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Marcelle Souza – MED 118 Aminoácidos e anemia falciforme 2° grupo de estudos Anemia é a redução da concentração de hemoglobina no sangue, levando a uma capacidade reduzida de transporte de O2. A anemia falciforme tem caráter hemolítico (ruptura das hemácias) e é uma hemoglobinopatia. 1) Estrutura do grupo heme É um complexo que contém ferro, estando esse preso no centro da molécula e se liga ao oxigênio nas moléculas de hemoglobina. 2) Estrutura e função da hemoglobina É encontrada exclusivamente nos eritrócitos, sua principal função é transportar oxigênio dos pulmões até os capilares dos tecidos. A HbA, principal nos adultos, é composta por quatro cadeias polipeptídicas (duas cadeias α e duas β, unidas por interações não covalentes). O tetrâmero de hemoglobina é composto por dois dímeros αβ idênticos. As duas cadeias polipeptídicas são unidas em especial por meio de interações hidrofóbicas. Em condições normais, apresenta alta flexibilidade. Pode ligar quatro oxigênios. 3) Forma T (desoxiemoglobina) Forma desoxigenada da hemoglobina, é a forma tensa. Nela, os dois dímeros interagem por meio de uma rede de ligações iônicas e ligações de hidrogênio, que restringem os movimentos das cadeias polipeptídicas. É a forma com baixa afinidade pelo oxigênio. 4) Forma R (oxiemoglobina) A ligação do oxigênio à hemoglobina causa a ruptura de algumas ligações iônicas e ligações de hidrogênio entre os dímeros, levando à formação da estrutura R, ou forma relaxada. Nela, as cadeias polipeptídicas têm maior liberdade de movimentos. É a forma com alta afinidade pelo oxigênio. É a doença da hemoglobina S, sendo a mais comum das doenças falciformes. Trata-se de uma doença genética de padrão codominante a nível molecular, é homozigota recessiva. AA: homozigoto para HbA, ausência de HbS AS: heterozigoto, traço falciforme (maior prevalência na África Equatorial – vantagem seletiva, torna-os menos suscetíveis à malária) SS: homozigoto, doente falciforme Doença caracterizada pela forma em foice dos eritrócitos do paciente, resultante da substituição do glutamato, um aminoácido com grupo R polar, pelo aminoácido valina, com grupo R apolar, na posição 6 das cadeias β da hemoglobina. Uma molécula de HbS possui duas cadeias α globina normais e duas cadeias de β globina mutantes. As hemácias se tornam rígidas e de difícil circulação pelos vasos, bloqueando vasos com calibre menor. A célula falciforme apresenta menor capacidade de segurar o oxigênio e possui a membrana mais frágil. As hemácias falciformes são naturalmente destruídas pelo organismo, provocando a anemia. A doença não se manifesta no bebê até que uma quantidade de HbF (muita afinidade com o oxigênio) seja substituída pela HbS, quando os eritrócitos começam a assumir a morfologia falciforme. Ocorre a polimerização no estado de desoxiemoglobina: valina se liga a outros aa apolares de outras cadeias β de outras HbS, gerando uma interação entre as HbS adjacentes que, quando se ligam, se polimerizam, formando fibras e tornando a molécula mais rígida. Essas células frequentemente bloqueiam o fluxo sanguíneo nos capilares de pequeno diâmetro, o que leva à anoxia localizada (privação de oxigênio) no tecido, causando Marcelle Souza – MED 118 dor e, eventualmente, a morte (infarto) das células vizinhas da área do bloqueio. As HbS têm menor capacidade de se deformarem. Cada HbS tem dois glutamatos a menos que a HbA, apresentando carga menos negativa Os eritrócitos são mais rígidos e perdem flexibilidade para atingir a microcirculação – vaso-oclusão A doença é caracterizada por períodos de agudização, as crises de falcização, representadas especialmente pelas crises vaso-oclusivas (CVO). As crises vaso-oclusivas são desencadeadas por processos que aumentam a proporção de desoxiemoglobina (menor oxigenação). Esses processos incluem a diminuição da pressão de oxigênio em decorrência de altitudes elevadas ou de voo em avião não pressurizado; aumento na pCO2, diminuição do pH (decréscimo da afinidade da Hb pelo oxigênio, sendo necessária maior pO2 para atingir determinada saturação de O2), etc. Hemólise crônica – anemia e icterícia (bilirrubina é um metabólito da hemoglobina e sua grande concentração na corrente sanguínea devido à hemólise leva à icterícia). Processo inflamatório crônico Aumento de suscetibilidade a infecções A vida média de um eritrócito na anemia falciforme é de cerca de 20 dias, comparada com os 120 dias para eritrócitos normais. CRISE VASO OCLUSIVA hemólise + concentração de radicais livres ativação do endotélio + vasoconstrição aumento do número de plaquetas (hipercoagulabilidade) + aumento de leucócitos (inflamação) agregado celular e molecular à parede celular obstrução vascular Principais sintomas são dores muito intensas em membros inferiores, coluna lombar e articulações uso de analgésicos potentes, como a morfina Associada à acentuação da anemia e da icterícia indicam aumenta da anemia hemolítica no período de crise Associada a processos inflamatórios e à hipercoagulabilidade Exames laboratoriais: hemograma – aumento de leucócitos e plaquetas, aumento da contagem de reticulócitos (hemácias jovens, já que está tendo muita hemólise). Complicações: cardíacas (infarto), neurológias (AVC), rins (insuficiência renal crônica), baço (disfunção esplênica), pulmonares (Síndrome Torácica Aguda – STA, que envolve febre, dispneia, dor torácica, hipóxia, raio X de tórax opaco). A anemia falciforme é detectada no teste de pezinho Acompanhamento laboratorial deve ser periódico, com terapia voltada para: hidroxiureia (previne as CVO pois estimula a síntese de HbF); antibiótico profilático e acompanhamento rigoroso de órgãos-alvo. O diagnostico padrão ouro da anemia falciforme é a eletroforese. Durante a eletroforese em pH alcalino, a HbS migra mais lentamente em direção ao ânodo do que a HbA, pois possui menos dois glutamatos e, portanto, menor carga negativa 1) A eletroforese é um importante processo amplamente utilizado em laboratórios para separação de moléculas tendo como base suas cargas e massas. Nela, consegue-se separar lipoproteínas, proteínas, RNA e DNA, permitindo, desde estudos minuciosos sobre os compostos a análises sanguíneas de pacientes. Suponha que, em um papel coberto por gel, preparado para o teste de eletroforese, a um pH inalterável de 8.3, Marcelle Souza – MED 118 tenha-se adicionado soluções de alanina, lisina e aspartato. Dados: alanina: pK1= 2.34 ; pK2= 9.69 lisina: pK1= 2.18 ; pK2= 8.95 ; pKR= 10.53 aspartato: pK1= 1.88 ; pK2= 9.6 ; pKR= 3.65 A) O que se observará após ligar a máquina e deixá-la atuando por cerca de 20 – 30 minutos? Alanina: possui pI (pH) igual a 6,015, que é menor do que o pH do meio. Portanto, ela apresenta carga negativa e irá se deslocar para o ânodo. A lisina possui seu pI igual a 9,74, portanto, maior do que o pH do meio, apresentando carga positiva e caminhando em direção ao cátodo. Já o aspartato possui seu pI igual a 2,765; portanto pI menor que o pH do meio, apresentando carga negativa e caminha em direção ao ânodo. B) Caso a máquina permanecesse ligada por dois dias, o que se veria, hipoteticamente, na conformação dos aminoácidos no gel? Ao final de dois dias, a alanina e o aspartato estão no anodo e a lisina no catodo. 2) Paciente do sexo masculino, 17 anos, recorre à UPA com queixa de dores muito intensas em membros inferiores (MMII) associadas a anemia e a icterícia, com início há dois dias (caráter agudo). Quando perguntado se já havia passado por situações semelhantes, o paciente relatou que sofriacom esses sintomas repetidamente desde pequeno. Após uma investigação clínica criteriosa, foi descoberto que o paciente não havia sido submetido ao teste do pezinho quando recém- nascido e que seu pai havia falecido devido a um AVE alguns anos antes. Foi então realizada uma eletroforese de hemoglobina, diante da suspeita de anemia falciforme. A) Qual a relação entre o exame de eletroforese de hemoglobina e a anemia falciforme? A eletroforese de hemoglobina é o exame padrão- ouro para a confirmação do diagnóstico de anemia falciforme. Em uma placa de agarose, são conectados dois polos elétricos: um positivo e um negativo. Amostras de sangue com hemácias lisadas são posicionadas próximas ao polo negativo. Ativando-se o campo elétrico, ocorre o deslocamento das hemeproteínas para o polo positivo, sendo que as moléculas com cargas mais negativas se deslocam mais rapidamente em direção a ele. Considera-se, a partir disso, que a HbA (normal) se deslocará mais rapidamente do que a HbS, uma vez que ela apresenta maiores quantidades de glutamato – aminoácido de carga negativa – do que a HbS (possui valina, um aminoácido neutro, no lugar de glutamato na posição 6 das cadeias β). Além do diagnóstico de doença falciforme, pode também ser determinada a existência de traço falciforme por meio de tal exame, uma vez que indivíduos com o genótipo AS apresentam, ainda que em menores proporções, HbS. B) Com a confirmação de anemia falciforme, como você associaria os sintomas encontrados – dores muito intensas em MMII, anemia e icterícia – com os aspectos bioquímicos e fisiopatológicos da doença? A anemia falciforme apresenta fases de agudização conhecidas como crises de falcização. Essas crises podem ser desencadeadas por diversos eventos, como infecções, que culminam no aumento da concentração de desoxiemoglobina no sangue, promovendo um processo mais acentuado de polimerização das HbS. Desse modo, os sintomas das crises de falcização se devem principalmente a oclusões dos vasos sanguíneos, em especial da microcirculação, gerando isquemia e, consequentemente, hipóxia nas áreas acometidas, culminando caracteristicamente em dores intensas em MMII, coluna lombar e/ou articulações. Além disso, a icterícia e a anemia são causadas pela hemólise crônica dos eritrócitos falciformes, que são mais rígidos e frágeis em relação aos eritrócitos normais, apresentando vida útil média de 20 dias.
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