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Prévia do material em texto

. Alethes 
 
 
 
 
 
 
 
Diagramação: Arthur Barretto de Almeida Costa 
 Capa: Edição e montagem de Arthur Barretto de Almeida Costa sobre 
 Giorgio de Chirico. The Red Tower (1913), Peggy Guggenheim Collection 
 Divisórias: Montagens de Arthur Barretto de Almeida Costa sobre 
 Kjell Nupen.Sono interminável. Litografia. 59 x 42 cm 
 
 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________________ 
Alethes: Periódico científico dos graduandos em Direito 
Da UFJF. Vol. 06, N. 11. (Mai. a Ago. de 2016) 
 
Juiz de Fora: DABC, 2015. Semestral. 1. 
Direito – Periódicos 
 
ISSN 2177-4633 
_____________________________________________ 
 
As opiniões expressas são de inteira responsabilidade de seus autores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esta publicação conta com o apoio do Diretório 
Acadêmico Benjamin Colucci, da Faculdade de Direito 
da Universidade Federal de Juiz de Fora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dimensão jurídica não pode ser pensada 
como um mundo de formas puras, ou de 
simples mandatos separados da realidade 
social. 
 Paolo Grossi, Mitologias Jurídicas da 
Modernidade, p. 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialConselho Editorial 
 
Editor Chefe 
Acadêmico João Vítor de Freitas Moreira (UFJF) 
Acadêmico Marcos Felipe Lopes de Almeida (UFJF) 
Editores Adjuntos 
Acadêmica Anna Flávia Aguilar (UFJF) 
Acadêmico Arthur Barretto de Almeida Costa (UFMG) 
Acadêmico Aurélio Mendes (UFU) 
Acadêmico Bruno Silva (UFPB) 
Acadêmica Elora Raad Fernandes (UFJF) 
Acadêmico Igor Ladeira dos Santos (UFJF) 
Acadêmica Lorrayne Assis (UFJF) 
Acadêmico Rafael Carrano Lelis (UFJF) 
Acadêmica Giovana Figueiredo Peluso Lopes (UFJF) 
 Acadêmica Maria Fernanda Campos Goretti de Carvalho (UFJF) 
 
Conselheiros 
Dr. Alexandre Travessoni Gomes (UFMG) 
Drª Alice Rocha da Silva (UniCEUB). 
Dr. Andityas Soares de Moura Costa Matos (UFMG) 
Dr. Antônio Márcio da Cunha Guimarães (PUC-SP) 
Dr. Aziz Tuffi Saliba (UFMG) 
Ms. Brahwlio Soares de Moura Ribeiro Mendes (UFJF) 
Dr. Bruno Amaro Lacerda (UFJF) 
Doutorando Bruno Stigert de Sousa (UFJF e UNESA) 
Drª Clarissa Diniz Guedes (UFJF) 
Drª Cláudia Maria Toledo da Silveira (UFJF) 
Doutorando Daniel Giotti (UFJF) 
Drª. Daniela de Freitas Marques (UFMG) 
Dr. Denis Franco Silva (UFJF) 
Drª. Elizabete Rosa de Mello (UFJF) 
Doutorando Geraldo Adriano Emery Pereira (UFV) 
Drª. Eliana Conceição Perini (UFJF) 
Drª. Éllen Rodrigues (UFJF) 
Dr Everkley Magno Freire Tavares (UnP) 
Drª. Fernanda Maria da Costa Vieira (UFJF) 
Dr. Fernando Ramalho Ney Montenegro Bentes (UFRRJ) 
Mestranda Juliana Martins de Sá Muller (UERJ) 
Me Kalline Carvalho Gonçalves (UFJF) 
Drª Kelly Cristine Baião Sampaio (UFJF) 
Dr. Leandro Martins Zanitelli (UFMG) 
Dr. Leonardo Alves Corrêa (UFJF) 
Me Luiz Carlos Silva Faria Junior (UFJF) 
Dr. Marcus Eduardo de Carvalho Dantas (UFJF) 
Dr Moacir Henrique Júnior (Faculdade Politécnica de Uberlândia) 
Doutoranda Nathane Fernandes da Silva (UFJF-GV) 
Dr. Noel Struchiner (PUC-RIO) 
Mestre Paola Angelucci 
Drª Raquel Bellini de Oliveira Salles (UFJF) 
Ms. Renato Chaves Ferreira (UFJF) 
Dr. Ricardo Sontag (UFMG) 
Dr. Sérgio Marcos Carvalho de Ávila Negri (UFJF) 
Drª Silvana Henkes (UFU) 
Dr. Tiago Vinícius Zanela (CEDIN) 
Dr. Thiago Paluma (UFU) 
Mestrando Vitor Schettino Tresse (UERJ) 
Drª Waleska Marcy Rosa (UFJF) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SumárioSumárioSumárioSumário 
 
 
Conselho Editorial | Editorial Board | 201 
 
 
Sumário | Summary | 203 
 
 
Editorial | Editorial | 208 
 
 
 Ensaio | Essay 
 
Escola sem partido: o ornitorrinco pedagógico | 212 
Rafael Carrno Lelis 
Lorrayne Assis 
 
 Artigos | Articles 
 
A teoria de Nils Christie e a Justiça Restaurativa: um diálogo e crítica no sistema penal | 
The Nils Christie’s theory and Restorative Justice: a dialogue and critics in the criminal justice system. | 
220 
Giovana Aiello Soares da Costa 
 
Anatomia do presidencialismo de coalizão: uma perspectiva histórico-econômica 
financiada pelo processo orçamentário federal | Anatomy of coalition presidentialism: an 
economic and historic perspective maintained by federal budget process | 240 
Marco Aurélio Souza Mendes 
 
Entre o Fato e o Discurso: o Método APAC e sua Efetividade no Cenário Brasileiro | 
Between the fact and the discourse: the APAC method and its effectiveness in the Brazilian scenario | 268 
Raul Salvador Blasi Veyl 
 
O Estado Islâmico (EI, ISIS, ISIL, Daesh, IS) é um Estado?| Is The Islamic State (EI, ISIS, 
ISIL, DAESH, IS) a State? | 285 
Bruno Henrique de Moura 
 
Estudo da aplicação simétrica dos institutos da Hipótese de Incidência e do Fato Gerador 
no ordenamento jurídico brasileiro | Study of symmetrical application of institutes Incidence 
Hypothesis and Fact Generator in Brazilian law | 303 
Igor Dias da Silva 
Valber Elias Silva 
 
A propriedade e a formação da sociedade civil no jusnaturalismo de Grotius e Locke | The 
property and the formation of civil society in Grotius’ and Locke’s natural law | 321 
André Aarão Rocha 
 
Produção do conhecimento a partir da Hermenêutica Jurídica | Production of knowledge form 
Legal Hermeneutics | 347 
Giovane Morais Porto 
 
A dissolução parcial da sociedade à luz do novo CPC: uma visão crítica da legislação | 
Partial dissolution of limited liability partnership: a critic visiono f the legislation | 365 
Isabela Salomon Reis 
 
Descumprimento do interesse público pelo Estado: uma análise crítica do caso de 
Pinheirinho | Violation of the public interest by the state: a critical analyse of the Pinheirinho case | 389 
Maria Souza 
Marilene Petruci dos Reis Alves Pimenta 
Rayann Kettuly Massahud de Carvalho 
 
O controle de imigração e o direito à educação das crianças migrantes irregulares | 
Immigration control and the right to education to irregular migrant children | 407 
Maria Souza 
 
O suporte fático de normas de direitos fundamentais | The factual support of norms of 
fundamental rights | 429 
Priscila Carvalho de Andrade 
 
 Entrevista | Interview | 449 
 
Entrevista com a Profª Drª Bonita Meyersfeld | Interview with Bonita Meyersfeld 
 
Poemas | Poems 
 
Alforria-me! | 
 Matheus P. Gomes 
 
Pedaço de Poesia | 
 Matheus P. Gomes 
 
No Fundo da Mente | 
 Eduardo Gonçalves Monteiro 
 
Riacho | 
 Rafael Pinter 
 
Vários Poemas | 
 José Renato Venâncio Resende 
 
Pudera Eu! | 
 Augusto Silva Ávila 
 
SAMSARA | 
 Igor Ladeira dos Santos 
 
 Normas de Publicação | Publication Norms | 467 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editorial 
Alethes | 208 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editorial 
Alethes | 209 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editorial 
Alethes | 210 
Editorial Editorial Editorial Editorial 
 
É com tamanha satisfação que essa 11ª edição do Periódico Alethes inaugura novos 
tempos. Isso, pois, diante das transformações que estamos sujeitos, chegou a hora de 
encerrarmos um ciclo que se mostrou em demasia virtuoso.Com essa edição, João Vitor 
Moreira e Marcos Felipe se despedem da editoração-geral da Revista e intentam novos rumos, 
deixando espaço para que novas pessoas e ideias possam surgir e aprimorar esse projeto que há 
tempos surgiu como potência e hoje tem se transformado em ato. 
 Aos moldes da epígrafe que nos guia desde o edital, o mundo jurídico não deve estar em 
separado da realidade social, e é justamente nessa tentativa que lutamos naimplementação de 
nossas ideias, considerando que as verdades ou as formas jurídicas estão inseridas no 
contingente de nossas vidas, sabendo que as relações, todas elas, são, por excelência, distintas. 
Hoje, podemos dizer que uma das poucas certezas que temos é que somente na práxis que se 
pode promover a transformação dessas normativas estruturantes, desinstitucionalizando a 
cultura meritocrática da academia. E aqui a Alethes se mostrou vanguardista. Foram mais de 
100 artigos publicados e um respeito conquistado por diversos atores do cenário acadêmico, 
nos permitindo dizer que sim, esse projeto deu certo. E, ainda, dissemos mais: a força de um 
grupo que acredita em um determinado objetivo consegue promover grandes realizações, 
porque nos envolve de tal maneira que a necessidade de trabalhar se torna sentimento de 
prazer. Com esse tom de despedida, deve-se agradecer nominalmente aos editores e àseditoras 
Anna Flávia, Maria Fernanda, Giovana Lopes, Arthur Barreto, Igor Ladeira, Elora Fernandes, 
Marco Aurélio, Bruno Barbosa, Lorrayne Assis e Rafael Lelis. Todos e todas foram 
extremamente importantes na construção dessa Revista, pois com as diversas ideias e iniciativas 
foi possível sempre prosperar. É como no poema de Augusto Ávila que abaixo segue, foi 
possível nos conectar e nos reconhecer. 
Nessa edição, contamos com um total de 11 artigos, advindos das seguintes instituições: 
UFJF, UFMG, UnB, Mackenzie, UFLA, UFU e UNIVEM. Importa destacar a 
contemporaneidade dos artigos publicados, que apresentam assuntos de grande relevância na 
conjuntura atual. Nesse sentido, pode-se citar o artigo intitulado “Dissolução parcial de 
sociedade no novo CPC: uma visão crítica da legislação” que contribui para a discussão do 
Novo CPC, cuja vigência começou no início desse ano. É preciso mencionar também o artigo 
“Anatomia do presidencialismo de coalisão: uma perspectiva histórico-econômica financiada 
Editorial 
Alethes | 211 
pelo processo orçamentário federal”, que trata de questões trazidas à tona pelo processo de 
impeachment da Presidente da República do Brasil. Soma-se aos textos científicos um ensaio, 
que nessa edição também se mostra muito atual, dada a sua proposta de expor a falácia do 
movimento “Escola sem partido”, que tem tido grande repercussão nas Casas Legislativas de 
todos os níveis da federação. 
Além disso, essa edição resolveu inovar um pouco mais e abrir espaço para que aqueles 
poetas e poetisas escondidos nos muros das normas pudessem se expressar. Por isso, a seção de 
poemas é de extrema importância para compreendermos que a Alethes intenta empoderar o 
aluno e a aluna funcionando como um veículo comunicativo, mas também como um espaço 
prazeroso e de constante aprendizado. 
Por fim, esperamos que façam uma boa leitura e deixamos os nossos agradecimentos 
pela oportunidade do Periódico Alethes e nos despedimos com Carlos Drumond de Andrade: 
“Amar o perdido, deixa confundido, este coração. Nada pode o olvido, contra o sem sentido, 
apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas 
muito mais que lindas, essas ficarão.” 
 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 212-219, mai/ago, 2016. 
Alethes | 212 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LELIS, R.C.; ASSIS, L. Escolas sem partido 
Alethes | 213 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 212-219, mai/ago, 2016. 
Alethes | 214 
Escolas sem partido: o ornitorrinco pedagógico 
 
Rafael Carrano Lelis1 
Lorrayne Assis2 
 
Em que se baseia a neutralidade do discurso? Pelas veias do discurso não passariam 
também células políticas? Recentemente, uma onda de famigerado combate ideológico deu 
força a vários projetos de lei com intuito de combater a tida doutrinação. Tramita no Congresso 
Nacional (e também em diversas casas legislativas estaduais e municipais) projeto de lei (PL) 
que propõe a inclusão, dentre as diretrizes e bases da educação nacional, do programa Escola 
sem Partido. Logo no segundo artigo do PL federal, em seu inciso I, dispõe-se que a educação 
nacional deverá ser guiada pelo princípio da “neutralidade política, ideológica e religiosa do 
Estado” (grifo nosso). Já em seu artigo terceiro, o referido projeto prevê a vedação em sala de 
aula da “prática de doutrinação política e ideológica”. 
Os dois trechos anteriormente destacados do projeto de lei servem de base para uma 
problematização ampliada do ensino e para colocar em cheque o conceito e a (im)possibilidade 
de existência de uma neutralidade em contraposição à doutrinação política e ideológica. Afinal, 
o que é ser neutro? 
Com uma rápida pesquisa em sites de busca na internet sobre o significado da palavra 
neutralidade, na tentativa de percepção do senso comum, encontra-se a seguinte definição: “1. 
condição daquele que permanece neutro; 2 . imparcialidade, objetividade”. Ao passo que para 
o adjetivo neutro é apresentado o conceito: “1. que não se posiciona, se abstém de tomar partido; 
neutral”. 
Ora, logo se vê que é impossível qualquer forma de ensino na qual não seja feita uma 
escolha ou tomada de partido. O ensino da ideologia dominante não deve, em qualquer 
hipótese, ser confundido com lecionar de forma neutra. No entanto, é exatamente isso o que 
acontece. Como bem nos lembra Bourdieu (2013): “todo ato de transmissão cultural implica 
necessariamente na afirmação do valor da cultura transmitida (e paralelamente, a 
desvalorização implícita ou explícita das outras culturas possíveis)”. Dessa sorte, escolher 
abordar em sala ideais do senso comum em detrimento de vertentes minoritárias de pensamento 
corresponde, justamente, a uma forma de ausência de neutralidade e configura uma clara 
escolha ideológica. À guisa de exemplificação, transpondo a temática para o campo jurídico, 
pensemos no ensino do Direito Penal nas faculdades de direito. Orientar o ensino da ciência 
 
1 Graduando em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Membro do Corpo Editorial da Alethes. 
2 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Membro do Corpo Editorial da Alethes. 
LELIS, R.C.; ASSIS, L. Escolas sem partido 
Alethes | 215 
criminal sob uma perspectiva abolicionista é uma escolha de cunho ideológico por parte da 
docente, bem como escolher abordar tal ramo do direito sob a ótica do chamado garantismo 
penal. Todavia, também se caracteriza como óbvia escolha ideológica (e reafirmação da lógica 
dominante) a opção pela apresentação acrítica dos artigos do código penal; ainda mais: 
determinar qual interpretação será dada à normativa legal, definir qual jurisprudência será 
apresentada e quais casos serão analisados em sala são, passo a passo, opções profundamente 
marcadas pela ideologia referente àquela que leciona e, portanto, decisões impossíveis de serem 
tomadas de forma neutra, isto é, a existência pura e simples de tais elementos excluem a 
possibilidade de qualquer neutralidade no ensino. 
Em sua construção teórica, Bourdieu (2010) concebe a ideia de campos (não físicos) de 
conhecimento, tais quais os campos religioso, político, econômico etc. Nesses campos, 
identificados pela presença de um habitus (reiteração de práticas particulares, com a afirmação 
de normas e valores específicos de cada campo), existe uma luta constante pelo monopólio de 
dizer, e do reconhecimento para tal, o que significa seu conteúdo interno (como dizer o que é o 
direito, no jurídico; ou dizer o que é o sagrado, no religioso). Dessa forma, há grande conflito 
e disputa entre as componentes de cada campo para que se possa ser identificada como a 
detentora da legitimidade para falar por ele. A disputa pelo monopólio de fala, em si, já 
demonstra a existência das diversasvisões de mundo (realidades) e a possibilidade de escolha 
para que se trabalhe cada matéria. Não fosse suficiente, o sociólogo francês ainda nos alerta 
para a autonomia relativa de cada um desses campos e como eles se influenciam mutuamente 
e não necessariamente de forma perceptível, o que nos leva, mais uma vez, à impossibilidade 
de existência de uma forma de neutralidade na própria construção do ensino. 
Resta evidente, portanto, que a pretensa neutralidade proposta pelos referidos projetos 
de lei seria uma tentativa de manutenção do que Bourdieu denomina doxa, isto é, a ordem social 
estável e valores predominantes, valores naturalizados e não mais questionados, mediante seu 
caráter de tradição. Parece-nos certo de que a tentativa seja a de implantação de um 
conservadorismo que perpetue o status-quo, suprimindo valores insurgentes e heterodoxos. 
Um dos argumentos de maior clamor dentre aquelas que defendem o movimento Escola 
sem Partido é de que “o Professor não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, com o 
objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente política, ideológica ou partidária”. Como 
definir o ideológico? Para responder tal indagação nos propusemos a empregar o delineado pelo 
sociólogo Terry Eagleton. O discurso ideológico exibe de modo típico certa proporção entre 
proposições empíricas e aquilo que poderíamos grosseiramente chamar de visões de 
mundo(EAGLETON, 1997). Torna-se evidente que a linguagem constativa está atrelada a 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 212-219, mai/ago, 2016. 
Alethes | 216 
objetos performativos. As verdades empíricas são trajadas à luz de componentes de uma retórica 
global. Ideologia não é uma ilusão infundada, uma força material que deve ter, ao menos, 
suficiente conteúdo cognitivo para ajudar a organizar a vida prática dos seres humanos – não 
consiste, simploriamente, em um conjunto de proposições sobre o mundo. 
Como bem apontado por Terry Eagleton (1997), não existe qualquer definição adequada 
ou exata referente ao termo ideologia e que nos permitiria delimitar objetivamente o que seria 
doutrinação ideológica. Sendo assim, nos parece oportuno identificar que todo pensamento ou 
ideia que possua pré-compreensões intrínsecas, os “pré-entendimentos” como caracteriza 
Heidegger, pode ser facilmente (e não há óbice para que seja) taxado de ideológico. 
Partindo desse conceito, chega-se à conclusão de que o Projeto de Lei se propõe a 
realizar o irrealizável, uma vez que coibir a apresentação de conteúdo ideológico em sala de 
aula significa proibir o próprio pensamento: “não existe tal coisa como pensamento livre de 
pressupostos, e então qualquer ideia nossa poderia ser tida como ideológica”. Alerta-se, ainda, 
para o perigo da implementação de tal projeto, diante do caráter de mordaça que apresenta. 
Como visto, impedir uma suposta doutrinação ideológica é o mesmo que impedir o pensamento 
e livre expressão de ideias, é prática velada de censura. E pior: quem definirá quais discursos 
ferem a ideia de neutralidade e exercem alguma forma de doutrinação política e ideológica? 
Traça-se, assim, amplo espaço para arbitrariedades e justificação de atos de perseguição 
política, à moda de nosso, não tão distante, regime de exceção. 
Bourdieu também argumenta que os sistemas de ação pedagógica submetidos a uma 
dinâmica de ensino dominante tendem a reproduzir um sistema de arbitrários culturais daquela 
formação social. Ou seja, nada mais faz que contribuir para a legitimação daquele arbitrário 
cultural. E o efeito próprio a que se propõem as relações de força é a reprodução cultural ou 
social na qual se justificaria a figura da autoridade pedagógica. 
Entretanto, uma educação nunca será ampla se não fomentar o ponto de vista crítico das 
discentes. Não se defende aqui que a figura pedagógica imputasse só a sua ideologia, mas que 
permitisse o debate e a construção de uma visão de mundo à luz de suas ideologias. Além do 
mais, é demasiado problemática a concepção de que as estudantes se estagnam naquilo que é 
abordado em sala, e é essa a inquietude que uma educação crítica deve fomentar – não se deve 
enxergá-las (às estudantes) como meros receptáculos industriais de um sistema que já as 
uniformiza. 
A primeira lição tirada dessa conspiração ao caos vem do filósofo russo Aleksandr 
Tomanov: “Mais importante do que armazenar informação é saber o que fazer com ela”. Em 
uma realidade na qual a ideia de uma Escola sem Partido vigorasse, a palavra crítica sairia dos 
LELIS, R.C.; ASSIS, L. Escolas sem partido 
Alethes | 217 
verbetes, não com a violência do fogo como em Fahrenheit 451, mas pelo fato de sua célula 
matriz ser ideológica. 
A onda virótica está em processo de latente contaminação, uma vez que projetos de lei 
semelhantes ao presente – inspirados em anteprojeto de lei elaborado pelo Movimento Escola 
sem Partido (www.escolasempartido.org) – já tramitam nas Assembleias Legislativas dos 
Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Espírito Santo, e na Câmara Legislativa do 
Distrito Federal; e em dezenas de Câmaras de Vereadores (v.g., São Paulo-SP, Rio de Janeiro-
RJ, Curitiba-PR, Vitória da Conquista-BA, Toledo-PR, Chapecó-SC, Joinville-SC, Mogi 
Guaçu-SP, Foz do Iguaçu-PR, Juiz de Fora–MG etc.), tendo sido já aprovado nos Municípios 
de Santa Cruz do Monte Carmelo-PR e Picuí-PB. 
Escola sem partido é um artifício conservador que visa suprimir a ideia do que 
imaginam ser uma ideologia (notadamente a minoritária), buscando a legitimação da estrutura 
dominante. Tal projeto, paradoxal desde sua gênese, em muito se assemelha à figura estranha 
do Ornitorrinco, descrita por Francisco de Oliveira: tem rabo de réptil, possui mamas que não 
têm seios, pico de pato, coloca ovos, tem esporão venenoso; identifica-se,assim,o peculiar 
animal com o descrito Projeto de Lei: imputar a ideia de neutralidade em discursos que têm por 
âmago biológico a ideologia causa demasiada estranheza e salta aos olhos como antinatural. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
Aleksandr Tomanov, in: Paradigmas Soviéticos Contemporâneos ao Caos. Edição Príncipe, 
1899. 
 
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2013. 
 
BOURDIEU, Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução: elementos para uma teoria de 
ensino. Trad.: Reynaldo Bairão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. 
 
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Trad.: Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand 
Brasil 2010. 
 
DISTRITO FEDERAL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei Nº 867 , DE 2015. Disponível 
em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1050668. 
Acesso em: 10 jul. 2016. 
 
Eagleton, Terry. Ideologia: uma introdução. São Paulo: Editora Boitempo, 1997. 
Escolas sem Partido. Disponível em: <http://www.escolasempartido.org/>. Acesso em: 10 jul. 
2016. 
 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 212-219, mai/ago, 2016. 
Alethes | 218 
OLIVEIRA, Francisco de. A economia brasileira: crítica à razão dualista. Petrópolis: 
Cebrap/Vozes, 1972. Nova edição: São Paulo: Editora Boitempo, 2003. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 220-239, mai/ago, 2016. 
Alethes| 220 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COSTA, G.A.S. A Teoria de Nils Christie e a Justiça Restaurativa 
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A teoria de Nils Christie e a Justiça Restaurativa: um diálogo e crítica no 
sistema penal. 
The Nils Christie’s theory and Restorative Justice: a dialogue and critics in the criminal 
justice system. 
 
Giovana Aiello Soares da Costa1 
 
Resumo 
Este artigo é fruto de estudos que vêm sendo elaborados durantemeu período de mobilidade 
na Universidade do Porto, Portugal - no qual tive meu primeiro contato com a Justiça Restaurativa. 
O texto consubstancia uma análise do artigo elaborado pelo conceituado autor norueguês, Nils 
Christie, acerca de sua teoria abolicionista sobre o sistema processual penal moderno: Conflicts as 
Property, publicado no The British Journal of Criminology, em 1977. Ao longo deste artigo, 
comentários e críticas serão realizados sobre o tema, bem como consideração sobre a teoria de 
Christie como ponto fundamental para a concretização da Justiça Restaurativa e o Direito 
Processual Penal mais “humanizado”. Também serão considerados o papel do Estado e quais são 
os limites necessários para que haja uma harmonização do tema. 
Palavras-chave: Justiça Restaurativa. Criminologia. Direito Processual Penal. 
Abolicionista. 
 
Abstract 
This article is the result of studies that have been developed during my exchange program 
in the University of Porto, Portugal – which I had my first contact with Restorative Justice. The 
text is an analysis of an article written by the renowned Norwegian author, Nils Christie, about his 
abolitionist theory of the modern criminal justice system: “Conflicts as Property”, published in The 
British Journal of Criminology, in 1977. Throughout this article, comments and reviews will be 
conducted on the subject and relate to Christie’s theory as the main point for the implementation 
of the Restorative Justice and the criminal justice system more “humanized”. It will also be subject 
the State’s role in this radical process and know what are the limits needed for a harmonization of 
the theme. 
 Key words: Restorative Justice. Criminology. Criminal Justice System. Abolitionist. 
 
 
 
 
 
1 Estudante de graduação da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo (SP). 
COSTA, G.A.S. A Teoria de Nils Christie e a Justiça Restaurativa 
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1. O convite 
 
Nils Christie (1977, p. 2), sociólogo e criminólogo norueguês, faz um convite interessante 
ao leitor no seu artigo Conflicts as Property2. O autor convida-o para viajar a Tanzânia, mais 
especificamente na província de Arusha. Lá, há uma casa no meio do vilarejo. Dentro dela, 
encontra-se várias pessoas: estavam rindo, fazendo piadas, conversando e, ansiosas, algumas 
prestavam atenção naquilo que estava a acontecer. “It was a circus, it was a drama”(CHRISTIE, 
1977). Na verdade, aquilo era um tribunal. Estava acontecendo um julgamento. 
No centro da casa e de todos os presentes, haviam duas pessoas. Um homem e uma mulher. 
Eles haviam se casado, mas, depois de um longo tempo, estavam convictos que iriam se divorciar. 
É um julgamento cível, mas que poderia ser usado para qualquer tipo de conflito. Eram decididos 
sobre os assuntos do divórcio como a partilha de bens, conversando e ouvindo um ao outro 
normalmente. Os amigos e familiares, que se encontravam ao lado deles, opinavam sobre a partilha. 
A audiência, que assistia o julgamento, em geral, fazia piadas ou algumas perguntas rápidas. Os 
juízes eram três secretários daquele vilarejo e se misturavam no meio daquela multidão – só 
intervinham na conversa do casal quando realmente achavam necessário, fazendo pequenos 
comentários e conduzindo-os a uma decisão com base na lei local. Esse é um típico modelo de 
tribunal na província de Arusha, Tanzânia. É África. É um continente “primitivo”. A forma como 
este julgamento é realizado permite a todos os habitantes do vilarejo poderem assisti-lo, pois todos 
têm o direito de se manifestar, de conversar e de ouvir atentamente o que o outro tem a dizer. Os 
juízes não são superiores ou inferiores a ninguém: eles fazem parte da multidão. O principal 
objetivo é o casal decidir sobre o seu divórcio - é o futuro daquelas duas pessoas. Uma decisão 
realizada na base de comunicação, de conversa, a fim de chegar a um resultado no qual os dois 
concordem e cumpram aquilo que foi combinado. 
Diferentemente do que acontece na justiça e no processo penal na maior parte dos países 
Ocidentais. Estes estão mais preocupados com o passado. O objeto central é a punição do ofensor 
e os respectivos gastos suportados pelos Estados, e não necessariamente há uma preocupação em 
 
2 “Publicado em um momento importante para a criminologia crítica, inúmeros outros trabalhos e pesquisas foram 
iniciadas a partir do conhecido artigo de Christie [Conflicts as property], focados na busca de um novo modelo de 
justiça criminal que pudesse se preocupar menos com os prejuízos estatais decorrentes de um delito e aos danos a elas 
causados. O nome desse novo modelo de justiça criminal viria consolidar como Justiça Restaurativa” (ACHUTTI, 
2012, p. 1). 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 220-239, mai/ago, 2016. 
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reabilitar o indivíduo. Em relação à vítima, pouco se sabe sobre ela. As vozes são feitas e 
mascaradas através de representantes legais. O juiz não é a multidão - ele está em um outro 
patamar, isolado e poderoso. O julgamento não é para os indivíduos envolvidos no conflito, por 
ser um interesse apenas para o próprio Estado. Assim, o sistema processual é o reflexo do 
capitalismo e da sociedade industrial na qual os indivíduos se encontram em uma administração 
judiciária totalmente seletiva e demorada. 
A vítima é uma pessoa que foi ferida emocionalmente, materialmente ou psicologicamente. 
O ofensor é aquele que assume seus atos. Todos merecem falar e serem ouvidos. Mas não é 
exatamente isso o que acontece. 
E essa é a principal crítica de Nils Christie. 
 
2. A proposta. 
 
O autor começa seu artigo com uma frase impactante: “Maybe we should not have any 
criminology. Maybe we should rather abolish institutes, not open them. Maybe the social 
consequences of criminology are more dubious than we like to think” 3(CHRISTIE, 1977, p.1). 
Desde logo, Christie se posiciona a respeito de sua teoria abolicionista acerca da Criminologia e do 
Direito Penal. Esta crítica, ousada e radical, feita em 1977, é considerada uma forma revolucionária 
de contestar o próprio sistema de punição que o Estado impõe à população4, sendo considerado um 
pensamento atual que coloca questionamentos sobre o papel do sistema punitivo, uma vez que 
 
A justiça tradicional não cumpriu as suas promessas, principalmente com relação a 
ressocialização e prevenção, e para que as respostas do subsistema criminal sejam mais 
participativas, negociadas e não aflitivas, os conflitos interpessoais devem ter a 
possibilidade de ser solucionados efetivamente e a justiça restaurativa pode ser um 
instrumento que consiga ajudar a restabelecer o equilíbrio entre o crime e o tipo de resposta 
a ser aplicada, com o resgaste de todos os interessados na solução do conflito interpessoal. 
(SANTOS, 2014, p. 14). 
 
A teoria abolicionista defende que, em geral, o Estado faz do conflito uma propriedade sua. 
Tem como objetivo criticar a forma radical do sistema carcerário e a sua lógica de punir a todos 
 
3
 “Talvez não devêssemos ter nenhuma criminologia. Talvez seria melhor se abolíssemos as instituições, não as abrir. 
Talvez as consequências sociais da criminologia são mais duvidosas do que gostaríamos de pensar” (tradução livre). 
4 “Ainda que a discussão tenha se iniciado a partir dos anos 1970, pouco ou quase nada se produziu a respeito no Brasil. 
Raras são as referências ao tema na maioria dos trabalhos e manuais criminológicos à disposição do público brasileiro” 
(ACHUTTI, 2012, p. 1). 
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como uma maneira de compensação do crime. Se há um conflito, este precisa ser resolvido entre 
as pessoas envolvidas. O conflito é uma propriedade que somente pertence a elas.Dessa maneira, 
O castigo não é o meio mais adequado para reagir diante de um delito e, por melhor que 
possa ser, eventuais reformas no sistema criminal não surtirão efeito, pois o próprio 
sistema está equivocado ao estabelecer que uma resposta punitiva (pena de prisão) o 
‘problema do delito’ estará solucionado. (ACHUTTI, 2012, p. 4) 
 
Os teóricos abolicionistas, que tiveram seu ápice nos anos 70 sobretudo no Hemisfério 
Norte, criticavam a forma do capitalismo selvagem no qual sociedade era (é) inserida, posto que 
 
O foco do abolicionismo penal – corrente teórica cuja própria denominação indica as suas 
pretensões – tem seu foco voltado para a construção de uma crítica capaz de deslegitimar 
de forma radical o sistema carcerário e a sua lógica punitiva. (ACHUTTI, 2012, p. 4) 
 
Destarte, o tribunal não deveria ser visto como algo superior ou ameaçador. Como bem 
analisa Christie (1977, p. 3) acerca do sistema penal da Noruega, os edifícios dos tribunais são 
imponentes, grandiosos e intimidadores. Isso se aplica não somente em seu país natal, como 
também em vários outros Estados. Eles estão geralmente situados no centro administrativo da 
cidade, longe dos bairros habitacionais da população. Os edifícios são arquitetados de uma maneira 
complexa onde existem várias salas, de um modo sem transparência, ao ponto de chegar a ser fácil 
se perder dentro delas – praticamente um labirinto5. O sistema penal não deve ser algo visto como 
um meio de punição ou uma forma de vingança, e esse é o maior objetivo da justiça restaurativa6. 
 A apropriação que o Estado faz com o caso que está em julgamento é algo muito sério. 
Nele, as partes falam muito pouco ou nem sequer falam, já que são sempre representadas por 
advogados e promotores, os “ladrões profissionais”. Quem decide é o juiz - o terceiro imparcial - 
responsável por determinar a eventual punição do ofensor. A vítima da situação é representada pelo 
Estado. Neste ponto, “the victim has lost the case to the state” (CHRISTIE, 1977, p. 3). A 
 
5 Na cidade de Valência, na Espanha, está aberta ao público o programa “Palaus Transparents”. Tal projeto foi 
elaborado pelo Ministro da Transparência, Responsabilidade Social, Participação e Cooperação, Manuel Alcaraz em 
setembro de 2015, juntamente em uma discussão de cooperação com o prefeito Joan Ribó. O programa em si tem como 
objetivo abranger a abertura, horários e práticas de visitas para cada instituição, além de serem utilizados programas 
educacionais para aumentar a consciência dos edifícios públicos de valor histórico e artístico. Segundo o Ministro 
Alcaraz, “Es muy importante mostrar la cara amable y estética del poder”. Isso é importante para trazer aos cidadãos 
a necessidade de transparência e acessibilidade que deve haver a ponte entre a Administração e os cidadãos. Disponível 
em < http://www.20minutos.es/noticia/2558468/0/edificios-publicos-valor-historico-se-abriran-ciudadania-con-
programa-palaus-transparents/ > Acesso em 13. mar. 2016. 
6 “Restorative justice is a key issue in all debates on reform in criminal justice, especially in juvenile justice” 
(WALGRAVE, 2002). 
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problematização quase chega a ser um próprio interesse empresarial, relacionados a 
profissionalização (CHRISTIE, 1977, p. 4), considerando 
 
o paradigma atual, retributivo ou aflitivo, nos condicionou a raciocinar, com o 
entendimento, que a violação de uma norma de comportamento deve implicar em uma 
norma sancionadora, materializada em uma pena aflitiva, ou, em outras palavras, 
ocorrendo o crime deve ser impingida ao infrator uma dor, sendo a prisão privativa de 
liberdade erigida à condição de pena por excelência. (SANTOS, 2014, p. 13). 
 
Também há uma série de críticas ao comportamento do advogado perante os conflitos: “they 
are most interested in converting the image of the case from one conflict into one of non-conflict” 
(CHRISTIE, 1977, p. 4). Assim, os advogados sempre estudam para instruir o outro para “acabar” 
com um conflito, e não para atuar em um sistema no qual as duas partes podem chegar a um acordo. 
O seu trabalho é de argumentar o que acham de relevante no caso; no qual impossibilita as partes 
de decidirem sobre o que elas pensam em ser relevante na resolução do conflito. 
Os profissionais não podem ser dominantes, pois o que mais interessa no processo de Justiça 
Restaurativa são as vozes das partes, uma vez que elas devem falar mais alto em relação a qualquer 
outro profissional - mas com limites na Lei e nos Direitos Humanos, respeitando sempre os Direitos 
Fundamentais e o princípio da proporcionalidade (ASHWORTH, 2002). A filosofia central da 
Justiça Restaurativa é que, através da comunicação voluntária entre as partes, há um diálogo sobre 
o que realmente aconteceu e, por fim, a um consenso com obrigações a assumir: uma reparação. 
 A comunicação entre as partes – vítima e ofensor – é fundamental para que estes cheguem 
a um acordo (com a ajuda de um mediador, mas este não toma a decisão, apenas tem a função de 
orientador e harmonizador da comunicação). O conflito, que é o ponto central da questão, existe na 
sua própria linguagem. Os mediadores defendem um conflito semântico, uma requalificação do 
objeto a fim de dar voz tanto à vítima como ao ofensor. 
Um dos motivos para que este processo suporta é uma própria reforma política, que muitos 
a consideram como uma forma de combater o sistema repressivo do Estado de ter dependência 
desumana nas prisões – aquele pensamento antiquado de que um problema só se resolve em 
enjaular um cidadão que cometeu uma infração penal (BRAITHWAITE, 2002). Essa liberdade de 
diálogo que a Justiça Restaurativa permite às partes é uma forma de empoderamento para os 
cidadãos de assumir a responsabilidade de assuntos que antes só se resolviam com a presença de 
autoridades estatais. Assim, isso faz com que os próprios indivíduos percebam que, apesar do 
processo não passar nas mãos de juiz, o criminoso assume as suas responsabilidades e que o seu 
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acordo com a vítima não é algo para ser analisado como punição, mas sim uma restauração do 
problema entre ambos. É uma maneira mais humanizada de tentar chegar a um acordo que seja 
consensual e reparador, consentido por vítima e ofensor, mas sempre respeitando as leis7. Além 
disso, 
 
a Justiça Restaurativa atua diversamente do paradigma punitivo quando devolve à vítima, 
ao ofensor e à comunidade o conflito criminal e, também, o poder de decidirem ou 
planejarem sobre a melhor forma de solucionar este conflito (SANTOS, 2014). 
 
 A mediação deve atender as necessidades8 da vítima. É natural que cada indivíduo encare 
o impacto do crime de maneiras diferentes. Alguns podem ser mais sensíveis, outros mais 
indiferentes, mas é claro que grande maioria é abalada de algum jeito: físico, psicológico ou social. 
A vulnerabilidade depende dos fatores e características individuais, sendo que também pode ser 
uma vulnerabilidade econômica, sobretudo para aqueles mais pobres ou mais apegados àquilo que 
sofreu danos. 
 Desse modo, Christie9 (1977, p. 7) ressalta e explica o título do seu artigo Conflicts as 
Property: o conflito é propriedade sobretudo da vítima e isto não pode ser tirado dela. 
Consequentemente, a vítima tem um papel não apenas na sobrecarga emocional mas de chegar a 
um acordo com o seu ofensor 
O conflito é algo valioso, e por isso muitas vezes aqueles profissionais, anteriormente 
citados, normalmente tomam posse dele, sendo que isso acontece muito em nossa sociedade 
 
7 Desde 1977, Christie (p. 6) já refletia sobre as relações humanas de uma maneira tão atual: “Segmentation according 
to space and according to casteattributes has several consequences. First and foremost it leads into a depersonalisation 
of social life. Individuals are to a smaller extent linked to each other in close social networks where they are confronted 
with all the significant roles of the significant others. This creates a situation with limited amounts of information with 
regard to each other. We do know less about other people, and get limited possibilities both for understanding and for 
prediction of their behaviour. If a conflict is created, we are less able to cope with this situation. Not only are 
professionals there, able and willing to take the conflict away, but we are also more willing to give it away”. Na 
comunicação durante o processo de mediação na Justiça Restaurativa, é fundamental que as partes estejam sempre 
abertas para conversar e expor o seu ponto de vista de maneira harmoniosa, sendo amparada pelo mediador apenas 
quando necessário. 
8 A vítima pode sentir a necessidade de vingança. Se formos pensar de um ponto de vista mais crítico, o próprio sistema 
de justiça o qual estamos inseridos aspira por esse desejo de vingança. É normal que a vítima sinta esse desejo, aquela 
necessidade de ver o seu ofensor punido de alguma forma. É aprender a lição (exemplo) de não cometer o crime 
novamente, sendo assim, a pessoa pode ser “castigada” no sentido de aprendizagem, ajudando-a a reintegrar nas 
normas. Contudo, a mediação é um ponto importante para que a própria vítima conheça seu ofensor e perceba que ele 
também é humano e comete erros. Quando a vítima conhece melhor o caso concreto e seu ofensor, há uma tendência 
de a vítima ser menos punitivas, pois existe assim uma flexibilização e compreensão sobre o ofensor. O ofensor é uma 
pessoa e algumas de suas circunstâncias é possível compreender seus atos (mas não justifica-los). Deve haver uma 
sinceridade entre vítima-ofensor. 
9 Christie defendia uma “justiça mais participativa e centralizada” (ACHUTTI, 2012, p. 7). 
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industrial atual: a vítima não perde somente o seu emocional, material ou psicológico, mas perde o 
seu próprio caso quando não há o direito de ouvir a sua própria voz. O Estado apodera-se da sua 
compensação, que acontece quando é voltado mais para o ofensor do que a própria vítima. Outro 
detalhe importante: em relação à vítima, não é esperado que ela seja imparcial (ASHWORTH, 
2002). O mediador, durante esse processo, precisa ser parcial, mas “the requirement does not imply 
that the mediator should be indifferent to the fact that the offence has been committed and the 
wrongdoing of the offender” (PELIKAN, 2002). 
 O acordo deve ser coerente para as partes envolvidas (CHRISTIE, 1977, p. 8). Não é algo 
em si satisfatório, pois a reparação do problema deve ser vista como um consenso no qual devem 
ser respeitado os direitos e que seja proporcional aos danos causados pelo ofensor. Talvez, para os 
cidadãos em geral, o que é acreditado algo não relevante como uma solução, as partes envolvidas 
no conflito a podem considerar como uma forma de restauração. Um pedido de “desculpas”, por 
exemplo, é aceito se a vítima e o ofendido concordarem. Para isso, também é necessário que ambas 
as partes estejam preparadas psicologicamente para este processo (WALGRAVE, 2002), já que se 
trata de uma comunicação que nem todos, estão prontos e maduros para facear, por isso as partes 
são livres para aceitar ou não este processo de mediação. Talvez seja uma situação difícil para se 
enfrentar – sobretudo para a vítima -, mas com certeza seu resultado pode trazer um maior conforto 
aos indivíduos: aqui os acontecimentos se esclarecem. Há uma compreensão sobre o que de fato 
aconteceu. 
 Sobre o ofensor assumir a responsabilidade, é um critério essencial na Justiça Restaurativa. 
É importante o ofensor ser ouvido, a fim de que se haja um entendimento e clareza sobre o que o 
levou a cometer tal ato e quais foram as consequências que trouxe à vítima. “Human beings have 
reasons for their actions” (CHRISTIE, 1977, p. 9). Assim, é significativo restaurar os laços sociais 
entre o indivíduo ofensor, a vítima e a própria comunidade; o que, ademais, proporcionaria ao 
ofensor situação confortável para assumir sua responsabilidade 
Nos processos que ocorrem atualmente – o Estado como o proprietário do conflito – por 
vezes o ofensor não consegue assimilar e compreender o porquê daquela punição. Christie (1977, 
p. 9) ainda ressalta que não há uma punição para a “cura do crime”, mas que o acordo, resultante 
de um processo de mediação, pode encontrar a justa reparação com os valores gerais da sociedade. 
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Outro ator abolicionista, Hulsman10, acredita que as proporções de crimes violentos não são 
suficientes para sustentar o sistema, e o próprio sistema penal não é uma ferramenta de garantia de 
impedimento das pessoas cometerem crimes ou não (KULLOK, 2014). As obrigações que o 
ofensor concordou em assumir não devem ser vistas como uma forma de “vingança” ou “dor”, mas 
sim de uma restauração - como a respeito da tese de Christie, o qual acredita que a Justiça 
Restaurativa é uma ferramenta que possibilita a independência entre os indivíduos de resolverem 
seus próprios conflitos em respeito ao princípio da voluntariedade (PELIKAN, 2002, p. 27). 
 O processo de Justiça Restaurativa11 maximiza a participação das vítimas e dos ofensores 
na procura da restauração, conciliação e responsabilização pelos danos – bem como a sua 
prevenção para possíveis outros conflitos. O Estado desempenha funções delimitadas, como a 
investigação dos fatos, a facilitação dos processos e a garantia de segurança, mas não é a vítima 
direta. O crime é fundamentalmente uma violação pessoal e das relações interpessoais, sendo que 
normalmente quem sofre mais é a vítima; e a reparação é uma resposta para esses indivíduos. A 
comunidade, em si, também tem a sua função de reintegrar socialmente o ofensor, com a ajuda do 
Estado (ZEHR, 2012). Porém, é importante ressaltar que o mediador não é o representante do 
Estado, mas sim um facilitador da comunicação durante o processo de mediação, além de ser uma 
figura imparcial. 
 É importante, inclusive, ressaltar a importância da proporcionalidade dos acordos (princípio 
da proporcionalidade). É necessário analisar a gravidade da ofensa e qual foi o seu impacto para a 
vítima. O acordo resultante da comunicação entre a vítima e o ofensor deverá ter a Lei como base 
além das recomendações e orientações do mediador. Além disso, a participação na mediação não 
deve ser utilizada como prova de admissão de culpa no desenvolvimento judiciário ulterior do 
processo (princípio da confidencialidade): o arquivamento na sequência dos acordos obtidos deve 
ter o mesmo valor de uma decisão feita pelo juiz. (PELIKAN, 2002). 
 
10 “O abolicionismo – através principalmente de Hulsman – propõe-se a desconstruir a definição de delito: o delito não 
seria o objeto, mas o produto de uma política criminal que pretende justificar o exercício do poder punitivo, e não 
possuiria realidade ontológica. De acordo com o autor, a partir de então seria possível reorganizar o debate de 
criminologia e da política criminal, e tal postura apontaria para a abolição da justiça penal, uma vez que o “delito como 
realidade ontológica” seria a pedra fundamental deste tipo de justiça” (ACHUTTI, 2012, p. 4). 
11 “Restaurativa” foi traduzida do adjetivo “aufarbeitend”, que significa “trabalhando através de”. Este esforço 
restaurador é marcado por assistir o povo de necessidades e interesses concretos, isto é, o dano, a raiva e o sofrimento 
causado; sendo estes ajustados pelo Direito, fornecendo material e/ou compensação emocional para estas experiências 
negativas (PELIKAN, 2012). 
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 Assim, Christie (1977, p. 10) raciocina a ideia de um “tribunal comunitário” com quatro 
etapas fundamentais. Em primeiro lugar, o tribunal deve ser utilizado como uma forma de dar uma 
orientação à vítima – analisando se tal ato foi infracional e quem são os verdadeiros responsáveis 
por isto. 
Em segundo lugar, o tribunal analisaria o relatório por meio do qual a própria vítima 
transmitiria a sua consideração com a finalidade de esclarecer os detalhes. Desse modo, seria uma 
“detailed consideration regarding what could be done for him, first and foremost by the offender, 
secondly by the local neighbourhood, thirdly by the state” 12 (CHIRSTIE, 1977, p. 10). É necessário, 
portanto, uma organização para garantir a aplicação de tais direitos e garantias. 
Depois de muita análise, em terceiro lugar, o tribunal chegaria (ou não) a uma punição do 
autor do crime, com o principal objetivo de reparar à vítima dos danos sofridos. Os tribunais de 
bairro devem seguir os valores daquela comunidade, sendo estes “public arenas, needs are made 
visible” (CHIRSTIE, 1977, p. 10). 
Por fim, na quarta e última etapa, além da acordo entre partes tem sentença do juiz, é 
necessário que o ofensor seja garantido de serviços sociais que visem a restauração para evitar a 
sua reincidência – expostas suas necessidades sociais, educacionais, médicas ou religiosas. Este 
modelo pode ser usado tanto nas causas cíveis como também nas criminais: um tribunal orientado 
à vítima, menos profissionalizado e mais aberto aos leigos. É uma das lógicas de se fazer justiça. 
 Para a solução de conflitos, “o autor não apoia a ideia acha existir um especialista em 
conflitos” (CHRISTIE, 1977, p. 11). Em seu artigo, ele diz que ter um especialista leva-o a uma 
profissionalização de 
 
specialisation in conflict solution is the major enemy; specialisation that in due— or undue 
— time leads to professionalisation. That is when the specialists get sufficient power to 
claim that they have acquired special gifts, mostly through education, gifts so powerful 
that it is obvious that they can only be handled by the certified craftsman (CHIRSTIE, 
1977, p. 11)13. 
 
 
12 Christie ressalta a importância da consideração do envolvimento da vítima, do ofensor, da comunidade e apenas por 
último, do Estado. 
13 Essa profissionalização aumentaria a dependência destes profissionais para o processo de mediação e resolução de 
conflitos. As partes, quando são envolvidas em um conflito, devem estar equivalentes. O autor também debate sobre a 
importância de um mediador não estar presente em vários conflitos diferentes além de que “The ideal is clear; it ought 
to be a court of equals representing themselves. When they are able to find a solution between themselves, no judges 
are needed. When they are not, the judges ought also to be their equals” (p. 11). Christie acredita que os advogados 
não deveriam estar presentes em todas as fases do processo – mas só para aquelas em que for realmente necessário, 
como na sentença final. 
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Assim, em matéria de conflitos sociais, a não-especialização em mediação de conflitos é 
fundamental. A participação voluntária das partes é o mais importante – uma comunicação e 
esclarecimento dos fatos. O mediador cumpre o seu papel apenas quando for necessário, não sendo 
nem o dominador e nem o centro do conflito. “They might help to stage conflicts, not take them 
over” (CHIRSTIE, 1977, p. 12). Se isso acontecer, novamente a propriedade do conflito será 
retirada da vítima ou do ofensor para uma terceira pessoa. Percebe-se, então, que é de 
responsabilidade do Estado assegurar a ordem e a obediência à Lei na sociedade, bem como 
estabilizá-las e harmonizá-las, mas sempre de modo que dependendo do crime ali encontrado, a 
mediação seja uma alternativa do sistema processual normal, uma forma livre e consensual de 
solução de conflitos entre as partes – por isso o mediador deve apenas facilitar a comunicação 
entre estas, e não ter como objetivo ser aquele que resolverá o conflito dos outros (ASHWORTH, 
2002). 
 Há um problema atual: existem diversas comunidades, poucas vítimas, muitos profissionais. 
Um dos problemas causadas pela industrialização (CHRISTIE, 1977, p. 12) é a existência da 
divisão de gênero e idade, além dos vários conflitos internos e externos que a comunidade tem ao 
longo de sua história. As vítimas precisam ser prioritárias e ouvidas. O excesso de profissionais 
muitas vezes não está sincronizado com os produtos do sistema – sobretudo no Direito. Essa 
extrapolação pode prejudicar o tratamento individualizado que uma vítima necessita. 
 Em nossa realidade, progressivamente o Brasil se aperfeiçoa em matéria de mediação e 
conciliação, sobretudo com a vigência do novo Código de Processo Civil (CPC) de 2015 e o ato 
administrativo na Resolução n° 125 de 29/11/2010. O novo CPC de 2015, no seu artigo 1º, § 3º, 
dispõe que “a conciliação, mediação e outros métodos de resolução consensual de conflitos deverão 
ser estipulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, 
inclusive no curso do processo judicial” (BRASIL, 2015). 
 Além disso, a Seção V do mesmo diploma é titulado como “Dos Conciliadores e 
Mediadores Judiciais”, e faz alusão diversos princípios, como por exemplo, o artigo 166º: “a 
conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da 
autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informação e da decisão informada” 
(BRASIL, 2015). 
A Resolução n° 125 de 29/11/2010 tem como objetivo especificar e regulamentar as lacunas 
deixadas no CPC sobre a mediação e, como bem consta em seu artigo 4°, “compete ao Conselho 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 220-239, mai/ago, 2016. 
Alethes| 232 
Nacional de Justiça organizar programa com o objetivo de promover ações de incentivo à auto 
composição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da mediação” (BRASIL, 
2010)14. Em um país populoso como o Brasil, é importante para os indivíduos e para o próprio 
judiciário perceberem a relevância de resolver os conflitos através da conciliação/mediação, pois 
há também economia de tempo e dinheiro. Ademais, é um meio de pacificação e entendimento 
entre as partes, mostrando lhes que não seria necessário o amparo via processo judicial. Para tal, o 
governo disponibiliza os Centros Judiciários de Resolução de Conflitos e Cidadania para que os 
indivíduos se encontrem e conheçam quais são os seus direitos e garantias. Conforme o Conselho 
Nacional de Justiça: 
 
a conciliação resolve tudo em um único ato, sem necessidade de produção de provas. 
Também é barata porque as partes evitam gastos com documentos e deslocamentos de 
fóruns. E é eficaz porque as próprias partes chegam à solução de conflitos, sem a 
imposição de um terceiro (juiz). É, ainda, pacífica por se tratar de um ato espontâneo, 
voluntário e de acordo comum entre as partes. (CNJ, 2016) 
 
E ainda orienta o cidadão, informando-o que 
 
qualquer uma das partes pode comunicar ao tribunal, cujo processo tramita, a intenção de 
conciliar, ou seja, a vontade de busca de um acordo. Dessa forma, é agendada a audiência, 
na qual as partes terão o apoio de um conciliador na busca de soluções para seus conflitos. 
As partes podem ou não estar acompanhadas de advogados, que podem ajudar nos 
esclarecimentos jurídicos. Se você tem ação tramitando na Justiça Federal, Justiça 
Estadual ou na Justiça do Trabalho e quer conciliar, entre em contato com o Núcleo ou 
Centros de Conciliação no seu estado ou município (CNJ, 2016). 
 
Assim, o país avança para uma alternativa ao clássico sistema processual. E não apenas o 
Brasil,mas vários outros Estados também estão adotando medidas de regulamentação da mediação. 
Na África do Sul, por exemplo, e a mediação teve a sua função de restaurar os conflitos motivados 
pela segregação racial após o apartheid, aquela se tornou o principal motivo de mediação da região 
(APOLLO, 2015). Outros países em destaque são o Canadá, Austrália e EUA. 
 
14 “São Paulo – o maior tribunal brasileiro, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) conta com o maior 
número de CEJUSCS [Centros Judiciários de Resolução de Conflitos e Cidadania] instalados no país: são 153 unidades, 
sendo 7 na capital e 146 no interior. Os centros paulistas têm alcançado importantes índices de sucesso na área da 
conciliação. Antes do ajuizamento da ação, na chamada pré fase processual, o número de acordos vem beirando a 67%. 
Das 122 mil sessões de tentativas de conciliação, houve resultado positivo em 82 mil delas. Na área processual (quando 
o processo judicial está em curso), das 113 mil sessões, 56 mil foram positivas, alcançando 49% das conciliações”. 
Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/81709-conciliacao-mais-de-270-mil-processos-deixaram-de-
entrar-na-justica-em-2015 > Acesso em: 05 abr 2016. 
COSTA, G.A.S. A Teoria de Nils Christie e a Justiça Restaurativa 
Alethes | 233 
 No âmbito europeu, países como Áustria, Bélgica15 e Holanda, se destacam como pioneiros 
no processo de mediação. Estas utilizam o modelo VOM (vítima-ofensor-mediador), com círculos 
de apoio e co-responsabilização para o controle, segurança, proteção e reintegração dos indivíduos; 
mas com características diferentes. No caso da França, outro Estado pioneiro, utilizava-se o modelo 
VO (orientação ao ofensor). Na preocupação de estabelecer um modelo-base para os países 
europeus, a União Europeia elaborou a Recomendação n° (99)19 a respeito do processo de 
mediação, cujo propósito é uniformizar as regras de mediação nos países membros. 
 Nessa recomendação, a União Europeia aponta para algumas características e princípios 
fundamentais (PELIKAN, 2002): a mediação como ato voluntário (o consentimento das partes deve 
ser livre e esclarecido); confidencialidade; acessibilidade; possibilidade de desistir em qualquer 
fase do processo e autonomia dos serviços de mediação (ou seja, podem existir instituições públicas 
ou privadas que façam o processo de mediação). Desse modo, há um enquadramento jurídico tanto 
nas legislações como nas linhas orientadoras do recurso à mediação (remessa do processo), 
objetivando instaurar uma harmonia com os direitos fundamentais e da Convenção Europeia dos 
Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais. O resultado das mediações são acordos de caráter 
voluntário, razoável e proporcional16. 
 Em Portugal, existe a Lei n.º 29/2013, de 19 de abril, a qual refere-se aos Princípios Gerais 
Aplicáveis à Mediação (Civil e Comercial). A definição de mediação está presente no artigo 2º, a): 
“mediação, a forma de resolução alternativa de litígios, realizada por entidades públicas ou 
privadas, através da qual duas ou mais partes em litígio procuram voluntariamente alcançar um 
acordo com assistência de um mediador de conflitos”, além de que, conforme no artigo 9º, n.º 1 “as 
partes podem, previamente à apresentação de qualquer litígio em tribunal, recorrer à mediação para 
a resolução desses litígios” e o n.º2, 
 
 
15 Um detalhe da Bélgica é que esta possui uma característica – no processo de mediação – de que o mediador possui 
uma profissão exclusiva para tal. O programa é mais voltado ao ofensor, sendo realizado no começo ou final do 
inquérito. O Ministério Público e a política têm discricionariedade, além de que os crimes que podem ser usados na 
mediação são normalmente aqueles contra a pessoa e contra a propriedade (com pena menor de 2 anos), bem como 
delitos menores contra pessoa e crimes contra a propriedade. 
16 “Council of Europe recommendations are in general marked by three features that shape and partly restrict in a clear 
way the scope and the influence of these international policy instruments: First, the various reports, recommendations 
and conventions of the CPDC [Committee of Experts convened by the European Committee on Crime Problems] are 
legal documents (…). Second, the cornerstone of the work of the Council of Europe is ‘European Convention on 
Human Rights and Fundamental Freedoms’ (ECHR) (…). Third, recommendations of the Council of Europe have no 
binding quality (…)” (PELIKAN, 2002). 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 220-239, mai/ago, 2016. 
Alethes| 234 
o recurso à mediação suspende os prazos de caducidade e prescrição a partir da data em 
que for assinado o protocolo de mediação, ou, no caso de mediação realizada nos sistemas 
públicos de mediação, em que todas as partes tenham concordado com a realização da 
mediação” (PORTUGAL, 2013). 
 
No texto legal, fica explícito que o legislador português atendeu a maioria das 
recomendações feitas pela União Europeia, seguindo os seus principais princípios, como o da 
imparcialidade do mediador, confidencialidade, voluntariedade, igualdade, etc. 
 Desse modo, desde os anos 70 até os dias de hoje, podemos perceber como a abordagem da 
Justiça Restaurativa e Mediação está se tornando algo mais presente e importante para as pessoas 
e ao próprio Estado. Tal reconhecimento ocorreu devido a uma longa jornada de estudos e análises, 
sendo que 
 
emphasize the urgency of considering how to place restorative justice within an adequate 
legal framework. First, because it will facilitate the spread of restorative justice practice 
into the institutional response to crime, and, second, because it will provide an opportunity 
to check the appropriateness of existing legal dispositions for implementing restorative 
practices properly. Without neglecting the communitarian and restorativist dream, we 
must look for ways to implement possibilities for restoration as far as possible in the real 
world. Legal formalism must not intrude upon the restorative process, but the process must 
take place in legalized context (WALGRAVE, 2002, p. 17). 
 
Com uma legislação que orienta as pessoas, está cada vez mais próximo e mais simples para 
as partes que aspiram a uma resolução de conflitos rápida, econômica e humanizada. O 
desenvolvimento desse processo é cada vez mais debatido e aprimorado. 
 
3. A Esperança em forma de Educação. 
 
 A teoria abolicionista, radical e marxista, se posiciona de uma maneira não-utópica, o que 
a faz ser ainda mais fascinante: “ao invés de ser apenas um punhado de críticas ao sistema penal 
com uma proposição utópica sobre o seu destino (abolição [do sistema penal]), é uma postura 
política” (ACHUTTI, 2012, p. 7), e esta teoria, na verdade, aborda “uma perspectiva, uma 
metodologia e, acima de tudo, uma (outra) forma de enxergar” (ACHUTTI apud RUGGIERO, 
2010, p.1). 
Em um sistema de hoje, dar a alguém a oportunidade de falar e ser ouvido é algo muito 
incomum – mas não impossível. Empoderar indivíduos e incita-los a serem abertos para chegar a 
uma conclusão pode ser um meio de resolver muitos conflitos e “mal-entendidos”, além de 
economizar tempo (um processo de mediação duraria um tempo razoável e necessário para que o 
COSTA, G.A.S. A Teoria de Nils Christie e a Justiça Restaurativa 
Alethes | 235 
acordo se chegue, portanto, seria mais rápido do que um processo nas mãos de autoridades 
judiciárias) e dinheiro (o custo de advogados e taxas à Administração). Em relação ao tempo 
necessário, é importante que as partes não precisam se apressar apressarem. O tempo é conforme 
ambas se sintam a vontades e livres para dar-se início a comunicação e ao bom diálogo. 
 Um dos pontos mais fortes que a Justiça Restaurativa pode ter é o empoderamento das 
pessoas. Um meio no qual as partes falam e sãoouvidas. Uma conversa baseada no respeito, nas 
legislações, Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. É importante para as partes saberem, antes 
do início do processo de mediação, quais são os seus direitos. Em uma sociedade contemporânea a 
comunicação é realizada majoritariamente via internet, uma conversa entre ofendido e a vítima é 
algo que deveria ocorrer com mais frequência. É reparar aquilo que foi danificado de uma maneira 
humanitária, consensual e proporcional, sendo assim, 
 
um sistema de práticas utilizadas para prevenir conflitos e crimes, que busca corrigir ou 
atenuar as consequências decorrentes de conflitos interpessoais, com a devolução do poder 
de solução do conflito criminal a vítima, ao ofensor e a comunidade para que decidam, 
dialoguem ou planejam sobre a melhor forma de solucionar este conflito, com o objetivo 
de reparar, sendo possíveis, total ou parcialmente, com o objetivo de reparar, sendo 
possíveis, total ou parcialmente, os danos causados pelo crime, promover ou possibilitar a 
reconciliação ou conciliação dos envolvidos e a restauração das vítimas, dos infratores e 
das comunidades. (SANTOS, 2014, p. 22) 
 
Como forma de amenizar os crimes – bem como as suas reincidências – Christie (1977, p. 
14) comenta que, se as pessoas parassem mais para ouvir autores como Ivan Illich e Paulo Freire17, 
com certeza toda esta situação seria melhor compreendida. A importância da educação, orientação 
e restauração é fundamental para a vida das pessoas. É, talvez, o melhor meio de se aproximar na 
“cura do crime”. O autor ainda cita também o impacto da tecnologia nas relações sociais em 1977. 
Hoje o impacto ser igual ou maior (CHRISTIE, 1977, p.14). 
 No final do seu artigo, Christie faz uma pergunta interessantíssima ao seu leitor: “what 
about universities in this picture?”18 (CHIRSTIE, 1977, p. 14). A educação tem o papel de formar 
 
17 Paulo Freire, brasileiro, um dos maiores pedagogos mundiais, disse que “se a educação sozinha não transforma a 
sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”, além de que “a liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, 
exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem faz. Ninguém tem liberdade para 
ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta 
sozinho, as pessoas se libertam em comunhão”. Disponível em: < http://pensador.uol.com.br/autor/paulo_freire/> 
Acesso em: 03 abr 2016. 
18Outro pensador citado por Christie é o austríaco Ivan Illich, o qual afirmava que as “grandes universidades tentam 
inutilmente alcançar [esta] aprendizagem multiplicando os cursos; mas geralmente fracassam porque estão presos a 
currículos, estruturas de curso e administração burocrática. Nas escolas, inclusive nas universidades, gasta-se a maioria 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 220-239, mai/ago, 2016. 
Alethes| 236 
cidadãos com olhar crítico àquilo que está ao redor. Na sociedade em que vivemos, ser (bem) 
instruído é uma arma contra a alienação e falsas perspectivas. É saber escolher as suas fontes e 
analisa-las criticamente. As universidades têm um papel muito além do diploma: é garantir à seus 
alunos os instrumentos necessários para aprimorar as conjunturas sociais, econômicas e políticas 
da sua comunidade. É aprender a valorizar e conhecer a cultura local, entender a origem dos 
problemas e como solucioná-los. “Universities have to re-emphasise the old tasks of understanding 
and of criticizing” (CHISTIE, 1977, p. 14). Através dos estudos podemos contornar e aprimorar 
situações que devem ser analisadas com maior cuidado, como no caso da Justiça Restaurativa; um 
processo alternativo e humanitário em relação ao sistema judiciário comum. É necessário que os 
estudantes de hoje estejam preparados para uma realidade que envolva a sua comunidade, o seu 
cotidiano – sobretudo no Direito. Esta é uma área que exige uma atualização urgente nas legislações 
e reforma política, para acompanhar o desenvolvimento da comunidade e seus valores, 
principalmente na área penal, na qual ainda muitas pessoas acreditam que só há um meio de punir 
os infratores: prisão. As Universidades devem desenvolver uma prática de formar não apenas 
bacharéis, mas cidadãos capazes de mudar o seu redor de maneira justa e responsável. É garantir a 
cidadania nos tempos contemporâneos. É permitir um poder de voz oprimido durante há tempos
 Apesar de nem todas as ideias e perspectivas de Christie terem sido concretizadas, o 
criminólogo norueguês deixou profundas marcas na literatura que ainda hoje são bem debatidas. 
Os elementos apresentados devem estar sob um conceito de “propositivo-construtivo” ao 
tradicional processo judiciário, permitindo a sua forma de construção para uma afirmação de um 
modelo “informal de administração de conflitos desvinculado do tradicional paradigma crime-
castigo” (ACHUTTI, 2012). Assim, 
 
visualiza-se, com isto, uma possibilidade efetiva de democratização no gerenciamento de 
conflitos: enquanto no sistema penal a resposta vem de cima – é imposta pela norma e 
aplicada pelo juiz -, na justiça restaurativa a resposta emerge dos princípios envolvidos, 
dado que não há solução prévia para todos os casos, e as mesmas deverão ser construídas 
conforme as peculiaridades de cada situação. Ao caminhar nesse sentido, a justiça 
restaurativa poderá colaborar para o fortalecimento da base dos direitos de cidadania e 
democracia (...), mas também para a redução de desigualdades oriundas do sistema de 
justiça criminal, especialmente em relação aos menos favorecidos social e 
economicamente, que constituem a sua maior clientela (...)” (ACHUTTI, 2012, pp. 12-
13). 
 
dos recursos tentado comprar o tempo e motivação de um número limitado de pessoa para que elas assumam 
determinados problemas e os resolvam segundo um programa ritualmente definido” (GARJADO, 2010). Ele era radical 
quando defendia a ideia da educação sem escola. 
COSTA, G.A.S. A Teoria de Nils Christie e a Justiça Restaurativa 
Alethes | 237 
 
Democracia de uma maior participação do povo e menos de um Estado. Uma democracia 
que realmente proporcione meios e oriente sua comunidade para uma melhor saída na resolução de 
seus próprios litígios, seja através da educação, universidades com mais foco na formação de 
cidadãos conscientes de seus direitos e obrigações, programas públicos ou uma nova legislação. 
É fundamental que o autor do ato infracional, entenda as consequências e não reincida o 
crime; bem como que a própria vítima sinta suas necessidades reparadas de maneira proporcional 
e humana. Como defende Cesare Beccaria, em sua célebre obra Dos delitos e das penas, de 1764, 
“é que, para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser essencialmente pública, 
pronta, necessária, a menor das penas aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito 
e determinada por lei”. 
 
Referências bibliográficas: 
 
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política criminal do encontro., 2012 Disponível em: < 
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Alethes | 239 
 
 
 
 
Alethes: Per. Cien. Grad. Dir. UFJF, v. 06, n. 11, pp. 240-267, mai/ago, 2016. 
Alethes | 240 
Anatomia do presidencialismo de coalizão: uma perspectiva histórico-
econômica financiada pelo processo orçamentário federal 
Anatomy of coalition presidentialism: an economic and historic perspective 
maintained by federal budget process 
 
Marco Aurélio Souza Mendes1 
 
Resumo 
O presente artigo visa demonstrar o desgaste político do Presidencialismo de coalização 
e como tais desvantagens contribuem para um retrocesso político-constitucional no avanço da 
democracia brasileira. Para isso, cabe analisar o processo orçamentário federal como moeda de 
troca, a construção histórica dos diferentes regimes e a atuação do Congresso Nacional como 
principal ator do accountability horizontal. Através das falhas do presidencialismo de coalizão 
tem-se o intuito de demonstrar como o Congresso tem diminuído seu papel de cobrança de 
responsividade dos governantes, criando fortes retrocessos e cenários clientelistas para a 
consolidação da democracia brasileira pós Constituição de 1988. Contribui também com os 
fatores positivos de por que o Parlamentarismo se mostra uma melhor adoção que o 
Presidencialismo e quais são os reflexos da instabilidade de governança na macroeconomia 
através da tríplice função do Estado na economia. 
Palavras-chave: presidencialismo; parlamentarismo; governo de coalizão; 
Constituição de 1988; accountability. 
 
Abstract 
The paper approaches the brazilian coalition presidentialism’s political erosing and how 
these advantages contribute to a political backlash in progressing of Brazilian constitutional 
democracy. It properly fits analyzing federal budget process as exchange tool, the historic 
construction of different government administration and the Nacional Congress as the main 
actor at horizontal accountability process. Through that observation, it has the objective in 
demonstrating how Congress accountability has been reduced, creating backlashes and issues 
in brazilian process of democracy consolidation. Also the article contributes to present positive 
factors about the adoption of parliamentary government and the reflections of instability in 
macroeconomic sector through the triple function of State in Economy. 
Key – words: presidentialism; parlamentarism; coalition government; Constitution of 
1988; accountability. 
 
 
 
 
 
1 Graduando do 07º período no bacharelado em Direito na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Membro 
pesquisador e fundador do Laboratório Americano de Estudos Constitucionais Comparados. Auxilia o corpo 
editorial do periódico Alethes. Escritor com publicação de contos e poesias. Autor da novela histórico-política 
Abapanema: o lugar das coisas ruins. 
MENDES, M.A.S. Anatomia do presidencialismo de coalizão 
Alethes | 241 
1. Introdução: o discurso político tratado pelo viés histórico e econômico 
 
A discussão que remete à temática do presidencialismo de coalizão certamente não é 
inovadora. Qualquer debate que adentre o âmbito da Reforma Política, por mais superficial que 
seja sua natureza, perpassa pela crise do modelo de representatividade brasileiro. Apesar dos 
termos “presidencialismo” e “coalizão” só terem sido utilizados com esse viés em meados da 
Constituinte de 1988, por sociólogos como Sérgio Abranches ou Ferreira Limongi, o 
funcionamento do instituto não é nada mais do que uma renovação da contextualização histórica 
dos arraigados privilégios oligárquicos de nossa sociedade. 
O presente trabalho não se dispõe a ser um escrito exauriente ou amplamente inovador 
quanto ao conteúdo de definição do instituto. Consoante a atual crise institucional vivenciada 
pela decorrência de um processo de impeachment em curso, o artigo visará fazer uma revisão 
bibliográfica sobre os principais autores que dissertaram acerca da temática. O que é que já se 
tem de constatações sobre essa representação anacrônica. 
Contudo, não se limitará a fazer uma análise de conceitos. Aplicará uma abordagem 
econômica pouco utilizada nos artigos que discutem sociologicamente o tema. Frente às 
funções do Estado na atuação regulatória da Economia e sobre como se dá o processo 
orçamentário federal na atual Constituição, construir-se-á o viés crítico sobre a criação de um 
sistema intra estatal que financia o projeto de representatividade disforme da coalizão. 
É notório que crises da monta como a vivenciada atualmente não se expressam por 
fatores criados aleatoriamente e de forma instantânea. Há todo um processo histórico que 
justifica o comportamento das instituições no atual Estado Moderno e na específica conjuntura 
brasileira. Por isso, faz-se mister abrir cada discussão com uma introdução aos elementos 
históricos de cada setor. Em primeiro plano, os fundamentos históricos da evolução do Estado 
de Direito ao Estado Constitucional de Direito. Em segundo plano, a evolução da proposta 
orçamentária no Brasil desde a Constituição de 1824 até a recente Constituição de 1988. E por 
fim, de forma a propor uma solução, prima apresentar a construção histórica do 
Parlamentarismo no modelo anglo-saxão, como sua estrutura é coerente com as bases da teoria 
do accountability, e as ressalvas históricas brasileiras que permitem identificar as dificuldades 
sócio-políticas para a implantação de uma democracia parlamentar aos moldes da inglesa. 
 
2. Presidencialismo de coalizão: a problemática 
 
Abre-se o presente estudo com

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