Buscar

Infecção do Trato Urinário

Prévia do material em texto

marina albuquerque 1 
 
Infecção do Trato Urinário 
DEFINIÇÕES 
A ITU pode ser assintomática (infecção subclínica) 
ou sintomática (doença). Por conseguinte, o 
termo infecção do trato urinário abrange uma 
variedade de condições clínicas, incluindo 
bacteriúria assintomática (BAS), cistite, prostatite e 
pielonefrite. A distinção entre ITU sintomática e BAS 
tem implicações clínicas importantes. Tanto a ITU 
quanto a BAS indicam a presença de bactérias no 
trato urinário, habitualmente acompanhadas de 
leucócitos e citocinas inflamatórias na urina. 
Entretanto, a BAS ocorre na ausência de sintomas 
atribuíveis à presença de bactérias no trato 
urinário e, em geral, não necessita de tratamento, 
enquanto a ITU geralmente implica doença 
sintomática, justificando o uso de terapia 
antimicrobiana. 
O termo infecção do trato urinário denota a 
presença de doença sintomática; a cistite refere-
se a uma infecção sintomática da bexiga; e 
a pielonefrite indica uma infecção sintomática 
dos rins. A ITU não complicada refere-se a cistite 
ou pielonefrite aguda em mulheres não grávidas 
em condições ambulatoriais, sem anormalidades 
anatômicas, nem instrumentação do trato 
urinário. O termo ITU complicada é um termo que 
abrange todos os outros tipos de ITU. A ITU 
recorrente não é necessariamente complicada; 
episódios individuais podem ser não complicados 
e tratados desse modo. A infecção do trato 
urinário associada ao uso de cateter (ITUAC) pode 
ser sintomática ou assintomática. 
EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO 
Exceto em lactentes e idosos, a ITU ocorre muito 
mais frequentemente nas mulheres do que nos 
homens. Durante o período neonatal, a incidência 
de ITU é ligeiramente maior entre indivíduos do 
sexo masculino, em comparação com os do sexo 
feminino, visto que os lactentes do sexo masculino 
apresentam mais comumente anomalias 
congênitas do trato urinário. Depois dos 50 anos 
de idade, a obstrução por hipertrofia prostática 
torna-se comum nos homens, e a incidência de ITU 
torna-se quase tão alta nos homens quanto nas 
mulheres. Entre 1 e cerca de 50 anos de idade, a 
ITU e a ITU recorrente são predominantemente 
doenças de mulheres. A prevalência de BAS é de 
cerca de 5% entre mulheres de 20 a 40 anos de 
idade e pode alcançar 40 a 50% entre mulheres e 
homens idosos. 
O uso recente de um diafragma com 
espermicida, as relações sexuais frequentes e uma 
história de ITU constituem fatores de risco 
independentes para a cistite aguda. A cistite está 
temporalmente relacionada com relações sexuais 
recentes de maneira dose-resposta, com 
aumento do risco relativo que varia de 1,4 com um 
episódio de relação sexual até 4,8 com cinco 
episódios na semana precedente. Em mulheres 
saudáveis na pós-menopausa, a atividade sexual, 
o diabetes melito e a incontinência constituem 
fatores de risco para ITU. 
Muitos fatores que predispõem as mulheres à 
cistite também aumentam o risco de pielonefrite. 
Em mulheres sadias jovens, os fatores 
independentemente associados à pielonefrite 
incluem relações sexuais frequentes, novo 
parceiro sexual, ITU nos 12 meses precedentes, 
história materna de ITU, diabetes e incontinência. 
Os fatores de risco comuns para a cistite e a 
pielonefrite não são surpreendentes, visto que a 
pielonefrite surge em consequência da ascensão 
de bactérias da bexiga até o trato urinário 
superior. Todavia, pode ocorrer pielonefrite sem 
cistite sintomática antecedente. Os únicos fatores 
de risco comportamentais consistentemente 
documentados para a ITU recorrente incluem 
relações sexuais frequentes e uso de espermicida. 
Em mulheres na pós-menopausa, os principais 
fatores de risco para ITU recorrente incluem história 
de ITU na pré-menopausa e fatores anatômicos 
que afetam o esvaziamento da bexiga, como 
cistocele, incontinência urinária e urina residual. 
Em mulheres grávidas, a BAS possui consequências 
clínicas, e tanto o rastreamento quanto o 
tratamento dessa condição estão indicados. 
Especificamente, a BAS durante a gestação está 
associada com pielonefrite materna, a qual, por 
sua vez, está associada com parto pré-termo. O 
tratamento antibiótico da BAS em gestantes pode 
reduzir o risco de pielonefrite, parto pré-termo e 
bebês com baixo peso ao nascer. 
Os homens com ITU apresentam, em sua maioria, 
uma anormalidade anatômica ou funcional do 
trato urinário, mais comumente obstrução urinária 
secundária à hipertrofia prostática. Entretanto, 
nem todos os homens com ITU possuem 
anormalidades urinárias detectáveis; esse aspecto 
é particularmente relevante em homens de ≤ 45 
anos de idade. A falta de circuncisão está 
associada a um risco aumentado de ITU, visto que 
Escherichia coli tem mais tendência a colonizar a 
glande e o prepúcio e a migrar 
subsequentemente para o trato urinário de 
homens sem circuncisão. 
As mulheres com diabetes apresentam uma taxa 
2 a 3 vezes maior de BAS e de ITU do que as 
mulheres sem diabetes; não há evidências 
suficientes para fazer uma afirmação 
marina albuquerque 2 
 
correspondente em relação aos homens. A 
duração prolongada do diabetes e o uso de 
insulina, em lugar de agentes orais, também estão 
associados a um maior risco de ITU em mulheres 
com diabetes. A função vesical deficiente, a 
obstrução do fluxo urinário e a micção incompleta 
constituem fatores adicionais comumente 
observados em pacientes com diabetes, que 
aumentam o risco de ITU. O comprometimento da 
secreção de citocinas pode contribuir para a BAS 
em mulheres diabéticas. 
ETIOLOGIA 
Os uropatógenos que causam ITU variam quanto 
à síndrome clínica, porém consistem 
habitualmente em bacilos Gram-negativos 
entéricos que migraram para o trato urinário. E. 
coli representa 75 a 90% dos microrganismos 
isolados; Staphylococcus saprophyticus responde 
por 5 a 15% (com isolamento particularmente 
frequente em mulheres mais jovens); e espécies de 
Klebsiella, Proteus, Enterococcus e Citrobacter, 
juntamente com outros microrganismos, por 5 a 
10%. 
Na ITU complicada (p. ex., ITUAC), a E. coli 
continua sendo o microrganismo predominante; 
porém outros bacilos Gram-negativos aeróbios, 
como Pseudomonas aeruginosa e espécies de 
Klebsiella, Proteus, Citrobacter, Acinetobacter e 
Morganella, também são isolados com 
frequência. As bactérias Gram-positivas (p. ex., 
enterococos e Staphylococcus aureus) e as 
leveduras também constituem patógenos 
importantes na ITU complicada. 
Os dados disponíveis demonstram aumento 
mundial na resistência de E. coli aos antibióticos 
comumente utilizados no tratamento da ITU. 
PATOGÊNESE 
Na maioria dos casos de ITU, as bactérias 
estabelecem uma infecção por meio de sua 
ascensão até a bexiga pela uretra. A ascensão 
contínua pelo ureter até o rim constitui o trajeto 
para a maioria das infecções do parênquima 
renal. Entretanto, a introdução de bactérias na 
bexiga não leva necessariamente a uma infecção 
duradoura e sintomática. A interação entre 
fatores do hospedeiro, do patógeno e ambientais 
determina se haverá invasão tecidual e infecção 
sintomática. Por exemplo, as bactérias 
frequentemente entram na bexiga após uma 
relação sexual; porém a micção normal e os 
mecanismos de defesa inatos do hospedeiro na 
bexiga eliminam esses microrganismos. Qualquer 
corpo estranho existente no trato urinário, como 
um cateter urinário ou cálculo, proporciona uma 
superfície inerte para a colonização de bactérias. 
A micção anormal e/ou um volume de urina 
residual significativo também promovem a 
infecção. 
 
As bactérias podem ter acesso ao trato urinário 
pela corrente sanguínea. Entretanto, a 
disseminação hematogênica responde por < 2% 
das ITUs documentadas e, em geral, resulta de 
bacteremia causada por microrganismos 
relativamente virulentos, como Salmonella e S. 
aureus. Com efeito, o isolamento de um desses 
patógenos de um paciente sem cateterou outra 
instrumentação justifica a pesquisa de uma fonte 
hematogênica. As infecções hematogênicas 
podem produzir abscessos focais ou áreas de 
pielonefrite dentro de um rim e resultam em 
culturas de urina positivas. A patogênese da 
candidúria é distinta, visto que a via 
hematogênica é, neste caso, comum. A presença 
de Candida na urina de um paciente 
imunocompetente sem instrumentação implica 
uma contaminação genital ou disseminação 
visceral potencial. 
SÍNDROMES CLÍNICAS 
BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA 
O diagnóstico de BAS só pode ser considerado 
quando o paciente não apresenta sintomas locais 
ou sistêmicos relacionados com o trato urinário. A 
apresentação clínica é habitualmente a de 
bacteriúria detectada de forma incidental 
quando um paciente realiza uma cultura de urina 
de rastreamento por algum motivo não 
relacionado com o trato urogenital. Sinais ou 
sintomas sistêmicos, como febre, alteração do 
estado mental e leucocitose, em associação a 
uma cultura de urina positiva, são inespecíficos e 
não definem um diagnóstico de ITU sintomática, a 
não ser que tenham sido consideradas outras 
etiologias possíveis. 
CISTITE 
Os sintomas típicos de cistite consistem em disúria, 
polaciúria e urgência. Com frequência, observa-
se também a ocorrência de noctúria, hesitação, 
desconforto suprapúbico e hematúria 
macroscópica. A dor lombar ou no flanco 
unilateral é geralmente uma indicação de 
comprometimento do trato urinário superior. A 
marina albuquerque 3 
 
febre também constitui uma indicação de 
infecção invasiva do rim ou da próstata. 
PIELONEFRITE 
A pielonefrite leve pode manifestar-se na forma de 
febre baixa, com ou sem dor lombar ou no ângulo 
costovertebral, enquanto a pielonefrite grave 
pode manifestar-se na forma de febre alta, 
tremores, náuseas, vômitos e dor no flanco e/ou 
lombar. Em geral, os sintomas são de início agudo, 
e pode não haver sintomas de cistite. A febre 
constitui a principal característica que distingue a 
cistite da pielonefrite. A febre da pielonefrite exibe 
um padrão em “estaca de cerca” de pico alto, 
porém sofre resolução dentro de 72 horas de 
terapia. Verifica-se o desenvolvimento de 
bacteremia em 20 a 30% dos casos de pielonefrite. 
Os pacientes com diabetes melito podem 
apresentar uropatia obstrutiva associada à 
necrose papilar aguda quando as papilas 
descamadas causam obstrução do ureter. A 
necrose papilar também pode ser evidente em 
alguns casos de pielonefrite complicada por 
obstrução, anemia falciforme, nefropatia por 
analgésicos ou combinações dessas condições. 
Nos raros casos de necrose papilar bilateral, uma 
rápida elevação dos níveis séricos de creatinina 
pode constituir a primeira indicação da condição. 
A pielonefrite enfisematosa é uma forma 
particularmente grave da doença, que está 
associada à produção de gás nos tecidos renais e 
perinefréticos e que ocorre quase exclusivamente 
em pacientes diabéticos. A pielonefrite 
xantogranulomatosa ocorre quando a obstrução 
urinária crônica (frequentemente por cálculos 
coraliformes), juntamente com infecção crônica, 
leva à destruição supurativa do tecido renal. Ao 
exame patológico, o tecido renal residual 
frequentemente tem uma coloração amarela, 
com infiltração por macrófagos repletos de 
lipídeos. A pielonefrite também pode ser 
complicada pela formação de abscesso 
intraparenquimatoso; deve-se suspeitar dessa 
situação quando o paciente apresenta febre 
contínua e/ou bacteremia, apesar da terapia 
antibacteriana. 
PROSTATITE 
A prostatite inclui anormalidades tanto infecciosas 
quanto não infecciosas da próstata. As infecções 
podem ser agudas ou crônicas, quase sempre são 
de natureza bacteriana e são muito menos 
comuns do que a condição não infecciosa de 
síndrome de dor pélvica crônica (anteriormente 
conhecida como prostatite crônica). A prostatite 
bacteriana aguda manifesta-se na forma de 
disúria, polaciúria e dor na área prostática, pélvica 
ou perineal. Em geral, há febre e calafrios, e os 
sintomas de obstrução do orifício vesical são 
comuns. A prostatite bacteriana crônica 
manifesta-se de forma mais insidiosa, como 
episódios recorrentes de cistite, algumas vezes 
com dor pélvica e perineal associada. Os homens 
que apresentam cistite recorrente devem ser 
avaliados quanto a um foco prostático, além de 
retenção urinária. 
ITU COMPLICADA 
A ITU complicada manifesta-se na forma de 
episódio sintomático de cistite ou pielonefrite em 
um homem ou mulher com predisposição 
anatômica à infecção, presença de corpo 
estranho no trato urinário ou fatores que 
predisponham a uma resposta tardia ao 
tratamento. 
DIAGNÓSTICO 
HISTÓRIA CLÍNICA 
O diagnóstico de qualquer uma das síndromes de 
ITU ou de BAS começa com uma anamnese 
detalhada. A história fornecida pelo paciente tem 
alto valor preditivo na cistite não complicada. 
 
EXAMES LABORATORIAIS 
É importante compreender os parâmetros do teste 
com fita reagente para interpretar seus resultados. 
Apenas os membros da família 
Enterobacteriaceae convertem o nitrato em 
nitrito, e deve haver um acúmulo de nitrito na urina 
suficiente para alcançar o limiar de detecção. Se 
uma mulher com cistite aguda estiver ingerindo 
líquidos em excesso e urinando frequentemente, o 
teste da fita reagente para nitrito tem menos 
probabilidade de ser positivo, mesmo na presença 
de E. coli. O teste da esterase leucocitária detecta 
essa enzima nos leucócitos polimorfonucleares da 
marina albuquerque 4 
 
urina do hospedeiro, independentemente de as 
células estarem intactas ou lisadas. 
O teste com fita reagente para urina pode 
confirmar o diagnóstico de cistite não complicada 
em paciente com probabilidade razoavelmente 
alta dessa doença antes da realização do teste; 
pode-se interpretar tanto a positividade para 
nitritos como para estearase leucocitária como 
um teste positivo. A presença de sangue na urina 
também pode sugerir um diagnóstico de ITU. Um 
teste com fita reagente negativo para o nitrito e 
para a esterase leucocitária nesses pacientes 
deve levar a considerar outras explicações para 
os sintomas observados e a obtenção de uma 
amostra de urina para cultura. Um teste com fita 
reagente negativo não é sensível o suficiente para 
excluir a possibilidade de bacteriúria em mulheres 
grávidas, nas quais é importante detectar todos os 
episódios de bacteriúria. 
A microscopia da urina revela piúria em quase 
todos os casos de cistite e hematúria em cerca de 
30% dos casos. Na prática atual, a maioria dos 
laboratórios de hospitais utiliza um sistema 
automatizado, em lugar do exame manual para 
microscopia da urina. Uma máquina aspira uma 
amostra da urina e, em seguida, classifica as 
partículas presentes na urina com base no seu 
tamanho, formato, contraste, dispersão da luz, 
volume e outras propriedades. Esses sistemas 
automatizados podem ser afetados por números 
elevados de hemácias dismórficas, leucócitos ou 
cristais; em geral, as contagens de bactérias são 
menos acuradas do que as contagens de 
hemácias e leucócitos. A recomendação clínica 
é a de que os sintomas e a apresentação do 
paciente sejam considerados acima de um 
resultado incongruente no exame de urina 
automatizado. 
A detecção de bactérias em uma cultura de urina 
é o “padrão-ouro” diagnóstico para a ITU; 
todavia, lamentavelmente, os resultados de 
cultura não se tornam disponíveis antes de 24 
horas após a apresentação do paciente. A 
identificação do(s) microrganismo(s) específico(s) 
pode exigir um período adicional de 24 horas. 
Estudos realizados em mulheres com sintomas de 
cistite constataram que um limiar para contagem 
de colônias de > 102 bactérias/mL é mais sensível 
(95%) e específico (85%) do que um limiar de 
105/mL para diagnóstico de cistite aguda em 
mulheres. Nos homens, o nível mínimo indicando 
infecção parece ser de 103/mL. Com frequência,as amostras de urina ficam contaminadas com a 
microbiota normal da uretra distal, da vagina ou 
da pele. Esses contaminantes podem crescer e 
alcançar números elevados quando se deixa a 
amostra de urina coletada permanecer em 
repouso em temperatura ambiente. Na maioria 
dos casos, uma cultura produzindo espécies mistas 
de bactérias está contaminada, exceto nos casos 
de cateterismo em longo prazo, retenção urinária 
crônica ou presença de fístula entre o trato 
urinário e o trato gastrintestinal ou genital. 
TRATAMENTO 
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO 
A terapia antimicrobiana é necessária para 
qualquer ITU que seja realmente sintomática. A 
escolha do agente antimicrobiano, a dose e a 
duração da terapia dependem do local de 
infecção e da presença ou ausência de 
condições complicadoras. Cada categoria de ITU 
exige uma abordagem diferente, baseada na 
síndrome clínica específica. 
A resistência antimicrobiana entre uropatógenos 
varia de uma região para outra e influencia a 
abordagem ao tratamento empírico da ITU. 
Portanto, as escolhas terapêuticas devem 
depender da resistência local, da disponibilidade 
de fármacos e de fatores individuais dos 
pacientes, como viagem recente e uso de 
antimicrobianos. 
CISTITE AGUDA NÃO COMPLICADA 
Devido ao aumento da resistência aos antibióticos 
entre os uropatógenos que causam cistite não 
complicada, não existe mais nenhum agente 
ideal para o tratamento da cistite aguda não 
complicada. Os fármacos utilizados no tratamento 
da ITU que também apresentam um efeito mínimo 
sobre a flora fecal (mais adequados) incluem 
pivmecilinam, fosfomicina e nitrofurantoína. 
 
 
marina albuquerque 5 
 
Em contrapartida, a trimetoprima, o SMX-TMP, as 
quinolonas e a ampicilina afetam mais 
significativamente a microbiota fecal; esses 
fármacos são particularmente os agentes para os 
quais foram documentados níveis crescentes de 
resistência. 
Os analgésicos urinários mostram-se apropriados 
em determinadas situações para acelerar a 
resolução do desconforto vesical. A 
fenazopiridina, um analgésico para o trato 
urinário, é amplamente utilizada, porém pode 
causar náusea significativa. Dispõe-se também de 
analgésicos combinados contendo antissépticos 
urinários (metenamina, azul de metileno), um 
agente acidificante da urina (fosfato de sódio) e 
um agente antiespasmódico (hiosciamina). 
PIELONEFRITE 
Como os pacientes com pielonefrite apresentam 
doença invasiva tecidual, o esquema de 
tratamento escolhido deve ter uma probabilidade 
muito alta de erradicar o microrganismo e deve 
alcançar rapidamente níveis sanguíneos 
terapêuticos. As elevadas taxas de E. coli 
resistente ao SMX-TMP observadas em pacientes 
com pielonefrite fizeram as fluoroquinolonas se 
tornarem o tratamento de primeira linha para a 
pielonefrite aguda não complicada. A 
administração das fluoroquinolonas por via oral ou 
por via parenteral dependerá da tolerância do 
paciente para a ingestão oral. Um estudo clínico 
randomizado demonstrou uma alta efetividade 
de um ciclo de tratamento de 7 dias com 
ciprofloxacino oral (500 mg, 2×/dia, com ou sem 
dose inicial de 400 mg, IV) para o tratamento 
inicial da pielonefrite em condições ambulatoriais. 
O SMX-TMP oral (1 comprimido de dupla 
concentração, 2×/dia, durante 14 dias) também 
se mostra efetivo para o tratamento da 
pielonefrite não complicada se for demonstrada a 
sensibilidade do uropatógeno. Se a sensibilidade 
do patógeno não for conhecida e o SMX-TMP for 
utilizado, recomenda-se dose inicial de 1 g de 
ceftriaxona, IV. Os agentes β-lactâmicos orais são 
menos efetivos do que as fluoroquinolonas e 
devem ser utilizados com cautela e 
acompanhamento rigoroso. As opções para o 
tratamento parenteral da pielonefrite não 
complicada incluem fluoroquinolonas, uma 
cefalosporina de espectro estendido, com ou sem 
aminoglicosídeo, ou um carbapenêmico. Podem 
ser utilizadas combinações de um β-lactâmico e 
de um inibidor da β-lactamase (p. ex., ampicilina-
sulbactam, ticarcilina-clavulanato e piperacilina-
tazobactam) ou um carbapenêmico (imipeném-
cilastatina, ertapeném, meropeném) em 
pacientes com história clínica mais complicada, 
episódios anteriores de pielonefrite, previsão de 
resistência aos antibióticos ou manipulações 
recentes do trato urinário; em geral, o tratamento 
desses pacientes deve ser orientado pelos 
resultados da cultura de urina. Quando o paciente 
responde clinicamente, a terapia parenteral deve 
ser substituída pela terapia oral. 
ITU EM GESTANTES 
A nitrofurantoína, a ampicilina e as cefalosporinas 
são consideradas relativamente seguras no início 
da gravidez. As sulfonamidas devem ser 
definitivamente evitadas tanto no primeiro 
trimestre (em virtude de seus possíveis efeitos 
teratogênicos) quanto no final da gestação 
(devido a um possível papel no desenvolvimento 
de kernicterus). Deve-se evitar o uso de 
fluoroquinolonas, em virtude dos possíveis efeitos 
adversos sobre o desenvolvimento da cartilagem 
no feto. A ampicilina e as cefalosporinas têm sido 
muito usadas durante a gravidez e constituem os 
fármacos de escolha para o tratamento da ITU 
assintomática ou sintomática nesse grupo de 
pacientes. Em geral, as gestantes com BAS são 
tratadas por 4 a 7 dias na ausência de evidências 
que sustentem a terapia de dose única. Para 
mulheres grávidas com pielonefrite franca, o 
tratamento com β-lactâmicos por via parenteral, 
com ou sem aminoglicosídeos, constitui o 
tratamento-padrão. 
ITU EM HOMENS 
Como a próstata é afetada na maioria dos casos 
de ITU febril em homens, a meta, nesses pacientes, 
consiste em erradicar a infecção prostática, bem 
como a infecção vesical. Recomenda-se um ciclo 
de 7 a 14 dias de uma fluoroquinolona ou de SMX-
TMP se o uropatógeno for sensível. Se houver 
suspeita de prostatite bacteriana aguda, a 
terapia antimicrobiana deve ser iniciada após a 
obtenção de amostras de urina e de sangue para 
culturas. O tratamento pode ser individualizado 
para os resultados da cultura de urina e deve ser 
continuado por 2 a 4 semanas. Para os casos de 
prostatite bacteriana crônica documentada, é 
frequentemente necessário um ciclo de 4 a 6 
semanas de antibióticos. As recidivas, que não são 
raras na prostatite crônica, frequentemente 
necessitam de um ciclo de 12 semanas de 
tratamento. 
ITU COMPLICADA 
A ITU complicada (diferente daquelas discutidas 
anteriormente) ocorre em um grupo heterogêneo 
de pacientes portadores de uma ampla 
variedade de anormalidades estruturais e 
funcionais do trato urinário e dos rins. A gama de 
espécies envolvidas e a sua sensibilidade a 
agentes antimicrobianos também são 
heterogêneas. Em consequência, a terapia para 
a ITU complicada precisa ser individualizada e 
orientada pelos resultados da cultura de urina. 
Com frequência, um paciente com ITU 
complicada fornece dados de cultura de urina 
marina albuquerque 6 
 
anterior que podem ser utilizados para orientar o 
tratamento empírico, enquanto se aguardam os 
resultados da cultura atual. A pielonefrite 
xantogranulomatosa é tratada com nefrectomia. 
A drenagem percutânea pode ser usada como 
tratamento inicial na pielonefrite enfisematosa e 
pode ser seguida de nefrectomia eletiva, se 
necessário. A necrose papilar com obstrução 
exige intervenção para aliviar a obstrução e 
preservar a função renal. 
BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA 
O tratamento da BAS não diminui a frequência de 
infecções sintomáticas ou complicações, exceto 
em mulheres grávidas, indivíduos submetidos à 
cirurgia urológica e, talvez, pacientes com 
neutropenia e receptores de transplante renal. O 
tratamento da BAS em mulheres grávidas e 
pacientes submetidos a procedimentos urológicos 
deve ser orientado pelos resultados da cultura de 
urina. Em todas as outras populações de 
pacientes, não se recomenda o rastreamento da 
BAS, nem o seu tratamento.Os casos de 
bacteriúria associada a cateter são, em sua 
maioria, assintomáticos e não justificam um 
tratamento antimicrobiano. 
ITU ASSOCIADA A CATETER 
O limiar aceito para bacteriúria para preencher a 
definição de ITUAC é de ≥ 103 UFC/mL de urina, 
enquanto o limiar para bacteriúria para preencher 
a definição de BAS é de ≥ 105 UFC/mL. A etiologia 
da ITUAC é diversa, e os resultados das culturas de 
urina são essenciais para orientar o tratamento. 
Evidências bastante válidas sustentam a prática 
da troca do cateter durante o tratamento da 
ITUAC. O objetivo é remover os microrganismos 
associados ao biofilme que poderiam servir de 
foco para uma reinfecção. Os estudos 
patológicos revelam que muitos pacientes com 
cateteres de longo prazo apresentam pielonefrite 
oculta. Um estudo clínico randomizado em 
indivíduos com lesão da medula espinal que 
estavam sendo cateterizados de modo 
intermitente verificou que a ocorrência de 
recidiva era mais comum depois de 3 dias de 
tratamento do que depois de 14 dias. Em geral, 
recomenda-se um ciclo de 7 a 14 dias de 
antibióticos; porém são necessários estudos 
adicionais sobre a duração ideal do tratamento. 
A melhor estratégia para a prevenção da ITUAC 
consiste em evitar a inserção desnecessária de 
cateter e removê-lo quando este não for mais 
necessário. 
CANDIDÚRIA 
O aparecimento de Candida na urina representa 
uma complicação cada vez mais comum da 
cateterização de demora, em particular para 
pacientes de unidade de terapia intensiva, para 
aqueles em uso de agentes antimicrobianos de 
amplo espectro e para indivíduos com diabetes 
melito subjacente. Em muitos estudos, > 50% de 
Candida urinária isolada consistiram em espécies 
não albicans. A apresentação clínica inclui desde 
um achado laboratorial assintomático até 
pielonefrite e sepse. A remoção do cateter uretral 
leva à resolução da candidúria em mais de um 
terço dos casos assintomáticos. O tratamento dos 
pacientes assintomáticos não parece diminuir a 
frequência de recidiva da candidúria. 
Recomenda-se o tratamento para pacientes que 
apresentam cistite sintomática ou pielonefrite e 
para aqueles que correm alto risco de doença 
disseminada. Os pacientes de alto risco incluem 
aqueles com neutropenia, pacientes submetidos 
à manipulação urológica, pacientes clinicamente 
instáveis e lactentes com baixo peso ao nascer. O 
fluconazol (200-400 mg/dia, durante 7 a 14 dias) 
alcança níveis elevados na urina e constitui o 
esquema de primeira linha para as infecções do 
trato urinário causadas por Candida. Embora 
tenham sido relatados casos de erradicação 
bem-sucedida da candidúria por alguns dos azóis 
mais recentes e equinocandinas, esses agentes 
caracterizam-se por baixos níveis de excreção 
urinária e, portanto, não são recomendados. Para 
isolados de Candida com altos níveis de 
resistência ao fluconazol, a flucitosina por via oral 
e/ou a anfotericina B por via parenteral 
constituem opções. Em geral, não se recomenda 
a irrigação da bexiga com anfotericina B. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIA: LARRY, J. J. MEDICINA INTERNA 
DE HARRISON - 2 VOLUMES. GRUPO A, 2019. 
9788580556346. DISPONÍVEL EM: 
HTTPS://INTEGRADA. MINHABIBLIOTECA. 
COM.BR/#/BOOKS/9788580556346/. ACESSO 
EM: 18 MAY 2021

Continue navegando