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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL - UEMS UNIDADE UNIVERSITÁRIA NAVIRAI CURSO DE DIREITO KÊNIA GABRIELA ROSSO POPULISMO PENAL LEGISLATIVO NAVIRAI 2018 KÊNIA GABRIELA ROSSO 2 POPULISMO PENAL LEGISLATIVO Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de graduação em Direito, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS. Orientador: Prof.º Me. Ricardo Guilherme Silveira Côrrea Silva NAVIRAI 2018 KÊNIA GABRIELA ROSSO 3 INFLUÊNCIAS MIDIÁTICAS E O POPULISMO PENAL LEGISLATIVO: UM DIREITO PENAL DE INCONSISTÊNCIAS E ERROS Monografia aprovada como requisito parcial para a conclusão do Curso de Graduação em Direito, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS, com a nota , atribuída pela banca examinadora formada pelos professores: Aprovado em / / Prof.º Me. Ricardo Guilherme Silveira Côrrea Silva Orientador Membro Membro DEDICA TÓRIA 4 A todos aqueles que acreditam em um futuro justo e igualitário, onde as desigualdades sociais gritantes sejam apenas lembranças de um passado triste. 8 AGRADECIMENTOS Em um momento da vida em que a gratidão poderia resumir tudo o que venho vivendo, a parte dos agradecimentos se torna um verdadeiro desafio: conseguir expor de forma clara aquilo que sinto. Em primeiro lugar agradeço a Deus, que sempre esteve extremamente presente em todos os aspectos de minha vida, me dando toda sustentação, discernimento e paciência necessária, que sempre ouviu meus clamores e pedidos e me deu tudo àquilo que eu exatamente precisava, me fazendo sempre mais forte, madura e firme na fé. Bem como, agradecer a Virgem Maria, a quem sou devota e me espelho, que intercede por mim e têm sempre passado a frente de cada passo que dou, assim como, todos os dias, peço à mãezinha Maria com muita fé. Aos meus pais, Clênio e Teresinha Rosso, que exercem o papel de principal base e alicerce que tenho na vida, que nunca pouparam quaisquer esforços para fazer com que meus sonhos fossem possíveis. A vocês, devo todo o meu sucesso, agradeço por serem essas pessoas incomparáveis e únicas, sem dúvidas o melhor presente que os céus poderiam ter me dado. Não há palavras que descrevam toda a minha gratidão em ter vocês do meu lado como meu principal apoio e fonte de amor. Obrigada por me ensinarem valores e terem me transformado na pessoa que sou hoje, devo tudo a vocês! E claro, agradecer aos meus irmãos Christian e Djeniffer Rosso por compartilharem da infância e vida comigo, em casa, com vocês, aprendi o verdadeiro sentido de amizade e o quão Deus é bom em nos dar a oportunidade de ter irmãos. Sem esquecer também, da Fernanda Moreira, irmã que a vida me trouxe ao caminhar na vida junto com meu irmão, veio a somar grandiosamente na família, agradeço pelo apoio e pelo incentivo que desde a época do vestibular me dava. Sou grata aos meus avós, Fábio e Ivani Rosso e João Francisco e Jacinta Cantú, por na força da simplicidade, terem me ensinarem a grandeza da humildade. Quem dera se por um descuido Deus os fizessem eternos! Pois a cada dia de convívio simboliza uma rica aula de ensinamentos sobre a vida. Aos meus padrinhos Fabiana e Ernesto Inomata, por exercerem o papel de serem o “quem eu me espelho” na carreira jurídica e no Direito, obrigada por me terem me estimulado a escolher essa carreira apaixonante! Agradeço ao meu namorado, Cayo Castella, pelo companheirismo e apoio de sempre, por ter se feito de extrema ajuda na produção deste trabalho. Obrigada por sempre acreditar em meu potencial e no meu melhor, me incentivando a ir sempre mais longe! Sem esquecer, daqueles que fazem a vida ser mais leve e alegre, a todos os meus amigos de longa data que Nova Andradina e o Ensino Médio me trouxeram, quem dera poder voltar no 8 tempo e reviver os dias de Nair Palácio, serão sempre meus símbolos de amizade e companheirismo, obrigada Letícia, João Victor, Cezar, Leonardo, Nilton, Carol, Vanessa e Gustavo. E aqueles que de outras maneiras a vida me presenteou, obrigada pelas risadas sem fim, Maicon e Renan! Que a vida nos dê o prazer de conviver por muito tempo. À Naviraí e meu período de universidade, agradeço por ter agregado e somado outros tantos amigos a minha vida, em especial agradeço ao Lucas Buffon por ter se tornando um amigo gigante na minha caminhada, a Jéssica Barbosa por compartilhar tantas fases comigo e ter chegado a minha vida no momento mais apropriado possível! A Gabriela Vieira por ser uma excelente companhia do dia a dia, nunca esquecerei todas as palavras de carinho e consolo que me deu. Claro, agradecer Carlos e Mônica Yassuda, ao Pedro Vazquez e a Munyra Duarte por se transformarem em uma espécie de família em Naviraí, sem palavras para descrever minha gratidão em todo apoio e carinho ofertado e pelas risadas sem fim compartilhadas. Que a matilha sempre sobreviva! Aos amigos Fernando, Anna Karolina, Jean e Karen pela preciosa amizade construída no decorrer destes anos de faculdade, que cheguemos ainda muito além nessa sintonia e parceria. Agrateço também a todos os professores da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS, que sempre com muito esforço e interesse nos dão a honra de sermos alunos de seres tão competentes e brilhantes. Com gratidão especial ao professor Ricardo Guilherme, orientador deste trabalho, que além da extrema ajuda se tornou um grande incentivador. Por fim, agradeço a Pastoral da Juventude – PJ, da Igreja Católica de Nova Andradina, por ter me cativado a lutar pelas causas das minorias, que nossa sonhada Civilização do Amor seja logo uma realidade! 8 EPÍGRAFE “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo!” (João 16,33) 8 RESUMO O Populismo Penal Legislativo tem se demonstrado cada vez mais presente dentro da sociedade brasileira, através das influências midiáticas desproporcionais quanto à verdade e o completo espetáculo criado em volta do mundo do crime, os sentimentos de insatisfação e exclusão do criminoso do meio social por parte da população, crescem. Sabe-se que quem detém o poder e função de criar e alterar a legislação de modo geral é o Poder Legislativo, que exerce a representação do povo e por estes são eleitos e reeleitos ao respectivo cargo público, havendo assim, o interesse por parte dos legisladores em conquistar e agradar a população demonstrando que está fazendo alguma coisa e que estão preocupados em corresponder aos anseios destes. A mídia possui função constitucional em noticiar o crime, devendo fazer isso sempre pautada na verdade, entretanto como dito, vê- se que cada vez mais o crime tem se tornado um espetáculo nas mãos dos meios de comunicação, tal realidade é explicada pelo ganho de audiência com a noticiação do crime e comoção social. Logo, faz-se nascer o discurso punitivista e o populismo penal, a cobrança da sociedade para com o Poder Legislativo tomam medidas desproporcionais, querem a todo custo que a lei seja mudada e as penas para os crimes aumentadas. Assim, nasce no parlamentar à vontade de satisfazer os anseios populacionais e é assim que inúmeras leis penais são alteradas e criadas em completo desrespeito a normas e princípiosconstitucionais e bases do direito penal. Tal realidade está completamente atrelada ao interesse econômico midiático e eleitoral do Poder Legislativo do mundo do crime e da falsa percepção de justiça e controle social por parte da sociedade. Palavras-chave: Controle Social. Mídia. Princípio da Proporcionalidade. Poder Legislativo. Populismo Penal. 10 ABSTRACT Legislative Criminal Populism has been increasingly present within Brazilian society, through disproportionate media influences on the truth and the complete spectacle created around the world of crime, increasing the feelings of dissatisfaction and exclusion of the criminal from the social environment of the population. It should be noted that the power and function of creating and amending legislation in general is the Legislative Branch, which exercises the representation of the people and is elected and re-elected to the respective public office, legislators in conquering and pleasing the population by demonstrating that they are doing something and that are concerned to match their wishes. The media has a constitutional function in reporting the crime, and should always be based on the truth, however, as it has been said, crime has become a spectacle in the hands of the media, this reality is explained by the audience gain with the news of the crime and social commotion. Therefore, punitive discourse and criminal populism, the collection of society to the Legislative Power take disproportionate measures, want at all costs to change the law and penalties for increased crimes. It is born in the parliamentarian at will to satisfy the population's wishes and this is how many criminal laws are altered and created in complete disrespect to norms and constitutional principles and bases of criminal law. This reality is completely tied to the media's economic and electoral interest in the legislative branch of the world of crime and the false perception of justice and social control by society. Keywords: Racial Slur. Discrimination. Prejudice. Racism. Internet. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12 1. CAPÍTULO I – GENERALIDADES SOBRE O PODER LEGISLATIVO ......... 14 1.1. ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ..................................................................... 14 1.1.1. Poder Executivo ............................................................................................ 15 1.1.2. Poder Judiciário ............................................................................................ 16 1.1.3. Poder Legislativo .......................................................................................... 17 1.2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO .......................... 17 1.2.1. Congresso Nacional ....................................................................................... 17 1.2.2. Câmara dos Deputados ................................................................................. 18 1.2.3. Senado Federal ............................................................................................. 19 1.2. FUNÇÕES DO PODER LEGISLATIVO .............................................................. 20 1.3. PROCESSO LEGISLATIVO .............................................................................. 20 2. CAPÍTULO II - A MÍDIA ENQUANTO UM INSTRUMENTO DEMOCRÁTICO .. 12 2.1. MÍDIA: ASPECTOS CONCEITUAIS ..................................................................... 12 2.2. PREVISÃO LEGAL QUE ASSEGURA A EXISTÊNCIA DA MÍDIA ........................ 13 2.2.1. Princípio da Liberdade de Expressão ................................................................. 13 2.2.2. Princípio da liberdade de informação ................................................................ 15 2.3. FUNÇÃO SOCIAL EXERCIDA PELA MÍDIA ........................................................ 17 2.5. PODER E INFLUÊNCIA DA MÍDIA DENTRO DA SOCIEDADE ........................... 20 3. CAPÍTULO III – A MÍDIA SOB UMA PERPESCTIVA CRÍTICA E O POPULISMO PENAL ...................................................................................................................... 22 3.1. CONTEXTO HISTÓRICO DA PUNIÇÃO .............................................................. 22 3.2. O POPULISMO PENAL ........................................................................................ 24 3.3. AS FORMAS DE CONTROLE SOCIAL NA SOCIEDADE ATUAL ......................... 25 3.3.1. Controle Social Informal ou Interno .................................................................. 25 3.3.2. O Controle Social Formal - Leis ......................................................................... 27 3.4. PRINCÍPIOS CONSTICIONAIS BASES DO DIREITO PENAL APLICAVÉIS À TEMÁTICA ................................................................................................................ 30 3.4.1. Princípio da Intervenção Mínima – Ultima Ratio ................................................ 31 3.4.2. Princípio da Proporcionalidade ......................................................................... 32 3.4.3. Princípio da Presunção de Inocência .................................................................. 34 3.5. ANÁLISE CRÍTICA DA MÍDIA ............................................................................ 36 11 3.6. DISCURSOS MIDIÁTICOS PRECURSORES DO POPULISMO PENAL ................. 38 3.6.1. Impunidade e o Discurso Punitivista .................................................................. 38 3.6.2. Discurso de Ódio ............................................................................................... 40 3.6.3. Direito Penal de Autor e do Inimigo ................................................................... 41 3.7. EFEITOS DO POPULISMO PENAL NO PODER JUDICIÁRIO ............................... 43 4. CAPÍTULO IV – O POPULISMO PENAL MIDIÁTICO E SUAS INFLUÊNCIAS NO PODER LEGISLATIVO ...................................................................................... 46 4.1. ACONTECIMENTOS SOCIAIS E A CRIAÇÃO E MODIFICAÇÃO DE TIPOS PENAIS E SANÇÕES ................................................................................................. 46 4.2. A MÍDIA E O INTERESSE ECONÔMICO EM NOTICIAR O CRIME ...................... 48 4.3. A COMOÇÃO SOCIAL E O INTERESSE ELEITORAL DOS PARLAMENTARES ... 51 4.4. O POPULISMO PENAL LEGISLATIVO ................................................................ 54 4.5. CRIMES ALTERADOS E ERROS ENCONTRADOS: A EXEMPLIFICAÇÃO DO POPULISMO PENAL LEGISLATIVO .......................................................................... 57 4.5.1. O Crime de Corrupção Passiva (Artigo 317 do Código Penal) e o Crime de Concussão (Artigo 316 do Código Penal) ..................................................................... 58 4.5.2. Crime de Invasão de Dispositivo Informático (Artigo 154 A do Código Penal) .... 61 4.5.3. O Crime de Falsificação, Corrupção ou Adulteração de Produto Destinado a Fins Terapêuticos ou Medicinais (Artigo 273 do Código Penal) ........................................... 64 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 68 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70 12 INTRODUÇÃO Desde os tempos remotos, a sociedade é influenciada pelos seus sentimentos quanto à incidência de fatos proibidos, ilícitos e antimorais cometidos pelos seus iguais contra inocentes. Sabe-se que a punição sempre esteve presente e com o decorrer do tempo sofreu grandes mudanças dada a sua evolução, alcançando meios mais humanitários. Todavia, o sentimento e anseio da população pela vingança e retribuiçãodo mal cometido nunca diminuiu ou deixou de existir. Dada a abundância de informação, ofertado principalmente pelo crescimento dos meios de comunicação, o fato criminoso vem tomando grandes proporções midiáticas, fazendo com que nasça na população um discurso de vingança e exigibilidade de penas mais gravosas e impiedosas para com os autores dos delitos. Tal realidade é conhecida como Populismo Penal. O Populismo Penal consiste no discurso punitivista, que tem grande força entre a população brasileira. Tal realidade está atrelada ao fato da mídia constantemente fazer o uso de suas prerrogativas para pregar um discurso de impunidade à população, fazendo-os acreditar que tal se deve ao fato da falta de legislação penal. Ao tomar isso como verdade, a população descontroladamente começa a cobrar soluções ao Poder Legislativo e que este deve agir alterando normas para formas mais severas e rígidas, acreditando veementemente que é dessa forma que se alcançará um controle social eficiente. Através de tais ações populares, nasceu-se uma nova vertente do Populismo Penal, que de regra é aquele exercido pelo Legislativo, ou seja, os parlamentares responsáveis por editarem a legislação penal brasileira, ao se depararem com uma sociedade inquieta, que lhe cobra a cada dia por melhoras, acabam criando leis mais severas e até mesmo novos tipos penais para sanar as aflições e anseios da sociedade. Assim, na pressa e urgência de agradar as manifestações e cobranças da sociedade e fazer cessar a cobrança midiática, estas mudanças vem a acontecer normalmente em tempo recorde, e em muitos dos casos, os legisladores pecam ao não se atentarem as prerrogativas, princípios e bases que devem ser analisadas para criar ou alterar os tipos penais, e criam normas com grandes erros de técnica, com afronta a princípios constitucionais e leis que ao invés de ajudarem, acabam atrapalhando e prejudicando a aplicação no caso concreto e seu julgamento. O presente estudo consiste na analise e observação sobre o Populismo Penal Legislativo e como este se dá dentro da sociedade brasileira, bem como, quais são os métodos 13 utilizados e justificativas à sua existência. Busca-se também demonstrar quais são os principais meios de influência e propagação dos pensamentos característicos do populismo penal, o que faz com que as pessoas acreditem de forma tão contundente que é através de um direito penal mais incisivo e presente que o controle social será alcançado de forma eficiente. Demonstrar-se-á que a prática do populismo penal legislativo caracteriza um grande mal e problema no país e que, com suas alterações às pressas e sem preparação e estudo prévio da aplicação da nova norma, vêm a criar inconsistências e erros dentro da legislação brasileira. Delimita-se o estudo na perspectiva de analisar e conhecer as leis penais criadas em decorrência do Populismo Penal Legislativo e a grande contribuição e influência midiática dentro dessa realidade, buscando a resolução de alguns questionamentos extremamente necessários para a compreensão do assunto, como: O Populismo Penal Legislativo considera-se de fato um grande mal dentro da sociedade? Qual o papel da mídia dentro dessa realidade? Quais os grandes erros adjacentes dessa prática, o que fazer com as falhas leis criadas? Neste sentido o presente trabalho irá se suceder, na verificação da real função do poder legislativo e de que forma vêm a se desviar, fazendo nascer o populismo penal legislativo e os erros e problemas criados em decorrência dessa realidade. 14 1. CAPÍTULO I – GENERALIDADES SOBRE O PODER LEGISLATIVO 1.1.ORGANIZAÇÃO DOS PODERES Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o Brasil adotou como forma de governo a República, buscando, através dela, atender os interesses gerais de todos os cidadãos. Mais tarde, após vários acontecimentos e golpes 1 , veio a se tornar uma República Democrática, ou seja, todo o poder de decisão passa a ser exclusivamente do povo, sendo assim, cabe a estes decidirem o futuro e caminhos que irão seguir como um Estado, visando o bem comum de forma igualitária. Para melhor organização e administração dos interesses e como característica de um Estado Democrático, divide-se o governo em três poderes, como dita a Constituição Federal de 1988 em seu artigo segundo “São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 2013, p. 11) estes que, como escrito, devem ser independentes, harmônicos e coesos entre si. Vale lembrar, que mesmo havendo a divisão, o poder continua a ser Uno, ou seja, emana do povo. Mas, faz-se a distribuição em poderes para melhor funcionamento e gerenciamento de cada área, repartição da soberania – evitando-se assim a concentração de todo poder nas mãos de uma única pessoa, como acontecia nas monarquias e Estados absolutistas – e a garantia da perpetuidade do Estado Democrático e respeito aos Direitos Fundamentais. Montesquieu em sua obra “O Espírito das Leis” disserta sobre o assunto no sentido de evitar abusos de poder, com a teoria do “Check and balances” também conhecida como Freios e Contrapesos. Trata-se do poder de interferência de um poder para com o outro, ou seja, ao mesmo tempo em que são independentes, em determinadas situações, um órgão pode interferir no outro, como forma de garantia do equilíbrio. Como exemplo: quando o Poder Legislativo redige uma lei, o Poder Judiciário pode declará-la inconstitucional - como lhe garantido no artigo 102 da Constituição Federal - ou ainda, ser vetada pelo Poder Executivo. Outro exemplo, quando o Poder Executivo executa uma lei o Poder Judiciário, quando provocado, e o Poder Legislativo, ex 1 Desde a Proclamação da Independência do Brasil em 1822, o país vivenciou diversos acontecimentos, como revoltas e tentativas de golpes. Como exemplo, a revolução de 1930, que pôs fim a chamada “República Velha” e o tão conhecido Golpe de Estado em 1964, que instaurou o regime militar marcado por repressão e violência. 15 officio 2 , podem fiscalizar suas ações. Tal sistema permite que os poderes controlem um ao outro e sejam controlados, sem haver impedimento ou invasão em suas funções próprias. É pertinente, uma rápida análise dos poderes individualmente, dando enfoque principal ao Poder Legislativo, alvo do presente estudo. 1.1.1. Poder Executivo O Poder Executivo é aquele responsável pela função administrativa e de governo do Estado, tendo como principal objetivo executar e cumprir as leis, normas e projetos criados legalmente. O presente poder centra-se no Presidente da República, em nível nacional 3 , sendo o representante do Estado, chefe do governo e da administração federal. Sendo eleito, através de voto direito pelo próprio povo, para cumprir suas funções no período de quatro anos, podendo, através de nova eleição, ser reeleito para mais quatro anos de presidência. O Presidente da República exerce seu poder com o auxílio dos Ministros de Estado que são convidados pelo mesmo para “(...) ocupar suas respectivas pastas, podendo ser demitidos a qualquer momento” (FACHIN, 2013, p. 469), estes ocupam cargo de confiança e colaboram no exercício do poder. Suas atribuições estão previstas no artigo 87 da Constituição Federal, são conhecidos principalmente por exercerem, coordenarem e supervisionarem órgãos e entidades da administração federal. Resume-se afinal, na coordenação dos Ministérios, atualmente no Brasil existem vinte e cinco como exemplo o: Ministério da Educação, Saúde, Agricultura, Trabalho e Emprego etc. A representação do presidente se dá tanto em âmbito nacional quanto internacional, podendo gerenciar negócios externos e internos, bem como assinar e pactuar com demais países 4 . Lembrando, que não há certeza do mandatodo mesmo pelo período de quatro anos, pois se este cometer atos ilícitos como crimes de responsabilidade e crimes comuns pode vir a sofrer processo de impeachment, que o destitui de seu cargo e função. 2 Quando é realizado de ofício, que é feio pelo agente de acordo com a lei, em virtude do cargo ocupado. Ou seja, não precisa esperar a provocação, como no Judiciário, para agir perante determinadas situações. 3 Em nível nacional, como União, o representante do Poder Executivo é o Presidente da República, dentro dos Estados-Membros, o poder fica nas mãos dos Governadores e em âmbito municipal com os Prefeitos. 4 As funções específicas do Presidente como Chefe de Estado, estão consubstanciadas, principalmente, no artigo 84, incisos VII, VIII e XIX, da Constituição Federal de 1988 e as de Chefe de Governo, por sua vez, também no artigo 84, nos incisos I a VI, IX a XVIII e XX a XXVII da CF/88. 16 1.1.2. Poder Judiciário Por sua vez, o Poder Judiciário tem como função imediata e típica a de julgar e de declarar o Direito. Nas palavras de Uadi Lammêgo Bulos “Compete-lhe diminuir conflitos de interesses, aplicando a lei nas hipóteses concretas, produzindo coisa julgada, formal e material, no que substitui a vontade das partes” (2012, p. 1269). Ou seja, sua função é buscar através da apreciação da lei, a dissolução dos conflitos na sociedade. Mediante a sua função típica, o Poder Judiciário exerce também a jurisdição que, como elucida André Ramos Tavares (2017, p.947), é: (...) exatamente, a atividade pela qual determinados órgãos pronunciam-se, em caráter cogente, sobre a aplicação do Direito. Isso é realizado, contudo, por meio da obediência a um procedimento previamente determinado, ao final e ao cabo do qual se alcança uma decisão que é revestida do caráter da imutabilidade, vale dizer, faz coisa julgada entre as partes. Assim, usando da lei e do que ela dita, o presente poder busca a solução dos conflitos entre partes, seja em âmbito civil, penal, trabalhista, etc. Portanto, faz com que de forma justa, todos os envolvidos consigam ter seus direito infringidos ressarcidos e seus problemas resolvidos. Além disso, dentro do judiciário existe o Supremo Tribunal Federal, que tem como principal e exclusiva função a guarda da Constituição Federal – que deve ser entendida e vista como a lei suprema dentro do país, necessitando ser respeitada e a ter seus direitos contemplados em hierarquia a todas as demais leis existentes – que tutelará os interesses da Constituição e julgará casos em que há desrespeito ou importância aos assuntos constitucionais, bem como a julgar, em casos de crimes, o Presidente da República e membros do Congresso Nacional 5 . Para os demais conflitos e assuntos cotidianos, usa-se a jurisdição comum 6 estadual e federal para resolução dos casos e aplicação do Direito. Nessa acepção, enuncia Zulmar Fachin (2013, p. 487): A Constituição de 1988 atribuiu ao Poder Judiciário legitimidade para controlar o arbítrio dos demais poderes e, inclusive, do Ministério Público. Nesse sentido, cabe aos juízes o poder e o dever de anular atos administrativos ilegais; invadir atos praticados com abuso de poder; declarar a inconstitucionalidade de leis e atos normativos. O autor ainda em sua obra vai além fazendo menção as palavras e ensinamentos de Eugenio Zaffaroni: Certamente que o judiciário presta o serviço de resolver conflito entre pessoas, mas também presta outro serviço, que consiste em controlar que, nessas realizações normativas entre Estado e pessoas, o primeiro respeite as regras constitucionais, 5 Para a análise completa da estrutura do Poder Judiciário vide o artigo 92 da CF/88. 6 A jurisdição é dividida em comum, que possui âmbito estadual e federal e a jurisdição especial que se divide em trabalhista, eleitoral e militar. 17 particularmente quanto aos limites impostos pelo respeito à dignidade da pessoa humana. (FACHIN, 2013, p. 487, apud ZAFFARONI, 1995, p. 37) Ainda, diferentemente do Poder Executivo, os membros do Poder Judiciário são aprovados através de concurso público de provas e títulos ou através do quinto constitucional, previsto no artigo 94 da Carta Magna que determina que vinte por cento das vagas dos tribunais sejam preenchidas por advogados e membros do Ministério Público 7 , e não por meio de eleição popular, visto a necessidade de conhecimentos específicos e aprofundados na área de Direito, faz- se primordial a seleção por métodos que avaliam conhecimentos e competência dos futuros julgadores da lei e do Direito. 1.1.3. Poder Legislativo Por fim, o Poder Legislativo fecha os três poderes da União, tendo como principal função a de legislar, ou seja, criar leis e normas que irão regular as relações entre os indivíduos e o Estado, devendo ser seguido e respeitado, em regra, por todos, sem distinções e exceções. O Poder Legislativo pode ser entendido e visto como o primeiro dos Poderes do Estado, visto que, é através dele que surgem as funções dos demais poderes, criando as leis que o Executivo deverá executar. E, através das mesmas, o Judiciário resolverá os conflitos na sociedade. Além da função típica e primária de formular as leis, possui também a tarefa de fiscalização do Estado. O presente estudo centra-se especificamente no Poder Legislativo, havendo assim, a necessidade de maior aprofundamento quanto ao funcionamento do mesmo. 1.2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO 1.2.1. Congresso Nacional O Poder Legislativo é exercido através do Congresso Nacional, este que representa o interesse nacional. Entretanto, no Brasil, adotou-se a forma bicameral, isto é, o Congresso Nacional se divide em duas casas: A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, para melhor divisão e administração dos interesses que representam. 7 Cada um dos órgãos, Ordem dos Advogados Brasileiros (OAB) e o Ministério Público (MP), de forma livre, elaboram uma lista com possíveis nomes ao cargo e remete a mesma para o Tribunal respectivo, este por sua vez, escolhe três nomes e encaminha para o Poder Executivo que nomeará um desses nomes para assumir o cargo de desembargador ou Ministro. O quinto constitucional é previsto no artigo 94 da CF/88. 18 Compete ao Congresso Nacional, que é a junção dos representantes das duas casas ditas anteriormente, dispor sobre todas as matérias de interesse da União dispostas na Constituição Federal 8 , citando como exemplo: legislar sobre o sistema tributário do país, concessão de anistia, resolver tratados e acordos internacionais, dar a permissão ao Presidente da República em declarar guerra, julgar as contas apresentadas pelo Presidente, etc. Em todas as casas e também no Congresso, é preciso um determinado número de votos para que determinadas deliberações sejam adotadas, Nesse sentido Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco (2017, p.927), esclarecem: As decisões no Congresso Nacional são tomadas por maioria simples de votos, a não ser que a Constituição disponha diferentemente em hipóteses específicas. Como quórum para funcionamento, exige-se a presença da maioria absoluta dos membros. (...) Maioria simples dos votos significa o maior número de votos orientados para uma direção (...) Sendo assim, nas decisões tomadas pelo Congresso Nacional, é preciso haver a maioria simples dos votos de seus membros, ou seja, conta-se em qual orientação houve um maior saldo, não sendo necessários, a contagem de metade dos presentes mais um voto para decisão. 1.2.2. Câmara dos Deputados Como visto, o Congresso Nacional é bicameral, cabendo a Câmara dos Deputados à representação popular, como dita o artigo 45 de CF/88 “A Câmara dos Deputados compõe-se de representantesdo povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.” (BRASIL, 2013, p.45). O número de Deputados representantes dos Estados, Territórios 9 e Distrito Federal serão proporcionais ao número de habitantes em cada um destes, não podendo ultrapassar o máximo de quinhentos e treze representantes totais e setenta por Estado e, o mínimo, de oito deputados federais em cada. O mandato de cada deputado terá a duração de quatro anos. Cabe salientar, que mesmo sendo eleitos pela população específica de uma região, cada deputado federal tem a função de representar os interesses de todo o povo brasileiro, por serem considerados representantes de toda a nação. A Carta Magna de 1988, em seu artigo 51, enumera a competência privativa desta casa: Compete privativamente à Câmara dos Deputados: 8 As atribuições e competências exclusivas do Congresso Nacional estão dispostas na Constituição Federal nos artigos 48, 49 e seus respectivos incisos. 9 Atualmente no Brasil, não existem territórios. 19 I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado; II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; III - elaborar seu regimento interno; IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII. (BRASIL, 2013, p. 47) Por fim, o funcionamento da Câmara dos Deputados é dividida em quatro sessões legislativas por ano, tendo início em 2 de fevereiro e interrompida em 17 de julho, reiniciada em 1º de agosto e encerrada em 22 de dezembro. 1.2.3. Senado Federal Por sua vez, cabe a segunda casa do Congresso Nacional a representação dos interesses dos Estados-membros. Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário. § 1º - Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos. § 2º - A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços. § 3º - Cada Senador será eleito com dois suplentes. (BRASIL, 2013, p. 45) (grifo meu) Diferentemente da Câmara dos Deputados, a eleição dos Senadores se dá de forma majoritária, sendo eleitos três senadores por Estado-membro e Distrito Federal, independente da quantidade de habitantes que cada um possua, tendo um total de oitenta e um senadores que exercem seu mandato pelo período de oito anos, sendo renovado de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços, como definido no artigo 46, §2 da Constituição Federal. O Senado também possui competência privativa ditada pela Carta Maior, determinada no artigo 52, como exemplo compete a ele: processar e julgar o Presidente, Vice-Presidente, Ministros do Estado e Comandantes das forças nacionais em crimes de responsabilidade, aprovar a escolha de Ministros do Tribunal de Contas da União, Governadores de Territórios, Presidente e diretores do banco central, etc. suspender a execução de leis tornadas inconstitucionais, entre outras. Enfim, a representação dos interesses do povo e dos Estados-membros e Distrito Federal se dão por casas distintas, mas que juntas formam o Congresso Nacional, que por sua vez defende as necessidades da União. Lembrando, que assim como no Poder Executivo, o povo tem o poder de escolha e elege os candidatos preferidos e confiáveis para resguardar suas preocupações e 20 legislarem sobre suas relações na sociedade. 1.3. FUNÇÕES DO PODER LEGISLATIVO Como dito anteriormente, o Poder Legislativo tem como função principal a de elaborar, modificar e alterar leis sobre todos os assuntos definidos em suas competências. Assim, cabe a estes políticos representantes e eleitos pelo povo, a responsabilidade de criar as leis e normas reguladoras do convívio e controle social. Além da função de legislar, o Poder Legislativo também possui a tarefa de fiscalização, ou seja, cabe também aos parlamentares a inspeção das atividades desenvolvidas pelo Poder Executivo e os atos de toda a administração pública que este poder representa – já que é este que tem a função de executar todas as normas criadas pelo Poder Legislativo - tal controle é realizado com o auxílio do Tribunal de Contas da União – TCU. O Congresso Nacional conta ainda, para exercício da função fiscalizadora, com as Comissões Parlamentares, que serão exercidas a depender da discussão fomentada, em suma são: Comissão temática ou em razão da matéria 10 ; Comissão especial ou temporária; Comissão parlamentar de inquérito 11 ; Comissão mista e Comissão representativa 12 . Por fim, a grande função do Poder Legislativo se resume na representação social e na busca de satisfazer os interesses do povo através das leis. 1.4. PROCESSO LEGISLATIVO É a partir do Processo Legislativo que se estuda, muda, substitui, promulga e publicam-se espécies normativas. A ele, incumbe-se a elaboração de: emendas à Constituição; Leis complementares; Leis ordinárias; Leis delegadas; Medidas provisórias; Decretos legislativos e resoluções – Artigo 59, CF/88. Para o início do processo é preciso que alguém ou algum ente tome a iniciativa, que se dá através da apresentação de uma proposta de criação/modificação de uma lei ou direito. “O projeto de lei deve ter início na Câmara dos Deputados, se não resulta de iniciativa de senador ou de comissão do Senado.” (MENDES, 2017, p. 944) 10 É tida como permanente, art. 58, § 2º da CF/88. 11 Art. 58, § 3º da CF/88 12 Esta, ocorre durante o recesso das sessões legislativas, art. 58, § 4º da CF/88. 21 A iniciativa pode se dar como comum ou geral, quando é apresentada por qualquer membro do Congresso Nacional, comissão de qualquer uma das casas, pelo Presidente da República e pelos próprios cidadãos: Art. 61, §2º § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. (BRASIL, 2013, p.53) Além da pública a iniciativa pode-se dar de forma privada, nos casos em que a Constituição Federal institui a competência apenas a algumas autoridades ou órgãos. Ou ainda, de iniciativa privada de órgãos do Judiciário, do Ministério Público, da Câmara dos Deputados, Senado, Tribunal de Contas ou do Presidente da República 13 . Depois de feita a proposta, passa-se para a fase de discussão e voto dos parlamentares quanto à deliberação ou não do determinado projeto de lei. Tendo a número necessário de votos, o projeto é encaminhado para o Presidente da República que ira sancionar (anuência), podendo ser expresso ou tácito (quando o projeto não é vetado no prazo constitucional) ou vetar o mesmo, que deve ser de forma expressa e fundamentada, a não concordância pode ser em todo o projeto de lei ou em partes. Nessa perspectiva, Gilmar Mendes disserta: O veto não é absoluto. É dito relativo. Com isso se designa a possibilidade de o Congresso Nacional rejeitar o veto, mantendo o projeto que votou. A rejeição do veto acontece na sessão conjunta quedeve ocorrer dentro de trinta dias de sua aposição (...). Exige-se maioria absoluta dos deputados e maioria absoluta dos senadores para que o veto seja rejeitado. (MENDES, 2017, p. 949) Por fim, se sancionado ou rejeitado o veto, chega-se a fase da promulgação que atesta a existência da lei e ordena a sua aplicação. E a publicação, que faz com que a lei torne-se conhecida e fixa o tempo de vigência da mesma. Como dito anteriormente, há vários tipos normativos que o Poder Legislativo tem domínio para criar, sendo pertinente adentrar de forma sucinta nas Leis Complementares e Ordinárias, que são relacionadas ao assunto principal deste trabalho. A lei complementar caracteriza-se pelo fato que somente através dela determinado assunto será tratado, “apenas se estende àquelas situações para as quais a própria Constituição 13 A Constituição Federal em seu artigo 93, reserva a iniciativa ao Supremo Tribunal Federal a leis complementares sobre o Estatuto da Magistratura; ao Ministério Público, em seu artigo 127, §2º e 128, §5º a iniciativa para propor criação ou extinção de seus cargos e serviços e organização do estatuto de cada Ministério Público. Já a iniciativa privativa da Câmara dos Deputados, Senado ou do TCU encontra-se nos artigos 51, IV e 52, XIII, também da Carta Magna que diz respeito a criação de leis a respeito da remuneração dos servidores. E por fim, no artigo 61, §1º, I e II , lista os assuntos de iniciativa do Presidente da República. 22 exigiu – de modo expresso e inequívoco 14 ”, são aquelas criadas em caráter integrante ou explicativo a norma constitucional, dando como exemplo o artigo 93 da CF/88, que estabelece que o Estatuto dos Magistrados 15 seja formalizado em forma de lei complementar pelo Supremo Tribunal Federal, sendo assim, a lei surge como complemento à norma já existente na Constituição. Além de tratar de assuntos específicos e que devem ter menção expressa do mesmo, para aprovação de lei complementar é necessário um quórum de maioria absoluta, que é contada com metade dos membros mais um, sendo assim, como atualmente o Congresso Nacional conta com quinhentos e treze representantes, a maioria absoluta se dá quando alcançado no número de duzentos e cinquenta e sete votos em determinada direção. Diferentemente da Lei Complementar, a Lei Ordinária – que possui um cunho de maior importância aqui, por ser responsável na criação de novas leis - é exigida de forma residual, ou seja, será adotada nos casos em que não há manifestação do legislador quanto à exigência ou especificidade de determinada matéria ser regulamentada pela legislação. É considerada como um ato legislativo típico, pois veicula normas gerais e abstratas. Clareando, a competência da Lei Ordinária englobará todos os assuntos que não sejam do âmbito de Lei Complementar. E para sua aprovação, é necessário um quórum de maioria simples que, como já explicado anteriormente, é tida com a maioria dos votos em determinada direção, não havendo a necessidade de metade dos votos dos membros mais um como é na maioria absoluta. 14 ADI 789, DJ de 19 de dezembro de 1994, tendo como relator o Ministro Celso de Mello. 15 A lei complementar Nº 35, de 14 de março de 1979 dispõe sobre o Estatuto dos Magistrados, assim como determinado pela Constituição Federal. 12 2. CAPÍTULO II - A MÍDIA ENQUANTO UM INSTRUMENTO DEMOCRÁTICO 2.1. MÍDIA: ASPECTOS CONCEITUAIS A mídia é o principal instrumento de propagação da informação na sociedade atual. É raríssimo encontrar alguém que não tenha acesso a ela em qualquer uma de suas formas existentes. Antes do aprofundamento no assunto, faz-se pertinente uma pequena conceituação do que vem a ser a mídia. A palavra mídia é derivada do latim “media” que significa “meio” ou “forma” 16 . É entendida como todo e qualquer suporte de difusão da informação, ou seja, são os canais ou ferramentas utilizadas para armazenar, transmitir notícias, conhecimentos e dados. É um conjunto de comunicações sociais de massa e agência de notícias, a fim de comunicar todo e qualquer assunto a população. Pode ser vista e utilizada também como imprensa, jornalismo, veículo de informação, etc. Além de ser usada como meio de compartilhamento de informações, também pode ser utilizada como forma de propaganda e marketing. Muitas são as formas de concretização da mídia, meios de comunicação, entre eles apresentam-se: os meios impressos (jornais e revistas), meios eletrônicos (internet, televisão e rádio), meios extensivos ou exteriores (outdoors, placas, painéis), new media (novidades tecnológicas que não se enquadram em outras categorias) e no media (outras opções não consideradas mídia, pois não utilizam veículos de comunicação de fato) 17 . Segundo a autora Noemi Mendes Siqueira Ferrigolo (2005, p. 120) os meios de telecomunicações se dividem em três grandes famílias, sendo: Os de suportes autônomos, em que a comunicação à distância se realiza mediante suportes físicos que retém a informação de forma duradoura, a exemplo de livros, fitas magnéticas, vídeos; as teledifusões, em que a comunicação à distância se dá entre emissor e receptor, em um único sentido e com cobertura massiva, como televisão, radiodifusão, TV a cabo. Por último, as telecomunicações interativas em que a comunicação à distância se realiza imedita, direta e simultaneamente, como, por exemplo, através do telefone e da internet. É fato que a cada momento surgem novas formas de propagação da informação, atualmente veem-se em alta as redes sociais, por exemplo, onde milhares de notícias e acontecimentos são vinculados nas postagens a todo o momento. Não há grandes dificuldades encontradas pelas pessoas na questão de saber o que esta acontecendo a todo o momento, em decorrência da quantidade imensa de meios de comunicação existentes hoje em dia. 16 LEONARDI, Aline. GLOSSÁRIO DA MÍDIA. Aline Leonardi, Túlio Bassi. 2011. Disponível em < https://glossariodamidia.wordpress.com/2011/06/21/meiosmidia/> Acesso em 24 de mar. 2018. 17 NAKAMURA, Rodolfo. Mídia: como fazer um planejamento de mídia na prática. Rodolfo Nakamura – São Paulo: Farol do Forte, 2009. 13 Independentemente do meio de comunicação adotado, é de suma importância frisar que os meios de comunicação devem, principalmente, buscar e transmitir a verdade, sempre compartilhar e repassar notícias que tenham um cunho verdadeiro e real dos fatos e acontecimentos que estão sendo passados. É através desses meios que a população em massa toma conhecimento do que está sucedendo ao seu redor e no mundo. 2.2. PREVISÃO LEGAL QUE ASSEGURA A EXISTÊNCIA DA MÍDIA Tamanha é a importância da mídia, que através dos princípios constitucionais sua existência é garantida na sociedade. Levando em consideração atentados e repressões que a mesma já passou, como no Golpe de Estado de 1964, em que com a instauração da ditadura militar, a liberdade de informação foi reduzida com as repressões e impedimentos que a mesma sofreu. Ou seja, os meios de comunicação não possuíam mais a prerrogativa de expor a verdade e os fatos que estavam acontecendo, havia um grande controle por parte dos governantes sobre tudo que era noticiado e como era passado à população. Nada poderia ser publicado, transmitido e repassado sem prévia autorização do Estado. Nesse sentido, segundo o doutrinador Gilmar Mendes (2017, p. 265): Não é o Estado que deve estabelecer quais as opiniões que merecem ter tidas como válidas e aceitáveis; essa tarefa cabe, antes, ao público a que essas manifestações se dirigem (...). Convém compreender que censura, no texto constitucional, significa ação inibitória realizada pelos Poderes Públicos, centrada sobre o conteúdo de uma mensagem. Proibir a censura significaimpedir que as ideias e fatos que o indivíduo pretende divulgar tenham de passar, antes, pela aprovação de um agente estatal. Assim, com o fim da ditadura militar, e atualmente com a vigência da Constituição Federal de 1988, os meios de comunicação seguem com sua essência de repassar à verdade e acontecimentos para a população, sem qualquer tipo de censura. Servindo como meio garantidor da democracia de forma a afastar controle estatal e repressão. 2.2.1. Princípio da Liberdade de Expressão Cabe então analisar quais os princípios em espécie que asseguram a existência e atividade da mídia dentro da sociedade, que consagram-na como meio garantidor da democracia. O principio da liberdade de expressão, também conhecido como liberdade de manifestação de pensamento, está contemplado na Constituição Federal dentro do título II “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, capítulo I, artigo 5º, IV, que diz: “é livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato”. (BRASIL, 2013, p. 13). Vem contemplado aquilo que já foi dito anteriormente, que a manifestação de pensamento é livre, 14 desimpedida de qualquer forma de censura, como expressamente disposto no artigo 220 da mesma “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição (...)” (grifo meu) (BRASIL, 2013, p. 127). Ou seja, a pessoa pode demonstrar sua forma de pensar, sobre qualquer situação ou fato, do jeito que melhor lhe convêm. Entretanto, não deve fazer isso de forma anônima, escondendo sua identidade ao externar suas opiniões. Tal ressalva se faz necessária caso haja desrespeito a direito de outrem no discurso da pessoa, mesmo seu pensamento e manifestação sendo livre, deve tomar cuidado para não prejudicar ou até mesmo cometer crime contra a honra de outras pessoas. Tal princípio é muitas vezes visto e tido como um dos mais importantes e relevantes, visto que é fruto de uma grande luta e reinvindicação das pessoas de todos os tempos. Sabe-se que no evoluir da história várias vezes o homem esteve sujeito a regras autoritárias impostas pelo governo, como na citada época da Ditadura Militar, ou época em que a Igreja mantinha o poder de Estado e não permitia a livre manifestação de pensamento, principalmente nas questões religiosas que iam contra os ensinamentos católicos, pode-se também ter como exemplo o tempo em que as pessoas de cor negra eram vistas como escravos e inferiores as demais pessoas, logo, não possuíam qualquer tipo de voz ativa e, muitas vezes, sua liberdade de expressão os levava a sofrer duros castigos. Ou ainda, a época que as mulheres eram vistas como meros instrumentos de procriação e para atividade domiciliar onde suas opiniões e pensamentos também eram desprezados 18 . Sendo assim, sua apreciação dentro do ordenamento jurídico é visto como uma grande conquista e contemplação da democracia no país. Como dito, o princípio da liberdade de expressão, assim como os demais princípios, não são totalmente superiores ao restante do ordenamento jurídico pois possuem algumas ressalvas. Além do impedimento de ser exercido através do anonimato, o mesmo não abrange a violência, ou seja, deve ser utilizado para expor seus pensamentos e opiniões sem excitar a violência para com outrem. Tudo aquilo que vier a ser dito, noticiado, comunicado, se vier a infringir um direito de terceiro, será responsabilizado com a indenização ou penas pertinentes. Nessa perspectiva, diz Gilmar Mendes (2017, p. 270): 18 Vale lembrar que, em regra, tais atitudes foram abolidas na maior parte do mundo. Entretanto e infelizmente, há lugares que ainda censuram a liberdade de pensamento de determinadas pessoas. Como exemplo de países tido como piores no quesito liberdade podemos citar, a título de conhecimento: Coréia do Norte, Irã e China, dentre muitos outros. 15 Dessa forma, admite a interferência legislativa para proibir o anonimato, para impor o direito de resposta e a indenização por danos morais e patrimoniais e à imagem, para preservar a intimidade, a vida privada e a honra e a imagem das pessoas, e para que se assegure a todos o direito de acesso à informação. A mídia também faz jus à prerrogativa de liberdade de expressão, já que o presente princípio é primordial na justificativa da existência e necessidade da mesma. Através dos meios de comunicação que se vê os maiores exemplos de liberdade de pensamento, pois através deles que as empresas de cunho jornalístico, midiático e outros demonstram a efetivação do princípio. Possuem as mesmas garantias e deveres que as pessoas têm para exercer tal direito, não devendo extrapolar seus limites e se focando no interesse social de expor fatos e acontecimentos, sem interferir e ultrapassar os demais direitos das pessoas. Entretanto, a mídia possui ainda algumas restrições quanto a propagandas, como previsto no art. 220, §4 da CF/88 que diz: A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estarão sujeitas a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso. (BRASIL, 2017, p. 127). Além dessas restrições citadas o Capítulo V “Da Comunicação Social”, do Título VIII da Carta Magna, trás outros diversos requisitos, restrições e prerrogativas que os meios de comunicação possuem. No que diz respeito ao presente estudo, é de suma importância entender a estima que o princípio da liberdade de expressão possui quanto ao trabalho exercido pela mídia dentro da sociedade, como visto, ela possui o direito de manifestar e explanar acontecimentos e fatos, lembrando que se deve sempre frisar que a mesma seja exercida com cuidado, principalmente em relação à forma que é passado e na apuração da verdade, pois os excessos podem ser responsabilizados e reparados, já que o que esta sendo transmitido, normalmente, está relacionado à vida ou funcionamento de pessoas ou órgãos que também possuem direitos contemplados, e estes devem ser respeitados mesmo frente à liberdade de expressão. 2.2.2. Princípio da liberdade de informação O presente princípio é uma extensão do anteriormente e o completa, sua diferença é pequena, nas palavras de Luís Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho (1999, p. 25) consiste em: (...) de um lado, o direito de informação e, de outro, a liberdade de expressão. No primeiro está apenas à divulgação de fatos, dados, qualidades, objetivamente apuradas. No segundo está a livre expressão do pensamento por qualquer meio, seja a criação artística ou literária, que inclui o cinema, o teatro, a novela, a ficção 16 literária, as artes plásticas, a música, até mesmo a opinião publicada em jornal ou em qualquer outro veículo. Neste momento, se contempla o direito e a liberdade de informar e ser informado, que também está presente no artigo 5º da Constituição Federal em seu inciso XIV, que diz: “É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. A liberdade de informação encontra-se intimamente ligada a liberdade de imprensa, que é a prerrogativa que o indivíduo possui de publicar e dispor de acesso à informação, aumentando o acesso e difusão da mesma. Noemi Mendes Siqueira Ferrigolo (2005, p. 130), frisa que: Salienta-se que a liberdade de informação não é apenas poder constitucional, mas fundamento da legitimidade dos poderes, pressuposto da liberdade de pensamento e de discussão, constituindo-se em elemento fundamental para o exercício da democracia. Vale ressaltar que a informação deve ser entendida de forma ampla, estendendo-se a todos os fatos e notícias que podem formar a opinião pública, veiculada através de todos os meios de propagação existentesdo mesmo modo, como já dito anteriormente, deve ser exercida de forma livre, para não transmitir uma informação e criar uma opinião manipulada e fraudulenta. Nas palavras de José Afonso da Silva, citado por Zulmar Fachin (2013, p. 267): “a liberdade de informação compreende a procura, o acesso, o recebimento e a difusão de informação ou ideais, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada qual pelos abusos que receber.”. Nesse sentido, como já comentado resumidamente anteriormente, aqui não se trata de qualquer tipo de informação, mas é necessário que a mesma seja verdadeira. No estudo de Gilmar Mendes (2017, p. 274), o mesmo faz um apontamento interessante sobre a verdade como limite à liberdade de informação e expressão, ele diz: Não resta dúvida de que a comunicação social com conteúdo comercial está obrigada a não distorcer a verdade. O Código de Defesa do Consumidor, nessa linha, proíbe a propaganda enganosa e obriga o comerciante aos termos do seu anúncio. (CDC, art. 30). (grifo meu) Diz ainda, no mesmo sentido que: A informação falsa não seria protegida pela Constituição Federal, porque conduziria a uma pseudo-operação de formação de opinião. Assinala-se a função social da liberdade de informação de “colocar a pessoa sintonizada com o mundo que a rodeia (...)”. Argumenta-se que, “para se exercitar o direito de crônica, que esta intimamente conexo com o de receber informações, será mister que se atenda ao interesse da coletividade, de ser informada, porque através dessas informações é que se firma a opinião pública, e será necessário que a narrativa retrate a verdade”. 17 (grifo meu) (MENDES, 2017, p. 274-275, apud Paulo José da Costa Júnior, O direito de estar só, São Paulo : Revista dos Tribunais, 1995, p. 67). Vale ressaltar que, como dito anteriormente, as noticias vinculadas de cunho mentiroso ou ofensivo, poderão ser objetos de retificação e indenização para com o ente ou pessoa prejudicada, é importante frisar a importância que a mídia tem dentro da sociedade em lhe informar os acontecimentos e fatos que estão acontecendo a sua volta e no mundo, mas é preciso e importante também, que a mesma faça isso de uma maneira séria, respeitando e tendo consciência da sua importância na sociedade e dos direitos das demais pessoas. Há casos em que a liberdade de informação pode ser relativizada, como as vistas anteriormente dentro do tópico da liberdade de expressão e se faz pertinente citar algumas outras, por exemplo, de acordo com o artigo 139, inciso III da CF/88: Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: (...) III- restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei. (BRASIL, 2013, p. 86). Tal restrição irá perdurar apenas enquanto o país se encontrar em estado de sítio 19 , cessada a circunstância, a liberdade de informação volta a viger. É importante então, salientar que a mídia possui grande papel dentro da sociedade, pois é através dela que a liberdade de informação é concretizada, possuindo a missão de transpassar a informação a toda população, possuindo também a liberdade de expressão como visto. Deve ser exercida de forma livre e independente, sendo restringida apenas em casos excepcionais e estabelecidos em lei, dada a sua importância dentro da sociedade. 2.3. FUNÇÃO SOCIAL EXERCIDA PELA MÍDIA Desde os tempos remotos, o homem procurava se comunicar entre si e entre culturas diferentes. Nas palavras de Noemi Ferrigolo (2005, p. 116): 19 “Estado de sítio é o instrumento utilizado pelo Chefe de Estado em que se suspende temporariamente os direitos e as garantias dos cidadãos e os Poderes Legislativo e Judiciário ficam submetidos ao Executivo, tendo em vista a defesa da ordem pública. No Brasil, para decretar o Estado de Sítio, o chefe de Estado, após o respaldo do Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional - que oferecerão parecer não vinculativo - solicita uma autorização do Congresso Nacional para efetivar o decreto. Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.” - Oliveira, Rodrigo Marques de. O que se entende por estado de sítio? Disponível em: < https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2127608/o-que-se-entende-por-estado-de-sitio-rodrigo-marques-de- oliveira> Acesso em 08 de abril de 2018. 18 O homem, desde os primórdios da civilização, sentiu necessidade de se comunicar, passando então a imaginar um sistema de comunicação, que fosse compreendido, decifrado por todos. Uniu símbolos conhecidos e identificados, visando a transferência de ideias; processo que abriu caminhos para posterior surgimento do alfabeto. Precede essa forma, embora a História não registre a partir de quando, o esforço da comunicação através de sons e de gestos que mais tarde formariam a “comunicação oral”. O homem sempre procurou evoluir ainda mais e fazer com que a comunicação chega-se cada vez mais longe e pudesse atingir cada vez mais povos. Com o passar do tempo, em meados do século XII o papel começa a ser utilizado na Europa, pode-se considerar esse o berço da criação de comunicações impressas, neste momento ouve um grande impulso na criação dos meios de comunicação, que se utilizavam e até hoje utilizam do papel como meio de propagação da informação. Dessa mesma forma foi acontecendo no decorrer da história, com o surgimento do telefone na década de 1870, do rádio em 1896, tendo um grande avanço com o surgimento da televisão no século XX e com o aperfeiçoamento da internet. Os meios de comunicação começaram a tomar forma e a sede de conhecimento e de comunicação entre as pessoas começaram a ser saciadas. Desde o principio que a mídia, abrangendo os meios de comunicação em geral, atende os anseios da população nas principais funções de: informar, entreter e educar. Informar, como já discorrido, no momento em que determinado meio de comunicação assume o papel jornalístico e de informação, busca acontecimentos, fatos e notícias que estejam acontecendo na cidade, estado, pais e mundo das pessoas e as repassam, a fim de comunicar ao público tudo que está acontecendo ao seu redor. Em artigo do professor Ricardo Guilherme S. Corrêa Silva (2014, p. 10) “A mídia é um instrumento hábil a efetivar o direito constitucional da informação, entendendo-se por esta as múltiplas formas capazes de repassar a notícia.”. Fácil a exemplificação do papel do informar visto em: programas de rádio, nos jornais informativos da televisão e nos sites de notícias da internet, todos correm atrás da noticia fresca e imediatamente repassam à sociedade. O entretenimento, também assume uma das funções dos meios de comunicação e mídia dentro da sociedade, visto que nem sempre assumem o caráter única e exclusivamente de informar, muitas vezes usam do seu alcance social para entreter o público, com programas mais voltados à comédia, ao lazer e ao esporte de modo que satisfaça aos interesses do público alvo. Buscam através disto, fazer com que a pessoa se “retire” dos problemas atuais e de sua realidade para satisfação do seu psicológico, ultrapassandoa mera finalidade de preservar a sobrevivência material, faz com que o público espaireça, se divirta e se distraia. 19 Luiz Gonzaga Godoi Trigo (2003, p. 21-22), trata que: A cultura, em particular, e a vida humana, em geral, são muito mais complexas que as tentativas de se padronizar experiências. O esporte, a cultura, a política, os jogos e as diversões, a religião e as crenças, as festas são fontes inesgotáveis de atividades humanas prazerosas, que se expressam sob os mais diversos conceitos como lazer, recreação, ócio e entretenimento. Vê-se que a mídia e os meios de comunicação vão além da função típica de informação, correspondendo a outros anseios da população como o de nutrir seu prazer pessoal, feito e exercido através das formas de entretenimento adotadas. Por fim, os meios de comunicação também possuem a função de educar, já que atualmente são usadas como forma de transmitir o conhecimento as pessoas, de forma educacional. Não possui a função primordial de educar, já que existem os próprios meios e projetos dentro da sociedade destinados à educação, mas agem e colaboram com a distribuição do saber. A mídia possui um grande poder e influência na formação das pessoas, como diz Rosa Maria Bueno Fisher (2002, p. 153): (...) extremamente poderoso no que tange à produção e à circulação de uma série de valores, concepções, representações relacionadas a um aprendizado cotidiano sobre quem nós somos, o que devemos fazer com nosso corpo, como devemos educar nossos filhos, de que modo deve ser feita nossa alimentação diária, como devem ser vistos por nós, os negros, as mulheres, pessoas das camadas populares, portadores de deficiências, grupos religiosos, partidos políticos e assim por diante. Em suma: torna-se impossível fechar os olhos e negar-se a ver que os espaços da mídia constituem-se também como lugares de formação ao lado da escola, da família, das instituições religiosas. Sendo assim, vê-se que o papel da mídia vai muito além do que o de meramente transmitir as informações que acontecem ao público, seu poder de alcance, de formação, de alienação e formação de opiniões dentro da sociedade é muito grande. É um instrumento de muita utilidade e necessário para a população, é garantidor de diversos princípios e contempla diversos outros e direitos do cidadão. Difícil seria a visualização da sociedade atual sem os instrumentos de propagação da informação existentes, mesmo já havendo a época que se viveu sem, hoje contemplam muito do que o homem buscou desde o começo dos tempos e caracterizam uma das coisas mais essenciais dentro da sociedade, afinal como seria as formas de vida e qual seria a qualidade da mesma se as pessoas não tivessem em suas mãos o acesso aos meios de comunicação existentes, a informação imediata do que está acontecendo ao seu redor. Indubitavelmente, a existência da mídia marca uma evolução da sociedade e ainda garante e excita tantas outras evoluções e mudanças dentro da mesma, dado o seu poder de influência a alienação. 20 2.5. PODER E INFLUÊNCIA DA MÍDIA DENTRO DA SOCIEDADE Visto e discorrido sobre a legitimidade, prerrogativas e funções da mídia dentro da sociedade, não restam dúvidas que a mesma se caracteriza como um instrumento de suma importância e poder dentro da coletividade. É capaz de disseminar ideias e reproduzir modos de ser e pensar. Vista ainda, como um dos maiores organismo de poder de discurso, fomento de discussão, manipulação, influência e mudanças no meio social. A mídia, indiscutivelmente, é a maior formadora de opinião pública através do poder que exerce na sociedade. Segundo Vicente de Paula Leão e Inêz Aparecida de Carvalho (2008, p. 39): (...) a mídia traz à tona valores a serem incorporados e posturas a serem adotadas. Retrata, por meio da paisagem, as contradições em que vive, confundindo no imaginário aquela que é real e a que se deseja como ideal; toma para si a tarefa de impor e inculcar um modelo de mundo, de reproduzir o cotidiano por meio da imagem massificante repetida pelo bombardeamento publicitário, sobrepondo-se às percepções e interpretações subjetivas e/ou singular por outras padronizadas e pretensamente universais. Como brilhantemente discorrido pelos autores, a mídia tem capacidade de determinar todas as posturas e métodos de vivência das pessoas, até mesmo definir padrões de moda, de qualidade de vida, do que é certo ou errado. A população naturalmente aceita os aspectos lhes passados, pois são facilmente influenciáveis ao que lhes determinam. Nesse sentido, excelentemente o professor Ricardo Guilherme S. Corrêa Silva cita a obra de Willian Rivers e Wilbur Schramm (2013, p. 93 apud 1970 apud BONJARDIM, 2002, p. 57-58): Todos nós dependemos dos produtos da comunicação de massa para a grande maioria das informações e diversão que recebemos em nossa vida. É particularmente evidente que o que sabemos sobre números e assuntos de interesse público depende enormemente do que nos dizem os veículos de comunicação. Somos sempre influenciados pelo jornalismo e incapazes de evitar esse fenômeno. Pouco podemos ver nós mesmos. Os dias são muito curtos e o mundo é enorme e muito complexo para podermos cientificar-nos de tudo o que se passa nos meandros do governo. O que pensamos saber, na realidade, não sabemos, no sentido de que saber representa experiência e observação. Tal poder de influência e de modulação dos parâmetros e aspectos sociais se da exatamente pelo trabalho que ela exerce, sendo o principal canal de compartilhamento de conhecimento e informação, muito dificilmente sabe-se de fatos novos sem tê-los visto e conhecido através de algum meio de comunicação, em qualquer uma das suas diversas modalidades. Não cabe aqui, ainda, a discussão se tais parâmetros e ideias passadas acabam por formar opiniões erradas ou corretas sobre determinados assuntos e aspectos do cotidiano. 21 Mas, o que se sabe é que muito dificilmente a população busca aprofundar o saber das notícias e informações lhes passadas, não procuram as fontes e os outros lados do que lhes transmitem, aceitam, de forma majoritária, tudo como verdade e formam suas opiniões com base no que os meios de comunicação adotados por cada um passam como a verdade e sobre o que é certo ou não. Nas palavras de Jorge Pedro Sousa (2002, p. 119): [...] podemos intuir que a comunicação jornalística é um elemento importante na organização da vida quotidiana. De alguma forma, as notícias, entre múltiplas outras funções, participam na definição de uma noção partilhada do que é atual e importante e do que não o é, proporcionam pontos de vista sobre a realidade, possibilitam gratificações pelo seu consumo, podem gerar conhecimento e também sugerir, direta ou indiretamente, respostas para os problemas que quotidianamente os cidadãos enfrentam. As notícias, ao surgirem no tecido social por ação dos meios jornalísticos, participam da realidade social existente, configuram referentes coletivos e geram determinados processos modificadores dessa mesma realidade. Não restam dúvidas que o poder de influência midiático é extremamente grande e que a população é, também, um objeto de fácil manipulação e alienado a tudo que os meios de comunicação lhes determinam já que raramente buscam se aprofundar nos assuntos e procurar outros pontos de vista e “verdades” sobre os casos e temas que a eles são repassados. Sendo assim, vê-se que a mídia possui grande importância na sociedade, é um instrumento garantidor da democracia, pois contempla e garante diversos direitos constitucionais atribuídos às pessoas, tem função social ampla e consegue além de informar, alcançar outros patamares, como o de entreter, distrair, educar, etc. É ainda, o maior e mais eficiente instrumento de manipulação de massas e formação de opinião, a sociedade esta sempre sujeita e a mercê do que lhe étransmitido, não é muito difícil analisar e reparar nas grandes comoções sociais que são fomentadas pela mídia e nas consequências que as mesmas trazem para a sociedade, gerando efeitos, até mesmo, no sistema judiciário, administrativo e principalmente no exercício do poder legislativo como, de forma mais aprofundada, será visto no decorrer do presente estudo. 22 3. CAPÍTULO III – A MÍDIA SOB UMA PERPESCTIVA CRÍTICA E O POPULISMO PENAL 3.1. CONTEXTO HISTÓRICO DA PUNIÇÃO O desejo de punição aos infratores sempre esteve presente na sociedade, desde a antiguidade, a população já buscava meios para castigo e retribuição do mal cometido pelas pessoas, seja contra o outro ou contra os interesses em geral. A vontade e sede por vingança e justiça sempre esteve enraizada na sociedade, pode-se até mesmo caracterizar como um sentimento pautado nos instintos de punição contra aqueles que não cumpriam com as obrigações morais e sociais impostas. O sentimento de vingança incessantemente se manifestou de diversas formas dentro da história da sociedade, tendo sofrido mutações conforme a evolução social. Segundo entendimentos, a vingança passou por algumas fases. A vingança divina, onde a religião exercia grande influência dentro da sociedade, o interesse religioso era o maior bem protegido, e todos aqueles que cometiam algum delito contra estes interesses eram castigados com a própria vida, ou seja, eram mortos. Acreditava-se que através do castigo imposto satisfazia-se a vontade e ira divina. Posteriormente, passou a existir a vingança privada. Segundo o professor Cezar Roberto Bitencourt, “envolvia desde o indivíduo isoladamente até o seu grupo social, com sangrentas batalhas, causando, muitas vezes, a completa eliminação de grupos” (2017, p.83). A punição variava entre o banimento do indivíduo da sua comunidade ou até a chamada vingança de sangue, caracterizada por guerras grupais cruéis, onde segundo os doutrinadores João Paulo Orsini Martinelli e Leonardo Schmitt de Bem (2017, p. 63) só tinha fim quando “uma das partes em conflito esvanecia”. Mais adiante, ainda no âmbito da vingança privada, passou a existir a famosa lei de Talião, conhecida como “olho por olho, dente por dente”, onde o terceiro, que cometeu um delito, era castigado de forma proporcional ao mal que cometeu. Também na obra de Martinelli e de Bem, estes fazem menção, nesse sentido, à obra do magistrado Faria Costa (2017, p. 63 apud COSTA, 2009, p. 157) que diz “o talião traduzia-se em a vingança não poder exceder o mal causado pelo agente e, embora a sua crueza, assumia certa ideia de proporcionalidade (...)”. Era típico causar ao delinquente o mal idêntico que causou ao outro, se lhe arrancou um dedo, por exemplo, teria o seu dedo arrancado também. Por fim, existiu a vingança pública que se caracterizava pela identidade do poder religioso e político, onde “o prestígio e atenção à vítima começaram a perder força (...) os particulares confiaram ao Estado à tutela penal de valores jurídicos” (Idem, 2017, p. 65). 23 Percebe-se que neste momento, a sociedade começa a fazer jus do chamado contrato social, começou ceder parte de sua legitimidade ao Estado, para que este cuidasse dos assuntos que eram de interesses gerais, assim como o direito penal e castigo aos delinquentes obviamente. Entretanto, nesta época os soberanos, lideres do Estado, usavam das leis como forma de se beneficiarem também. Ainda nas palavras dos autores supracitados: O Estado se fortaleceu, pois passou a ocupar tanto o papel de julgador como o de vítima. A resposta penal apenas podia ser estatal, pois de algum modo também era estatal ou público o interesse perseguido pelo particular ou pelo sacerdote, mas pela autoridade soberana do Estado, o Rei, que representava os máximos interesses estatais. Assim, despotismo e arbitrariedades na aplicação das penas foram características evidentes, pois igualmente objetivavam a proteção do soberano. (2017, p. 65). Nesta época a pena deixa de ter uma aplicação e vista como sacra e divina, passa a ser aplicada em nome de uma autoridade que representava a sociedade e seus interesses em geral. Diversas atrocidades foram características dessa época, como imposição de penas de morta, sanções que iam além e atingiam não só o culpado mas também seus familiares, confisco de bens e propriedades. Entretanto, pós essa fase de vingança pública que se deu a evolução do período Humanitário, onde as penas e sanções deixam de possuir um caráter tão agressivo e cruel e passam a respeitar a humanidade e dignidade da pessoa. Nos tempos atuais, dado o decorrer do tempo, em que a sociedade e os direitos humanos foram evoluindo, estes que foram consolidados pela ONU – Organização das Nações Unidas em 1945, no período pós Segunda Guerra Mundial e tem como um de seus objetivos principais a promoção da igualdade, proteção e de dar o mínimo de dignidade e qualidade à vida às pessoas e que tem demonstrado um crescimento constante em nível mundial e ampara sempre toda a coletividade, sem qualquer tipo de exceção. Tais acontecimentos fizeram com que as práticas excessivamente cruéis já não se tornaram mais aceitas, passando a existir então ordenamentos jurídicos mais humanitários – onde não são aceitos mais castigos que infringem a humanidade do réu, ou seja, já não são mais aceitas penas de morte, prisão perpétua, a lei de talião, etc. - que ditam condutas consideradas criminosas e a sanção que o agente receberá se cometê-las, conhecido também como o Direito Penal. Entretanto, a vingança continuou crescendo e se caracterizando como uma forma sede da vingança da população contra os infratores e sendo frequente “solução” aos conflitos individuais. 24 3.2. O POPULISMO PENAL Atualmente, depara-se com o fenômeno e evolução da vingança chamado Populismo Penal, que consiste na crença da população em criminalizar, julgar e repreender os autores de crimes de formas cada vez mais gravosas e impiedosas, sem se interessar e atentar as outras formas de controle e prevenção social. Segundo Luis Flávio Gomes em artigo científico 20 : O populismo penal é um discurso e, ao mesmo tempo, uma prática punitiva (um método, um procedimento ou um movimento de política criminal), paralelo (com características próprias) e, ao mesmo tempo, complementar de tantos outros discursos punitivistas (movimento da lei e ordem, tolerância zero, direito penal do inimigo etc.), e, concomitantemente, uma doença das democracias contemporâneas (veja Ferrrajoli: 2012, p. 57) (busca-se o apoio ou o consenso popular para suas erráticas e antidemocráticas teses) (2013, s/p.) O escritor espanhol Rafael Montes Velandia (2015, p. 62-65) conceitua Populismo Penal como: El populismo puede definirse como cualquier movimento de naturaleza política que mediante una “retórica específica, de fuerte coloración emotiva y redentorista” se autoproclama como intercomunicador legítimo de um sector de la sociedad, por lo general representado por un vocero o líder, y que expressa una expectativa de cambio social en una o más áreas de la comunidad que se estiman insatisfechas. Estas expectativas de cambio se fundan en la crítica a las políticas o a las acciones gubernamentales que se estiman como no idóneas, o la ausencia de ellas, para hacer frente a una situación que se considera generadora de un conflicto social. El presupuesto de operatividad de un movimiento populista es su apelación a su igual autoproclamada capacidad tanto de advertir un conflicto social que enfrenta la sociedad, como a tener acceso al conocimiento del pueblo, lo cual le da herramientas suficientes para plantear soluciones adecuadas al mismo, con el consecuente rechazo de cualquier propuesta que no tenga base en el conocimiento indicado. Isto é, como não são mais aceitas atualmente as formas de vingança
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