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1 Gabrielle Nunes PROPEDÊUTICA EM INTOXICAÇÕES INTOXICAÇÃO: Efeito dose-dependente que se pode ocorrer após a exposição a agente tóxico ao organismo. Overdose intencional Intoxicação acidental em crianças Drogas de abuso ilícitas Intoxicação crônica Exposição a agentes farmacêuticos em doses supra terapêuticas Exposição químicas ambientais Produtos industriais e agrícolas ABORDAGEM INICIAL AO PACIENTE INTOXICADO O paciente intoxicado difere, em alguns aspectos, daqueles assistidos no cotidiano de um atendimento de emergência. As diferenças estão nos aspectos clínicos, patológicos e farmacológicos, e, também, no relacionamento médico-paciente. Na maioria dos casos, são pessoas saudáveis, que desenvolvem sintomas e sinais decorrentes do contato com substâncias externas e dos efeitos sistêmicos delas. As substâncias podem ser de uso industrial, doméstico, agrícola, automotivo, etc. Outras, são de uso humano, médico, na maioria, resultando em efeitos tóxicos pelo mau uso ou pelo abuso. O PONTO MAIS IMPORTANTE É RECONHECER O CENÁRIO ONDE PODE HAVER TOXICIDADE IMEDIATA OU RETARDADA: (01) Qualquer evento agudo pode ser sinal de intoxicação. (02) É de grande relevância iniciar de imediato a descontaminação, aumentar a eliminação de drogas e utilizar antídotos quando indicado. DIAGNÓSTICO DA INTOXICAÇÃO A abordagem diagnóstica de uma suspeita de intoxicação envolve a história da exposição, o exame físico e exames complementares de rotina e toxicológicos. QUADRO CLÍNICO DESAFIOS: Muitas vezes, o paciente intoxicado pode estar alterado ou torporoso, ou ainda não cooperativo com o examinador. Isso limita a construção da história clínica dos pacientes (pouco se sabe a respeito das substâncias utilizadas, das quantidades e do tempo decorrido). PONTOS IMPORTANTES: Qual o agente provocador Qual a via de exposição Motivo da exposição Quantidade ingerida Possível coingestão Momento de exposição Para sanar todos esses questionamentos é necessário realizar uma anamnese padrão ouro: convocar familiares, vizinhos, amigos, pessoas que conheçam o histórico (tentativas de suicídio, uso de medicamentos) e o ambiente do doente. Pode-se somar a esses pontos os fracos de medicamentos presentes na cena, os medicamentos prescritos e se já aconteceu situações prévias semelhantes. PACIENTE Obter o histórico de doenças, medicações em uso, tentativas de suicídio anteriores, ocupação, acesso a substâncias, uso de drogas e gravidez AGENTE TÓXICO Procurar saber qual foi a substância utilizada e a quantidade. Sempre que possível, solicitar para os acompanhantes trazerem os frascos ou embalagens e questionar se pode ser um produto clandestino. TEMPO Verificar qual foi o horário da exposição e por quanto tempo a substância foi utilizada, nos casos de exposições repetidas. Questionar se houve algum sintoma prévio à exposição. LOCAL Saber onde ocorreu a exposição e se foram encontrados frascos, embalagens, seringas ou cartelas de comprimidos próximos ao paciente. Verificar quais medicamentos são utilizados pelos familiares ou pelas pessoas onde o indivíduo foi encontrado. Também é útil saber se foi encontrada alguma carta ou nota de despedida em casos de tentativa de suicídio. 2 Gabrielle Nunes MOTIVO Identificar a circunstância da exposição, já que é de extrema importância saber se foi tentativa de suicídio, homicídio, acidente, abuso de drogas e outras. GRAVIDADE DA INTOXICAÇÃO: A gravidade das intoxicações é determinada por diversos fatores, dentre eles, o grau de toxicidade do agente, a quantidade de substância a que o paciente foi exposto, o tempo decorrido entre o acidente e a intervenção médica, além de fatores do próprio indivíduo, como idade e competência imunológica. EXAME FÍSICO O primeiro passo no atendimento de um paciente intoxicado é a realização de um breve exame físico para identificar as medidas imediatas necessárias para estabilizar o indivíduo e evitar a piora clínica. Nesse momento, é de fundamental importância checar: Sinais vitais; Nível e estado de consciência; Pupilas (diâmetro e reatividade à luz); Temperatura e umidade da pele; Medida de glicose capilar (dextro); Obter ECG e realizar monitorização eletrocardiográfica se necessário; Manter vias aéreas abertas e realizar intubação orotraqueal (IOT), se necessário; Obter acesso venoso calibroso (neste momento, podem ser coletadas amostras para exames toxicológicos); Procurar sinais de trauma, infecção, marcas; Os pacientes intoxicados frequentemente não estão dispostos ou são incapazes de colaborar com um exame físico participativo. O exame físico toxicológico, portanto, se baseia em dados observacionais que não necessitam de cooperação para serem obtidos. SINAIS VITAIS FC, FR, temperatura, oximetria de pulso. Muitos agentes ingeridos podem causar alteração do pulso e da frequência respiratória, pressão arterial (PA) bem como do estado mental. EXCITAÇÃO FISIOLÓGICA: Taquicardia; elevação de PA; hipertermia; aumento da profundidade respiratória. É mais comumente causada por agentes anticolinérgicos, simpatomiméticos ou alucinógenos centrais, ou por estados de abstinência de drogas. DEPRESSÃO FISIOLÓGICA: Estado mental deprimido; hipotensão; bradicardia; diminuição da frequência respiratória; diminuição da temperatura; É mais comumente precipitada pelo etanol, outros agentes sedativos--hipnóticos, opiáceos, agentes colinérgicos, simpatolíticos ou álcoois tóxicos (metanol ou etilenoglicol). TOXISÍNDROMES MISTAS: excitação + depressão; PELE E MUCOSAS Devemos dar maior atenção para a coloração, o grau de umidade e marcas sugestivas. Track marks: marcas que indicam o uso prolongado e repetido no mesmo local de injeção de drogas); Ulcerações de skin popping: geralmente é uma injeção de depósito subcutânea ou intradérmica e não uma injeção intramuscular). Outros achados que podem ser valiosos: pele diaforética (sudorese); pele seca; lesões bolhosas ou vesiculares; aparência ruborizada ou avermelhada; cianose; exantema acneiforme; EXAME NEUROLÓGICO COMPLETO O nível de consciência, tamanho pupilar e presença ou ausência de atividade convulsiva podem sugerir um agente em particular. Um exame neurológico cuidadoso com foco na intensidade do tônus muscular, clônus ou hiperreflexia pode auxiliar no diagnóstico da síndrome serotoninérgica ou síndrome neuroléptica maligna (SNM). 3 Gabrielle Nunes AGENTES QUE AFETAM O TAMANHO DA PUPILA MIOSE MIDRÍASE NISTAGMO (batedeira nos olhos) Colinérgicos, clonidina, carbamatos Simpatomiméticos (Cafeína, efedrina, cocaína, anfetamina) Barbitúricos, carbamazepina, fentoína Opioides, organofosforados Anticolinérgicos (Atropina, escopolamina, antidepressivo tricíclico, relaxantes musculares...) Organofosforados Pilocarpina, fenotiazinas (antipsicóticos), hemorragia pontinha Síndromes de abstinência IMAO, quetamina Sedativo-hipnóticos Alucinógenos (LSD, mescalina, psilocibina, álcool, nicotina, IMAO) Etanol, lítio EXAMES COMPLEMENTARES Na maioria dos casos, a provável exposição do paciente a algum tóxico geralmente é conhecida e as toxinas já foram suspeitadas ou identificadas, mas no cenário de uma overdose ou exposição desconhecida, uma ampla gama de exames laboratoriais é frequentemente usada para detectar anormalidades e potencialmente elucidar o quadro clínico. Exames rotineiramente utilizados: hemograma, bioquímica sérica com função renal, provas de função hepática, exame de urina (com teste de gravidez, se pertinente), triagem toxicológica de urina, concentração de álcool sérico, lactato sérico e glicemia. GERAIS TOXICOLÓGICOS Dependendo do agente envolvido podem ser solicitados exames laboratoriais, ECG, exames de imagem (RX, TC) ou endoscopia digestiva alta; Teste imediato para detecção de drogas de abuso; testede triagem para agentes tóxicos; teste imediato para detecção de paraquat; pesquisa para identificação de metais pesados; etc; NÍVEIS SÉRICOS DE DROGAS COMUMENTE DISPONÍVEIS Acetaminofeno; etanol; carbamazepina; CO; Digoxina; chumbo; lítio; metotrexato; fenobarbital; ácido acetilsalicílico; ácido valpróico; fenitoína; etilenoglicol; álccol isopropílico; Quando exames para um agente específico não estão disponíveis ou não são realizados no local, o tratamento empírico geralmente começa antes que esses resultados estejam disponíveis. INTOXICAÇÕES MEDICAMENTOSAS A maioria dos pacientes intoxicados atendidos no departamento de emergência são adultos com overdose intencional por drogas orais. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Deve ser considerado excluir outras causas de rebaixamento do nível de consciência ao iniciar o tratamento toxicológico apropriado: Excluir causas reversíveis de rebaixamento como hipoglicemia e deficiências nutricionais. Excluir lesões traumáticas que possam estar provocando o quadro de delírio ou rebaixamento do nível de consciência. CONDUTA A farmacologia da intoxicação é outro ponto peculiar. Não se podem aplicar os conceitos de farmacodinâmica ou farmacocinética ao paciente intoxicado. Um produto, em doses tóxicas, passa a ter efeitos outros que os habituais, em doses terapêuticas, pois passa a atuar em mecanismos moleculares diversos, muitos dos quais ainda desconhecidos. Para direcionar o manejo e o tratamento é necessário enquadrar o possível paciente em uma das 5 TOXISÍNDROMES (são conjuntos de sinais e sintomas baseados em processos autonômicos e neuroquímicos que podem sugerir uma classe particular de exposição e direcionar o manejo e o tratamento: simpaticomiméticas; anticolinérgica; colinérgica; sedativas/ hipnóticas; opioides; 4 Gabrielle Nunes SIMPATICOMIMÉTICAS ANTICOLINÉRGICAS COLINÉRGICAS Taquicardia Hipertensão taquipneia Midríase Hipotermia Delírio Hipetermia Midríase Rubor cutâneo Membranas e mucosas secas Pele vermelha, quente e seca Diaforese Perda de urina Miose Broncorreia Êmese, lacrimejamento Letargia e salivação SEDATIVAS OPIOIDES SÍNDROME NEUROLÉPTICA MALIGNA (SNM) Sedação Em casos graves: perda de tônus e reflexos de proteção das vias aéreas e hipotermia. Miose Sedação Drive respiratório diminuído Rigidez e hiporreflexia Rebaixamento do nível de consciência Hipotermia e agitação CUIDADOS EMERGENCIAIS Avaliar os sinais vitais e mantê-los em parâmetros adequados é o manejo básico, que deve ser dispensado a todo paciente em um atendimento de emergência, pode-se utilizar da ventilação mecânica, por exemplo. Devemos ainda, despender todo o esforço possível na tentativa de retirar do organismo a substância causadora da intoxicação. Para tal, dispomos de algumas medidas gerais, aplicáveis a quase todos os casos de intoxicação. DESCONTAMINAÇÃO Visa a remoção do agente tóxico com o intuito de diminuir a sua absorção. Durante o procedimento, a equipe de atendimento deverá tomar as precauções para se proteger da exposição ao agente tóxico. Os seguintes procedimentos estão indicados, de acordo com a via de exposição: • CUTÂNEA: retirar roupas impregnadas com o agente tóxico e lavar a superfície exposta com água em abundância; • RESPIRATÓRIA: remover a vítima do local da exposição e administrar oxigênio umidificado suplementar; • OCULAR: instilar uma ou duas gotas de colírio anestésico no olho afetado e proceder a lavagem com SF 0,9% ou água filtrada, sempre da região medial do olho para a região externa, com as pálpebras abertas durante pelo menos cinco minutos. Solicitar avaliação oftalmológica; • GASTRINTESTINAL (GI): consiste na remoção do agente tóxico do trato gastrintestinal no intuito de evitar ou diminuir sua absorção DESCONTAMINAÇÃO GASTRINTESTINAL A indicação da descontaminação GI depende da substância ingerida, do tempo decorrido da ingestão, dos sintomas apresentados e do potencial de gravidade do caso. Habitualmente, o procedimento divide-se em duas etapas: a realização da lavagem gástrica seguida da administração do carvão ativado. ÊMESE O uso de xarope de ipeca ou de outro indutor de vômito não é medida terapêutica aceitável nos nossos dias, pelo potencial risco de dano aos tecidos, quando expostos à substância tóxica mais de uma vez , bem como pelo risco de aspiração, principalmente em casos de vias aéreas desprotegidas (coma ou convulsões). 5 Gabrielle Nunes LAVAGEM GÁSTRICA (LG) Consiste na infusão e posterior aspiração de soro fisiológico a 0,9% (SF 0,9%) através de sonda nasogástrica ou orogástrica, com o objetivo de retirar a substância ingerida. Sempre avaliar criteriosamente a relação risco x benefício antes de iniciar o procedimento, pois há grande risco de aspiração. CONTRA-INDICAÇÕES: É contraindicada na ingestão de cáusticos, solventes e quando há risco de perfuração e sangramentos; Deve-se utilizar sonda de grande calibre, adultos de 18 a 22 e crianças de 10 a 14, mantendo o paciente em decúbito lateral esquerdo para facilitar a retirada do agente tóxico, e diminuir a velocidade do esvaziamento gástrico para o intestino. Infundir e retirar sucessivamente o volume de SF 0,9% recomendado de acordo com a faixa etária, até completar o volume total recomendado ou até que se obtenha retorno límpido, da seguinte forma: Crianças: 10 mL/Kg por infusão até volume total de: - Escolares: 4 a 5 L. - Lactentes: 2 a 3 L. - RN: 0,5 L Adultos: 250 mL por vez até um volume total de 6 a 8 L ou até que retorne límpido. CARVÃO ATIVADO (CA) É um pó obtido da pirólise de material orgânico, com partículas porosas com alto poder adsorvente do agente tóxico, que previne a sua absorção pelo organismo. Geralmente é utilizado após a LG, mas pode ser utilizado como medida única de descontaminação GI. Na maioria das vezes deverá ser utilizado em dose única, porém pode ser administrado em doses múltiplas como medida de eliminação, em exposições a agentes de ação prolongada ou com circulação ênterohepática, como o fenobarbital, carbamazepina, dapsona, clorpropramida, dentre outros. As formas de administração estão descritas a seguir: Dose Única: • Crianças: 1 g/kg, em uma suspensão com água ou SF 0,9% na proporção de 4-8 mL/g. • Adultos: 50 g em 250 mL de água ou SF 0,9%. Múltiplas doses: • Intervalos de 4/4 horas; associar catártico, preferencialmente salino, junto à 3ª dose, e repetir quando necessário. Utilizar o catártico como parte da suspensão do CA. Exemplo: utilizar 100 mL Sulfato de Magnésio 10% (10 g), acrescentar 150 mL de SF 0,9% (total 250 mL) e acrescentar 50 g de Carvão Ativado (suspensão 1:5). CONTRAINDICAÇÕES: RN, gestantes ou pacientes muito debilitados, cirurgia abdominal recente, administração de antídotos por VO. Pacientes que ingeriram cáusticos ou solventes ou que estão com obstrução intestinal. Pacientes intoxicados com substâncias que não são efetivamente adsorvidas pelo carvão, como os ácidos, álcalis, álcoois, cianeto e metais como lítio, ferro, entre outros COMPLICAÇÕES: Constipação e impactação intestinal, principalmente quando utilizado em doses múltiplas. Broncoaspiração, especialmente quando realizado em pacientes torporosos, sem a proteção da via aérea. LAVAGEM INTESTINAL (LI) Consiste na administração de solução de polietilenoglicol (PEG) via sonda naso-enteral para induzir a eliminação do agente através do trato gastrintestinal pelas fezes. É raramente utilizada, salvo nos casos de ingestão de pacotes contendo drogas (body-packing) ou de quantidades potencialmente tóxicas de substâncias não adsorvidas pelo carvão ativado (ex.; ferro, lítio, etc). CONTRAINDICAÇÕES: Está contraindicada na presença de íleo paralítico, perfuração gastrintestinal, hemorragia gastrintestinal e instabilidade hemodinâmica.A dose recomendada é: • Crianças de 9 meses a 6 anos: 500 mL/h. • Crianças de 6 a 12 anos: 1000 mL/h. • Adolescentes e adultos: 1500 a 2000 mL/h. LAXATIVOS O principal utilizado é o manitol, em solução a 20%. A dose utilizada é de 100 a 200 ml, até de 8 em 8 h, nas primeiras 24 h. Sua utilização tem importância em associação ao carvão ativado, nos casos de compostos de elevada toxicidade, diminuindo a chance de absorção por reduzir o tempo de contato com o trato gastrointestinal. 6 Gabrielle Nunes ANTÍDOTOS AGENTES ANTÍDOTOS PRESCRIÇÃO ANTICOLINESTERÁSICOS ATROPINA Dose inicial: 1-4 mg em bolus (crianças 0,05 a 0,1mg/kg), repetidos a cada 2- 15 minutos até atropinização plena. BENZODIAZEPÍNICOS FLUMAZENIL Dose inicial: 0,3mg IV em 15 a 30 segundos. Repetir de acordo com necessidade até o máximo de 3 mg. BETABLOQUEADORES GLUCAGON 3 a 5mg IV em 1-2 minutos. A dose pode ser repetida até atingir total de 10mg. Crianças: 50mcg/kg. Seguir com infusão contínua de 2-10mg/h BCC GLUCONATO DE CÁLCIO Adultos: 20mL de GC a 10% diluídos em 100ml de SF 0,9% 100ml IV em 5 minutos. Pode-se repetir até 3-4 vezes. Crianças: 0,2-0,3ml/kg de GC a 10% em 30 ml de SF 0,9% IV em 5 minutos. Repetir, se necessário, até total de 6 ml em 1 hora CIANETO HIDROXICOBALAMINA (VIT.B12) Adultos: 5g IV durante 15 minutos. Em caso de PCR ou instabilidade cardíaca, pode-se infundir uma segunda dose de 5g durante 15 minutos a 2 horas. Não exceder um total de 10g, incluindo a dose pré-hospitalar; Crianças: 70mg/kg IV durante 15 minutos CUMARÍNICO VITAMINA K Administrar a cada 8-12 horas até normalizar TP; Adultos: 10-20mg/dose IM ou IV lentamente (1mg/min). Crianças: 0,3 a 0,6mg/kg/dose IM ou IV lentamente. DIGOXINA ANTICORPO ANTIDIGOXINA Administração: Diluir cada ampola em 4 mL de água destilada; Dose variável conforme a quantidade ingerida; 1 ampola (38 mg) neutraliza 0,5 mg de digoxina ou digitoxina; Dose média: 4 – 6 ampolas para casos crônicos e 10 a 20 ampolas para casos agudos. Infusão IV lenta em 30 minutos. ETILENOGLICOL/METANOL ETANOL Dose de ataque: 0,8g/kg de etanol diluído à 10% IV em 1 hora. Diluir em SG 5% (solução a 10%). Manutenção: 130 mg/kg/hora IV. METOCLOPRAMIDA BIPERIDENO Para reversão dos sintomas extrapiramidais: Adultos: 3 a 5 mg(6/6h S/N); Crianças : 0,06 a 0,1mg/kg/dose de 6/6h ISONIAZIDA PIRIDOXINA 1g de piridoxina para cada grama de isoniazida IV até o máximo de 5g. Vel. de infusão: 0,5g/min MONÓXIDO DE CARBONO O2 A 100% OPIOIDE NALOXONA 0,4 – 2 mg IV, pode ser repetido em 2-3 minutos até o máximo de 10mg PARACETAMOL N-ACETILCISTEÍNA Dose de ataque: 140 mg/kg VO, Manutenção: 70mg/kg, 4/4 horas ( total de 17 doses) PARAQUAT TERRA DE FULLER 60 g em 200 ml de Soro Glicosado a 5% por sonda nasogástrica de 4/4 horas TÉCNICAS DE ELIMINAÇÃO CARVÃO ATIVADO EM DOSE-MÚLTIPLA Indicado em casos de intoxicação por medicamentos como fenobarbital, dapsona e carbamazepina DIURESE FORÇADA E ALCALINIZAÇÃO DA URINA Compostos de eliminação renal podem ter sua depuração aumentada por simples hiper-hidratação e uso de diuréticos potentes. Uma condição especial de hiperhidratação é a realizada nas intoxicações graves por barbitúricos, quando também se provoca a alcalinização urinária, conhecida como ESQUEMA DE BRIGGS. Alcalinizar a urina favorece a conversão de ácidos fracos lipossolúveis (como fenobarbital e salicilatos) para a forma de sal, impedindo a sua reabsorção pelo túbulo renal. O objetivo é atingir pH urinário > 7,5 enquanto o pH sérico deve se manter em torno de 7,55 a 7,6. Portanto, é recomendada a administração em bolus de 1-2 mEq/Kg de bicarbonato de sódio (NaHCO3) a 8,4%, seguida por infusão contínua de 150 mEq de NaHCO3 em 1 litro de soro glicosado a 5% (SG 5%) (manter infusão entre 200-250 mL/h). As contraindicações são insuficiência renal, edema pulmonar ou cerebral e doenças cardíacas. Devem-se obter dosagens de sódio, potássio e análise dos gases sanguíneos a cada 6 h durante a realização do esquema. HEMODIÁLISE E HEMOPERFUSÃO Esses dois métodos não são indicados com frequência, e, se mal indicados, podem causar maior morbidade ao invés de ajudar na recuperação do paciente. 7 Gabrielle Nunes São geralmente indicadas quando a velocidade de depuração da substância pode ser maior pela remoção extracorpórea do que pelo próprio clearance endógeno, que ocorre nos casos de nítida deterioração do quadro clínico do paciente ou quando os níveis séricos da substância determinam mau prognóstico. A hemodiálise pode ser útil em intoxicações por fenobarbital, teofilina, lítio, salicilatos e álcoois tóxico. FLUXOGRAMA 8 Gabrielle Nunes PROPEDÊUTICA EM INTOXICAÇÕES: AGROTÓXICO E METAIS PESADOS INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS CONCEITO: Agrotóxicos são produtos químicos utilizados para combater pragas. Também são chamados de praguicidas, pesticidas, defensivos agrícolas, agroquímicos ou biocidas. FORMAS DE INTOXICAÇÃO • Contato direto: no preparo, aplicação ou qualquer tipo de manuseio com o produto; • Contato indireto: contaminação de água e alimentos ingeridos; Os venenos entram no corpo por meio de contato com a pele, mucosa, pela respiração e ingestão SINTOMAS: INTOXICAÇÃO AGUDA: náuseas, tonturas, vômitos, desorientação, dificuldade respiratória, sudorese e salivação excessiva, diarreia, chegando até coma e morte. INTOXICAÇÃO CRÔNICA: distúrbios comportamentais como irritabilidade, ansiedade, alteração do sono e da atenção, depressão, cefaleia (dor de cabeça), fadiga (cansaço), parestesias (formigamentos), etc ABORDAGEM INICIAL AO PACIENTE INTOXICADO MANEJO A priori, deve-se garantir a estabilidade clínica do paciente. A história clínica pode ser realizada de maneira paralela, buscando a possível etiologia: A: checar perviedade de vias aéreas B: observar padrão respiratório, frequência cardíaca, presença de desconforto respiratório e necessidade de auxílio ventilatório - Oxigenoterapia, se necessário C: registrar continuamente pressão arterial, frequência cardíaca, saturação periférica de oxigênio e avaliar necessidade de expansão volêmica e uso de drogas vasoativas D: checar status neurológico através da Escala de Coma de Glasgow, presença de déficits motores e alterações pupilares E: procurar por possíveis sítios de inoculação (uso de drogas por via intravenosa, picadas por animais peçonhentos) • hidratação venosa; • lavagem corporal exaustiva, em casos de contaminação dérmica; • esvaziamento gástrico; (*) • carvão ativado; (**) • uso de catártico. (***) OUTROS PROCEDIMENTOS: a) Tratamento sintomático nos casos onde a intoxicação não estiver excluida. b) Em caso de Convulsões: Diazepan c) Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos d) Contra-indicações: Morfina, Barbitúricos, Reserpina, Fenotiazínicos; Aminofilina, Teofilina, Insulina INTOXICAÇÃO CUTÂNEA 1. Retirar as roupas sujas e colocá-las em saco plástico; 2. Lavar bem a pele contaminada com água corrente e sabão por, no mínimo, 10 minutos; 3. Não esquecer de lavar cabelos, axilas, virilhas, barba e dobras do corpo; 4. No caso de contaminação nos olhos lavar bem com água corrente por 15 minutos. INTOXICAÇÃO INALATÓRIA 1. Remover a vítima para local fresco e ventilado; 2. Afrouxar as roupas; INTOXICAÇÃO VIA ORAL 1. Ler o rótulo do produto para ver se é recomendado provocar vômito; 2. Não provocar vômito em pessoas desmaiadas, durante convulsões ou em crianças menores de 3 anos; 9 Gabrielle Nunes 3. Quando recomendado, provocar vômito baixando bem a cabeça do intoxicado e pressionando a base da língua com o cabo de uma colher ou objeto similar. 4. Não fazer com que o intoxicado beba leite ou álcool. 5. Lavagem gástrica (existem contra-indicações, ex. agentes tóxicos diluídos em substâncias corrosivas, riscos de sangramento) - Recém nascido: 500 ml de soro fisiológico (SF) a 0,9 %. • lactentes:2 a 3 litros de SF a 0,9 %. • pré-escolares: 4 a 5 litros de SF a 0,9 %. • escolares: 5 a 6 litros de SF a 0,9 %. • adultos: 6 a 10 litros de SF a 0,9 %. PREVENÇÃO DE ACIDENTES POR AGROTÓXICOS Comprar agrotóxico somente com receita agronômica; Ler e seguir rigorosamente as recomendações do rótulo; Não carregar nem armazenar junto com alimentos; Não utilizar embalagens vazias; Não utilizar utensílios domésticos na mistura de produtos; Crianças, gestantes e mulheres que estão amamentando não podem ter contato com agrotóxicos; Não fumar, beber ou comer enquanto estiver manuseando agrotóxicos; Após o trabalho, tomar banho com água corrente e sabão; Lavar as roupas de trabalho e equipamentos de uso diário após o trabalho; Utilizar equipamento protetor: máscara; óculos; luvas; chapéu; botas; avental; camisa de manga comprida; calça comprida INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADOS PRINCIPAIS ORGANOFOSFORADOS: Malation, diazinon, paration Malation e diazinon foram classificados como possíveis carcinogênicos pela IAC (Instituto agronômico) MECANISMO DE AÇÃO: O mecanismo de ação dos organofosforados se dá principalmente pela inibição enzimática. Os principais alvos de sua atuação tóxica entre as enzimas esterases são a acetilcolinesterase (AChE), nas sinapses químicas e nas membranas dos eritrócitos, e a butirilcolinesterase (BChE) no plasma. Farmacocinética: muito bem absorvido pelo TGI, pelo trato respiratório e pela pele (mais importante via de intoxicação). São muito bem distribuídos nos tecidos corporais e capazes de atravessar a BHE e a placenta. Eliminados pela urina em até 48 horas após o contato. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS NA INTOXICAÇÃO AGUDA Os organofosforados, dependendo de sua solubilidade nos tecidos, vão desenvolver mais prontamente ou tardiamente os sinais clínicos da intoxicação. Assim, por exemplo, por inalação de vapores do produto no ambiente os primeiros sintomas aparecem em poucos minutos, enquanto que pela ingestão oral ou exposição dérmica pode haver um aparecimento tardio dos sintomas. A intoxicação por inibidores da colinesterase tem um quadro clínico característico de hiperestimulação colinérgica. TECIDOS NERVOSOS E RECEPTORES AFETADOS LOCAIS AFETADOS MANIFESTAÇÕES FIBRAS NERVOSAS PÓS-GANGLIONARES PARASSIMPÁTICAS (RECEPTORES MUSCARÍNICOS) Glândulas exócrinas Olhos TGI Trato respiratório Sist. Cardiovascular Bexiga Sialorreia, lacrimejamento, sudorese; Miose, ptose palpebral, borramento de visão, hiperemia conjuntival; Náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia, tenesmo, incontinência fecal; Hipersecreção brônquica, rinorreia, broncoespasmo, dispneia, cianose; Bradicardia, hipotensão Incontinência urinária FIBRAS PRÉ-GANGLIONARES SIMPÁTICAS E PARASSIMPÁTICAS (RECEPTORES NICOTÍNICOS I) Sist. Cardiovascular Taquicardia, hipertensão, palidez 10 Gabrielle Nunes NERVOS MOTORES SOMÁTICOS (RECEPTORES NICOTÍNICOS II) Músculo esquelético Fasciculações, câimbras, diminuição de reflexos tendinosos, fraqueza muscular generalizada, paralisia, tremores; CÉREBRO (RECEPTORES DE ACETILCOLINA) S.N.C Sonolência, letargia, fadiga, labilidade emocional, confusão mental, perda de concentração, cefaleia, como com ausência de reflexos, ataxia, tremores, respiração Cheyne-Stokes, dispneia, convulsões, depressão dos centros respiratórios e cardiovascular; MANIFESTAÇÕES TARDIAS: SÍNDROME INTERMEDIÁRIA: É resultado do longo período de hiperestimulação colinérgica dos músculos cervicais, pares cranianos (motores) e da respiração. Esta síndrome consiste de uma sequência de sinais neurológicos (diminuição da força de músculos proximais, principalmente da cintura escapular) que aparecem de 24 a 96 horas após a crise colinérgica aguda. A falência respiratória resultante parece estar relacionada a um processo de necrose da placa mioneural por hiperestimulação da membrana pós-sináptica que causa o que se chama excitotoxicidade celular – a morte da célula como resultado de excitação prolongada da terminação nervosa e respectiva placa motora. Quadro: dificuldade de levantar e movimentar a cabeça, fraqueza da musculatura da face e proximal, paralisia da musculatura respiratória (apneia súbita), paralisia de nervos motores cranianos; Alta letalidade NEUROPATIA TARDIA ou POLINEUROPATIA RETARDADA: Caracteriza-se por uma neuropatia sensitivo-motora que se manifesta de modo ascendente nas extremidades de membros superiores e inferiores (tipo luvas e botas) até 4 semanas após a exposição. Também pode estar relacionado com a exposição crônica aos organofosforados. O paciente inicialmente apresenta um formigamento e queimação dos dedos que vai tomando todos os membros superiores seguido por fraqueza e ataxia dos inferiores. A sensibilidade cutânea é pouco afetada. Complicações: pode ocorrer a paralisia espástica após o quadro descrito, que implica em lesão do 1º neurônio motor (efeito direto na medula espinhal) e tem ocorrido principalmente em aplicadores de pesticidas de áreas agrícolas ou por ingestão de hortaliças contaminadas pelos agentes. TRATAMENTO IMEDIATO: MEDIDAS ESPECÍFICAS PRALIDOXIMA/ CONTRATION: utilizada para reverter. Há um aumento da atividade da acetilcolinesterase. Não volta exatamente ao que estava antes, mas aumenta bastante. É usado em conjunto com a atropina. Adultos: 200 mg EV, em 50 ml de SF a 0,9% de 6/6h; injeção EV em “bolus” de 30mg/Kg de peso corporal ou ainda 8- 10 mg/Kg/h EV, até a plena recuperação do paciente (2-4 dias em geral). Dose máxima: 2g/dia Crianças: 4 a 5 mg / kg EV Dose máxima: 30 mg / kg / dia Isso só acontece quando a ligação entre o organofosforado e a enzima ainda não se estabilizou. Então se essa ligação se estabilizar não há mais a possibilidade de reativar a colinesterase. Ou seja: precisa utilizar a pralidoxima em tempo hábil, antes que estabilize (até 1 hora depois da exposição). USO DE ATROPINA: Bloqueio reversível dos receptores muscarínicos m1, m2, m3, m4 e m5; competição por sítios de ligação com a acetilcolina; efeito parassimpatolítico (diminui o efeito do excesso de acetilcolina); Apresentação: solução injetável de sulfato de atropina a 0,25 mg (1 ml); 0,50 mg (1 ml) e 1,0 mg (1 ml). Crianças: 0,015 a 0,050 mg/kg corporal/dose, de 10/10 min ou 15/15 min. 11 Gabrielle Nunes Adultos: 1 a 2 mg/dose, de 10/10 min ou 15/15 min. INTOXICAÇÃO POR CARBAMATOS OBS: INTOXICAÇÃO POR CARBAMATOS: O mecanismo de ação é semelhante ao dos organofosforados, no entanto, realizam uma inibição reversível da acetilcolinesterase. Nesse sentido, mesmo apresentando sintomas semelhantes à intoxicação por OF, os sintomas provocados pelos carbamatos terão menor duração. Não ocorre a síndrome intermediária nem a neuropatia tardia; Outros sintomas: teratogênese, desregulação endócrina, hepatopatias; Tratamento com atropina e demais opções; a pralidoxima não é útil. INTOXICAÇÃO POR METAIS PESADOS INTOXICAÇÃO POR CHUMBO É encontrado nas formas orgânica (principalmente como chumbo tetraetila e tetrametila, sendo o tetraetila antigamente adicionado à gasolina como agente antidetonante) e inorgânica (sais e óxidos de chumbo, utilizados em tintas, canos, munições, cerâmica, jóias, etc). MECANISMO DE EFEITOS TÓXICOS Em termos biomoleculares, o chumbo age de três maneiras principais: (1) Ligação a diversas proteínas estruturais, enzimáticas e receptoras; (2) Interferência em diversas vias metabólicas, principalmente mitocondriais e de segundo-mensageiros que regulam o metabolismo de energia celular; (3) Efeitos mutagênicos in vitro e carcinogênicos em ratos. No cérebro, o cálcio é um componente crítico de numerosas funções bioquímicas e metabólicas e o chumbo tem a capacidade de mimetizar e competir com o cálcio alterando essas funções: (1) Bloqueia a entrada de cálcio para os terminais nervosos, inibe as ATPases do cálcio,sódio e potássio, afetando o transporte de membrana; (2) Inibe a utilização de cálcio pelas mitocôndrias diminuindo a produção de energia essencial às funções cerebrais; (3) Interfere com os receptores do cálcio acoplados a segundos mensageiros. A exposição crônica pode causar efeitos cardiovasculares, hematológicos, neuropsiquiátricos, reprodutivos e renais, bem como efeitos sobre o crescimento e desenvolvimento. FARMACOCINÉTICA DOSE TÓXICA: Não é possível definir os níveis tóxicos, visto a possibilidade de sintomatologia com índices variados, dependentes de fatores relacionados ao paciente (faixa etária, condições de saúde, tolerância, etc), das características de exposição (intervalo de tempo, concentração, valores de referência regional), entre outros fatores. • A intoxicação aguda é rara, mas pode ocorrer morte 1 a 2 dias após a ingestão de 10 a 30 g de chumbo; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Variam conforme a via de exposição, duração do contato e concentração do chumbo no ambiente. INTOXICAÇÃO AGUDA Quando o chumbo é ingerido em grandes quantidades, pode haver dor abdominal, anemia hemolítica, hepatite e encefalopatia. IINTOXICAÇÃO SUBAGUDA OU CRÔNICA Efeitos constitucionais: fadiga, mal-estar, irritabilidade, anorexia, insônia, perda de peso, redução da libido, artralgias e mialgias; Efeitos neurológicos: encefalopatia (vômitos, apatia, ataxia, incoordenação, confusão mental, cefaleia, alucinações, vertigens, tremores, convulsões, paralisias, delírio e coma), em casos mais graves (edema cerebral, danos ao hipocampo – memória) 12 Gabrielle Nunes O curso clínico da encefalopatia aguda pelo chumbo varia, dependendo da idade e da condição geral do paciente, da quantidade absorvida, do tempo de exposição e de certos fatores concomitantes, como o alcoolismo crônico. Quadros de intoxicação leve à moderada podem cursar com comprometimento cognitivo leve, cefaleia, fadiga, perda de memória, perda da concentração e atenção, alterações de humor - com irritabilidade, depressão, insônia ou sonolência excessiva Efeitos renais: A exposição aguda ou crônica ocasiona dano reversível no túbulo proximal e uma lenta e progressiva insuficiência renal. Com contínua exposição ao chumbo a nefropatia aguda (reversível) pode evoluir para uma nefrite crônica. Efeitos gastrointestinais: Podem haver náuseas, vômitos, constipação/diarreia, dispepsia, gastrite e anorexia. Vômitos intermitentes, anorexia e dor abdominal também podem ocorrer em quadros crônicos, além de queimação epigástrica; Efeitos hematológicos: há diminuição nos níveis de hematócrito e hemoglobina; anemia normocítica e normocrônica; Efeitos reprodutivos: quadros de intoxicação leve à moderada podem cursar com aborto espontâneo e anormalidades no esperma (morfologia e número de espermatozóides). Em casos crônicos pode haver perda da libido; DIAGNÓSTICO: CLÍNICO: Considerar intoxicação por chumbo em qualquer paciente com achados multissistêmicos como dor abdominal, cefaleia, anemia e, algumas vezes, neuropatia motora e insuficiência renal. A suspeita de encefalopatia pode ser realizada quando há delirium ou convulsões na presença de anemia. Sempre considerar os dados epidemiológicos. LABORATORIAL ESPECÍFICO: Dosagem de chumbo no sangue (plumbemia - PbS) ou na urina (plumbúria - PbU) - coletar as amostras em tubos especiais livres de chumbo. Observar jejum de 4 horas e utilizar tubo com a tampa verde, heparinizado e sem gel. Crianças: níveis séricos de Pb entre 20 e 44 mcg/dL podem estar associados a alterações comportamentais e cognitivas crônicas; > 44 mcg/dL possuem alta probabilidade de sintomas e lesões graves de SNC de caráter subagudo e crônico; Adultos: - A encefalopatia e a nefropatia ocorrem geralmente com níveis acima de 100 mcg/dL; - Níveis sanguíneos superiores a 80 mcg/ dL estão relacionados a séria intoxicação, incluindo fortes cólicas abdominais e nefropatia; - Níveis sanguíneos entre 60 e 80 mcg/dL estão geralmente associados a sintomas gastrintestinais e efeitos renais subclínicos; Intoxicação por metais; - Níveis sanguíneos entre 25 e 60 mcg/dL podem estar associados a cefaleia, irritabilidade, dificuldade de concentração, e outros efeitos psiquiátricos; MANEJO DO PACIENTE INTOXICADO POR CHUMBO MEDIDAS DE SUPORTE Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio se necessário; Monitorizar sinais vitais; Manter acesso venoso calibroso; Hidratação adequada. DESCONTAMINAÇÃO Ingestão aguda: em crianças, ocasionalmente, pode ser indicada irrigação intestinal; Considerar a remoção endoscópica ou cirúrgica de corpos estranhos contendo chumbo; Exposição cutânea ou ocular: remover roupas e objetos contaminados e lavar com água sabão ANTÍDOTOS O tratamento com quelantes reduz as concentrações sanguíneas de chumbo e aumenta a sua excreção urinária. A sua indicação depende da idade do paciente, dos exames laboratoriais e da sintomatologia, embora a redução da exposição seja a providência mais importante. Medidas de eliminação: Não estão indicadas. Sintomáticos: Tratar convulsões com administração de benzodiazepínicos; Tratar hipertensão intracraniana com dexametasona e manitol IV. 13 Gabrielle Nunes ACHADO CLÍNICO DA INTOXICAÇÃO POR CHUMBO LINHA OU ORLA DE BURTON INTOXICAÇÃO POR MERCÚRIO O mercúrio (Hg) é um metal pesado de coloração prateada. É o único metal líquido em temperatura ambiente, sendo altamente volátil, podendo permanecer na atmosfera por até um ano. É um metal usado para a extração de ouro e prata, em manômetros para medida e controle de pressão, em termômetros, em computadores eletrônicos, em lâmpadas fluorescentes e em restaurações de amálgama dental. Compostos químicos de mercúrio têm sido usados em baterias e em tintas e também como medicamentos antissépticos, como reagentes de laboratório e como catalisadores. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INTOXICAÇÃO AGUDA: A inalação aguda de altas concentrações de vapor de mercúrio metálico causa pneumonite química e edema pulmonar. A ingestão aguda de sais de mercúrio inorgânico pode desencadear dor abdominal, gastroenterite hemorrágica e necrose tubular aguda com consequente insuficiência renal. INTOXICAÇÃO CRÔNICA: Tríade clássica da exposição crônica (caracterizada por distúrbios neuropsiquiátricos, tremores e gengivoestomatite). Casos leves: sintomas inespecíficos como fraqueza, fadiga, anorexia, perda de peso, estomatite e distúrbios gastrointestinais têm sido descritos. Os estágios iniciais se caracterizam por tremores de extremidades e distúrbios de movimento. As manifestações psiquiátricas envolvem fadiga, anorexia, perda de memória, insônia e transtornos de humor. Pode ocorrer acrodinia, uma reação rara, caracterizada por dor em extremidades acompanhada por coloração rósea e descamação da pele ("doença rosa"), hipertensão, sudorese, irritabilidade e/ou apatia, exantema miliar, insônia e anorexia. DIAGNÓSTICO CLÍNICO: Informações de exposições ocupacionais, ambientais, acidentais e intencionais, com sintomatologia compatível são importantes, porém a identificação de mercúrio no sangue, urina ou tecidos é necessária para confirmar o diagnóstico. LABORATORIAL ESPECÍFICO: A análise de mercúrio por espectrometria de absorção atômica é um método sensível, mas não diferencia a forma química do mercúrio; MANEJO DO PACIENTE INTOXICADO POR MERCÚRIO MEDIDAS DE SUPORTE Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio se necessário; Monitorizar sinais vitais; Manter acesso venoso calibroso; Hidratação adequada. DESCONTAMINAÇÃO A descontaminação pelo TGI não é nescessário na contaminação por via oral, já que o mercúrio não é absorvido pelo TGI. O carvão ativado não é eficaz; Em caso de intoxicação por via inalatória, remover o paciente do local de exposição; Na exposição cutânea, realizar descontaminação com água em abundância14 Gabrielle Nunes ANTÍDOTOS Pacientes sintomáticos após exposição aguda ou crônica são candidatos a terapia com quelante. Opções de quelante: BAL (British Anti-Lewisite DMSA-succímero D-penicilamina Medidas de eliminação: Não estão indicadas. Sintomáticos: Tratar broncoespasmo com beta-2 adrenérgicos e corticoides se necessário; Os pacientes com intoxicação crônica realizam tratamento sintomático usando drogas antidepressivas, tranquilizantes e analgésicos. INTOXICAÇÃO POR ARSÊNIO Pode ser encontrado em tintas, eletrônicos, fertilizantes, fungicidas e herbicidas, conservantes de madeira, contaminantes de alimentos, frutos do mar, remédios populares, gás arsina (não irritante, incolor, muito tóxico); A toxicidade varia de acordo com a valência, a forma e a solubilidade do composto; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INTOXICAÇÃO AGUDA: Início dos sintomas em aproximadamente 30 minutos após a exposição. Uma dose de 200 a 300mg é considerada letal. As manifestações clínicas iniciais envolvem o odor de alho, xerostomia e disfagia; • Outros sintomas: náuseas e vômitos; cólica abdominal; diarreia aquosa; fraqueza muscular; câimbras; sede; • Vasodilatação generalizada: colapso circulatório, insuficiência renal (oligúria, hematúria e proteinúria); • Cardiotoxidade: alterações de ECG (QT alargado, torsade de pointes, ondas Te U alternantes); • Alterações neurológicas: convulsões; neuropatias periféricas (fraqueza, parestesias, dor, queimação); INTOXICAÇÃO CRÔNICA: Rouquidão; perfuração do septo nasal; alterações dermatológicas (hiperpigmentação, hiperceratose, alopecia, dermatite); alterações neurológicas (polineuropatia, encefalopatia); alterações hematológicas (anemia, leucopenia, plaquetopenia); carcinogênes; DERMATITES POR INTOXICAÇÃO DE ARSÊNIO e LINHA DE MESS DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: Teste qualitativos (teste de Gutzeit); testes quantitativos (dosagem de arsênio na urina de 24hrs) MANEJO TRATAMENTO TRATAMENTO ESPECÍFICO: Antídotos: utilizar quelantes específicos, pode-se utilizar: Dimercaprol (BALL): quelante de compostos arsenicais; D-Penicilamina: Quelante de metais pesados; TRATAMENTO DE SINTOMÁTICOS: Dipirona, metoclopramida, hidratação venosa; CENTRO DE CONTROLE DE INTOXICAÇÃO (CCI) São centros clínicos disponíveis para fornecer informações via telefone e fornecer assistência hospitalar em casos de intoxicação. 15 Gabrielle Nunes
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