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marina albuquerque 1 Infecção do Trato Urinário DEFINIÇÕES A ITU pode ser assintomática (infecção subclínica) ou sintomática (doença). Por conseguinte, o termo infecção do trato urinário abrange uma variedade de condições clínicas, incluindo bacteriúria assintomática (BAS), cistite, prostatite e pielonefrite. A distinção entre ITU sintomática e BAS tem implicações clínicas importantes. Tanto a ITU quanto a BAS indicam a presença de bactérias no trato urinário, habitualmente acompanhadas de leucócitos e citocinas inflamatórias na urina. Entretanto, a BAS ocorre na ausência de sintomas atribuíveis à presença de bactérias no trato urinário e, em geral, não necessita de tratamento, enquanto a ITU geralmente implica doença sintomática, justificando o uso de terapia antimicrobiana. O termo infecção do trato urinário denota a presença de doença sintomática; a cistite refere- se a uma infecção sintomática da bexiga; e a pielonefrite indica uma infecção sintomática dos rins. A ITU não complicada refere-se a cistite ou pielonefrite aguda em mulheres não grávidas em condições ambulatoriais, sem anormalidades anatômicas, nem instrumentação do trato urinário. O termo ITU complicada é um termo que abrange todos os outros tipos de ITU. A ITU recorrente não é necessariamente complicada; episódios individuais podem ser não complicados e tratados desse modo. A infecção do trato urinário associada ao uso de cateter (ITUAC) pode ser sintomática ou assintomática. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO Exceto em lactentes e idosos, a ITU ocorre muito mais frequentemente nas mulheres do que nos homens. Durante o período neonatal, a incidência de ITU é ligeiramente maior entre indivíduos do sexo masculino, em comparação com os do sexo feminino, visto que os lactentes do sexo masculino apresentam mais comumente anomalias congênitas do trato urinário. Depois dos 50 anos de idade, a obstrução por hipertrofia prostática torna-se comum nos homens, e a incidência de ITU torna-se quase tão alta nos homens quanto nas mulheres. Entre 1 e cerca de 50 anos de idade, a ITU e a ITU recorrente são predominantemente doenças de mulheres. A prevalência de BAS é de cerca de 5% entre mulheres de 20 a 40 anos de idade e pode alcançar 40 a 50% entre mulheres e homens idosos. O uso recente de um diafragma com espermicida, as relações sexuais frequentes e uma história de ITU constituem fatores de risco independentes para a cistite aguda. A cistite está temporalmente relacionada com relações sexuais recentes de maneira dose-resposta, com aumento do risco relativo que varia de 1,4 com um episódio de relação sexual até 4,8 com cinco episódios na semana precedente. Em mulheres saudáveis na pós-menopausa, a atividade sexual, o diabetes melito e a incontinência constituem fatores de risco para ITU. Muitos fatores que predispõem as mulheres à cistite também aumentam o risco de pielonefrite. Em mulheres sadias jovens, os fatores independentemente associados à pielonefrite incluem relações sexuais frequentes, novo parceiro sexual, ITU nos 12 meses precedentes, história materna de ITU, diabetes e incontinência. Os fatores de risco comuns para a cistite e a pielonefrite não são surpreendentes, visto que a pielonefrite surge em consequência da ascensão de bactérias da bexiga até o trato urinário superior. Todavia, pode ocorrer pielonefrite sem cistite sintomática antecedente. Os únicos fatores de risco comportamentais consistentemente documentados para a ITU recorrente incluem relações sexuais frequentes e uso de espermicida. Em mulheres na pós-menopausa, os principais fatores de risco para ITU recorrente incluem história de ITU na pré-menopausa e fatores anatômicos que afetam o esvaziamento da bexiga, como cistocele, incontinência urinária e urina residual. Em mulheres grávidas, a BAS possui consequências clínicas, e tanto o rastreamento quanto o tratamento dessa condição estão indicados. Especificamente, a BAS durante a gestação está associada com pielonefrite materna, a qual, por sua vez, está associada com parto pré-termo. O tratamento antibiótico da BAS em gestantes pode reduzir o risco de pielonefrite, parto pré-termo e bebês com baixo peso ao nascer. Os homens com ITU apresentam, em sua maioria, uma anormalidade anatômica ou funcional do trato urinário, mais comumente obstrução urinária secundária à hipertrofia prostática. Entretanto, nem todos os homens com ITU possuem anormalidades urinárias detectáveis; esse aspecto é particularmente relevante em homens de ≤ 45 anos de idade. A falta de circuncisão está associada a um risco aumentado de ITU, visto que Escherichia coli tem mais tendência a colonizar a glande e o prepúcio e a migrar subsequentemente para o trato urinário de homens sem circuncisão. As mulheres com diabetes apresentam uma taxa 2 a 3 vezes maior de BAS e de ITU do que as mulheres sem diabetes; não há evidências suficientes para fazer uma afirmação marina albuquerque 2 correspondente em relação aos homens. A duração prolongada do diabetes e o uso de insulina, em lugar de agentes orais, também estão associados a um maior risco de ITU em mulheres com diabetes. A função vesical deficiente, a obstrução do fluxo urinário e a micção incompleta constituem fatores adicionais comumente observados em pacientes com diabetes, que aumentam o risco de ITU. O comprometimento da secreção de citocinas pode contribuir para a BAS em mulheres diabéticas. ETIOLOGIA Os uropatógenos que causam ITU variam quanto à síndrome clínica, porém consistem habitualmente em bacilos Gram-negativos entéricos que migraram para o trato urinário. E. coli representa 75 a 90% dos microrganismos isolados; Staphylococcus saprophyticus responde por 5 a 15% (com isolamento particularmente frequente em mulheres mais jovens); e espécies de Klebsiella, Proteus, Enterococcus e Citrobacter, juntamente com outros microrganismos, por 5 a 10%. Na ITU complicada (p. ex., ITUAC), a E. coli continua sendo o microrganismo predominante; porém outros bacilos Gram-negativos aeróbios, como Pseudomonas aeruginosa e espécies de Klebsiella, Proteus, Citrobacter, Acinetobacter e Morganella, também são isolados com frequência. As bactérias Gram-positivas (p. ex., enterococos e Staphylococcus aureus) e as leveduras também constituem patógenos importantes na ITU complicada. Os dados disponíveis demonstram aumento mundial na resistência de E. coli aos antibióticos comumente utilizados no tratamento da ITU. PATOGÊNESE Na maioria dos casos de ITU, as bactérias estabelecem uma infecção por meio de sua ascensão até a bexiga pela uretra. A ascensão contínua pelo ureter até o rim constitui o trajeto para a maioria das infecções do parênquima renal. Entretanto, a introdução de bactérias na bexiga não leva necessariamente a uma infecção duradoura e sintomática. A interação entre fatores do hospedeiro, do patógeno e ambientais determina se haverá invasão tecidual e infecção sintomática. Por exemplo, as bactérias frequentemente entram na bexiga após uma relação sexual; porém a micção normal e os mecanismos de defesa inatos do hospedeiro na bexiga eliminam esses microrganismos. Qualquer corpo estranho existente no trato urinário, como um cateter urinário ou cálculo, proporciona uma superfície inerte para a colonização de bactérias. A micção anormal e/ou um volume de urina residual significativo também promovem a infecção. As bactérias podem ter acesso ao trato urinário pela corrente sanguínea. Entretanto, a disseminação hematogênica responde por < 2% das ITUs documentadas e, em geral, resulta de bacteremia causada por microrganismos relativamente virulentos, como Salmonella e S. aureus. Com efeito, o isolamento de um desses patógenos de um paciente sem cateterou outra instrumentação justifica a pesquisa de uma fonte hematogênica. As infecções hematogênicas podem produzir abscessos focais ou áreas de pielonefrite dentro de um rim e resultam em culturas de urina positivas. A patogênese da candidúria é distinta, visto que a via hematogênica é, neste caso, comum. A presença de Candida na urina de um paciente imunocompetente sem instrumentação implica uma contaminação genital ou disseminação visceral potencial. SÍNDROMES CLÍNICAS BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA O diagnóstico de BAS só pode ser considerado quando o paciente não apresenta sintomas locais ou sistêmicos relacionados com o trato urinário. A apresentação clínica é habitualmente a de bacteriúria detectada de forma incidental quando um paciente realiza uma cultura de urina de rastreamento por algum motivo não relacionado com o trato urogenital. Sinais ou sintomas sistêmicos, como febre, alteração do estado mental e leucocitose, em associação a uma cultura de urina positiva, são inespecíficos e não definem um diagnóstico de ITU sintomática, a não ser que tenham sido consideradas outras etiologias possíveis. CISTITE Os sintomas típicos de cistite consistem em disúria, polaciúria e urgência. Com frequência, observa- se também a ocorrência de noctúria, hesitação, desconforto suprapúbico e hematúria macroscópica. A dor lombar ou no flanco unilateral é geralmente uma indicação de comprometimento do trato urinário superior. A marina albuquerque 3 febre também constitui uma indicação de infecção invasiva do rim ou da próstata. PIELONEFRITE A pielonefrite leve pode manifestar-se na forma de febre baixa, com ou sem dor lombar ou no ângulo costovertebral, enquanto a pielonefrite grave pode manifestar-se na forma de febre alta, tremores, náuseas, vômitos e dor no flanco e/ou lombar. Em geral, os sintomas são de início agudo, e pode não haver sintomas de cistite. A febre constitui a principal característica que distingue a cistite da pielonefrite. A febre da pielonefrite exibe um padrão em “estaca de cerca” de pico alto, porém sofre resolução dentro de 72 horas de terapia. Verifica-se o desenvolvimento de bacteremia em 20 a 30% dos casos de pielonefrite. Os pacientes com diabetes melito podem apresentar uropatia obstrutiva associada à necrose papilar aguda quando as papilas descamadas causam obstrução do ureter. A necrose papilar também pode ser evidente em alguns casos de pielonefrite complicada por obstrução, anemia falciforme, nefropatia por analgésicos ou combinações dessas condições. Nos raros casos de necrose papilar bilateral, uma rápida elevação dos níveis séricos de creatinina pode constituir a primeira indicação da condição. A pielonefrite enfisematosa é uma forma particularmente grave da doença, que está associada à produção de gás nos tecidos renais e perinefréticos e que ocorre quase exclusivamente em pacientes diabéticos. A pielonefrite xantogranulomatosa ocorre quando a obstrução urinária crônica (frequentemente por cálculos coraliformes), juntamente com infecção crônica, leva à destruição supurativa do tecido renal. Ao exame patológico, o tecido renal residual frequentemente tem uma coloração amarela, com infiltração por macrófagos repletos de lipídeos. A pielonefrite também pode ser complicada pela formação de abscesso intraparenquimatoso; deve-se suspeitar dessa situação quando o paciente apresenta febre contínua e/ou bacteremia, apesar da terapia antibacteriana. PROSTATITE A prostatite inclui anormalidades tanto infecciosas quanto não infecciosas da próstata. As infecções podem ser agudas ou crônicas, quase sempre são de natureza bacteriana e são muito menos comuns do que a condição não infecciosa de síndrome de dor pélvica crônica (anteriormente conhecida como prostatite crônica). A prostatite bacteriana aguda manifesta-se na forma de disúria, polaciúria e dor na área prostática, pélvica ou perineal. Em geral, há febre e calafrios, e os sintomas de obstrução do orifício vesical são comuns. A prostatite bacteriana crônica manifesta-se de forma mais insidiosa, como episódios recorrentes de cistite, algumas vezes com dor pélvica e perineal associada. Os homens que apresentam cistite recorrente devem ser avaliados quanto a um foco prostático, além de retenção urinária. ITU COMPLICADA A ITU complicada manifesta-se na forma de episódio sintomático de cistite ou pielonefrite em um homem ou mulher com predisposição anatômica à infecção, presença de corpo estranho no trato urinário ou fatores que predisponham a uma resposta tardia ao tratamento. DIAGNÓSTICO HISTÓRIA CLÍNICA O diagnóstico de qualquer uma das síndromes de ITU ou de BAS começa com uma anamnese detalhada. A história fornecida pelo paciente tem alto valor preditivo na cistite não complicada. EXAMES LABORATORIAIS É importante compreender os parâmetros do teste com fita reagente para interpretar seus resultados. Apenas os membros da família Enterobacteriaceae convertem o nitrato em nitrito, e deve haver um acúmulo de nitrito na urina suficiente para alcançar o limiar de detecção. Se uma mulher com cistite aguda estiver ingerindo líquidos em excesso e urinando frequentemente, o teste da fita reagente para nitrito tem menos probabilidade de ser positivo, mesmo na presença de E. coli. O teste da esterase leucocitária detecta essa enzima nos leucócitos polimorfonucleares da marina albuquerque 4 urina do hospedeiro, independentemente de as células estarem intactas ou lisadas. O teste com fita reagente para urina pode confirmar o diagnóstico de cistite não complicada em paciente com probabilidade razoavelmente alta dessa doença antes da realização do teste; pode-se interpretar tanto a positividade para nitritos como para estearase leucocitária como um teste positivo. A presença de sangue na urina também pode sugerir um diagnóstico de ITU. Um teste com fita reagente negativo para o nitrito e para a esterase leucocitária nesses pacientes deve levar a considerar outras explicações para os sintomas observados e a obtenção de uma amostra de urina para cultura. Um teste com fita reagente negativo não é sensível o suficiente para excluir a possibilidade de bacteriúria em mulheres grávidas, nas quais é importante detectar todos os episódios de bacteriúria. A microscopia da urina revela piúria em quase todos os casos de cistite e hematúria em cerca de 30% dos casos. Na prática atual, a maioria dos laboratórios de hospitais utiliza um sistema automatizado, em lugar do exame manual para microscopia da urina. Uma máquina aspira uma amostra da urina e, em seguida, classifica as partículas presentes na urina com base no seu tamanho, formato, contraste, dispersão da luz, volume e outras propriedades. Esses sistemas automatizados podem ser afetados por números elevados de hemácias dismórficas, leucócitos ou cristais; em geral, as contagens de bactérias são menos acuradas do que as contagens de hemácias e leucócitos. A recomendação clínica é a de que os sintomas e a apresentação do paciente sejam considerados acima de um resultado incongruente no exame de urina automatizado. A detecção de bactérias em uma cultura de urina é o “padrão-ouro” diagnóstico para a ITU; todavia, lamentavelmente, os resultados de cultura não se tornam disponíveis antes de 24 horas após a apresentação do paciente. A identificação do(s) microrganismo(s) específico(s) pode exigir um período adicional de 24 horas. Estudos realizados em mulheres com sintomas de cistite constataram que um limiar para contagem de colônias de > 102 bactérias/mL é mais sensível (95%) e específico (85%) do que um limiar de 105/mL para diagnóstico de cistite aguda em mulheres. Nos homens, o nível mínimo indicando infecção parece ser de 103/mL. Com frequência,as amostras de urina ficam contaminadas com a microbiota normal da uretra distal, da vagina ou da pele. Esses contaminantes podem crescer e alcançar números elevados quando se deixa a amostra de urina coletada permanecer em repouso em temperatura ambiente. Na maioria dos casos, uma cultura produzindo espécies mistas de bactérias está contaminada, exceto nos casos de cateterismo em longo prazo, retenção urinária crônica ou presença de fístula entre o trato urinário e o trato gastrintestinal ou genital. TRATAMENTO INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO A terapia antimicrobiana é necessária para qualquer ITU que seja realmente sintomática. A escolha do agente antimicrobiano, a dose e a duração da terapia dependem do local de infecção e da presença ou ausência de condições complicadoras. Cada categoria de ITU exige uma abordagem diferente, baseada na síndrome clínica específica. A resistência antimicrobiana entre uropatógenos varia de uma região para outra e influencia a abordagem ao tratamento empírico da ITU. Portanto, as escolhas terapêuticas devem depender da resistência local, da disponibilidade de fármacos e de fatores individuais dos pacientes, como viagem recente e uso de antimicrobianos. CISTITE AGUDA NÃO COMPLICADA Devido ao aumento da resistência aos antibióticos entre os uropatógenos que causam cistite não complicada, não existe mais nenhum agente ideal para o tratamento da cistite aguda não complicada. Os fármacos utilizados no tratamento da ITU que também apresentam um efeito mínimo sobre a flora fecal (mais adequados) incluem pivmecilinam, fosfomicina e nitrofurantoína. marina albuquerque 5 Em contrapartida, a trimetoprima, o SMX-TMP, as quinolonas e a ampicilina afetam mais significativamente a microbiota fecal; esses fármacos são particularmente os agentes para os quais foram documentados níveis crescentes de resistência. Os analgésicos urinários mostram-se apropriados em determinadas situações para acelerar a resolução do desconforto vesical. A fenazopiridina, um analgésico para o trato urinário, é amplamente utilizada, porém pode causar náusea significativa. Dispõe-se também de analgésicos combinados contendo antissépticos urinários (metenamina, azul de metileno), um agente acidificante da urina (fosfato de sódio) e um agente antiespasmódico (hiosciamina). PIELONEFRITE Como os pacientes com pielonefrite apresentam doença invasiva tecidual, o esquema de tratamento escolhido deve ter uma probabilidade muito alta de erradicar o microrganismo e deve alcançar rapidamente níveis sanguíneos terapêuticos. As elevadas taxas de E. coli resistente ao SMX-TMP observadas em pacientes com pielonefrite fizeram as fluoroquinolonas se tornarem o tratamento de primeira linha para a pielonefrite aguda não complicada. A administração das fluoroquinolonas por via oral ou por via parenteral dependerá da tolerância do paciente para a ingestão oral. Um estudo clínico randomizado demonstrou uma alta efetividade de um ciclo de tratamento de 7 dias com ciprofloxacino oral (500 mg, 2×/dia, com ou sem dose inicial de 400 mg, IV) para o tratamento inicial da pielonefrite em condições ambulatoriais. O SMX-TMP oral (1 comprimido de dupla concentração, 2×/dia, durante 14 dias) também se mostra efetivo para o tratamento da pielonefrite não complicada se for demonstrada a sensibilidade do uropatógeno. Se a sensibilidade do patógeno não for conhecida e o SMX-TMP for utilizado, recomenda-se dose inicial de 1 g de ceftriaxona, IV. Os agentes β-lactâmicos orais são menos efetivos do que as fluoroquinolonas e devem ser utilizados com cautela e acompanhamento rigoroso. As opções para o tratamento parenteral da pielonefrite não complicada incluem fluoroquinolonas, uma cefalosporina de espectro estendido, com ou sem aminoglicosídeo, ou um carbapenêmico. Podem ser utilizadas combinações de um β-lactâmico e de um inibidor da β-lactamase (p. ex., ampicilina- sulbactam, ticarcilina-clavulanato e piperacilina- tazobactam) ou um carbapenêmico (imipeném- cilastatina, ertapeném, meropeném) em pacientes com história clínica mais complicada, episódios anteriores de pielonefrite, previsão de resistência aos antibióticos ou manipulações recentes do trato urinário; em geral, o tratamento desses pacientes deve ser orientado pelos resultados da cultura de urina. Quando o paciente responde clinicamente, a terapia parenteral deve ser substituída pela terapia oral. ITU EM GESTANTES A nitrofurantoína, a ampicilina e as cefalosporinas são consideradas relativamente seguras no início da gravidez. As sulfonamidas devem ser definitivamente evitadas tanto no primeiro trimestre (em virtude de seus possíveis efeitos teratogênicos) quanto no final da gestação (devido a um possível papel no desenvolvimento de kernicterus). Deve-se evitar o uso de fluoroquinolonas, em virtude dos possíveis efeitos adversos sobre o desenvolvimento da cartilagem no feto. A ampicilina e as cefalosporinas têm sido muito usadas durante a gravidez e constituem os fármacos de escolha para o tratamento da ITU assintomática ou sintomática nesse grupo de pacientes. Em geral, as gestantes com BAS são tratadas por 4 a 7 dias na ausência de evidências que sustentem a terapia de dose única. Para mulheres grávidas com pielonefrite franca, o tratamento com β-lactâmicos por via parenteral, com ou sem aminoglicosídeos, constitui o tratamento-padrão. ITU EM HOMENS Como a próstata é afetada na maioria dos casos de ITU febril em homens, a meta, nesses pacientes, consiste em erradicar a infecção prostática, bem como a infecção vesical. Recomenda-se um ciclo de 7 a 14 dias de uma fluoroquinolona ou de SMX- TMP se o uropatógeno for sensível. Se houver suspeita de prostatite bacteriana aguda, a terapia antimicrobiana deve ser iniciada após a obtenção de amostras de urina e de sangue para culturas. O tratamento pode ser individualizado para os resultados da cultura de urina e deve ser continuado por 2 a 4 semanas. Para os casos de prostatite bacteriana crônica documentada, é frequentemente necessário um ciclo de 4 a 6 semanas de antibióticos. As recidivas, que não são raras na prostatite crônica, frequentemente necessitam de um ciclo de 12 semanas de tratamento. ITU COMPLICADA A ITU complicada (diferente daquelas discutidas anteriormente) ocorre em um grupo heterogêneo de pacientes portadores de uma ampla variedade de anormalidades estruturais e funcionais do trato urinário e dos rins. A gama de espécies envolvidas e a sua sensibilidade a agentes antimicrobianos também são heterogêneas. Em consequência, a terapia para a ITU complicada precisa ser individualizada e orientada pelos resultados da cultura de urina. Com frequência, um paciente com ITU complicada fornece dados de cultura de urina marina albuquerque 6 anterior que podem ser utilizados para orientar o tratamento empírico, enquanto se aguardam os resultados da cultura atual. A pielonefrite xantogranulomatosa é tratada com nefrectomia. A drenagem percutânea pode ser usada como tratamento inicial na pielonefrite enfisematosa e pode ser seguida de nefrectomia eletiva, se necessário. A necrose papilar com obstrução exige intervenção para aliviar a obstrução e preservar a função renal. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA O tratamento da BAS não diminui a frequência de infecções sintomáticas ou complicações, exceto em mulheres grávidas, indivíduos submetidos à cirurgia urológica e, talvez, pacientes com neutropenia e receptores de transplante renal. O tratamento da BAS em mulheres grávidas e pacientes submetidos a procedimentos urológicos deve ser orientado pelos resultados da cultura de urina. Em todas as outras populações de pacientes, não se recomenda o rastreamento da BAS, nem o seu tratamento.Os casos de bacteriúria associada a cateter são, em sua maioria, assintomáticos e não justificam um tratamento antimicrobiano. ITU ASSOCIADA A CATETER O limiar aceito para bacteriúria para preencher a definição de ITUAC é de ≥ 103 UFC/mL de urina, enquanto o limiar para bacteriúria para preencher a definição de BAS é de ≥ 105 UFC/mL. A etiologia da ITUAC é diversa, e os resultados das culturas de urina são essenciais para orientar o tratamento. Evidências bastante válidas sustentam a prática da troca do cateter durante o tratamento da ITUAC. O objetivo é remover os microrganismos associados ao biofilme que poderiam servir de foco para uma reinfecção. Os estudos patológicos revelam que muitos pacientes com cateteres de longo prazo apresentam pielonefrite oculta. Um estudo clínico randomizado em indivíduos com lesão da medula espinal que estavam sendo cateterizados de modo intermitente verificou que a ocorrência de recidiva era mais comum depois de 3 dias de tratamento do que depois de 14 dias. Em geral, recomenda-se um ciclo de 7 a 14 dias de antibióticos; porém são necessários estudos adicionais sobre a duração ideal do tratamento. A melhor estratégia para a prevenção da ITUAC consiste em evitar a inserção desnecessária de cateter e removê-lo quando este não for mais necessário. CANDIDÚRIA O aparecimento de Candida na urina representa uma complicação cada vez mais comum da cateterização de demora, em particular para pacientes de unidade de terapia intensiva, para aqueles em uso de agentes antimicrobianos de amplo espectro e para indivíduos com diabetes melito subjacente. Em muitos estudos, > 50% de Candida urinária isolada consistiram em espécies não albicans. A apresentação clínica inclui desde um achado laboratorial assintomático até pielonefrite e sepse. A remoção do cateter uretral leva à resolução da candidúria em mais de um terço dos casos assintomáticos. O tratamento dos pacientes assintomáticos não parece diminuir a frequência de recidiva da candidúria. Recomenda-se o tratamento para pacientes que apresentam cistite sintomática ou pielonefrite e para aqueles que correm alto risco de doença disseminada. Os pacientes de alto risco incluem aqueles com neutropenia, pacientes submetidos à manipulação urológica, pacientes clinicamente instáveis e lactentes com baixo peso ao nascer. O fluconazol (200-400 mg/dia, durante 7 a 14 dias) alcança níveis elevados na urina e constitui o esquema de primeira linha para as infecções do trato urinário causadas por Candida. Embora tenham sido relatados casos de erradicação bem-sucedida da candidúria por alguns dos azóis mais recentes e equinocandinas, esses agentes caracterizam-se por baixos níveis de excreção urinária e, portanto, não são recomendados. Para isolados de Candida com altos níveis de resistência ao fluconazol, a flucitosina por via oral e/ou a anfotericina B por via parenteral constituem opções. Em geral, não se recomenda a irrigação da bexiga com anfotericina B. REFERÊNCIA: LARRY, J. J. MEDICINA INTERNA DE HARRISON - 2 VOLUMES. GRUPO A, 2019. 9788580556346. DISPONÍVEL EM: HTTPS://INTEGRADA. MINHABIBLIOTECA. COM.BR/#/BOOKS/9788580556346/. ACESSO EM: 18 MAY 2021
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