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1 Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe- ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en- contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. multimídia Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. vivenciando Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê- -las com tranquilidade. áreas de conhecimento do Enem Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque- les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza- ção dos estudos e até a resolução dos exercícios. diagrama de ideias Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio- logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. conexão entre disciplinas Herlan Fellini De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. incidência do tema nas principais provas Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. teoria Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta- dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com- preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. aplicação do conteúdo 2 © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados. Autores Alessandra Alves Vinicius Gruppo Hilário Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-00-6 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2020 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 3 SUMÁRIO GEOGRAFIA MEIO AMBIENTE, FORMAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL E SISTEMAS AGRÁRIOS REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS Aulas 17 e 18: Domínios morfoclimáticos II 6 Aulas 19 e 20: Problemas ambientais do Brasil 20 Aulas 21 e 22: Protocolos e conferências para o meio ambiente 35 Aulas 23 e 24: Regionalização do espaço brasileiro 48 Aulas 25 e 26: Sistemas agrários 59 Aulas 17 e 18: Antiga ordem mundial 72 Aulas 19 e 20: Nova ordem mundial 82 Aulas 21 e 22: Globalização e blocos econômicos 87 Aulas 23 e 24: Comércio internacional 104 Aulas 25 e 26: Regiões socioeconômicas mundiais I: América anglo-saxônica 114 4 Competência 1 – Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais. H1 Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações – naturais, inteiros, racionais ou reais. H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem. H3 Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos. H4 Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantitativas.H5 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos. Competência 2 – Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela. H6 Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço tridimensional e sua representação no espaço bidimensional. H7 Identificar características de figuras planas ou espaciais. H8 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de espaço e forma. H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano. Competência 3 – Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. H10 Identificar relações entre grandezas e unidades de medida. H11 Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do cotidiano. H12 Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas. H13 Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento consistente. H14 Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos geométricos relacionados a grandezas e medidas. Competência 4 – Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. H15 Identificar a relação de dependência entre grandezas. H16 Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou inversamente proporcionais. H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação. H18 Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas. Competência 5 – Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas. H19 Identificar representações algébricas que expressem a relação entre grandezas. H20 Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas. H21 Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos algébricos. H22 Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a construção de argumentação. H23 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos algébricos. Competência 6 – Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação. H24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências. H25 Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos. H26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos. Competência 7 – Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos ade- quados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em uma distribuição estatística. H27 Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados (não em classes) ou em gráficos. H28 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade. H29 Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação. H30 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade. 5 MEIO AMBIENTE, FORMAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL E SISTEMAS AGRÁRIOS: Incidência do tema nas principais provas UFMG Nos últimos anos, as questões ambientais foram destaque, com destaque para as princi- pais convenções ambientais e reivindicações. É importante atentar-se à interferência de interesses econômicos na aceitação ou refutação dos protocolos. As aulas deste caderno devem ser analisadas e estudadas para a prova da UNIFESP. Por apresentar questões mais elaboradas nas grandes áreas da Matemática, a prova pode exigir do candidato conceitos mais específicos. Temas como o problema da geração e o aumento global do consumo de energia cos- tumam aparecer em questões que abordam danos ambientais, consciência produtiva e responsabilidade ambiental. Aborda bastante o tema acerca dos domínios morfoclimáticos vinculando-o com a questão ambiental. Por isso, é importante conhecer as principais características de cada domínio e seus principais problemas ambientais, tais como as queimadas na Amazô- nia e no cerrado. Exige uma visão integrada na abordagem da natureza e do mundo social. É importante também ter uma visão global da realidade e saber identificar as diferenças regionais. A interpretação de gráficos, mapas e tabelas é fundamental. A nova ética ambiental considera que os elementos fundamentais são bens da natureza e de caráter universal que não podem ser apropriados pelas soberanias nacionais. Assim, espera-se uma abordagem crítica e irreverente da questão ambiental. Como são recorrentes, nesse vestibular, os pro- tocolos e conferências para o meio ambiente, torna-se importante relacioná-los aos aspectos econômicos que os envolvem. Os impactos ambientais rurais e urbanos são frequentemente abordados. Além dos conhe- cimentos científicos, o exame também busca, geralmente, um posicionamento crítico. As alterações ambientais são tratadas nos enunciados a partir de tabelas, gráficos ou ma- pas que mostram dados da poluição. O exame também apresenta, com frequência, textos acerca de tratados internacionais. Os problemas socioambientais levantam diversas posições no cenário mundial, como a indiferença, as justificativas banais e a busca por alternativas de enfrentamento desses conflitos. Portanto, é importante ter atenção às suas principais causas e consequências. Todos os temas deste livro e seus principais conceitos são recorrentes nesse vestibular. As questões com a temática do meio ambien- te são bem objetivas, apresentando conceitos básicos e textos de referência. A Faculdade de Ciências Médicas apresenta uma prova com poucas questões, porém abor- dando vários temas da matemática dentro delas. O aluno deve estudar detidamente as aulas deste livro para alcançar um resultado satisfatório. Esse vestibular costuma observar se o candi- dato está ou não antenado com os problemas causados pelos seres humanos ao meio ambiente e como isso é refletido na sociedade. Assim, torna-se importante saber diferenciar os protocolos ambientais. Possui questões que trabalham um olhar crítico e pedem um conhecimento acerca das causas e consequências dos problemas ambientais. 6 DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS IIAULAS 17 E 18 “A estrutura das paisagens brasileiras comporta um esque- ma regional em que participam algumas poucas grandes parcelas, relativamente homogêneas do ponto de vista fisio- gráfico e ecológico. Acrescenta-se a esses estoques básicos uma grande variedade de feições fisiográficas e ecológicas, correspondentes às áreas de contato e de transição entre as áreas nucleares dos domínios morfoclimáticos e fitogeográfi- cos de maior expressão regional. É certamente esse mosaico de domínios paisagísticos e ecológicos, somado às feições das faixas de contato e de transição, que constitui nosso uni- verso paisagístico em termos de potencialidade global.” (AZIZ AB’SABER) Como pudemos observar na leitura da aula anterior, a com- binação de elementos naturais como vegetação, relevo, cli- ma, solos e rede hidrográfica e, em menor grau, o substrato geológico, resulta em uma enorme diversidade de paisagens denominadas domínios morfoclimáticos. Lembramos de que esses domínios, hoje, estão bastante antropizados, huma- nizados e que o professor Aziz Ab’Saber precisou resgatar o passado dessas paisagens, quando a configuração ainda estava pouco alterada, se comparada com a atualidade. “SE CORRER, BICHO TROPEÇA, SE FICAR VAI PASSAR FOME” Os problemas mais comuns que afetam os domínios na- turais, hoje, noBrasil são: o desmatamento na Amazônia, a destruição da drenagem fluvial do pantanal, a desertifi- cação do interior da região Nordeste, os escorregamentos nas serras do Mar e da Mantiqueira, bem como o desflores- tamento dos últimos resquícios de mata Atlântica. Grande parte do trabalho sobre a classificação vege- tativa provém de ecologistas europeus e norte-ameri- canos, que possuem diferentes abordagens. Na Améri- ca do Norte, os tipos de vegetação são baseados em uma combinações dos seguintes critérios: clima padrão, comportamento do vegetal, fenologia e/ou formulário do crescimento e espécies dominantes. Na Europa, a classificação se baseia, frequente e, por vezes, inteira- mente, na atenção em relação à composição florística (espécie) sozinha, sem referência explícita ao clima, ao crescimento de fenologia ou outras formas. Na forma da América, os níveis hierárquicos, da forma mais geral à mais específica, são os seguintes: sistema, classe, sub- classe, grupo, formação, aliança, associação. Os vegetais necessitam de quantidades de água ou umidade variáveis. Dessa forma, pode se classificar três tipos de vegetação quanto à umidade: Vegetação hidrófila: adaptada à grande umi- dade. As raízes desses vegetais são pequenas e as suas folhas, grandes, para facilitar a evapo- transpiração, além de possuírem caules bastante desenvolvidos. Exemplo: bananeira. Vegetação xerófila: adaptada à aridez. Pos- sui raízes compridas, aprofundando-se bas- tante no solo para buscar água. Apresenta folhas pequenas e, muitas vezes, cobertas de ceras, para diminuir a evaporação (perda de água). Possuem também folhas em forma de espinhos para diminuir a evaporação. Exem- plo: caatinga. Vegetação tropófila: adaptada a variações de umidade, segundo as estações secas ou chuvo- sas. As plantas são de características caducifólias (plantas que perdem as folhas em estações secas ou frias). Exemplo: cerrado. 1. FORMAÇÕES ARBUSTIVAS São formações em que predominam os arbustos, porém, são constantes a presença de árvores e áreas abertas for- radas por gramíneas. Normalmente, se apresentam como arbustivas as savanas, o cerrado, a caatinga e as forma- ções litorâneas. COMPETÊNCIA: 6 HABILIDADES: 26 e 29 7 1.1. Domínio das depressões interplanálticas e intermontanas semiáridas do Nordeste A CAATINGA É DOMINADA POR ÁRVORES BAIXAS E ARBUSTOS, COM DESTAQUE PARA AS CACTÁCEAS, E É PREDOMINANTE NAS ÁREAS DO SEMIÁRIDO NORDESTINO. Entre a floresta Amazônica e a mata Atlântica, encontra- mos as caatingas do Nordeste brasileiro, cuja palavra, em tupi, significa “mata branca”. Sua extensão é de cerca 800 mil km2, equivalente a 11% do território nacional. Como os demais biomas brasileiros, a caatinga também sofre com a intervenção humana. O relevo da caatinga apresenta duas formações: os planal- tos e as grandes depressões. As depressões interplanálticas foram reduzidas a verdadeiras planícies de erosão, devido à grande extensão dos pediplanos (processo que leva, em regi- ões de clima árido a semiárido, ao desenvolvimento de áreas aplainadas, ou então superfícies de aplainamento) e, relativa- mente mais recente, ao processo de pediplanação sertaneja moderna. O relevo dessa região varia ente 200 a 900 metros de altitude. O planalto da Borborema é uma formação que varia em média entre 650 e 1000 metros. Em alguns pontos, como o pico de Jabre, na Paraíba, chega a 1197 metros e o pico do Papagaio, em Pernambuco, a 1260 metros. Esse planalto é uma grande barreira para as nuvens carregadas de umidade que vêm do oceano Atlântico em direção ao in- terior. Quando essas nuvens encontram este “paredão”, elas se condensam, provocando chuvas nas regiões mais baixas do lado voltado para o oceano. As nuvens não conseguem ul- trapassar o planalto da Borborema. Isto dificulta a ocorrência de chuvas do lado oeste, que é marcado pela seca. Este lado seco é o que faz parte do bioma caatinga. Na América do Sul, existem três grandes áreas semiári- das: a região Guajira, na Venezuela e na Colômbia; a di- agonal seca do Cone Sul, que envolve muitas nuanças de aridez ao longo da Argentina, Chile e Equador; e, por fim, o nordeste seco do Brasil, província fitogeográfica das caatingas, onde dominam temperaturas médias anuais muito elevadas e constantes. Os atributos que dão similitude às regiões semiáridas são sempre de origem climática, hídrica e fitogeográfica: baixos níveis de umidade, escassez de chuvas anuais, irreg- ularidade no ritmo das precipitações ao longo dos anos; prolongados períodos de carência hídrica; solos problemáticos tanto do ponto de vista físico quanto do geoquímico (solos parcialmente salinos, solos car- bonáticos) e ausência de rios perenes, sobretudo no que se refere às drenagens autóctones. A rigidez climática é conferida, principalmente, pela irregula- ridade na distribuição de chuvas, no tempo e no espaço. De clima semiárido, com médias pluviométricas inferiores aos 700 mm ao ano, a caatinga se diversifica por suas manifestações, conforme o relevo, os solos e a menor escassez de chuvas. Há a mata seca (formada especialmente de cactos, bromélias e ve- getação herbácea, como na Paraíba), a arbustiva e, até mesmo, a arbórea. A maior parte das plantas são xerófilas, com folhas pequenas. São adaptadas à semiaridez, pois apresenta um re- vestimento (tecido ou uma película de cera) que não permite a perda de muita água pela evapotranspiração. Também são deciduais (caducifoliadas), pois suas folhas caem totalmente nas secas, diminuindo, assim, o metabolismo das plantas, que aguentam mais tempo sem água. Outras plantas apresentam suas folhas na forma de espinhos. Por outro lado, algumas espécies do estrato arbóreo, como o juazeiro e o umbuzeiro, possuem raízes longas que buscam água em lençóis freáti- cos e conseguem manter suas folhas verdejantes o ano todo. Os solos desse bioma são ricos em sais minerais, mas pobres em húmus, problema comum de lugares com climas áridos e semiáridos, com ressalva para pequenas manchas férteis nas fronteiras do Rio Grande do Norte e Ceará, do Piauí e Per- nambuco e nas margens do rio São Francisco. Na maior parte, os solos são rasos e pedregosos em virtude do intemperismo físico. Nas chapadas, como a de Araripe, entre os Estados do Ceará e Pernambuco, ocorrem chuvas orográficas que facili- tam o cultivo do solo. Essas áreas mais úmidas, verdadeiros oásis sertanejos, são os brejos, onde há maior concentração humana; duas grandes cidades com essas características são Juazeiro do Norte e Crato, ambas no vale do Cariri (Ceará). “Não existe melhor termômetro para delimitar o Nord- este seco do que os extremos da própria vegetação da caatinga. Até onde vão os diferentes fácies de caatinga de modo relativamente contínuo, estaremos na presença de ambientes semiáridos. O mapa da vegetação é mais útil para definir os confins do domínio climático regional do que qualquer outro tipo de abordagem por mais ra- cional que pareça. 8 Regularmente, nas notícias sobre o sertão, sobretudo pela televisão, vemos imagens de solos rachados e de plantas secas pela falta de água. Todavia, essas imagens podem ser exageradas; as plantas da caatinga estão mui- to bem adaptadas aos períodos de seca. Talvez a perda das folhas deem a falsa impressão de estarem mortas ou “sofrendo” com a falta de chuvas. Além disso, essa vegetação tem uma variedade significativa de espécies, como as angiospermas e as plantas que produzem flores. Algumas de suas árvores se destacam pelo valor da ma- deira, pela beleza intrínseca ou pelos frutos comestíveis, saborosos e nutritivos: o juá e o umbu, dos juazeiro e umbuzeiro, respectivamente. E mesmo plantas cactáceas (de cactos), como o mandacaru e a palma, usadas como forragem para o gado. Embora tenha uma grande importância para as condi- ções naturais da região do Nordeste brasileiro, a caa- tinga vem sendo desmatada, sobretudo ao longo dos últimos anos. Entre as áreas mais degradadas,cabe des- taque para o espaço nos territórios do Alagoas, Ceará, Bahia e Pernambuco. Ao contrário do senso comum, a caatinga não é um bioma homogêneo, apresentando uma diversidade de paisagens. Contudo, é importante ressaltar que as transições entre as paisagens que compõem a caatinga ocorrem de forma gradativa. É necessário também considerar a existência de enclaves de out- ras fisionomias vegetais dentro do bioma, resultantes de ciclos de retração e expansão associados a mu- danças climáticas ocorridas em passado geológico recente (quaternário), o que influenciou a dispersão e o confinamento de algumas espécies vegetais que compõem as paisagens atuais. Na literatura existem diversas classificações de tipologias de caatinga que variam desde classificações puramente biológicas, onde as espécies vegetais são o principal critério de diferenciação, até classificações geossistêmicas, onde a relação da vegetação com o ambiente abiótico (solo, relevo, hidrologia, entre outros) é o principal fa- tor para a diferenciação. CLASSIFICAÇÕES DE SUBGRUPOS DE CAATINGA E FORMAÇÕES ASSOCIADAS SEGUNDO CAVALCANTI (2014). Nome Descrição Caatinga Dominada por elementos len- hosos (árvores e arbustos). A flora não é influenciada por corpos hídricos. Pode ser subdi- vidida em caatinga lenhosa ab- erta, caso as copas das árvores não se toquem, ou fechada, caso as copas das árvores se toquem ou entrelacem. (...) Todos os rios do Nordeste, em algum tempo do ano, chegam ao mar. Essa é uma das maiores originalidades dos sistemas hidrográfico e hidrológico regionais. Ao contrário de outras regiões semiáridas do mundo, em que rios e bacias hidrográficas conseguem ir para de- pressões fechadas, os cursos d’água nordestinos, apesar de serem intermitentes periódicos, chegam ao Atlântico pelas mais diversas trajetórias. Daí resulta a inexistên- cia de sinalização excessiva ou prejudicial no domínio dos sertões. Encontram-se, aqui e ali, manchas de solos ligeiramente salinizados, riachos curtos designados “sal- gados”, porém o conjunto de tais áreas é extremamente pequeno. Apenas nos baixos rios do Rio Grande do Norte ocorrem planícies de nível de base, com salinização mais forte, em uma área bastante quente e de luminosidade ampla, que corresponde à velhos estuários assoreados. De forma inteligente, ali foram estabelecidas as maiores salinas brasileiras, das quais provêm a maior parte da produção de sal do país. A hidrologia regional do Nordeste seco é infinita e totalmente dependente do ritmo climático sazonal, dominante no espaço fisiográfico dos sertões. Ao con- trário do que acontece em todas as áreas úmidas do Brasil – onde os rios sobrevivem aos períodos de es- tiagem, devido à grande carga de água economizada nos lençóis subsuperficiais – no Nordeste seco, o lençol se afunda e se resseca e os rios passam a alimentar o lençol. Todos eles secam desde suas cabeceiras até perto da costa. Os rios extravasaram, os rios desapa- receram, a drenagem “cortou”. Nessas circunstâncias, o povo descobriu um modo de utilizar o leito arenoso, que possui água por baixo das areias de seu leito seco, capaz de fornecer água para fins domésticos e dar suporte para culturas de vazantes. A cena de garotos tangendo jegues carregados de pipotes d’água retira- das de poços cavados no leito dos rios tornou-se uma tradição simbólica ao longo das ribeiras secas.” (AZIZ AB’SABER) 9 Nome Descrição Caatinga gramí- neo-lenhosa Vegetação dominada por el- ementos herbáceos, com pre- sença de indivíduos lenhosos (árvore ou arbustos) esparsos ou em agrupamentos isolados. Caatinga-parque Vegetação com a presença de palmeiras e elementos lenho- sos da caatinga distribuídos ao longo de um corpo hídrico. Caatinga rupestre Vegetação que cresce sobre os lajedos (afloramentos rocho- sos), normalmente dominada por bromeliáceas e cactáceas. Formação higrófila Vegetação que ocorre nas proximidades de corpos hídri- cos e apresenta flora cosmo- polita ou introduzida. A vegetação desse domínio natural possui um alto poder calorífico, sendo bastante adequada para a utilização como lenha. Essa característica, associada à grande necessidade energética de uma região que sofre com a falta de inves- timentos e da presença do Estado, é a principal causa do desmatamento da caatinga. Estima-se que 30% da ener- gia utilizada pelas indústrias locais advenham dessa práti- ca de extração da lenha da vegetação do semiárido. Se considerarmos apenas o Estado de Pernambuco, de acor- do com dados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Am- biente e dos Recursos Naturais Renováveis), cerca de 260 mil caminhões com lenha advinda da caatinga são transporta- dos para atender à demanda energética da região. Ainda se- gundo o órgão, existe certo mito em pensar que a população de baixa renda e os pequenos agricultores são os respon- sáveis principais pelo desmatamento em questão. Trata-se de um problema energético associado à atuação ineficaz do Estado, tanto na permissão de atividades desse tipo quanto na não fiscalização adequada de práticas ilícitas. Os efeitos do desmatamento da caatinga são diversos, em razão da importância da vegetação para a região que ocu- pa. Além disso, existem indícios ainda não comprovados de que a caatinga possa ser mais eficiente na absorção de gás carbônico na atmosfera do que as florestas tropicais, haja vista que essas últimas produzem uma quantidade de CO 2 mais ou menos equivalente ao que absorvem. Outra consequência do desmatamento da caatinga é a de- sertificação. Sabe-se que, nas regiões de clima mais quente e com pouca precipitação, o que se verifica em algumas das áreas ocupadas por esse bioma, a tendência de desertificação é alta em virtude da desidratação dos solos ocasionada pelo elevado índice de evaporação. Com a remoção da vegetação, o problema é intensificado, além de tornar os solos mais ex- postos e, por isso, altamente propensos a erosões e outros problemas ambientais, como a salinização. Em resposta a essa problemática, o Ministério do Meio Am- biente elaborou um planejamento para combater o desma- tamento local por meio da criação do PPCaatinga (Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Caatinga). O objetivo é a criação de um planejamento que vise reduzir a degradação crescente da vegetação e que leve em consideração as particularidades fitogeográ- ficas da caatinga. Além disso, estão sendo elaboradas ini- ciativas para reflorestamento, recuperação dos solos e das bacias hidrográficas da região, principalmente o semiárido do chamado “polígono das secas”. CAATINGA Há uma determinação ingênua e passível de refutação no relacionamento entre a pobreza da região nordestina e o clima semiárido, como se ele fosse o responsável pelas ma- zelas sociais daquela região. Diz-se que a região possui um solo “pobre”, “ruim” para a agricultura. Primeiramente, não existe um solo “bom” ou “ruim”, qualidades atribu- ídas ao solo por nós mesmos de acordo com os interes- ses que qualificam essa formação pedológica. Os solos do Nordeste são “ruins” para a produção agropecuária que necessitam de muita água e sais minerais. No entanto, são “ótimos” para cultivo de espécies frutíferas, fibras, óleos vegetais e ceras. O grande problema do Nordeste é a falta de interesse do Estado de intervir com políticas públicas que beneficiem a maior parte da população. Desde o início do século XIX, fala-se em erradicação da seca no Nordes- te mediante projetos de irrigação. Destaquemos a Sude- ne (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), criada em 1959 e ligada diretamente ao governo federal. Projetos de irrigação com as águas do rio São Francisco e de prospecção de água no lençol freático, construção de açudes e abertura de poços levantaram recursos significa- tivos. Contudo, tais políticas beneficiaram apenas as pro- priedades consideradas produtivas, deixando à margem a maior parte da população. 10 1.2. Domínio do cerrado“Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um gran- de sertão! Não sei. Ninguém ainda sabe. Só umas raríssi- mas pessoas – e essas poucas veredas, veredazinhas.” GUIMARÃES ROSA. GRANDE SERTÃO: VEREDAS. Associada ao clima tropical típico, no Brasil central, está a formação vegetal chamada de cerrado. Embora sua área core (nuclear) esteja localizada nos Estados de Goiás e Mato Grosso, essa formação vegetal estende-se de forma contí- nua ou em “manchas ”para os Estados de São Paulo, Mi- nas Gerais, Tocantins, Bahia, Maranhão, Roraima e Amapá. Estima-se que a área nuclear do domínio do cerrado tenha, aproximadamente, 1,5 milhão de km2. Se adicionadas às áreas periféricas encravadas em outros domínios vizinhos e nas faixas de transição, a área poderá chegar a 1,8 milhão ou 2 milhões de km2. No entanto, mesmo com a presença de so- los de baixa qualidade agrícola, o cerrado vem sofrendo muito com a ação antrópica. Sua devastação está diretamente rela- cionada com a expansão da pecuária e da agricultura da soja. O solo é constituído por dois extratos: o inferior, composto por gramíneas, e o superior, composto por pequenas árvo- res e arbustos retorcidos, plantas resistentes ao fogo. Parte do ciclo natural do cerrado, o fogo, limpa os restos de ga- lhos, folhas secas do solo e algumas gramíneas, deixando o solo acessível para uma nova rodada de germinação na estação chuvosa – principalmente das herbáceas. Esse fe- nômeno possibilita uma variedade em sua fauna que, no entanto, vem sendo utilizada de maneira intensa e extensa, como um método mais barato de manejo e desmatamen- to, por criadores de gado e monocultores. NO CERRADO, BIOMA PREDOMINANTE NA REGIÃO CENTRO-OESTE, DESTACAM- SE DOIS ESTRATOS: O FORMADO POR PEQUENAS ÁRVORES RETORCIDAS E ARBUSTOS; E O COMPOSTO DE UMA VEGETAÇÃO RASTEIRA (HERBÁCEAS). O homem no caminho das águas O perfil longitudinal dos rios que drenam vastas ex- tensões de colinas sertanejas é extremamente raso e tangente ao chamado perfil de equilíbrio, sobretudo no Ceará e no Rio Grande do Norte. Disso resulta que as grandes chuvas, extensivas a imensas áreas dos sertões secos, podem provocar aumento excessivo do volume d’água dos rios de longo ou médio curso, pressionando os setores do baixo vale por meio de transbordamentos catastróficos. As pequenas bacias torrenciais saídas dos bordos das chapadas, da cimei- ra dos maciços antigos e dos brejos de todos os tipos são alimenta das por precipitações que acrescentam importantes volumes d’água aos já engordados rios sertanejos, que recém-voltaram a crescer. Os caminhos da água no interior da planície são complexos. Atingem primeiro os canais rasos e interligados, existentes nas várzeas, embora im- perceptíveis durante a estiagem. Ocorre depois a generalização da inundação, a partir das águas dos canais trançados. Ao chegarem às terras aluviais e hidromórficas do leito maior dos rios, as inundações afetam plantações e habitações rurais dispersas, vilarejos de fundo de vale, bairros de população carente das cidades de médio ou pequeno porte. Os mais afetados são integrantes das parcelas mais pobres da população, instalados em sítios inadequados nos arredores das cidades sertanejas, localizadas nos eixos dos grandes vales. Este fato foi bem documenta- do pelas ocorrências calamitosas do período de grande chuvas no último mês de abril, que afetaram mais de meio milhão de nordestinos, do Rio Grande do Norte ao Maranhão. Evidenciou-se mais uma vez a seriedade das questões relativas à projeção espacial da sociedade de estrutura subdesenvolvida. As populações mais car- entes, à míngua de melhor local para viver, utilizam os espaços ribeirinhos, de alto risco e inadequados. É exat- amente o caso dos espaços físicos e sociais que foram castigados pelos efeitos das inundações recentes dos baixos vales de rios nordestinos. Tenta-se há algum tempo melhorar o sistema de pre- visão das secas. Conhece-se bem o ritmo anual das águas dos rios in- termitentes e sazonais. Agora, é preciso melhorar o sistema de previsão das inundações e tentar reordenar a ocupação dos espaços rurais e urbanos em subáreas de fundo de planícies aluviais. AZIZ AB’SABER. SERTÕES E SERTANEJOS: UMA GEOGRAFIA HUMANA SOFRIDA. 11 O fogo que traz vida e o fogo que devasta O fogo no cerrado pode ter início por fatores naturais. Isso ocorre através de descargas elétricas, combustão espontânea, atrito entre rochas e até atrito do pelo de alguns animais com a mata seca. Esse fogo originado por fatores naturais é responsável pela distinção vegetal do cerrado. Segundo pesqui- sas, o aspecto retorcido de suas árvores e arbustos é consequência da ocorrência do fogo, fazendo com que suas gemas de rebrota ocorram lateralmente. As cascas espessas dos troncos funcionam como um me- canismo de defesa das árvores às queimadas. O fogo contribui para a germinação de sementes, pois algumas necessitam de um choque térmico para que seja efetuada a quebra de sua dormência vegetativa, principalmente as que são impermeáveis. A rápida elevação da temperatura causa fissuras na semente, favorecendo a penetração de água e iniciando o pro- cesso de germinação. O cerrado apresenta um rápido poder de recuperação, em curto período rebrota após o fogo e atrai diversos animais herbívoros em busca de forragem nova. Al- gumas espécies, como o anu, o carcará e a seriema, seguem as queimadas, e se alimentam de insetos e répteis atingidos pelo fogo. QUEIMADA NO CERRADO A vegetação do cerrado não tem uma fisionomia única em toda a sua extensão. É bastante diversificada, apre- sentando desde formas campestres bem abertas até for- mas relativamente densas, florestais. Divide-se em: cer- radão, onde predomina o estrato arbóreo; o cerrado no sentido restrito, com árvores dispersas; o campo cerrado, com arbustos isolados em meio à vegetação herbácea; e o campo sujo e o campo limpo, onde aparecem apenas a biomassa herbácea, com gramíneas e pequenos arbustos. As veredas são subsistemas do bioma cerrado, que podem ser entendidos como áreas pantanosas, forma- do geralmente por caminhos mal delimitados de água em solos hidromórficos, com presença da palmeira bu- riti. Elas se constituem em importante subsistema do cerrado, possuindo, além do significado ecológico, um papel socioeconômico e estético-paisagístico que lhe confere importância regional, principalmente quanto ao aspecto de constituírem refúgios fauno-florísticos e por ser ambientes de nascedouros das fontes hídri- cas do planalto central brasileiro, abastecendo as três principais bacias hidrográficas do Brasil. Funcionam como um filtro, regulando o fluxo de água, sedimentos e nutrientes, entre outros terrenos mais altos da bacia hidrológica e o ecossistema aquático. Podem ainda servir de refúgio para a fauna, numa área de ocupação agrícola e pecuária muito inten- sa, porém, a preservação das veredas se impõe, so- bretudo, pelo fato de que o equilíbrio dos mananciais d’água depende diretamente disto. Essa regulagem determina sua contribuição para o curso d’água, cuja área saturada se expande ou contrai, dependendo das condições da umidade depositada, ou seja, das precipitações e da capacidade de retenção e escoa- mento do solo. As veredas também podem ser consid- eradas feições geomorfológicas, porque elas somente ocorrem ao longo de vales pouco profundos, com baixa energia hidráulica e que alcançam dezenas de quilômetros, interligados aos sistemas de drenagem regionais do Centro e de parte do Sudeste brasileiros. Guimarães Rosa, em sua obra Grande sertão: veredas, faz uma das melhores descrições perceptivas do am- biente das veredas: [...] Saem dos mesmos brejos – buritizais enormes. Por lá, sucuri geme. Cada sucuriú do grosso: voa corpo no veado e se enrosca nele, abofa – trinta palmos! Tudo em volta, é um barro colador, que segura até casco de mula, arranca ferradura por ferradura. Com medo de mãe-cobra, se vê muito bicho retardarponderado, paz de hora de poder água beber, esses escondidos atrás 12 de touceiras de buritirama. Mas o sassafrás dá mato, guardando o poço; o que cheira um bom perfume. Jacaré grita, uma, duas, três vezes, rouco roncado. Jac- aré choca – olhalhão, crespido do lamal, feio mirado na gente. Eh, ele sabe se engordar. Nas lagoas aonde nem um de asas não pousa, por causa de fome de jacaré e de piranha serrafina. Ou outra – lagoa que nem abre o olho, de tanto junco. Daí longe em longe, os brejos vão virando rios. Buritizal vem com eles, buriti se segue, segue. Para trocar de bacia o senhor sobe por ladeiras de bei- ra-de-mesa, entra de bruto na chapada, chapadão que não se desenvolve mais. [...]. O cerrado arbóreo-arbustivo se caracteriza pela presença de árvores, geralmente tortuosas e espaçadas, com troncos de cortiça espessa (suber). O clima tropical típico apresenta uma estação seca, em média, de três a cinco meses de duração. Apesar desse aspecto xeromórfico, que lembra regiões semi- áridas, não há escassez de água nos cerrados, mesmo nas estações mais secas. As plantas desse bioma têm raízes pro- fundas, chegam a 15 metros de profundidade e alcançam camadas de solo sempre úmidas. Com isso, mesmo na es- tação seca, a árvore dispõe de algum abastecimento hídrico. No período de estiagem, o solo de fato perde umidade na parte superficial, entre (1,5 metro a 2 metros de penetração). Os pontos mais elevados do cerrado estão na cadeia que passa por Goiás em direção sudeste-nordeste. O pico Alto da Serra dos Pireneus, com 1385 metros de altitude, a chapada dos Veadeiros, com 1250 metros e outros pontos com elevações consideradas, que se estendem em direção noroeste; a serra do Jerônimo e outras serras menores, com altitudes entre 500 e 800 metros. O relevo é um tanto acidentado, com poucas áreas planas. Outra formação é constituída por aflorações e rochas calcárias, com fendas, grutas e cavernas em diferentes tamanhos. Tipos de relevo na área nuclear dos cerrados “A imagem, geralmente obtida, de que a área dos cer- rados seria constituída apenas por enormes chapadões, posicionados como divisores entre as bacias do Prata e do Amazonas, não é totalmente verdadeira. Certamente, trata-se do domínio morfoclimático brasileiro, onde ocorre a maior extensividade de formas homogêneas relativas de todo o planalto brasileiro. Planaltos sedi- mentares cedem lugar – quase sem solução de continui- dade – a outros de estruturas mais complexas, nivela- dos por velhos aplainamentos de cimeira, formando o grande planalto Central, com altitudes médias de 600 a 1100 metros.” (AZIZ AB’ SABER) O cerrado é considerado por muitos como um importante berço das águas do Brasil, tão importante para a disponi- bilidade dos recursos hídricos no País quanto a Amazônia. O principal motivo dessa consideração é o fato de esse domínio morfoclimático concentrar uma área que abriga nascentes de importantes rios, beneficiando oito entre as doze grandes bacias hidrográficas brasileiras. Essa configuração natural rendeu ao cerrado o título de “cai- xa-d’água” do Brasil, pois os seus domínios florestais seriam responsáveis por abastecer a maior parte dos rios e recursos hídricos do País, incluindo aí importantes áreas de abaste- cimento. As águas do cerrado abastecem a agricultura e a atividade industrial de boa parte do território brasileiro. A vegetação do cerrado também auxilia na captação das águas das chuvas para o abastecimento de três importan- tes aquíferos, com destaque para o aquífero Guarani, um dos maiores do mundo em extensão e também em volume. Alguns dos mais importantes rios brasileiros possuem boa parte de suas nascentes na região do cerrado. O rio São Francisco é um deles. Isso permite intuir que as áreas desse bioma são grandes fornecedoras de recursos hídricos para outras localidades. Até mesmo para a bacia Amazônia: o rio Xingu, um dos muitos afluentes do Amazonas, advém de nascentes do cerrado, o que também acontece com a maior parte da bacia Tocantins-Araguaia e com as bacias do Para- naíba, do Atlântico Leste e Atlântico Leste Ocidental. A bacia Platina, por sua vez, é também resultante de águas que surgem no cerrado, que abriga o início das bacias do Paraná e do Paraguai. Essas bacias juntam-se e formam a rede de drenagem em questão, que envolve o rio da Prata, um dos mais importantes da América do Sul. FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo Biomas brasileiros: documentário produzido pelo Centro... 13 Boa parte dessa configuração estratégica do domínio morfoclimático do cerrado está na sua posição e no re- levo. As formas de relevo, sobretudo nas zonas planál- ticas, contribuem para o surgimento de nascentes de rios, que rapidamente se deslocam para outras áreas, ao mesmo tempo em que possuem um grande poten- cial hidrelétrico. Os solos são naturalmente pobres em matéria orgâni- ca. De acordo com a sazonalidade do clima, um longo período de estiagem torna mais lenta a decomposição do húmus, cujas características químicas dão conta de bastante acidez. O que se deve, em boa parte, aos al- tos níveis de alumínio ionizado. O processo mediante o qual um átomo ou uma molécula de Aø3+ perde ou ga- nha elétrons para desenvolver íons, tornando-o vene- noso à maioria das plantas agrícolas que não suportam as elevadas quantidades desse composto. Níveis eleva- dos de íons de ferro (Fe) e de manganês (Mn) também contribuem para essa toxidez. A correção do pH pela calagem – aplicação de calcário, preferencialmente o calcário dolomítico, carbonato de cálcio e magnésio e adubação, com macro e micronutrientes – pode tor- nar o solo fértil e produtivo para a cultura de grãos ou de frutíferas. Em parte dos cerrados, o solo pode apresentar concreções ferruginosas, formando cama- das conhecidas como lateritas, de grande concentra- ção de óxidos de ferro e alumínio. A laterita impede a penetração da água de chuva ou das raízes, evitando ou dificultando o desenvolvimento de uma vegetação mais exuberante e da própria agricultura. Em camadas lateríticas espessas e contínuas, há contornos vegetais mais pobres e mais abertos. O cerrado foi declarado patrimônio natural da humanida- de em dezembro de 2001 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). 2.1. Domínio das pradarias mistas do Rio Grande do Sul (campos sulinos) Também conhecido por pampa e campanha gaúcha, é na verdade prolongamentos dos pampas argentino e uruguaio. Trata-se de uma extensa área com predomínio de terras baixas, nas quais sobressaem colinas ou ondu- lações do terreno designado coxilhas. Apresenta vegeta- ção herbácea composta, principalmente, por gramíneas, formando uma imensa pastagem. É o tipo de vegetação mais antigo da região e é provável que seja área rema- nescente de um clima semiárido que existia na região dos pampas em tempos pretéritos. PAMPA GAÚCHO FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo Intérpretes do Brasil: os vários Brasis, por Aziz Ab’Saber FONTE: YOUTUBE multimídia: música - O Cio da Terra – MPB 4 2. FORMAÇÕES HERBÁCEAS Localizados em climas temperados, recebem diferentes denominações dependendo da região do Planeta: prada- rias, na América do Norte; estepes, na Rússia; e pampa, na América do Sul. Suas paisagens apresentam pequenas plantas, sobretudo campos de gramíneas com alturas va- riadas, com algumas poucas árvores que crescem nas mar- gens dos rios. 14 É uma região de drenagem perene, porém, menos densa e volumosa se comparada a drenagem do planalto basáltico do sul do Brasil. Seus rios possuem pouco volume d’água e participam de sub-bacias hidrográficas pouco densas. Esse domínio abrange terrenos sedimentares de diferen- tes idades, com terrenos basálticos e pequenos setores de áreas metamórficas inseridas na província geológica que corresponde ao escudo uruguaio-sul-rio-grandense (serras de sudeste). COXILHA DE CANELA, RIO GRANDE DO SUL As coxilhas aparecem nas planícies do Rio Grande do Sul,onde a pecuária e a rizicultura (arroz) são atividades pre- dominantes, o que comprometeu bastante esse domínio. Também relevantes são os campos do sul do Mato Grosso do Sul, na região de Ponta Porã, conhecidos por campos de vacaria, surgidos da ação antrópica. Há também campos naturais, onde se desenvolve a pecuária: regiões amazôni- cas do alto rio Negro e ilha de Marajó e em Roraima. As maiores ameaças nos campos brasileiros ocorrem em função da pecuária extensiva, que tem levado à formação de areais, onde a vegetação retirada não retorna e os solos perdem toda fertilidade, lembrando fisionomicamente um deserto, como o areal São João, no interior do Rio Grande do Sul. 3. FORMAÇÕES COMPLEXAS São as que apresentam estratos herbáceos, arbustivos e arbóreos, sem predominância de nenhum deles. 3.1. Pantanal O pantanal é uma formação complexa localizada na extensa planície inundável da bacia do rio Paraguai, no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul. Essa vegetação estende-se para além do território brasileiro até o chaco paraguaio. Com a se- paração da antiga Gondwana e o soerguimento dos Andes, formou-se a depressão do pantanal, que deu origem à bacia do rio Paraguai. No período de cheia dos rios, grande parte da depressão é inundada, à exceção de 20% dela que nunca é atingida, notadamente porque está localizada em áreas mais elevadas. Esse fenômeno propicia o aparecimento em mosaico de formações vegetais dos tipos floresta, campo e cerrado. Na região pantaneira, existem duas estações cli- máticas bem definidas: uma chuvosa e outra seca – clima tropical típico. Caracteriza-se, também, por classes vegetais das quais 20% a 50% dos indivíduos do estrato arbóreo superior perdem as folhas na estação seca. Zona costeira Os principais biomas do litoral estão ligados aos de solos arenosos e salinos bastante danificados pelo homem: os manguezais e os biomas psamófilos. Em virtude da grande extensão de nosso litoral, os ecossistemas que se repetem ao longo da costa apre- sentam espécies diferentes graças à diversidade de características climáticas e geológicas existentes. Es- quematicamente, pode-se dividir o litoral brasileiro e seus principais ecossistemas costeiros em: litoral amazônico – estende-se da foz do rio Oia- poque ao rio Parnaíba e caracteriza-se por mangue- zais e matas de várzeas de maré; litoral nordestino – começa no delta do Parnaíba e vai até o Recôncavo Baiano, onde há mangues, recifes, dunas, restingas e matas; litoral do Sudeste – vai do Recôncavo Baiano a São Paulo, área bastante povoada e fortemente in- dustrializada. O litoral de São Paulo é marcado pela presença da serra do Mar, e o ecossistema mais im- portante é o das matas de restinga, além de mangues. litoral sul – estende-se do Paraná ao arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, trecho que se caracteriza pe- los banhados no litoral gaúcho e pelos mangues no Paraná e em Santa Catarina. Os domínios de natureza do Brasil: potencialidades paisagísticas - Aziz Nacib Ab’Saber O professor e geógrafo Aziz Ab’Sáber foi um dos pesquisadores brasileiros mais dedicados à compreensão espacial e territorial do país. multimídia: livros 15 Região conhecida mundialmente por sua beleza faunís- tica, vem sofrendo com a ocupação humana. Poluentes despejados por mineradoras que atuam nas áreas mais altas, ao seu redor, são drenados pelos rios e levados para o pantanal. A pecuária e a monocultura instaladas na re- gião também destroem esse paraíso em razão do uso in- discriminado de agrotóxicos que poluem as águas. Mais recentemente, com a construção da ferrovia que deve ligar o Centro-Oeste brasileiro à Argentina, o fluxo de pessoas e mercadorias aumentará, intensificando as trocas comer- ciais do Mercosul. VISTA ÁREA DO COMPLEXO DO PANTANAL 3.2. Manguezais Numa superfície perto de 20 mil km2, a costa brasileira ofe- rece uma estreita faixa de floresta, o manguezal ou mangue. É composto por um pequeno número de espécies arbóreas, desenvolvendo no encontro de águas doces e salgadas, so- bretudo nos estuários, baías e na foz dos rios. Trata-se de ambiente com bom abastecimento de nutrientes sob os so- los lodosos, que compõe uma textura de raízes e material vegetal parcialmente decomposto chamado turfa. As árvores do manguezal apresentam raízes aéreas (pneumatóforas), que, além da fixação, cumprem a função de respiração; são também plantas halófilas, isto é, tolerantes ao sal. MAGUEZAL, NO DETALHE AS RAÍZES AÉREAS (PNEUMATÓFICAS) Um bom passeio para observar e estudar alguns biomas é a Praça do Relógio na Cidade Universitária. A Praça do Relógio foi construída em 1971 e reinaugurada em setembro de 1997, depois de uma reforma. A praça foi reurban- izada de acordo com um projeto paisagístico elaborado por professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Instituto de Biociências. Esse projeto criou, nos 176 mil metros quadrados do local (equivalente a 18 quarteirões urbanos), os seis ecossistemas vegetais predominantes no Estado de São Paulo. Num dos lados da praça, junto à Avenida Professor Luciano Gualberto, por exemplo, foram plantadas 4 mil mudas de 60 espécies típicas da mata Atlântica, como jatobá, jequitibá, pau-brasil e cedro-rosa. Ao longo da praça distribuem-se ainda espécies vegetais da mata araucária, restinga, campo rupestre, cerrado e mata semidecídua. Painéis explicativos expostos em vários locais dão mais informações sobre os ecossistemas. PRAÇA DO RELÓGIO - CAMPUS BUTANTÃ VIVENCIANDO 16 Essa formação vegetal é importantíssima para a reprodu- ção da fauna marinha, porque muitos tipos de peixe litorâ- neo dependem, em sua fase jovem, das fontes alimentares do manguezal. ÁREA DE OCORRÊNCIA DOS MANGUEZAIS VIA MANGUE, EM RECIFE - MANGUEZAL PRESSIONADO PELA URBANIZAÇÃO Biomas psamófilos DUNAS DE AREIA EM JALAPÃO, TOCANTINS Nas dunas, praias e restingas, de solo salgado (halófi- lo) e arenoso, desenvolve-se uma vegetação herbácea e arbustiva. As restingas são cordões arenosos, de for- mação recente, originados por correntes do mar para- lelas à costa. Podem ter formas variadas, como barras e planícies; ambas são montes de areia formados pelo vento nas praias. A escassez de água e de nutrientes torna difícil a adaptação de plantas e animais nesses ambientes. Aranhas, lagartos e rãs são os seus habitantes mais comuns. Entre as espécies vegetais destacam-se o capim-da-praia, o capim-da-areia e a salsa-da-praia. 3.3. Vegetações de transição 3.3.1. Mata dos cocais Encontra-se entre a floresta equatorial, a caatinga e o cer- rado, estendendo-se por uma área de clima tropical que passa pelos Estados do Maranhão, Piauí, parte do Ceará e no Rio Grande do Norte. É conhecida como mata de transi- ção por estar na área de contato entre formações vegetais distintas, contendo a “mistura” das características dessas formações. Composta por coqueiros, babaçus, oiticicas, carnaúbas e palmeiras – destes dois últimos, faz-se bas- tante uso industrial. Por encontrarmos uma parcela significativa da população brasileira vivendo na porção litorânea (cerca de 35%), há um intenso processo de urbanização que vem destruindo os manguezais. Para a construção de casas, ruas, prédios e indústrias, aterram-se áreas de mangue e sufoca-se o ecossistema. Basta observar as orlas marítimas densa- mente urbanizadas, como Santos, Rio de Janeiro, Salvador, Natal, Recife, entre outras cidades. No Recife, surgiu um movimento cultural nos anos 1990 – o mangue beat –, cujo objetivo foi chamar a atenção para a destruição desse ambiente natural em decorrência do desenfreado processo de urbanização daquela metrópole nordestina. Era verde? Ecossistemas brasileiros ameaçados - Zysman Neiman Tema constante na mídia e grande objetivo de estudos acadêmicos (principalmente a partir do fim do século XX), a questão ambiental vem sensibilizando toda a sociedade. multimídia: livros 17 O babaçu é uma palmeira que nasce, em princípio, no Maranhão e no norte do Tocantins,do qual se aprovei- tam os coquinhos para a produção de óleos comestíveis, chocolates, lubrificantes e até mesmo combustíveis (bio- energia); as folhas, para manufatura de cestas, chapéus etc. Mas seu elemento mais valioso, por enquanto, são as amêndoas, usadas na indústria de sabão, óleo, margarina e de alguns outros produtos químicos. A carnaúba é um coqueiro muito comum no Ceará e no Piauí, bem como é conhecida como árvore-providência, pois todas as suas partes são aproveitadas. Das folhas se extrai a famosa cera de carnaúba, usada na produção de isolantes e lubrificantes, graxa, batom etc.; o tronco é empregado na construção de habitações; o fruto e o palmito nos servem de alimentos, assim como as raízes, utilizadas como base para remédios; as sementes, torradas e moídas, servem à prepa- ração de bebida. A larga produção de cana-de-açúcar no período colonial devastou parcela significativa dessa mata. BABAÇUAIS Matas galerias ou matas ciliares – as matas gale- rias aparecem, em especial, ao longo dos rios da região de cerrado e da caatinga. Localizado às margens dos rios, o solo é permanentemente úmido, criando condi- ções para o desenvolvimento dessa mata, composta, comumente, por espécies da mata tropical atlântica. Os finais de tarde em Lago do Junco, cidade distante 300 quilômetros de São Luis (MA), são marcados por um ritual que se repete há décadas: grupos de mulheres adentram as matas entoando cantos e versos para que- brar coco-babaçu. Nas mãos, ferramentas e, nas costas, o cofo, um cesto de palha. Muita mulheres da região passam boa parte da vida enfiadas no mato. A maioria das famílias rurais de Lago do Junco chegou lá nos anos 1940. Migraram para a mata dos cocais, bioma onde os babaçuais são abundantes, para ganhar a vida. Até o final dos anos 1980, o comércio de babaçu obedeceu ao “quebra-metade”. João Valdeci Viana Lima, presi- dente da Cooperativa dos Produtores do Lago do Junco (Coopalj), conta que, ao permitir a entrada nas terras, o fazendeiro exigia metade da colheita. Em 1989, o quilo- grama da amêndoa custava o equivalente a R$ 0,04. Atualmente, o mesmo volume custa R$ 2,50 e o quilo- grama do óleo, 3,15 euros. Por ano, as mulheres coletam cerca de 700 toneladas de amêndoas. A cooperativa compra, processa, extrai o óleo e exporta. No Maranhão, o babaçu ainda é o único sustento de muitas famílias que vivem no campo – um trabalho de subsistência co- mandado pelas quebradeiras de coco. FONTE: YOUTUBE multimídia: música - Purificar o Subaé – Maria Bethânia 3.4. Outras áreas de transição Mata seca – na área de transição entre a Amazônia e o cerrado, a floresta apresenta manchas de vegetação comum ao bioma do cerrado; essas manchas contor- nam porções desse tipo de florestas. Floresta de folhas secas – área de transição entre o cerrado e a caatinga, apresenta uma vegetação mais rica que a caatinga e um clima mais seco que o do cerrado. multimídia: sites www.arvoresbrasil.com.br 18 LIMITES DAS MATAS CILIARES (COMO PODE SER PEDIDO EM PROVA). A vida na superfície da Terra está inserida em um amplo contexto de relações de troca e fluxo de energia, compondo sistemas abertos e hierarquizados que, em seu conjunto, denominamos biosfera. Esta se relaciona com a hidrosfera, com a litosfera e com a atmosfera, que variam de acordo com os períodos e com o espaço, em níveis de associação ou de organização estabelecidos por relações de competição, predação e cooperação, como observamos nas redes alimen- tares em que as plantas são alimentos para muitos animais, mas precisam de muitos deles para cumprir seu ciclo de vida. Esses processos são objetos de estudo das Ciências Biológicas. No entanto, nesse contexto também se inserem as relações sociais que, além de participarem do processo de troca de energia, participam ativamente das transformações dos sistemas naturais ao longo dos períodos. A Ciência Geográfica estuda a vida na superfície do planeta também na escala do bioma e como a evolução desses biomas ao longo da história proporcionaram transformações no espaço. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas. ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM 26 29 Habilidades 19 A influência exercida pelo ambiente natural sobre o comportamento das sociedades humanas, promoveu estudos sociológicos, geográficos e históricos nas últimas décadas que consideram as variáveis ambientais em suas análises. O crescimento populacional, adicionado ao modelo capitalista de sociedade e à divisão do trabalho que se con- centrou no terceiro setor da economia, trouxe uma apropriação excessiva dos territórios, explorando áreas antes ambientalmente preservadas e gerando problemas ambientais. É possível, no entanto, que se promova a apropriação de territórios de forma consciente, conhecendo o meio físico, seus elementos e processos associados para, assim, decisões voltadas ao planejamento urbano e ambiental serem menos prejudiciais ao meio natural. Modelo (ENEm) A FLORESTA AMAZÔNICA, COM TODA A SUA IMENSIDÃO, NÃO VAI ESTAR AÍ PARA SEMPRE. FOI PRECISO ALCANÇAR TODA ESSA TAXA DE DESMATAMEN- TO DE QUASE 20 MIL QUILÔMETROS QUADRADOS AO ANO, NA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XX, PARA QUE UMA PEQUENA PARCELA DE BRASILEIROS SE DESSE CONTA DE QUE O MAIOR PATRIMÔNIO NATURAL DO PAÍS ESTÁ SENDO TORRADO. AB’SABER, A. AMAZÔNIA: DO DISCURSO À PRÁXIS. SÃO PAULO: EDUSP, 1996. UM PROCESSO ECONÔMICO QUE TEM CONTRIBUÍDO NA ATUALIDADE PARA ACELERAR O PROBLEMA AMBIENTAL DESCRITO É: a) expansão do projeto Grande Carajás, com incentivos à chegada de novas empresas mineradoras. b) difusão do cultivo da soja com a implantação de monoculturas mecanizadas. c) construção da rodovia Transamazônica, com o objetivo de interligar a região Norte ao restante do País. d) criação de áreas extrativistas do látex das seringueiras para os chamados povos da floresta. e) ampliação do polo industrial da Zona Franca de Manaus, visando atrair empresas nacionais e estrangeiras. Análise expositiva - Habilidades 26 e 29: A floresta Amazônica é a maior formação original de floresta tropi- cal úmida contínua no planeta. Sua localização expõe grandes extensões de terra em contato com áreas de cerrado, onde a expansão agropecuária (arco de desmatamento) exerce forte pressão sobre a floresta. Principalmente lavouras mecanizadas de cultivo de soja. Alternativa B B 20 PROBLEMAS AMBIENTAIS DO BRASILAULAS 19 E 20 1. INTRODUÇÃO O meio ambiente humano costuma ser dividido em meio cultural, constituído pelos produtos da atividade humana: edifícios, agricultura, instituições políticas e sociais, indus- triais etc.; e meio natural, o lugar dos seres vivos e das coisas. Denomina-se meio natural, a natureza original, a primeira natureza. A natureza humanizada, o meio cultural, é denominada segunda natureza. O conjunto dos elementos que constituem o meio ambi- ente humano – naturais e culturais – é fundamental à vida, cuja qualidade depende da melhor ou pior situação desses elementos. A questão ambiental, portanto, diz respeito à qualidade de vida dos grupos humanos. Com a modern- ização – industrialização e urbanização –, o meio cultural passa a predominar sobre o natural, que se transforma e acaba por depender cada vez mais da ação humana, das modificações impostas pela sociedade. A natureza human- iza-se, deixa de ser uma primeira natureza para se transfor- mar em segunda natureza. O Brasil é um dos poucos países que ainda mantém áreas extensas onde predomina o meio natural, bem como uma variadíssima biodiversidade. Uma dessas áreas – de longe a mais importante em extensão territorial e biodiversidade total – é a Amazônia, embora venha ocorrendo há anos um processo acelerado de devastação florestal e de criação de uma segunda natureza. Poluiçãoe deterioração do meio ambiente caracterizam-se pela degradação de elementos fundamentais para uma boa qualidade de vida: ar contaminado por gases nociv- os, rios cheios de lixo e resíduos industriais, cuja água é imprópria para consumo, barulho excessivo nas cidades, moradias sem as mínimas condições de higiene, alimentos contaminados por produtos tóxicos. A modernização da sociedade brasileira ocasionou uma série de impactos sociais negativos: concentração na dis- tribuição da renda nacional; situação precária da maioria da população; multiplicação de favelas e outras moradias rudimentares nos grandes centros urbanos, entre outros, são consequências ambientais decorrentes do processo de modernização do Brasil. 2. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ASPECTO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NA CIDADE DE SÃO PAULO A poluição do ar é causada pela presença de partículas em suspensão e de gases tóxicos, como dióxido e monóxido de carbono, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, entre outros. Os principais agentes poluidores são as indústrias, os veículos automotores (automóveis, caminhões, ônibus), as usinas termelétricas, a queima de matas e, em menor escala, o aquecimento doméstico a carvão ou lenha. Al- guns tipos de indústria poluem mais a atmosfera: refinaria de petróleo, fábricas de cimento e de produtos químicos, usinas termelétricas, siderúrgicas e metalúrgicas. Essa poluição forma sobre as cidades uma espécie de ne- blina, que torna o ar mais escuro e limita a visão do hori- zonte. O ar poluído penetra nos pulmões e causa ou agra- va várias doenças, especialmente do sistema respiratório, como bronquite crônica, asma e até câncer pulmonar. 2.1. Efeito estufa Efeito estufa é um fenômeno natural de aquecimento térmico da Terra. É imprescindível para manter a temperatura do Pla- neta em condições ideais de sobrevivência. Sem ele, a Terra seria muito fria, dificultando o desenvolvimento das espécies. O efeito estufa acontece da seguinte forma: ao atingirem a Terra, os raios provenientes do Sol têm dois destinos. Parte deles é absorvida e transformada em calor, mantendo o Planeta quente, enquanto outra parte é refletida e direcio- nada para o espaço, como radiação infravermelha. Cerca COMPETÊNCIA: 6 HABILIDADE: 28 21 de 35% da radiação é refletida de volta para o espaço, enquanto os outros 65% ficam retidos na superfície do Planeta, em razão da ação refletora de uma camada de gases terrestres, os gases estufa. Eles agem como isolantes por absorver uma parte da energia irradiada e são capazes de reter o calor do Sol na atmosfera, formando uma espé- cie de cobertor em torno do Planeta e impedindo que ele escape de volta para o espaço. Nas últimas décadas, contudo, a concentração natural desses gases isolantes vem aumentando demasiadamente pela ação do homem, em razão da queima de combustíveis fósseis, do desmatamento e da ação das indústrias, o que faz aumentar também a poluição do ar. Uma estufa é um lugar úmido, abafado, semelhante a uma sauna, usado para cultivar plantas em desenvolvimento que precisam de calor e umidade. Os gases do efeito estufa (GEE), misturados à atmosfera, comportam-se como uma estufa, retendo calor solar próximo à superfície terrestre. 2.1.1. Gases do efeito estufa (GEE) Os principais gases que provocam esse fenômeno são: dióxido de carbono (CO2); óxido nitroso (N2O); e metano (CH4). A questão a respeito do aquecimento global mostra-se como arena de intenso debate. Uma parte dos cientistas acredita que o aquecimento do Planeta possui dinâmica natural, ba- seada nos ciclos de aquecimento e resfriamento; outra parte aposta no fator antropogênica. Estes últimos argumentam que o efeito estufa causa um superaquecimento, provocan- do consequências desastrosas, como o derretimento de parte das calotas polares, mudanças climáticas, elevação do nível dos oceanos, maior incidência de fenômenos, como furacões, tufões, ciclones, secas, extinção de espécies, destruição de ecossistemas e ondas de calor. Seguindo a hipótese do aquecimento pela via antropogêni- ca, a Organização das Nações Unidas (ONU) convocou vários países a assinarem um tratado, em 1997, durante a realização da ECO-92, no Rio de Janeiro, denominado Pro- tocolo de Kyoto. Este protocolo determinou que os países industrializados diminuíssem, entre 2008 a 2012, suas emissões de gases poluentes a um nível 5,2% menor que a média de 1990. Os Estados Unidos, país que mais contribui para esses danos ambientais e, portanto, maior poluente do Planeta, não ratificaram o documento. O aquecimento global também foi tema recorrente no evento Rio+20, em 2012. O Brasil está em quarto lugar no ranking dos países que mais emitem gases de efeito estufa na atmosfera. A maior con- tribuição brasileira, cerca de 80% de nossas emissões, deve- se aos desmatamentos da Amazônia e da mata Atlântica. 2.2. Inversão térmica Trata-se de um fenômeno atmosférico muito comum nos grandes centros urbanos industrializados, sobretudo naqueles localizados em áreas cercadas por serras ou mon- tanhas. Esse processo ocorre quando o ar frio (mais denso) é impedido de circular por uma camada de ar quente (menos denso), provocando uma alteração na temperatura. Outro agravante da inversão térmica é a retenção da camada de ar fria nas regiões próximas à superfície terrestre, com uma grande concentração de poluentes. A dispersão desses poluentes fica extremamente prejudicada, formando uma camada acinzentada, oriunda dos gases emitidos pelas in- dústrias, pelos automóveis e outros emissores. Esse fenômeno intensifica-se durante o inverno, época em que, em virtude da perda de calor, o ar próximo à superfície fica mais frio que o da camada superior, influenciando di- retamente na sua movimentação. Como durante o inverno o índice pluviométrico (chuvas) também é menor, há mais dificuldade ainda para a dispersão dos gases poluentes. É importante ressaltar que a inversão térmica é um fenôme- no natural. É registrada em áreas rurais e com baixo grau de industrialização. No entanto, sua intensificação e seus efeitos nocivos devem-se ao lançamento de poluentes na atmosfera, o que é muito comum nas grandes cidades. Doenças respiratórias, irritação nos olhos e intoxicações são algumas das consequências da concentração de polu- entes na camada de ar próxima ao solo. Entre as possíveis medidas para minimizar os danos gerados pela inversão térmica estão a utilização de biocombustíveis, fiscalização de indústrias, redução das queimadas e políticas ambien- tais mais eficazes. 22 cado pelo aumento do gás carbônico na atmosfera, o as- faltamento de ruas e avenidas, as massas de concreto e a ausência de vegetação. Os grandes edifícios (“plantados” na parte central das ci- dades) limitam a ação dos ventos e provocam a formação de verdadeiras “ilhas de calor”. O asfaltamento do solo urbano dificulta a infiltração das águas das chuvas e contribui para a ocorrência de enchentes nas épocas de fortes precipitações. O aumento dos índices de pluviosidade decorre, sobretu- do, da grande quantidade de partículas sólidas de poeira na atmosfera da cidade. Elas funcionam como núcleos de condensação do vapor de água atmosférico: o vapor passa para o estado líquido e forma gotas ao se aglutinar em torno das micropartículas, caindo em seguida sob a forma de chuva. 2.4. Chuva ácida Uma consequência séria da poluição do ar são as chuvas ácidas, que corroem edifícios – por isso, também denomi- nadas “câncer de mármore” –, carros, monumentos, além de matar vegetações. São chuvas com poluentes ácidos ou corrosivos produzidos por reações químicas na atmosfera, em função da mistura de diversos tipos de gases com a água existente no ar, originando chuvas com pH mais ácido. 2.4.1. Formação de chuva ácida Não apenas os habitantes e o meio ambiente das áreas industrializadas ou com grande número de veículos sofrem com as chuvas ácidas. Elas ocorrem também em regiões distantes, pois os ventos podem carregaras nuvens poluí- das para longe, onde ocasionam estragos na agricultura, inutilizando colheitas, empobrecendo os solos e até mes- mo matando grande quantidade de peixes nos rios. As metrópoles brasileiras são mais poluídas que outras grandes cidades, como Boston (EUA) e Amsterdã (Holan- da), por uma série de motivos: falta de zoneamento rígido que determine áreas periféricas – nas quais não há ventos FENÔMENO DA INVERSÃO TÉRMICA 2.3. Clima urbano: ilhas de calor Outra alteração ambiental que a industrialização acarreta nos centros urbanos é a formação de um microclima es- pecífico nessa área, denominado clima urbano. O clima de uma área não depende apenas de condições locais, mas de fatores planetários – massas de ar, circulação atmosférica, insolação –, que são os mais importantes para as condições climáticas. Todavia, os fatores locais – maior ou menor quan- tidade de água, de vegetação, de gás carbônico no ar etc. –, também influenciam o clima, embora sua importância restrinja-se a áreas pequenas. Por isso, o nome microclima para designar climas de áreas restritas de algumas cidades. De modo geral, as cidades industrializadas são mais quentes e mais chuvosas que as áreas rurais vizinhas. A elevação das médias térmicas dos centros urbanos ocorre por diversos fatores, tais como o efeito estufa provo- FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo A Lei da Água: Novo Código Florestal O filme mostra a importância das florestas para a conservação dos recursos hídricos no Brasil, e problematiza o impacto do Novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso em 2012, nesse ecossistema e na vida dos brasileiros. 23 que soprem em direção à cidade – para a instalação de in- dústrias; carência de bons sistemas de transporte coletivo, o que leva as pessoas a usarem os próprios carros diaria- mente para o trabalho; falta de controle sobre a emissão de gases por chaminés e escapamentos de veículos. Somente nos anos 1990, estabeleceram-se limites para essas emissões, com programas de instalação de catali- sadores nos carros novos e filtros especiais em chaminés de fábricas. Em cidades como São Paulo, adotou-se um sistema de rodízio de veículos de placas estipuladas, que não podem circular em um dia da semana, algo que se pensou inicialmente para o inverno, quando a poluição do ar é mais intensa por causa das poucas chuvas e das in- versões térmicas, e acabou permanecendo durante todo o ano. Mas isso obteve um resultado medíocre no trânsito, que prossegue lento e engarrafado. PROFETA ISAÍAS, FEITO POR ALEIJADINHO (1730-1814) DANIFICADO PELA POLUIÇÃO DO AR (CHUVA ÁCIDA), EM CONGONHAS DO CAMPO/MG É bom ressaltar que medidas paliativas desse tipo, muito comuns no Brasil, comprovam a incapacidade do poder pú- blico de equacionar o problema. É preciso investir de fato numa solução duradoura que não imponha sacrifícios inú- teis à maioria da população, como a construção de melho- res sistemas de transporte públicos, principalmente metrôs. 2.5. Carência de áreas verdes Um dos problemas ambientais das grandes e das médias cidades brasileiras é a carência de áreas verdes, de reser- vas florestais, parques e praças com muitas árvores. Essa carência agrava ainda mais a poluição do ar e torna mais restritas as opções de lazer da população, pois tais áreas são, em geral, locais de recreação, de esportes, de passeios ou de descanso. Estabeleceu-se internacionalmente que são necessári- os no mínimo 16 m2 de área verde por habitante, pro- porção respeitada em cidades europeias como Londres, Estocolmo, Copenhague e Viena. Mas no Brasil, isso é raro: em São Paulo, existem apenas 4,5 m2 de área verde por habitante. VISTA AÉREA DO PARQUE DO IBIRAPUERA, EM SÃO PAULO (2014) 3. LIXO E ESGOTO O lixo produzido nas cidades, cuja coleta é gerenciada pela administração local, é classificado como resíduos sólidos urbanos (RSU). O Brasil produz perto de 150 mil O ambiente urbano – Francisco Capuano Scarlato Organizada em três partes, esta obra apresen- ta ao leitor uma visão abrangente do assunto, questionando a urbanização e analisando as do processo de ocupação intensa das áreas urbanas. Avalia os efeitos da concentração de indústrias e de veículos na cidade e discute o grave problema do armazenamento e pro- cessamento do lixo, um dos grandes desafios da sociedade de consumo. multimídia: livros 24 Protocolo de Kyoto. O projeto pioneiro no Brasil de uti- lização do biogás como crédito de carbono é o Centro de Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro. Os aterros sanitários têm custo elevado e prazo de uti- lização, em média, entre 20 e 30 anos. A logística en- volvida no transporte do lixo para áreas afastadas dos centros urbanos é um dos componentes mais complexos de resolver, ainda mais no trânsito congestionado das grandes cidades. Outra opção dispendiosa do ponto de vista financeiro é a incineração do lixo, opção muito uti- lizada em países como Japão e Austrália. As instalações modernas de combustão de lixo são projetadas para destruir o lixo e recuperar a energia para produção de vapor e eletricidade. Em 2010, o governo brasileiro instituiu a Lei Nacional dos Resíduos Sólidos, que estipulou que, até 2014, todos os municípios deveriam adotar uma destinação correta para seus resíduos, substituindo todos os lixões por aterros sanitários. As prefeituras precisam apresentar seus proje- tos para que o governo federal ofereça parte dos recursos necessários para a sua implementação. Infelizmente, o Bra- sil não conta com um maior suporte institucional para a coleta seletiva do lixo, que representa a coleta de materiais passíveis de serem reutilizados, reciclados ou recuperados, como papéis, plásticos, metais, vidros, entre outros. Cabe às cooperativas independentes ou ligadas ao pod- er público realizar essa separação do lixo antes de ele ser enviado para os aterros, ou ao bom senso da população realizar essa separação. Isso sem falar em milhares de pes- soas que, em condições de subemprego, realizam a árdua tarefa de separar os resíduos que podem ser revendidos, como o papelão e o alumínio. A reciclagem e a reutilização de materiais que poderiam acumular em lixões, rios e cór- regos, auxilia ainda na economia de energia usada para a transformação das matérias-primas. toneladas de lixo por dia (77% de origem residencial). De acordo com a Abrepe (Associação Brasileira de Empre- sas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), 60,5% dos municípios brasileiros estão acumulando seus resíduos sólidos de forma inapropriada. Na maior parte do País, o lixo é enviado para lixões, áreas onde o lixo simplesmente é empilhado sem cuidados com a separação de produtos orgânicos e inorgânicos, ou, ainda, com a reciclagem e o tratamento dos resíduos que podem contaminar solos, rios e aquíferos. Os locais em que o lixo recebe uma cobertura com terra são chamados de aterros controlados, técnica que não acaba com a contaminação, e apenas inibe o mau cheiro e a proliferação de insetos e animais vetores de doenças. FONTE: YOUTUBE multimídia: vídeo Lixo Extraordinário (2010) O filme mostra a vida difícil de pessoas que vivem literalmente no lixo e que dependem dele para a sobrevivência. O artista Vik Muniz, que nasceu na classe média baixa paulistana e hoje é um dos maiores expoentes das artes visuais no mundo, trabalha com colagens e montagens de materiais diversos para formar retratos. Os sistemas mais adequados para a destinação do lixo são os aterros sanitários, construídos em locais distantes de mananciais e áreas residenciais. Sua estrutura básica é constituída por materiais impermeabilizantes, como o PVC, para que o chorume – líquido formado pela decomposição do lixo – não infiltre no subsolo, podendo até mesmo ser reaproveitado pelo sistema de compostagem para pro- dução de adubos e fertilizantes naturais. Outra vantagem dos aterros sanitários é a do aproveita- mento dos gases provenientes da decomposição do lixo
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