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0 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 2 2 DEFICIÊNCIA VISUAL .................................................................................... 3 3 PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE VISUAL .............................. 5 4 ATENDIMENTO EDUCACIONAL PARA O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL .........................................................................................................................8 5 SALAS DE RECURSOS ................................................................................. 9 5.1 Mecanismos para acessibilidade ............................................................ 11 5.2 Recursos que favorecem a aprendizagem dos alunos com deficiência visual .................................................................................................................14 6 ENSINO ITINERANTE .................................................................................. 18 6.1 Centros de Apoio Pedagógico – CAP ..................................................... 19 7 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA VISUAL (DV) .... 21 8 CEGUEIRA CONGÊNITA OU ADQUIRIDA .................................................. 23 9 REABILITAÇÃO DO DEFICIENTE VISUAL .................................................. 25 9.1 Bengala longa ......................................................................................... 28 9.2 Bengala Eletrônica ................................................................................. 29 9.3 Cães-guia ............................................................................................... 31 10 PROGRAMA NACIONAL DE APOIO À EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS .......................................................................................................................33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 39 2 1 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos 3 2 DEFICIÊNCIA VISUAL Fonte: claudiamatarazzo.com.br O primeiro contato que o ser humano estabelece com o mundo começa a ser constituído após o nascimento. Isso ocorre por meio da utilização de todos os nossos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), pois cada um deles pode nos proporcionar diferentes formas de aprendizagem, porque cada um dos sentidos tem uma função determinada no corpo humano, possibilitando assim um desenvolvimento humano em todas as esferas (AZEVEDO et al., 2017). Para Gorgatti e Costa, (2005) é a visão que nos possibilita compreender/entender o mundo que vivemos, pois é com este sentido que podemos dar um significado para os objetos, conceitos e ideias de tudo que enxergamos ou visualizamos; isso ocorre porque, na maioria das vezes estabelecemos a comunicação por meio de imagens, ou seja, através da chamada comunicação visual. No entanto, para pessoas com deficiência visual, a comunicação visual é mais difícil, porque esse tipo de componente costuma ser danificado, e a capacidade de melhorar a comunicação visual só pode ser alcançada por meio de imagens, desenhos, gráficos, símbolos, gráficos, vídeos, etc. Eles foram adaptados. Só assim esses elementos podem se tornar uma forma de comunicação para os deficientes visuais, dando-lhes a oportunidade de expressar uma ou mais ideias, e também de compreender o mundo em que vivem essas pessoas (GORGATTI e COSTA, 2005). 4 Para que possamos compreender os conceitos sobre a deficiência visual, será necessário que se entenda as definições que são dadas a estas pessoas, as quais tenham algum tipo de perda visual, seja ela de forma total ou parcial; para que possa haver um entendimento mais conciso, são estipulados parâmetros de classificação na deficiência visual, para que se percebam as diferenças e características no momento de se dar subsídios básicos nas práticas pedagógicas aos alunos que têm algum grau de comprometimento visual (AZEVEDO et al., 2017). A deficiência visual é caracterizada pela perda parcial ou total da visão binocular, o que leva à limitação do desempenho pessoal do indivíduo. Para permitir aos profissionais de saúde e educação distinguir o grau de deficiência visual, foram catalogados diferentes tipos de doenças que afetam a visão. Porém, diante de tudo que pode ser considerado na oftalmologia, é necessário criar uma classificação para determinar o grau de deficiência da pessoa. (GORGATTI e COSTA, 2005, p.29). Segundo Lima; Nassif e Felippe, (2007) a definição de deficiência visual divide- se em dois aspectos, um do ponto de vista legal e o outro do ponto de vista educacional. Do ponto de vista jurídico, como a classificação é utilizada no diagnóstico de especialistas da área da oftalmologia para informar aos indivíduos o percentual de deficiência visual coberto, propõe-se a classificação. A cegueira: “…a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho com a melhor correção óptica” (LIMA, NASSIF e FELIPPE, 2007, p.5). A visão subnormal é determinada com base no espectro do melhor olho e, mesmo sob orientação de tratamento clínico ou uso de óculos, não se enquadra nos 30% da visão normal estimada. Cada pessoa com baixa visão é diferente, dependendo dos danos que podem ocorrer na função visual (deficiência da visão, visão de cores, campo visual, sensibilidade ao contraste, adequação à luz). De acordo com Lima, Nassif e Felippe, o quadro de: BAIXA VISÃO: a acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os quais a somatória da mediada do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60 º ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. (LIMA, NASSIF e FELIPPE, 2007, p.5). Este tipo de classificação / definição descreve o deficiente visual como: perda parcial ou total da visão, também chamada de “cegueira e baixa visão ou visão subnormal” na área da educação. A cegueira: 5 “…perda total ou resíduo de visão leve a pessoa a necessitar do sistema Braille como meio de leitura e escrita. (LIMA, NASSIF e FELIPPE, 2007, p.5). Para detectar a deficiência visual é necessário realizar um teste para saber a acuidade da pessoa, pois isso vai interferir no tamanho e na distância que a pessoa consegue enxergar. Lima, Nassif e Felippe, (2007), caracteriza a baixa visão ou visão subnormal como: BAIXA VISÃO ou VISÃO SUBNORMAL: comprometimento do funcionamento de ambos os olhos, mesmo após o tratamento ou correção. As pessoas com baixa visão possuem resíduos visuais em graus que lhes permite ler todas as impressões ampliadas ou com uso de recursos opticos específicos. (LIMA, NASSIF e FELIPPE, 2007, p.5). Segundo Azevedo et al., (2017) a separação por áreas de deficiência refletia a diversidade de aspirações existentes comque o Movimento do Conselho Brasileiro de Pessoas Portadoras de Deficiência de 1984, e as especificidades de cada grupo, as dificuldades de consenso, sobretudo quanto ao exercício da liderança, fizeram com que o movimento decidisse tomar outro rumo. Essa decisão, no entanto, não significou uma cisão em vários movimentos, mas uma alteração decorrente da decisão amadurecida nas discussões entre as pessoas com deficiência, reflexo dos conflitos internos ao próprio movimento Para Júnior e Martins, (2010) A estratégia dividida pela área da deficiência visa atender melhor às particularidades de cada indivíduo, sem excluir ações conjuntas sobre questões gerais. Prova disso foi à articulação nacional empreendida pelas pessoas com deficiência em 1987 e 1988, por ocasião das discussões da nova Constituição Federal 3 PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE VISUAL Como resultado de pesquisas e observações sobre a educação de crianças e adolescentes com deficiência visual, Lowenfeld (1973) estabeleceu cinco princípios básicos no ensino: Todo educador que conhece sua função deve considerar a situação geral em qualquer etapa de seu trabalho são intimamente relacionados e interdependentes. 6 Individualização Se para o ensino geral, é importante considerar as diferenças individuais dos alunos, sem falar nas crianças com dificuldade de enxergar, pois cegueira e graus variados de baixa visão não são condições de indivíduos padronizados; as diferenças entre eles serão as mesmas os dos videntes. Tanto quanto, ou até mais. O grau de visão, o tempo e as condições de deficiência, a estrutura familiar e o meio ambiente são aspectos que requerem um planejamento personalizado para atender às necessidades de cada criança, de acordo com seu potencial e velocidade de atuação. (AZEVEDO, 2011). Concretização O conhecimento da criança com deficiência visual será adquirido por outros sentidos que não a visão, para ela, é verdade que para perceber o mundo ao seu redor é necessário fornecer objetos que possam ser tocados e manipulados o máximo possível. Ela obterá os conceitos de forma, tamanho, peso, firmeza, textura, flexibilidade, temperatura e outras características dos objetos principalmente através do toque. O modelo original deve ser ampliado se o original for muito pequeno, e o modelo deve ser reduzido se o original for muito grande (AZEVEDO, 2011). Para Azevedo, (2011) essas adaptações não deixaram de ser distorções da realidade, e as diferenças devem ser explicadas detalhadamente às crianças em proporções adequadas. Diante dos obstáculos reais que o meio ambiente pode oferecer, as crianças com deficiência não estão acostumadas a explorar extensivamente o ambiente e os objetos que as cercam; ela precisa ser encorajada a comparar e encontrar diferenças a fim de realmente compreender e familiarizar-se com sua identidade. Se você não der atenção especial à reificação, o conhecimento formal pode ser mal compreendido e distorcido, levando a conceitos errados ou simplesmente caindo na expressão verbal (descrição sem saber o que é). Ensino Unificado A experiência visual tende a unificar, globalizar o conhecimento em sua totalidade. As orientações deverão ser transmitidas de modo global, de tal forma, que permitam à criança localizar-se numa situação real de vida, para poder ser auxiliada na aquisição de novos conhecimentos em que não haja condições de observação em conjunto, 7 estruturando interiormente suas experiências num todo organizado. Para facilitar essa globalização devem ser dadas ao educando oportunidades de observação através de todos os sentidos remanescentes. O professor deve procurar descobrir todas as possibilidades auditivas, gustativas, olfativas, táteis e cenestésicas do aluno e utilizá-las não só na exploração dos conteúdos específicos da aprendizagem formal, como também nas atividades gerais da vida diária e na orientação e mobilidade, sugerindo aos pais para também fazerem o mesmo, sempre que possível (AZEVEDO, 2011). Estímulo Adicional A visão é um dos sentidos que mais recebe estímulos para observação informal de situações novas e consequente aprendizagem incidental. A criança cega pouco estimulada terá uma vida relativamente restrita e, para ampliar seus horizontes, desenvolver suas imagens mentais e orientá-las para ambientes mais amplos, é necessário proporcionar-lhe experiências, através de estimulação adequada e sistemática, em um nível proporcional ao seu desenvolvimento e motivação, fazendo-a conhecer o mundo através de sua própria observação e experiência (AZEVEDO, 2011). A orientação mental sobre ambientes mais próximos pode ser iniciada pela exploração detalhada dos mesmos, seguida de descrição ou representação, iniciando-se, por exemplo, pelo próprio quarto, sala, cozinha e demais dependências; a sala de aula, banheiro, diretoria, refeitório e demais ambientes que deve circular na escola; procurando estabelecer relações de tamanho e distância entre os ambientes conhecidos, tanto do lar quanto da escola, evoluindo conforme o interesse e domínio da criança. Este tipo de atividade irá contribuir para que, futuramente, o aluno tenha os prá-requisitos necessários para uma locomoção independente (AZEVEDO, 2011). Auto-Atividade Toda criança precisa se movimentar para obter um desenvolvimento físico e motor harmonioso e, para ser eficaz, precisa estar motivada, seu interesse deve apontar para o desejo de inspirar a liberdade de movimento. Se ela não for orientada a realizar tais atividades, ações, fala, agarrar, comer, socializar e outros aspectos podem ser retardados, ela só pode dominar essas habilidades por meio da prática. Por outro lado, o amadurecimento também precisa de auxílio em todas as etapas, o que é necessário para que as crianças tenham a oportunidade de realizar de forma independente as atividades que se adaptam às suas condições, com interesse e complexidade crescentes (AZEVEDO, 2011). 8 4 ATENDIMENTO EDUCACIONAL PARA O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL Fonte: nova-escola-producao.s3.amazonaws.com No Brasil, nas últimas décadas, a política de inclusão de pessoas com deficiência tem como foco as tecnologias para a eliminação das barreiras atitudinais, na comunicação e na aprendizagem, com recursos desenvolvidos para o atendimento das necessidades específicas dos educandos com deficiência visual. Nesse sentido, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), inegavelmente, representou um grande avanço político e conceitual, principalmente no que tange ao entendimento da educação especial como modalidade não substitutiva à escolarização e a proposta do atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Conforme essas diretrizes políticas a educação especial perpassa todos os níveis e modalidades de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior, destinando ao Atendimento Educacional Especializado a função de identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, mediante uma proposta pedagógica articulada com o ensino comum. A partir dessa política, e das diretrizes normativas do Atendimento Educacional Especializado AEE (2011), o foco passa a ser a oferta de Salas de Recursos Multifuncionais, na educação básica, dotadas de recursos tecnológicos, bem como a 9 criação de Núcleos de Acessibilidade, no ensino superior, com farto investimento em tecnologia para o acesso ao conhecimento e à informação. Nessa concepção, mediante o Decreto nº. 7.611 (BRASIL, 2011), O Ministério da Educação define o AEE como: “[...] um conjunto de atividades, recursos de acessibilidadee pedagógicos organizados institucional e continuamente [...]” (BRASIL, 2011, art. 2º, §1º). Assim, a Política Nacional de Educação Especial preconiza o uso da Tecnologia Assistiva com a criação das salas de recursos multifuncionais de dois tipos: As salas tipo I são constituídas de microcomputadores, monitores, fones de ouvido e microfones, escâner, impressora laser, teclado e colmeia, mouse e acionador de pressão, laptop, materiais e jogos pedagógicos acessíveis, software para comunicação alternativa, lupas manual e eletrônica, plano inclinado, mesas, cadeiras, armário, quadro melamínico. As salas de recursos multifuncionais tipo II, destinadas às pessoas com deficiência visual, são constituídas dos recursos da sala tipo I, acrescidos de recursos específicos para o atendimento de alunos com cegueira, tais como: impressora braile, máquina de datilografia braile, reglete1 de mesa, punção, soroban, guia de assinatura, globo terrestre acessível, kit de desenho geométrico acessível, calculadora sonora, software para produção de desenhos gráficos e táteis (BRASIL, 2008). 5 SALAS DE RECURSOS Fonte: saocarlosagora.com.br 10 As salas de recursos surgiram como proposta de auxiliar os alunos que estão incluídos na rede pública de ensino desde 2008, através do Decreto nº 6571, de 17 de Setembro/2008 no qual o aluno com deficiência tem direito a um ensino educacional especializado diferenciado em sua deficiência no contra turno da sala regular, e por meio dela, com o uso adequado dos materiais disponibilizados pelo MEC1/SECADI2 certamente o professor qualificado para atuar neste ambiente desenvolvera um excelente trabalho. É necessário que a sociedade e principalmente a escola esteja aberta as diferenças, ou seja, para ocorrer o respeito, a valorização da diferença é preciso que isso parta do ambiente escolar, onde a instituição promova discussões e ações em prol das diferenças, combatendo a discriminação, e o preconceito. Como afirma Pires (2014) que: A aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana e a aprendizagem por meio da cooperação são princípios defendidos pela nova ordem da Educação Especial sob o enfoque da Educação Inclusiva. Saber conviver com a diversidade humana representa aceitar as diferenças em qualquer lugar, e a escola, em nossa sociedade, é um dos espaços mais importantes para o acesso ao conhecimento e aos bens culturais (PIRES, 2014, p. 156) Em uma perspectiva inclusiva não basta somente a escola receber o aluno deficiente, ela precisa atender as necessidades e conviver de forma harmoniosa com as mais vastas diversidades encontradas, estabelecendo subsídios para o aluno permanecer no ambiente escolar de maneira produtiva, onde pela interação e desenvolvimento das atividades se recrie no convívio social. Somente a escola irá ofertar para esse aluno uma educação que além de trazer e construir conhecimento também influenciará nas escolhas profissionais preparando-o para a vida. Sabemos que o aluno cego apresenta algumas dificuldades ao ser incluído no ensino regular, diante disso o professor juntamente com a escola deve adaptar e buscar da melhor forma se adequar a realidade do educando. É nesse momento que é de suma importância o aluno estar matriculado tanto na rede regular de ensino, estar presente nas aulas, participar, mas também estar incluído no AEE. Conforme aponta Ropoli (2010, p. 17): O AEE complementa e/ou suplementa a formação do aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela, constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É realizado, de preferência, nas escolas comuns, 11 em um espaço físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais. Portanto, é parte integrante do projeto político pedagógico da escola (ROPOLI, 2010, p. 17) Portanto, a escola necessita de diversas adaptações para receber o aluno deficiente, existem ainda questões do currículo e também sobre a oferta do AEE que devem ser discutidas e planejadas. Sendo que a partir do momento que as famílias sabem dos seus direitos vai ser cada vez mais frequente a presença dos mesmos nas intuições de ensino, estas devem estar preparadas e uma escola inclusiva que acolha todos os alunos independente de suas particularidades (RAMOS, et al 2017 apud COSTA; NERES, 2021). 5.1 Mecanismos para acessibilidade Ao se referir sobre os recursos de acessibilidades nas instituições de ensino, menciona-se especificamente a Tecnologia Assistiva (TA) aplicada no processo educativo, sob uma forma de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Uma das inovações trazidas pela política de educação Especial na perspectiva de Educação Inclusiva é o Atendimento Educacional Especializado - AEE, um serviço da educação especial que [...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminam barreiras para a plena participação dos alunos (ROPOLI et al., 2010, p. 17). A atual conjuntura da Educação Especial propõe uma nova abordagem teórica - prática do ensino especial. De acordo com essa nova didática o professor de educação especial direciona-se para interagir e despertar o conhecimento do educando. Para isso, o educador tem que observar identificar e conhecer as limitações do discente que o impedem de interagir efetivamente no processo de ensino. E posteriormente coletar dados significativos sobre as peculiaridades para o atendimento do aluno utilizando recursos pedagógicos de acessibilidade escolar (SOUSA; SOUSA, 2017). Segundo Sousa e Sousa, (2017), a proposta da Educação Inclusiva se norteia justamente no pressuposto em que a escola possa oferecer um currículo flexível aos alunos com deficiência visual, em Braille e vinculado a seus interesses, garantindo-lhe acessibilidade de locomoção e comunicação em suas dependências, além de desenvolver metodologias senso motoras e práticas de ensino que atendam às 12 necessidades acopladas nas diferenças, todos terão condições de apreender e se desenvolver cognitivamente. Para Sartoretto e Bersch (2010), [...] há necessidade de mecanismos para a inclusão: Os recursos podem ser considerados ajudas, apoio e também meios utilizados para alcançar um determinado objetivo; são ações, práticas educacionais ou material didático projetados para proporcionar a participação autônoma do aluno com deficiência no seu percurso escolar (SARTORETTO; BERSCH, 2010, p. 08). O censo escolar realizado pelo MEC/INEP fornece dados anuais sobre indicadores da educação especial em diversos âmbitos; [...] com relação aos dados da educação especial, o Censo Escolar registra uma evolução nas matrículas, de 337.326 em 1998 para 700.624 em 2006, expressando um crescimento de 107%. No que se refere ao ingresso em classes comuns do ensino regular, verifica-se um crescimento de 640%, passando de 43.923 alunos em 1998 para 325.316 em 2006 (BRASIL, 2007). Os alunos com deficiência visual aprendem a desenvolver a escrita Braille; utilizando a reglete como também a máquina de Braille e computador com impressora Braille durante as aulas do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Outro instrumento de inclusão são os livros didáticos adaptados ilustrados conforme as normas e regras constituídas pela Comissão Brasileira de Braille. [...] Isso significa que deve ser concebido a partir de uma matriz que possibilite a produção de livros em formato digital, em áudio, em Braille e com fontes ampliadas. Esse é o livro ideal, mas ainda não disponível nas prateleiras das livrarias e das bibliotecase se constitui como objeto de debate que depende de regulamentação e de negociação entre o governo e os elos da cadeia produtiva do livro (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 33). Compete ao educador do AEE analisar as necessidades do alunado e selecionar os recursos apropriados e ensinar o modo correto de utilizá-lo. No entanto é recomendável avaliar os tais recursos e adequar as necessidades afim de que o aluno passe por novas experiências em sala de aula. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como prioridade, a participação e a aprendizagem dos discentes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades / superdotação nas escolas regulares, orientando os preceitos de ensino para atender as necessidades socioeducativas especiais, garantindo acesso: ao 13 atendimento especializado, participação da família e comunidade, formação especializada da equipe educacional para a inclusão escolar (SOUSA; SOUSA, 2017). As crianças com deficiência visual podem e devem ser incluídas nas atividades lúdicas, observando adaptações eventuais. O contato é benéfico para todos, pois estimula o respeito e conscientização dos demais alunos. Com a inclusão nessas atividades a criança passa a reconhecer e adaptar-se em novo ambiente, conhecendo obstáculos e evitando acidentes. A discriminação tátil é uma habilidade básica que deve ser desenvolvida em crianças com deficiência visual de forma contextualizada e significativa. O tato é uma via alternativa de acesso e processamento de informações que não deve ser negligenciado na educação (DOMINGUES et al., 2010) Para Sousa e Sousa, (2017) a criança com deficiência visual precisa explorar suas possibilidades através da liberdade para manusear, tocar e receber conceitos concretos e abstratos do mundo que o cerca para que possa usar este conhecimento na escola e outros ambientes. E desenvolver atividades artísticas que envolvam dinâmica corporal, dança, teatro com e sem nenhuma adequação em síntese os alunos podem e devem ser inseridos em quase todas as atividades da escola. Para se trabalhar as cores pode ser incluído aos modelos, as formas geométricas, texturas entre outros critérios. Iniciando o aprendizado das cores em casa, depois na escola. Os recursos sonoros também são usados na educação especial, além da observação do som dos objetos no ambiente, com olfato consegue distinguir odores diversos. As informações tátil, auditiva, sinestésica e olfativa são mais desenvolvidas pelas pessoas cegas porque elas recorrem a esses sentidos com mais frequência para decodificar e guardar na memória as informações. Sem a visão, os outros sentidos passam a receber a informação de forma intermitente, fugidia e fragmentária (SÁ, CAMPOS; SILVA, 2007, p.15). É importante ressaltar que a criança com deficiência visual deve receber os mesmos estímulos para que possa viver e sentir situações normais da infância, pois tem as mesmas condições de aprendizado. Para desenvolver autonomia há brinquedos que possibilitam o desenvolvimento lúdico, motor, social e o despertar para o conhecimento. Estudos de Ribeiro (2012) e Petri (2012) em relação à acessibilidade na educação para pessoas com deficiência visual, discutiram o uso de TA como metodologia no ensino de alunos cegos e pessoas com baixa visão. O primeiro analisou o uso de recursos de tecnologia, no ensino médio, e a segunda, na educação básica. Ambos os estudos 14 apontaram a importância dos conhecimentos e saberes relativos às tecnologias, em ambiente computacional, como recurso para a inclusão escolar de pessoas com deficiência visual. Os resultados evidenciaram dificuldades dos professores em terem acesso às informações sobre as tecnologias em ambiente computacional, a ineficiência da formação dos professores para atuarem com estudantes com deficiência visual e pouca comunicação de professores da sala regular e de recursos. Tecnologia Assistiva (TA) se desponta como importante área de conhecimento e pesquisa na atualidade, configurando-se como ação estratégica da política pública de educação especial na última década. A Lei Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015) ratifica a Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2008), que compreende a deficiência como o impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Diante dessa Lei, a Tecnologia Assistiva ou ajuda técnica, é definida como produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade relacionada às atividades e à participação da pessoa com deficiência, visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. 5.2 Recursos que favorecem a aprendizagem dos alunos com deficiência visual Atualmente, existem várias tecnologias desenvolvidas para dar funcionalidade e autonomia à PcD visual. O exemplo mais conhecido disso é o Braille, uma codificação em alto relevo que por meio de algumas ferramentas, sendo elas o reglete e a punção, que operam em um mecanismo similar a uma máquina de escrever. A máquina de escrever Braille também entrou na era digital, existindo computadores com teclado adaptado (OLIVEIRA, 2019). Método Braille Os profissionais que lidam com PcD visuais têm à sua disposição métodos para aprender o Braille, por meio de oficinas e cursos de Braille reconhecidos pelo MEC, inclusive de forma gratuita. Além disso, existe o curso on-line, criado e desenvolvido pela 15 USP, com a finalidade exclusiva de facilitar o acesso à informação de forma simples, lúdica e gratuita. É possível, inclusive, realizar o download de um software para aprendizagem do sistema Braille (BRAILLE VIRTUAL 1.0) que pode ser acessado através de um link existente no endereço eletrônico da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Dosvox Sistema operacional desenvolvido pela UFRJ para ser usado em computadores diversos, pelo qual o usuário faz uso do computador por meio da sua voz, trazendo à PcD visual uma maior autonomia na hora de fazer uso dos computadores. O Dosvox oferece uma interface homem-máquina de modo a trazer mais independência ao usuário com deficiências visuais (DOSVOX 5.0). Virtual Vision O Virtual Vision, segundo as especificações técnicas do fabricante, é um software, uma ferramenta definitiva para que a PcD possa utilizar, com autonomia, sistemas operacionais tais como o Microsoft Windows®, aplicativos como o Microsoft Office® e browsers de acesso à Internet, como o Microsoft Explorer® e, além de muitos outros softwares, o sistema operacional do Virtual Vision realiza a leitura dos menus e telas desses programas por um sintetizador de voz (FUNDAÇÃO BRADESCO E BANCO REAL, 2014). JAWS O software Jaws é um sistema mundialmente conhecido no auxílio de pessoas com deficiência visual, produzido nos Estados Unidos. O JAWS realiza a leitura das informações que estão na tela do computador auxiliando o deficiente visual no uso diário desta máquina e funciona muito bem com o Windows®. Além disso, o software Jaws oferece a possibilidade de inserir um display Braille para complementar a facilidade de utilização da ferramenta, possui 9 idiomas operacionais e opção de tipos de voz, sendo uma ferramenta prática, de fácil utilização e ótima funcionalidade (ROMÃO; COSME, 2011). NVDA 16 Traduzida do inglês para o português, a sigla NVDA ou Acesso Não Visual foi criado em 2006 por um australiano cego (NVDA, 2018). O NVDA é uma ferramenta de leitura de tela funcionando, operacionalmente muito bem, no Windows e o melhor é que trata-se de uma ferramentatotalmente gratuita. SARA-PC O Sara-PC é um equipamento um pouco diferenciado por se tratar de uma ferramenta independente do uso de um computador. O equipamento é um scanner em sua aparência, porém com a habilidade de realizar a leitura do documento que está sendo scaneado e transmiti-lo em voz. Além disso, o sara-PC ou scanner com voz pode ser instalado no computador e ser usado para o reconhecimento ótico de caracteres e a leitura de documentos em Braille. É uma ótima ferramenta, se comparado seu custo- benefício. Modelos similares ao sara-PC foram testados em escala experimental, alcançando ótimos resultados (GOULART et al., 2016). OrcamMyEye – Óculos Inteligente O pesquisador israelense Amnon Shashua concebeu um algoritmo que possibilita a detecção de objetos no campo de visão de uma câmera e foi daí que surgiu o Mobileye. Em 2010, a tecnologia foi aplicada para humanos por meio do produto OrCamMyEye, uma câmera acoplada a um óculos que auxilia pessoas com deficiência visual a executarem tarefas diárias. Segundo as especificações do fabricante, esse dispositivo portátil é uma câmera projetada para auxiliar pessoas com deficiência visual. Hoje, no mercado tecnológico, existem ainda mais três marcas de óculos inteligentes em fase de testes, devendo ser produzidos sob as marcas Samsung, Aira e RINB. A OrcamMyEye já está com os seus óculos inteligentes na versão 2.0 que, além dos benefícios citados, trazem ainda mais autonomia ao usuário, através da detecção de cores, reconhecimento facial, detecção de cédulas de dinheiro, identificação de embalagens a partir do código de barras, informação de hora e data a partir de movimento do punho, leitura de textos reconhecendo gestos da mão etc., operado por comandos de voz dos usuários dos óculos (BRIMELOW, 2017). BrainPort BrainPort é uma tecnologia desenvolvida pela WicabInc., uma empresa de desenvolvimento de dispositivos médicos, criada como um dispositivo adjuvante a outros 17 métodos de mobilidade utilizados por um cego, tais como bengala e cão-guia (CÂMARA PAULISTA PARA A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA). O equipamento funciona acoplado na cabeça do usuário de forma confortável, portando uma câmera ajustável e um fone de ouvido com cabo flexível que é colocado na boca sobre a língua. Sua funcionalidade acontece no momento em que a câmera realiza a leitura do objeto ou qualquer outro material à frente do usuário e converte esta leitura em impulsos elétricos que estimulam a língua através do fone e as terminações nervosas da língua levam a informação ao cérebro. O usuário deverá passar por um treinamento para fazer o uso do equipamento, aprendendo a interpretar os impulsos elétricos, permitindo reconhecer objetos e movimentos a sua frente (CARVALHO et al., 2012). Outros instrumentos de Acessibilidade Quando se fala em tecnologia assistiva, não se pode esquecer a acessibilidade, já que ela facilita o acesso das pessoas no âmbito social, o que inclui o ambiente escolar. A acessibilidade tem o objetivo de reduzir o efeito de uma limitação e assim proporcionar uma maior igualdade às PcD. De fato, existem inúmeros meios que possibilitam a acessibilidade da PcD, favorecendo sua integração à sociedade em que ela vive. Entre o leque de opções, existem instrumentos simples para o usuário realizar cálculos matemáticos, como o antigo Ábaco (conhecido no Japão como Soroban) que consiste em jogos de esferas, presas a eixos, outrora usados como calculadoras (MEC, 2006). Existem também, para aquelas PcD que precisam ou preferem usar celulares, aplicativos que “leem” textos e imagens e os pronunciam aos usuários dos aparelhos móveis (ROSE, 2015). Há vários serviços e produtos que cobrem as diversas necessidades das variadas deficiências visuais que a pessoa venha a ter, cabendo a ela identificar a qual modelo e perfil ela se adapta melhor. Isto contribui para que a PcD alcance, através da acessibilidade, a importante autonomia e a independência que ela deve ter na sua rotina diária (GODINHO, 2010). 18 6 ENSINO ITINERANTE Fonte: gcpstorage.caxias.rs.gov.br A formação do professor de Educação Especial (EE) que atua no ensino itinerante é a base para um ensino de qualidade. Além disso, todo o processo prático deve estar pautado em conhecimento teórico com sustentação científica, que tem como fim um processo de ensino e aprendizagem que leve em consideração o conhecimento científico para resolver e transformar problemas da realidade. Ao se falar em ensino itinerante muito pouco se tem pesquisado sobre esse serviço. Diante desse aspecto é um tanto sinuoso e tenebroso percorrer caminhos com carência de estudos acadêmicos. A literatura nos mostra estudos com base em modelos distintos, ora com atendimento direto ao professor (ROCHA; ALMEIDA, 2008) ora com atendimento direto ao aluno (PELOSI; NUNES, 2009). O ensino itinerante será exemplificado partindo das concepções oriundas de políticas públicas, diretrizes e estado da arte com pesquisas que tem esse serviço como foco de estudo. O atendimento educacional oferecido pelo ensino itinerante pode ser oferecido para crianças com deficiência auditiva, deficiência visual, transtorno global do desenvolvimento, deficiência intelectual, altas habilidades/superdotação conforme orientações das políticas educacionais (BRASIL, 2009). Desde a promulgação da CF (BRASIL, 1988) a perspectiva na Educação Inclusiva vem se configurando juntamente com a EE através das práticas, políticas, diretrizes e da pesquisa. Muito se tem falado, muito se tem discutido. Embora as discussões e 19 produções científicas busquem números significativos, pouco se encontrado sobre o ensino itinerante. Esse serviço educacional não tem sua gênese pós democratização, mas sim antes do boom de reflexões e mudanças de comportamento frente à EE. 6.1 Centros de Apoio Pedagógico – CAP Fonte: lh3.googleusercontent.com Diante dos desafios dessa área – a carência e recursos específicos para a leitura e escrita Braille –, Pereira (2010) esclarece que a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas e Serviço de Educação Especial (CENP/SE) apresentou o Projeto Especial – CAP (Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual), como alternativa para suprir as necessidades educacionais desses alunos e da comunidade em geral. Em decorrência de diversas reclamações e reivindicações, concretizou-se, em 17 de maio de 1994, no estado de São Paulo, a implantação do Projeto do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento ao Deficiente Visual (PRADO et al., 2013). De acordo com Pereira (2010), diante de todos os problemas gerados principalmente pela importação de equipamentos específicos, foi proposta a criação de pelo menos um Centro de Referência em cada estado, para assim atender às necessidades de seus municípios. A concepção do projeto passou pelo entendimento de que o analfabetismo entre as pessoas com deficiência visual precisava ser erradicado por meio da aquisição e do domínio dos recursos específicos e tecnológicos que possibilitem aprendizagem da leitura e escrita. Também enfatiza a multiplicação dos conhecimentos entre professores, famílias, estudantes e comunidade em geral. (PEREIRA, 2010, p. 41) 20 Pereira (2010) ressalta que o Projeto CAP, ao ser doado ao MEC, recebeu a solicitação e recomendação para que fosse implantado pelo menos um Centro em cada unidade federativa no período de 1998 a 2011, o que foi atendido, tornando-se uma política de grande dimensão voltada para a área da deficiência visual no Brasil. No entanto, para isso, dependeria das parcerias estaduais e municipais. Dessa forma, o Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual, institucionalizado pelo MEC por meio da Secretaria de Educação Especial, é fruto da colaboraçãode diversas entidades: Instituto Benjamim Constant (IBC), União Brasileira de Cegos (UBC), Fundação Dorina Nowil para Cegos e Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais (ABEDEV) (PRADO et al., 2013). Segundo Pereira (2010), tinha como objetivo “garantir às pessoas cegas e às de visão subnormal o acesso ao conteúdo programático desenvolvido na escola de ensino regular, bem como, [...] utilização de equipamentos da moderna tecnologia e da impressão do livro em Braille”. Para que esse projeto fosse implantado, caberia às secretarias estaduais e municipais a execução do serviço, junto ao MEC/SEESP, que tem a responsabilidade de coordenar as implantações dos CAPs com o apoio operacional da ABEDEV (PEREIRA, 2010, p. 40) O Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual compõe uma unidade de serviço que visa a dar suporte e apoio pedagógico aos alunos e professores na escola comum e sala de recursos, bem como ajudar no processo de adaptação curricular. O centro tem como objetivo atender, preferencialmente, ao seguinte público: alunos cegos e de baixa visão, matriculados em escolas de educação básica; pessoas deficientes visuais da comunidade; professores especializados, regentes de classe comum e estagiários do magistério; graduandos em pedagogia, entre outros (PRADO et al., 2013). Na concepção institucional, tal como concebido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), o CAP tem a seguinte estrutura organizacional: a) Núcleo de produção Braille – que produz livros e textos em Braille, ampliados e sonoros, para distribuição aos alunos matriculados no ensino regular; b) Núcleo de apoio didático pedagógico – que promove cursos para professores, pais e comunidade; c) Núcleo de tecnologias – que promove a independência do educando com deficiência visual, por meio do acesso e da utilização da tecnologia moderna para a produção de textos, estudos, pesquisas e outros. e d) Núcleo de convivência – espaço interativo planejado para favorecer a convivência e troca 21 de experiências, integrando usuários com ou sem deficiência. (PEREIRA, 2010, p. 47) 7 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA VISUAL (DV) Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com É na vida social e coletiva dessa criança, na socialização de sua conduta, que se encontra o suporte para construir as funções internas que dão origem ao processo de desenvolvimento compensatório. Não se pode entender que o destino da pessoa com Deficiência Visual seja diferente do das demais pessoas, por possuir capacidade biológica diferente, pois isso está determinado no desenvolvimento das FPS (CAVASIN, 2018). Segundo Caiado (2014), “Toda atividade humana é constituída de significados que são mediados, de um homem para o outro, pela linguagem, que é o sistema simbólico básico de comunicação de todos os grupos humanos. Entre as várias linguagens que representam o real, a palavra é ímpar” (p. 43). Portanto, na análise da linha de desenvolvimento e dos atores que a impactam, ao se recusar a noção de compensação biológica dos sentidos do tato e da audição em função da cegueira, coloca-se o processo de compensação social centrado na capacidade da linguagem como forma de superar as limitações produzidas pela impossibilidade de acesso direto à experiência visual (CAVASIN, 2018). O desenvolvimento das crianças com DV não está ligado diretamente à capacidade visual, assim como os alunos videntes. A criança com DV não apenas 22 compensaria o que falta, mas poderia supercompensar seus limites a um nível acima da média esperada para a sociedade em que está inserida (Coelho, Barroco, & Sierra, 2011). Sendo assim, uma educação escolar de qualidade, que inclui a Educação Especial, demanda nitidez acerca do que seja promover desenvolvimento, superando concepções naturalizantes, individualizantes e/ou de senso comum. Para Vygotski (2000), os caminhos colaterais de desenvolvimento cultural projetado especialmente para crianças com DV, com deficiência auditiva, intelectual, surdas e deficientes intelectuais, isto é, a linguagem escrita e oral criada para elas tem uma importância excepcional na história do desenvolvimento cultural delas em dois sentidos. Os caminhos colaterais tornam-se uma experiência espontânea da natureza; eles mostram que o desenvolvimento cultural do comportamento não está necessariamente relacionado a uma ou outra função orgânica. Essa desnaturalização do desenvolvimento é emblemática no sentido de que reposiciona os tiflopedagogos enquanto mediadores agentes, já que a partir das mediações de signos e instrumentos que ensina, o comportamento elementar (biológico/inato) passa por sistemas psicológicos de transição e se transforma em comportamento sociocultural. Vale lembrar que tal transição não anula o comportamento elementar, mas caracteriza-se pela transição do biológico intervinculado ao que foi adquirido culturalmente, ou seja, por meio da superação por incorporação (CAVASIN, 2018). 23 8 CEGUEIRA CONGÊNITA OU ADQUIRIDA Fonte: http://www.ideco.med.br A percepção visual é uma função muito complexa que ocorre em três fases: primária, secundária e terciária. No primeiro estágio, a imagem é capturada por receptores fotossensíveis localizados na retina. A imagem é projetada no lobo occipital, onde os estímulos visuais são recebidos. No segundo estágio, a imagem projetada é reconhecida e tornada significativa e, no terceiro estágio, a imagem é corticamente integrada com todos os outros sentidos. Portanto, a visão está intimamente relacionada a outras atividades sensoriais (FIGUEIRA, 2000). Segundo Couto Júnior & Oliveira (2016) a principal causa da cegueira é a retinopatia da prematuridade, seguida de atrofia óptica, seguida de glaucoma congênito. Segundo Gonçalves et. al., (2014) a criança com cegueira congênita apresenta a deficiência no momento do nascimento ou em período imediato. Acredita-se que são no mundo 1,5 milhões de crianças cegas e destas 75% são devidos a causas precavíeis como a retinopatia da prematuridade. A integridade do desenvolvimento neuropsiquiátrico depende da organização dos sentidos do sistema nervoso central, que é a base para a promoção do desenvolvimento das habilidades, do comportamento e do aprendizado humano. O desenvolvimento do movimento neuropsiquiátrico ocorre por meio da satisfação da criança ao vivenciar coisas novas (como movimentos ou ganhos sensoriais). Durante o desenvolvimento motor normal, a visão fornece a integração de movimento, 24 percepção e atividade mental. Aproximadamente 80% das informações são recebidas por meio dessa sensação, então a cegueira não é apenas uma falta de isolamento, mas também uma sensação que integra todas as outras sensações, que afeta o desenvolvimento neuropsiquiátrico das crianças (SOUZA et. al., 2010). A visão desempenha um papel importante no sistema sensorial e é um dos principais canais para o desenvolvimento neuropsiquiátrico infantil. Facilita sua interação com o meio ambiente, e estimula a comunicação, mobilidade, mobilidade, orientação, ação e controle sensorial, além de fornecer informações contínuas e verificação instantânea (FAVILLA et. al., 2014). A visão está diretamente relacionada ao desenvolvimento, portanto, o declínio da capacidade visual prejudicará a função e a independência da criança, o que acarretará danos a diversos aspectos do desenvolvimento infantil. A maior parte da experiência das crianças em explorar o meio ambiente, descobrindo seus próprios corpos, relações com objetos e outras pessoas está diretamente envolvida na visão, que se torna o elemento básico para realizar as ações das crianças no meio ambiente (MANCINI et. al.; 2010). Portanto, na maioria dos casos, o desenvolvimento neuropsiquiátrico de crianças com cegueira congênita seráconsideravelmente retardado quando não forem devidamente estimuladas. Os principais fatores de desenvolvimento são o grau de deficiência e a idade em que ocorre, principalmente o tipo de tratamento e intervenção, pois sabemos que quanto mais cedo o defeito for diagnosticado e tratado, maior será a probabilidade de minimizar atrasos no desenvolvimento e possibilitar a criança funcione tanto quanto possível. (DIAS & GALLO, 2010). A cegueira afeta o desenvolvimento da percepção do espaço e da distância, o reconhecimento da qualidade do objeto, o desenvolvimento das habilidades motoras e do comportamento social no nascimento. A estimulação auditiva e tátil é considerada uma forma de as crianças com deficiência visual explorarem e interagirem. É por meio desses estímulos que essas crianças formam sua imagem e, assim, podem compreender o mundo ao seu redor (KREUTZ e BOSA, 2009). No entanto, o processamento pelo qual essas crianças recebem as informações não é limitado apenas pela quantidade de informações recebidas do meio ambiente, mas também pela qualidade das informações recebidas. O mundo visual é mais atraente. Nem todos 25 os objetos têm cheiros ou sons, mas todos têm cores e formas. Portanto, em comparação com crianças com visão normal, essas crianças acabarão sendo prejudicadas (OLIVEIRA FILHO et. al.; 2006). No entanto, se devidamente estimuladas, as crianças com cegueira congênita ainda têm a capacidade contínua de se adaptar à sua deficiência. A deficiência visual não pode ser considerada a causa de déficits cognitivos, motores ou psicológicos, mas sim um fator predisponente para o aparecimento dessas condições. O desenvolvimento neuropsiquiátrico de crianças com cegueira congênita é igual ao de crianças que enxergam, mas a velocidade de obtenção da postura e do deslocamento é mais lenta e também é difícil estabelecer esquemas corporais (BERNARDI & COSTA, 2008). O reconhecimento e a intervenção precoces são essenciais para o melhor desempenho das crianças com cegueira congênita, pois as principais alterações no comportamento visual ocorrem nos primeiros meses de vida. Durante este período existe uma grande influência na neuroplasticidade, que é causada pela interação entre fatores genéticos e experiência ambiental (FAVILLA et. al.; 2014). Para Rodrigues e Nacário, (2006) a intervenção precoce baseia-se no princípio da estimulação e integração dos demais sentidos, como audição e tato, para que o desenvolvimento neuropsiquiátrico dessas crianças seja o mais próximo do normal. 9 REABILITAÇÃO DO DEFICIENTE VISUAL Viver sem o sentido da visão é ao mesmo tempo um encontro com o desconhecido e uma abertura para novas significações. Como desafio, o sujeito e a sociedade assumem posições e ações por vezes inoportunas ou impróprias; como portal, a cegueira toca a sensível que há em nós e nos apresenta caminhos possíveis de percorrer. Ao desnudarmos essa aparente dualidade, diante de uma perda total ou parcial da visão, o sujeito passa a experiência uma nova realidade de uma vida privada no sentido que Davidoff (2001) reconhece como predominante em nossos tempos e que Mocanasu et al. (2019) considera uma das condições humanas mais difíceis e temidas. Frente o novo modo de ser e estar no mundo, ferramentas aliadas são requeridas ao encontro que se estabelece entre o sujeito e o ambiente que o rodeia. A trajetória reabilitacional emerge como uma possibilidade a ser empreendida e aprendida, de sorte que, para sua 26 consecução, a disposição, a iniciativa e a vontade de encará-la são as pilastras dominantes para adentrar esse novo percurso. Como nos esclarece Leonhard Euler, [...] sair da inércia, do isolamento, das resistências e buscar novos mares é essencial para que se possa dar o primeiro passo rumo a novas descobertas: “A gente só se reabilita se você sair, né? No meu caso que eu morava no interior, na época lá, se fosse pela minha família eu acho que eu não saía nem de casa, saía não, gente, era só ali. Mas eu era meio teimoso (LEONHARD EULER). Dentre todas as deficiências, a visual é a que congrega o maior número de pessoas no Brasil, assim como elevadas taxas de pobreza e miséria, de baixo acesso a serviços de saúde e de reabilitação (BRASIL, 2013). O rompimento dessas distorções aspira por horizontes, nos quais as políticas públicas e instrumentos legislativos possam operar marcadamente com justiça social, ao equalizar oportunidades, em grande medida, pela via da equidade e do exercício das diferenças. A justiça social pode ser compreendida pelos princípios da participação plena e igualitária de todos os grupos em um uma sociedade mutuamente formada para atender às suas necessidades e pela visão da sociedade em que a distribuição de recursos é equitativo e todos os membros são fisicamente e psicologicamente seguros e protegidos. Incorporar a justiça social nas políticas e nas práticas sociais resultará em planos de reabilitação mais eficazes, em maior retenção de usuários e em maiores índices de satisfação deste usuário (KELSEY; SMART, 2012, p. 230). As implicações práticas que a perda de visão adquirida tem no desempenho diário das atividades variam entre indivíduos e são consideradas necessidades de reabilitação prioritárias (MACNAUGHTON; LATHAM; VIANYA-ESTOPA, 2019). Isso porque a condição de não ver suscita uma aprendizagem detalhada para a utilização efetiva de referenciais táteis, auditivos, olfativos e proprioceptivos (KASTRUP, 2015). A reabilitação é um processo que passa pela busca de conhecer e executar, dentre outras, as atividades da vida diária, o que interpela uma prática multiprofissional sob o olhar interdisciplinar dentro de uma demanda crescente de complexidade cultural, tecnológica e científica (RODRIGUES, 2008). Desse modo, ser capaz de avaliar o impacto da perda da visão e entender os principais fatores que podem influenciar as necessidades de reabilitação para cada indivíduo, é fundamental (MACNAUGHTON; LATHAM; VIANYA-ESTOPA, 2019). 27 Conforme Porto, Garcia e Davet (2019), as atividades da vida diária (AVD) englobam tarefas domésticas e usuais do indivíduo com intuito de proporcionar a independência em ações de alimentação, vestuário, organização doméstica, higienização pessoal e dos ambientes internos. Segundo Morris (2001), independência pode denotar autodeterminação para a tomada de decisões a respeito da vida e da assistência dispensada e não necessariamente a capacidade para a realização individual de todas as atividades do dia a dia. A reabilitação de pessoas com deficiência visual envolve a evocação de novos procedimentos e técnicas para atingir objetivos específicos, que tocam, a princípio, à dimensão funcional da vida (KASTRUP, 2015). Nesse percurso, o treinamento de orientação e mobilidade se torna uma outra relevante necessidade de reabilitação do sujeito cego. Essa técnica é oferecida a pessoas com deficiência visual para ajudá-las a manter a segurança e a autonomia em sua orientação e deslocamentos nos percursos por meio do ensino de novas habilidades para orientar-se objetivando compensar a informação visual reduzida ou ausente (VIRGILI; RUBIN, 2010; SILVA; EMMEL, 2018). Além de reforçar a confiança em si e no ambiente que o cerca, tal aprendizado tem o benefício prático de direcionar para o enfrentamento de vida e a resposta aos anseios de independência que é valorizada. Para a orientação espacial e para o deslocamento com autonomia no ir e vir cotidiano, em muitos casos os deficientes visuais precisarão contar com outros seres humanos ou não humanos, que se tornam agentes promotores de acesso aos lugares ou aos serviços. Assim, segundo Salminen, Heiskanen e Suomela (2019), a referida técnica, apesar de trazer maior conscientização e informação sobre deficiência visual, exige prática a longo prazoe apoio familiar. Para o deslocamento no espaço, o domínio do uso da bengala, que não se limita à aquisição de uma técnica, canaliza novos aportes afetivos, relacionais e também perceptivos, principalmente os táteis e as auditivas. Esses sentidos passam a desempenhar a função que a visão costumava contemplar. Sua principal finalidade é a de tanto detectar quanto desviar possíveis obstáculos no percurso (KASTRUP, 2015), elementos-chave para a mobilidade com autonomia e segurança. 28 9.1 Bengala longa A bengala longa, além de ser um instrumento, é considerada um sinal da pessoa deficiente visual, o que a torna uma identificação capaz de evocar tal significado na consciência social. Além de companheira diária, ela permite mobilidade, privacidade, identificação do outro, autonomia e segurança, com consequente preservação da integridade corporal (SANTOS; CASTRO, 2013). Além disso, promove maiores chances para aquisição de uma ocupação e maior aferição de renda (BELL; SILVERMAN, 2018). Muitas pessoas com visão parcial também usam essa ferramenta de reabilitação como auxiliar à locomoção ou como um sinal aos videntes (DYCHT, 2016). A bengala não tem uma função ortopédica ou de sustentação, mas de proteção, orientação e detecção das informações ambientais captadas por sensações táteis e percebidas pelos receptores localizados na mão do indivíduo cego, sendo enviadas ao seu cérebro (HOFFMANN e SEEWALD, 2003). Este equipamento se trata de uma ferramenta que possui o formato de um bastão, disponível em diferentes tamanhos e materiais, sendo produzida em alumínio ou em fibra. Ela é encontrada no mercado em dois tipos: inteiriça, cujo formato não permite que ela se feche em lugares desejados, ou do tipo dobrável, sendo formada por pequenos bastões interligados por elásticos. A bengala do tipo dobrável proporciona à pessoa certo conforto e discrição, visto que é possível fechá-la em determinados lugares, mas, em contrapartida, a do tipo inteiriça é bem mais resistente se comparada à dobrável (OLIVEIRA e NETO, 2015). A bengala longa configura-se em três partes distintas: 1- Pega: Permite ao usuário o manejo do equipamento; 2- Haste: Funciona como extensão do corpo do usuário e o ajuda a ler o espaço através de sinais táteis que são transmitidos ao tocar o solo; 3- Ponteira: Responsável pelo contato com o solo (FONSECA, 2009). 29 Fonte: FONSECA, 2009 Um dos problemas enfrentados ao se utilizar esse tipo de recursos nos centros urbanos está relacionado ao fato da bengala não detectar obstáculos acima da linha da cintura do usuário e, assim, são identificados somente quando ocorre a colisão. Tal problema pode ocasionar acidentes e trazer sérios danos à integridade física da pessoa com deficiência visual. Essa dificuldade pode ser minimizada com o uso de recursos associados à bengala que detectem obstáculos localizados também em altura elevada. Esse é o caso da bengala eletrônica que detecta obstáculos em altura a partir de sensores (DUMMER, 2018). 9.2 Bengala Eletrônica Entre os recursos desenvolvidos para auxiliar na locomoção das pessoas com deficiência visual, destaca-se a bengala eletrônica, objeto capaz de detectar não somente os obstáculos abaixo da linha da cintura do usuário, mas também aqueles dispostos em altura elevada. Existem hoje no mercado algumas opções com características distintas. Entre elas, destacam-se, a Ultracane e a I-Cane Mobilo. A Ultracane é a primeira bengala eletrônica que detecta obstáculos ao nível dos pés, pernas, tronco e cabeça. Baseada na tecnologia de ultrassons, detecta obstáculos até quatro metros de distância e, após a detecção, transmite a resposta de forma tátil para 30 o usuário através de vibrações na Pega da bengala, no local onde o usuário coloca seu dedo polegar. Devido à quantidade de sensores, seu custo é elevado. Bengala Ultracane. Fonte: DUMMER, 2018 A bengala I-cane Mobilo foi lançada por uma empresa Holandesa e possui um sistema de navegação por Global Positioning System (GPS) que permite que o usuário possa registrar um percurso realizado e, assim, repeti-lo outras vezes. Possui sensores que alertam sobre a presença de obstáculos ao longo do caminho. O usuário recebe essas informações através de uma “seta tátil”. Durante o percurso, o usuário mantém o dedo polegar sobre uma superfície onde uma seta, movimenta-se para indicar a direção correta a seguir ou a necessidade de desviar de algum obstáculo Bengala I-cane Mobilo. Fonte: DUMMER, 2018 31 9.3 Cães-guia Fonte: s2.static.brasilescola.uol.com.br Além da bengala, o cão-guia é igualmente uma ajuda útil na reabilitação para deficientes visuais. Com ele, as pessoas cegas podem se mover mais rápido e com mais segurança do que com o uso de uma bengala branca, afeta positivamente a saúde mental, favorece os diálogos e a constituição de uma vida mais ativa (DYCHT, 2016). A Lei nº 11.126/2005 assegura o direito à utilização do cão-guia em todos os locais públicos ou privados de uso coletivo por pessoas com deficiência visual, de modo que tal recusa configura ato de discriminação repudiado com interdição e multa, regulamentada pelo Decreto nº 5.904, de 21 de setembro 2006. Cães-guia são cachorros adestrados especificamente para guiar pessoas com deficiência visual no seu dia a dia, oferecem segurança na locomoção do deficiente visual, pois identificam grande parte dos obstáculos dispostos ao longo do percurso, prevenindo acidentes. Além de garantir segurança na locomoção, oferecem autonomia à pessoa com deficiência. No Brasil são comumente usadas raças como Labrador e Golden Retriever devido ao temperamento dócil, característica muito importante para esse tipo de tarefa (DUMMER, 2018). O adestramento do cão dura em torno de dois anos e meio e é divido em duas fases. Na primeira, o cão é enviado para uma família voluntária, permanecendo com eles por um período de doze a dezoito meses. Esta fase tem o intuito de introduzir o animal na vivência em sociedade. Passado esse tempo, o cão volta para o centro de 32 treinamento, onde inicia sua capacitação como cão-guia por um período médio de três meses. Após esse período, o cão pode ser considerado apto para exercer o papel de cão-guia (OLIVEIRA e NETO, 2015). Porém, a grande dificuldade nesse recurso diz respeito ao elevado custo para se obter e manter o animal e, ainda, a limitação de animais disponíveis por demanda. O elevado preço se torna um empecilho para pessoas de baixa renda, evidenciando a importância da implementação de recursos que sejam funcionais, tragam segurança para o usuário e sejam acessíveis financeiramente para todos. Em 2011 o governo federal lançou o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - denominado “Viver sem limites” - por meio do decreto 7.612 (DUMMER, 2018). Esse plano tem como objetivo implementar novas iniciativas em benefício das pessoas com deficiência. Uma das metas do programa foi a criação de centros de formação de treinadores de cães-guias. Os cursos são ministrados em Institutos Federais de Educação e se tem como meta inicial a formação de 150 duplas (pessoa com deficiência visual e cão-guia). Em 2014, na cidade de Balneário Camboriú - Santa Catarina, foi inaugurado o primeiro centro de treinamento do Brasil e da América Latina. Esse tipo de ação é de extrema importância, visto que um recurso desse tipo agrega autonomia para a vida da pessoa com deficiência visual (BRASIL, 2013). Todavia, a despeito dessas disposições legislativas, ainda permanece no Brasil a falta de uma cultura favorável, o que dificulta a aquisição de um cão guia, bem como o seu usufruto por causa do desrespeito à legislação ainda observado nos reiterados discursos (FUKUHARA; MARCIANO; OPPI et al., 2014). Embora existamhá muito tempo as citadas ajudas de locomoção, incluindo bengalas brancas e cães-guia, nos últimos anos as ajudas foram expandidas com o desenvolvimento de recursos tecnológicos avançados, incluindo dispositivos de GPS e tecnologia para smartphones, por meio de aplicativos com tecnologia de câmera, transferência de dados e uma rede de profissionais treinados para fornecer suporte visual remoto para quase qualquer tarefa (WHITBURN; MICHALKO, 2020). 33 10 PROGRAMA NACIONAL DE APOIO À EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS Os processos educacionais apontados na PNEE 2020 visam à garantia de aprendizagem com qualidade e envolvem, de forma colaborativa (BRASIL, 2020): A União, como instância responsável pela definição das diretrizes legais e operacionais bem como instância de cooperação técnica e financiamento redistributivo e supletivo (art. 211 da Constituição), considerando o regime de colaboração e as responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios definidos legalmente; e Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de suas secretarias e conselhos de educação, aos quais compete organizar seus sistemas de ensino para possibilitar a implementação das políticas e diretrizes instituídas, conforme estabelece a LDB. O artigo 2º do Decreto apresenta as definições, nos seguintes termos: Art. 2º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se: I – Educação especial – modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino aos educandos com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação. A educação especial tem sua definição fundamentada na LDB. Entre outros aspectos, institui os serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela da educação especial e prescreve que o atendimento educacional seja feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua inclusão nas classes comuns de ensino regular. Desde 2018, por meio da Lei nº 13.632, de 2018, foi estabelecido que a oferta de educação especial tem início na educação infantil e estende-se ao longo da vida, conforme o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60. A educação especial é também uma subárea da área de conhecimento que leva o nome de Tópicos Específicos da Educação, tanto na Capes (BRASIL, 2020) como no CNPq (BRASIL, 2020). A educação especial reúne pressupostos teóricos para fundamentar o uso de diferentes metodologias, técnicas e equipamentos específicos, bem como para a 34 produção de materiais didáticos adequados e adaptados e para o desenvolvimento de tecnologia assistiva, a fim de serem oferecidos aos educandos, preferencialmente (o que não significa exclusivamente), em escolas regulares inclusivas e em classes e escolas especializadas destinadas aos educandos que não se beneficiam das classes e escolas comuns ou regulares (BRASIL, 2020). A educação especial oferece recursos e serviços para garantir a educação equitativa e inclusiva nas salas de aulas regulares inclusivas, nas escolas e classes especializadas, nas escolas bilíngues de surdos, nas escolas-polo, nas salas de recursos multifuncionais e específicas e nos centros de atendimento educacional especializado. Oferece também o serviço de atendimento educacional especializado gratuito ao público- alvo da educação especial, em todos os níveis, etapas e modalidades, de modo complementar e suplementar, no contraturno, para que cada estudante tenha assegurada sua aprendizagem nas escolas regulares inclusivas ou nas escolas bilíngues de surdos, ou, ainda, nas escolas especializadas quando os educandos não se beneficiarem dos processos educacionais nas escolas regulares inclusivas (BRASIL, 2020). A expectativa da PNEE 2020 é que a área da educação especial possa fundamentar-se, de modo cada vez mais amplo e profundo, nas evidências científicas. Convém explicitar que a educação baseada em evidências está fundamentada no conhecimento oriundo de pesquisas científicas conduzidas com rigor metodológico, o que possibilita aos educadores identificar métodos e práticas eficientes para suas práticas interventivas no cotidiano escolar (COOK; COOK, 2011, apud ORSATI. et al., 2015, p. 16 apud BRASIL, 2020). É sabido que algumas práticas educacionais trazem resultados positivos e potencializam o aprendizado dos educandos, enquanto outras não produzem resultados satisfatórios. Avaliando as evidências científicas sobre a eficácia de diferentes práticas com crianças e jovens com características diferentes, descobrimos aquelas que têm maior potencial para beneficiar a cada um (BRASIL, 2020). É necessário conscientizar os docentes que atuam na educação especial sobre a necessidade de conhecer as práticas que já foram validadas cientificamente e, de igual modo, levá-los a atuar com a perspectiva de que os resultados do seu trabalho precisam 35 ser avaliados, buscando as evidências que atestam o êxito de suas intervenções. Assim, experiências exitosas merecem ser divulgadas e replicadas. É necessário identificar na escola, o mais cedo possível, o estudante que demanda recursos da educação especial, por meio de processos avaliativos que integrem a equipe escolar, geralmente coordenada pelo gestor da escola, assistente ou coordenador pedagógico. Essa avaliação visa à eliminação ou minimização de barreiras à aprendizagem, ao desenvolvimento e à participação do estudante, possibilitando medidas preventivas com objetivo de garantir igualdade nas condições de acesso, permanência e aprendizado ao longo da vida. Parágrafo único. São considerados público-alvo da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida: I – educandos com deficiência, conforme definido pela Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2020). A PNEE 2020 adota o conceito de “deficiência” da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015 apud BRASIL, 2020). São barreiras educacionais e escolares as que, pela interação com o impedimento individual de longo prazo, podem comprometer a efetiva aprendizagem do estudante, seu desenvolvimento e sua plena participação nos espaços escolares. Caracterizações que se referem ao impedimento de longo prazo e de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, conforme a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e considerações sobre os objetivos da PNEE 2020 (BRASIL, 2020): Auditivo: impedimento relativo à significativa perda auditiva bilateral ou surdez, o qual demanda a adoção do ensino bilíngue para educandos surdos e com deficiência auditiva que optam pela Libras, visto que estes compreendem e interagem com o mundo por meio de experiências visuais e manifestam sua cultura principalmente por meio da Libras; e demanda, ainda, para os educandos que não optam pelo uso da Libras (e consequentemente não optam pela educação bilíngue), que seja respeitada sua opção linguística, na medida em que ambos os grupos requerem recursos específicos para acesso ao currículo. 36 Aos educandos com deficiência auditiva, surdos que fazem uso de tecnologias, ou surdos oralizados, é garantida na PNEE 2020 a escolha linguística no atendimento educacional especializado. Assim, poderão escolher pela abordagem bilíngue (Libras e Língua Portuguesa) ou pela abordagemnão-bilíngue. Caso optem pela abordagem não bilíngue, deverão receber o atendimento educacional especializado na área da educação especial; caso optem pela Libras como primeira língua, deverão ser incluídos em espaços escolares bilíngues. A Política Nacional de Alfabetização, definida em 2019, no art. 2º, prioriza a abordagem fônica, destacando a “instrução fônica sistemática” (BRASIL, 2019), pretendendo “implementar programas e ações voltados à promoção da alfabetização baseada em evidências científicas”, o que pode ser aplicado para surdos oralizados ou deficientes auditivos. O processo de ensino-aprendizagem para os surdos que não optarem pela Libras como primeira língua poderá ser ancorado em Fonemas Visuais (Visual Phonics), por meio dos quais as diferenças entre os fonemas são percebidas por meio de sinais visuais usados para representar os sons da fala, considerando que a escrita da Língua Portuguesa acompanha os fonemas da fala. Isso não tem a ver necessariamente com o processo de ensino-aprendizagem da oralização, que é desenvolvido pela Fonoaudiologia, geralmente na área da Saúde. Não se trata de desprestigiar a língua de sinais. Trata-se de não se oferecer única alternativa. Caso o educando surdo e sua família optem pela oralização, é importante possibilitar o encaminhamento, em parceria, aos profissionais especializados nesse processo. A PNEE 2020 orienta que as escolhas linguísticas sejam respeitadas, que surdos e deficientes auditivos sejam alfabetizados na idade própria e que se divulgue a importância de os educandos tornarem-se bilíngues o quanto antes – caso desejem. Auditivo-visual: impedimento referente às perdas sensoriais significativas dos surdocegos, as quais estão associadas à baixa visão/cegueira e perda auditiva/surdez e demanda a utilização de sistemas tais como o Braille, a Língua de Sinais Tátil, o Tadoma, o alfabeto datilológico, a comunicação háptica e recursos e serviços específicos para acessibilidade ao currículo, orientação e mobilidade. Físico-motor: impedimento referente às funções e estruturas corporais que afetam a mobilidade, o movimento e/ou a fala, com demanda para o uso de sistemas 37 comunicacionais, recursos pedagógicos e de tecnologia assistiva para acessibilidade ao currículo e aos espaços escolares. Intelectual: impedimento referente aos déficits nas funções intelectuais e no comportamento adaptativo, manifestados nos domínios conceitual, social e prático da vida. Mental: impedimento referente aos transtornos mentais (psicológicos ou psiquiátricos) que justifique a oferta de serviços de atendimento educacional especializado, considerada a possibilidade de articulação dos sistemas de ensino com a área da saúde e outras que se fizerem necessárias. Múltiplo: associação de dois ou mais impedimentos de longo prazo, a partir dos quais são requeridos apoios, serviços e recursos para acessibilidade ao currículo e ao espaço escolar. Visual: impedimento referente à baixa visão ou à cegueira, o qual demanda o uso de códigos, como o sistema Braille, além de recursos e serviços de acessibilidade ao currículo, orientação e mobilidade. II – Educandos com transtornos globais do desenvolvimento, incluídos os educados com transtorno do espectro autista, conforme definido pela Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. A nomenclatura referente ao público-alvo da educação especial foi modificada pela Lei nº 12.796, de 2013, quando a designação “portadores de necessidades especiais” passou a ser “educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”, alterando o texto da LDB. Por esse motivo, no Decreto nº 10.502, de 2020, que institui a “Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e ao Longo da Vida”, os termos vigentes foram mantidos conforme essa Lei, que no âmbito da educação é a que prevalece no momento (BRASIL, 2020). Os sistemas educacionais devem organizar-se para oferecer um serviço que dê suporte tanto aos professores, no que se refere às práticas pedagógicas e recursos a serem utilizados nos processos de ensino-aprendizagem desses educandos, quanto às famílias. Caso haja necessidade de atendimento multidisciplinar, é a equipe escolar que deve articular com os profissionais externos que colaboram ou que possam vir a colaborar no atendimento a esses educandos. Tais inclusões, se aprovadas, 38 demandarão intenso processo de formação continuada dos profissionais da educação, com apoio do Ministério da Educação (BRASIL, 2020). Um sistema de ensino não deve oferecer apenas um tipo de atendimento. Há de haver diferentes alternativas educacionais porque os educandos não são iguais e porque nem tudo que diz respeito ao processo educacional é resolvido na sala de aula comum ou na sala de recursos. Os educandos são diferentes, os históricos são diferentes, as expectativas pessoais e familiares são diferentes, os recursos e serviços que demandam são diferentes, e a base para a construção e oferta desses serviços devem ser as evidências científicas. Diversos tipos de atendimentos podem levar à efetiva inclusão de diferentes educandos. Muitos especialistas e pais de pessoas com impedimentos de longa duração que demandam atendimentos múltiplos e contínuos almejam escolas especializadas assim como reconhecem que a sociedade é beneficiada com as escolas regulares inclusivas (BRASIL, 2020). 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, C. F. Deficiência Visual – Não feche os olhos para este mundo. Rio de Janeiro. 2011. AZEVEDO, F. C.; et.al. O Contexto da Educação Especial Brasileira: Deficiência Visual. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 02. Ano 02, Vol. 01. pp 676-693, Abril de 2017. BELL, E. C.; SILVERMAN, A. M. Rehabilitation and Employment Outcomes for Adults Who Are Blind or Visually Impaired: An Updated Report. Journal of Blindness Innovation & Research, v. 8, n. 1, 2018. BERNARDI, DANIELA F.; COSTA JULIANA. A criança cega: uma ação multidisciplinar com enfoque escolar. Anuário da Produção Acadêmica Docente,Vol. II, Nº. 3, Ano 2008, p. 133-145 BRAILLE VIRTUAL 1.0. Ensino de Braille para pessoas que veem. 2020 BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes Operacionais para o atendimento Educacional Especializado na educação básica, modalidade Educação Especial. Brasília: MEC, SEB, 2009. BRASIL. Decreto nº. 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial e o atendimento educacional especializado. Diário Oficial da União, Brasília, 2011a. BRASIL. Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de 2011. Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Plano Viver sem Limite. Diário Oficial União, Brasília, 18 nov. 2011b. BRASIL. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: ciclos de vida: Brasil e grandes regiões, 2013. BRASIL. Lei nº. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoas com deficiência LBI. Diário Oficial da União, Brasília, 2015. 40 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação. PNEE: Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação – Brasília; MEC. SEMESP. 2020. 124p. BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. BRASIL. Portaria Ministerial nº 555, de 05 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC/SEESP. Brasília: 2007. BRASIL. Viver sem Limites – Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República / Secretaria Nacional
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