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Affonso Henrique sobreira Xavier | 2021 Para darmos início a nossa discussão precisamos entender o quão importantes são a ventilação e perfusão para o desempenho das nossas atividades vitais, pois são elas as responsáveis por desenvolver o gradiente necessário para que o O2 e CO2 se difundam. A ventilação, que requer o bom funcionamento de todos os aspectos mecânicos relativos ao sistema respiratório, está relacionada ao movimento de troca de gases entre os alvéolos e a atmosfera, tendo seu papel na determinação da PO2 e PCO2, possuindo variações em determinados grupos alveolares. Consideramos a perfusão como o deslocamento de gases do sangue em direção ao pulmão e para fora dele, também variando de acordo com a localização dentro deste órgão. Sendo assim, existe uma relação íntima entre ventilação e perfusão, cruciais para determinar a composição de PO2, PCO2 e pH contidas no sangue arterial, em vista da sua importância para as trocas gasosas. É importante entender como ocorre o processo de ventilação, para isso tomaremos como base um indivíduo hígido com massa corporal de 70 kg. A ventilação começa com o processo de inspiração, no qual o ar atmosférico adentra os pulmões. É válido mencionar que nem todo o volume inalado chega aos pulmões tendo em vista que uma parcela significativa ficará retida nas vias aéreas de condução, denominado de espaço morto anatômico, correspondendo a um volume (VEM) de 150mL. Entendendo que a cada ciclo são inspirados um volume corrente (VC) de 500 mL de ar novo, ou seja, onde a PO2 é maior que PCO2, apenas 350 ml chegará aos alvéolos para as trocas gasosas, pois VEM será o primeiro a chegar lá. Na chegada aos pulmões o VC se difunde com VEM havendo uma nova composição de gases nessa mistura. No início da expiração os primeiros 150 mL a deixar o organismo corresponde ao ar novo, que ficou contido nas vias aéreas de condução, os outros 350 mL são de ar velho vindo dos 500 mL exalado dos pulmões, 150 mL desse ar ocuparão o espaço morto anatômico até que se reinicie um novo ciclo. Em relação as pressões, temos que: (1) logo antes da inspiração PO2 cai ao seu valor mínimo e PCO2 atinge seu valor máximo, (2) durante a inspiração PO2 começa subir ao seu valor máximo e PCO2 a reduzir ao seu valor mínimo, em decorrência da mistura de ar que chega aos alvéolos e (3) durante a expiração os valores de PO2 e PCO2 retornam aos valores iniciais (antes da inspiração). 1 Affonso Henrique sobreira Xavier | 2021 A ventilação alveolar (VA) pode ser calcular de duas maneiras, a primeira é fazendo o produto da diferença entre o VC e VEM pela frequência respiratório, a segunda é a partir de uma proporção entre o CO2 produzido pelo metabolismo e fração molar desse gás no ar do alvéolo. Sabendo que isso só é possível caso o indivíduo esteja em estado de equilíbrio, onde todo CO2 que é produzido pelo metabolismo atingi os pulmões e é exalado completamente. Para se obter o valor de PCO2 produzido, os fisiologistas utilizam a medida desse gás no sangue arterial como sendo a mesmo no ar alveolar. Outro ponto interessante é que a VA é inversamente proporcional a PCO2, isso é válido se pensarmos que esse estado de equilíbrio é mantido, ou seja, PCO2 é constante, logo se eu aumento minha VA o CO2 será mais diluído nos alvéolos. Sendo assim, quando alteramos a ventilação automaticamente alteramos mudamos a PCO2 na artéria e no alvéolo, sabendo que as duas devem possuir o mesmo valor. Esse mecanismo é importante para explicar distúrbios ácido-base e a sua compensação respiratória. Cabe aqui explicarmos que há uma variação de ventilação entre os alvéolos. Quando o indivíduo está em pé, a ventilação na base do pulmão é maior do no ápice. Isso ocorre em decorrência da existência da gravidade e lógico da posição, pois caso essa mesma pessoa se coloque em posição deitada, essa variação de ventilação irá tender a se extinguir, assim como se colocada de ponta a cabeça se inverteria a primeira situação. Tudo isso se deve as consequências ligadas a pressão intrapleural (PIP) que somente será gerada quando se há uma diferença de altura e houver gravidade, possibilitando que ocorra diferença de ventilação em cada região, também em decorrência da insuflação inicial dos alvéolos, onde no ápice estes são mais insuflados. Isso seria corrigido, por exemplo, nos astronautas em lugares sem gravidade. Além das condições de gravidade e altura, existem processos patológicos que interferem nessa variação de ventilação. Doenças que interferem na complacência e resistência do pulmão também são importantes para que haja diferença na ventilação alveolar regional, tendo em vista que esses parâmetros definem também a uniformidade ventilatória. São exemplos as doenças pulmonares restritiva e obstrutiva, que causam redução da complacência e aumento da resistência, respectivamente. AIRES|2018 2 Affonso Henrique sobreira Xavier | 2021 A respeito da perfusão precisamos entender primeiramente que a circulação pulmonar trabalha em menor pressão, ou seja, é considerado um sistema de baixa pressão. Essa característica se deve ao fato desses vasos possuírem baixa resistência e alta complacência. A resistência diminuída dos vasos pulmonares se deve ao fator de seres mais curtos e mais largos, permitindo a passagem do sangue com menor trabalho, além disso, as arteríolas dessa circulação possuem menor quantidade de músculo liso e um menor tônus de repouso, conferindo esse caráter de baixa resistência. Em relação a complacência reduzida, sabe- se que ela está associada diretamente a redução da espessura das paredes dos vasos, que possuem menos músculo liso, possibilitando que esses possam receber maior volume de sangue, além de ter maior dilatação em decorrência de um aumento de pressão e têm uma pressão de pulso baixa. Essa complacência possibilita que os vasos alveolares e extra-alveolares sejam deformados por forças externas (distendendo ou fechando). Para entendermos melhor como ocorre essa relação, basta analisar as ações que ocorrem durante o ciclo respiratório (inspiração até expiração). Tomando como o base o volume pulmonar (VP), podemos inicialmente falar sobre os vasos alveolares, que quando há aumento do VP irá gerar uma insuflação dos alvéolos, que por consequência tenderá a esmagar os vasos que o circundam, com isso percebe-se que o aumento do VP causa um aumento na resistência dos vasos alveolares. Com relação aos vasos extra-alveolares, teremos o inverso, quando há um aumento no VP, reduzirá a resistência desses vasos, em decorrência do aumento da pressão transmurral para se conseguir elevar o VP, fazendo com que haja uma dilatação dos valos extra-alveolares. É importante mencionar que durante o estado de repouso alguns vasos podem estar abertos (circulando sangue ou não) e outros fechados. Os vasos abertos sem circulação estão nesse estado devido a diferença de resistência entre os vasos abertos, que por vezes fazem com que os vasos de menor resistência “roubem” o sangue dos de maior resistência. Já os que estão fechados permanecem assim devido a diferença de pressão, que sendo a pressão alveolar maior que a pressão intravascular esses vasos tendem a ficar esmagados. Essa característica permite que a circulação pulmonar tenha uma pressão ainda menor quando se aumenta o fluxo o sanguíneo e/ou a pressão arterial sistêmica, pois o sangue que chegará vai ser distribuído por todos esses vasos, reduzindo a pressão, ou seja, haverá um recrutamento e distensão de vasos para suportar essa variação. Assim como na ventilação a perfusão varia de acordo com a região pulmonar, conforme a posição do indivíduo. Quando a pessoa secoloca em posição de pé, a perfusão será maior na região da base do pulmão em comparação com o ápice. Pelos menos mecanismos citados na ventilação, a perfusão tem variação regional devido a postura e gravidade, portanto se o indivíduo ficar de ponta a cabeça o fluxo se inverterá, tendo o ápice maior perfusão. 3 Affonso Henrique sobreira Xavier | 2021 Toda essa condição pode ser mensurada por variação de pressão entre alvéolo (PA), arteríolas pulmonares (PAP) e vênulas pulmonares (PVP). Assim teremos em cada região: (1) PA>PAP>PVP – condição do ápice, onde há ocorre menor perfusão, devido a PA levar ao esmagamento do vaso; (2) PAP>PA>PVP – condições da região central até o ápice, onde há um aumento da resistência por esmagamento dos vasos em direção a vênula; (3) PAP>>PVP>PA – condição da região do meio do pulmão até a base, haverá pressão suficiente para vencer a PA, reduzindo a resistência, resultando em maior fluxo sanguíneo. Sendo assim, é preciso se fazer uma discussão a respeito da interação entre a ventilação (�̇�) e perfusão (�̇�). Inicialmente é preciso lembrar que quanto maior foi a ventilação em um alvéolo, mais este ficará com a composição de PO2 e PCO2 parecida com a do ar inalado. Assim como a perfusão, quanto mais perfundido for um alvéolo, o ar aí contido terá maior aparência com a composição do sangue venoso misto. Logo, é possível perceber que a relação �̇�/�̇� determina a PO2 e PCO2 alveolar. É válido relatar também, que quando a ventilação está superando a perfusão, há um aumento do PO2 e uma redução da PCO2 no alvéolo, já quando a perfusão está em vantagem, o inverso acontece com as pressões parciais desses gases dentro do alvéolo. Em conclusão, quanto maior for a razão entre �̇� e �̇�, maior será a PO2 alveolar. Em decorrência da gravidade e da postura, quando o indivíduo está em pé, a relação �̇�/�̇� será sempre maior no ápice do que na base, variando de maneira análoga aos mecanismos já supracitados no decorrer desse texto. No base, �̇� é maior �̇�, conforme analisamos até o ápice, percebemos que �̇� tende reduzir, no meio dos pulmões tenderá a se igualar, e no ápice essa relação se inverte, onde �̇� é menor do �̇�. Portanto, na região do ápice do pulmão teremos uma PO2 alveolar maior do que na base. Em decorrência da existência do espaço morte alveolar, a ventilação dessa região sem a presença da perfusão é denominada de ventilação do espaço morto alveolar. Desse modo, esses alvéolos tem o comportamento apenas de via de condução de ar. Nessa situação a relação �̇�/�̇� tenderá ao infinito, pela ausência da perfusão. Quando acontece um bloqueio da condução de sangue para um dado alvéolo, esse sangue é redirecionado para o outros alvéolos normais, tornando-se hiperperfundidos, causando um aumento na razão �̇�/�̇� em todos os alvéolos BERNE & LEVY|2010 4 Affonso Henrique sobreira Xavier | 2021 seguintes e redução da razão em outras regiões. Assim, haverá uma tendência de gera alcalose nos alvéolos a frente desse bloqueio sanguíneo. Esse descompasso gera um pH mais alto (decorrente da baixa PCO2), causando uma reação reflexa de broncoconstrição, desviando o ar do alvéolo pouco perfundido para o hiperperfundido compensando essa falha. Essa reação demorada de bloqueio sanguíneo reduz a entrega de nutrientes para os pneumócitos tipo II, resultando em redução da produção de surfactante, posteriormente afetando a complacência desses alvéolos afetados. Em contrapartida, quando há um bloqueio da condução de ar para uma dada região do pulmão, a tendência a ser seguida é um desvio do sangue que perfunde os alvéolos não ventilados da direita para a esquerda, fazendo com que esse sangue venoso misto (com elevada PCO2) se misture com o sangue vindo de áreas ventiladas (rico em O2), resultando em um estado de hipóxia. Esses bloqueios podem ser causados por diversas vias, dentre elas podemos destacar a inalação de objetos estranhos, ou até mesmo processos patológicos como a asma. Nesses casos de desvio, haverá uma redução na PO2 alveolar, com elevação da PCO2, assim gerando um ambiente de pH baixo, resultado em acidose respiratória, em resposta a essa acidose há um reflexo de vasoconstrição pulmonar hipóxica para compensar esse distúrbio. REFERÊNCIAS: AIRES, M. M. Fisiologia. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2018. BERNE, R. M.; LEVY, M. N. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. BORON, W. F.; BOULPAEP, E. L. Fisiologia Médica. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. BORON & BOULPAEP|2015 BORON & BOULPAEP|2015 5
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