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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Mecanismo de ação .................................................. 5 3. Espectro de atividade e mecanismos de resistência .............................6 4. Farmacocinética .......................................................10 5. Usos clínicos ..............................................................12 6. Efeitos adversos .......................................................16 Referências bibliográficas .........................................19 3AMINOGLICOSÍDEOS 1. INTRODUÇÃO O grupo dos aminoglicosídeos inclui a gentamicina, a tobramicina, a amica- cina, a plazomicina, a estreptomicina, a paromomicina, a espectinomicina e a neomicina. Esses fármacos são uti- lizados principalmente no tratamento de infecções causadas por bactérias aeróbicas gram-negativas. Em contraste com a maioria dos ini- bidores da síntese microbiana de proteínas, que são bacteriostáticos, os aminoglicosídeos são inibidores bactericidas da síntese proteica. MEMBRANA CELULAR PAREDE CELULAR Ribossomos DNA RNAm ATHF PABA Inibidores do metabolismo Inibidores da síntese da parede celular Inibidores da síntese de proteínas Inibidores da função ou síntese de ácidos nucleicos Inibidores das funções da membra celular Sulfonamidas Trimetoprima β-lactâmicos Vancomicina Daptomicina Telavancina Fosfomicina Tetraciclinas Aminoglicosídeos Macrolídeos Clindamicina Cloranfenicol Linezolida Fluoroquinolonas Rifampicina Isoniazida Anfotericina B Polimixina Figura 1. Classificação de alguns antibacterianos pelo seu local de ação. Legenda: ATHF, ácido tetra-hidrofólico; PABA, ácido paraminobenzoico. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016 Esses agentes contêm aminoaçúca- res ligados a um anel aminociclitol por ligações glicosídicas. Trata-se de poli- cátions, cuja polaridade é responsável, em parte, pelas propriedades farma- cocinéticas compartilhadas por todos os membros desse grupo. Por exem- plo, nenhum deles é adequadamente absorvido após a administração oral, são obtidas concentrações inadequa- das no líquido cerebrospinal (LCS), e todos sofrem excreção relativamente rápida pelo rim normal. SE LIGA! O termo “aminoglicosídeo” se origina da sua estrutura: dois aminoaçú- cares unidos por ligação glicosídica a um núcleo hexose central. 4AMINOGLICOSÍDEOS Embora os aminoglicosídeos sejam fármacos importantes e amplamen- te utilizados, a sua grave toxicida- de limita a sua utilidade. Todos os membros do grupo compartilham o mesmo espectro de toxicidade, mais notavelmente nefrotoxicidade e oto- toxicidade, que pode acometer tanto as funções auditiva quanto vestibular do oitavo nervo craniano. SE LIGA! A aplicação clínica mais co- mum dos aminoglicosídeos (como mo- noterapia ou como parte da terapia combinada) é para o tratamento de in- fecções graves causadas por bacilos gram-negativos aeróbicos. Embora me- nos comum, os aminoglicosídeos (em combinação com outros agentes) tam- bém foram utilizados para o tratamento de infecções gram-positivas seleciona- das. Além disso, certos aminoglicosíde- os demonstraram atividade clinicamente relevante contra protozoários (paromo- micina), Neisseria gonorrhoeae (especti- nomicina) e infecções por micobactérias (tobramicina, estreptomicina e, mais co- mumente, amicacina). MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO Gentamicina AMINOGLICOSÍDEOS Inibidores bactericidas da síntese proteica Representantes Toxicidade importante Principal uso: bactérias aeróbicas gram-negativas Tobramicina Estreptomicina Espectinomicina Nefrotoxicidade Ototoxicidade Amicacina Plazomicina Paromicina Neomicina 5AMINOGLICOSÍDEOS 2. MECANISMO DE AÇÃO Os aminoglicosídeos difundem-se por meio de canais porina na mem- brana externa dos microrganismos suscetíveis. Esses microrganismos também têm um sistema dependente de oxigênio que transporta o fármaco através da membrana citoplasmática. Dentro da célula, eles se fixam na su- bunidade ribossomal 30S, onde in- terferem com a montagem do apare- lho ribossomal funcional e/ou causam a leitura incorreta do código genético pela subunidade 30S do ribossomo completo. Os aminoglicosídeos se ligam a subunidade 30S distorcendo sua estrutura e causando leitura incorreta do RNAm RNAm Figura 2. Mecanismo de ação dos aminoglicosídeos. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016 Bloqueia a iniciação da síntese de proteínas Bloqueia a posterior tradução e estimula a terminação prematura Incorporação de aminoácidos incorretos Aminoglicosídeo Proteína madura Polipeptídeo crescente Direção da tradução do mRNA Figura 3. Efeitos dos aminoglicosídeos sobre a síntese de proteínas. A. O aminoglicosídeo (representado pelos círculos vermelhos) se liga à subunidade ribossômica 30S e interfere na iniciação da síntese de proteínas fixando o complexo ribossômico 30S-50S no códon de iniciação (AUG) do mRNA. Enquanto os complexos 30S-50S localizados a jusante completam a tradução do mRNA e se liberam, os complexos de iniciação anormais, chamados de monossomas da estreptomicina, acumulam-se bloqueando a posterior tradução da mensagem. O aminoglicosídeo que se liga à subu- nidade 30S também causa erro de leitura do mRNA, levando a B, terminação prematura da tradução com liberação do complexo ribossômica e síntese de proteína incompleta ou C, incorporação de aminoácidos incorretos (indicados pelo X vermelho), resultando na produção de proteínas anormais ou não funcionais. Fonte: As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman, 2012 Os antimicrobianos que interrompem a síntese proteica em geral são bac- teriostáticos; os aminoglicosídeos são os únicos a atuar como bactericidas. O efeito bactericida dos aminoglico- sídeos é concentração-dependente, isto é, a eficácia depende da concen- tração máxima (Cmáx) do fármaco 6AMINOGLICOSÍDEOS acima da concentração inibitória mí- nima (CIM) do microrganismo. Para os aminoglicosídeos, a Cmáx é de 8 a 10 vezes a CIM. Eles também exibem efeito pós-antimicrobiano (EPA), que é supressão bacteriana continu- ada após a concentração do antimi- crobiano cair abaixo da CIM. Quanto maior a dosagem, mais longo o EPA. Devido a essas propriedades, o au- mento do intervalo entre dosagens (uma dose alta única é administrada por dia) é usado com mais frequên- cia do que dosagens diárias divididas. Isso diminui o risco de nefropatia e aumenta a adesão ao tratamento. MAPA MENTAL: MECANISMO DE AÇÃO MECANISMO DE AÇÃO Ligação à subunidade ribossomal 30S Leitura incorreta do código genético Impedimento da montagem do aparelho ribossomal funcional Produção de proteínas anormais ou não funcionais 3. ESPECTRO DE ATIVIDADE E MECANISMOS DE RESISTÊNCIA Em geral, os aminoglicosídeos são ativos em um amplo espectro de organismos gram-negativos e gram-positivos aeróbios, além de micobactérias. As bactérias anaeróbicas são intrinsecamente resistentes aos aminoglicosídeos. GÊNERO MORFOLOGIA ESPÉCIE DOENÇA Gram-negativo Bordetella Cocos B. pertussis Coqueluche Brucella Coco-bacilos B. abortus Brucelose (bovinos e humanos) 7AMINOGLICOSÍDEOS GÊNERO MORFOLOGIA ESPÉCIE DOENÇA Campylobacter Espirilos C. jejuni Intoxicação alimentar Escherichia Bacilos E. coli Septicemia, infecções de feridas, ITU Haemophilus Bacilos H. influenzae Infecção aguda do trato respiratório, meningite Helicobacter Bacilo móvel H. pylori Úlcera péptica, câncer gástrico Klebsiella Bacilos encapsulados K. pneumoniae Pneumonia, septicemia Legionella Bacilos flagelados L. pneumophila Doença do Legionário Neisseria Diplococos N. gonorrhea Gonorreia Pseudomonas Bacilos flagelados P. aeruginosa Septicemia, infecções respiratórias, ITU Rickettsiae Coco filamentoso Várias espécies Infecções provocadas por carrapatos e insetos Salmonella Bacilos móveis S. typhimurium Intoxicação alimentar Shigella Bacilos S. dysenteriae Disenteria bacilar Yersinia Bacilos Y. pestis Pestebubônica Vibrio Bacilos flagelados V. cholerae Cólera Gram-positivo Bacillus Bacilos em cadeia B. anthrax Antraz Clostridium Bacilo C. tetani Tétano Corynebacterium Bacilo C. diphtheriae Difteria Mycobacterium Bacilos M. tuberculosis Tuberculose M. leprae Lepra Staphylococcus Cocos em cacho S. aureus Infecções de feridas, furúnculos, septicemia Streptococcus Diplococos S. pneumoniae Pneumonia, meningite Cocos em cadeia S. pyogenes Escarlatina, febre reumá- tica, celulite Outros Chlamydia Gram “não definido” C. trachomatis Doenças oftalmológicas, infertilidade Treponema Bacilo espiralado flagelado T. pallidum Sífilis Tabela 1. Algumas bactérias patogênicas clinicamente significativas. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016 8AMINOGLICOSÍDEOS Organismos gram-negativos: os aminoglicosídeos exibem potente atividade in vitro contra uma ampla variedade de patógenos gram-ne- gativos aeróbicos, incluindo Entero- bacteriaceae, Pseudomonas spp, Acinetobacter spp e Haemophilus influenzae. No entanto, a atividade in vitro contra Burkholderia cepacia, Stenotrophomonas maltophilia e bactérias anaeróbicas é geralmente ruim ou ausente. Podem existir dife- renças entre as potências in vitro dos vários aminoglicosídeos. Organismos gram-positivos: os aminoglicosídeos também demons- tram atividade in vitro contra organis- mos gram-positivos, como Staphylo- coccus aureus. No entanto, a maioria das autoridades acredita que esses medicamentos não são adequados como monoterapia para infecções graves causadas por S. aureus. A atividade dos aminoglicosídeos con- tra pneumococos é geralmente con- siderada insuficiente para aplicação clínica contra esses organismos. Os aminoglicosídeos não são ativos iso- ladamente contra estreptococos e en- terococos, embora possam ter efeitos aditivos ou sinérgicos contra esses patógenos quando combinados com outros agentes e na ausência de re- sistência de alto nível. Micobactérias: estreptomicina, to- bramicina e amicacina demonstram atividade favorável in vitro contra micobactérias. Especificamente, a estreptomicina é particularmente ati- va contra o Mycobacterium tuber- culosis e a amicacina é geralmente o aminoglicosídeo mais ativo contra o Mycobacterium fortuitum, o Myco- bacterium abscessus e o Mycobac- terium chelonae. Comparados com outras classes de antibióticos, os aminoglicosídeos de- monstraram relativa estabilidade con- tra o desenvolvimento de resistência. No entanto, foram descritos meca- nismos intrínsecos e adquiridos de resistência a aminoglicosídeos. A resistência ao aminoglicosídeo en- tre organismos gram-negativos pode ocorrer através da aquisição ou regu- lação positiva de genes que codificam enzimas inativadoras ou sistemas de efluxo. Embora ocorra resistência cru- zada entre os agentes aminoglico- sídeos específicos, ela é incompleta. Portanto, agentes individuais devem ser testados quanto à suscetibilida- de in vitro contra o patógeno isolado sempre que possível. SE LIGA! Organismos resistentes a ou- tros antimicrobianos (como Klebsiella pneumoniae produtora de carbapene- mase [KPCs], bem como as bactérias produtoras de beta-lactamases de es- pectro estendido [ESBLs]), geralmente são resistentes à maioria dos aminogli- cosídeos devido à presença de enzimas modificadoras de aminoglicosídeos. A plazomicina frequentemente retém ati- vidade contra esses isolados. 9AMINOGLICOSÍDEOS A resistência dos organismos gram- -negativos aos aminoglicosíde- os ocorre por dois mecanismos principais: • Produção bacteriana de enzimas inativadoras: as enzimas inativa- doras podem ser codifi cadas por plasmídeos ou associadas a ele- mentos transponíveis. A troca de plasmídeos e a disseminação de transposons (“genes saltadores”) facilitam a aquisição de resistência a medicamentos. • Permeabilidade reduzida e acúmu- lo intracelular reduzido do fármaco: a resistência a aminoglicosídeos independente de enzimas inativa- doras é conhecida há algum tem- po em Pseudomonas aeruginosa. É caracterizada pela resistência a todos os aminoglicosídeos e pode ser devido a um sistema de efl uxo ou a uma menor permeabilidade ao medicamento. Ao contrário da maioria das outras classes antimicrobianas, o apareci- mento de resistência a aminoglico- sídeos durante o tratamento é rara- mente encontrado durante o manejo de infecções gram-negativas. Além disso, certos agentes aminoglicosíde- os podem manter a atividade, apesar da resistência a outros medicamen- tos da classe. Os enterococos são intrinsecamente resistentes a níveis baixos a mode- rados de aminoglicosídeos. No en- tanto, existe o potencial de sinergia quando enterococos com baixo nível de resistência a um aminoglicosídeo são expostos a uma combinação do aminoglicosídeo com um agente ativo na parede celular, como penicilina ou vancomicina. Há relatos crescentes de resistência enterocócica adquirida de alto nível. SE LIGA! O surgimento de resistência em bacilos gram-negativos durante o tratamento com aminoglicosídeos ocor- re com pouca frequência. em bacilos gram-negativos durante o tratamento com aminoglicosídeos ocor- re com pouca frequência. 10AMINOGLICOSÍDEOS 4. FARMACOCINÉTICA A estrutura policatiônica altamente polar dos aminoglicosídeos impede absorção adequada após administra- ção oral. Por isso, todos os aminoglico- sídeos (exceto a neomicina) precisam ser administrados por via parenteral para alcançar níveis séricos adequa- dos. As concentrações séricas má- ximas de aminoglicosídeos são ob- servadas aproximadamente 30 a 60 minutos após o término de uma infu- são intravenosa ou 30 a 90 minutos após uma injeção intramuscular. A neomicina não é administrada por via parenteral devido à grave nefrotoxici- dade. Ela é administrada topicamente contra infecções cutâneas ou por via oral para preparação intestinal prévia à cirurgia colorretal. Todos os aminoglicosídeos têm pro- priedades farmacocinéticas simi- lares. Devido à sua hidrofilicidade, as concentrações tissulares podem ser subterapêuticas, e a penetração na maioria dos líquidos orgânicos é variável. Os aminoglicosídeos atin- gem concentrações na urina de 25 a 100 vezes a do sangue. Por outro lado, mostram baixa penetração no LCS, na árvore biliar e nas secreções brônquicas. As concentrações no LCS são inade- quadas, mesmo quando as menin- ges estão inflamadas. Contra infec- ções localizadas no sistema nervoso MAPA MENTAL: ESPECTRO DE ATIVIDADE AMINOGLICO-SÍDEOS Gram-negativos Gram-positivos Micobactérias Anaeróbios são intrinsecamente resistentes 11AMINOGLICOSÍDEOS central (SNC), pode ser usada a via intratecal (IT). Todos os aminoglicosí- deos atravessam a barreira placentá- ria e podem acumular no plasma fetal e no líquido amniótico. SE LIGA! Devido à baixa distribuição no tecido gorduroso, os aminoglicosídeos são dosados com base na massa corpo- ral magra, não na massa corporal total. Aproximadamente 99% da dose ad- ministrada é eliminada inalterada na urina, principalmente por fi ltração glomerular. A meia-vida varia de 1,5 a 3,5 horas em adultos com função re- nal normal. A meia-vida é prolongada em neonatos, lactentes e pacientes com função renal diminuída. Ocorre acúmulo em pacientes com disfun- ção renal, sendo necessário ajustar a dosagem. Os aminoglicosídeos são efetivamen- te removidos por hemodiálise (contí- nua e intermitente) e diálise peritone- al. Como resultado, geralmente são necessárias doses suplementares após a hemodiálise. Não penetra o SNC Fármaco inalterado aparece na urina IV IM IT Tópico Aminoglicosídeos Figura 4. Administração e destino dos aminoglicosí- deos. Legenda: SNC, sistema nervoso central. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016 12AMINOGLICOSÍDEOS 5. USOS CLÍNICOS Apesar do espectro relativamente amplo de atividade dos aminoglicosí- deos, seu uso clínico é limitado devi- do à disponibilidade de agentes alter- nativos menos tóxicos com eficácia comparável e sem a necessidadede monitoramento da concentração sé- rica dos medicamentos. Os aminogli- cosídeos permanecem importantes como um segundo agente no trata- mento de infecções graves devido a bacilos gram-negativos aeróbicos e certos organismos gram-positivos e como parte de um regime multidro- gas para certas infecções micobacte- rianas. Existem casos raros (especial- mente fora do trato urinário) em que a monoterapia com aminoglicosídeos é um tratamento adequado. MAPA MENTAL: FARMACOCINÉTICA Absorção oral inadequada Meia-vida: 1,5-3,5h Farmacocinética Concentrações tissulares variáveis Principal via de excreção: renal Vias de administração: IV, IM, IT Neomicina: tópica Atravessa barreira placentária ↓ LCS, árvore biliar, secreções brônquicas ↑ urina Ajuste de dose necessário se disfunção renal 13AMINOGLICOSÍDEOS Terapia antibacteriana combinada O uso clínico mais frequente de ami- noglicosídeos (mais comumente combinado com outros agentes an- tibacterianos) é a terapia empírica de infecções graves, como septice- mia, infecções nosocomiais do trato respiratório, infecções complicadas do trato urinário, infecções intra-ab- dominais complicadas e osteomielite causada por bacilos gram-negativos aeróbicos. A intenção dessa terapia é aumentar as chances de o patógeno ser suscetível a pelo menos um agen- te na combinação. Essa estratégia pa- rece menos relevante, principalmente devido aos riscos de efeitos adversos relacionados ao aminoglicosídeo, em locais onde a incidência de resistên- cia a antibióticos é baixa. Depois que um organismo é identificado e suas susceptibilidades determinadas para agentes alternativos, os aminogli- cosídeos são geralmente descontinua- dos em favor de antibióticos menos tó- xicos para concluir o tratamento. A terapia combinada com gentami- cina é frequentemente usada para o tratamento de infecções enterocóci- cas invasivas (como endocardite) que não exibem alto nível de resistência a aminoglicosídeos e, às vezes, para infecções graves causadas por cer- tos estreptococos. No entanto, mes- mo em alguns desses casos (como na endocardite enterocócica), a toxicida- de de aminoglicosídeos por tempo prolongado levou ao uso preferencial de outros esquemas. Os aminoglicosídeos também são usados para o tratamento combinado definitivo de infecções graves devido a organismos como Brucella spp e Listeria monocytogenes. SE LIGA! Embora a terapia combinada com aminoglicosídeos em baixas doses tenha sido usada anteriormente para in- fecções graves e invasivas por S. aureus (como bacteremia complicada ou endo- cardite), não é mais uma prática rotineira. O uso profilático de aminoglicosíde- os (em combinação com clindamicina ou vancomicina) geralmente é restri- to para procedimentos cirúrgicos que envolvem o trato gastrointestinal, tra- to urinário ou trato genital feminino em pacientes com alergias que impe- dem o uso de beta-lactâmicos. Terapia antimicobacteriana Os aminoglicosídeos são úteis no tra- tamento da tuberculose resistente a medicamentos e de certas infecções micobacterianas não tuberculosas (em combinação com outros agentes antimicobacterianos). Monoterapia Existem poucas indicações para mo- noterapia com aminoglicosídeos sistêmicos: 14AMINOGLICOSÍDEOS • Tularemia: A estreptomicina e a gentamicina são agentes de pri- meira linha, embora outras opções possam ser usadas em casos me- nos graves. • Peste: a estreptomicina e gentami- cina são agentes de primeira linha, embora outras opções possam ser usadas em pacientes que não tole- ram aminoglicosídeos. • Infecções do trato urinário devi- do a organismos gram-negati- vos multirresistentes (MDR): os aminoglicosídeos podem ser uma opção para pacientes selecionados com infecções gram-negativas por MDR quando o organismo é sus- cetível in vitro e outros antibióticos são impraticáveis ou contraindica- dos. Os aminoglicosídeos atingem alta concentração no trato urinário e, em alguns casos (particularmen- te com plazomicina e amicacina), mantêm atividade contra alguns organismos gram-negativos resis- tentes a muitas outras classes de antibióticos. SAIBA MAIS! A maioria da experiência publicada com esse uso é no tratamento de Escherichia coli ou Klebsiella pneumoniae produtoras de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL) no trato urinário. Referência: Ipekci T, Seyman D, Berk H, Celik O. Clinical and bacteriological efficacy of amikacin in the treat- ment of lower urinary tract infection caused by extended-spectrum beta-lactamase-producing Escherichia coli or Klebsiella pneumoniae. J Infect Chemother 2014; 20:762. N. gonorrhoeae: a espectinomicina é uma terapia alternativa para infecções gonocócicas não faríngeas em pa- cientes com alergia grave à penicilina. SE LIGA! Devido à baixa atividade e/ou penetração nos pulmões, abscessos e sistema nervoso central, os aminoglico- sídeos intravenosos não devem ser con- siderados como monoterapia em infec- ções que envolvem esses locais. Outras formulações de aminogli- cosídeos: a paromomicina é um aminoglicosídeo oral mal absorvido que é usado principalmente como tratamento para a infecção amebiana intraintestinal. Os aminoglicosídeos também estão disponíveis em formu- lações tópica, inalada, intraventricular, intraperitoneal e cimento impregnado para indicações específicas. A dose inicial e a frequência depen- dem do método de administração, in- dicação, peso e função renal. Os ajus- tes de dose devem basear-se nos resultados do monitoramento da con- centração sérica de medicamentos. 15AMINOGLICOSÍDEOS MAPA MENTAL: USOS CLÍNICOS Gentamicina USOS CLÍNICOS Terapia combinada Septicemia Ex: endocardite Infecções nosocomiais do trato respiratório Infecções complicadas do trato urinário Infecções intra- abdominais complicadas Osteomielite Infecçõs enterocócicas invasivas Infecções graves por certos estreptococos Infecções graves por Brucella spp e Listeria monocytogenes Procedimentos cirúrgicos que envolvem TGI, trato urinário ou trato genital feminino Tuberculose resistente a medicamentos Certas infecções micobacterianas não tuberculosas Tularemia Peste Infecções do trato urinário por gram- negativos MDR N. Gonorrhoeae Terapia empírica de infecções graves Terapia combinada definitiva Uso profilático em combinação com clindamicina ou vancomicina Suscetível a aminoglicosídeos Pacientes com alergia grave à penicilina Pacientes com alergias que impedem uso de beta-lactâmicos Terapia antimicobacteriana Monoterapia 16AMINOGLICOSÍDEOS 6. EFEITOS ADVERSOS Podem ocorrer efeitos tóxicos gra- ves e relacionados com a dosagem, à medida que o tratamento for avan- çando. Os maiores riscos são ototoxi- cidade e nefrotoxicidade. Ototoxicidade Nefrotoxicidade Paralisia Urticária Figura 5. Alguns efeitos adversos dos aminoglicosídeos. Fonte: Farmacologia Ilustrada, 2016 A ototoxicidade envolve lesões pro- gressivas, e até mesmo destruição, das células sensoriais na cóclea e no órgão vestibular do ouvido. Os resul- tados, normalmente irreversíveis, po- dem incluir vertigens, ataxia e perda de equilíbrio no caso de lesões ves- tibulares, e distúrbios auditivos ou surdez no caso de lesões na cóclea. Qualquer aminoglicosídeo pode pro- duzir ambos os tipos de efeitos, po- rém é mais provável que a estrepto- micina e a gentamicina interfiram na função vestibular e que a neomicina e a amicacina afetem majoritaria- mente a audição. A ototoxicidade é potencializada pelo uso concomitan- te de outros fármacos ototóxicos (ex: diuréticos de alça), e a suscetibilidade é geneticamente determinada atra- vés do DNA mitocondrial. A nefrotoxicidade consiste em le- sões nos túbulos renais e pode ser necessária a realização de diálise, embora a função renal seja recupera- da depois de cessar a administração. É mais provável que a nefroxicidade ocorra em pacientes com doenças re- nais preexistentes ou em condições em que o volumede urina esteja di- minuído e o uso concomitante de ou- tros agentes nefrotóxicos aumente o risco (ex: cefalosporinas de primeira geração, vancomicina). Uma vez que a eliminação se dá praticamente por via renal, essa ação nefrotóxica pode 17AMINOGLICOSÍDEOS comprometer a própria excreção e, assim, desenvolve-se um ciclo vicio- so. As concentrações no plasma de- vem ser regularmente monitoradas e a dose ajustada em conformidade. Uma reação rara, porém, grave e tó- xica, é a paralisia causada por blo- queio neuromuscular. Em geral, essa reação só ocorre se os agen- tes forem administrados simultane- amente com agentes bloqueadores neuromusculares. Resulta da inibição da recaptação do Ca2+ necessário para a liberação de acetilcolina. SE LIGA! Miastenia gravis é uma contraindicação absoluta ao uso de aminoglicosídeos. Dermatite de contato é uma reação comum para a neomicina aplicada topicamente. MAPA MENTAL: EFEITOS ADVERSOS Ototoxicidade (vertigens, ataxia, perda de equilíbrio, distúrbios auditivos, surdez) EFEITOS ADVERSOS Paralisia Nefrotoxicidade reversívelUrticária 18AMINOGLICOSÍDEOS MAPA MENTAL: GERAL Efeitos bactericida concentração dependente AMINOGLICOSÍDEOS Espectro de ação Resistência Farmacocinética Usos clínicos Efeitos pós-antimicrobiano Gram-negativo e gram-positivo aeróbios Micobactérias Não é comum durante tratamento Resistência cruzada incompleta Vias de administração: IV, IM, IT, tópica (neomicina) Principal via de excreção: renal Infecções graves por bacilos gram-negativos aeróbicos Infecções gram-positivas selecionadas Infecções micobacterianas Inibidores da síntese proteica 19AMINOGLICOSÍDEOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bruntos, Laurence L. Chabner, Bruce A. Knollmann, Bjorn C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Whalen, Karen. Finkel, Richard. Panaveli, Thomas A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Rang H. P., et al. Rang & Dale: farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Drew, Richard H. Aminoglycosides. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 27 de abril de 2020). 20AMINOGLICOSÍDEOS 20AMINOGLICOSÍDEOS