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º Cardiopatia chagásica A cardiopatia chagásica crônica (CCC), causada pelo T. cruzi, é essencialmente uma miocardiopatia dilatada em que a inflamação crônica, usualmente de baixa intensidade, provoca destruição tissular progressiva e fibrose extensa no coração. fisiopatologia ⤳ A cardiopatia chagásica começa quando a destruição de fibras miocárdicas pelo processo inflamatório e a sua substituição por tecido fibroso atinge um limite crítico, obrigando os ventrículos a se remodelarem, tendo uma perda da sua contratilidade. ⤳ Os três folhetos cardíacos e o sistema de condução ficam comprometidos na doença de Chagas, há envolvimento de linfócitos T na formação da lesão chagásica, associada à presença do parasita ou seus antígenos. Remodelamento ventricular: » Inicialmente ocorre hipertrofia das fibras íntegras; » Dilatação da cavidade ventricular. ⤳ A hipertrofia excêntrica restaura temporariamente o volume sistólico já comprometido, mas a dinâmica do processo leva à dilatação cardíaca, com perda progressiva da capacidade de ejeção ventricular por causa da evolução da miocardite e da sobrecarga mecânica. ⤳ Nos estágios avançados, também se intensifica um componente de restrição diastólica, devido à grande dilatação e enrijecimento cardíaco pela fibrose. ⤳ Arritmias ventriculares, tromboembolismo pulmonar e insuficiência das válvulas mitral e tricúspide agravam a cardiopatia. Teorias que explicam a destruição dos cardiomiócitos e a fibrose progressiva: » Destruição direta pelo T.cruzi; » Teoria neurogênica, com destruição de células ganglionares e lesões do sistema de condução; » Reações autoimunes cardíacas; » Comprometimento microvascular. Distúrbios microcirculatórios: ⤳ A infecção por T.cruzi pode causar alterações microvasculares, incluindo alguns outros fatores como: » Formação de microtrombos associados a espasmo microcirculatório; » Disfunção endotelial; » Aumento da atividade plaquetária. ⤳ Essas alterações contribuem como amplificadores dos efeitos inflamatórios e produzem isquemia miocárdica. ⤳ Muitos pacientes manifestam sintomas anginoides, exibem alterações no ECG sugestivas de isquemia e cursam com variados defeitos perfusionais miocárdicos. ⤳ Essas alterações microcirculatórias causam hipoperfusão em áreas miocárdicas desprovidas de ramificações coronárias. Assim, se associa à formação de aneurismas nas paredes apical e posterior-basal do VE. Disfunção autonômica cardíaca: ⤳ A infecção pelo T.cruzi acomete o sistema parassimpático cardíaco. Essas alterações se acompanham de disfunção autonômica cardíaca (uma condição que prejudica várias funções do corpo por causa de alterações no SNA). Elas são encontradas antes da disfunção ventricular e nas formas indeterminada ou digestiva da doença. º ⤳ Em decorrência desses fatores, pacientes chagásicos crônicos podem ser privados do controle inibitório vagal normalmente exercido sobre o nódulo sinusal e outras estruturas cardíacas, bem como se tornarem incapazes de ajustes cronotrópicos rápidos em resposta a estímulos fisiológicos, como alterações de postura e o exercício físico, mediados pelo sistema vagal. ⤳ Ocorrem também alterações estruturais e funcionais no sistema simpático cardíaco, principalmente, ao nível ventricular em associação a distúrbios contráteis e perfusionais miocárdicos. ⤳ É possível que anticorpos circulantes, capazes de interferir com receptores de ambos os sistemas (simpático e vagal) afetem fisiopatologicamente o comportamento autonômico cardíaco e modulem propriedades eletrofisiológicas envolvidas em mecanismos de arritmias malignas. Mecanismos imunopatológicos: ⤳ Após a intensa miocardite da fase aguda da doença de Chagas, quando a parasitemia e a parasitose tissular são controladas por mecanismos imunológicos, a inflamação regride e persiste com baixa intensidade, enquanto se mantém a forma indeterminada da doença. ⤳ Vários fatores podem determinar a estabilidade ou instabilização do processo imunológico: » Carga parasitária; » Cepa do parasito ou tropismo tecidual; » Tempo de infecção; » Componentes genéticos do hospedeiro. Consequências: ⤳ O ramo direito e o fascículo anterior-superior são os mais vulneráveis e afetados por essa doença. ⤳ Focos inflamatórios e áreas de fibrose no miocárdio ventricular, em regiões posterior-lateral e inferior-basal, podem produzir alterações eletrofisiológicas e favorecer o aparecimento de reentrada, que consiste no principal mecanismo eletrofisiológico de taquiarritmias ventriculares malignas, que acarretam morte súbita mesmo em pacientes sem IC ou grave disfunção de VE. Em estágios avançados: » Trombos; » Embolização pulmonar e sistêmica; (Devido a dilatação, a estase venosa e a fibrilação atrial). Nas fases mais precoces: » Discinergias ou aneurismas ventriculares predispõem complicações tromboembólicas. classificação ⤳ A forma cardíaca pode ocorrer com e sem disfunção ventricular global e a fase crônica é dividida em estágios: A, B, C e D. ESTÁGIO A: » Pacientes com forma indeterminada; » Assintomáticos; » Sem processo de IC; » ECG e RX de tórax normal. ESTÁGIO B: » Pacientes com cardiopatia estrutural que nunca tiveram sinais e sintomas de IC; » Possui duas situações clínicas: B1 e B2: › B1: estão os pacientes com alterações eletrocardiográficas e que não tem disfunção ventricular. Podem ter alterações ecocardiográficas discretas, porém a função ventricular global é normal. › B2: estão em pacientes que já apresentem disfunção ventricular global, com fração de ejeção do VE reduzida. ESTÁGIO C: » Pacientes com sintomas prévios ou atuais de IC e que possuem disfunção ventricular. ESTÁGIO D: » Encontram-se os pacientes com sintomas de IC em repouso, refratários ao tratamento clínico maximizado, necessitando intervenções especializadas e intensivas. Fase aguda: ⤳ Dura cerca de 6-8 semanas, com manifestações sistêmicas: febre, taquicardia desproporcional, esplenomegalia e edema. ⤳ O ECG pode revelar taquicardia sinusal, baixa voltagem dos complexos QRS, prolongamento do intervalo PR ou QT e alteração da repolarização ventricular. Podem ser observadas arritmias ventriculares, fibrilação atrial e bloqueio do ramo direito. Fase crônica: ⤳ O principal marcador prognóstico dessa fase é a disfunção ventricular. ⤳ Após a fase aguda a doença pode-se evoluir para três condições clínicas: a forma indeterminada, a forma cardíaca sem disfunção ventricular e a forma cardíaca com disfunção ventricular. º ⤳ Manifestações clínicas: » Arritmias; » Tromboembolismo; » Angina; » IC. Forma indeterminada: ⤳ Os pacientes com essa forma apresentam sorologia ou exames parasitológicos positivos para T. cruzi, mas não manifestam sintomas, sinais físicos ou evidencias de lesões, com ECG e radiografia de tórax normais e sem acometimento do tubo digestivo. ⤳ Essa fase pode durar até 30-40 anos, ao qual uma fração igual a 30-40,0% dos pacientes desenvolverá a forma cardíaca. Os demais pacientes permanecerão assintomáticos durante toda a vida, em condição de equilíbrio imunológico entre o parasito e o hospedeiro. Forma cardíaca sem disfunção: ⤳ Alguns pacientes podem apresentar uma forma de cardiopatia chagásica caracterizada por arritmias e distúrbios de condução intraventricular e atrioventricular, com função ventricular normal. Sintomas relacionados a arritmias: » Palpitações; » Tonturas; » Lipotimia; » Síncope: pode ser devido a episódios de taquiarritmias ventriculares quanto a disfunção sinusal e bloqueios atrioventriculares com assistolia. Forma cardíaca com disfunção: Quadro clínico: » IC; » Arritmias; » Tromboembolismo. ⤳ A apresentação clínica mais frequente é IC biventricular, com predominânciados sintomas relacionados a maior comprometimento do VD, associada a arritmias ventriculares, atriais e distúrbios de condução atrioventricular e intraventricular. ⤳ Os pacientes se queixam de fraqueza, por causa da PA baixa. ⤳ Muitos pacientes apresentam dor torácica, usualmente com angina atípica, possivelmente devida a anormalidades da microcirculação causadas pelo processo inflamatório. ⤳ O exame clínico revela cardiomegalia significativa com ictus cordis impulsivo e difuso, sopros de insuficiência mitral e tricúspide e desdobramento amplo de B2. sinais e sintomas » IC, com dispneia progressiva, fadiga e astenia; » IC direita, como edema, aumento do volume abdominal e desconforto epigástrico acompanhados de sintomas de baixo débito cardíaco, como a intolerância ao esforço. São sintomas das etapas mais avançadas; » Eventos arrítmicos com palpitações, pré-síncope e síncope; » Eventos tromboembólicos, principalmente AVE, podem ser as primeiras manifestações da cardiopatia e se origina de trombos intracavitários; » Angina de caráter atípico decorrente de isquemia na ausência de obstrução coronariana; diagnóstico O exame semiológico pode caracterizar: » Cardiomegalia; » Sopros de regurgitação mitral e tricúspide; » Presença de B3; » Sinais de baixo débito, como hipotensão e pulso filiforme, são detectáveis em alguns indivíduos, com sinais de congestão pulmonar menos conspícua, fato que se deve à disfunção do VD. Testes sorológicos: » Ensaio imunoenzimático (ELISA); » Imunofluorescência indireta (IFI); » Hemaglutinação indireta (HAI). Eletrocardiograma: » Retardos transitórios ou fixos da condução atrioventricular, da condução no ramo direito; » Alterações da repolarização ventricular; » Ectopias ventriculares; » O bloqueio completo do ramo direito, associado ao hemibloqueio anterior esquerdo, constitui alteração mais frequente. RX de tórax: » Devido ao comprometimento do VD e insuficiência tricúspide o aumento das cavidades direitas pode se destacar; » Congestão venosa sistêmica, derrame pleural e pericárdico são sinais de cardiomegalia. Ecocardiograma: ⤳ Permite avaliar o desempenho contrátil regional e global do VE, o comprometimento do VD, a presença de aneurismas apical ou submitral, trombos cavitários e alterações da função diastólica. º
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