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ENSAIOS MECÂNICOS Cláudia Luisa Mendes Ensaios destrutivos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Conceituar ensaios destrutivos e aplicações. � Reconhecer os ensaios destrutivos existentes. � Identificar o tipo de ensaio de acordo com a propriedade ou falha que precisa ser investigada. Introdução Muitos projetos visam desenvolver produtos caracterizados pela ca- pacidade de suportar a ação de forças ou cargas. É preciso conhecer as características dos materiais a serem utilizados, para que os projetos atendam a essas solicitações, sem que ocorram fraturas. Para conhecer as propriedades dos materiais que garantem capacidade de suportar as cargas a que serão submetidos, são aplicados ensaios em laboratórios. Esses reproduzem fielmente as possíveis condições de serviços enfren- tados pelos produtos desenvolvidos. Em sua maioria, são os ensaios conhecidos como destrutivos. Neste capítulo, você vai aprender o conceito e aplicações de ensaios destrutivos, vai conhecer os ensaios destrutivos existentes e vai aprender a identificar o tipo de ensaio de acordo com a propriedade ou falha a ser investigada. Conceito de ensaios destrutivos e aplicações Os ensaios destrutivos são os mais utilizados para determinação ou verificação das propriedades dos materiais. São também muito empregados para medir a capacidade de um componente de suportar esforços. Levam esse nome por provocar a inutilização do material ou corpo de prova em teste, mesmo que o dano pareça ser pequeno. Esse tipo de ensaio é aplicado no processo produtivo para identificar falhas e, principalmente, para determinar de forma quantitativa as propriedades mecânicas dos materiais. O conhecimento dessas propriedades, muitas vezes, só é possível quando há destruição total do material investigado. Por conta disso, na maioria das vezes em que esses ensaios se fazem necessários, são utilizados corpos de prova construídos com o mesmo material que será utilizado no projeto, atendendo a normas próprias para cada tipo de ensaio e material, ou seja, reproduzindo as condições de serviços. Nesses experimentos, deve-se levar em conta sempre a natureza da carga aplicada, a duração de sua aplicação e as condições ambientais. O tempo de aplicação da carga e a temperatura de operação são fatores muito importantes a serem considerados. As cargas aplicadas podem ser de tração, compressão, cisalhamento, flexão, torção ou uma combinação delas. Sua representação esquemática é apresentada pela Figura 1. Figura 1. Representação esquemática de esforços em materiais. Para selecionar o material adequado a cada projeto, devem-se levar em conta as combinações desejáveis de suas características mecânicas. Ensaios destrutivos existentes Os ensaios destrutivos existentes são: Ensaios destrutivos2 � tração; � compressão; � flexão e dobramento; � torção; � dureza; � fratura (impacto); � fadiga; � fluência; � cisalhamento; � estampabilidade. Ensaio de tração Segundo Callister Junior (2008), o ensaio mais executado para determinar tensão-deformação é o ensaio de tração. Ele consiste na aplicação axial grada- tiva de cargas de tração nas extremidades de um corpo de prova, especificado por norma, até sua ruptura. A deformação, durante o ensaio, fica limitada à região central, com secção uniforme do corpo de prova, por ser mais estreita. A Figura 2 mostra esse tipo de ensaio e seu corpo de prova. Figura 2. Representação esquemática do ensaio de tração com um corpo de prova padrão de seção reta circular. 3Ensaios destrutivos Ensaio de compressão Segundo Callister Junior (2008), o ensaio de compressão é semelhante ao ensaio de tração, com a diferença de a carga ser compressiva (inversa), o que gera contração no corpo de prova. De modo geral, o ensaio de compressão é um esforço axial, que tende a provocar encurtamento do corpo submetido a este esforço. Devido a isso, por convenção, a força compressiva é considerada como sendo negativa, que gera uma tensão também negativa. A Figura 3 exemplifica esse tipo de ensaio e seu corpo de prova. Figura 3. Representação esquemática do ensaio de compressão com um corpo de prova padrão de secção circular. Ensaio de flexão e dobramento Segundo Souza (1982), o ensaio de flexão e dobramento consiste em dobrar um material por intermédio de um cutelo que aplica um esforço de flexão no centro do corpo de prova até que seja atingido um ângulo de dobramento α especificado. O corpo de prova, de eixo retilíneo e secção constante, deve ser apoiado em dois pontos afastados a uma distância especificada, de acordo com o tamanho do referido corpo de prova, Ensaios destrutivos4 Quando a força provoca somente deformação elástica no material, é con- siderado esforço de flexão. Já quando a força produz deformação plástica, é considerado esforço de dobramento. Com isso, basicamente, flexão e dobra- mento são etapas diferentes da aplicação do mesmo esforço, sendo a flexão associada à fase elástica e o dobramento à fase plástica. A Figura 4 mostra o ensaio nessas duas etapas. Figura 4. Representação esquemática do ensaio de flexão e dobramento e o formato do corpo de prova antes e após os ensaios. Ensaio de torção Segundo Souza (1982), o ensaio de torção é bastante utilizado em pesquisas e aplicações específicas na Engenharia. Consiste na aplicação de uma carga rotativa em um corpo de prova, geralmente cilíndrico. A máquina de ensaio possui uma cabeça giratória, responsável pela aplicação do momento de torção, na qual uma das extremidades do corpo de prova é fixada e a outra é engastada. 5Ensaios destrutivos Esse ensaio mede, basicamente, o ângulo de deformação em função do momento torsor aplicado. A Figura 5 apresenta esse tipo de ensaio e seu corpo de prova. Figura 5. Representação esquemática do ensaio de torção com um corpo de prova padrão de secção circular. Ensaio de dureza Segundo Souza (1982), dureza, para um metalurgista, significa a resistência à deformação permanente; para um engenheiro mecânico, é a resistência à penetração de um material duro em outro; para um projetista, é base de medida para conhecer a resistência e o tratamento térmico ou mecânico de um metal e sua resistência ao desgaste; para um técnico em usinagem, fornece uma medida de resistência ao corte do metal; e para um mineralogista, finalmente, a dureza mede a resistência ao risco que um material pode fazer em outro. Desta maneira, o ensaio de dureza é dividido em três tipos principais: por risco, por choque e por penetração. Ensaios destrutivos6 Mineral Dureza Talco 1 Gispsita (gesso) 3 Calcita 9 Fluorita 21 Apatita 48 Feldspato/ortoclásito 72 Quartzo 100 Topázio 200 Corindon 400 Diamante 1.600 Tabela 1. Dureza Mohs A dureza por choque, ou dureza Shore como é conhecida, se verifica através de um ensaio dinâmico que produz impressão no corpo de prova por meio de um penetrador que colide na sua superfície plana. Essa colisão pode ser através de um pêndulo ou por queda livre de um embolo. O ensaio de dureza por choque está representado na Figura 6. Ensaios com foco na dureza por risco raramente são realizados. Sua escala de medida é dada em Mohs, que consiste em uma tabela de 10 minerais padrões colocados em ordem crescente da possibilidade de ser riscado pelo mineral seguinte. A dureza Mohs pode ser observada na Tabela 1. 7Ensaios destrutivos Figura 6. Representação esquemática do ensaio de dureza por choque. Fonte: Dureza... (2010, documento on-line). O ensaio de dureza por penetração é o mais comum nos ramos da metalurgia e da mecânica. Consiste na impressão de uma pequena marca feita por um penetrador na superfície do material. O penetrador pode ser uma esfera de aço ou uma ponta de diamante. Esse ensaio pode ser do tipo: Brinell, Rockwell, Vickers, Knoop ou Meyer. A Figura 7 mostra exemplos desses tipos de ensaio de dureza por penetração. Figura 7. Representação esquemáticados ensaios de dureza por penetração. Ensaios destrutivos8 Ensaio de impacto Segundo Souza (1982), o ensaio de impacto consiste em aplicar carga pela queda de um martelo ou pêndulo, de uma altura determinada por norma, sobre um corpo de prova definido também por norma. Os mais conhecidos ensaios de impacto são o de Charpy (EUA) e o de Izod (Europa). A diferença principal entre esses é que o corpo de prova para o ensaio de Charpy é apoiado enquanto, para o ensaio de Izod, é engastado na máquina de ensaios. A Figura 8 representa os dois esquematicamente, bem como apresenta os diferentes tipos de entalhes. Figura 8. Representação esquemática do ensaio de impacto e os diferentes corpos de provas. Fonte: Adaptada de Souza (1982, p. 84). 9Ensaios destrutivos Ensaio de fadiga Segundo Souza (1982), o ensaio de fadiga consiste na aplicação de carga cíclica em um corpo de prova normalizado. Quando submetidos a cargas repetidas, os materiais podem se romper sob exigência bem inferior à carga máxima que suportam sob tração ou compressão. Esse fenômeno é chamado de ruptura por fadiga. A Figura 9 apresenta o ensaio que investiga essa situação e o corpo de prova empregado. Figura 9. Representação esquemática do ensaio de fadiga com um corpo de prova padrão de seção circular. Ensaio de fluência Segundo Souza (1982), o ensaio de fluência consiste na aplicação de carga constante em um material durante um período elevado de tempo, submetido a altas temperaturas. Fluência é definida como a deformação plástica que ocorre em um material sob tensão constante em função do tempo. Esses ensaios são pouco utilizados, pois demandam longos períodos de tempo para sua realização. O ensaio de fluência é realizado de forma muito semelhante ao ensaio de tração, mas utiliza cargas constantes e altas temperaturas. A Figura 10 mostra esse tipo de ensaio e seu corpo de prova. Ensaios destrutivos10 Figura 10. Representação esquemática do ensaio de fluência com um corpo de prova padrão de seção reta circular. Ensaio de cisalhamento Segundo Souza (1982), o ensaio de cisalhamento é bastante utilizado em parafusos, pois esses produtos são habitualmente submetidos a esse tipo de esforço. Consiste na aplicação de cargas compressivas, ou de tração, desali- nhadas na sua secção transversal até que haja a ruptura do material. O ensaio é realizado normalmente em um produto acabado pois não existem normas para especificação dos corpos de prova. Quando é necessária a preparação de um corpo de prova, cada empresa desenvolve seu próprio modelo, em função de suas necessidades específicas. Ensaio de estampabilidade Segundo Souza (1982), o processo de estampagem envolve dois tipos de de- formações: o estiramento, que consiste em afinar a espessura de uma chapa presa na matriz, por meio de um punção; e a estampagem, que se faz pelo arrastamento de uma chapa para dentro de uma matriz, também por meio de um punção. Os mais utilizados são o ensaio de Erichsen e o ensaio de Olsen. O primeiro utiliza um punção de cabeça esférica de 20 mm de diâmetro e uma carga, aplicada no anel de fixação, de cerca de 1.000 kgf. O segundo faz uso de 11Ensaios destrutivos um punção esférico de 22,2 mm de diâmetro e corpos de prova no formato de discos de 76 mm de diâmetro. A Figura 11 exemplifica esses tipos de ensaio. Figura 11. Representação esquemática do ensaio Erichsen e Olsen. Fonte: Adaptada de Souza (1982, p. 222). Identificação do tipo de ensaio de acordo com a propriedade ou falha que precisa ser investigada Os ensaios que estamos estudando investigam as propriedades mecânicas dos materiais. Cada um deles tem como objetivo identificar o comportamento mecânico do material estudado. A seguir, apresentamos as propriedades que cada ensaio destrutivo busca conhecer. Ensaio de tração O ensaio de tração gera uma curva de carga ou força em função do alongamento, que é registrado através de um software computacional em comunicação com a máquina de ensaios. Os dados obtidos com o ensaio de tração são: � resistência à tração; � limite de escoamento; Ensaios destrutivos12 � módulo de elasticidade; � módulo de resiliência; � módulo de tenacidade; � ductilidade; � coeficiente de encruamento; � coeficiente de resistência. Qualquer falha detectada por conta dessas propriedades mecânicas pode ser investigada pelo ensaio de tração. Ensaio de compressão O ensaio de compressão gera resultados similares ao ensaio de tração. Porém, segundo Souza (1982), é mais utilizado para quantificar o comportamento mecânico do concreto, da madeira, dos compósitos e de materiais frágeis. Em metais, não é comum a utilização desse tipo de ensaio, devido à existência de atrito entre os corpos de prova e as placas da máquina, o que compromete os resultados. O ensaio de compressão, portanto, é utilizado para investigação das mesmas propriedades verificadas pelo ensaio de tração, com a particularidade de ser aplicado em materiais não metálicos. Ensaio de flexão e dobramento O ensaio de dobramento é utilizado para obter informação qualitativa sobre a ductilidade de materiais. Pode ser empregado em materiais frágeis para verificar sua resistência à flexão. Segundo Souza (1982), pode ser utilizado também para avaliar a tenacidade e resiliência desses materiais. Ensaio de torção O ensaio de torção gera uma curva momento em função do ângulo de torção registrado através de um software computacional em comunicação com a máquina de ensaio. Os dados obtidos com o ensaio de torção são: 13Ensaios destrutivos � limite de proporcionalidade; � escoamento; � momento máximo; � momento de ruptura. Quando a falha ocorre devido à torção, esse tipo de ensaio é o mais indicado para identificar o problema. Ensaio de dureza Segundo Souza (1982), esse ensaio é largamente utilizado na indústria de componentes mecânicos, tratamentos superficiais, vidros e laminados, devido à vantagem de fornecer dados quantitativos das características de resistência à deformação permanente (plástica) das peças produzidas, ou deformações superficiais nas peças após o tratamento térmico. Para saber mais sobre tratamentos térmicos, acesse o link ou o código a seguir. https://goo.gl/nmP2MQ O ensaio de dureza objetiva o conhecimento da resistência ao desgaste, o controle da qualidade de tratamentos térmicos e o controle da qualidade em processos de conformação plástica. Ensaio de impacto Segundo Souza (1982), o ensaio de impacto é um dos mais utilizados para o estudo da fratura frágil nos metais. Ele mede a energia absorvida pelo material antes de seu rompimento (fratura). Ensaios destrutivos14 https://goo.gl/nmP2MQ O ensaio de impacto é muito utilizado para a investigação de fraturas frágeis, que ocorrem em materiais dúcteis à temperatura ambiente. Isso pode ocorrer devido à presença de três principais fatores: estado triaxial de tensões; baixas temperaturas e/ou taxa elevada de deformação. Ensaio de fadiga Souza (1982) ensina que o ensaio de fadiga busca determinar quantos ciclos o material suporta antes de se deformar ou romper. Esse ensaio é muito utilizado em componentes que trabalham com cargas cíclicas e para a investigação de falhas que ocorreram por propagação de trincas. Ensaio de fluência Para Souza (1982), o objetivo do ensaio de fluência é determinar a vida útil do material e a máxima condição de uso de um produto sob tensão constante, em função do tempo, quando exposto a temperaturas elevadas. Esses ensaios são aplicados para verificação das características mecâ- nicas ou identificação de falhas em equipamentos que trabalham com altas temperaturas, como caldeiras, turbinas a vapor ou a gás, destilarias, motores, foguetes, mísseis, entre outros. Ensaio de cisalhamento Segundo Souza (1982), o ensaio de cisalhamento é realizado para determinar a resistência do material a forças cisalhantes. É muito utilizado para identificação de falhas em pinos, rebites, parafusos, cordões de solda ealgumas vezes em barras e chapas, quando trabalham com esse tipo de esforço. Ensaio de estampabilidade Para Souza (1982), o ensaio de estampabilidade tem o objetivo de investigar o comportamento do material durante o processo de fabricação, ou seja, verificar se o material utilizado é adequado ao processo. 15Ensaios destrutivos 1. Qual das alternativas indica condições de realização de ensaios mecânicos destrutivos? a) Natureza da carga aplicada, superfície limpa e temperatura ambiente. b) Duração da aplicação da carga, condições ambientais e superfície limpa. c) Natureza da carga aplicada, temperatura ambiente e geometria definida. d) Natureza da carga aplicada, duração da aplicação da carga e condições ambientais. e) Duração da aplicação da carga, geometria definida e superfície limpa. 2. Segundo Calister (2008), qual ensaio é o mais executado para determinar a curva tensão-deformação? a) Ensaio de tração. b) Ensaio de compressão. c) Ensaio de flexão. d) Ensaio de torção. e) Ensaio de dureza. 3. A imagem a seguir é representativa de qual ensaio mecânico? a) Ensaio de tração. b) Ensaio de compressão. c) Ensaio de flexão. d) Ensaio de torção. e) Ensaio de dureza. 4. Qual das alternativas indica o ensaio que consiste na aplicação de carga cíclica em um corpo de prova normalizado? a) Ensaio de impacto. b) Ensaio de fadiga. c) Ensaio de fluência. Ensaios destrutivos16 d) Ensaio de cisalhamento. e) Ensaio de estampabilidade. 5. Qual das alternativas indica o ensaio utilizado para verificação das propriedades mecânicas ou análise de falhas de equipamentos que trabalham a temperaturas elevadas? a) Ensaio de impacto. b) Ensaio de fadiga. c) Ensaio de fluência. d) Ensaio de cisalhamento. e) Ensaio de estampabilidade. CALLISTER JUNIOR, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 705 p. DUREZA shore. Blog da Mecânica, [s.l.], 21 maio 2010. Disponível em: <http://mecanica- blog.blogspot.com/2010/05/dureza-shore.html>. Acesso em: 11 jun. 2018. SOUZA, S. A. Ensaios mecânicos de materiais metálicos: fundamentos teóricos e práticos. 5. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1982. 286 p. Leitura recomendada GARCIA, A.; SPIM, J. A.; SANTOS, C. A. Ensaios dos materiais. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 384 p. 17Ensaios destrutivos http://blog.blogspot.com/2010/05/dureza-shore.html Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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