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1 Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe- ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en- contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. multimídia Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. vivenciando Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê- -las com tranquilidade. áreas de conhecimento do Enem Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque- les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza- ção dos estudos e até a resolução dos exercícios. diagrama de ideias Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio- logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. conexão entre disciplinas Herlan Fellini De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. incidência do tema nas principais provas Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. teoria Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta- dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com- preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. aplicação do conteúdo 2 © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados. Autores Joaquim Matheus Santiago Coelho Larissa Beatriz Torres Ferreira Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-07-5 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2020 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 3 SUMÁRIO BIOLOGIA ECOLOGIA ZOOLOGIA CITOLOGIA Aulas 17 e 18: Biomas 6 Aulas 19 e 20: Biomas aquáticos 25 Aulas 21 e 22: Ciclos biogeoquímicos 31 Aulas 23 e 24: Problemas ambientais 39 Aulas 25 e 26: Tipos de reprodução e ciclos de vida 61 Aulas 17 e 18: Moluscos 74 Aulas 19 e 20: Anelídeos 84 Aulas 21 e 22: Artrópodes e equinodermos 91 Aulas 23 e 24: Cordados I 104 Aulas 25 e 26: Cordados II 112 Aulas 17 e 18: Meiose e variabilidade genética 130 Aulas 19 e 20: Gametogênese 139 Aulas 21 e 22: Histologia I 148 Aulas 23 e 24: Histologia II 163 Aulas 25 e 26: Respiração celular e fermentação 171 4 Competência 1 – Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade. H1 Reconhecer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em diferentes contextos. H2 Associar a solução de problemas de comunicação, transporte, saúde ou outro, com o correspondentedesenvolvimento científico e tecnológico. H3 Confrontar interpretações científicas com interpretações baseadas no senso comum, ao longo do tempo ou em diferentes culturas. H4 Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida humana ou medidas de conservação, recuperação ou utilização sustentável da biodiversidade. Competência 2 – Identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais em diferentes contextos. H5 Dimensionar circuitos ou dispositivos elétricos de uso cotidiano. H6 Relacionar informações para compreender manuais de instalação ou utilização de aparelhos, ou sistemas tecnológicos de uso comum. H7 Selecionar testes de controle, parâmetros ou critérios para a comparação de materiais e produtos, tendo em vista a defesa do consumidor, a saúde do trabalhador ou a qualidade de vida. Competência 3 – Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumen- tos ou ações científico-tecnológicos. H8 Identificar etapas em processos de obtenção, transformação, utilização ou reciclagem de recursos naturais, energéticos ou matérias-primas, considerando processos biológicos, químicos ou físicos neles envolvidos. H9 Compreender a importância dos ciclos biogeoquímicos ou do fluxo energia para a vida, ou da ação de agentes ou fenômenos que podem causar alterações nesses processos. H10 Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e(ou) destino dos poluentes ou prevendo efeitos em sistemas naturais, produtivos ou sociais. H11 Reconhecer benefícios, limitações e aspectos éticos da biotecnologia, considerando estruturas e processos biológicos envolvidos em produtos biotecnológi- cos. H12 Avaliar impactos em ambientes naturais decorrentes de atividades sociais ou econômicas, considerando interesses contraditórios. Competência 4 – Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais. H13 Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos seres vivos. H14 Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros. H15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos. H16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos. Competência 5 – Entender métodos e procedimentos próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos. H17 Relacionar informações apresentadas em diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências físicas, químicas ou biológicas, como texto discursivo, gráficos, tabelas, relações matemáticas ou linguagem simbólica. H18 Relacionar propriedades físicas, químicas ou biológicas de produtos, sistemas ou procedimentos tecnológicos às finalidades a que se destinam. H19 Avaliar métodos, processos ou procedimentos das ciências naturais que contribuam para diagnosticar ou solucionar problemas de ordem social, econômica ou ambiental. Competência 6 – Apropriar-se de conhecimentos da física para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científi- co-tecnológicas. H20 Caracterizar causas ou efeitos dos movimentos de partículas, substâncias, objetos ou corpos celestes. H21 Utilizar leis físicas e (ou) químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da termodinâmica e(ou) do eletromagnetismo. H22 Compreender fenômenos decorrentes da interação entre a radiação e a matéria em suas manifestações em processos naturais ou tecnológicos, ou em suas implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais. H23 Avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de energia em ambientes específicos, considerando implicações éticas, ambientais, sociais e/ou econômicas. Competência 7 – Apropriar-se de conhecimentos da química para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científi- co-tecnológicas. H24 Utilizar códigos e nomenclatura da química para caracterizar materiais, substâncias ou transformações químicas H25 Caracterizar materiais ou substâncias, identificando etapas, rendimentos ou implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais de sua obtenção ou produção. H26 Avaliar implicações sociais, ambientais e/ou econômicas na produção ou no consumo de recursos energéticos ou minerais, identificando transformações químicas ou de energia envolvidas nesses processos. H27 Avaliar propostas de intervenção no meio ambiente aplicando conhecimentos químicos, observando riscos ou benefícios. Competência 8 – Apropriar-se de conhecimentos da biologia para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científico tecnológicas. H28 Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou com seus limites de distribuição em diferentes ambientes, em especial em ambientes brasileiros. H29 Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a saúde, a produção de alimentos, matérias primas ou produtos industriais. H30 Avaliar propostas de alcance individual ou coletivo, identificando aquelas que visam à preservação e a implementação da saúde individual, coletiva ou do ambiente. 5 ECOLOGIA: Incidência do tema nas principais provas UFMG Costuma integrar conceitos de ecologia, como relações ecológicas e problemas ambientais, entre si e com diferentes áreas da Biologia. Costuma trazer questões em que seja necessá- rio relacionar conceitos de ecologia com problemas ambientais atuais. Exige a interpretação de imagens, mapas e gráficos. Interações ecológicas e teias alimentares são conceitos recorrentes dentro de ecologia. Prova com poucas questões de ecologia, sendo interação entre os seres vivos (teias alimentares e relações ecológicas) o tema mais recorrente. Questões que misturam diferentes áreas da Biologia, com assuntos como sucessão ecológica, problemas ambientais e relações ecológicas. Problemas ambientais, relações ecológicas e conceitos básicos de ecologia (população, co- munidade, ecossistema) são muito presentes. Teias alimentares, relações ecológicas e pro- blemas ambientais são os principais assuntos. Compreensão de teias e cadeias alimentares, assim como a interação entre os seres vivos, é fundamental para resolver as questões de ecologia, que são interdisciplinares e pedem temas atuais com relação aos impactos ambientais. São recorrentes questões acerca de teias alimentares, relações ecológicas e problemas ambientais, sendo possível que estas tenham interdisciplinaridade com Química e/ou Geografia. Prova com ênfase em problemas ambientais e relações ecológicas. Com perfil similar à Fuvest e questões bem específicas, os temas mais frequentes são problemas ambientais e relações ecológicas. Prova com foco em citologia e genética, portanto, as poucas questões sobre ecologia são concentradas em relações ecológicas e problemas ambientais. Enfoque em conceitos básicos de ecologia, como dinâmica populacional, relações ecológi- cas e teias alimentares. Questões bastante específicas relacionadas a teias alimentares e interações e pirâmides ecológicas. Questões interdisciplinares que cobram conteúdos altamente específicos – costumam aparecer conceitos gerais de ecologia, assim como pirâmides e relações ecológicas. 6 BIOMAS COMPETÊNCIA: 8 HABILIDADES: 28 e 30 AULAS 17 E 18 1. INTRODUÇÃO Com o intuito de organizar a abordagem, será realizada uma pequena revisão sobre ecologia e os níveis de organização por ela estudados. Em seguida, serão abordados os temas biomas e biociclos. O conjuntode organismos da mesma espécie que interagem e habitam uma dada região durante um certo período de tempo constitui uma população. O conjunto de populações de espécies diferentes que interagem e habitam uma dada área durante um perí- odo de tempo forma uma comunidade biológica, biota ou biocenose. O conjunto formado pela interação da biota com o meio físico no qual ela vive é denominado ecossis- tema, que se caracteriza por dois processos: fluxo de energia e ciclo de matéria. Assim, um lago, um rio poluído, uma floresta, um campo, uma praia ou uma caverna são exemplos de ecossistemas. O conjunto de vários ecossistemas interdependentes e que interagem é denominado bioma. A Mata Atlânti- ca, a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga e o Pantanal são exemplos de biomas, uma vez que são constituídos por diversos tipos de ecossistemas associados. O conjunto de vários biomas com características parti- culares é denominado biocora. Por exemplo, a Mata Atlântica, a Amazônia e a Taiga são formações flo- restais inseridas no biocora das florestas, apesar de suas dinâmicas, estruturas e composição de espécies serem diferentes. O conjunto de biocoras com características particula- res de um dado compartimento da Terra denomina-se biociclo. Por exemplo, os biocoras marinhos consti- tuem o biociclo marinho ou talassociclo; os bio- coras terrestres constituem o biociclo terrestre ou epinociclo; e os biocoras de água doce constituem o biociclo dulcícola ou limnociclo. O conjunto de todos os biociclos chama-se biosfera, que também pode ser entendida como a camada ou superfície do planeta, coberta ou não por água, que sustenta, mantém e contém vida. O conceito de bioma O conceito de bioma é fundamental para a com- preensão da distribuição dos seres vivos no planeta. Segundo dois importantes ecólogos, pode-se entend- er o bioma como “um conjunto de ecossistemas ter- restres com vegetação característica, fisionomia típi- ca, com predomínio de certo tipo de clima e vinculado a dada faixas de latitude” (ODUM, 1996); ou ainda como “uma grande área do espaço geográfico, que tem por características a uniformidade de um macro- clima definido, de uma determinada fitofisionomia ou formação vegetal, de uma fauna e outros organismos vivos associados, e de outras condições ambientais, como a altitude, o solo, os alagamentos, o fogo, a sa- linidade, entre outros. Essas características todas lhe conferem uma estrutura e uma funcionalidade peculi- ares, uma ecologia própria” (COUTINHO, 2005). 2. CLIMA TERRESTRE E BIOMAS 2.1. Aquecimento e ventos Todos os biomas terrestres ou os ambientes aquáticos são bem determinados. Nesse sentido, algumas perguntas são fundamentais. Como foram formados ao longo do tempo? Como os seres vivos evoluíram adaptando-se aos biomas? Todos os organismos apresentam uma área de distribuição. É possível encontrar seres vivos em todos os lugares da Terra; sua distribuição, porém, é limitada por fatores, sejam eles bióticos ou abióticos. Organismos são encontrados nos picos gelados de montanhas, nas dunas dos desertos, nas profundezas das regiões abissais oceânicas, em gêiseres (onde a água pode atingir temperaturas de 60 °C), nas regi- ões polares, ou seja, em todos os ambientes. Entretanto, são poucos os organismos que apresentam ampla distribuição, os denominados cosmopolitas. O homem e o falcão-peregrino, por exemplo, distribuem-se por todos os continentes, em várias altitudes, latitudes, cli- 7 mas e habitats, mas, mesmo ocorrendo nessa variedade de condições, essas espécies não ocorrem em ambientes aquá- ticos, representados por 3/4 do planeta cobertos por água. Todos os táxons evoluíram e estão em constante evolução, sempre afetados por eventos geológicos únicos, como os que ocorreram no passado, os que ocorrem atualmente e os que estão por ocorrer. Essa evolução determina a limi- tação a uma área de distribuição do táxon. Contudo, os táxons são extremamente afetados pelas condições variá- veis do ambiente físico. Por exemplo: táxons de ambientes terrestres, cujo padrão de distribuição é determinado pelo clima e pelos diferentes tipos de solo; e os de ambiente aquático, grandemente limitados pelas variações de tem- peratura, salinidade, luz e pressão atmosférica. Nos diversos pontos terrestres, os biomas são influenciados diretamente pelo clima (condições de temperatura, umida- de, etc.). O calor determinado pelas radiações solares é o fator principal que caracteriza os diversos tipos de clima terrestre. A análise dos aspectos que favoreceram a origem da vida revela que a energia solar foi o fator desencadea- dor das reações ocorridas. Com efeito, a energia solar man- tém a vida na Terra, uma vez que, capturada pelas plantas verdes, é convertida em outros tipos de energia, que são utilizadas para o crescimento, manutenção e reprodução de todos os seres vivos. O calor é transferido de um corpo com maior temperatura para aquele com temperatura me- nor através dos seguintes princípios: condução − transferência direta de molécula a molé- cula, sendo mais rápida na matéria sólida; convecção − movimento circular com o deslocamen- to das massas quentes (líquidas ou gasosas), menos densas, para cima, gerando um local ocupado em baixo por massas frias, mais densas; radiação − a passagem de ondas através do espaço ou matéria. O Sol emite calor por meio de radiações que chegam à Terra. Ao encontrar matéria, como água ou solo, essas radiações são absorvidas e a matéria é aquecida. Esse aquecimento, por sua vez, não é uniforme, sendo diferenciado de acordo com a estrutura da matéria. Existem rochas, solos e plantas que absorvem maior quantidade de calor. A água também absorve radiação, mas o aquecimento não fica confinado apenas à camada superficial, como ocorre nos sólidos. Parte desse calor é absorvida pelo ar, principalmente onde o ar é mais mais denso e particularmente se ele contém partículas suspensas de água ou poeira (nuvens). Embora o ar seja aquecido pela radiação solar, o maior aquecimento ocorre na superfície da Terra. Entretanto, por que quanto maiores as latitudes, menor é o calor? Ou seja, por que as temperaturas diminuem na dire- ção dos polos? A Terra tem um formato elipsoidal com um achatamento nos polos. A atmosfera é contínua à superfí- cie terrestre, e a radiação solar atinge a superfície terrestre atravessando a atmosfera, sempre fazendo um ângulo per- pendicular ao eixo longitudinal da Terra. O ângulo de posição da Terra em relação ao Sol e o mo- vimento de translação da Terra são outros fatores a serem considerados. A Terra está posicionada, ou seja, inclinada, formando um ângulo de 23,5° com o eixo perpendicular à sua órbita, e, devido ao seu movimento de translação, isso determina onde haverá maior ou menos calor em relação à linha do equador. Esse aquecimento diferencial da su- perfície da Terra, em diferentes ângulos, explica por que a temperatura média nos trópicos é maior do que nos polos e por que, usualmente, é mais quente ao meio-dia do que ao amanhecer ou ao entardecer. Como a inclinação do eixo polar é fixa, durante o movi- mento de translação, a energia solar atinge mais ora um hemisfério, ora outro, resultando nos ciclos de estações climáticas. Quando a radiação incide perpendicular à linha do equador, ou seja, 0°, e forma um ângulo de 90° com a refração, tem-se o equinócio (20 ou 21 de março e 22 ou 23 de setembro − início da primavera e do outono). Quan- do a incidência ocorre nas linhas dos Trópicos de Câncer ou Capricórnio, tem-se, respectivamente, o solstício Norte e Sul (21 ou 22 de junho e 21 ou 22 de dezembro − início do verão ou do inverno). Devido ao movimento de translação e ao eixo de rotação da Terra, a luz solar incide na faixa do dia mais ao sul no hemis- fério Norte e ao norte no hemisfério Sul. Por isso, pode-se dizer que uma árvore localizada ao sul da linha do Equador receberá mais luz na sua face norte do que na sua face sul.O oposto ocorre no hemisfério Norte. As diferentes durações de dias e noites também caracteri- zam as estações climáticas. Apenas no equador existe um fotoperíodo de 12 horas nas 24 horas do dia. Nos equi- nócios do outono e da primavera, os raios de sol atingem perpendicularmente o equador, as latitudes equatoriais são aquecidas mais intensamente, e, em cada lugar da Terra, a duração do dia é a mesma. 8 No solstício de verão (22 de dezembro), a maior quantida- de de radiação solar atinge diretamente o Trópico de Capri- córnio (23,5° de latitude Sul), e o hemisfério Sul é aquecido mais intensamente com dias mais longos e maiores foto- períodos, enquanto no hemisfério Norte será inverno. Por outro lado, quando o Sol está perpendicular ao Trópico de Câncer (23,5° de latitude Norte), é verão (22 de junho − solstício Norte), enquanto o hemisfério Sul está no inverno, com temperaturas mais baixas e noites mais longas. A sazonalidade do clima aumenta com o aumento de la- titude. Nos círculos árticos e antárticos (66,5° de latitude), existe um dia em cada ano com contínua luz solar (o Sol nunca se põe) durante o verão e um dia de contínua escu- ridão (inverno), marcados pelos respectivos solstícios. Equinócio − ponto da órbita da Terra em que se re- gistra uma igual duração do dia e da noite (hemisfério Sul = 20 ou 21 de março, equinócio do outono, e 22 ou 23 de setembro, equinócio da primavera). Solstício − época em que o Sol passa pela sua maior inclinação boreal ou austral (hemisfério Sul = 21 ou 22 de junho na maior inclinação boreal, e nos dias 21 ou 22 de dezembro na maior inclinação austral). Esse processo mostra as variações de temperatura sazonais e latitudinais, mas deixa de explicar por que o ar fica mais frio quando em grandes altitudes. O monte Kilimanjaro, na Áfri- ca tropical, por exemplo, tem seu pico eternamente coberto com neve e gelo. Por que os picos das montanhas são mais frios do que as regiões mais baixas? Eles não estão mais próximos do Sol? A resposta está nas propriedades termais do ar. A densida- de e a pressão do ar diminuem com o aumento da altitude. Quando o ar na superfície do nível do mar é forçado para as altas elevações, ocorre uma expansão em resposta à menor pressão atmosférica. Nessa expansão, o ar se torna mais frio (esse processo é denominado esfriamento adia- bático). A média de esfriamento do ar seco é de cerca de 10 °C para cada mil metros de elevação, e, na presença de vapor-d’água, a média de esfriamento é de 6 ºC. Esse aquecimento diferencial da superfície da Terra causa também os ventos que contêm calor e umidade e determi- na as áreas de precipitações. Como foi visto anteriormente, o maior aquecimento ocorre no equador, especialmente no equinócio, quando o Sol está perpendicular à superfície. O ar tropical é aquecido e se expande, torna-se mais leve do que o ar dos arredores e se eleva. Essa elevação produz uma área de menor pressão atmosférica sobre o equador. O ar mais denso ao sul e ao norte do equador flui para essa região de baixa pressão, resultando em ventos soprando para a região do equador. Enquanto isso, o ar equatorial que foi aquecido e se elevou fica mais frio adiabaticamente, sendo puxado de volta à superfície, a cerca de 30° latitude Norte e Sul. Essa circulação vertical da atmosfera resulta de três áreas na superfície terrestre, com o ar ascendendo no equador a cerca de 60° de latitude Norte e Sul e descendo a 30° nos polos. Essas massas de circulação de ar produ- zem ventos de superfície que sopram para o equador entre 30° e 0° e para os polos entre 30° e 60°. Entretanto, essas células de ventos, influenciadas pelo aquecimento solar, deslocam-se no sentido da direita, em razão da rotação da Terra. Entenda melhor o processo: a) o sentido de rotação é de oeste para leste, sentido anti-horário; assim, as massas de ar e água circu- lam para a direita na superfície da Terra; b) ao descer nas latitudes 30°, o ar sopra em direção ao equador (alísios), sentido horário no hemisfério Norte e anti-horário no hemisfério Sul, provocan- do precipitações nas zonas tropicais e equatoriais; c) na latitude 30°, a descida de ar frio, proveniente das latitudes 0° e 60°, retira a umidade levando pela superfície para 0º e 60º os ventos alísios e oes- te, respectivamente; d) nas latitudes 20°, devido à descida de ar frio, re- tirando a umidade, ocorre a aridez nas regiões aí localizadas (deserto do Atacama, deserto da Pata- gônia, deserto de Sonora, deserto de Kalaari, deser- to do Saara, deserto do Oriente Médio, deserto do Centro-Oeste da Austrália); e) a movimentação de água (oceano) comporta-se da mesma maneira, provocando a chegada de águas quentes na costa leste dos continentes e águas frias na costa oeste. Os ventos também influenciam as grandes correntes marinhas, no sentido anti-horário no hemisfério Sul e no sentido horário no hemisfério Norte. Nos litorais oeste dos continentes (leste dos oceanos), ocorre uma ressurgência de grande escala. 9 2.1.1. Ressurgência O processo pelo qual a água fria de profundidade sobe à superfície, trazendo nutrientes e muitos organismos, como o fitoplâncton, é denominado ressurgência. Esse fenômeno ocorre quando a água quente superficial é arrastada pelo vento. O transporte vertical é provocado: a) pelo impacto de massas de água de densidades diferentes; b) por regiões onde uma corrente oceânica submarina encontra um obstáculo (talude continental ou ele- vação submarina) que a força a subir; c) como função entre a direção do vento e a orografia do fundo. As regiões de ressurgência são férteis, pois as águas de profundidades contêm diversos nutrientes, e as populações de plânctons, néctons e bentos são sempre numerosas. Ao longo da existência da Terra, o padrão global de cli- ma sofreu poucas mudanças; assim, é possível determi- nar a extinção de biomas devido à tectônica de placas. A importância do paleoclima é determinar locais apropria- dos para populações de grupos ancestrais. A atual dis- tribuição de escorpiões ocorre nas regiões subtropicais e tropicais. Como consequência, pode-se determinar que a origem desse grupo também foi em áreas que ocupa- vam as latitudes de 30° a 0°. O tipo de solo é outro aspecto que deve ser considerado para a compreensão da distribuição dos organismos. O tipo de solo determina, juntamente com o clima, o tipo de vege- tação predominante e, em consequência, os tipos de ani- mais que utilizavam determinadas áreas. 2.1.2. Solos Quase todos os ambientes terrestres podem conter vida, exceto as regiões polares e os picos permanentemente ge- lados das montanhas mais altas. Áreas rochosas ou outros substratos estéreis, criados pela ação vulcânica ou outros eventos geológicos, são gradualmente transformados em regiões que suportam comunidades ecológicas vivas pelo processo de sucessão primária. Esse processo envolve a formação do solo e uma reunião de fatores com desen- volvimento de vegetação, micróbios, plantas e animais. O tipo de vegetação depende primariamente de três fatores: clima, tipo de solo e o estágio de desenvolvimento da ve- getação e do solo. O solo é formado pelo desgaste de rochas em consequ- ência da ação erosiva mais a adição de material orgânico em decomposição. Em geral, o processo pelo qual um novo solo é formado a partir de rochas nuas é longo e complicado. Envolve a quebra do material inicial, a co- lonização por plantas simples e formas microbiais e uma gradual construção e mistura de materiais inorgânicos com a matéria orgânica em decomposição. Um exemplo clássico: em 1883, uma pequena ilha tropical, a ilha de Cracatoa, na Indonésia, sofreu uma tremenda erupção vulcânica que matou toda a biota insular, deixando apenas ro- chas e cinzas. Organismos rapidamente recolonizaram a ilha a partir de grandes ilhas próximas (Java e Sumatra), e, em 1934, apenas 50 anos depois da erupção, 35 cm de solo tinham sido formados com uma exuberante vegetação defloresta tropical úmida com cerca de 300 espécies de plantas. 2.1.2.1. Tipos de solo O conhecimento dos solos vem se desenvolvendo bastan- te, mas, devido à complexidade da distribuição e classifica- ção dos solos, é ainda controverso. Sabe-se que os quatro maiores processos, ou regimes pedogênicos, produziram quatro tipos primários: são aqueles de áreas florestadas frias (solos podzólicos), floresta tropical úmida (solos lateríticos), região com arbustos e vegetação herbácea (calcários) e a região polar (gleização). É importante ob- servar que a correlação entre os tipos de solo e o padrão global de clima determina os biomas terrestres. 3. BIOCICLO TERRESTRE OU EPINOCICLO CONSIDERANDO-SE A ENERGIA RADIANTE E A UMIDADE, PODE-SE DIVIDIR A BIOSFERA EM DIVERSOS BIOMAS TERRESTRES, CUJAS LOCALIZAÇÕES PODEM SER IDENTIFICADAS. FONTE: HTTP://SLIDEPLAYER.COM.BR/SLIDE/2678056/ O biociclo terrestre é constituído por diferentes biomas que sofrem influência de fatores abióticos. Isso significa que conjuntos de fatores abióticos específicos determinam biomas diferentes. Entre os componentes abióticos mais importantes estão a energia radiante recebida na Terra e o vapor de água. Os oceanos são as fontes de vapor de água para o meio terrestre. O vapor é trazido para a Terra 10 BIODIVERSIDADE NO BIOMA TUNDRA 4.2. Taiga A taiga é também denominada floresta de coníferas ou floresta boreal. A taiga está presente no norte do Alasca, no Canadá, no sul da Groenlândia e em partes da Norue- ga, Suécia, Finlândia e Sibéria. Não tem correspondente no hemisfério Sul. Partindo-se da tundra, à medida que se desloca para o sul, a estação favorável torna-se mais longa e o clima mais ameno. Em consequência disso, a vegeta- ção é mais rica, surgindo a taiga. Os abetos e os pinheiros formam uma densa cobertura, impedindo o solo de receber luz intensa. A vegetação rasteira é pouco representativa. O período de crescimento dura três meses, e as chuvas são poucas. Os animais presentes na taiga são aves, alces, lo- bos, martas, linces, ursos, roedores, etc. Enquanto a vege- tação principal da tundra é formada por liquens, musgos e gramíneas rasteiras, a taiga é formada por gimnospermas do grupo das coníferas (pinheiros e abetos). pelo movimento do ar. A água mais aquecida evapora mais facilmente do que a água fria. Assim, quando o ar passa sobre águas oceânicas aquecidas, absorve muito vapor. Quando o ar esfria ao passar para uma área mais fria, o vapor se condensa, precipitando-se sob a forma de chuva, ou se solidifica, caindo sob a forma de neve. Um exemplo disso são as penetrações da massa equatorial continental do verão pelo sul do Brasil, provocando fortes chuvas. Nas regiões de baixa pressão, como ocorre no equador, chove mais do que nas regiões de alta pressão (polos). 4. BIOMAS 4.1. Tundra A tundra localiza-se no Círculo Polar Ártico e não ocorre no Círculo Polar Antártico (polo Sul). Compreende o norte do Alasca e do Canadá, Groenlândia, Noruega, Suécia, Finlân- dia e Sibéria. Recebe pouca energia solar e pouca precipita- ção, geralmente em forma de neve. O solo fica congelado a maior parte do ano. A estação quente é curta e dura somen- te dois meses. Durante ela, ocorre o degelo da parte superior, expondo uma área rica em matéria orgânica, permitindo o crescimento dos seres autótrofos, como as gramíneas, briófi- tas e liquens, que cobrem extensas áreas. O subsolo fica per- manentemente congelado e é denominado permafrost. A tundra apresenta poucas espécies capazes de suportar essas condições desfavoráveis. Existem raras plantas lenhosas, como os salgueiros, que são extremamente baixas e crescem paralelas ao solo. As plantas completam o ciclo de vida num curto espaço de tempo: germinam as sementes, crescem, produzem grandes flores (comparadas com o tamanho das plantas), são polinizadas, fecundadas e frutificam, dispersan- do rapidamente as suas sementes. BRIÓFITAS LIQUENS No verão, surgem aves marinhas, roedores, lobos, raposas, doninhas, renas, caribus, além de enxames de moscas e mosquitos. Observe a seguir uma amostra da biodiversida- de encontrada ao longo do ano na tundra. 11 4.3. Floresta caducifólia ou floresta decídua temperada Esse tipo de mata predomina no hemisfério Norte, no leste dos Estados Unidos, no oeste da Europa, no leste da Ásia, na Coreia, no Japão e em partes da China. A quantidade de energia radiante é maior, e a pluviosidade atinge de 750 a 1.000 mm, distribuída durante todo o ano. As estações do ano são nítidas. Nesse bioma, a maioria dos arbustos e árvores perde as suas folhas no outono, e os animais mi- gram, hibernam ou apresentam adaptações especiais para suportar o frio intenso. As plantas são representadas por árvores dicotiledôneas, como nogueiras, carvalhos e faias. Os animais são representados por esquilos, veados, muitos insetos, aves insetívoras, ursos, lobos, etc. OUTONO−INVERNO: AMARELECIMENTO E QUEDA FOLIAR → CADUCIFOLIA 4.4. Floresta tropical ou floresta pluvial ou floresta latifoliada A floresta tropical se situa na região intertropical. A maior área está na Amazônia; a segunda maior, nas Índias Orien- tais; e a menor, na bacia do Congo (África). O suprimento de energia é abundante, e as chuvas são regulares e fartas, podendo ultrapassar 3.000 mm anuais. A estratificação (separação de formação natural ou artificial em estratos ou camadas) é a principal característica da floresta tropical. A parte superior é constituída por árvores que atingem 40 metros de altura, formando um dossel espesso de ramos e folhas. No topo, a temperatura é alta e a umidade é bas- tante baixa. Abaixo dessa cobertura, há outro estrato de árvores que variam de 5 a 20 metros de altura. FLORESTA TROPICAL Esse estrato médio é quente, mais escuro e mais úmido, apresentando pequena vegetação. O estrato médio se ca- racteriza pela presença de cipós e epífitas. A diversificação de espécies vegetais e animais é muito grande. Os biomas, assim como os climas correspondentes, não po- dem ser delimitados com exatidão porque as variações são graduais. Dessa forma, da tundra para a taiga, por exemplo, há uma vegetação arbustiva. Na passagem do campo para o deserto ou das savanas para a floresta tam- bém aparece sempre uma vegetação de transição. A floresta tropical, também denominada pluvial, ca- racteriza-se pela grande biodiversidade vegetal e animal. Além da vegetação arbórea, há muitos cipós e trepadeiras (lianas), além de diversas epífitas. Na floresta temperada, os representantes das epífitas são os musgos e liquens, mas, nos trópicos, os representantes são samambaias, orquídeas, bromélias. etc. É importante lembrar que epí- fita é a planta que vive apoiada no tronco e galhos das árvores, onde são beneficiadas com maior luminosidade. Observe a seguir um galho coberto por epífitas: RAMO DE UMA ÁRVORE DA FLORESTA TROPICAL RICO EM PLANTAS EPÍFITAS. 4.5. Savanas As savanas são definidas como ecossistemas compostos por estrato herbáceo, muitas vezes contínuo ou compartilhado com estratos arbustivos e arbóreos, que variam na intensi- dade de cobertura vegetal. Geralmente, as savanas ocorrem por influência edáfica (resulta de fatores inerentes do solo) ou pela ação do fogo e, muitas vezes, decorre de origem an- trópica. Além desses fatores, o clima pode ser determinante para o estabelecimento e definição de fisionomias savânicas. Na África, podem ser encontradas savanas em regões mais secas no norte do continente, onde o predomínio de indiví- duos arbustivo-arbóreos é menor. Os solos são altamente lixiviados e arenosos. Em geral, possuem baixa capacidade de troca catiônica, são pobres em fósforo e nitrogênio e ricos em alumínio e ferro. O clima das regiões savânicas tropicais apre- 12 senta variações sazonais com altas e baixas temperaturas, com duas estações definidas, uma chuvosa e outra seca. A composição florística das savanas tropicais varia muito en- tre as regiões de ocorrência.A vegetação lenhosa é composta por espécies e gêneros característicos nos diferentes conti- nentes. Não obstante, o componente herbáceo de todas as savanas tropicais tem o predomínio de apenas duas famílias, sendo, portanto, menos biodiverso. Os continentes america- no, africano, asiático e a Oceania, especialmente a Austrália, abrigam savanas tropicais em uma área com cerca de 23 mi- lhões de km2. Na África, as savanas ocupam extensas regiões em um cinturão quase contínuo, composto por um mosaico savânico, onde varia o predomínio de gramíneas, arbustos e árvores devido a diferenças climáticas e edáficas. Podem ser identificados campos abertos xerofíticos (vegetação de regi- ões áridas) e uma savana florestada, denominada localmente miombo. As savanas asiáticas, em que predominam campos abertos, ricos em vegetação herbácea, recebem a denomina- ção de patanas. Entretanto, savanas verdadeiras são raras na Ásia, sendo, em sua maioria, de origem antrópica. As savanas também podem ser encontradas nas ilhas da Oceania, além da Austrália, onde estão sob influência de temperaturas menores e maior quantidade de chuvas. Todas elas, porém, permanecem sob influência de um gradiente de precipitação. As savanas neotropicais, além de serem obser- vadas na América Central e em Cuba, estendem-se também em duas grandes áreas na América do Sul. Ao sul do equador são encontrados, além do cerrado, no Brasil, os llanos de mochos, na Bolívia, aos pés da cordilheira dos Andes, ocu- pando uma extensa área periodicamente inundada, caracte- rizada por uma vegetação que varia de campos graminosos a florestas perenifólias. Em regiões tropicais e subtropicais, as savanas são próprias de climas que apresentam precipitações pluviométricas regulares entre 750 e 1.500 mm. No Brasil, quando a precipitação se torna irregular e inferior a esse li- mite, a formação vegetal que passa a ocorrer é a caatinga, também denominada savana-estépica, vegetação exclusiva do semiárido brasileiro. Entretanto, a caatinga não é con- siderada uma formação vegetacional savânica. SAVANA NEOTROPICAL − CERRADO SAVANA TROPICAL AFRICANA FAUNA DA SAVANA AFRICANA. 4.6. Campos Os campos são biomas que se caracterizam por apresentar um único estrato de vegetação. Apesar de possuírem gran- de variação de espécies, verifica-se um pequeno número de indivíduos de cada espécie. A localização dos campos é muito variada: centro-oeste dos Estados Unidos, centro- -leste da Eurásia, parte da América do Sul (Brasil e Argenti- na) e Austrália. Durante o dia, a temperatura é alta; à noite, porém, é baixa. Há muita luz e vento e pouca umidade. Predominam as gramíneas. Os animais, dependendo da re- gião, podem ser: antílopes-americanos e bisões, roedores, muitos insetos, gaviões, corujas, etc. ESTRATO ÚNICO DE VEGETAÇÃO NO BIOMA CAMPOS 4.7. Desertos Os desertos apresentam localização muito variada e se caracterizam por uma vegetação muito esparsa. O solo é extremamente seco, podendo ser arenoso ou pedregoso. Possuem clima árido, com pluviosidade baixa e irregular, 13 permanecendo abaixo de 250 mm anuais. Durante o dia, a temperatura é alta, mas, à noite, ocorre perda rápida de calor, que se irradia para a atmosfera, e a temperatura se torna excessivamente baixa. As plantas que se adaptam ao deserto geralmente apresentam um ciclo de vida curto. Durante o período favorável (chuvoso), observa-se uma vegetação sazonal, que cresce, floresce, frutifica, dispersa sementes e morre. As plantas perenes (com ciclo de vida longo), como os cactos, são denominadas xerófitas, isto é, possuem um conjunto de adaptações para sobreviver nessas condições adversas de solo e clima. Essas plantas apresentam sistemas radiculares superficiais que cobrem grandes áreas. Essas raízes estão adaptadas para absorver as águas das chuvas passageiras. O armazenamento de água é muito grande (parênquimas aquíferos). As folhas são transformadas em espinhos (economia de água), e o caule passa a realizar fotossíntese. VEGETAÇÃO ESPARSA NO BIOMA DESERTO Os consumidores são predominantemente roedores, ob- tendo água do próprio alimento que ingerem ou do or- valho. No hemisfério Norte, é comum serem encontrados nos desertos arbustos distribuídos uniformemente, como se tivessem sido plantados em espaços regulares. Esse fato é denominado amensalismo, ou seja, os vegetais pro- duzem substâncias que eliminam outros indivíduos que crescem ao seu redor. O CACTUS CEREUS É UMA TÍPICA XERÓFITA, COM LONGAS RAÍZES E UM CAULE TIPO CLADÓDIO, VERDE PARA REALIZAR A FOTOSSÍNTESE EM LUGAR DAS FOLHAS, QUE SÃO MODIFICADAS EM ESPINHOS PARA REDUZIR A TRANSPIRAÇÃO E POSSIBILITAR O ACÚMULO DE RESERVAS, TANTO DE ÁGUA QUANTO DE ALIMENTOS NOS PARÊNQUIMAS DE RESERVA. 5. OS BIOMAS BRASILEIROS Os biomas são conjuntos de ecossistemas que interagem formando uma unidade paisagística coerente. Cada bio- ma terrestre se caracteriza pelo tipo vegetal ou estrato dominante: árvores (arbóreo), ervas (herbáceo), arbustos (arbustivo), formações mistas, etc. Com efeito, o bioma é um grupamento de fisionomia homogênea e independente da composição florística. Trata-se de uma área geográfica grande e sua existência é controlada pelo macroclima. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS BIOMAS BRASILEIROS 5.1. Floresta Amazônica Trata-se de um ecossistema frágil. A floresta vive do seu próprio material orgânico. O ambiente é úmido e as chuvas são abundantes. A menor imprudência pode causar danos irreversíveis ao seu equilíbrio delicado. A taxa anual de desmatamento na Amazônia cresceu 34% depois da Rio-92. Na Amazônia, vivem e se reproduzem mais de um terço das espécies existentes no planeta. Ela é um gi- gante tropical de 5,5 milhões de km2, dos quais 60% estão em território brasileiro. Biomas Brasileiros FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo 14 LOCALIZAÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA O restante se reparte entre as duas Guianas, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Além de 2.500 espécies de árvores (um terço da madeira tropi- cal do mundo), a Amazônia também abriga muita água. O rio Amazonas − a maior bacia hidrográfica do mundo, que cobre uma extensão aproximada de 6 mi- lhões de km2, corta a região para desaguar no oceano Atlântico, lançando no mar, a cada segundo, cerca de 175 milhões de litros de água. Esse número corresponde a 20% da vazão conjunta de todos os rios da Terra. Nessas águas se encontra o maior peixe de água doce do mundo: o pirarucu, que atinge até 2,5 metros de comprimento. Todos os números que envolvem indicadores desse bioma são expressivos. Uma boa ideia da exuberância da floresta está na fauna local. Das 100 mil espécies de plantas que ocorrem em toda a América Latina, 30 mil estão na Amazônia. A diversidade em espécies vegetais se repete na fauna da região, como os insetos, que estão presentes em todos os extratos da floresta. Os animais rastejado- res, anfíbios e aqueles que tem a capacidade de subir em locais íngremes, como o esquilo, exploram os níveis baixos e médios. Os locais mais altos são explorados por beija-flores, araras, papagaios e periquitos à procura de brotos, frutas e castanhas. Os tucanos, voadores de curta distância, exploram as árvores altas. No nível intermedi- ário, encontram-se jacus, gaviões, corujas e centenas de pequenas aves. No extrato terrestre, vivem jabutis, cutias, pacas, antas, etc. Os mamíferos aproveitam a produtivi- dade sazonal dos alimentos, como os frutos que caem das árvores. Esses animais, por sua vez, servem de ali- mentos para grandes felinos e cobras de grande porte. Mais de 12% da área original da floresta Amazônica já foram destruídos por causa de políticas governamentais inadequadas, modelos inapropriados de ocupação do solo e pressão econômica, que levou à ocupação desor- ganizada e ao uso não sustentável dos recursos naturais. Muitos imigrantes foram estimulados a se instalar na região, levando com eles métodos agrícolas impróprios para a Amazônia. Uma das medidastomadas pelo governo para proteção da floresta foi a moratória de dois anos, a partir de 1996, para concessão de novas autorizações para a exploração de mogno e virola. Como o desmatamento de florestas tropicais representa uma ameaça constante à integridade de centenas de culturas indígenas, essas medidas pos- suem importância significativa. Os projetos que defendem a conservação ou o manejo adequado da virola são fundamentais. A espécie, que chegou a ocupar o segundo lugar em valor na pauta de exportações de madeiras brasileiras, praticamente não é mais explorada comercialmente devido ao esgotamento das florestas nativas do gênero. JO mogno, por sua vez, biologicamente adaptado às per- turbações naturais, não se regenera bem quando está sujeito a práticas de corte seletivo, isto é, quando somen- VIVENCIANDO A vegetação apresenta uma grande biodiversidade no planeta. Devido a um gradiente térmico latitudinal produzido pela incidência de irradiação solar, formaram-se três grandes áreas: os polos, as áreas temperadas e a área equatorial. Em cada grande área, são encontrados diversos biomas, que se caracterizam por uma fauna e uma flora específicas. Por meio da caracterização e compreensão da estrutura e do funcionamento dos biomas, pode-se elucidar a distri- buição geográfica dos seres vivos na Terra. 15 te uma (mogno) ou poucas espécies são cortadas. O seu plantio tem sido extremamente difícil devido à suscetibili- dade a pestes naturais. Infelizmente, na última reunião da Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Es- pécies Ameaçadas), realizada em junho de 1997, o mog- no não foi incluído no Apêndice II. A Cites regulamenta o comércio de espécies com valor comercial sob risco de extinção. O Apêndice II estabelece que o comércio inter- nacional dessas espécies só pode ser realizado com a per- missão de exportação dada por uma autoridade científica local − atestando a sustentabilidade da exploração − e também por uma autoridade administrativa. 5.2. Mata Atlântica A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. Cobria 1 milhão de km2, ou 12% do território nacional, estendendo-se do Rio Gran- de do Norte ao Rio Grande do Sul. Hoje, está reduzida a apenas 7% de sua área original. Apesar da devastação sofrida, é espantosa a riqueza das espécies animais e ve- getais que ainda se abrigam na Mata Atlântica. Em algumas regiões remanescentes de floresta, os níveis de biodiversidade são considerados os maiores do pla- neta. Em contraste com essa exuberância, as estatísticas indicam que mais de 70% da população brasileira vive na região da Mata Atlântica. Além de abrigar a maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a área original da floresta sedia também os grandes polos industriais, petroleiros e portuários do Brasil, responden- do por nada menos de 80% do PIB nacional. LOCALIZAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA A Mata Atlântica abrange as bacias dos rios Paraná, Uru- guai, Paraíba do Sul, Doce, Jequitinhonha e São Francisco. Espécies imponentes de árvores são encontradas na região, como o jequitibá-rosa, de 40 metros de altura e 4 metros de diâmetro. Diversas outras espécies também se destacam nesse cenário: o pinheiro-do-paraná, o cedro, as figueiras, os ipês, a braúna, o pau-brasil, etc. Na diversidade da Mata Atlântica, são encontradas matas de altitude, como as da serra do Mar (1.100 metros) e Itatiaia (1.600 metros), onde a neblina é constante. Paralelamente à riqueza vegetal, a fauna é exuberante. A maior parte das espécies de animais brasileiros ameaçados de extinção é originária da Mata Atlântica, como os micos-leões, a lontra, a onça-pintada, o tatu-canastra e a arara-azul-pequena. Fora dessa lista, também vivem na área gambás, tamanduás, preguiças, antas, veados, cotias, quatis, etc. Para risco de todas essas espécuies, a Mata Atlântica continua sendo devastada. PERCEBE-SE QUE A MATA É ESTRATIFICADA: A) ESTRATO SUPERIOR: COM ÁRVORES QUE PODEM ALCANÇAR ATÉ 30 METROS DE ALTURA; B) ESTRATO INTERMEDIÁRIO: COM ÁRVORES E PALMEIRAS QUE ATINGEM ATÉ 20 METROS; C) ESTRATO INFERIOR: COM PEQUENAS ÁRVORES, ARBUSTOS E SAMAMBAIAS QUE CHEGAM ATÉ 5 METROS; E D) ESTRATO HERBÁCEO: COM GRANDE QUANTIDADE DE PLÂNTULAS EM CRESCIMENTO. A Mata Atlântica propiciou lucro fácil ao homem durante 500 anos. Madeiras, orquídeas, corantes, papagaios, ouro, produtos agrícolas e muito mais serviram ao enriqueci- mento de muita gente, além das próprias queimadas, que deram lugar a uma agricultura imprudente e insustentável. Durante muito tempo, nenhuma restrição foi imposta a essa ganância por dinheiro. A Mata Atlântica é o ecossiste- ma brasileiro que mais sofreu os impactos ambientais dos ciclos econômicos da história do país. Ainda no século XVI, houve a extração predatória do pau-brasil, utilizado para tintura e construção. A se- gunda grande investida foi o ciclo da cana-de-açú- car. Constatada a fertilidade do solo, extensos trechos de Mata Atlântica foram derrubados para dar lugar aos canaviais. No século XVIII, foram as jazidas de ouro que atraíram para o interior um grande número de por- tugueses. A imigração levou a novos desmatamentos, que se estenderam até os limites com o cerrado, para a implantação de agricultura e pecuária. No século seguinte, foi a vez do café, provocando a mar- cha ao sul do Brasil e, então, chegou a vez da extração da madeira. No Espírito Santo, as matas passaram a ser derrubadas para o fornecimento de matéria-prima para a indústria de papel e celulose. Em São Paulo, a implan- tação do Polo Petroquímico de Cubatão tornou-se conhecida internacionalmente como exemplo de poluição urbana. Esse processo desorientado de desenvolvimento 16 ameaça inúmeras espécies, algumas quase extintas, como o mico-leão-dourado, a onça-pintada e a jaguatirica. Imagens de satélite foram cruzadas com os limites muni- cipais, rede hidrográfica e mapa das unidades de conser- vação. O detalhamento revelou que a floresta mais pró- xima da extinção é a umbrófila mista, enquanto a mais protegida em parques e estações é a umbrófila densa, a floresta das encostas litorâneas. Foram classificados ain- da os desmates na mata estacional semidecidual, esta- cional decidual e umbrófila aberta. A regeneração só foi computada em estágio avançado, isto é, mata secundária com árvores adultas e dossel fechado. 5.3. Cerrado Os viajantes que, há décadas, desbravaram o interior do Brasil atravessaram extensas áreas cobertas por um tapete de gramíneas com arbustos e pequenas árvores retorcidas. A primeira impressão era de uma vegetação seca, marcada por queimadas. De perto, porém, o cerrado apresentava toda a sua beleza de flores exóticas e plantas medicinais desconhecidas da medicina tradicional, como arnica, catuaba, jurube- ba, sucupira e angico. Somava-se a isso uma grande variedade de animais. O equilíbrio desse sistema, cuja biodiversidade pode ser comparada à amazônica, é de fundamental importância para a estabilidade dos de- mais ecossistemas brasileiros. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO CERRADO A extensa região central do Brasil é constituída por um mosaico de tipos de vegetação, solo, clima e topogra- fia bastante heterogêneos. O cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira, superado apenas pela flores- ta Amazônica. São 2 milhões de km2 espalhados por dez estados. O cerrado é uma “savana” tropical, na qual a ve- getação herbácea coexiste com mais de 420 espécies de árvores e arbustos esparsos. O solo, antigo e profundo, ácido e de baixa fertilidade, tem altos níveis de ferro e alumínio. Contudo, o cerrado tem a seu favor o fato de ser cortado por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), o que favorece a manutenção de uma biodiversidade surpreendente. Estima-se que a flora da região possua dez mil espécies de plantas diferentes (muitas delas usadas na produção de cortiça, fibras, óleos, artesanato, além do uso medicinal e alimentício).Isso sem contar as 400 espécies de aves, 67 gê- neros de mamíferos e 30 tipos de morcegos catalogados na área. O número de insetos é surpreendente: apenas na área do Distrito Federal, há 90 espécies de cupins, mil espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas. Depois da Mata Atlântica, o cerrado é o ecossistema brasilei- ro que mais alterações sofreu com a ocupação humana. Um dos impactos ambientais mais graves na região foi causado pelos garimpos, que contaminaram os rios com mercúrio e provocaram o assoreamento (acúmulo de detritos e ou- tros materiais nos leitos de rios e lagoas) dos cursos de água. A erosão causada pela atividade mineradora tem sido tão intensa que, em alguns casos, chegou até mesmo a impossi- bilitar a própria extração do ouro rio abaixo. Nos últimos anos, porém, é a expansão da agricultura e da pecuária que vem representando o maior fator de risco para o cerrado. A partir de 1950, tratores começaram a ocupar sem restrições os habitats dos animais. O uso de técnicas de aproveitamento intensivo dos solos tem pro- vocado, desde então, o esgotamento de seus recursos. A utilização indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes tem contaminado também os solos e as águas. A expansão agropecuária foi o fator fundamental para a ocupação do cerrado em larga escala. Em relação à conservação e proteção, a fauna da região também recebe pouca atenção. O resultado é que o cerra- do está acabando: metade da sua área já foi desmatada, e, se esse ritmo continuar, o desmatamento vai chegar a 70%. Essa situação está causando a fragmentação de áre- as e comprometendo seriamente os processos mantenedo- res da biodiversidade do cerrado. 5.4. Caatinga Na língua indígena, caatinga quer dizer “mata branca”. O cenário árido é uma descrição da caatinga, que, durante o prolongado período de seca, correspondente ao inverno. Quando chega o verão, as chuvas encharcam a terra, e o verde toma conta da região. A caatinga se distribui pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernam- buco, Sergipe, Alagoas, Bahia, sudeste do Piauí e norte de Minas Gerais. 17 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA CAATINGA Os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem nos 800 mil km2 de caatinga nem sempre podem contar com as chuvas de verão. Quando não chove, os habitantes do ser- tão sofrem muito. Precisam caminhar quilômetros em bus- ca da água dos açudes. A irregularidade climática é um dos fatores que mais interfere na vida do sertanejo. Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não con- segue armazenar a água que cai, e a temperatura elevada (médias entre 25 ºC e 29 ºC) provoca intensa evaporação. Por isso, somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura se tor- na possível. Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semideser- tos nublados, mas sem chuva. O vento seco e quente não refresca, incomoda. A vegetação xeromorfa adaptada ao clima apresenta muito escleromorfismo, que a protege. As folhas, por exemplo, são finas ou inexistentes. Algumas plantas armazenam água, como os cactos, outras se carac- terizam por terem raízes praticamente na superfície do solo para absorver rapidamente o máximo da chuva. Algumas das espécies mais comuns da região são a amburana, aroeira, umbu, baraúna, maniçoba, macambra, mandacaru e juazeiro. A ação humana tornou ainda mais difícil a vida no ser- tão. Fazendas de criação de gado começaram a ocu- par o cenário na época do Brasil colônia. Os primeiros a chegar pouco entendiam da fragilidade da caatinga, cuja aparência árida denuncia uma falsa solidez. Para combater a seca foram construídos açudes para abastecer de água os homens, seus animais e suas lavouras. Desde o Império, quando essas obras tiveram início, o governo prossegue com o trabalho. Os grandes açudes atraíram fazendas de criação de gado. Em regiões como o vale do São Francisco, a irrigação foi incentivada sem o uso de técnica apropria- da, e o resultado tem sido desastroso. A salinização do solo é, hoje, uma realidade. Outro problema é a contaminação das águas por agrotóxi- cos. Depois de aplicado nas lavouras, o agrotóxico escorre das folhas para o solo, levado pela irrigação, e daí para as represas, matando os peixes. Nos últimos 15 anos, 40 mil km2 de caa- tinga se transformaram em deserto devido à interferência do homem sobre o meio ambiente da região. As siderúrgicas e olarias também são responsáveis por esse processo devido ao corte da vegetação nativa para produção de lenha e carvão vegetal. O sertão nordestino é uma das regiões semiáridas mais povoadas do mundo. A diferença entre a caatinga e áreas com as mesmas características em outros países é que as populações se concentram onde existe água, promovendo um controle rigoroso da natalidade. No Brasil, entretanto, o homem está presente em toda parte, tentando garantir a sua sobrevivência na luta contra o clima. A caatinga é coberta por solos relativamente férteis. Embo- ra não tenha potencial madeireiro, exceto pela extração se- cular de lenha, a região é rica em recursos genéticos, dada a sua alta biodiversidade. Por outro lado, o aspecto peculiar desse tipo de vegetação contrasta com o diversificado colorido das flores emergen- tes no período das chuvas. O índice pluviométrico desse bioma varia entre 300 e 800 milímetros anualmente. Na caatinga, encontram-se três estratos: os arbóreos (8 a 12 metros), os arbustivos (2 a 5 metros) e os her- báceos (abaixo de 2 metros). Contraditoriamente, a flora presente nos sertões, que é constituída por espécies com longa história de adaptação ao calor e ao ambiente extre- mamente seco, não é capaz de se reestruturar naturalmen- te. Na caatinga, quando máquinas são usadas para alterar o solo, a degradação é irreversível. No meio de tanta aridez, a caatinga surpreende com suas “ilhas de umidade” e solos férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e geológicas dos sertões. Nessas ilhas, existe a possibilidade de produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos do mundo. Por meio de caminhos diversos, os rios regionais saem das bordas das chapadas, percorrem extensas depressões en- tre os planaltos quentes e secos e acabam chegando no mar ou engrossando as águas do São Francisco e do Par- naíba (rios que cruzam a caatinga). Das cabeceiras até as proximidades do mar, os rios com nascente na região per- manecem secos por cinco a sete meses no ano. Apenas o canal principal do São Francisco mantém seu fluxo através dos sertões, com águas trazidas de outras regiões climáti- cas e hídricas. Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores se cobrem de folhas e o solo fica 18 forrado de pequenas plantas. A fauna volta a engordar. Na caatinga, vive a ararinha-azul, ameaçada de extinção. Ou- tros animais da região são o sapo-cururu, a asa-branca, a cutia, o gambá, o preá, o veado-catingueiro, o tatu-peba e o sagui-do-nordeste. 5.5. Pantanal O Pantanal é um dos mais valiosos patrimônios naturais do Brasil. Maior área úmida continental do planeta, com 140 mil km2 em território brasileiro, destaca-se pela ri- queza da fauna, em que dividem espaço 650 espécies de aves, 80 de mamíferos, 260 de peixes e 50 de répteis. No Pantanal, são comuns as chuvas fortes. Os terrenos, quase sempre planos, são alagados periodicamente por inúmeros córregos e vazantes entremeados de lagoas e leques aluviais, isto é, muita água. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO PANTANAL Na época das cheias, esses “corpos” se comunicam e se mesclam com as águas do rio Paraguai, renovando e fertilizando a região. Entretanto, assim como nos demais ecossistemas brasileiros, em que a ocupação predatória vem provocando destruição, a interferência no Pantanal também é sentida. Embora boa parte da região continue inexplorada, muitas ameaças surgem em decorrência do interesse econômico que existe sobre a área. A situaçãocomeçou a se agravar nos últimos 20 anos, sobretudo pela introdução de pastagens artificiais, exploração das áreas de mata e turismo predatório. Basicamente, o equilíbrio desse ecossistema depende do fluxo de entrada e saída de enchentes que, por sua vez, está diretamente ligado à pluviosidade regional. As chuvas ocorrem com maior frequência nas cabeceiras dos rios, que deságuam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas (a partir de novembro), sobe o nível de água do rio Paraguai, provocando, assim, as enchentes. O mesmo ocorre paralelamente com os afluentes do Para- guai, que atravessam o território brasileiro, cortando uma extensão de 700 km. As águas vão se espalhando e cobrindo continuamente vastas extensões em busca de uma saída natural, que só é encontrada centenas de quilômetros adiante, no encontro do rio com o oceano Atlântico, fora do território brasileiro. As cheias chegam a cobrir até dois terços da área panta- neira. A partir de maio, inicia-se a “vazante”, e as águas começam a baixar lentamente. Quando o terreno volta a secar, sobre a superfície permanece uma fina camada de lama humífera (mistura de areia, restos de animais e vege- tais, sementes e húmus), propiciando grande fertilidade ao solo. A natureza faz repetir anualmente o espetáculo das cheias, proporcionando ao Pantanal a renovação da fauna e flora local. Esse enorme volume de água, que praticamente cobre a região pantaneira, cria um verdadeiro mar de água doce, em que milhares de peixes proliferam. Peixes pequenos servem de alimento a espécies maiores ou a aves e ani- mais, promovendo uma intrincada teia alimentar. Quando o período da vazante começa, uma grande quantidade de peixes fica retida em lagoas ou baías, não conseguindo retornar aos rios. Durante meses, aves e animais carnívoros, como jacarés, ariranhas e onças, têm um farto banquete à sua disposição. As águas continu- am baixando mais e mais, e, nas lagoas, então bem ra- sas, peixes como o dourado, o pacú e a traíra podem ser apanhados com as mãos pelos homens. Aves grandes e pequenas são vistas planando sobre as águas, formando em espetáculo de grande beleza. O Pantanal tem passado por transformações lentas mas significativas nas últimas décadas. O avanço das popu- lações e o crescimento das cidades são uma ameaça constante. A ocupação desordenada das regiões mais altas, onde nasce a maioria dos rios, é o risco mais grave. A agricul- tura indiscriminada está provocando a erosão do solo, além de contaminá-lo com o uso excessivo de agrotóxicos. O resultado da destruição do solo é o assoreamento dos rios, fenômeno que tem mudado a vida no Panta- nal. Regiões que antes ficavam alagadas nas cheias e completamente secas quando as chuvas paravam agora ficam permanentemente sob as águas. Também impac- taram o Pantanal nos últimos anos o garimpo, a cons- trução de hidrelétricas, o turismo desorganizado e a caça, empreendida principalmente por ex-peões que, sem trabalho, passaram a integrar verdadeiras qua- drilhas de caçadores de couro. Foi a partir de 1989 que o risco de um desequilíbrio total do ecossistema pantaneiro ficou mais próximo de se tornar 19 uma triste realidade. A razão dessa ameaça é o megapro- jeto de construção de uma hidrovia de mais de 3.400 km nos rios Paraguai (o principal curso de água do Pantanal) e Paraná, ligando Cáceres, no Mato Grosso, à Nova Palmira, no Uruguai. Com a construção de diques e trabalhos de dragagem, a ideia é alterar o percurso do rio Paraguai, facilitando o mo- vimento de grandes barcos e, consequentemente, o esco- amento da produção de soja brasileira até o país vizinho. O problema é que isso afetará também todo o escoamento de águas da bacia. O resultado desse projeto pode ser a destruição do refúgio onde vivem hoje milhares de espé- cies de animais e plantas. 5.6. Campos Além de florestas tropicais, do Pantanal, do cerrado e da caa- tinga, os campos também fazem parte da paisagem brasilei- ra. Esse tipo de vegetação é encontrado em dois lugares dis- tintos: os campos de terra firme (savanas de gramíneas baixas) são característicos do norte da Amazônia, Roraima, Pará e ilhas do Bananal e de Marajó, enquanto os campos limpos (estepes úmidas) são típicos da região Sul. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO BIOMA CAMPOS De modo geral, o campo limpo é destituído de árvores, bastante uniforme e com arbustos espalhados e disper- sos. Já nos campos de terra firme, as árvores, baixas e espalhadas, integram-se totalmente à paisagem. Em ambos os casos, o solo é revestido de gramíneas, subarbustos e ervas. Entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os campos formados por gramíneas e legumi- nosas nativas se estendem como um tapete verde por mais de 200.000 km2, tornando-se mais densos e ricos nas encostas. Nessa região, com muita mata entremeada, as chuvas se distribuem regularmente pelo ano todo, e as baixas temperaturas reduzem os níveis de evaporação. Essas condições climáticas acabam favorecendo o cresci- mento de árvores. Muito diferentes, por sua vez, são os campos que dominam as áreas do Norte do país. 5.6.1. Diferenças entre Sul e Norte Do Rio Grande do Sul até parte dos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo se estende o domínio das florestas e dos campos meridionais. O clima é ameno e o solo naturalmente fértil. A junção desses dois fato- res favoreceu a colonização acelerada no último século, principalmente por imigrantes europeus e japoneses, que alcançaram altos índices de produtividade na região. Os campos do Sul ocorrem no chamado pampa, uma região plana de vegetação aberta e de pequeno por- te, que se estende do Rio Grande do Sul para além das fronteiras com a Argentina e o Uruguai. Esse tipo de vegetação ocorre em área contínua no Sul e tam- bém como manchas dispersas encravadas na floresta Atlântica do Rio Grande do Norte até o Pará. São áre- as planas, revestidas de gramíneas e outras plantas encontradas de forma escassa, como tufos de capim que atingem até 1 metro de altura. No litoral do Rio Grande do Sul, a paisagem é mar- cada pelos banhados, ou seja, ecossistemas ala- gados com densa vegetação de juncos, gravatás e aguapés que criam um habitat ideal para uma grande variedade de animais, como garças, marrecos, veados, onças-pintadas, lontras e capivaras. O banhado do Taim é o mais importante devido à riqueza do solo. Tentativas desastradas de drená-Io para uso agrícola foram definitivamente abandonadas a partir de 1979, quando a área se transformou em estação ecológica. Não obstante, a ação de caçadores e o bombeamento das águas pelos fazendeiros das redondezes continu- am a ameaçar o local. Enquanto sobra água no Sul, os campos do Norte do Brasil se caracterizam por áreas secas e de florestas dominadas pelas palmeiras. Essas florestas se situam entre a Amazônia e a caatinga e se formam a partir do desmatamento da vegetação nativa. Livre da competição de outras plantas, as palmei- ras de babaçu e carnaúba, o buriti e a oiticica se desen- volvem rapidamente, algumas chegando a atingir até 15 metros de altura. Existem também áreas de campos “naturais”, com vegetação de porte mais raquítico, que ocorrem como manchas no norte da floresta Amazônica. Devido à riqueza do solo, as áreas cultivadas do Sul se expandiram rapidamente sem um sistema adequado de preparo, resultando em erosão e ou- tros problemas que se agravam progressivamente. Os campos são amplamente utilizados para a pro- dução de arroz, milho, trigo e soja, às vezes em 20 associação com a criação de gado. Contudo, a de- satenção com o solo leva à desertificação, regis- trada em diferentes áreas do Rio Grande do Sul. Para expandir a área plantada, colonos alemães e ita- lianos iniciaram, na primeira metade do século XX, a exploração indiscriminada de madeira. Árvores gigan- tescas e centenárias foram derrubadas e queimadas para dar lugar ao cultivo de milho, trigo e, principal- mente, videira. A mata das araucáriasde porte alto e copa em forma de prato se estendia do sul de Minas Gerais e São Paulo até o Rio Grande do Sul, formando cerca de 100 mil km2 de matas de pinhais. Na sua sombra cresciam espécies como a imbuia, o cedro, a canela, entre outras. Atualmente, mais da metade desse bioma foi destruída, assim como diversas es- pécies de roedores que se alimentavam de pinhão, aves e insetos. O que resta está confinado a áreas de conservação do estado. Por mais de 100 anos, a mata dos pinhais alimentou a indústria madeireira do Sul. O pinho, madeira bastante popular na região, foi bastante utilizado na construção de casas e móveis. A criação de gado e ovelhas também faz parte da cultura local. Entretanto, repetindo o mesmo erro dos agricultores, o pastoreio está provocando a degradação do solo. Na época de estiagem, quando as pastagens secam, o mesmo número de animais continua a disputar áreas menores. Com o pasto quase desnudo, cresce a pressão sobre o solo que se abre em veios. Quando as chuvas reco- meçam, as águas correm por essas depressões, dando iní- cio ao processo de erosão. O fogo utilizado para eliminar restos de pastagem secas torna o solo ainda mais frágil. 5.7. Zona costeira O Brasil possui uma linha contínua de costa Atlântica de 8 mil km de extensão, uma das maiores do mundo. Ao longo dessa faixa litorânea, é possível identificar uma grande diversidade de paisagens, como dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías, estuários, bre- jos e falésias. Mesmo os ecossistemas que se repetem ao longo do litoral, como praias, restingas, lagunas e manguezais, apresentam diferentes espécies de ani- mais e vegetais. Isso se deve, basicamente, às diferen- ças climáticas e geológicas. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ZONA COSTEIRA CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Para compreender como os biomas se estabeleceram no planeta Terra, é fundamental compreender conceitos quími- cos e físicos que interferem nesse processo. Os fatores abióticos químicos (pH, salinidade, nutrientes, etc.) e físicos (luminosidade, temperatura, umidade, etc.) determinam o tipo de vegetação e de outros seres vivos que vão habitar uma determinada região. Por exemplo, devido à alta incidência solar na região equatorial, há a possibilidade de uma maior taxa de fotossíntese pelos produtores e, consequentemente, de uma alta produtividade primária, a qual suste- nta uma ampla biodiversidade. Além da elevada taxa de luminosidade, essa região apresenta também altos índices de pluviosidade e temperatura. Todos esses fatores químicos e físicos produzem a variedade de fauna e da flora encontradas no equador. Assim, percebe-se a importância de interação entre a área das exatas (Química e Física) e a área biológica. 21 Grande parte da zona costeira, entretanto, está ameaçada pela superpopulação e por atividades agrícolas e industriais. Mais da metade da população brasileira vive seguindo essa imensa faixa litorânea. Há muito ainda para se conhecer so- bre a dinâmica ecológica do litoral brasileiro. Complexos sis- temas costeiros se distribuem ao longo do litoral, fornecendo áreas para a criação, crescimento e reprodução de inúmeras espécies de flora e fauna. Somente na costa do Rio Grande do Sul − conhecida como um centro de aves migratórias − foram registradas cerca de 570 espécies. Muitos desses pássaros utilizam a costa brasileira para ali- mentação, abrigo ou como rota migratória entre a América do Norte e as partes mais ao sul do continente americano. A faixa litorânea brasileira também tem sido considerada essencial para a conservação de espécies ameaçadas em escala global, como as tartarugas-marinhas, as baleias e o peixe-boi-marinho. É importante ressaltar que a destruição dos ecossistemas litorâneos é uma ameaça para o próprio homem, uma vez que põe em risco a produção pesqueira − uma rica fonte de alimento. O crescimento dos grandes centros urbanos, a especulação imobiliária sem planejamento, a poluição e o enorme flu- xo de turistas ameaçam a integridade ecológica da costa brasileira. A ocupação predatória vem ocasionando a de- vastação das vegetações nativas, o que leva, entre outras coisas, à movimentação de dunas e até ao desabamento de morros. O aterro dos manguezais, por exemplo, coloca em perigo espécies animais e vegetais, além de destruir um importante “filtro” das impurezas lançadas na água. As raízes parcialmente submersas das árvores do mangue se espalham sob a água para reter sedimentos e evitar que eles escoem para o mar. Alguns mangues estão estrate- gicamente situados entre a terra e o mar, formando um estuário para a reprodução de peixes. Além disso, a expulsão das populações caiçaras (pescado- res ou caipiras do litoral) está acabando com uma das cul- turas mais tradicionais e ricas do Brasil. Outra ação danosa é o lançamento de esgoto no mar, sem qualquer tratamen- to. Operações de terminais marítimos têm provocado o derramamento de petróleo, entre outros problemas graves. 5.8. Manguezais Os fatores que comprometem o equilíbrio dos manguezais são diversos. Por causa de sua localização de fácil acesso, do desconhecimento, da pouca veiculação de sua impor- tância e, principalmente, do descaso, alguns manguezais se tornaram alvo de depredações que incluem aterramento para ocupação, desmatamento para uso da vegetação e poluição das águas por derramamento de petróleo ou por depósito de lixo. Os manguezais são ecossistemas estuarinos que se desen- volvem em terras planas, baixas e de substrato lodoso, lo- calizadas nas costas litorâneas das regiões tropicais, junto aos desaguadouros dos rios, no fundo de baías e nas ense- adas. Quando os manguezais estão em terrenos de baixo ou médio teor de salinidade, os bosques de mangues, fixa- dos sobre terreno lodoso, apresentam características fisio- nômicas e funcionais muito particulares. São típicas deles os seguintes fatores: temperaturas tropicais; áreas constan- temente sobo controle e o fluxo das marés; depósitos volumosos de silte, areia fina, argila e grande quantidade de matéria orgânica. Em geral, os manguezais se localizam fora dos litorais de mar aberto. Eles estão sempre associados às áreas de for- tes marés; no entanto, abrigados dos fortes ventos e das ressacas, caracterizam-se também por uma vegetação halófita (plantas terrestres adaptadas a viver no mar ou perto dele) tropical de mata, com poucas espécies que crescem na vasa marítima da costa ou estuária dos rios. Os manguezais de todo o mundo ocupam uma área de cerca de 20 milhões de hectares, distribuídos principal- mente nas latitudes intertropicais: calcula-se que 75% das linhas de costas tropicais do mundo são dominadas por esse tipo de vegetação. No Brasil, os manguezais se espalham por toda a faixa litorânea, desde o Amapá até Santa Catarina. Os manguezais são ecossistemas importantes para as po- pulações que habitam o litoral dos trópicos. A diversida- de e a quantidade de crustáceos, moluscos e peixes que vivem nos mangues não garantem a alimentação dessas populações apenas. É comum a prática de uma indústria de pescado ao longo dessas formações naturais. Nove em cada dez peixes pescados no mundo inteiro provêm de áreas costeiras e baías que, juntas, não somam 10% da superfície marinha. A responsabilidade pela concentração de cardumes nesses espaços reduzidos de mar cabe aos recém-valorizados manguezais. Ao ser atacada por fungos e protozoários, a vegetação dos manguezais perde folhas, frutos e flores, que começam a se degradar. No solo lodoso, eles se combinam com uma série de proteínas e minerais transportados pela água doce dos rios, chuvas e lençóis freáticos. O calor do Sol, por sua vez, ajuda milhões de mi- cróbios, presentes tanto no solo como na água salgada dos mares, a terminarem a receita de um caldo nutritivo que alimenta, por exemplo, os filhotes de camarões. As moléculas de nutrientes enchem a barriga de larvas e peixes pequenos que, por sua vez, alimentam espécies ma- rinhas maiores. A fartura
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