discussões, inclusive em nível de Recursos Humanos. Exemplo: Como explicar para quem exerce o cargo de analista de TI que somente quem exerce o cargo de analista de tecnologia receberá um adicional à remuneração, por desenvolver determinado sistema? Certamente tais empregados questionarão e argumentarão. Quiçá não levem a discussão ao poder judiciário. No exemplo em tela se discute a abrangência do cargo e o valor agregado a determinada função. Ainda, os conflitos podem decorrer de diferenças e divergências estruturais, relacionadas à condição social, política e principalmente econômica. A ilustração a seguir é uma demonstração nítida do assunto. Figura 3 – Charge Já os conflitos de interesse se referem a reivindicações de bens e direitos. Tais reivindicações podem ter interesses comuns ou contraditórios. O vídeo “Conflitos na empresa” demonstra ilustrativamente a ocorrência do conflito de interesse no ambiente corporativo1. O Departamento de Recursos Humanos se deparará diariamente com conflitos de interesse e, por vezes, contraditórios aos interesses da empresa ou do empregado. Administrar e solucionar o conflito, de modo que todo o sistema organizacional continue a funcionar eficientemente, é a tarefa. 1 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LOSgctKoFHw>. Acesso em: 3 abr. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=LOSgctKoFHw 07 Os conflitos sempre existirão, pois é inerente à condição humana, podendo ser vistos como problemas e oportunidades. Uma sociedade da cultura da paz lida construtivamente com o conflito, obtendo com isso crescimento nas relações sociais e interpessoais. O desenvolvimento de métodos e formas para lidar com os conflitos, independentemente da magnitude, o fará um profissional de destaque e sucesso, no âmbito do departamento de Recursos Humanos. Um gestor de recursos humanos que possui uma compreensão acerca da forma de tratar e solucionar os conflitos é um profissional disputado no meio empresarial. Para isso, vamos compreender melhor o conflito, sua história e os métodos para soluções pacíficas e edificantes para as partes envolvidas. TEMA 2 – A TEORIA EVOLUTIVA DOS CONFLITOS AO LONGO DA HISTÓRIA Neste tópico, apresentaremos a evolução histórica do conflito, seu surgimento e estruturação, ademais, é necessário conhecer as raízes, para se compreender a atual teia teórica que envolve a solução de conflitos em pleno século XXI. A teoria evolutiva dos conflitos é subjetiva, varia de acordo com a circunstância histórica, social, cultural e econômica. A maioria dos conflitos da história da humanidade aconteceu em períodos de nomadismo. Os nômades viviam em espaços em tese ilimitados e com recursos limitados a coleta, caça e pesca. Não existiam castas, classes sociais, hierarquias ou Estados. Estima-se que tais povos existiram em torno de dez mil anos atrás e, depois, tais comunidades foram substituídas por sociedades sedentárias. Nesse período os conflitos eram mediados pela própria comunidade, sob coordenação de lideranças comunitárias. Nesse momento da humanidade as relações humanas eram pouco complexas e na forma horizontalizada (Vasconcelos, 2017, p. 26). Nas comunidades sedentárias há, em geral, o apossamento das terras e animais domesticáveis, acúmulo de riquezas, escravidão, guerras e conflitos de cunho econômico ou não. Neste sistema de organização social surgem as separações por castas, religião, costumes... Com a estruturação social do movimento chamado de sedentarismo, a violência foi convertida em instrumento de poder em que os mais fortes, hábeis e corajosos exercem o poder e a dominação sobre os mais frágeis. 08 Junto com a organização, o patrimonialismo, dentro de suas variantes, promove expressivo aumento dos conflitos e da violência entre os povos. Conflitos de ordem pessoal, estatal, familiar, religiosa, patrimonialista, ideológica... entre outros. A história da formação da humanidade se constrói sob conflitos. A história da humanidade é uma história de conflitos. O próprio cristianismo possui inúmeras passagens de conflitos e violência em geral. A prova está no antigo testamento, onde se podem encontrar diversos conflitos envolvendo tribos, comunidades e pessoas nas mais diversas situações. Com as navegações e o desenvolvimento do comércio, a partir do século XVI, o poder se desloca para os senhores territoriais, capitães dos mares e para grandes capitalistas. Aqui começam as distinções entre ética, moral, jurídico e religioso, e surge, na sequência, a escrita. A escrita, o rádio, a TV, os meios audiovisuais de comunicação social, as revoluções, como, por exemplo, a Revolução Francesa (1789-1799) e a Revolução Americana (1765-1783) e demais processos civilizatórios, geram condições, de forma sucinta, para o surgimento dos Estados Democráticos de Direito (Vasconcelos, 2017, p. 26-29). Com a Revolução Industrial (período em torno de 1760 a 1840), o comércio e a cultura escrita se expandiram e juntamente com eles o desenvolvimento das cidades, aglomerações industriais, êxodo rural, entre outros fatores, foram impulsionados. Com tudo isso, a quantidade e a complexidade dos conflitos envolvendo as relações interpessoais e interinstitucionais se multiplicaram. Atualmente, em pleno século XXI, os conflitos comportam as mais diversas faces. No que concerne aos conflitos empresariais, podemos visualizar conflitos que vão desde a qualidade do serviço prestado pelo trabalhador a conflitos decorrentes da qualidade do produto importado de outro continente, que decorre de uma interpretação envolvendo, por exemplo, a ética, os costumes e até mesmo custos. 09 TEMA 3 – A GESTÃO DE CONFLITOS COMO MEIO DE PACIFICAÇÃO NOS AMBIENTES CORPORATIVOS: SURGIMENTO E ESTRUTURAÇÃO Neste tópico a abordagem será voltada a apresentar os meios de pacificação de conflitos, seu surgimento e estruturação. Segundo Vasconcelos (2017, p. 26-28), há notícias de práticas milenares de mediação advindas de culturas confucionistas, budistas, hinduístas, judaicas, cristãs, islâmicas e indígenas, mencionando que há mais de 3000 anos a China já possuía postos de mediação, denominados “Tiao Rien”. No Brasil, no meio corporativo vige a cultura patrimonialista, segundo Raymundo Faoro, citado por Vasconcelos (2017, p. 31): vige a cultura centralizadora, burocrática e corrupta – com origens num passado lusitano, ibérico e colonialista. A partir do final do século XX o conhecimento e a denominada por Vasconcelos “Revolução dos conhecimentos” propõem mudanças substanciais nas estruturas organizacionais e especialmente no modo de se conduzirem os conflitos. Ademais, o conhecimento não é compatível com posturas centralizadoras e de tomadas de decisões na unilateralidade, de um modo geral. Para Vasconcelos (2017, p. 31), há uma atenuação nas hierarquias patrimonialistas e uma deflagração de “ondas emancipatórias”. Em um mesmo momento acontecem os movimentos de emancipação feminina, lutas de igualdade, gênero, liberdade e uma maior consciência moral e política. A democratização do conhecimento e das instituições, segundo Vasconcelos (2017, p. 31), aliada à expansão da tecnologia, instiga e ao mesmo tempo constrange os cidadãos com limitação econômica e social. Os clamores ecológicos ganham espaço. O próprio ato de empreenderganha uma nova roupagem, ademais atualmente as empresas devem ter função social, atendimento a legislações ambientais e até mesmo normas internacionais, por exemplo. 010 É um paradoxo, pois multidões até então excluídas do conhecimento, com a expansão da tecnologia, são incluídas na teia do conhecimento, ainda que do ponto de vista formal. Ademais, por exemplo, ainda que o acesso à internet tenha se tornado algo fácil, de custo baixo, não implica dizer que todas as pessoas terão condições de custear com a compra do acesso. Segundo Vasconcelos, surge o fenômeno da emancipação social e o que ele chama de neonomadismo virtual (2017, p. 32). A velocidade da informação muda totalmente e diariamente se podem receber, quase que instantaneamente, notícias dos mais diversos locais do planeta. Para Vasconcelos (2017), sob esta globalização comunicativa, a cidadania vai se universalizando e passa a ostentar uma consciência mais clara do seu direito a uma vida digna, com aspiração de acesso a igual liberdade, inclusive para divergir, e a uma igualdade de oportunidades, inclusive, eventualmente, para a prática do ilícito. Todo esse movimento combina com a continuidade dos conflitos já existentes, e também está em consonância com o nascimento de novos e diversificados conflitos. A tecnologia, por exemplo, trouxe um arsenal de conflitos de ordem cibernética, envolvendo a violação de redes e práticas até criminosas, assim como no meio empresarial se tem a comunicação por meio das mais diversas tecnologias, negociações nacionais e internacionais, trabalhadores que prestam serviços de forma telepresencial, entre outras questões cotidianas e que podem gerar conflitos. Segundo Vasconcelos (2017, p. 32), velhos conflitos estão relacionados à posse e controle de bens materiais, em geral, e novos conflitos são relativos a acesso e compartilhamento de bens e “oportunidades do conhecimento, à oralidade persuasiva, à consciência da intersubjetividade”. Estes como paradigmas de horizontalidade e aqueles fundados numa maior hierarquia e unilateralidade. 011 Esse movimento todo de conhecimento e acesso a informação enfrenta desafios e, segundo Vasconcelos (2017, p. 33), o embrutecimento das pessoas, que se tornam rudes, cínicas e socialmente alienadas em suas solidões. Tais modos de vida se convertem em frustrações, tédio, impaciência, depressões, revoltas e mesmo na prática de atos violentos e até criminosos. TEMA 4 – O CONFLITO E SUAS DIMENSÕES DE COMPLEXIDADE, INSTABILIDADE E INTERSUBJETIVIDADE Neste tópico vamos abordar o conflito e suas dimensões, assim como sua complexidade, instabilidade e intersubjetividade. A compreensão das dimensões dos conflitos é importante para a busca por uma solução efetiva e que contemple efetivamente as duas partes. Ademais, em casos de conflitos mais complexos, se não houver um cuidado para com a solução do problema de forma eficaz, é possível que se criem outros conflitos, decorrentes da má condução de determinada demanda conflitual. Os conflitos devem ser compreendidos, segundo Vasconcelos (2017), como “expressões sistêmicas de padrões comportamentais”. O entendimento dos conflitos como um complexo de expressões sistêmicas e contidas dentro de um contexto maior possibilita a visualização de soluções que abarquem esse complexo todo e que ainda resguardem todo o sistema de problemas futuros. Uma atitude desastrosa pode ser a bomba propulsora para a criação de outros polos conflituais. Ainda, segundo Vasconcelos (2017, p. 41), até meados do século XX havia uma percepção do conhecimento científico dominante de que este deveria ter como meta reduzir a complexidade dos fenômenos. Havia uma busca pela simplicidade, mas tal modo foi sendo desconstruído, por meio da construção de um pensamento complexo e capaz de trabalhar com contradições, em vez de tentar excluir um ou outro polo. 012 Aqui surge um novo paradigma científico com relação ao conhecimento. O conhecimento agora deve ser compreendido e assim interpretado, com base em sua complexidade e mais, com base em novos paradigmas. A velocidade da informação desloca o conhecimento para uma plataforma de imediatismo e abundância de informações, problemas e soluções, que surgem a todo instante. O primeiro aspecto desse novo paradigma remete à ideia de complexidade, compreendendo sistemas complexos e de uma forma contextualizada, interconectada, numa teia de sistemas e conexões. Esse novo paradigma científico nos remete à dimensão de instabilidade dos plexos e de sistemas que funcionam longe de um equilíbrio sistêmico (Vasconcelos, 2017, p. 44). Perceba o sistema básico de formação do departamento de Recursos Humanos: Figura 4 – Administração de pessoas 013 Um departamento de Recursos Humanos pode ter conflitos que incluam dois ou mais vieses da tabela apresentada. Os oito itens acima demonstram a teia de possibilidades de conflitos diárias. Ademais, cada item mencionado possui um emaranhado de procedimentos e pessoas envolvidas, porém, ao longo do contrato do empregado, os documentos gerados e procedimentos realizados se juntam em um só arquivo ou pasta, em regra. Tal dossiê terá a vida do empregado, caso um deles falhe, emite consequências diretas a outro departamento. Exemplo: A medicina do Trabalho deve informar ao RH a lista de empregados e o respectivo período de afastamento para tratamento de saúde, sob pena de um fechamento de folha equivocado. Um fechamento de folha equivocado pode desencadear desde uma reclamação do empregado diretamente ao RH, à diretoria da empresa e até mesmo ao sindicato da categoria, ou ainda ao Ministério do Trabalho e Emprego. Se essa situação conflituosa, aparentemente simples, não for satisfatoriamente resolvida, futuramente, pode desencadear um processo trabalhista. Qual seja, judicializou-se o conflito. O exemplo acima demonstra o complexo sistêmico que uma falha de comunicação, por exemplo, pode gerar. Assim, é importante que o gestor ou trabalhador no RH esteja sensível a analisar os conflitos e até mesmo as dúvidas, fornecendo respostas adequadas e claras ao seu interlocutor. Enfim, é importante perceber a teia sistêmica em que os procedimentos estão incluídos e compreender que o conhecimento e a democratização da informação nos apresentam diariamente conflitos que comportam desdobramentos, por vezes, inimagináveis. A visão para além do que se pode ver de imediato fará todo o diferencial na carreira do profissional de Recursos Humanos. TEMA 5 – A RESPOSTA AO CONFLITO CORPORATIVO NO BRASIL – VISÃO VOLTADA AO RH Conforme já mencionado, a era do conhecimento revolucionou o mercado e especialmente a atuação corporativa. O impulso e a velocidade da informação levaram à expansão dos negócios internacionais. As companhias em geral sofreram transformações, readequações estruturais, gestão empresarial, assim como a necessidade de se administrarem 014 os conflitos inerentes ao avanço do conhecimento e a universalização dos meios de comunicação. Nesse aspecto, “a origem dos debates sobre Governança Corporativa remete a conflitos inerentes à propriedade dispersa e à divergência entre os interesses dos sócios, executivos e o melhor interesse da empresa” (IBGC, s/d). No Brasil os conflitos surgem “e se intensificam à medida que a empresa cresce e novos sócios, sejam investidores ou herdeiros, passam a fazer parte da sociedade. Neste cenário, a Governança também busca equacionar as questões em benefício da empresa” (IBGC, s/d). A mudança estrutural da empresa pode gerar muitos conflitos e por vezes em diversos polos, uma vez que uma divergência entre sócios pode gerar a desestabilização de alguns setores e até mesmo divergências familiares. As divergências familiares decorrem do fato de que as formações societárias normalmente possuem pessoas muitopróximas e até mesmo integrantes do mesmo grupo familiar. A fundação de uma empresa familiar é muito comum no Brasil. Os conflitos daí decorrentes por vezes passam de meros conflitos para situações de violência. O modo como os conflitos são conduzidos fazem toda a diferença. Assim o investimento em modelos de gestão e aperfeiçoamento de pessoal pode ajudar no desenvolvimento de técnicas que atenuem e até mesmo solucionem os conflitos. Conflitos, por vezes de simples solução, porém, quando se misturam os interesses pessoais, profissionais e se adiciona o vínculo familiar, a tendência é para o lado da violência e até mesmo para o encerramento da atividade econômica. A governança corporativa tem como escopo criar mecanismos de incentivo e para monitoramento dos comportamentos, de modo a melhor se adequar aos interesses da empresa (IBGC). Tal mecanismo previne o desenvolvimento de conflitos de maior monta, assim como proporciona instrumentos de melhor gestão e solução dos conflitos. Na ciência da administração de empresas a organização possui dois sentidos: 1. Grupo de indivíduos associados com um objetivo comum. Exemplo: empresas, associações, órgãos do governo, ou seja, qualquer entidade pública ou privada. As organizações são compostas de estrutura física, tecnológica e pessoas (Araújo, 2008). 015 2. Modo como foi estruturado, dividido e sequenciado o trabalho (Araújo, 2008). Enfim, tal forma de organização também se aplica ao departamento de Recursos Humanos, se visto como um todo. Dentro do setor como um todo, que é a estrutura física, há a tecnologia disponibilizada pela empresa e as pessoas que operarão os sistemas e instrumentos disponibilizados. Ao gestor de Recursos Humanos cabe a tarefa de dividir as atividades de acordo com a função e competências das pessoas que integram o seu departamento. FINALIZANDO Este módulo teve como objetivo apresentar uma breve base a respeito do conflito como um todo. Ainda, buscamos conceituar e apresentar os principais fundamentos e elementos que podem desencadear um conflito. Sob este viés a conceituação do conflito, identificação e a implementação de formas de solução dos mesmos, como elemento pacificador e restaurador da sociedade! Desse modo, conforme se estudou, os conflitos corporativos devem ser solucionados com base em métodos e instrumentos que possibilitem às partes prosseguir suas atividades em geral. De modo geral, importante é o estudo do surgimento e sedimentação dos conflitos, assim como a implementação de métodos para solução dos conflitos sedimenta ao longo da história a necessidade de se gerir os conflitos. Ademais, quando o conflito tem égide corporativa, há que solucionar para que não afete o andamento de determinados setores, ou atividades. O departamento de Recursos Humanos é o centralizador natural dos conflitos, ademais, toda a empresa se volta para o departamento, uma vez que este tem o condão de atender a todos os setores da empresa. Nos módulos a seguir verticalizaremos ainda mais e tornaremos as aulas ainda mais práticas e ilustrativas, proporcionando conhecimento e segurança na solução dos mais diversos conflitos corporativos, apresentados ao departamento de Recursos Humanos. Ademais, nosso foco é você, profissional de Recursos Humanos. 016 REFERÊNCIAS ARAÚJO, N. S. Conflitos nas Organizações. Administradores.com, João Pessoa, 26 maio 2008. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/conflitos-nas- organizacoes/23111>. Acesso em: 3 abr. 2018. FRIEDRICH, T. L.; WEBER, M. A. L. Gestão de conflitos: transformando conflitos organizacionais em oportunidades. CRA-RS, Porto Alegre, 14 jan. 2014. Disponível em: <http://crars.org.br/artigos_interna/gestao-de-conflitos- transformando-conflitos-organizacionais-em-oportunidades-41.html>. Acesso em: 4 abr. 2018. MATOS, G. G. de. Comunicação empresarial sem complicação: como facilitar a comunicação na empresa, pela via da cultura e do diálogo. 3. ed. rev. e ampl. Barueri: Manole, 2014. McINTYRE, S. E. Como as pessoas gerem o conflito nas organizações: Estratégias individuais negociais. Análise Psicológica, Lisboa, v. 25, n. 2, p. 295- 305, 2007. Disponível em: <http://publicacoes.ispa.pt/index.php/ap/article/ view/447/pdf>. Acesso em: 4 abr. 2018. MENDES, I. Um pouco da história da VIOLÊNCIA. Iba Mendes, [S.l.], fev. 2011. Disponível em: <http://www.ibamendes.com/2011/02/um-pouco-da-historia-da- violencia.html>. Acesso em: 3 abr. 2018. ORIGENS da Governança Corporativa. IBGC, São Paulo, [S.d.]. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/origens-da-governanca>. Acesso em: 3 abr. 2018. VASCONCELOS, C. E. de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. 5. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2017. http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/origens-da-governanca
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