Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
João Pedro Lima da Silva Centro Universitário do Rio São Francisco – UNIRIOS Profº: Dra. Maria Cleonice de Souza Vergne RESUMO CAPÍTULO X DA MONARQUIA ABSOLUTA AO ILUMINISMO 1. O Absolutismo Monárquico O longo período histórico marcado pelo Antigo Regime teve como características a política mercantilista, sistema colonial e Absolutismo Monárquico, foi nele que o comércio se reergueu, assim como, o monetarismo e a busca por centralização política para que pudesse suprir várias necessidades da formação de um Estado. Desta forma, o rei deveria buscar meios econômicos, tornando-se primordial, tributar os súditos de forma a conseguir ter fluxos de dinheiro suficiente para se utilizar da força de coerção e para o pagamento de uma burocracia. 1.1 A França de Luis XIV Luis XIV foi rei da França por mais de meio século e seu reinado foi um exemplo de centralização do poder, embora não possamos afirmar o mesmo em termos de prosperidade do país. O “Rei Sol” governou praticamente sozinho, ele dissolveu o conselho de Estado e recrutou alguns ministros dentre os burgueses. Antes da Reforma da Justiça feita por ele, os privilégios neste setor eram tantos que as prerrogativas impediam a centralização do poder e da justiça. Essa centralização era justificada por teorias que buscavam explicar o Absolutismo e a teoria mais utilizada pelos monarcas absolutistas e seus seguidores foi dada pelo Bispo Jacques Bossuet: ele afirmava que a autoridade do rei é sagrada, pois emana de Deus e, se é da vontade divina, não deve haver nenhum tipo de discussão acerca do assunto. A organização social durante o reinado de Luis XIV era baseada totalmente na distinção social; essa distinção era visível nos lugares que cada pessoa podia tomar nas igrejas, nas cerimônias etc. A desigualdade deveria ser tão aparente quanto possível e até mesmo os tecidos eram destinados exclusivamente a determinadas ordens. Nesse sentido, a seda era exclusiva dos nobres, a casimira aos burgueses, a sarja, o algodão e o linho aos artesãos, independentemente da riqueza de cada indivíduo. No dia a dia, no âmbito da polícia e da justiça o absolutismo do Rei Sol apareceu também de forma clara. 2. O Iluminismo e as Críticas ao Estado Absolutista No século XVIII, uma parte da intelectualidade da Europa reagiu ao Absolutismo Monárquico e tudo o que o acompanhava. Essa reação teve o nome de Iluminismo ou Época das Luzes. Sua principal característica é a confiança absoluta no progresso e na razão. Esta confiança absoluta podia ser senda nos avanços tecnológicos e científicos. O Estado para ser representante real dos cidadãos que compõem a nação não poderia seguir o modelo do Antigo Regime pautado no Absolutismo Monárquico. O movimento, de uma forma geral, é conhecido como Ilustração e pode ser visto sob vários ângulos. Do ponto de vista político, os Iluministas, partindo do individualismo, propunham uma cidadania centrada na liberdade e na defesa burguesa da Propriedade. Segundo os pensamentos iluministas, a igualdade como direito natural só seria realizada quando reconhecida como um direito positivo, garantido por um corpo de leis e pela força do Estado. Essas leis deveriam ser feitas pelos cidadãos, ou seus representantes, porque só através da vontade do povo, como fundamento da Nação, poderia conferir legitimidade ao poder político. Os iluministas foram grandes pregadores da Liberdade Individual e defenderam a propriedade com igual vigor. Eles também pregavam a igualdade, mas esta, para eles, não era manifesta através de uma igualdade total, inclusive de bens materiais. Para eles, os homens, mesmo os mais pobres, estariam livres e iguais simplesmente se pudessem escolher para quem trabalhar. Assim, o trabalho seria equiparado a um bem, como o capitalismo o faz até hoje. 3. Cesare Beccaria Conhecido também como o “Marquês de Bonesana”, ele conseguiu traduzir para o mundo jurídico o que os pensadores da época sonhavam para o mundo. Dessa forma, não é possível pensar em Estado de Direito, sem os Iluministas, sem Beccaria, bem como não é possível pensar nem o direito penal moderno nem a noção de direitos individuais sem sentir a presença constante desse italiano, ao mesmo tempo idealista e objetivamente realista. Aos 25 anos de idade, escreveu a obra que o tornaria um homem a ser admirado por todos os que concordam com a Justiça, o livro “Dos Delitos e das Penas”. Nele, o jovem fez o que os Iluministas como ele faziam, traduziu a realidade que não concordava e, através da razão, buscou soluções práticas, são estas as bases do direito penal moderno. a) Sobre a Lei e as Penas em geral. ▪ Considerava que as leis deveriam ser pactos entre homens livres, embora pensasse também que a seu tempo as leis não passassem de "instrumento das paixões de uns poucos"; ▪ Leis e penas seriam fruto da necessidade do próprio convívio social, que foi efetivado e tornado realidade através de um pacto; ▪ Beccaria considerava que as penas somente deveriam existir por necessidade e, ainda, que estas deveriam ter por medida o dano provocado pelo ato delituoso à Nação e não a intenção, ou mesmo a sede de vingança da vítima ou de seus parentes; ▪ A finalidade das penas deveria ser, portanto, a proteção da sociedade e não a desforra, o desagravo, bem como deveria visar desencorajar outros de cometerem delitos; ▪ As penas deveriam ser proporcionais aos delitos, um crime mais ofensivo à sociedade deveria ter maior pena que um que cause menor dano; ▪ Princípio da proibição de excesso: a pena não pode ser superior ao grau de responsabilidade pela prática do fato. Significa que a pena deve ser medida pela culpabilidade do autor. Daí dizer-se que a culpabilidade é a medida da pena; ▪ Deve haver a separação entre poderes, instruindo ser vital que somente legisladores façam leis e, nelas, é primordial que haja a previsão da pena; ▪ Princípio da Legalidade ou da Anterioridade da Lei: crime e pena somente devem existir, caso haja previsão legal anterior; ▪ "O Princípio do Princípio de Justiça", que é o da Igualdade; ▪ Afirma ser necessário que os juízes (e em um sentido mais estrito ninguém a não ser quem legisla) não possam interpretá-las, mas aponta como pior que a interpretação os males causados pela obscuridade das leis. b) Sobre as Penas Cruéis e a Pena de Morte. ▪ A pena deveria ter sua utilidade, sendo somente aplicável aquelas cujo proveito a sociedade poderia usufruir; ▪ Para ele, penas cruéis não eram garantia de alcançar os objetivos de leis e penas; ▪ Penas cruéis servem de espetáculo público; ▪ Para ele, a pena deve ser aplicada o mais rápido possível para que a justiça e a utilidade sejam alcançadas; ▪ Iluminismo/pena de morte=necessidade: quando se o indivíduo, mesmo privado de sua liberdade, for uma ameaça à segurança nacional ou se a existência do sujeito puder levar a uma revolução "perigosa para a forma de governo estabelecida"; ▪ Defende a prisão perpétua. c) Do Processo. ▪ Contra a tortura; ▪ In Dubio Pro Reo: indica que o indivíduo somente pode ser considerado culpado após ser provada a sua culpa e após ser condenado; ▪ In Dubio Pro Societate: havendo qualquer possibilidade de o réu ser culpado, este deveria ser condenado como forma de proteção à sociedade; ▪ Presunção de inocência; ▪ Provas: Perfeitas: excluem a possibilidade de alguém não ser culpado, é suficiente uma só para a condenação. Imperfeitas: não excluem a possibilidade, as provas imperfeitas pelas quais o réu pode justificar-se e não o faça a contento se tornam perfeitas; ▪ Prova testemunhal: uma só testemunha não é suficiente, a credibilidade da testemunha é inversamente proporcional ao impactodo crime. d) Como Prevenir os Delitos. ▪ Não se deve prevenir fazendo uma enorme quantidade de leis, pois não se consegue evitar o delito proibindo tudo que possa levar um indivíduo a cometê- lo, porque, se isso fosse feito, seria necessário privar o homem do uso dos sentidos. 4. Outros Pensadores – Criminalistas do Iluminismo Beccaria foi sem dúvida o maior pensador do direito criminal do Iluminismo, acabando por influenciar a muitos. Dentre eles: ✓ Jean-Paul Marát (1743-93): ➢ Critica as consequências injustas do contrato social; ➢ Para ele: "os indivíduos que não obtém da sociedade mais do que desvantagens não estão obrigados à lei"; ➢ Leis justas, claras e precisas; ➢ Medidas preventivas para os delitos; ➢ Penas que corrijam o culpado, se não for possível, as penas devem reter- se em favor da sociedade; ➢ Não haver pena de morte; ➢ Um rei não deve ter o direito de matar seus súditos. ✓ Karl. F. Hommel (1722-81): ➢ Importância das causas sociais do delito; ➢ Supressão e toda dependência teocrática do direito penal; ➢ Diminuição e proporcionalidade entre penas e delitos; ➢ Limitação da pena de morte. ✓ Manuel de Lardizabal Y Uribe (1739-1820): ➢ Para ele, as penas se fundamentam no contrato social, mas o fundamento da legalidade não está no contrato, mas na prevenção; ➢ Ele acrescenta que as leis pressupõem a superioridade de quem a aplica e devem perseguir a utilidade pública de prevenção e melhoramento do delinquente. ✓ Edward Livingstone (1764-1836): ➢ Considerada a lei como uma ciência governada por certos princípios; ➢ Pilares fundamentais de sua legislação: abolição da pena de morte, sistema penitenciário deve atuar mais na alma que no corpo; ➢ O indivíduo que pratica um delito deve ser: aprisionado para que sinta a privação de liberdade. Além de ficar em estado de solidão para que reflita, trabalhe para prevenir a ociosidade, e que seja instruído. ✓ Antoine-Joseph-Michel Servan (1739-1807): ➢ Distinção entre crime e delito: o Crime seria o produto de atos contra as leis naturais. Delito seria o produto de atos contra a sociedade política. A natureza do delito seria, para ele, o dano público ou social, nunca o dano particular; ➢ A pena deve reparar o dano, corrigir e conter no futuro tanto o culpado quanto a quem quiser imitá-lo. ✓ Pascoal José de Mello Freire dos Reis (1738-89): ➢ A finalidade da pena deve ser: corrigir o apenado, fazer o melhor aos outros, separar os maus dos bons para que estes últimos vivam mais tranquilos. REFERÊNCIAS: LAGES, Flávia. HISTÓRIA DO DIREITOGERAL EBRASIL. 5ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007.
Compartilhar