Buscar

Traumatologia Forense: Energias Mecânicas

Prévia do material em texto

Universidade de Ribeirão Preto 
Faculdade de Direito Laudo de Camargo 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
Traumatologia Forense: Energias Mecânicas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIBEIRÃO PRETO 
Junho/2021 
TRAUMATOLOGIA FORENSE: ENERGIAS MECÂNICAS 
 
 
RESUMO 
 
Este presente trabalho acadêmico tem como finalidade tratar sobre tema traumatologia 
forense, energias mecânicas, bem como o que gera a equimose e sua importância para ordem 
cronológica dos fatos. Para tanto foram utilizadas doutrinas, legislação vigente e jurisprudência, 
em especial o acordão TJ-SP - APL: 00229690420128260482 SP 0022969-04.2012.8.26.0482 
que elucida o tema abordado. 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
A Medicina Legal é um ramo da médica que se ocupa em auxiliar o judiciário no 
esclarecimento dos fatos, os quais necessitam de conhecimento técnico de um médico. O 
principal exemplo da prática da medicina legal é a perícia, um procedimento de suma 
importância para o processo, que possibilita as autoridades competentes a dar andamento as 
investigações, assim como proceder o ajuizamento da ação, baseando-se na verdade dos fatos. 
O tema central a ser abordado ao discorrer do trabalho são as lesões corporais, ramo 
chamado de Traumatologia Médico-Legal ou Traumatologia Forense. É através deste que é 
possível se compreender as causas que geraram lesões em um indivíduo, assim como examinar 
as características e o grau do dano causado. 
As lesões corporais podem ser de natureza leve, grave, gravíssima, seguida de morte ou 
produzidas por ação mecânica. Esta última refere-se a energia mecânica, que é aquela capaz de 
modificar um corpo completa ou parcialmente em seu estado de repouso ou de movimento, 
ocasionando neste, lesões externas ou internas. 
Essas lesões podem ser causadas por armas propriamente ditas, como revolveres e punhais; 
armas eventuais, como machado, facão, foice, faca; armas naturais, como punhos, dentes e pés 
ou ainda qualquer outro meio, como máquinas, veículos, animais, explosões e etc. 
 
 
2 CONSIDERAÇÕES 
2.1 Qual o tipo de ação que gera a equimose 
Dentre os agentes mecânicos citados anteriormente, os instrumentos contundentes (ponta 
não afiada) são os que causam maior dano. Geralmente sua ação é produzida por um choque de 
superfícies, que pode ser tanto ativa (instrumento é atirado contra a vítima) quanto passiva 
(vítima vai em direção ao objeto). 
O fato de a pele possuir elasticidade contribui para que se conserve íntegra e a lesão se 
produza em nível profundo. São várias as lesões contusas, sendo a equimose a lesão mais 
frequente. 
Conforme NEUSA BITTAR (2016, p. 164) equimose é a “infiltração, nas malhas dos 
tecidos, de sangue que extravasou de pequenos vasos dos tecidos abaixo da pele que romperam 
por força de traumatismo”. 
As equimoses mudam de cor com o passar dos dias, até desaparecerem, pois, ocorre no 
corpo o fenômeno de reabsorção do sangue extravasado. 
 
 
2.2 Sua importância para a ordem cronológica dos fatos. 
A equimose se mostra um importante método de aferição temporal, pois além de indicar o 
agente causador e o tipo de agressão, também permitem identificar o tempo decorrido da 
agressão através de sua coloração. 
É utilizado para essa aferição o método chamado “Espectro equimótico de LEGRAND DE 
SAULLE”, que avalia a data da lesão pela sucessão de cores da equimose. Esse método é muito 
importante na realização da perícia para determinar a provável data da agressão e até mesmo se 
havia vida no momento do trauma. 
No primeiro dia a cor da equimose é lívida ou vermelha; no segundo e terceiro dia 
arroxeada; no quarto e sexto dia azul; no sétimo ao décimo dia esverdeada e no décimo segundo 
ao décimo sétimo dia amarela. 
 
2.3 Exemplos de outras lesões contusas, com fundamentação 
As lesões contusas são divididas entre fechadas e abertas. As lesões abertas ocorre m 
quando a pela mantem-se íntegra, apenas os tecidos abaixo são lesados, como é o caso da 
equimose, rubefação, tumefação, hematoma, bossa, entorse, luxação, fratura e rupturas 
viscerais. 
Enquanto as lesões abertas “ocorrem quando a resistência da pele é vencida pelo agente 
contundente, gerando solução de continuidade (rasgando) dos tecidos” (NEUSA BITTAR, 
2016). Como é o caso da escoriação, ferida contusa, esmagamento, síndrome explosiva, 
encravamento e empalamento. 
Dentre as várias espécies mencionadas, vale frisar a escoriação, uma lesão muito comum e 
também popularmente conhecida. Trata-se do trauma da epiderme, ou seja, a camada mais 
superficial da pele, em razão do deslizamento do agente contundente que atua de raspão. 
No indivíduo com vida, a escoriação forma uma crosta avermelhada e vai secando, e após 
a uma semana começa a descolar da pele, resultando em uma cicatriz (marca de escoriação) de 
aspecto rosado esbranquiçado, que tende a desaparecer com o tempo. Essa crosta pode indicar 
a avaliação do tempo, e sua forma e local podem indicar o tipo da agressão. Um exemplo 
comum no direito é a escoriação nos punhos resultante do uso de algemas. 
Agora, no indivíduo sem vida não há formação de crosta, pois não ocorre a eliminação de 
secreção da zona escoriada por falta de circulação. Outra forma importante de se averiguar o 
momento da lesão. 
 
2.4 Os fundamentos considerados neste julgado para levar-se em conta o Laudo Pericial 
a respeito 
No julgado abaixo pode-se observar que a perícia se utilizou do “Espectro equimótico de 
Legrand du Saulle” para determinar, com base na coloração da equimose, o tempo do ato 
delituoso de lesão corporal. 
Apesar desse método não ser absoluto e portar variações, o aspecto da lesão descrita no 
laudo pericial deve ser analisado de forma individual, levando em consideração os fatores 
fisiológicos do indivíduo. 
Com isso, o laudo pericial, quando somado a demais provas, tais como a prova oral, são 
consideradas provas de materialidade suficientes da prática do ato. 
 
APELAÇÃO CRIMINAL – LESÃO CORPORAL – Pleito de absolvição – 
Alegação de ausência de prova da materialidade em razão de eivas no auto de 
exame de corpo de delito – Inocorrência – Perícia despida de qualquer nódoa 
– Equívoco na referência à data dos fatos que constitui mero erro material – 
Dia dos fatos inequívoco nos autos – Alegação de que as equimoses deveriam 
apresentar cor azulada, de acordo com o tempo decorrido – Insubsistência – 
"Espectro equimótico de Legrand du Saulle" que não constitui demonstração 
irrefutável, mas tendência indiciária cronológica – Aspecto roxo ou violáceo 
compatível com a doutrina médico-legal – Divergências, dentro da medicina 
legal acerca da precisão da evolução cromática equimótica – Variáveis de toda 
ordem que podem interferir em tal aspecto – Cor descrita no laudo compatível 
com o histórico médico da vítima – Materialidade demonstrada – Autoria 
evidenciada pela prova oral – Reprimenda aplicada no mínimo – Regime 
inicial mais brando – Concessão da suspensão condicional da pena – Decisão 
incensurável. Recurso desprovido. (TJ-SP - APL: 00229690420128260482 
SP 0022969-04.2012.8.26.0482, Relator: Camilo Léllis, Data de Julgamento: 
26/05/2015, 4ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 01/06/2015) 
 
3 CONCLUSÃO 
 
Com base no que foi apresentado, pode-se observar que a medicina legal, mas 
especificamente, o campo da Traumatologia Forense tem um papel muito importante no âmbito 
judiciário, qual seja, procurar respostas para o judiciário em esclarecimento de casos no qual o 
indivíduo sofra lesões em seu organismo, causadas por forças externas que provocam anomalias 
funcionais ao mesmo. 
Portanto, os laudos periciais tornam-se prova substancial ao processo, e 
consequentemente auxiliam o juízo quanto a aferição da conduta do acusado. Proporcionando 
as partes um julgamento justo e um processo mais célere. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BITTAR,NEUSA. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 5ª edição. 2016 
 
FRANÇA, G. V. Traumatologia Médico-Legal. Em: Medicina Legal. Guanabara Koogan, 8.a 
Ed. Rio de Janeiro. 2008.

Continue navegando