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Laura Santos a primeira poeta negra do Paraná

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Laura Santos – a primeira poeta negra do Paraná
Laura Santos – the Paraná’s first black poet 
RESUMO: Laura Santos foi uma poeta paranaense dos anos cinquenta cuja importância, além de seus poemas, foi ser a primeira poeta negra do estado do Paraná. Pouco analisada hoje em dia e fora das prateleiras das livrarias e sem perspectivas de novas edições, estudos sobre a autora urgem a serem escritos. Aqui analisaremos a obra dela, com todos os temas caros para a autora, a partir de dados biográficos, já que ser uma mulher negra no Paraná dos anos cinquenta certamente afetou sua forma de escrever e pensar o mundo. O maior tema de sua obra, a sexualidade e sensualidade, também será analisado em justaposição com seus outros temas.
Palavras-chave: Laura Santos; poesia; autora negra.
ABSTRACT: Laura Santos was born in 1950’s Brazil. She was considered to be the first black poet write poems in Paraná State. Up to now, however, her poems not be analized as they should be. And it i salso very hard to find new editions of her writings. Fulthermore there is a increasing need for academia studies regarding her poetical production. Therefore we are going to analyze from her biographical date avaliable and the historical background in the 50’s. Sexuality and sensuality are the most fundamental topics of her poemas, and they are going to be considered in justaposition with other topics.
Keywords. Laura Santos; poetry; black writer.
1. INTRODUÇÃO
	Laura Santos é uma poeta praticamente esquecida hoje no Brasil. Mesmo em Curitiba, sua cidade natal poucos sabem dela, talvez os moradores do distante bairro do Tatuquara, onde há poucos anos atrás ela recebeu sua primeira homenagem oficial em muito tempo: teve seu nome colocado em uma Casa da Leitura.
	Inclusive seu livro é muito difícil de achar, já que sua última edição de obras completas foi editada em 1990 em uma tiragem baixíssima, restando dois exemplares conhecidos, apenas um podendo ser retirado na Biblioteca Pública do Paraná. Quanto aos seus três livros originais da década de 50 estão irremediavelmente perdidos. Com dificuldades ainda é possível achar o livro do Sesquicentenário da Poesia Paranaense, organizado por Pompília Lopes dos Santos, graças à intervenção e divulgação de sua obra por uma das maiores poetas mulheres do estado e sua amiga, Helena Kolody (DOS SANTOS, 1985). Também há um livro editado em 1959 pelo Centro Feminino de Cultura do Paraná, chamado Um Século de Poesia, da mesma organizadora, onde estão todos os poemas dela, dentre tantas outras poetas femininas, mas também é um livro dificílimo de encontrar (Centro Feminino de Cultura do Paraná, 1959).
	Aqui nós procuraremos resgatar essa personagem da nossa história primeiramente através da biografia conhecida dela. Muitos fatos estão perdidos ou em esquecimento, mas algo pode ser trazido à tona para mostrar um pouco sobre quem era a poeta.
	Depois uma análise demorada de alguns de seus poemas, mostrando os seus temas, o que é necessário já que pouquíssimas pessoas, mesmo pesquisadores, hoje em dia leram os poemas de Laura Santos. Por isso traremos poemas inteiros que tratem de temas importantes da poeta para analisar, ao invés de apenas trechos.
	Para nossa análise nesse artigo levaremos em conta a identidade de Laura Santos. Há um consenso nos artigos de imprensa escritos sobre ela que o fato de ser uma mulher negra não foi importante em sua poesia. Isso foi dito por um companheiro seu das letras, o desconhecido Tornicato Miranda, ainda vivo, em entrevista e, principalmente, por Rosse Marye Bernardi, professora aposentada da Universidade Federal do Paraná, que fez o prefácio de seu livro que existe na Biblioteca Pública do Paraná editado pela Secretaria de Estado de Cultura, o que tornou ela, apesar do prefácio de apenas duas páginas, a expert em Laura Santos, que pensa, provavelmente por um resquício do New Criticism, que não há reminiscências em sua obra de sua negritude, apesar de reconhecer que Laura Santos tem uma alma feminina.
	Hoje já há uma discussão muito maior sobre o que é ser feminino. Em um artigo intitulado Fundamentos Contingentes: o feminismo e a questão do pós-modernismo, a renomada autora Judith Butler sustenta que não há um feminismo, uma identidade para todas as mulheres do mundo, como as teorias dos estudos culturais e pós-modernistas nos mostram. E para ilustrar, Butler fala do feminismo negro que vem buscando aceitação e demonstranto que é uma luta diferente dentro do feminismo branco, desde as black feminists dos anos 80 (BUTLER, 2011).
Assim, para analisar a poesia de Laura Santos temos sim que pensar que ela é uma mulher negra e não apenas isso, uma mulher negra na década de 50, menos de dez anos do Brasil continuar com escravos iguais aos de antes de 1888, ano da alforria legal, como mostra o documentário Menino 23: infâncias perdidas no Brasil (MENINO, 2016), em uma época em que a eugenia, apesar de contestada, ainda era muito estudada e de haver um projeto nacional e local de embranquecimento pela miscigenação.
Não podemos esquecer o movimento paranista, de Romário Martins, e mesmo a ideia de que Curitiba é a Europa Brasileira pela falácia de não ter negros, apenas imigrantes europeus, notadamente, italianos, alemães e ucranianos, que rejeitam a negritude local.
Assim, depois de analisar os temas de seus poemas, temos que vê-los por que aparecem na obra da primeira poeta negra de um estado e uma cidade que excluem de sua história e mesmo do seu presente o negro, além de estarem situados em um local periférico na cultura nacional.
Pretendemos mostrar na parte final do artigo que a poesia de Laura, e o próprio ato de escrever, publicar e ser ativa na vida cultural local, é um ato revolucionário e de resistência da poeta que está marcada em sua obra e, mesmo que de forma contida, em seus temas.
2. VIDA
	Como foi dito, não é muito que se sabe da vida da autora, mas achamos que é necessária uma explanação sobre ela pela própria falta de conhecimento do público e de especialistas sobre a poeta. Sobre o vácuo de informação podemos dizer que até os detentores de direitos da obra de Laura Santos ajudam nesse esquecimento, já que seus netos não aceitam documentários sobre Laura. Por isso ainda há muito a se descobrir sobre ela.
Nasceu em uma família humilde, mas não pobre. Aparentemente tem acesso a leitura desde jovem, seja no colégio, seja em casa, já que escreve seu primeiro soneto, Aspiração, ainda muito jovem, com 13 anos. Esse poema e mesmo o resto de sua obra tem influência de Olavo Bilac, o que mostra que a poeta tinha conhecimento, desde os 13 anos, dos autores parnasianos.
Pensando na década de 50, podemos achar que os autores dessa geração deviam ter lido os modernistas e que estivessem escrevendo uma poesia mais antenada com a melhor poética contemporânea mundial, mas não, basta lembrar o atraso, por sorte esquecido, que foi a Geração de 45, onde todos autores negam ter participado da geração posteriormente, menos talvez o sempre orgulhoso Ledo Ivo. Sobre a leitura dos modernistas paulistas de 22 e a possibilidade de Laura Santos ser engajada com um tipo de poesia como a dessa geração veremos depois.
Como a maioria das mulheres que precisavam trabalhar na sua época, Laura Santos foi fazer magistério e virar professora do antigo primário, de matemática e língua portuguesa. No entanto ela larga o trabalho para tentar a outra profissão exercida por mulheres nessa época, a de enfermeira. Entretanto essa escolha é por um motivo avançado: ela quer ajudar os soldados aliados na Segunda Guerra Mundial. Apesar do desejo ela fica esperando como voluntária, mas a guerra acaba antes dela ser chamada para a Europa. Provavelmente sua poesia teria mudado muito com a experiência, mas o fato é que ela acaba trabalhando como sanitarista para a Secretaria Municipal de Saúde depois de 1945.
Paralelamente a isso Laura sempre continua produzindo, tendo em 1937 ganhado o prêmio da Base Aérea do Bacacheri, em Curitiba, com o ensaio Evolução da Aviação, além de ser correspondentefrequente dos jornais Gazeta do Povo e do extinto Diário da Tarde. O ensaio, os textos do Diário da Tarde, seu primeiro poema e mesmo os textos para a ainda existente Gazeta do Povo estão perdidos e apenas uma pesquisa no seu arquivo pessoal, que está com seus netos, permitiria sua descoberta.
Além de figurar dessa maneira na cultura local, Laura Santos foi próxima de diversos poetas de sua geração, a maioria dos quais tem inclusive uma obra menor que ela. Uma mostra disso é que ela fundou a Academia Paranaense José de Alencar – muitos podem ver a ironia de uma negra ter participado da fundação de algo com o nome de alguém que escreveu algo como Cartas a Favor Escravidão – que ainda existe até hoje, embora não tenha mais sede própria. 
Morreu em 1981, com 62 anos, ignorada pela imprensa local, sem nem direito a uma nota no obituário dos jornais locais.
3. OBRA
Vamos tratar de alguns temas caros de sua obra aqui que serão a noite, o feminino, a negritude, o amor e o sexo, a libertação, mas antes vamos colocar Laura Santos no seu espaço poético.
3.1 LOCAL NA LITERATURA BRASILEIRA
Seus três livros de poesia foram lançados em 1953, o que a colocaria na Geração de 45, assim como o uso que ela faz das métricas e das rimas.
A Geração de 45 foi uma geração perdida da literatura brasileira. No começo, alguns bons poetas foram colocados dentro dela, como José Paulo Paes e João Cabral de Melo Neto, mas todos esses poetas com qualidades literárias negaram sua participação. 
Em um artigo, o então professor da Universidade Federal do Paraná, Edson José da Costa, intitulado A Geração de 45, cita José Merquior, que em 1962 teria dito que essa geração teria cometido o crime de trair a poesia brasileira. Nesse artigo, Costa tenta mostrar que a maioria dos poetas foram colocados nessa geração por ordem cronológica apenas, a partir do 1º Congresso Paulista de Poesia, em 1948 (DA COSTA, 1998). Assim até Décio Pignatari e Haroldo de Campos foram considerados desse grupo. Cronologicamente, Laura Santos pertenceria a esse grupo, mas veremos que dois motivos a afastaram bastante dele.
Em primeiro lugar a poesia de Laura Santos tem uma tentativa de erotização, que veremos mais adiante, falha por vezes, porém por motivos muito mais sociológicos do que estéticos. A Geração de 45 queria voltar ao parnasianismo em seus motivos e temas, um parnasianismo pós-segunda guerra, mas ainda sim um parnasianismo. No pensamento dessas pessoas um movimento literário sempre quebra com o outro em um movimento de volta, assim a clareza árcade é jogada fora no rompante sentimental romântico, mas retomada no naturalismo e no realismo. Nada mais normal para eles, que não percebiam que viviam em um mundo onde tudo que é sólido se desmancha no ar, do que a oralidade prosaica e pouco poética (para os padrões de quem pensava a beleza como pura e objeto do poema) feita pelos Modernistas de 22, fossem quebrados retomando certos modos parnasianos. Como ressalta Costa a construção poética em formas rígidas se opondo com a construção da realidade prática, cultuando a beleza acima de tudo, o que acaba por tornar o poeta um mero esteta, a busca pelo vocabulário nobre, a imagem rara tornando o verso mais importante que o lirismo eram os dogmas dessa geração.
Olhando os poemas presentes na Antologia da Nova Literatura Brasileira, de Fernando Ferreira de Loanda, vemos que os poetas falharam até nessa busca, fazendo apenas uma poesia piegas.
Laura Santos, por vezes, cai no piegas, mas não pelo motivo de querer ser uma esteta, ou de buscar uma rima rara, ou de esculpir os poemas até não poder mais, mas muito mais pelos temas e pela forma como ela é obrigada a tratar o amor e o sexo, algo que acaba incompleto dentro de sua identidade.
Outro motivo é que o Modernismo de 22 não chegou com força no Paraná até aquela época. Vendo antologias, nossos poetas ainda estavam presos a formas mais arcaicas, como a parnasiana. Isso ocorreu por causa da lentidão da informação chegar até aqui e pela força que outro movimento teve no estado, movimento também metrificado e com busca pelo belo, embora a busca seja a partir do belo da morte e da dor: o Simbolismo Paranaense, de nomes como Dario Veloso, Nestor Victor e Emiliano Perneta, que marcaram a poesia local até a década de 30, deixando pouco espaço para o novo da Semana de 22 entrar o estado.
A poesia de Laura Santos poderia parecer, um pouco, com a da Geração de 45, mas era por causa que o estado, quando ela se formava poeta (não esqueçamos que escreveu seu primeiro poema em 32 e aos 37 anos ganhou um prêmio com um ensaio) o que se lia no Paraná era de Bilac à Perneta. Assim Olavo Bilac, torna-se seu grande mentor intelectual e molda a forma poética de Laura Santos. Laura não era da Geração de 45, era apenas profundamente influenciada por um parnasiano.
Entretanto, apesar da forma fortemente influenciada pelos parnasianos, nos temas isso não ocorre. Vejamos o erotismo, o traço máximo de sua poesia. Na já citada antologia de Loanda vemos que o poema que mais se aproxima do erótico é uma poesia cômica (claramente sem a intenção do autor) onde o eu lírico vê sua mulher no obstetra e fica profundamente consternado e envergonhado em ver que a sua flor é invadida por outra pessoa que não ele, o marido. Um poema onde o tema é o ciúmes que um marido sente pela esposa por causa de um exame ginecológico que ela faz, chamado O Ginecologista, escrito por Bueno de Rivera. Laura Santos fala do amor, de uma tentativa – raras vezes alcançada – de partir desse amor para o sexo, do desejo que esse amor trás e da sua solidão, tema que jamais seriam caros a Geração de 45.
Agora trataremos de alguns temas. Mesmo não analisando de forma total os poemas, colocaremos eles inteiros, e não trechos, para a visualização da obra da poeta tão pouco conhecida. 
3.2 A NOITE
Um dos livros lançados em 1953 pela autora chamava-se Poemas da Noite onde, supõe-se, estão os poemas mais antigos da autora publicados. Todos têm em comum passarem-se de noite, num desejo ardente, muitas vezes sexual, desejo esse que, no entanto, não se realiza. 
O nome dos poemas desse pequeno livro segue uma regra, são numerados de primeiro ao quinto. Vamos analisar aqui o Segundo Poema:
SEGUNDO POEMA
1 Dentro da noite agreste e sem luar
2 ardente
3 e singular,
4 quando um silêncio enorme envolve a natureza
5 e os vagalumes tremeluzem doidamente
6 é que me sinto presa
7 pelo polvo sensual do desejo...
8 Sinto o sabor de um beijo,
9 que nos meus lábios vibra
10 e se estorce fremente
11 a revolver
12 fibra por fibra
13 meu nervótico ser.
14 Dentro da noite agreste e sem luar
15 de um torpor 
16 singular,
17 é que minha alma errática, procura
18 o teu amor
19 – falena seduzida
20 pela chama patente da ilusão – 
21 sem compreender,
22 no entanto,
23 não haver
24 retribuição de vida
25 a seu fervente e desvairado encanto...
26 É uma sombra perdida
27 dentro da noite escura
28 e no teu coração.
	Podemos já notar a sensualidade dos seus poemas, desde o verso 7 que contém a imagem do “polvo sensual do desejo”, aquele que gruda, com variedade de braços, abraça, coloca suas ventanas na pele como uma boca que se mexe o tempo todo. Com essa imagem, dos versos 8 ao 13, imaginando a pessoa amada, o eu lírico “estorce fremente” e “revolve / fibra por fibra” do seu corpo num gozo. A masturbação pensando na pessoa que queria ao seu lado. Vemos que no gozo o eu lírico vira uma “falena”, consumida pela chama.
	Entretanto aqui esse movimento de libertação e de sexualidade da mulher acaba perdida por que o objeto do desejo não compartilha do mesmo desejo que a voz do poema. O amor vira “sombra perdida” no verso 26, ”dentro de uma noite escura”, no 27, escuridão essa que acaba por invadir o ser da voz poética.
	Esta não é a noite curitibana, então uma cidade urbanizada, apesar dos pouco mais de apenas 180.000 mil habitantes, ela é a noite agreste, como vemos nos versos 1 e 14, rústica, sem urbanização, um pasto escuro já que nos mesmos versos é mostrado que não há lua. É apenas nessa noite forada opressora capital europeia Curitiba, apenas nesse breu completo, que acaba invadindo o corpo do eu poético que a mulher consegue a liberdade sexual. De dia, na cidade, Laura Santos é comportada moça fundadora da Academia de Letras José de Alencar e só de noite, na noite de seu corpo, escondida de tudo, longe da cidade que ela consegue se libertar no gozo pensando na pessoa que não lhe quer no dia curitibano.
	Como diz Fanon, de dia ela usa máscara branca, para só poder se libertar a noite. Mas será mesmo simplesmente uma máscara como diz Fanon ou algo mais complexo e dúbio, como diz Homi Bhabha? Veremos isso mais adiante, agora passemos para tema do feminino em sua obra.	 
3.3 O FEMININO
	Como seria de se esperar o feminino está presente em toda sua obra e em todos os temas que veremos nesse artigo. Até no poema que ela fala sobre o seu estado, o Paraná, a voz feminina está marcada.
	Em Laura Santos o feminino está no escondido, no que vem de dentro e não se realiza no fora, está na falta, na busca por completude, na tentativa da libertação que é impossível, no amor que não é correspondido e no sexo que poucas vezes chega a linha da pornografia, de preferência numa noite agreste, com a escuridão que impede de ver e longe da cidade.
	A cidade em que vive, Curitiba, é ultraconservadora e tenta ser europeizada, pelo menos na ideia de suas elites e classe média, esse meio opressor para a mulher, ainda mais a negra, prende os desejos do eu lírico e fazem com que eles sejam incompletos e escondidos. Se eles forem realizados ou mostrados a luz do dia, a poeta, jornalista e funcionária pública, por algum tempo como professora do primário ainda por cima, entraria em uma fogueira social. A Curitiba é, ou talvez fosse, a Idade Média social, e a poeta sabe disso, por isso tem que tomar cuidado.
	Por causa disso, por vezes, a própria mulher é culpada pelos seus rompantes e desejos. Vejamos esse poema do livro Desejo Tropical:
SEMELHANÇA
1 O rio que nasce fino e manso
2 reflete uma paisagem delicada 
3 de uma vida.
4 Mais adiante o rio se dilata
5 e enraivecido arrebata
6 as flores de sua margem.
7 E assim como esse rio que murmureja
8 que ruge, que estronda, e que coleia
9 é a alma da mulher pecado,
10 da mulher sereia...
	Nesse poema a voz poética compara a mulher a um rio. Na primeira estrofe há o rio/mulher “manso”, no começo de sua vida, obediente a seu pai ou responsável, uma mulher “delicada” de se ver.
	Na segunda estrofe, como na adolescência e na juventude da pessoa, seus desejos aumentam, o corpo vira uma tormenta, existem os problemas que “arrebata as flores de suas margens” como nos versos 5 e 6, mas esses problemas podem ser vistos de outra maneira, como a sexualização, como a formação do corpo feminino negro.
	No começo do ano de 2017, o TD x São Paulo pediu para a militante do movimento negro, estudante de Estudos Sociais e dona de um canal do Youtube Nátaly Neri dar uma palestra no ciclo Mulheres que inspiram. A escolha dela foi uma palestra intitulada A Mulata que nunca chegou, na qual ela fala da sexualização do corpo da mulher negra. Ela é uma menina magra e conta que quando pequena seu pai tinha uma venda e que ela ficava ajudando ele, por vezes. Todos os homens com intimidade com seu pai diziam “essa aí vai dar trabalho” e ela não conseguia entender o motivo, era apenas uma criança de uns sete anos. Quando chegou na adolescência, ela percebeu que o que a sociedade esperava dela, um corpo de “mulata”, segundo seu relato. “Ancas grandes, seios fartos, pernas grossas”. Entretanto a mulata que está no pensamento coletivo do brasileiro não chegou até ela, e Neri conta como foi difícil passar sua adolescência sendo magra. Apesar de estar no padrão da moda e no padrão brasileiro ela chorava por ser assim, por “decepcionar” os outros, eternamente esperando a mulata chegar (NERI, 2017).
	Assim vemos que a mulher negra tem, na visão da sociedade, diferentes tipos de expectativas sexuais do que a mulher branca, e estas expectativas são a forma que o rio vai ficando “dilatado” na segunda estrofe. E o que isso leva ao eu lírico na conclusão do poema?
	Aqui ela fecha a comparação no verso 9 do rio com a mulher. Esse rio “dilatado”, passa a murmurar no verso 7, ou seja, a vinda do corpo da “mulata”, cala a mulher, tira a voz dela e joga para o corpo, ela deixa de ser ouvida e passa a ser olhada, com olhares que ferem o seu corpo, e que a fazem pensar que, ser como ela é, é ser a “mulher pecado”, a famosa e preconceituosa cor do pecado, aqui a mulher peca em silêncio nesse verso 9, apesar de ela ser “sereia”, no verso dez, um ser mítico que com sua beleza leva a destruição, mas que sabe cantar, tem voz, sabe se posicionar, sabe cantar o poema, embora todos os olhares que a ferem na sociedade machista.
3.4 O NEGRO
	Vamos para a negritude. Esse é um tema que perpassa toda a obra, como vimos, o tema cantando do feminino negro. Porém, há um poema que se chama Morena, o que faz com que devemos olhar com mais cuidado para ele.
MORENA
1 Contemplando o teu vulto com um mistério adivinho
2 tuas formas no olhar e nos lábios mimosos:
3 um beijo virginal com dúlcido carinho
4 olor primaveril, supra-divinos gozos...
5 Sonhos belos de amor, sem mágoa, sem espinho
6 vivem sob o negar dos teus olhos formosos!
7 A tua vida é como veludoso ninho
8 de anseios juvenis e sonhos vaporosos.
9 O teu corpo gentil, com maciez de veludo,
10 transporta-nos cantando, a celestial esfera
11 a tua voz tanta vida e tanta dor exprime!
12 Doce canção que põe sonhos perfumados em tudo
13 és segredo de amor, rosa de primavera
14 e pulsa no teu ser um coração sublime.
	Primeiro temos que ver a forma. Apesar de usar outras vezes, o soneto é uma forma sublime, a mais sublime de literatura, ainda mais para quem se inspira em Olavo Bilac, como ela. Quando vai falar da morena, usa a forma mais sublime para descrever uma mulher sublime. Laura usa algumas vezes o soneto, mas apenas para assuntos caros a poeta.
	Também atentemos que quase todos os poemas são em primeira pessoa, esse é um dos únicos, junto com Ingratidão, o próximo a ser analisado, que também fala do corpo feminino, que fala de alguém em terceira pessoas. Laura Santos elogia essa morena, mas não pode, ou melhor, não consegue fazer isso em primeira pessoa, se fizesse seria uma confissão que fala de si mesma, que elogia a si mesma, a quem no poema analisado a cima é a sereia junto com o pecado. Aqui não há relativização, há apenas elogio, e isso ela não consegue fazer em primeira pessoa.
	O poema pode ser visto em terceira pessoa também por estar se referindo a outra mulher, não a autora, mas, analisando a vida de Laura Santos, ela não teve experiências com parceiras do mesmo sexo, pelo menos enquanto uma pesquisa mais acurada de sua vida for feita.
	Admitamos então que o eu lírico esteja falando da poeta em terceira pessoa. Mesmo nos poemas mais eróticos, Laura não deixa de levar o final trágico, solitário, triste ao poema, neste vemos apenas elogios a essa “morena” (lembremos que as palavras “negra” e “morena” ainda não tinha a conotação que tem hoje) que tem “lábios mimosos” 2, um “beijo virginal”, com dulcíssimo carinho” 3, “olor primaveril, supra-divins gozos” 4. Ela sonha com o amor, 5, e tem “anseios juvenis” 8. No primeiro terceto o seu canto leva o ouvinte a “celestial esfera” e detém um “coração sublime”. 
	É isso que a poeta tem a dizer sobre ela mesma. Assim que ela se vê – que é como nós nos vemos – pura, boa, deitada angelical esperando que esteja admirada pelo que realmente é, ao contrário do poema acima “Semelhança” cindida, como diria Merleau-Ponty, pelos olhares lascivos dos homens que só vem a sua superfície.
3.5 AMOR E SEXO
 	Passemos a falar do amor e do sexo em suas obras, dois temas sempre entrelaçados.
INGRATIDÃO
1 No percurso da vida a tristes desenganos!
2 Tu possuístes também o corpo virginal
3 tão casto como a flor aberta no rosal
4 e, o expões, agora nu, aos olhares profanos.
5 No cabaré festivo a tua carne aromal
6 exibes à avidezdos desejos insanos.
7 Há quem te sorva o mel dos lábios entre enganos
8 e envenenas assim ó serpente do mal!
9 No altar da tua afeição, mais suave que o amrminho
10 tua pureza ofertas e em sacrifício ingente
11 e teu beijo melhor que o teu maior carinho.
12 Mas quem gozou primeiro a tua carícia ardente
13 te deixou e te esqueceu, trilhando o seu caminho
14 em busca de outro amor, de outra paixão fremente.
	O poema fala, usando a linguagem da época, sobre um homem que “iludiu” uma mulher. Mas analisemos mais de perto o amor e o sexo contido no poema.
Primero temos que ver no aspecto formal que aqui também é um soneto, usado para um tema sublime que é a perda da virgindade da voz poética. Apesar do final desastroso, o acontecimento é sublime.
	Aqui também vemos uma voz em terceira pessoa, mas que longe de elogiar a personagem do poema mostra todas as vilanias que foram feitas contra ela. Podemos pensar que o motivo da terceira pessoa como uma mulher negra e publica em Curitiba de 1953 não seria respeitada como ser humano se contasse a perda de sua virgindade, ainda mais de forma tão pesada imageticamente. A terceira pessoa vira uma máscara, uma persona para poder libertar a sua solidão e desilusão.
	Começando pelo sexo. Vimos o lado sexual dos poemas de Laura Santos já no primeiro analisado, intitulado Segundo Poema. Aqui essa temática se concentra toda no verso 4 e na segunda estrofe. A ex virgem está agora nua na frente dos olhos profanos, que como já dito por Merleau-Ponty, cindem ela, que não vem a beleza colocada no poema Morena, mas apenas a volúpia da mulata em sua frente. Os olhares dessacralizam a virgindade que ela já teve e provavelmente acaba de perder, tiram a beleza desse momento que, aparentemente, o eu lírico gostaria que fosse mais sentimental do que físico.
	Por conta da recusa final do amado de ficar com ela, o eu lírico vê a si mesma em um “cabaré festivo” 5, para “desejos insanos”, ou seja, coloca-se quase com o uma prostituta que tudo que fez foi dar minutos de prazer para o homem que a vê como a mulata explicada por Neri. O sexo acaba por envenena-la, na sugestiva imagem de uma serpente.
	Quanto ao amor, o que ocorre aqui é mesmo que o da maioria de sua obra: uma solidão. Ela foi, deu seu corpo, sua virgindade, seu amor, seu tudo para um homem que a abandonou. O amor em sua obra é, predominantemente, uma amostra dos anos 50 da tão falada solidão da mulher negra nos dias atuais. Existe a violência dentro de casa praticada pelo homem negro e o uso puramente sexualizado que o homem branco faz da mulher negra. Não se sabe quem a largou, um homem negro ou branco, mas se sabe que o homem quase sempre acaba largando a voz poética em sua obra.
	Juntando o amor e o sexo é bom analisar os versos 12 e 13 “quem gozou primeiro a tua carícia ardente / te deixou e esqueceu”. Marcando a ambiguidade do verbo gozar, podemos pensar que quem aproveitou primeiro suas carícias no amor a deixou, mas também quem primeiro ejaculou dentro dela a abandonou.
3.6 LIBERTAÇÃO
	A libertação é um tema sempre presente na obra de Laura Santos, todos que já falaram sobre ele nas poucas coletâneos ou obras sobre a poeta que existiram. Mas a libertação de sua obra poética não é a libertação conquistada, ou a desbravada, mas sim uma libertação tentada, mas não conseguida, seja no amor, seja no sexo, seja no simples desejo de libertação que não se realiza. Veremos o último no próximo poema, mais um soneto com um motivo sublime na obra da poeta: a eterna tentativa de libertar-se de algo não explicitado.
VOAR
1 Nesta manha de sol tenho ímpetos de voar,
2 na aeronave de um sonho azúleo de harmonia
3 e levar no meu seio teu lúbrico olhar
4 que me inspira a beleza e desperta a alegria.
5 E que bom é subir e contemplar o mar
7 o céu, a luz e o dia neste risonho dia.
8 Como a pomba fugir bem distante do lar,
9 livre, embrenhar-me em fim, no amor da poesia!
10 Ouvir ébria de vida ofegando em desejos
11 o meu deus Pan modular canções ternas, sonoras,
12 em sua agreste flauta ao sussurrar beijos!
13 E assim toda me invade o anseio de ter asa
14 para poder fluir nessas pagãs auroras
15 o perfume sensual do sonho que me abrasa!
	Aqui temos um dos poemas mais significativos sobre o desejo do eu lírico de libertação, o voar. Sair da terra, de perto das pessoas, do seu lado e subir acima de todos, olhando de cima, tendo outra visão, uma fuga do lugar que prende, que humilha, que destrói o sexo e o amor que é a terra.
	Esse desejo só é conseguido no sonho, como já diz o 2º verso, um “sonho azúleo”, cor que, aliás, perpassa toda a obra artística de Laura Santos, talvez um estudo voltado para o uso do azul em sua obra fosse útil para entender mais de sua poesia.
	O amor continua, há o olhar que inspira, nos versos 3 e 4, mas esse olhar, quando ela voa, não é mais aquele que vai abandoná-la, que nunca chega ou ainda que a despe, faz sexo com ela e a larga. O olhar aqui não pode mais ferir o eu lírico, ele só pode olhar seus seios de baixo e continuar inspirando sua obra. Voando o eu lírico está protegido. 
	No verso 8 é usado o termo “fugir”, a voz poética foge de casa, e isso é bom, a vida a oprime, os amores, as pessoas, o olhar que a cinde como objeto sexual que causa a sexualização não atingida no pleno. No ar ela é livre, apenas com a poesia, sua única fuga do mundo terreno.
	No seu voo, como no poema da noite, Laura Santos sai – aqui além da terra – do ambiente urbano e vai para o rural, encontrando “Pan”, ou Pã, o deus dos bosques e das matas, mais um fuga da cidade curitibana da metade do século passado.
	Porém no verso 13 o eu poético mostra que não voou de verdade, a liberdade da terra e da cidade de Curitiba não chegou, foi tudo um “anseio” de voar nos sonhos e na noite.
	Nesse poema a libertação é que a chega mais perto de acontecer, é um dos poucos em que ela não é abruptamente quebrada por algo de fora, geralmente um rompimento com o amor, mas mesmo assim é a busca da liberdade e não da liberdade em si que falamos. Fugir dos olhares do mundo que cindem, fugir da Curitiba que esmaga seus sonhos para o agreste é impossível. Como em todos os seus poemas, a libertação não acontece.
4. CONCLUSÃO
	Analisando os temas de sua obra chegamos basicamente a três conclusões: o uso da máscara branca, mas não como problema pensado por Fanon, mas sim como forma de defesa pensada por Bhabha; a sexualização da mulher negra; a solidão da mulher negra.
	Em seu livro Pele Negra, Máscaras Brancas, o psicanalista da Martinica Frantz Fanon diz que os negros colonizados usam a máscara do seu colonizador europeu para imitá-lo, por causa de um processo em que se sentem inferiorizados como negros dominados pelos brancos e querem agir como a elite dominante europeia local para sentirem-se superior aos seus conterrâneos. Para Fanon isso é um problema.
	Já no livro O Local da Cultura, o professor de literatura e linguística indiano radicado na Inglaterra Homi Bhabha relativiza esse processo em um capítulo destinado especialmente a fazer uma crítica à Fanon. O negro usa a máscara branca, para Bhabha, em um processo que o faz misturar-se, mas acima de tudo, confunde o colonizador e até pode ajudar na independência do seu povo. Não é mais uma máscara usada, mas uma mímica feita, uma imitação que traz consequências dialéticas durante o seu processo. Essa mímica é mais complexa e questionadora (BHABHA, 1998).
	Curitiba sempre se orgulhou de ser uma cidade branca, construída a partir de imigrantes italianos, alemães, ucranianos e poloneses e sempre fez questão de esquecer que a terra aqui era, no seu início, habitada por índios e dos negros que vieram pela escravidão quase apagada da sua história oficial. O movimento paranista, nos anos 20, do qual participaram diversos artistas, como os próprios simbolistas já citados, quis embranquecer ainda mais o estado criando uma identidade europeia. É isso que se vê nos poemas simbolistas afrancesados de Dario Veloso, mas principalmente na arquitetura, resgatando traços dos países de onde os imigrantesvieram e das pinturas onde quase todos os habitantes retratados são brancos.
	Para que os livros de Laura Santos saíssem do papel e fossem publicados em Curitiba eles não podiam ter abertamente temas como a negritude, mas notamos em diversos poemas que esse tema está lá, de forma subjetiva, não mascarados pelos sonetos em decassílabos, mas provocativos, como parte intrínseca de sua obra, questionando diversos pontos vividos por uma mulher negra na Curitiba dos anos 50, como os pontos que vamos ver a seguir: a solidão da mulher negra e a sexualização. Através da mímica discorrida por Bhabha temos o relançamento desses temas em sua obra.
	Os outros dois temas usados na mímica em sua obra podem ser vistos como adjacentes, já que a hipersexualização da mulher negra gera nela a solidão.
	Vejamos sobre isso a tese transformada em livro de Ana Cláudia Lemos Pacheco. Falando de relações sexuais-afetivas a autora chega a solidão da mulher negra. Para tanto ela fala, citando Giacomini, que as escravas não eram apenas para afazeres domésticos e amamento, mas também para o prazer sexual e o Brasil, com sua passagem drástica e nada articulada da escravidão para a abolição, continuou vendo da mesma forma a mulher negra (LEMOS PACHECO, 2013).
	Continuando em Mulher Negra – Afetividade e Solidão, Lemos Pacheco fala que o fato de ver a mulher negra como objeto sexual vem também da questão de poder, em que ela está em desvantagem duas vezes, primeiro na questão homem/mulher, depois na questão branco/negro (LEMOS PACHECO, 2013).
	Assim podemos entender a falta na poesia de Laura Santos. Há a falta da libertação, por causa do poder, ela é a oprimida, tanto por gênero, tanto por etnia. Há a falta do amor, do homem que a vê nua, sexualiza seu corpo e vai embora. 
	Por isso há na poesia de Laura Santos a mímica da mulher pecado, da morena em 3ª pessoa, da noite escondendo a mulher que mostra o problema da sociedade, que a critica. 
O problema do preconceito e da subjugação da mulher negra, de sua hipersezualização está sim contida na obra de Laura Santos , mas de forma sutil, pois não podia ser explícita em sua época e no local em que ela escrevia. Esse é o motivo que são necessárias novas leituras sobre ela para acharmos essas sutilezas, essas mímicas.
	Por isso também a poesia de Laura é a poesia da falta: falta de amor e falta de liberdade, apesar de todo o desejo que carrega dentro da obra.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, José de. Cartas a Favor da Escravidão. Hedra: São Paulo, 2008.
BHABHA, Homi. O Local da Cultura. Editora UFMG, 1998.
BUTLER, Judith. Fundamentos Contingentes: o feminismo e a questão do pós-modernismo. Cadernos Pagu. Campinas, n. 11, p. 11 – 41, 1998.
Centro Feminino de Cultura do Paraná (org). Um Século de Poesia. Curitiba: Centro Feminino de Cultura do Paraná, 1958.
COSTA, Edson José da. A Geração de 45. Letras. Curitiba, n. 49, p 53 – 60, 1998.
LONDA, Fernando Ferreira de. Antologia da Nova Literatura Brasileira. Porto: Orfeu, 1968.
FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
LEMOS PACHECO, Ana Cláudia. Mulher Negra – Afetividade e Solidão. EDUFBA, 2013.
MENINO 23: infâncias perdidas no Brasil. Direção Belissário França. Elo Company, 2016. DVD (79 min).
MERLEAU-PONTY, Maurice. O Olho e o Espelho. Lisboa: Vegas, 1997.
NERI, Nátaly. A Morena que Nunca Chegou. Youtube. Ted x São Paulo. https://www.youtube.com/watch?v=02TBfKeBbRw. Acessado em 28 jun 2016.
SANTOS, Pompília Lopes dos (org). Sesquicentenário da poesia paranaense. Curitiba: Brde, 1985.

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