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1 SUMÁRIO 1 APRENDIZAGEM ....................................................................................... 3 1.1 Características do processo de aprendizagem .................................... 3 1.2 Aprendizagem e Maturação ................................................................. 5 1.3 A Aprendizagem é Condicionada pela Maturação ............................... 5 1.4 Aprendizagem e Desempenho ............................................................. 6 1.5 Funções dos motivos............................................................................ 8 2 TEORIAS DA MOTIVAÇÃO ........................................................................ 9 2.1 Teoria do condicionamento .................................................................. 9 2.2 Teoria cognitiva .................................................................................... 9 2.3 Teoria humanista ................................................................................ 10 2.4 Teoria psicanalítica ............................................................................ 11 3 TEORIAS DA APRENDIZAGEM ............................................................... 12 3.1 Watson e o behaviorismo ................................................................... 13 3.2 Teoria do condicionamento clássico .................................................. 14 3.3 Teoria do condicionamento operante ................................................. 14 3.4 Teoria da aprendizagem por ensaio e erro ......................................... 15 3.5 Teoria da aprendizagem cognitiva ..................................................... 16 3.6 Teoria da aprendizagem fenomenológica .......................................... 17 3.7 Teoria da aprendizagem da Gestalt ................................................... 18 4 TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM ................................................ 18 4.1 Transferência positiva e negativa ....................................................... 18 4.2 Teorias da transferência ..................................................................... 19 4.3 Teoria dos elementos idênticos .......................................................... 19 4.4 Teoria da generalização da experiência ............................................. 20 4.5 Teoria dos ideais de proceder ............................................................ 20 2 4.6 Teoria da Gestalt ................................................................................ 20 4.7 Teoria dos ideais de proceder ............................................................ 21 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 22 5 ARTIGO PARA REFLEXÃO ..................................................................... 24 3 1 APRENDIZAGEM Aprendizagem é um processo inseparável do ser humano e ocorre quando há uma modificação no comportamento, mediante a experiência ou a prática, que não podem ser atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo. Do ponto de vista funcional é a modificação sistemática do comportamento em caso de repetição da mesma situação estimulante ou na dependência da experiência anterior com dada situação. De acordo com as proposições das teorias gestaltistas é um processo perceptivo, em que se dá uma mudança na estrutura cognitiva. Para que haja a aprendizagem são necessárias determinadas condições: • Fatores Fisiológicos - maturação dos órgãos dos sentidos, do sistema nervoso central, dos músculos, glândulas etc.; • Fatores Psicológicos - motivação adequada, autoconceito positivo, confiança em sua capacidade de aprender, ausência de conflitos emocionais perturbadores etc.; • Experiências Anteriores - qualquer aprendizagem depende de informações, habilidades e conceitos aprendidos anteriormente. 1.1 Características do processo de aprendizagem Fonte: deputadasolangealmeida.wordpress.com 4 • Processo dinâmico - A aprendizagem é um processo que depende de intensa atividade do indivíduo em seus aspectos físico, emocional, intelectual e social. A aprendizagem só acontece através da atividade, tanto externa física, como também, de atividade interna do indivíduo envolve a sua participação global. • Processo contínuo - Todas as ações do indivíduo, desde o início da infância, já fazem parte do processo de aprendizagem. O sugar o seio materno é o primeiro problema de aprendizagem: terá que coordenar movimentos de sucção, deglutição e respiração. Os diferentes aspectos do processo primário de socialização na família, impõem, desde cedo, a criança numerosas e complexas adaptações a diferentes situações de aprendizagem. Na idade escolar, na adolescência, na idade adulta e até em idade mais avançada, a aprendizagem está sempre presente. • Processo global - Todo comportamento humano é global; inclui sempre aspectos motores, emocionais e mentais, como produtos da aprendizagem. O envolvimento para mudança de comportamento, terá que exigir a participação global do indivíduo para uma busca constante de equilibração nas situações problemáticas que lhe são apresentadas. • Processo pessoal - A aprendizagem é um processo que acontece de forma singular e individualizada, portanto é pessoal e intransferível, quer dizer ela não pode passar de um indivíduo para outro e ninguém pode aprender que não seja por si mesmo. • Processo gradativo - A aprendizagem sempre acontece através de situações cada vez mais complexas. Em cada nova situação uns maiores números de elementos serão envolvidos. Cada nova aprendizagem acresce novos elementos à experiência anterior, sem idas e vindas, mas em uma série gradativa e ascendente. • Processo cumulativo - A aprendizagem resulta sempre das experiências vividas pelo indivíduo que servem como patamar para novas aprendizagens. Ninguém aprende senão, por si e em si mesmo, pelo auto modificação. Desta maneira, a aprendizagem constitui um processo cumulativo, em que a experiência atual aproveita-se das experiências anteriores. 5 1.2 Aprendizagem e Maturação A maturação é constituída no processo de desenvolvimento pelas mudanças do organismo que ocorrem de dentro para fora do indivíduo. Mas apesar destas mudanças acontecerem apenas quando existe uma predisposição natural no organismo do indivíduo, elas dependem de estimulações no meio ambiente para se desenvolverem plenamente. As características essenciais da maturação são: 1 - Aparecimento súbito de novos padrões de crescimento ou comportamento; 2 - Aparecimento de habilidades específicas sem o benefício de práticas anteriores; 3 - A consistência desses padrões em diferentes indivíduos da mesma espécie; 4 - O curso gradual de crescimento físico e biológico em direção a ser completamente desenvolvido. A aprendizagem, diferente da maturação, envolve uma mudança duradoura no indivíduo, que não está marcada por sua herança genética. A aprendizagem se constitui no processo de socialização do indivíduo e desenvolve gostos, habilidades, preferências, contribui para formação de preconceitos, vícios, medos e desajustamentos patológicos. 1.3 A Aprendizagem é Condicionada pela Maturação De maneira geral, concluindo-se pelas próprias definições acima, a influência dos professores é restrita aos padrões de maturação dos alunos. Na aprendizagem esta influência pode ser determinante, com consequências que podem ser tanto positivas quanto negativas. As características específicas do ser humano: a fala, a noção de tempo, a cultura e a capacidade de abstração, confere uma qualidade única ao estudo do seu comportamento. Ainda mais significativo que tudo o que foi dito, o homem, em seu processo de percepção, pode observar-se simultaneamente como sujeito e objeto, como o conhecedor e como o quedeve ser conhecido. Enquanto nos animais inferiores muitos dos comportamentos são supostamente instintivos, a criança, molda os seus múltiplos 6 padrões de comportamento. O período relativamente de dependência da criança, em relação ao adulto, que se segue à necessidade total de ajuda logo após o nascimento, contribui para que ele adquira a cultura de seu grupo. Utilizando seu potencial intelectual relativamente alto e sua capacidade de se comunicar através da linguagem falada e der outros símbolos, os membros de cada geração constroem sobre as realizações das gerações anteriores. A cultura de uma sociedade é o resultado de muitas gerações de aprendizagem cumulativa. O homem compartilha com outros mamíferos alguns impulsos orgânicos primários como a fome, a sede, o sexo, a necessidade de oxigênio, de calor moderado e de repouso e, possivelmente, umas poucas aversões primárias tais como medo, raiva. A primeira manifestação de tais impulsos e aversões é um processo de maturação. No entanto, o ser humano parece transcender de alguma forma tais impulsos e aversões hereditários. Parece não haver grupo de seres humanos que não tenha desenvolvido, através da aprendizagem, alguns instrumentos para enriquecer seus contatos com o mundo que o cerca. Os animais parecem encontrar satisfação no uso de qualquer das capacidades que possuem. Da mesma maneira, o homem encontra satisfação no uso de suas capacidades e habilidade. 1.4 Aprendizagem e Desempenho É fundamental para se concluir como esta transcorrendo a aprendizagem a observação do comportamento do indivíduo. O desempenho pode ser considerado como o comportamento observável do indivíduo. Destarte, a aprendizagem não pode ser observada diretamente; só pode ser inferida do comportamento ou do desempenho de uma pessoa. Para tanto devem ser observadas determinadas características do desempenho que servirão como indicadores do desenvolvimento da aprendizagem ou da aquisição de uma habilidade. A característica principal é quando o desempenho da habilidade melhorou, durante um período de tempo no qual houve a prática. A pessoa sendo assim mais capaz de desempenhar a habilidade do que era anteriormente. A melhoria do desempenho deve ser marcada por certas características: 7 1 - O desempenho deve ser, como resultado da prática, persistente, ou seja, relativamente constante. Deve ser duradoura no tempo. 2 - As flutuações do desempenho devem ser cada vez menores, ocorrendo menos variabilidade. Aprendizagem é uma mudança no estado interno do indivíduo, que é inferida de uma melhora relativamente permanente no desempenho como resultado da prática Modelo de aprendizagem motora Segundo Fitts e Posner, existem três estágios que caracterizam a aprendizagem motora: 1 - Estágio Cognitivo - Se caracteriza por uma grande quantidade de atividade mental e intelectual. O principiante costuma responder às técnicas ou estratégias, apresentando grande número de erros grosseiros no desempenho; 2 - Estágio Associativo - A atividade cognitiva envolvida na produção de respostas decai. Mecanismos básicos da habilidade foram aprendidos até certo ponto. O aprendiz está concentrado em refinar a habilidade. Detecta alguns dos seus erros. A variação de desempenho começa a decrescer; 3 - Estágio Autônomo - As habilidades são aprendidas a um tal grau que respostas são geradas de maneira quase automática. Desenvolve capacidade para detectar seus erros e que espécies de ajustes são necessários para corrigir os erros. A variação do desempenho de dia a dia já se torna muito pequena. É importante entender esses estágios de aprendizagem para determinação de estratégias instrucionais apropriadas a serem utilizadas ao ensinar habilidades motoras. O desempenho inicial na aprendizagem nem sempre permite predizer com precisão o desempenho posterior. O desempenho posterior deve ser considerado a partir de: a) determinação das capacidades relacionadas com a tarefa; b) motivação para ter sucesso e para continuar a aprender a habilidade; 8 c) instrução inicial deve enfatizar os fundamentos importantes da habilidade a ser aprendida; d) quantidade de tempo de prática disponível do indivíduo é importante na determinação do sucesso posterior. Esses fatores além de serem valiosos na previsão do desempenho futuro, são geradores de informações para determinar o que deve ser incluído no plano de instrução, para ajudar o estudante a desenvolver seu potencial. APRENDIZAGEM E MOTIVAÇÃO Dentre todos os fatores que influenciam no processo de aprendizagem, o mais importante deles é, sem dúvida, a motivação. Sem motivação não há aprendizagem. Podem existir os mais diversos recursos para a aprendizagem, mas se não houver motivação ela não acontecerá. 1.5 Funções dos motivos A motivação existe quando o indivíduo se propõe a emitir um comportamento desejável para um determinado momento em particular. O indivíduo motivado é aquele que se dispõe a iniciar ou continuar o processo de aprendizagem. São três as funções mais importantes dos motivos: • os motivos têm a função de manter ativo o organismo para que a necessidade que gerou o desequilíbrio seja satisfeita; • os motivos dão direção ao comportamento para que os objetivos sejam alcançados, definindo quais os mais adequados para conduzir a ação; • os motivos fazem a seleção das respostas que satisfazem as necessidades para que possam ser reproduzidas posteriormente, quando situações semelhantes se apresentarem. 9 2 TEORIAS DA MOTIVAÇÃO A seguir serão apresentadas as quatro linhas teóricas que abordam a questão da motivação dentro da Psicologia. 2.1 Teoria do condicionamento Segundo esta teoria, para que o indivíduo seja motivado a emitir determinado comportamento, é preciso que esse comportamento seja reforçado seguidamente. A aprendizagem só acontece caso haja a associação de determinada resposta a um reforço, até que o indivíduo fique condicionado. Em outras palavras, uma necessidade (estímulo) leva a uma atividade (resposta) que a satisfaz, e aquilo que satisfaz ou reduz a necessidade serve como reforço da resposta. Isto é, o indivíduo age para alcançar um reforço que vai satisfazer sua necessidade. De acordo com a teoria do condicionamento, só há motivação para aprender em sala de aula na medida em que as matérias oferecidas estiverem associadas a reforços que satisfaçam certas necessidades dos alunos. 2.2 Teoria cognitiva A teoria cognitiva, ao contrário da teoria do condicionamento que considera a aprendizagem como resultado de uma série de estímulos externos para reforço do comportamento, dá maior importância a aspectos internos, racionais, como: objetivos, intenções, expectativas e planos do indivíduo. A teoria cognitiva considera que, como ser racional, o homem decide conscientemente o que quer ou não quer fazer. Pode interessar-se pelo estudo da matemática por compreender que esse estudo lhe será útil no trabalho, na convivência social, ou apenas para satisfazer sua curiosidade ou porque se sente bem quando estuda matemática. 10 2.3 Teoria humanista Para Maslow, um dos principais formuladores desta teoria, o comportamento humano pode ser motivado pela satisfação de necessidades biológicas, mas que toda motivação humana não poderia ser explicada em termos de privação, necessidade e reforçamento. Para Maslow existe uma hierarquia de necessidades que vão se manifestando à medida que as necessidades básicas, consideradas por ele de ordem inferior, são satisfeitas e, que evoluem em direção a necessidades de ordem superior. Quando não há alimento, o homem vive apenas pelo alimento. Mas o que acontece quando o homem consegue satisfazer sua necessidade de alimento? Imediatamente surgem outras necessidades, cuja satisfação provoca o aparecimento de outras. Esquematicamente,Maslow construiu uma pirâmide, que segundo ele, localiza esta hierarquia de sete conjuntos de motivos-necessidades: • Necessidades fisiológicas – um indivíduo com as necessidades fisiológicas oxigênio, líquido, alimento e descanso – insatisfeitas tende a comportar-se como um animal em luta pela sobrevivência. É a satisfação dessas necessidades que permite ao indivíduo dedicar-se a atividades que satisfaçam necessidades de ordem social; • Necessidade de segurança – é o comportamento manifesto diante do perigo e de situações estranhas e não familiares. É essa necessidade que orienta o organismo na ação rápida em qualquer situação de emergência, como doenças, catástrofes naturais, incêndios, etc. • Necessidade de amor e participação – expressa-se no desejo de todas as pessoas de se relacionarem afetivamente com os outros, de pertencerem a um grupo. • Necessidade de estima – leva-nos à procura de valorização e reconhecimento por parte dos outros. Quando essa necessidade é satisfeita, sentimos confiança em nossas realizações, sentimos que temos valor para os outros, sentimos que podemos participar na comunidade e ser úteis. • Necessidade de realização – expressa-se em nossa tendência a transformar em realidade o que somos potencialmente, a realizar nossos planos e sonhos, a alcançar nossos objetivos. A satisfação da necessidade de realização é sempre parcial, na medida em que sempre temos projetos inacabados, sonhos a realizar, objetivos a alcançar. 11 • Necessidade de conhecimento e compreensão – é a curiosidade, a exploração e o desejo de conhecer novas coisas, de adquirir mais conhecimento. Essa necessidade é mais forte em uns do que em outros e sua satisfação se realiza através de análises, sistematizações de informações, pesquisas, etc. Essa talvez devesse ser a necessidade específica a ser atendida pela atividade escolar. • Necessidade estética – manifesta-se através da busca constante da beleza. Essa necessidade, segundo Maslow, parece ser universal em crianças sadias e a escola pode contribuir muito para sua satisfação. Fonte: umdiariodeaprendizagem.blogspot.com.br 2.4 Teoria psicanalítica Para a teoria psicanalítica, criada por Sigmund Freud, as primeiras experiências infantis são os principais fatores a determinar todo o desenvolvimento posterior do indivíduo. A maior parte dos motivos seriam, assim, inconscientes. Quando criança, todo indivíduo tem uma série de impulsos e de desejos que procura satisfazer. Entretanto, muito desses impulsos e desejos não podem ser satisfeitos, em 12 virtudes das sanções sociais. Assim, eles são reprimidos para o inconsciente e lá se organizam a fim de se manifestarem de outra forma, de uma maneira que não contrarie as normas sociais. Na prática clínica, Freud, pesquisando sobre causas e funcionamento das neuroses, descobriu que a grande maioria dos pensamentos e desejos reprimidos eram de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida do indivíduo. Na vida infantil estavam as experiências traumáticas, reprimidas que originavam os sintomas atuais. Essas ocorrências deixavam marcas profundas na estrutura da personalidade. Freud, então, coloca a sexualidade no centro da vida psíquica e postula a existência da sexualidade infantil. 3 TEORIAS DA APRENDIZAGEM As teorias da aprendizagem se caracterizam como uma área bem específica dentro da psicologia teórica na tentativa de fundamentar como surge a natureza essencial do processo de aprendizado. Serão apresentadas a seguir as principais teorias que procuram compreender e explicar o processo de aprendizagem: Fonte:www.sesisp.org.br 13 3.1 Watson e o behaviorismo No início de nosso século, vários psicólogos preocupavam-se em fornecer à Psicologia foros de ciência. Tal tentativa já havia sido feita pelos adeptos das ideias de Wundt, criador da Psicologia Fisio1ógica; nos Estados Unidos, J.B. Watson insistia em que o corpo voltasse a centralizar os estudos psicológicos e propunha que a Psicologia mudasse seu foco da consciência para o comportamento. O objetivo de Watson era que a ciência psicológica se interessasse por indícios publicamente verificáveis, ou seja, dados abertos à observação de outros, estudados por diversos pesquisadores, que poderiam chegar a conclusões uniformes. Watson foi iniciador da escola behaviorista. Ele considerava a pesquisa animal a única verdadeira, pela sua possibilidade de verificação empírica. Propunha a abolição dos métodos introspectivos, devido à sua falta de objetividade. Rejeitava o estudo da consciência e atacava veementemente a análise da motivação em termos de instintos. Na sua época, era frequente admitir que muitos comportamentos fossem inatos e constituíssem instintos. Watson propôs a tese de que herdamos apenas estrutura física e alguns reflexos. Três tipos de reação emocional são inatos: medo, cólera e amor; todas as outras reações emocionais são aprendidas em associação com eles, através de condicionamento. Fonte: www.ehow.com.br 14 A influência de Watson foi tão grande, que a maioria das teorias que se seguiram foram behavioristas e, portanto, preocupadas com os fatores puramente objetivos, baseando-se na pesquisa com animais e preferindo a análise do tipo estímulo-resposta. 3.2 Teoria do condicionamento clássico O fisiologista russo Ivan P. Pavlov (1849-19360), estava interessado em descobrir princípios do funcionamento das glândulas salivares e usava cães em suas experiências. Em uma de suas experiências um fato em particular chamou sua atenção. Pavlov verificou os animais salivavam, de maneira abundante, não apenas a vista e cheiro do alimento, mas também na presença de outros estímulos associados a ele, como o som de passos fora da sala, na hora da alimentação. Desta forma ele chegou à conclusão de que o reflexo salivar, provocado normalmente pela presença do alimento na boca, também podiam ser provocados por outros estímulos associados aos alimentos. Começou, então, a relacionar o alimento a outros estímulos, originalmente neutros quanto à capacidade de provocar a salivação, como a luz de uma lâmpada ou o som de uma campainha. Verificou que, se o alimento fosse muitas vezes precedido destes estímulos, o cão passaria a salivar também na sua presença. A esta reação Pavlov denominou: reflexo condicionado. Posteriormente, os psicólogos passaram preferir a expressão – resposta condicionada -, uma vez que este tipo de aprendizagem não se limita só aos comportamentos reflexos. 3.3 Teoria do condicionamento operante O psicólogo americano B. F. Skinner, nascido em 1904, fez uma distinção entre dois tipos de comportamentos: as respostas provocadas por um estímulo específico e aquelas que são emitidas sem a presença de um estímulo conhecido. Ao primeiro tipo de respostas Skinner chamou – respondente-; e ao segundo – operante. 15 O comportamento respondente é automaticamente provocado por estímulos específicos como, por exemplo, a contração pupilar mediante uma luz forte. O comportamento operante, no entanto, não é automático, inevitável e nem determinado por estímulos específicos. Assim, caminhar pela sala, abrir uma porta, cantar uma canção, são comportamentos operantes, já que não se pode estipular quais os estímulos que os causaram. O que caracteriza o condicionamento operante é que o reforço não ocorre simultaneamente ou antes da resposta (como no condicionamento clássico) mas sim aparece depois dela. A resposta deve ser dada para que depois surja o reforço, que, por sua vez, torna mais provável nova ocorrência do comportamento. A aprendizagem não se constitui, como no condicionamento clássico, em uma substituição de estímulo, mas sim em uma modificação da frequência da resposta. 3.4 Teoria da aprendizagem por ensaio e erro Este tipo de aprendizagem foi primeiramente estudadopor Edward Lee Thorndike (1874-1949), psicólogo americano. Seus experimentos foram feitos com animais, preferencialmente gatos. Um gato faminto era colocado em uma gaiola com o alimento à vista do lado de fora. O gato ao tentar sair da gaiola para conseguir o alimento produzia uma série de ensaios ou tentativas. Ocasionalmente, ele tocava na tranca que abria a gaiola e o alimento era alcançado. O experimento era repetido durante alguns dias e o gato, ia, aos poucos, eliminando os ensaios infrutíferos para sair da gaiola, coisa que conseguia em cada vez menos tempo, até que nenhum erro mais era cometido e o gato saia da gaiola com apenas um movimento preciso: o de abrir a tranca. O ensaio e erro é um tipo de aprendizagem que se caracteriza por uma eliminação gradual dos ensaios ou tentativas que levam ao erro e à manutenção daqueles comportamentos que tiveram o efeito desejado. Thorndike formulou, a partir de seus estudos, leis de aprendizagem, das quais se destacam a lei do efeito e a lei do exercício. A lei do efeito, afirma que um ato é alterado pelas suas consequências. Assim, se um comportamento tem efeitos favoráveis, é mantido; caso contrário, eliminado. A 16 lei do exercício propõe que a conexão entre estímulos e respostas é fortalecida pela repetição. Em outras palavras, a prática, ou exercício, permite que mais acertos e menos erros sejam cometidos como resultado de um comportamento qualquer. Pode-se notar a semelhança existente entre este tipo de aprendizagem e o condicionamento operante. Alguns autores, porém, estabelecem uma diferença, afirmando que o ensaio e erro é mais complexo, já que envolve a intenção do indivíduo na aquisição de algum efeito específico. 3.5 Teoria da aprendizagem cognitiva Fonte:www.clinicasandin.com.br Para John Dewey a aprendizagem deve estar vinculada aos problemas práticos aproximando-se o mais possível da vida cotidiana dos alunos. À escola cabe preparar seus alunos para a vida democrática, para a participação social, deve praticar a democracia dentro dela, dando preferência à aprendizagem por descoberta. Para Dewey, seis são os passos que caracterizam o pensamento científico: • tornar-se ciente do problema – É necessário que o problema proposto tenha significado para o indivíduo. O problema deve ser transformado em uma necessidade individual que lhe proporcione estímulos suficientes; • Esclarecimento do problema – Consiste na coleta de dados e informações sobre o problema proposto. É onde vai se selecionar a melhor forma de atacar o problema, através dos recursos disponíveis; 17 • Aparecimento da hipótese – São as possibilidades que surgem para a provável solução do problema. As hipóteses costumam surgir após um longo período de reflexão sobre o problema e suas implicações, a partir dos dados coletados na etapa anterior. • Seleção da hipótese mais provável – É o confronto da hipótese com o que se conhece do problema. Passando de uma hipótese a outra na medida que vão se mostrando ineficazes para a resolução do problema uma hipótese verifica-se outra; • Verificação de hipótese - É na prática que acontece a verdadeira prova da hipótese que será comprovada na ação; • Generalização – Em situações posteriores semelhantes, uma solução já encontrada poderá contribuir para a formulação de hipótese mais realista. A capacidade de generalizar consiste em saber transferir soluções de uma situação para outra. 3.6 Teoria da aprendizagem fenomenológica As significações produzidas pelos indivíduos são, para teoria fenomenológica, assim como a teoria cognitiva, acima descritas, e a teoria da gestalt, que veremos mais adiante, de grande relevância para compreensão do processo de aprendizagem. A criança é vista como um ser que aprende naturalmente. A aprendizagem só acontece a partir do material que se vincule a experiência do indivíduo. Assim, existem alguns passos que devem para facilitar a aprendizagem do Indivíduo, a partir de sua própria experiência. • proporcionar aos alunos oportunidades de pensamento autônomo, criando um clima de diálogo, que os encoraje a expressar suas opiniões e a participar das atividades do grupo; • os alunos devem desenvolver suas atividades em acordo com o ritmo pessoal. O êxito e a aprovação sendo considerados a partir das realizações individuais; • oferecer aos alunos a oportunidade de utilizar um impulso universal presente em todos os seres humanos, no sentido de concretizar suas próprias potencialidades. Sem podá-los em uma camisa de força, prendendo-os à competição artificial e ao rígido sistema de notas. 18 3.7 Teoria da aprendizagem da Gestalt Os psicólogos que preconizaram a teoria da Gestalt, como Köhler, Koffka, defendiam que a experiência e a percepção são mais importantes que as respostas específicas no processo de aprendizagem. Segundo eles a aprendizagem acontece através de insight, que se constituem em uma compreensão súbita para solução de problemas. Mas para que isso ocorra existe a necessidade de experiências anteriores vinculadas ao problema e só acontece em consequência de uma organização permanente da experiência, que permite a percepção global dos elementos significativos. 4 TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM A transferência de aprendizagem acontece quando o indivíduo é capaz de transmitir o material retido em uma primeira experiência para as próximas experiências. É a influência de um órgão ou capacidade, sobre outra capacidade ou órgão, ainda não exercitado. A experiência é aprendida em seu conjunto e transferida como tal para uma situação nova, quando há identidade de estrutura ou função entre as situações. É o problema de transportar e de aplicar em uma situação conhecimentos, habilidades, ideais, valores, hábitos e atitudes, adquiridos em outros setores, ou situações de vida. Este problema afeta diretamente o conteúdo e método de ensino. Porque se acreditamos que, a aprendizagem é uma função tão específica que só é aplicável à matéria ou à habilidade diretamente envolvida, a orientação do ensino será diferente de quando se venha acreditar que a aprendizagem é um processo geral, que permite transferência a uma variedade ampla de áreas de atividades. 4.1 Transferência positiva e negativa Dizemos que houve uma transferência positiva quando uma aprendizagem anterior favorece uma nova aprendizagem. Dizemos que houve uma transferência negativa quando uma aprendizagem prejudica outra aprendizagem posterior. 19 4.2 Teorias da transferência As teorias da transferência da aprendizagem tiveram sua origem nas críticas à teoria da disciplina formal. A teoria da disciplina formal concebia a mente composta de faculdades, tais como: memória, raciocínio, vontade, atenção. Assim, bastava que estas “faculdades da mente” fossem, adequadamente, treinadas para que funcionassem igualmente bem em todas as situações, mesmo que a aprendizagem houvesse ocorrido em uma situação particular. O ensino de latim, por exemplo, treinava a capacidade de raciocínio lógico para qualquer tipo de situação. Na teoria da disciplina formal, a ênfase não se vinculava, de maneira específica, na matéria. Era mais importante para a educação a forma da atividade do que o conteúdo em si mesmo. A educação, seria então, em grande medida, uma questão de exercitar ou disciplinar a mente, de acordo com rigorosos exercícios mentais nos autores clássicos, em lógica, matemática, etc. Contudo, William James (1890), em um trabalho experimental conclui que a melhora da memória consistia, não em qualquer melhora na retenção, mas no aperfeiçoamento do método de memorizar. Este experimento foi o ponto de partida para experiências posteriores, cujos resultados vieram contrariar a doutrina da disciplina formal. 4.3 Teoria dos elementos idênticos Tem como autor Thorndike. Afirma que há transferência de aprendizagem quandose verifica identidade de CONTEÚDO (Exemplo: a análise lógica em uma língua auxilia na aprendizagem de outra.); de MÉTODO ou PROCESSO (Exemplo: o estudo de uma lição, lendo o conjunto e depois repetindo trechos difíceis é processo que faculta o estudo de outra lição do mesmo tipo.); de ATITUDE (Exemplo: o hábito de aprender teoremas depois de algum esforço leva o indivíduo a esperar dominar com esforço novo teorema.); de GENERALIDADES de fatos compreendidos (Exemplo: regras, princípios, leis, etc., induzidos e aplicados a seguir a casos particulares diversos, habilitam o indivíduo a aprender outros casos particulares, pelo pensamento dedutivo). Nesta teoria a transferência é a repetição, em uma nova situação, de uma reação já aprendida anteriormente. 20 4.4 Teoria da generalização da experiência Nesta teoria, que tem Judd como precursor, os fatores mais importantes são: o Método de Ensino ou de Estudo e Grau de Auto Atividade despertada no aluno. A matéria ou conteúdo a ser aprendido é de muito pouca importância. Esta teoria preconiza que, a função da educação é treinar a inteligência, internalizar o método científico, assistir os alunos a abstrair o geral e essencial dos aspectos particulares e acidentais em suas experiências. Esta teoria enfatiza a aplicabilidade de princípios e generalizações a situações variadas e diversas. A repetição do experimento original de Judd, por outros estudiosos, conclui que as crianças acostumadas com o princípio da refração da luz foram mais capazes de atingir um alvo submerso na água do que crianças que não conheciam o princípio. 4.5 Teoria dos ideais de proceder O autor desta teoria, Bagley considera que a generalização não representa tudo, mas que deve ser associada a um ideal e possuir um conteúdo emocional, Para Bagley, a aprendizagem de hábitos de ordem, por exemplo, não se transfere da aritmética para a ortografia, mas que, se a aprendizagem de tais hábitos for considerada um ideal, e enfatizada pelo professor, será transferida para outros assuntos, sem que seja preciso referência especial sobre os mesmos. Esta teoria acentua a transferência através da formulação de ideais e atitudes generalizadas, constituindo outra versão da teoria da generalização da experiência. 4.6 Teoria da Gestalt Esta teoria enfatiza outro aspecto do conceito de generalização. Para seus partidários, quanto maior o significado de uma experiência, tanto mais rica sua conceituação e mais profunda a sua compreensão, maiores serão suas possibilidades de transferência. Para os gestaltistas, o discernimento (Insight) das relações entre os elementos da situação é o meio que garante a aprendizagem e é este conhecimento das relações que se transfere na aprendizagem. 21 Os gestaltistas explicam a transferência através do que denominam “transposição”. Por exemplo, determinada canção ouvida em certo tom pode ser reconhecida em outro, ainda que todos os componentes da canção sejam diversos. Identicamente, gatos treinados a comer no prato maior, quando encontram outros dois pratos, onde o que era maior é agora o menor dos dois, comem no maior e não naquele no qual aprenderam a comer. Os gatos reagem não às partes, os pratos, mas à relação maior-menor, que continua existindo. Fonte: www.acasacuca.com.br Esta teoria preconiza que, a função da educação é treinar a inteligência, internalizar o método científico, assistir os alunos a abstrair o geral e essencial dos aspectos particulares e acidentais em suas experiências. Esta teoria enfatiza a aplicabilidade de princípios e generalizações a situações variadas e diversas. A repetição do experimento original de Judd, por outros estudiosos, conclui que as crianças acostumadas com o princípio da refração da luz foram mais capazes de atingir um alvo submerso na água do que crianças que não conheciam o princípio. 4.7 Teoria dos ideais de proceder O autor desta teoria, Bagley considera que a generalização não representa tudo, mas que deve ser associada a um ideal e possuir um conteúdo emocional, Para Bagley, a aprendizagem de hábitos de ordem, por exemplo, não se transfere da aritmética para a ortografia, mas que, se a aprendizagem de tais hábitos for considerada um ideal, e enfatizada pelo professor, será transferida para outros 22 assuntos, sem que seja preciso referência especial sobre os mesmos. Esta teoria acentua a transferência através da formulação de ideais e atitudes generalizadas, constituindo outra versão da teoria da generalização da experiência. BIBLIOGRAFIA BARROS, Célia S.G. Pontos da Psicologia Geral. SP: Ática, 1995. BOCK, Ana M.Bahia; FURTADO, O e TEIXEIRA, M.L. Psicologias - Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. SP: Saraiva, 1993. BOWDITCH, James L. e BUONO, Anthony F. Elementos de Comportamento Organizacional. São Paulo: Pioneira, 1997. BRAGHIROLLI, Elaine Maria. Psicologia Geral. RJ: Vozes. 1995. CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida. Fundamentos de Psicologia Educacional. SP: Ática, 1986. DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. SP: McGraw-Hill do Brasil, 1991. DAVIS, Cláudia e OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Psicologia na educação. 2 ed., SP:Cortez, 1994. GREENING, Thomas C. Psicologia Existencial-Humanista. RJ: Zahar, 1975. MOULY, G. J. Psicologia Educacional. SP: Pioneira, 1966. PENNA, A Introdução à História da Psicologia Contemporânea. Rio de Janeiro, Zahar, 1980. PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. 13 ed. SP: Ática, 1995. TELES, Maria Luiza S. O que é Psicologia. SP: Brasiliense, 1993. SCHULTZ, Duane P. e SCHULTZ, Sydney Ellen. História da Psicologia Moderna. SP: Cultrix,1992. 23 Secretária Municipal de Educação RJ. MULTIEDUCAÇÃO: Núcleo Curricular Básico Rio de Janeiro, 1996. STATT, David A . Introdução à Psicologia. SP: Harbra, 1978. 24 5 ARTIGO PARA REFLEXÃO Disponível em: http://www.dfe.uem.br/TCC-2014/NATANY_CSOARES.pdf AUTOR: NATANY CAROLINE SOARES ACESSO: 10 de junho de 2016 PIAGET E A AFETIVIDADE: REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA AFETIVIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Resumo: O presente artigo tem como tema Piaget e a afetividade: reflexões sobre a influência da afetividade no desenvolvimento da criança na Educação Infantil. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, pautada nos pressupostos teóricos de Jean Piaget sobre desenvolvimento e afetividade. Nestes termos, o estudo teve como principal objetivo investigar a influência do aspecto afetivo no desenvolvimento da criança na Educação Infantil e como objetivos específicos: caracterizar a afetividade em Piaget; analisar a influência do afeto no processo do desenvolvimento e aprendizagem; e, elencar as contribuições da afetividade aos processos de desenvolvimento e de aprendizagem na Educação Infantil. A pesquisa justifica-se pelas vivências e observações oportunizadas pela atuação em um Centro de Educação Infantil como educadora e a percepção de diferentes aspectos e formas de relações interpessoais vivenciadas neste contexto. Como resultado, pudemos perceber que o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência, tornando difícil encontrar um comportamento constituído apenas da afetividade, sem nenhum elemento cognitivo. Disso depreende- se que o afeto, nesta perspectiva, é tomado como a base de um desenvolvimento processual e essencial à criança. http://www.dfe.uem.br/TCC-2014/NATANY_CSOARES.pdf 25 Palavras Chave: Afetividade. Desenvolvimento. Educação Infantil. Piaget. Abstract: This article’s theme is Piaget and the affectivity: reflections about the affectivity’s influence on child’s development in the Childhood Education. It is a bibliographic research, based on Jean Piaget’s approach concerning developmentand affectivity. The aim of this study was to investigate the influence that affection aspects have on child’s development in the Childhood Education. Its specific objectives are: to characterize affectivity on Piaget’s approach; to analyze the affectivity influence on the development and learning process; and to list the contributions of affection to the development and learning process in the Childhood Education. The research is justified by the experiences and observations at a Childhood Education Center as a teacher, and by the understanding of different aspects and interpersonal relationships in this context. As a result, it was possible to comprehend that the affection is developed in the same way as the cognition and intelligence, making it hard to find a behavior only constituted by affectivity, without any cognition element. Considering this, the affection, on this approach, is the foundation of a child’s procedural and essential development. Keywords: Affectivity. Development. Childhood Education. Piaget. INTRODUÇÃO Em toda conduta, as motivações e o dinamismo energético provêm da afetividade, enquanto que as técnicas e os ajustamentos dos meios empregados constituem o aspecto cognitivo (senso motor - racional). Jean Piaget Diante do excerto acima e demais pressupostos teóricos de Jean Piaget é possível afirmar, que a afetividade permeia o todo processo de desenvolvimento, uma vez que, uma ação nunca é puramente intelectual e nem mesmo, puramente afetiva. Para Piaget (2007, p. 21), “Existe, com efeito, um paralelo constante entre a vida afetiva e a intelectual” e, nestes termos, coloca-se a seguinte questão: qual o papel da afetividade no desenvolvimento do aluno? 26 Com a finalidade de refletir sobre a questão posta, o estudo em tela traz como tema, o papel da afetividade no processo de desenvolvimento da criança na Educação Infantil. E, como objetivos: caracterizar a afetividade em Piaget; analisar a influência do afeto no processo de desenvolvimento e de aprendizagem; e, elencar as possíveis contribuições da afetividade ao desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil. Nesta perspectiva, o estudo da referida temática, justifica-se pelas vivências e observações oportunizadas pela atuação em um Centro de Educação Infantil como educadora e a percepção de diferentes aspectos e formas de relações interpessoais vivenciadas neste contexto. Além disso, entendemos que este estudo pode ampliar nossos conhecimentos, além de oferecer subsídios a professores, futuros professores e outros profissionais sobre a questão em tela. Visando melhor apresentação, o trabalho foi organizado em quatro momentos. No primeiro momento, faremos uma reflexão sobre o termo afetividade embasando-nos na teoria de Piaget. No segundo momento, apresentaremos as características dos dois estágios de desenvolvimento do pensamento, propostos por Piaget, quais sejam, o sensório-motor e o pré-operatório, que se referem mais diretamente ao período da educação infantil. No terceiro momento, discutiremos a influência do afeto no processo de desenvolvimento e, por fim, no quarto momento, elencaremos as possíveis contribuições da afetividade aos processos de desenvolvimento e de aprendizagem na Educação Infantil. A AFETIVIDADE NA PERSPECTIVA PIAGETIANA Apresentamos neste momento, uma reflexão sobre o termo afetividade e suas características embasando-nos nos pressupostos teóricos de Jean Piaget. Quando falamos em afetividade nos vem à memória a relação de carinho ou cuidado que se tem com alguém íntimo ou querido, contudo, este termo assume outro importante sentido, na ótica piagetiana. Para Piaget (1982) a afetividade permeia o desenvolvimento intelectual, na forma de motivação e interesse. Destaca ainda, que o desenvolvimento tem dois componentes: um cognitivo e um afetivo. Desse modo, a afetividade e a cognição são duas peças fundamentais para os processos de ensino e de desenvolvimento http://pt.wikipedia.org/wiki/Carinho http://pt.wikipedia.org/wiki/Carinho http://pt.wikipedia.org/wiki/Carinho 27 adequados da criança, de modo que, afeto inclui: sentimentos; interesses; desejos; tendências; valores; e, emoções. O afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência, tornando difícil encontrar um comportamento apenas da afetividade, sem nenhum elemento cognitivo e vice- versa. Piaget (1982) refere também, a dois processos que implicam na tentativa do indivíduo em solucionar uma determinada situação conflituosa com base na estrutura cognitiva já existente, denominados assimilação e acomodação. A assimilação resulta da tentativa de solucionar uma dada circunstância a partir da estrutura cognitiva que possui naquele momento, enquanto a acomodação consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta de dominar um novo objeto do conhecimento. Nesta forma de pensar, Souza (2003, p. 58) apresenta estes processos relacionados ao afeto: Assimilação refere-se ao interesse que tem como fonte o “eu”, sendo que acomodação afetiva é relativa ao interesse pelo objeto como tal. Portanto, a assimilação cognitiva refere-se à compreensão do objeto e a acomodação ao ajuste dos esquemas de pensamentos aos objetos. Nesta perspectiva Piaget (2007) descreve o desenvolvimento como um equilíbrio progressivo de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior que começa quando nascemos. No campo da vida afetiva, este equilíbrio dos sentimentos aumenta com a idade. Assim, o desenvolvimento mental para Piaget é uma construção contínua, a qual à medida que se acrescenta algo se engrandece. Com a inteligência e a afetividade tende-se a um equilíbrio móvel, ou seja, quanto mais estável, mais haverá mobilidade. Nesta linha de pensamento, Piaget (1982) define etapas para o desenvolvimento das operações lógicas que se dividem em estágios que se distinguem um do outro, pela presença de estruturas originais que caracterizam diferentes maneiras do indivíduo interagir com a realidade e organizar seus conhecimentos: estágio sensório-motor; estágio pré-operatório; estágio das operações concretas; e estágio das operações formais. No entanto, nesta 28 pesquisa nos ateremos de modo mais detalhado aos dois primeiros estágios os quais se referem ao período tratado neste estudo. O primeiro estágio é denominado sensório-motor, ocorre de zero a dois anos aproximadamente, período anterior à linguagem. É o estágio dos primeiros hábitos motores, no qual a criança tem uma atividade intelectual sensória e motora, ou seja, não representa mentalmente os objetos, sua ação é direta sobre eles: “Ainda não apresenta afetividade ligada a representações que permitem evocar pessoas ou objetos na ausência deles” (PIAGET, INHELDER, 2007, p. 11). A esse respeito, La Taille, (1992) destaca que Piaget considera abusivo falar, neste estágio, sobre real socialização da inteligência. O segundo estágio ocorre de dois a sete anos de idade aproximadamente e é denominado, pré-operacional. Nele a criança desenvolve a capacidade simbólica e surgem os primeiros sentimentos sociais, onde os principais instrumentos utilizados são a representação e a linguagem falada. Este estágio caracteriza-se pela inteligência intuitiva, sentimentos interindividuais espontâneos e relações sociais de submissão ao adulto. O terceiro estágio, das operações concretas, de sete a doze anos, coincide com o começo da escolaridade, apresenta modificações no desenvolvimento mental. Segundo Piaget (2007) observa-se o aparecimento de novas formas de organização, e novas atitudes sociais, assegurando-lhes um equilíbrio mais estável. Neste período o desenvolvimento caminha do pensamento pré-lógico à solução dos problemas concretos, ocorre então o início da autonomia.E por fim, o último estágio que ocorre dos doze anos em diante, a adolescência, caracterizado como último período da evolução cognitiva, que passa por um desequilíbrio provisório. De acordo com Wadsworth (1997) o desenvolvimento caminha da solução lógica dos problemas concretos à solução lógica de todos os tipos de problema. Conforme destaca Piaget (2007) os referidos estágios apresentam “[...] características momentâneas e secundárias, que são modificadas pelo desenvolvimento ulterior, em função da necessidade de melhor organização [...]” (p.15). Afirma o autor que toda ação, todo movimento, pensamento ou sentimento, obedece a uma necessidade fisiológica afetiva ou intelectual como, por exemplo, 29 um interesse ou uma pergunta, isto é, “[...] uma necessidade é uma manifestação de um desequilíbrio”, argumenta Piaget, de acordo com Claparède (p.16). Piaget (2007) destaca ainda que a ação de uma criança só ocorre quando ocasionada por algum motivo ou necessidade, ou seja, acontece ali um reajustamento do equilíbrio. Portanto, de acordo com o autor, a ação e o pensamento reajustam-se conforme a variação exterior. Para uma melhor compreensão do desenvolvimento mental sobre o que trata este estudo, nos ateremos aos dois estágios mais diretamente relacionados à Educação Infantil, que na obra Seis Estudos de Psicologia são referidos como: O recém-nascido e o lactente, e a primeira infância de dois a sete anos, mas que no decorrer deste estudo trataremos como Estágio Sensório-Motor e Estágio Pré-Operatório respectivamente. CARACTERIZANDO OS ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO O primeiro período trata do estágio Sensório-Motor, ao qual, nem sempre é dada a devida importância, por não ser acompanhado de palavras que demonstrem o avanço da inteligência. Piaget (2007) aponta-o como de extraordinário desenvolvimento mental. Trata-se do período que se estende do nascimento até a aquisição de linguagem, isto é, compreende os primeiros dezoito ou 24 meses de idade tornando-se decisivo para todo o curso da evolução cognitiva. Nele ocorre a percepção dos movimentos do universo que cerca a criança. São três as etapas desta revolução: dos reflexos; das organizações e das percepções e hábitos; e, da inteligência senso-motora. O recém-nascido, conforme escreve Piaget (2007), tem a vida reduzida ao aparelho reflexo, ou seja, suas coordenações sensoriais e motoras correspondem a tendências instintivas como a nutrição, que representa um papel importante no desenvolvimento psíquico, isto é, ocorre uma assimilação senso-motora. Piaget e Inhelder (2007) destacam os reflexos como de suma importância para o futuro, são o prenúncio da assimilação mental, que se tornam mais complexos por integração nos hábitos e percepções organizadas, adquiridas com a experiência. O autor refere-se aos conjuntos motores, conjuntos que se constroem por um ciclo 30 de reflexos que incorporam novos elementos realizando uma reação circular, que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento senso-motor, de hábitos novos e conjuntos perspectivos, isto é, formam um sistema: “esquemas sensório- motores”, contudo, ressalta que estes hábitos ainda não são a inteligência propriamente dita. Num ato de inteligência, pelo contrário, há a procura de uma finalidade estabelecida desde o início, depois a procura dos meios apropriados, ministrados pelos esquemas conhecidos (ou esquemas de “hábitos”), mas na medida em que já estão diferençados do esquema inicial, que determinava a finalidade da ação. (PIAGET e INHELDER, 2007, p.16) Outro aspecto levantado por Piaget (2007) neste período é o da inteligência prática ou senso-motora. Para o autor, a inteligência ocorre antes mesmo da linguagem, ou seja, antes do pensamento interior, da linguagem interiorizada. Esta inteligência é totalmente prática, refere-se à manipulação de objetos que são utilizados no lugar das palavras e conceitos, um exemplo de inteligência nesse período, é de pegar uma vareta para puxar algo para próximo de si utilizando um instrumento para um objetivo previsto. Assim, para Piaget (2007, p. 20): A finalidade deste desenvolvimento intelectual é transformar a representação das coisas, a ponto de inverter completamente a posição inicial do sujeito em relação a elas. No ponto de partida da evolução mental, não existe certamente nenhuma diferenciação entre o eu e o mundo exterior, isto é, as impressões vividas e percebidas não são relacionadas nem a consciência pessoal sentida como um “eu”, nem a objetos concebidos como exteriores. Os atos de inteligência se constroem, para Piaget (2007), por dois fatores: as condutas anteriores vão se multiplicando e diferenciando até alcançarem resultados de experiência e os esquemas de ação tornam-se capazes de se organizarem entre si, por assimilação recíproca assim como acontecerá depois com as noções do pensamento. Este desenvolvimento intelectual transforma a representação de coisas invertendo a posição inicial que o sujeito tinha anteriormente. 31 Para o autor, no ponto de partida da evolução mental neste período, não existe diferença entre o eu e o mundo exterior, ou seja, as impressões vividas do sujeito não estão incorporadas à consciência pessoal nem mesmo a objetos exteriores, estão expostas ao meio termo, nem externo e nem interno. Piaget (2007) destaca que a consciência se inicia por um egocentrismo inconsciente e integral, até que os progressos da inteligência senso-motora resultem em construção de um universo objetivo. Conforme o autor, a evolução da afetividade durante o período de zero a dois anos de idade, assemelha-se ao das funções motoras cognitivas, “[...] existe, com efeito, um paralelo constante entre a vida afetiva e a intelectual” (PIAGET, 1980, p.22). Ainda para Piaget a afetividade e a inteligência são indissociáveis, e constituem dois aspectos complementares de toda conduta humana: o dos sentimentos e o do pensamento. Esta conduta é a que reestabelece o fortalecimento do equilíbrio. Neste contexto, Piaget (2007) ressalta quatro processos fundamentais que caracterizam a revolução intelectual que ocorre no período de zero a dois anos, as construções de categoria do objeto e do espaço, da causalidade e do tempo que são entendidas como práticas ou ações puras, isto é, não são ainda de noções do pensamento. O esquema do objeto, conforme explica o autor, é a permanência atribuída aos quadros sensoriais, ou seja, é a crença de que qualquer coisa continua a existir mesmo quando não mais se percebe presente. No final do primeiro ano, os objetos serão procurados assim que saem do campo de visão. No que diz respeito a espaço, Piaget (2007) argumenta que a evolução do espaço prático é inteiramente solidária com a construção dos objetos e que é devida à coordenação de movimentos. Existem inicialmente espaços não coordenados e domínios sensoriais como, por exemplo, o espaço visual, bucal, tátil entre outros, sendo cada um deles destinados a atividades próprias. No final do segundo ano, ocorre a conclusão de um espaço geral que compreende os demais caracterizando as relações dos objetos até mesmo de seu corpo. A causalidade conforme explica Piaget (2007) está ligada a atividade em seu egocentrismo, isto é, ocorre uma ligação duradoura para o sujeito entre o resultado e uma ação que lhe chamou atenção. É no final do segundo ano que ocorre o reconhecimento das relações de causalidade. E por último, mas não menos 32 importante o autor menciona o tempo como atrelado à causalidade, este proporciona a mudança no desenvolvimento e permite à inteligência sensório- motora ausentar-se do egocentrismo para situar-se em um universo. Sendo assim, este período de impulsos elementares e reflexivos origina reflexos afetivos que são as emoçõesprimárias. Contudo Piaget e Inhelder (2007) ressaltam que os afetos próprios desse período, inscrevem-se num contexto descrito por M. Baldwin por “adualismo”, isto é, onde não há consciência do eu. Neste momento, a afetividade encontra-se no corpo e na ação deste, pois somente quando ocorre uma dissociação do eu, ocorre afetividade juntamente com cognição. A evolução da afetividade durante os dois primeiros anos dá lugar a um quadro que, no conjunto, corresponde exatamente, àquele estabelecido através do estudo das funções motoras cognitivas. Existe, com efeito, um paralelo constante entre a vida afetiva e a intelectual. (PIAGET, 2007, P. 22) Piaget (2007) apresenta a conduta como um fator a destacar-se na análise da vida mental, para o autor, esta significa um restabelecimento ou fortalecimento do equilíbrio, supondo-se que toda conduta implica instrumentos e técnicas, representando movimentos e a inteligência “[...] sendo assim, é claro que ao primeiro estágio de técnicas reflexivas corresponderão os impulsos instintivos elementares, ligados à alimentação, assim como estas espécies de reflexos afetivos que são as emoções primárias” (PIAGET, 2007, p. 22). Deste modo, o autor destaca que quando ocorrem as primeiras percepções e hábitos surgem uma série de sentimentos elementares ou afetos perspectivos decorrentes da atividade própria, como por exemplo, o agradável e o desagradável, o prazer e a dor, entre outros. Contudo, esses estados afetivos ainda dependem da “ação” e não da consciência das relações mantidas. A criança neste período se interessa pelo seu corpo, seus movimentos e pelos resultados dessas ações. Os psicanalistas “[...] chamaram de narcisismo a este estágio elementar da afetividade, mas é preciso compreender que é um narcisismo sem narciso, isto é, sem a consciência pessoal propriamente dita” (PIAGET, 2007, p. 23). 33 Neste contexto, La Taille (1992) explica que nesse momento, a criança constrói esquemas de ação que compõem uma lógica de ações e percepções, que são identificadas como uma organização da inteligência senso-motora da qual essas ações serão interiorizadas. A despeito disso, Piaget e Inhelder (2007) consideram o desenvolvimento como rápido e importante. Nele a criança elabora o conjunto das subestruturas cognitivas que resultarão em construções perceptivas e intelectuais e também em reações afetivas que determinarão a afetividade seguinte. No estágio pré-operacional ocorre algo que modifica a conduta do aspecto afetivo e intelectual, a linguagem, que torna a criança capaz de reconstruir suas ações anteriores sob a forma de narrativas e de antecipar suas futuras ações na forma verbal. A esse respeito Piaget (2007, p. 24) explica: Daí resultam três consequências essenciais para o desenvolvimento mental: uma possível troca entre os indivíduos, ou seja, o início da socialização e da ação, uma interiorização da palavra, isto é, a aparição do pensamento propriamente dito, que tem como base a linguagem anterior e o sistema de signos , e , finalmente, uma interiorização da ação como tal, que, puramente perceptiva e motora que era até então, pode daí em diante se reconstituir no plano intuitivo das imagens e das experiências mentais. Sendo assim, do ponto de vista afetivo, como destaca Piaget (2007), acontecem diversas transformações e desenvolvimento de sentimentos interindividuais como simpatias, antipatias e respeito. A socialização, o pensamento e a intuição, são três importantes modificações da conduta da criança no referido período. Wadswort (1997) ressalta que é no período de dois a sete anos de idade que a criança tem os primeiros sentimentos sociais bem definidos. Com a linguagem a criança descobre um mundo de realidades superiores a ela, surge o mundo social e o das representações interiores, nesse momento a criança viverá as relações sociais e o pensamento estará em formação com um egocentrismo inconsciente. O autor discute uma das modificações da conduta e a denomina socialização da ação, nesse momento acontece a troca de comunicação entre os 34 indivíduos como consequência do aparecimento da linguagem, “[...] as relações interindividuais se limitam à imitação de gestos corporais e exteriores, e a uma relação afetiva global sem comunicações diferenciadas” (PIAGET, 2007, p. 25). Esta relação interindividual ocorre desde a segunda metade do primeiro ano, por meio da imitação cujo avanço se dá ainda no desenvolvimento senso-motor. De acordo com o Piaget (2007), são três categorias de fatos que se dão como funções elementares da linguagem: relações de coação espiritual exercida pelo adulto sobre a criança; fatores de troca; e, a fala para si própria. Piaget (2007) destaca como fonte de atividades imprevistas e misteriosas das crianças, os pais e adultos que a cercam, que desta forma, são vistos como seres grandes e fortes, que dão ordens e avisos oportunizando, o respeito do pequeno pelo grande “[...], mas mesmo fora desses núcleos de obediência, desenvolve-se toda uma submissão inconsciente, intelectual e afetiva, devido à coação espiritual exercida pelo adulto” (Piaget, 2007, p. 26). Sendo assim, revelam para a criança seus pensamentos e vontades, tornando para ela um universo com sedução e prestígio incomparável. Para Piaget (2007) os fatores de troca são intercomunicações que ocorrem com o adulto ou com outras crianças, que cumprem importante papel para o progresso da ação que modificam as condutas materiais do pensamento. O autor afirma que por volta dos sete anos a criança ainda não sabe discutir e apresenta afirmações contrárias falando como que para si mesma, o que foi denominado “monólogo coletivo” e consiste em uma mútua excitação à ação. A terceira categoria de fatos explicada pelo autor é a de que a criança não fala apenas para as outras, fala para si mesma em monólogos diversos que seguem suas atividades e que constituem boa parte da linguagem espontânea entre as crianças na primeira infância. Ao referir-se à gênese do pensamento, Piaget (2007) afirma que ainda na primeira infância ocorre uma transformação da inteligência, modificação essa advinda das modificações gerais das ações anteriores que de senso- motoras se prolongam com o pensamento sob influência da linguagem e da socialização, isto é, a linguagem conduz à socialização das ações e dá lugar a atitudes e pensamentos. 35 Durante as idades de dois a sete anos, encontram-se todas as transições entre duas formas extremas de pensamento, representadas em cada uma das etapas percorridas durante este período, sendo que a segunda domina pouco a pouco a primeira. A primeira dessas formas é a do pensamento por incorporação ou assimilação puras, cujo egocentrismo exclui por consequência, toda objetividade. A segunda destas formas é a do pensamento adaptado aos outros e ao real, que prepara, assim, o pensamento lógico. (PIAGET, 2007, p.28) Diante disso, Piaget (2007) destaca uma importante atividade real do pensamento, o jogo simbólico. O autor explica que na primeira infância constituem- se jogos que se caracterizam por obrigações comuns, ou seja, as regras do jogo, como por exemplo, brincar de boneca e comidinha, faz com que a criança atue em uma atividade real do pensamento mesmo que ainda egocêntrica, isto é, a criança revive seus prazeres ou conflitos através da ficção. Outro exemplo de atividade real do pensamento é o pensamento intuitivo: “[...] Intuição é o pensamento coerente da criança de dois a sete anos. É muito interessante constatar, o quanto ele prolonga os mecanismos de assimilação e a construção do real, próprias ao período verbal” (PIAGET, 2007, p. 29). Com um caráter egocêntrico do pensamento, a criança da primeira infância faz perguntas abundantes, muitas das vezes os famosos “porquês”. Piaget(2007) explica que elas se fundamentam na razão de ser das coisas, é preciso que haja um esclarecimento dos fenômenos de representação do mundo. Ainda neste momento, a criança não possui um domínio verbal acentuado, como pode ser notado na ação e manipulação. Piaget (2007) descreve na primeira infância uma inteligência prática que prolonga a inteligência senso-motora do período pré-verbal e noções técnicas de desenvolvimento. Por volta dos sete anos a criança permanece pré-lógica pelo mecanismo da intuição, ela interioriza as percepções do movimento através de imagens representativas e de experiências mentais que prolongam os esquemas senso-motores sem coordenação racional. A rigidez e a irreversibilidade são características apontadas por Piaget (2007) como intuições primárias, que podem ser comparadas a esquemas perceptivos e a hábitos que não podem ser revertidos, em suma, a intuição primária é um esquema senso-motor transposto como ato do pensamento. 36 A vida afetiva é um importante aspecto destacado por Piaget (2007) durante a primeira infância. Para o autor, existe um estreito paralelismo entre o desenvolvimento da afetividade e das funções intelectuais sendo estes dois aspectos, indissociáveis da ação. Em toda conduta, como já explicado, existem motivações e dinamismo energético que estão totalmente interligados com a afetividade. Para o autor, não é possível que ocorra uma ação puramente intelectual e atos puramente afetivos, os dois elementos influenciam-se mutuamente. Existem no nível de desenvolvimento, de acordo com Piaget (2007), três elementos essenciais: afeições, simpatias e antipatias que estão ligadas à socialização das ações, o que implica na aparição de sentimentos morais intuitivas, derivadas, das relações entre adultos e crianças de interesses a valores e ao pensamento intuitivo. O autor cita o interesse como outro aspecto elementar, “[...] o interesse é a orientação própria a todo ato de assimilação mental” (PIAGET 2007, p. 37). Isto quer dizer que assimilar mentalmente faz com que a criança incorpore um objeto ao seu eu, sendo assim, o interesse faz parte da vida psíquica, desempenhando um importante papel no desenvolvimento da inteligência. Conforme assevera Piaget (2007) durante a primeira infância, surgem interesses por desenhos, palavras e imagens, sendo assim, com o aparecimento do interesse ou valores da própria atividade, surgem também dois sentimentos de autovalorização, os sentimentos de inferioridade e superioridade, que condicionam as relações afetivas interindividuais. Desde que se torna possível a comunicação entre a criança e o seu ambiente, um jogo sutil de simpatias a antipatias vai-se desenvolver, completando e diferenciando indefinidamente os sentimentos elementares já observados no decorrer do estágio precedente. [...]. É por tanto, com base nesta escala comum que se efetuam as valorizações mútuas. Basta observar a criança na escolha de seus primeiros companheiros para se poder seguir o desenvolvimento das valorizações interindividuais. (PIAGET, 2007, p. 38) 37 Para o autor, a simpatia está interligada às pessoas que respondem aos interesses da criança, isto é, supõe-se uma valorização mútua e uma escala de valores que permitam troca. Já a antipatia se dá pela ausência de gostos comuns e da escala de valores comuns. Piaget denomina o respeito como um sentimento correspondente a essas valorizações, e torna-se composto de afeição e temor e estabelece a desigualdade que intervém na relação afetiva. Para uma melhor compreensão do esquema do desenvolvimento cognitivo e afetivo apresentamos outras características e mudanças, conforme descritas por Wadswort (1997, p.156): Estágio Característica do estágio Principal mudança do estágio Sensório motor 0-18 meses Atividade reflexa apenas, não há diferenciação. Coordenação mão-boca; diferenciação no ato reflexo de sugar. Coordenação mão-olho; repetição dos eventos extraordinários. Coordenação de dois esquemas permanência do objeto. Obtenção de novos meios pela experimentação, acompanhamento das sequencias dos deslocamentos. Representação interna; novos meios através de combinações mentais. O desenvolvimento caminha da atividade reflexa à representação e solução de problemas sensóriomotores. Surgem os sentimentos primitivos de gostar. A afetividade é investida no “eu” Pré- operacional 2-7 anos Problemas resolvidos pelo emprego das representações mentais_ desenvolvimento da linguagem (2-4). Pensamento e linguagem, ambos egocêntricos. Não pode selecionar problemas de conservação. O desenvolvimento caminha da representação sensório-motora ao pensamento pré-lógico e a solução de problemas. Tem início o verdadeiro comportamento social. Intencionalidade ausente nos julgamentos morais. Fonte: Adaptado de WADSWORTH, (1997, p. 156) 38 INFLUÊNCIAS DA AFETIVIDADE NO DESENVOLVIMENTO. De acordo com Piaget (1982), com a linguagem surgem as atividades dirigidas e a descentração da afetividade aparece juntamente com a socialização e ocorre a partir das formas de sentimentos entre os indivíduos. O autor deixa claro que o desenvolvimento social age sobre o desenvolvimento cognitivo e afetivo e a afetividade caminha lado a lado com a cognição no que se refere ao desenvolvimento infantil, todavia, La Taille destaca: Pode-se afirmar, porém, que todo tipo de relação interindividual pede, por parte de seus membros, um pensamento coerente e objetivo? Responder afirmativamente a essa questão significa acreditar que as relações sociais sempre favorecem o desenvolvimento! Ora, Piaget não compartilha deste “otimismo social”. Para ele é necessária uma clara distinção entre dois tipos de relação social: a Coação e a Cooperação. (LA TAILLE, 1992, p.18) La Taille (1992), explica também, que para Piaget, coação social representa toda relação entre dois ou mais indivíduos na qual intervém um elemento de autoridade, isto é, o coagido não tem poder de opinião, não pode divulgar suas ideias. A coação corresponde, para Piaget, a um nível baixo de socialização, onde uma fala e o outro se limita a ouvir e a memorizar, o que propicia um freio ao desenvolvimento da inteligência. Por outro lado, cooperação, explica La Taille (1992) pressupõe a coordenação das operações de dois ou mais sujeitos, a relação interindividual que subtende a socialização, onde há sujeitos que discutem, trocam pontos de vista, argumentos e provas. O desenvolvimento afetivo-cognitivo, e o desenvolvimento social estão interrelacionados, tendo em vista que o conhecimento social é constituído pela criança à medida que ela interage com os adultos e com outras crianças. Segundo Souza (2003, p. 59), “[...] a afetividade sozinha não sustenta a meta, sendo necessária a interferência das funções cognitivas”, contudo, Wadswort (1997) explica que para Piaget a experiência e o meio só têm finalidade se afetarem o desenvolvimento fornecendo nutrientes para o crescimento natural do organismo. 39 Piaget e Inhelder (2007) argumentam sobre o termo “social” do ponto de vista afetivo e cognitivo como realidades bem distintas. Ao falarem sobre o afeto, os autores explicam que consiste nas relações sociais entre as próprias crianças e entre adultos como um processo contínuo e construtivo de socialização e não como transmissão. Já no ponto de vista cognitivo, as relações entre criança e adultos são fonte de transmissão educativa e linguística das contribuições culturais interligadas aos sentimentos morais. Como consequência do desenvolvimento cognitivo e afetivo, Piaget refere o desenvolvimento do raciocínio moral. Piaget e Inhelder (2007) descrevem o sentimento e julgamento moral como um dosresultados essenciais das relações afetivas entre crianças e pais ou com outro adulto, com o objetivo de promover a consciência e obrigações. Apoiandose nos pressupostos de P. Bovet, o autor relata algumas etapas do desenvolvimento moral. A gênese do dever relacionada a uma formação de sentimento de obrigação subordina a criança a duas condições: a de instruções dadas do exterior e a aceitação dessas instruções. Isto quer dizer, conforme explicam Piaget e Inhelder (2007) que ocorre a existência de um sentimento daquele que recebe por aquele que dá, Bovet denomina como respeito composto de afeição e temor, sendo reconhecido por Bovet por respeito unilateral. O autor relata este respeito como aquele que engendra na criança uma moral da obediência que é caracterizada pela heteronomia, que se expressa por reações afetivas próprias do julgamento moral. No realismo moral, Piaget e Inhelder (2007) explicam que as obrigações e valores são determinados pelas instruções e leis e que este conduz o direito e a moral. E, com o progresso das relações sociais, ocorrem novas relações morais, constituídas no respeito mútuo. Wadswort (1997) destaca que para Piaget os sentimentos morais decorrem do que se faz necessário e não do que se deseja fazer. Piaget (2007) descreve os primeiros sentimentos morais como o respeito unilateral com seus pais ou com outro adulto, formando uma moral de obediência e que por meio dela se origina o respeito mútuo, que conduz à novas formas de sentimentos morais distintas da de obediência. Piaget (1996, p.1) faz o seguinte questionamento: “Se queremos alcançar a autonomia da consciência, podemos perguntar se um ensinamento da educação 40 moral é tão eficaz quanto uma pedagogia inteiramente ativa”. De acordo com o autor nenhuma realidade moral é completamente inata, ou seja, o indivíduo constitui-se psicobiologicamente pelas tendências afetivas e ativas. Isso quer dizer que para que se desenvolvam as habilidades morais da criança, é preciso que se relacionem uns com os outros. É sempre verdade, do ponto de vista das experiências psicopedagógica, que é nas relações interindividuais que as normas se desenvolvem: São as relações que se constituem entre criança e adultos ou entre ela e seus semelhantes que a levarão tomar consciência do dever e colocar acima de seu eu essa realidade normativa na qual a moral consiste. Não há, portanto, moral sem educação moral, “educação” no sentido amplo do termo, que se sobrepõe a constituição inata do indivíduo. (Piaget, 1996, p. 03) La Taille (1992) explica a educação moral como a habilidade de fazer com que a criança seja capaz de organizar seus desejos e sentimentos, em nome de um ideal social e a interpretação que se dá a afetividade é de “energia”, isto é, impulsiona e motiva às ações proporcionando o desenvolvimento da inteligência. Do exposto até o momento depreende-se que é preciso que a cognição e a afetividade caminhem juntas de modo que a energia motive a ação e a razão proporciona à criança a possibilidade de identificação de sujeitos e sentimentos de maneira a transformar-se em um adulto consciente e bem resolvido. Desse modo, conforme Wadsworth (1997, p. 37) “O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele pode diminuir o ritmo do desenvolvimento. Ele determina sobre que conteúdos a atividade Intelectual se encontrará”. CONTRIBUIÇÕES DA AFETIVIDADE AO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM Como vimos anteriormente o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição e, ocorre então, a inteligência. Piaget (2007) descreve a inteligência 41 como uma procura do saber, compreender e explicar algo e afirma que a inteligência ocasiona o interesse que varia de um nível mental para o outro e de acordo com desenvolvimento intelectual. Desse modo, “Os interesses de uma criança, dependem, portanto, a cada momento, do conjunto de suas noções adquiridas e de suas disposições afetivas, já que estas tendem a completá-los em sentido de melhor equilíbrio” (PIAGET, 2007, p. 16). Desse modo, verifica-se a existência de estruturas variáveis e de formas de organização da atividade mental no aspecto intelectual, afetivo e nas relações sociais. Ao referir-se à afetividade e à inteligência nas condutas relativas a pessoas, Souza (2003) salienta o aspecto afetivo que, de acordo com Piaget, diz respeito aos afetos interindividuais que provém da tomada de consciência das relações, desenvolvendo uma estrutura de valores. Para Piaget o aspecto afetivo não é predeterminado, ou seja, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a inteligência. E, salienta que todo comportamento apresenta o aspecto afetivo e cognitivo, nem um, nem outro são totalmente puros. Wadswort (1997, p. 38) por sua vez, considera: “[...] o aspecto afetivo como responsável pela dinamização da atividade mental e pela seleção dos objetos ou eventos sobre os quais agir. Conforme a autora, Piaget considera o desenvolvimento cognitivo como tendo três componentes: conteúdo, função e estrutura. O primeiro deles, conteúdo, refere-se àquilo que a criança já tem conhecimento, aos comportamentos observáveis que variam entre diferentes idades e de criança para criança; função refere-se a duas características da atividade intelectual: assimilação e acomodação, que ocorrem continuamente no processo do desenvolvimento cognitivo; e, por fim, estrutura se dá em esquemas que explicam certos comportamentos. Ainda neste contexto, Souza (2003, p. 62) destaca elementos na teoria de Piaget que mostram tal relevância para o fator cognitivo da criança: A questão é: Na elaboração do universo físico, que sentimentos estão presentes? E reciprocamente, na superação do narcisismo, que formas de organização da atividade e de si mesmo ocorrem? As conquistas do bebê nos dois primeiros anos de ocorrem tanto no plano afetivo quanto no cognitivo. Contudo, notamos que Piaget focaliza a explicação 42 cognitiva considerando os elementos afetivos como complementares, e ao mesmo tempo essenciais. Nesta linha de pensamento Piaget (2007) apresenta as intercomunicações como fatores de troca entre adultos e crianças que desempenham um papel decisivo para os programas e ações que transformam as condutas materiais em pensamento. Para o autor, as motivações e o dinamismo provêm da afetividade enquanto as metodologias e os procedimentos empregados resultam do aspecto cognitivo, ou seja, senso-motor ou racional. Os sentimentos refletem raízes hereditárias ou instintivas sujeitas à maturação. La Taille (1992, p. 65) por sua vez reforça: O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações, e a razão está ao seu serviço. Quando a criança faz assimilações e acomodações das experiências que podem ocorrer das operações mentais ou das ações físicas, se desenvolve o conhecimento, explica Wadsworth (1997) de acordo com os pressupostos teóricos de Piaget. As dimensões afetivas têm suma importância no desenvolvimento intelectual que segue um percurso com uma sequência evolutiva, construindo o conhecimento social, cognitivo e afetivo. Piaget e Inhelder (2007) destacam que a inteligência decorre da ação em seu conjunto conforme as transformações do objeto em real e, o conhecimento deriva da assimilação ativa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a realização deste trabalho pudemos observar a importância do termo afetividade. De acordo com o dicionário Brasileiro Globo (1993) o termo refere-se à qualidade do que é afeto, faculdade afetiva, visto que afeto é “[...] 43 sentimento de inclinação
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