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AULA 1 CERTIFICAÇÃO E ACREDITAÇÃO AMBIENTAL Prof. Klaus Dieter Sautter 2 TEMA 1 – CERTIFICAÇÃO E ACREDITAÇÃO No mercado de hoje temos à disposição diversos mecanismos ligados à gestão da qualidade de atividades, produtos e, até mesmo, serviços. Para a aplicação efetiva desses mecanismos, devemos levar em conta vários aspectos da empresa, como tipo de negócio, mercado, exigências dos clientes, e outros. Entre esses mecanismos, dois deles assumem grande importância, sendo considerados chaves para uma empresa, uma atividade. São os mecanismos de certificação e acreditação. Porém, muitos profissionais ainda confundem estes dois conceitos. O que é certificação e o que é acreditação? 1.1 Certificação Consideramos a certificação como um processo em que todas as atividades da empresa são comparadas a um padrão predeterminado. A empresa escolhe, a partir de seus próprios interesses – sejam estes comerciais, legais, em relação a seus clientes, ou, até mesmo, interesses ambientais – qual padrão quer seguir. Ela implementa as atividades previstas nesse padrão, testa a sua efetividade, e então solicita ao órgão certificador uma auditoria. Essa auditoria é considerada como de terceira parte, em que um auditor especialista naquele tipo de certificação e independente à empresa auditada verifica se esse cumpre, de forma correta, todos os itens previstos nesse padrão predeterminado, isto é, nessa certificação. Podemos dizer que a empresa deve provar que atende todos os requisitos previstos nesse padrão de qualidade escolhido, provendo evidências desse cumprimento. Ao final do processo, se o auditor concluir que a empresa segue todos os requisitos, ele concede a certificação requerida. Podemos concluir que a certificação nada mais é que uma declaração emitida por uma parte especializada, independente e que tenha fé pública para tal, de que a empresa segue os padrões solicitados. O certificado é o documento, digital ou impresso, que comprova a certificação. A certificação pode ser concedida a um profissional (certificação profissional) ou a uma empresa (certificação de produtos, processos e/ou serviços). A certificação profissional atesta o nível de qualificação de um profissional em uma determinada área, declarando-o como especialista, competente e 3 qualificado nessa área. Pode ser obtida a partir de cursos em instituições credenciadas, universidades, conselhos profissionais, entre outros. As certificações profissionais podem incentivar promoções no local de trabalho, proporcionar aumento no salário, facilitar as recolocações profissionais, melhorar o currículo do profissional, e agregar valor à capacidade ao indivíduo. Entre as certificações profissionais, podemos citar: Especialista em Gestão de Qualidade, Gestão de Processos, Tecnologia da Informação, Gestão de Equipes, Gestão Ambiental, entre outros. Já a certificação de uma empresa atesta que ela segue padrões predeterminados de qualidade e funcionalidade, nos seus produtos, processos e/ou serviços. Essas certificações são obtidas em órgãos padronizadores nacionais e internacionais, por meio de suas certificadoras autorizadas. Entre as certificações mais utilizadas e importantes no mundo inteiro, podemos citar: ISO 9001: 2015, que promove um sistema de gestão de qualidade nas atividades da empresa; ISO 45001: 2018, que é uma norma internacionalmente reconhecida, visando a implantação de um Sistema de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional (SGSSO); ISO 2600: 2010, norma para a gestão da responsabilidade social dentro de uma empresa; SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade), para a avaliação de empresas que compõem a cadeia logística prestadoras de serviço para Indústrias Químicas; ISSO 14001, norma para atestar a qualidade ambiental de uma organização; entre outras. 1.2 Acreditação Na acreditação atesta-se se uma empresa é tecnicamente competente em relação à prestação de um serviço ou fornecimento de um produto. É claro que também, assim como na certificação, deve-se atender a uma série de requisitos predeterminados. Porém, na acreditação, a avaliação das conformidades é realizada muito mais profundamente, realizando-se testes chamados de testes de capacidade técnica, comprovando que a empresa tem a capacitação de realizar uma atividade com baixo índice de desvios, ou mesmo nenhum desvio. Esses testes têm a função de determinar a competência técnica da empresa, identificando inconsistências e problemas específicos dentro de sua área de atuação. 4 Um exemplo de acreditação é a ISO IEC 17025: 2015. Essa norma foi criada com o intuito de auxiliar na obtenção da qualidade e melhoria do desempenho de laboratórios de análises. A norma considera a calibração, o ensaio e a amostragem seguida de ensaio. Um laboratório acreditado com a ISO IEC 17025: 2015 comprova que este possui um sistema de gestão, que está de acordo com ela, mas também demonstra competência (capacidade), técnica para realização das análises oferecidas, com o menor índice de erros. Um outro tipo de acreditação é a acreditação hospitalar, da Organização Nacional de Acreditação (ONA). A acreditação hospitalar tem como principais objetivos reduzir os desperdícios de recursos, gerenciar de forma mais eficiente as instituições de saúde, proporcionar processos e serviços de excelência, garantindo a segurança dos pacientes. Essa acreditação é concedida em três níveis diferentes e crescentes, conforme a capacitação da instituição: Nível 1 (Acreditado); Nível 2 (Acreditação Plena) e Nível 3 (Acreditação por Excelência). Quadro 1 – Diferenças e semelhanças entre certificação e acreditação Certificação Acreditação Verificar se a empresa segue padrões predeterminados. Verificar se a empresa é competente para a prestação de um serviço ou fornecimento de um produto. Auditoria de terceira parte, especializada e independente. Auditoria de terceira parte, especializada e independente. Teste de Capacidade Técnica. Fonte: elaborado pelo autor. TEMA 2 – HISTÓRICO DA CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL O ser humano, ao longo de sua evolução, foi desenvolvendo cada vez mais sua capacidade intelectual. Esse desenvolvimento proporcionou que nós pudéssemos aproveitar melhor os recursos ambientais à nossa volta, por exemplo, caçando mais, produzindo fogo, aproveitando peles de animais, dominando a agricultura, criando animais para diversos fins, desenvolvendo mais instrumentos que facilitassem nossas vidas, e assim por diante. Só que isso trouxe um preço a ser pago, tanto para a humanidade, quanto ao próprio Planeta: os danos que infringimos ao meio em que vivemos. 5 Talvez um dos marcos mais importantes tenha sido o advento da Revolução Industrial. Começamos a produzir mais, em economia de escala. Isso proporcionou um barateamento dos produtos, fazendo com que mais pessoas tivessem acesso a eles. Porém, produzindo em maior quantidade e mais barato, começamos a aumentar a demanda de recursos naturais, tanto renováveis quanto não renováveis, produzindo uma quantidade muito maior de resíduos. Assim, destruindo e poluindo os diversos compartimentos ambientais (água, ar e solo). Ao longo do tempo, alguns fatos marcantes foram responsáveis pelo aumento da percepção crítica de especialistas e da própria sociedade, quanto ao impacto que o ser humano está provocando ao Planeta. Entre esses fatos, podemos citar o exposto na Tabela 1. Tabela 1 – Incidentes/acidentes ambientais Ano Incidente/Acidente Descrição 1952 Londres (Inglaterra) – smog (poluição do ar) Devido à queima de carvão para aquecimento das casas no inverno de 1952, e à inversão térmica, formou-se uma camada de poluição, chamada de smog. Acredita-se que 8 mil pessoas morreram devido a essa poluição. 1956 Baía de Minamata (Japão) – poluição por mercúrioPoluição por uma indústria química, na Baía de Minamata, por mercúrio, contaminando toda a cadeia alimentar e provocando mortes e doentes crônicos na população. 1978 Love Canal (EUA) – depósito de resíduos químicos Área residencial contaminada por resíduos químicos, atingindo principalmente crianças. 1986 Chernobyl (União Soviética) – acidente nuclear (Figura 1) Explosão de um reator nuclear. Calcula-se que 80 pessoas morreram rapidamente e mais de 135 mil pessoas tiveram ou ainda terão câncer. 2000 Araucária (PR – Brasil) – vazamento de petróleo Vazamento de 4 milhões de litros de óleo nos rios Iguaçu e Barigui, na região metropolitana de Curitiba; 60% dos animais atingidos morreram. Fonte: elaborado pelo autor. 6 Figura 1 – Chernobyl Crédito: Lux3000/Shutterstock. 2.1 Histórico da certificação ambiental A partir desses e outros incidentes/acidentes ambientais, uma nova consciência começou a surgir dentro das diferentes sociedades. Filósofos e naturalistas, já dos séculos XVII, XVIII e XIX, como Spinoza, Malthus, Darwin e Humboldt, alertavam para os danos gerados pela exploração desenfreada do meio ambiente. As décadas de 1950 e 1960, principalmente pelos seus grandes problemas ambientais, foram chamadas de Décadas da Conscientização, em que as pessoas começaram a perceber mais intensamente os problemas causados pela poluição. Foram nessas décadas que se iniciaram os movimentos ambientalistas pelo mundo, preocupados primordialmente com a contaminação da água e do ar. Em 1972, ocorreu em Estocolmo, na Suécia, a primeira grande conferência mundial sobre o meio ambiente. Aqui concluiu-se que o ser humano não tinha mais o direito de poluir indiscriminadamente. A partir desse momento poluir seria considerado crime. Por isso, muitos países tornaram mais rígida sua legislação ambiental. A década de 1970 foi chamada de Década da Regulamentação e Controle Ambiental. A década de 1980 foi marcada especialmente por grandes acidentes ambientais, como Bhopal (1984, Índia), Chernobyl (1986, União Soviética), Exxon Valdez (1989, Alasca). Decidiu-se que, a partir desse momento, deveria ser feita uma legislação ambiental que previsse os impactos ambientais das empresas, 7 antes mesmo de elas serem construídas. Surgiu daí o EIA-RIMA (Estudo de Impactos Ambientais – Relatório de Impacto no Meio Ambiente). O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a adotar essa ideia. Ainda na década de 1980, foi assinado o Protocolo de Montreal (1987), com o intuito do banimento dos CFCs (Clorofluorcarbono), que eram os responsáveis pela diminuição da camada de ozônio da nossa atmosfera. Em 1989, foi assinado o Acordo da Basileia, que regulamenta o Movimento Transfronteiriço de Resíduos, tendo como grande objetivo diminuir a exportação de resíduos perigosos de países ricos para países pobres. Mas a grande virada na proteção ambiental ocorreu na década de 1990. Foi em 1992 que foi realizada a Rio-92, no Rio de Janeiro, até então o maior encontro sobre meio ambiente já realizado na história da humanidade. Chegou- se à conclusão, nessa conferência, que o ser humano deveria passar de ações isoladas e localizadas de proteção ambiental, para pensar o sistema como um todo. Finalmente o meio ambiente era considerado uma preocupação de toda humanidade. As pessoas e as empresas começaram a assumir custos maiores, visando menor impacto ambiental. Começamos a rever o uso de matérias-primas escassas, uso parcimonioso de energia, reciclagem e desperdício. As relações entre empresas, ONGs (organizações não governamentais) e órgãos fiscalizadores começaram a mudar, visando a chamada responsabilidade solidária, a fim de recuperar a imagem das empresas na sociedade. Foi a partir da Rio-92 que discussões intensas foram realizadas, não só na própria conferência, mas em muitos países, à procura de soluções para a implementação do chamado desenvolvimento sustentável. Essas discussões tiveram um papel decisivo para a criação, tanto por governos, órgãos multilaterais, quanto por empresas privadas, de normas e padrões de qualidade ambiental. Essas regras e normas foram desenvolvidas com o intuito de se introduzir um padrão de gestão ambiental, com a finalidade de reduzir desperdícios e minimizar os impactos causados pelo ser humano ao meio ambiente. As empresas e a sociedade poderiam, assim, produzir mais, com melhor qualidade e utilizando menos recursos ambientais. Começaram então a surgir as primeiras certificações (rotulagens) ambientais. Talvez o primeiro programa de certificação (rotulagem) a ser criado tenha sido o Blauer Engel (Anjo Azul), em 1977, na Alemanha. Esse programa serviu de 8 exemplo para diferentes programas que surgiram após e contém a descrição do motivo pelo qual o produto recebeu o rótulo, como matéria-prima 100% reciclada ou reciclável, entre outros. O Ecolabel surgiu na União Europeia, em 1987, e tinha como intuito promover a produção e o consumo de produtos que tivessem o menor impacto ambiental possível, durante todo o seu ciclo de vida (da produção da matéria- prima original, até a destinação final pós-uso pelo consumidor). Em 1992, a British Standards Institution (BSI – Instituto Britânico de Padronização), publicou a norma de Gerenciamento Ambiental BS 7750. Esse foi o início da uma nova visão sistêmica das certificações ambientais, em que não deveríamos mais analisar somente processos isolados, mas a empresa como um todo, em que um processo pode impactar outro. TEMA 3 – TIPOS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL A fim de contemplar diferentes setores da sociedade e da atividade produtiva, com suas exigências e peculiaridades, respectivamente, diferentes tipos de certificação ambiental foram desenvolvidos. Todas as certificações ambientais têm como objetivo principal, orientar o consumidor sobre quais produtos, processos e/ou serviços são menos impactantes ao meio ambiente. Quais desses contribuem para a diminuição do impacto sobre o meio ambiente. Podemos dividir as certificações ambientais em três grandes grupos: (a) certificações ambientais gerais, que podem ser utilizadas para qualquer tipo de atividade, mas principalmente indústrias; (b) certificações socioambientais agrícolas; (c) certificações socioambientais florestais. 3.1 Certificações ambientais consideradas de cunho geral Neste grupo de certificações colocamos aquelas que podem ser utilizadas em diferentes tipos de atividades humanas, inclusive de forma geral. Entre elas, podemos citar: Atuação Responsável: criada em 1980 pela Canadian Chemical Producers’ Association (Associação Canadense da Indústria Química), a Atuação Responsável hoje alcança mais de 40 países. No Brasil ela é administrada pela Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM). Visa diminuir os impactos ambientais desse ramo industrial, tanto na produção quanto 9 no transporte e no uso de seus produtos. A Atuação Responsável é constituída por Códigos Gerenciais. São eles: Segurança de processos, Saúde e segurança do trabalhador, Proteção ambiental, Transporte e distribuição (SASSMAQ), Diálogo com a comunidade e Gerenciamento de produto; SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade): certificação criada pela ABIQUIM, para dar base a um dos códigos gerenciais preconizados pela Atuação Responsável – Transporte e Distribuição. Empresas químicas que tenham Atuação Responsável, devem contratar basicamente empresas de logística que tenham a certificação SASSMAQ, visando a redução dos riscos no transporte de produtos perigosos; LEED (Leadership in Energy and Environmental Design – Liderança em Energia e Design Ambiental): criada para certificar aquelas edificações que, durante a fase de projeto, construção e manutenção, diminuam seus impactos ambientais, por meiodo uso de matéria prima sustentável, eficiência energética, controle da poluição, uso consciente da água. No Brasil e controlada pelo GBC (Greenbuilding Council Brasil) (Figura 2). Figura 2 – LEED Crédito: Holly Guerrio/Shutterstock. AQUA: Controlado pela Fundação Vanzolini, de São Paulo, a certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental), foi baseada na certificação francesa 10 HQE (Haute Qualité Environnementale), que visa atestar a alta qualidade ambiental de uma construção. Visa obter economia de água e energia no uso da construção, redução de custos, valorização do patrimônio, menores custos de operação e de manutenção durante a vida útil do empreendimento; PROCEL: Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, que visa promover o uso sustentável de energia elétrica, indicando ao consumidor final os aparelhos elétricos disponíveis no mercado que sejam o mais eficiente possível no uso de energia, além de divulgar e desenvolver hábitos sobre o consumo eficiente de energia elétrica no Brasil; ISO 14001: Certificação ambiental criada inicialmente em 1994, já foi revista em 2004 e em 2015. A intenção básica da ISO 14001, e toda a série ISO 14000, é a de fornecer uma abordagem sistêmica da questão ambiental dentro de uma empresa. Estudaremos a ISO 14001 detalhadamente mais tarde. 3.2 Certificações socioambientais agrícolas Sabemos que a agricultura, quando feita sem critérios, pode causar uma série de danos ao meio ambiente, como degradação do solo, da vegetação, e dos recursos hídricos, assim como ameaças à vida dos trabalhadores e das comunidades em sua área de influência. A certificação socioambiental agrícola provê ao consumidor final um indicativo que o produto agrícola que ele consome, vem de áreas manejadas de forma correta, contribuindo para a preservação dos recursos naturais, destacando agricultores que praticam a agricultura sustentável. O conceito das certificações socioambientais agrícolas está baseado no tripé de uma produção agrícola realizada de maneira ambientalmente menos impactante, socialmente justa e economicamente viável. Entre as certificações socioambientais agrícolas mais utilizadas no mundo, podemos destacar: Rede de Agricultura Sustentável, Fair Trade, Global Gap, UTZ, IBD, Ecocert, entre outras. Estudaremos com mais detalhes algumas dessas certificações. 11 3.3 Certificações socioambientais florestais Assim como a agricultura, a Silvicultura, cultivo de florestas plantadas, também pode causar sérios danos ao meio ambiente, se for feita de forma descontrolada. Para tentar minimizar esses danos, certificações socioambientais florestais foram criadas, tendo como pilar a produção florestal feita de maneira ambiental menos impactante, socialmente justa e economicamente viável. Os programas de certificação socioambiental florestal mais difundidos e importantes do mundo são o FSC (Forest Stewardship Council) e o PEFC (Program for the Endorsement of Forest Certification Schemes). Analisaremos com mais detalhes ambos os programas. TEMA 4 – CERTIFICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS AGRÍCOLAS Podemos notar ao longo dos anos uma preocupação muito grande da população em ter uma alimentação saudável, e que provoque menores impactos ambientais. A procura por alimentos com certificações socioambientais, entre elas, alimentos considerados orgânicos, tem aumentado exponencialmente, principalmente pela ascensão da chamada classe média e o aumento do poder aquisitivo de países em desenvolvimento. Para suprir esse mercado e introduzir um novo comportamento entre os produtores agrícolas, diferentes certificações e rótulos ambientais foram desenvolvidos para o setor agrícola. E todos eles têm um lado em comum. São baseados no tripé: produção agrícola ambientalmente menos impactante, socialmente justa, e economicamente viável. Vamos analisar alguns deles. 4.1 Norma Rainforest Alliance para Agricultura Sustentável (RAS) A Norma Rainforest Alliance para Agricultura Sustentável (RAS) tem como objetivo básico dar apoio ao produtor agrícola visando implementar um processo de melhoria contínua da qualidade ambiental dentro da propriedade, aumentar a produtividade e a eficiência do processo produtivo, dar apoio no cumprimento de toda legislação ambiental e trabalhista, atuar na conservação e na preservação dos recursos naturais renováveis e não renováveis. Essa certificação pode ser aplicada tanto em propriedades individuais quanto em grupos ou mesmo em cooperativas. O produtor que detém essa certificação possui um diferencial no 12 mercado nacional e internacional, mostrando ao seu cliente que produz de forma menos impactante ao meio ambiente, respeitando toda a legislação vigente. A RAS possui alguns princípios que devem ser seguidos pelas propriedades certificadas. São eles: Princípio 1 – Sistema eficaz de planejamento e gestão; Princípio 2 – Conservação da biodiversidade; Princípio 3 – Conservação dos recursos naturais; Princípio 4 – Melhores meios de vida e bem-estar humano; Princípio 5 – Produção de pecuária sustentável – aplicado somente no caso de certificação pecuária. Ainda, para fins de auditoria e concessão da certificação, a RAS possui Critérios Críticos e Critérios de Melhoramento Contínuo. Os Critérios Críticos colocam a linha fundamental que o postulante à certificação deve seguir. São relacionados com as questões ambientais, trabalhistas e sociais, que possuem maior risco e, portanto, maior prioridade dentro da propriedade a ser certificada. Já os Critérios de Melhoramento Contínuo formam a base de um sistema de melhoramento contínuo que deve ser implementado dentro da propriedade, ao longo de um período de seis anos, após a sua certificação. Esse melhoramento contínuo é baseado em alguns pontos básicos: 1. Sistemas eficazes de planejamento e gestão; 2. Vegetação nativa; 3. Manejo de vida silvestre; 4. Manejo e conservação de solos; 5. Conservação da água; 6. Qualidade da água; 7. Manejo integrado de pragas; 8. Manejo de pesticidas; 9. Manejo de resíduos; 10. Energia e emissões de gases efeito estufa; 11. Condições de emprego e salariais; 12. Salário decente e necessidades essenciais; 13. Saúde e segurança ocupacional; 14. Relações com a comunidade. 13 A Certificação RAS ainda permite a Certificação em Cadeia de Custódia. Nessa Certificação indústrias e outros que utilizem como base produtos certificados pela RAS podem solicitar a certificação em cadeia de custódia de seus produtos. E, assim, mesmo não sendo produtores, comprovam a seus clientes que utilizam somente matéria-prima com certificação socioambiental agrícola. 4.2 IBD – Instituto Biodinâmico O Instituto Biodinâmico é uma certificadora agrícola, especializada em produtos orgânicos, isto é, produzidos sem o uso de agrotóxicos e adubação mineral. A certificação socioambiental agrícola do IBD possui credenciamento IFOAM (mercado internacional), ISO/IEC 17065 (mercado europeu-regulamento CE 834/2007), Demeter (mercado internacional), USDA/NOP (mercado norte- americano) e aprovado para uso do selo SISORG (mercado brasileiro). O que torna essa certificação orgânica de grande valia ao produtor, pois tem grande alcance internacional. 4.3 UTZ Criada em 2002 com sede em Amsterdam, na Holanda, a certificação UTZ (Bom café, em maia), é especializada em certificação de plantações de café, cacau, chá e amêndoas. É baseada em um código de ética que prega o uso de práticas agrícolas responsáveis e eficiência no gerenciamento da propriedade. O código de Ética é composto pelas seguintes categorias: Gerenciamento da Propriedade; Práticas Agrícolas; Condições sociais e de moradia dos trabalhadores; Meio ambiente. Ainda é possível obter a Certificação em cadeia de Custódia.4.4 RTRS – Associação Internacional de Soja Responsável A RTRS (Associação Internacional de Soja Responsável), tem como missão principal certificar propriedades produtoras de soja, que produzem de forma ambiental menos impactante, socialmente justo e economicamente viável. A certificação RTRS é válida por cinco anos e está baseada no padrão RTRS: Cumprimento Legal e Boas Práticas Empresariais; Condições de Trabalho Responsáveis; Relações Comunitárias Responsáveis; Responsabilidade Ambiental; Práticas Agrícolas Adequadas. É possível a certificação de pequenos 14 agricultores, certificação em grupos e certificações multissites, isto é, quando o mesmo produtor possui diversas propriedades. A certificação RTRS possibilita ainda a chamada entrada progressiva, incluindo requisitos, ao longo do tempo, de melhoria contínua. Para isso, foram criados indicadores em categoria de relevância. Assim o produtor pode adotar progressivamente os critérios, dentro de prazos planejados, a fim de obter a certificação. 4.5 Bonsucro A Bonsucro foi criada a fim de proporcionar ao consumidor final uma alternativa de produção de cana-de-açúcar com menor impacto socioambiental e viabilidade econômica. Essa certificação pode ser utilizada tanto por usinas de álcool e açúcar, quanto pelas propriedades que fornecem às usinas. É constituída por cinco princípios, sendo: 1. Obediência à legislação em vigor no local de instalação; 2. Respeito aos direitos humanos e condições de trabalho; 3. Administração e rastreabilidade da produção, com intuito de aumentar a sustentabilidade; 4. Conservação da biodiversidade e serviços ambientais; 5. Melhoria contínua. Esses cinco princípios ainda são subdivididos em 28 critérios e 69 indicadores. TEMA 5 – CERTIFICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS FLORESTAIS As certificações socioambientais agrícolas têm o intuito de promover a atividade florestal sustentável, isto é, com menor impacto ambiental, socialmente justo e economicamente viável. As certificações mais difundidas no mundo atualmente são o FSC e o PEFC. Vamos discorrer um pouco sobre cada certificação. 5.1 FSC (Forest Stewardship Council) O Forest Stewardship Council (FSC), ou Conselho de Manejo Florestal, é uma organização de cunho mundial, que visa a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável de florestas. É formada por ambientalistas, pesquisadores, engenheiros florestais, empresários, trabalhadores e grupos indígenas, assim como instituições certificadoras. O FSC tem como objetivo básico disseminar o bom manejo florestal, harmonizando benefícios sociais e viabilidade econômica. 15 O processo de certificação do FSC é formado pelas seguintes etapas: 1. Contato inicial – a operação florestal entra em contato com a certificadora; 2. Avaliação – consiste em uma análise geral do manejo, da documentação e da avaliação de campo. O seu objetivo é preparar a operação para receber a certificação. Nessa fase são realizadas as consultas públicas, quando os grupos de interesse podem se manifestar; 3. Adequação – após a avaliação, a operação florestal deve adequar as não conformidades (quando houver); 4. Certificação da operação – a operação florestal recebe a certificação. Nessa etapa, a certificadora elabora e disponibiliza um resumo público; 5. Monitoramento anual – após a certificação é realizado pelo menos um monitoramento da operação ao ano. O FSC possui três modalidades de certificação: Manejo Florestal, Cadeia de Custódia, Madeira Controlada. A Certificação de Manejo Florestal dá a certeza ao consumidor final que a floresta, tanto plantada, quanto nativa, é manejada de forma responsável, seguindo os critérios do próprio FSC. A Certificação em Cadeia de Custódia (CoC) permite a rastreabilidade do produto utilizado, desde a produção da matéria-prima até o consumidor final. Na prática, permite que o consumidor final tenha controle total de onde vem a matéria-prima que é utilizada na produção dos diferentes produtos. Já a Certificação de Madeira Controlada, visa orientar as empresas certificadas pela FSC a evitar que consumam produtos considerados inaceitáveis pela FSC, como: Madeira explorada ilegalmente; Madeira explorada em violação de direitos tradicionais e humanos; Madeira oriunda de florestas nas quais altos valores de conservação estejam ameaçados por atividades de manejo; Madeira oriunda de florestas sendo convertidas em plantações ou uso não florestal; e Madeira de florestas nas quais árvores geneticamente modificadas sejam plantadas. Em 2019, a FSC possuía mais de sete milhões de hectares certificados dentro da categoria de Manejo Florestal, com 131 operações florestais. Já na categoria Cadeia de Custódia, contava com 1050 certificados. 5.2 PEFC (Pan European Forest Certification) O PEFC foi criado em 1999, tendo sede em Genebra, na Suíça. Inicialmente era considerada uma certificação somente de cunho europeu, como 16 mostra o nome, mas hoje é considerada uma certificação mundial com dominância de boa parte do mercado internacional. O diferencial do PEFC é que não é formado por um único tipo de certificação, mas sim um sistema, conforme cada país participante, não possuindo um único procedimento a nível mundial, como o FSC. Permite certificar o manejo florestal e cadeia de custódia. A nível mundial, os critérios a serem seguidos nacionalmente são: respeito à legislação vigente no local de instalação; conservação da biodiversidade; proteção de áreas consideradas de interesse ecológico; proibição das chamadas conversões florestais; proibição do uso de agrotóxicos considerados perigosos e de organismos geneticamente modificados; respeito aos direitos dos indígenas; respeito aos direitos trabalhistas e respeito ao direito de propriedades e às comunidades tradicionais. O Brasil é integrante do sistema PEFC, por meio do Programa Cerflor, que é apoiado, aqui no Brasil, pelo Instituto nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO). 17 REFERÊNCIAS ABIQUIM. Atuação Responsável. Abiquim, s.d. Disponível em: <https://www.abiquim.org.br/programas>. Acesso em: 11 fev. 2020. AQUA. Processo Aqua. Portal Vanzolini, s.d. Disponível em: <https://vanzolini.org.br/aqua/>. Acesso em: 11 fev. 2020. BONSUCRO. Guia para o padrão de produção. Bonsucro, 2017. Disponível em: <https://www.bonsucro.com/wp-content/uploads/2017/04/bonsucro-ps-gdc- portuguese.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2020. FSC. FSC Brasil, s.d. Disponível em: <https://br.fsc.org/pt-br>. Acesso em: 11 fev. 2020. IBD. IBD Certificações, s.d. Disponível em: <https://www.ibd.com.br/>. Acesso em: 11 fev. 2020. MOURA, L. A. B. de. Qualidade e gestão ambiental. 4. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. ONA. Organização Nacional de Acreditação, s.d. Disponível em: <https://www.ona.org.br/>. Acesso em: 11 fev. 2020. PEFC. PEFC, s.d. Disponível em: <https://www.pefc.org/>. Acesso em: 11 fev. 2020. PROCEL. Procel, s.d. Disponível em: <http://www.procelinfo.com.br/main.asp>. Acesso em: 11 fev. 2020. RAS. Rainforest Alliance. Imaflora, s.d. Disponível em: <https://www.imaflora.org/certificacao-socioambiental_agricola.php>. Acesso em: 11 fev. 2020. RTRS. Round Table Responsible Soy. RTRS, s.d. Disponível em: <http://www.responsiblesoy.org/?lang=pt>. Acesso em: 11 fev. 2020. SEIFFERT. M.E. B. Gestão Ambiental: instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São Paulo: Atlas, 2007. UTZ. Programa De Certificação Rainforest Alliance 2020. UTZ, s.d. Disponível em: <https://utz.org/language-landingpage/portuguese/>. Acesso em: 11 fev. 2020.
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