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MÓDULO 2 ECONOMiA DAS DROGAS, DiNÂMiCA DO NARCOTRÁFiCO E CRiMES CONEXOS GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS SECRETÁRIO NACIONAL Luiz Roberto Beggiora DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL Gustavo Camilo Baptista COORDENADOR-GERAL DE PESQUISA E FORMAÇÃO Carlos Timo Brito CONTEUDISTAS George Felipe Lima Dantas Isângelo Senna da Costa REVISÃO DE CONTEÚDO Carlos Timo Brito Fernanda Flavia Rios dos Santos APOIO Ana Carolina Pastorino Magalhães Daphne Sarah Gomes Jacob Eurides Branquinho da Silva Maria Aparecida Alves Dias Maria de Fatima Pinheiro de Moura Barros Tatiana Almeida Santos EXPEDIENTE Baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet REALIDADE AUMENTADA (RA) Nas páginas deste material encontram-se códigos como este ao lado que dão acesso a conteúdos extras. Para visualizá-los, baixe o aplicativo Zappar no seu celular ou tablet e enquadre os códigos no aplicativo (você precisa ter conexão à internet). Todo o conteúdo do Curso FRoNt - Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao Crime Organizado, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2021, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional. BY NC ND UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD) SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Luciano Patrício Souza de Castro labSEAD COORDENAÇÃO GERAL Luciano Patrício Souza de Castro FINANCEIRO Fernando Machado Wolf SUPERVISÃO TÉCNICA EAD Giovana Schuelter SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL Francielli Schuelter SUPERVISÃO DE MOODLE Andreia Mara Fiala SECRETARIA ADMINISTRATIVA Caroline da Rosa Gabriela Cassiano Abdalla DESIGN INSTRUCIONAL Supervisão: Milene Silva de Castro Danrley Mauricio Vieira Márcia Melo Bortolato Marielly Agatha Machado DESIGN GRÁFICO Supervisão: Fabrício Sawczen Heliziane Barbosa Juliana Jacinto Teixeira Luana Pillmann de Barros Vinicius Alves Jacob Simões REVISÃO TEXTUAL Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo Isadora da Silveira Calônico PROGRAMAÇÃO Supervisão: Alexandre Dal Fabbro Cleberton de Souza Oliveira Thiago Assi AUDIOVISUAL Supervisão: Rafael Poletto Dutra Fabíola de Andrade Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira Renata Gordo Corrêa TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Dalmo Tsuyoshi Venturieri Wilton Jose Pimentel Filho SUMÁRIO Unidade 1 | LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL MaCRO): PROdUÇÃO, dISTRIBUIÇÃO e COnSUMO de dROGaS Unidade 2 | LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL MICRO) 1.1 Economia das drogas 2.1 Abordagens psicossociais sobre os atores do varejo de drogas ilícitas 1.2 Produção, distribuição e consumo de drogas 2.2 Influência social: Teoria do Comportamento Planejado (atitude, norma subjetiva e controle comportamental percebido) 7 7 26 aPReSenTaÇÃO 6 Unidade 3 | RedUÇÃO da deManda e da OFeRTa de dROGaS 3.1 Redução da demanda 3.2 Redução da oferta 57 17 2.3 Vulnerabilidades socioeconômicas e outros preditores do envolvimento com o tráfico de drogas e o crime organizado 26 40 48 57 61 2.4 Subculturas criminais 53 Unidade 4 | LaVaGeM de dInHeIRO e FInanCIaMenTO de ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS 4.1 Financiamento de organizações criminosas 4.2 Lavagem de dinheiro 69 69 73 ReFeRÊnCIaS 80 Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 6 aPReSenTaÇÃO Olá, cursista! O presente módulo tem por objetivo abordar a dinâmica do mercado das drogas, com ênfase nos aspectos macroestruturais e também nos aspectos ligados às trajetórias dos indivíduos que nele desempe- nham ao menos três papéis elementares: ofertante, demandante ou demandante-ofertante. Dessa maneira, você vai ter a oportunidade de transitar por conhecimentos produzidos em áreas como o Direito, Criminologia, Economia e a Psicologia. Este módulo foi pensado para que você possa caminhar por essas e outras áreas do conhecimento. Mas, acima de tudo, vai levá-lo a uma espécie de passeio entre os diferentes níveis de análise exigidos pelos complexos temas: crime organizado e tráfico de drogas. OBjeTiVOS dO MÓdULO � Descrever as noções e os conceitos essenciais à temática da “economia das drogas”. � Discutir fatores psicológicos, sociais, culturais e econômicos relevantes para a identificação de fatores que preveem o envolvimento dos indivíduos com a violência, o crime e as drogas. � Apontar características gerais do perfil do demandante por drogas e descrever o perfil do ofertante de drogas. � Discutir os aspectos legais e operacionais relacionados à lavagem de dinheiro e ao financiamento das organizações criminosas. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo de apresentação do módulo. RA Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 7 UnIdade 1 LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL MaCRO): PROdUÇÃO, dISTRIBUIÇÃO e COnSUMO de dROGaS A partir daqui, vamos percorrer nossa jornada pelo caminho do co- nhecimento, mas você sabe por onde seguir? Vamos iniciar nossa caminhada navegando pela lógica de mercado do consumo de drogas. Assim, nesta unidade, a proposta didático- -pedagógica é apresentar os aspectos macroestruturais do mercado das drogas, bem como sua lógica econômica. Você também vai estudar alguns aspectos relevantes sobre o cultivo, a produção e a distribuição das drogas. COnTexTUaLiZandO 1.1 eCOnOMia daS dROGaS Tyler Cowen, professor de Economia da Universidade George Mason, em Fairfax, Virgínia, diz que a economia está presente em toda parte e “entendê-la pode ajudar você a tomar melhores decisões, levando-o a ter uma vida mais feliz.” Sabendo disso, considere que o termo também está presente nos aspectos macroestruturais do mercado das drogas, conhecido como: “economia das drogas”. A expressão pode ser entendida tanto como gênero quanto como espécie. Enquanto gênero, trata-se de uma ati- vidade que envolve agentes econômicos. Entre esses agentes estão: � Os produtores São aqueles que plantam Cannabis sativa (genericamente conhecida como “maconha”), erythroxylum coca (genericamente conhecida, depois de ter suas folhas processadas, como cocaína, sendo apresentada em pó, pasta ou merla e cristais ou crack), bem como os produtores de outras drogas de uso lícito. � Os transportadores Na linguagem própria do narcotráfico, são as “mulas”, ou “aviões”, quando é pequena a quantidade a ser transportada. � Os vendedores Os chamados narcotraficantes (desde os atacadistas até os retalhistas). glossáRio A cocaína, benzoilmetilecgonina, ou éster do ácido benzoico, também conhecida por coca, é um alcaloide, estimulante e com efeitos anestésicos, utilizado fundamentalmente como uma droga recreativa. Pode ser aspirada, fumada ou injetada. Os alcaloides são uma classe de substâncias orgânicas nitrogenadas com características básicas (encontradas em plantas vasculares e em alguns fungos, também podem ser obtidas por síntese, e muitas delas possuem ação terapêutica, caso da morfina, atropina etc.). A merla é a pasta resultante do processamento de folhas de coca com ácido sulfúrico, querosene e cal virgem (óxido de cálcio) entre outras substâncias precursoras, do qual resulta uma concentração de 40 até 70% de cocaína. Retalhistas são os vendedores do varejo. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 8 � Os compradores Os usuários de drogas. Algumas vezes, dependentes químicos (eventualmente adoecidos e ao menos temporariamente incapazes). Também é importante que você saiba que nessa economia existem mercados consumidores, que podem ser mercados de drogas abertos, semiabertos ou fechados. Tudo isso sob sistemas de precificação e regulamentação que muitas vezes não visíveis, porém fortemente reforçadospelas leis da oferta e da procura, incluindo a influência da própria legislação vigente, seja ela proibitiva ou não. Enquanto espécie, a economia das drogas é uma vertente de pesquisa econômica encabeçada por Gary Becker (2004). Resumidamente, podemos entender que Becker, seus colaboradores e seguidores es- tabeleceram, teoricamente, que a proibição legal da venda ou do uso de drogas teria custos maiores e piores que os resultantes de políticas públicas de liberação. Vale destacarmos que os custos das políticas de liberação também foram previstos pelos autores. Nesse caso, os extratos sociais mais privilegiados seriam os menos afetados pela liberação, enquanto a base da pirâmide socioeconômica (os mais pobres) sofreria mais com as consequências das políticas liberacionistas (adoecimento, desemprego, empobrecimento, vio- lência etc.). Essa discussão, fora das equações de Becker, ainda não produz conclusões definitivas. glossáRio Políticas Públicas são um sistema de linhas de ação, medidas regulatórias, leis e prioridades de financiamento, levando em conta um determinado tema definido politicamente como prioridade. As políticas públicas são materializadas pela constituição, pelas leis ou pelas decisões judiciais. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 9 Gary Becker (1930-2014). Foto: © [Songman Kang] / Future Lear. Gary Becker (1930-2014), ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1992, é considerado fundador da literatura sobre economia do crime. Seu estudo de 1968, “Crime e Castigo: Uma Abordagem Eco- nômica”, foi a primeira análise rigorosa sobre o crime feita por um economista e inspirou muitos outros economistas a seguirem o exemplo de Becker (FUTURE LEARN, 2021). As contribuições de Becker e seus colaboradores são ainda mais significativas, dado que o modelo econômico tradicional é baseado na relação direta de oferta e demanda. Isso porque estabelece bases econômicas para a formulação de políticas de combate e prevenção às drogas mundo afora. Os esforços para fornecer modelos econômicos de mercados ilegais envolvendo as drogas remontam há, pelo menos, cinco décadas (por exemplo, Becker, em 1968). Contudo, é importante entendermos que o modelo econômico ortodoxo apresenta limitações quando o assunto é a explicação do funcionamento dos mercados de drogas ilegais. (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2010). Uma questão óbvia que muitas vezes passa despercebida é o fato de que os mercados ilegais, como o das drogas, não obedecem estritamente às mesmas regras dos mercados legais. As características implícitas de muitos mercados legais nas economias modernas, como a certificação de qualidade e os mecanismos legais disponíveis para proteção contra fraude, simplesmente estão ausentes nos mercados de drogas ilegais. Outro fator fortemente presente no mercado de drogas é o fato de que o consumidor pode estar sendo constantemente enganado, apesar de existirem kits de teste de identificação, pureza e cortes de cocaína. Ou seja, o usuário não possui recursos (de mercado) que lhe garantam que a cocaína comprada possui o grau de pureza informado pelo traficante. Por isso mesmo, não há mecanismo de “segurança do consumidor” entre os agentes desse mercado ilegal. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 10 presença de cocaína muito baixa presença de cocaína baixa média presença de cocaína alta presença de cocaína altíssima presença de cocaína Kits de teste de identificação, pureza e cortes de cocaína. Fonte: Adaptado de CNBS (2020). Além disso, muitas variáveis-chave da lógica dos mercados ilegais e suas complexas características usualmente escapam às possi- bilidades de análises racionais sistematizadas pela ciência e/ou pelo poder público. Entre essas características, está a dependência de fatores que, muitas vezes, não são mensuráveis, explícitos ou mesmo determináveis. Isso significa, por exemplo, que as respostas dos consumidores de drogas aos aumentos e diminuições de preços podem ser diferentes por conta da multiplicidade de variáveis peculiares aos mercados ilegais e mesmo por questões intrínsecas aos indivíduos que as adquirem (com diferentes níveis de compulsão pela droga, por exemplo). Diante da falta de dinheiro para comprar a droga de uso, os depen- dentes químicos podem ter diferentes reações, a depender do grau de comprometimento de sua saúde física ou mental. É muito comum esses indivíduos cometerem delitos que a literatura norte-americana trata como “aquisicionais” (usualmente contra o patrimônio). Esses delitos são compulsivamente praticados por dependentes quí- micos na ânsia de aplacar a drogadição, o que pode resultar em vio- lência interpessoal. Infelizmente, crimes mais graves também são corriqueiros, como o exemplo de um indivíduo que matou a própria mãe a facadas, em São João da Boa Vista (SP), em 2019. O autor do crime, de 32 anos, há sete anos dependente químico, co- meteu o crime para se apoderar do cartão de crédito da mãe e comprar drogas. Na ocasião, ele negou a autoria do crime e tentou incriminar o namorado da mãe. No entanto, não podendo mais esconder o crime, o drogadito terminou confessando tudo. glossáRio O termo drogadito deriva do nome em inglês drug addict, em português: droga adicto. Adicto significa pessoa viciada em droga. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 11 Você pode entender de maneira dinâmica como funciona esse mercado de drogas assistindo aos vídeos a seguir, que trazem os seguintes temas: A colheita de coca: https://www.youtube.com/watch?v=9MRd7DDLGjk A preparação da cocaína: https://www.youtube.com/watch?v=NxVKm6v8nEM O tráfico de drogas: https://www.youtube.com/watch?v=-E7rQs5Ly7U O uso de drogas: https://www.youtube.com/watch?v=ddYJ5kQffLE Dica DE MíDia Existem também aplicativos relacionados ao mercado das drogas. Veja uma matéria sobre um brasileiro que criou um aplicativo para encontrar parceiros usuários de maconha, disponível em: https://www20.opovo. com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/ noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para- encontrar-parceiros-de-maconha.shtml Saiba MaiS Outra característica complexa dos mercados das drogas é o alto nível de dificuldade na pesquisa do consumidor sobre o produto que pre- tende adquirir. Ao contrário dos percalços enfrentados por alguém que pesquisa sobre drogas, alguém que procura um quarto de hotel para se hospedar em qualquer grande cidade do mundo democrático pode recorrer a dezenas de plataformas de pesquisa, por exemplo, onde é possível verificar detalhes e características das instalações e comen- tários de usuários que já utilizaram as acomodações. Porém, se esse alguém é dependente químico e pretende fazer uso de cocaína, não poderá contar com sites legais anunciando o produto e muito menos acessar comentários de outros consumidores. Nesse ponto, vale considerar que a cocaína é uma droga controlada em quase todos os países que são membros da Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de usos medicinais. https://www.youtube.com/watch?v=9MRd7DDLGjk https://www.youtube.com/watch?v=NxVKm6v8nEM https://www.youtube.com/watch?v=-E7rQs5Ly7U https://www.youtube.com/watch?v=ddYJ5kQffLE https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml https://www20.opovo.com.br/app/maisnoticias/tecnologia/2015/05/24/noticiastecnologia,3442980/brasileiro-cria-app-para-encontrar-parceiros-de-maconha.shtml Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS,DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 12 Uma regra econômica que parece se amoldar bem à complexidade do mercado das drogas é a elasticidade no preço de seus produtos. Mankiw (2009) entende elasticidade como uma medida do quanto compradores e vendedores respondem a mudanças nas condições de mercado. Nos mercados legais existem produtos conhecidos por sua alta sen- sibilidade na demanda em relação às variações de preço. Os produtos de luxo são um exemplo dessa categoria, também conhecida por sua demanda elástica (a demanda diminui com preços maiores). Por outro lado, produtos de primeira necessidade continuam sendo demandados, mesmo com consideráveis altas de preço. Nesse caso, trata-se de produtos de demanda inelástica. Por meio da elasticidade, é possível analisar tanto a oferta quanto a demanda de drogas com maior precisão. Por exemplo, os brasileiros não deixaram de consumir arroz, mesmo com altas de preços bastante significativas em 2020. O fenômeno da elasticidade pode ser resumido nos gráficos constantes da imagem a seguir. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 13 DEMANDA PERFEiTAMENTE iNELÁSTiCA P2 Q1 P1 DEMANDA DE ELASTiCiDADE UNiTÁRiA P2 Q2 Q1 P1 DEMANDA iNELÁSTiCA P2 Q2Q1 P1 DEMANDA ELÁSTiCA Q2 Q1 P1 P2 DEMANDA PERFEiTAMENTE ELÁSTiCA Q2 Q1 P1 YY YY Y XX X X X No eixo Y, encontram-se o preço de um item de consumo. No eixo X, tem-se a quantidade desse mesmo item. Observe que a demanda é perfeitamente inelástica quando permanece igual mesmo com a mudança no preço do item. No caso da demanda inelástica, ocorre uma sutil alteração na demanda, caso haja alteração no preço ou na quantidade demandada. Já no caso da elasticidade unitária, o valor absoluto da elasticidade é 1; em outras palavras, o preço aumenta e a demanda aumenta proporcionalmente na mesma quantidade. Por sua vez, perceba que, quando a demanda é elástica, o preço muda e a demanda se altera em uma proporção maior. No caso da demanda perfeitamente elástica, mesmo uma ínfima alteração no preço causa uma mudança radical na demanda. Um trabalho publicado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) expressa em números o fenômeno da elasticidade no mer- cado das drogas. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo animado sobre o fenômeno da elasticidade no mercado das drogas. RA ElaSTiciDaDE Da OfERTa E DEMaNDa| Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 14 Segundo o conteúdo, intitulado “O problema das drogas nas Amé- ricas: estudos, a economia do tráfico de drogas”, a quantidade consumida é influenciada por mudanças nos preços das drogas. Mais ainda, a quantidade de consumidores também seria afetada pela variação no preço das drogas. O trabalho traz um importante parâmetro para uma melhor compreensão do tema. A elasticidade da demanda seria expressa pelo percentual total de mudança no consumo (demanda) de um determinado produto diante da variação de 1% em seu preço. Para a cocaína e a maconha, a elasticidade da demanda seria estimada em aproximadamente -0,5%. Ou seja, a demanda por essas drogas tende a cair 0,5% quando o preço au- menta em 1%. Tal elasticidade seria semelhante ao que se observa com a relação ao preço-demanda do tabaco. Organização dos Estados Americanos (OEA) e Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas (CICAD). Fonte: OEA (2020). O mesmo documento da OEA informa que há poucos estudos envol- vendo a elasticidade da heroína (droga ilícita derivada da papoula, assim como a morfina, e de baixa prevalência no Brasil). Porém, no caso dessa droga, seria razoável estimar que a elasticidade seria em torno de -0,3%; ou seja, um aumento de 1% no preço da heroína levaria a uma redução de 0,3% em seu consumo. Isso significa que, de maneira geral, os preços da cocaína, da maconha e da heroína aumentam sem necessariamente haver uma redução equivalente da demanda. Em outros termos, os traficantes acabam tendo lucros ainda maiores quando os preços aumentam. Cultivo de papoula no Afeganistão – a heroína é derivada do ópio, produzido a partir da papoula. Foto: © [AP] / G1. Um caso emblemático, também reportado pela OEA, é o da metanfe- tamina (droga sintética (ilícita), ou seja, uma substância psicoativa de ação estimulante do sistema nervoso central. Entre os usuários, a metanfetamina é conhecida como ice, Tina, meth, cocaína de pobre, speed ou cristal). Os esforços do governo norte-americano Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 15 para reduzir o suprimento dos insumos químicos da metanfetamina teriam triplicado temporariamente seu preço, causando impacto inclusive na sua pureza, reduzida de 90% para 20%. Ademais, as ocorrências de internações hospitalares envolvendo metanfetaminas diminuíram cerca de 50%, e o uso dessa substância entre presos caiu em média 55%. Contudo, nos quatro meses que se seguiram depois das operações governamentais, os índices retornaram aos patamares anteriores tão logo os preços caíram e a pureza da droga se elevou (ORGANIZATION OF AMERICAN STATES, 2013, tradução nossa). Leonardo Raffo López (2010), professor titular do Departamento de Economia da Universidad del Valle, em Cali, Colômbia, também destaca os efeitos colaterais das políticas de repressão da oferta de drogas ilícitas como a cocaína e a heroína. Veja o que diz o autor, que se inspira nos trabalhos de Becker e colegas: OS PREÇOS DAS DROGAS AUMENTAM E A ELASTiCiDADE DOS PREÇOS É MENOR QUE 1% OS LUCROS DOS NARCOTRAFiCANTES CRESCEM, BEM COMO O AUMENTO DA MÃO DE OBRA USADA NA LOGÍSTiCA DA PRODUÇÃO E DA DiSTRiBUiÇÃO DAS DROGAS Nesse sentido da sequência apresentada, podemos considerar que, ao menos no curto prazo, a repressão contra a oferta de drogas poderia, ao contrário do que se propõe, fomentar as atividades criminosas. López sintetiza que o fator-chave na análise dos mercados de drogas ilegais é justamente a elasticidade da relação preço-demanda, cuja razão depende dos impactos de políticas de repressão, do progresso técnico da produção e da distribuição de drogas, bem como da flutuação da quantidade de terras agricultáveis para o cultivo da coca. A análise dessas variáveis individualmente e das relações que estabelecem entre si poderia explicar os resultados do Plano Colômbia de repressão à oferta de drogas. Por meio do referido plano, nas últimas décadas, a superfície do território colombiano coberta por plantações de coca tem caído juntamente com o preço da cocaína. Por outro lado, a disponibilidade da droga para o mercado consumidor interno e externo não parece ter sido alterada. Para López, esse enigma pode ser explicado pelo aumento da produtividade do mercado da droga. Uma vez que um aumento de 1% no preço da Cannabis (maconha) não produz a esperada redução de, ao menos, igual percentual na demanda, é preciso investigar a razão pela qual ocorre esse descom- passo na elasticidade da demanda. Para isso, é importante buscar glossáRio A produtividade, em geral, está sempre conectada a um equilíbrio de dois “indicadores”, se podemos chamar assim: a quantidade/qualidade de trabalho feito e os recursos gastos para realizar esse mesmo trabalho. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 16 explicações, inclusive, para os principais fatores que determinam as escolhas voluntárias ou mesmo a “rendição” dos indivíduos ao consumo de drogas. A plataforma on-line Addiction Center é um guia informal na internet para quem está enfrentando problemas com dependência química e existe desde 2014. A plataforma pertence à Recovery Worldwide, organizada pela associação de várias casas de recuperação nos Estados Unidos e especialistas. É importante que você saiba que, à medida que a maconha temsido legalizada para propósitos medicinais em mais estados americanos, mais pessoas têm se disponibilizado a experimentar essa droga (BEZRUTCZIK, 2019). Cannabis para uso medicinal e a disponibilidade para experimentação. Foto: © [Roxxyphotos] / Adobe Stock. Enquanto existe uma tendência no discurso de especialistas e mi- litantes em prol da liberação da venda drogas, sob o argumento de que o risco de uma pessoa se viciar em maconha é baixo, a possibi- lidade de desenvolvimento de dependência psicológica dessa pessoa é inquestionável. Isso não é de hoje. PodcAst TRaNScRiTO Em 1975, o jornal “The New York Times” publicou um artigo intitulado “Preços da maconha sobem com pessoas mais ricas começando a usar a droga”. Naquele momento, estudantes universitários pagavam entre 15 e 60 dólares por cerca de 28 gramas de maconha (algo em torno de 71 a 285 dólares, em valores atualizados em setembro de 2020). Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 17 Atualmente, a plataforma informa que o custo médio da Cannabis tem aumentado mais rapidamente do que a inflação. Os preços da maconha nas ruas norte- americanas alteram de acordo com variáveis econômicas, como oferta, demanda e qualidade. Porém, os aspectos legais também produzem impacto nesse mercado. Por exemplo, alguém com uma recomendação médica que lhe autorize a adquirir Cannabis legalmente, em estados como o Colorado, paga em média entre 10 e 60 dólares por cada grama da droga. Já em estados em que a droga não foi legalizada, como é o caso do Texas, os valores da maconha adquirida às margens da lei variam entre 5,75 e 11,75 dólares. Veja a seguir algumas reflexões acerca da produção e consumo de drogas no Brasil. 1.2 PROdUÇÃO, diSTRiBUiÇÃO e COnSUMO de dROGaS Neste tópico, vamos estudar mais detalhadamente como os processos de produção, distribuição e consumo de drogas acontecem. 1.2.1 cUlTivO E PRODUçãO Na origem da cadeia de suprimento das drogas estão o cultivo e a produção. Sobre esse assunto, inclusive com rico detalhamento, se posiciona o Relatório Global sobre Drogas (World Drug Report) do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). As in- formações abaixo são um sumário do relato do Livreto 3, do Relatório Global sobre Drogas, elaborado pelo referido órgão da ONU. Em relação ao ópio, iniciamos sabendo que é produzido ilegalmente em mais de 50 países, seu cultivo global somou algo em torno de 240.800 hectares em 2019, uma redução de 30% em relação ao ano anterior. Ainda assim, a área cultivada atualmente equivale a 337.325 campos de futebol (um campo de futebol tem 8.250 metros quadrados, logo, 337.325 campos totalizam 2.782.931.250 metros quadrados ou 278.293 hectares). São necessárias, em média, 3.000 plantas para obter um quilo e meio de ópio. glossáRio O ópio, composto pela morfina, codeína e heroína, é obtido através da realização de uma incisão na cápsula da papoula (Papaver Somniferum) de onde sai um líquido de aspecto leitoso que se solidifica com facilidade. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 18 A maior parte desse volume (84%) foi cultivada no Afeganistão, onde a tendência de cultivo permaneceu estável. Outrora responsáveis pelo aumento na área cultivada de ópio, em 2018 e 2019, Mianmar e Afega- nistão lideraram a queda global em sua produção. Entretanto, em que pese a redução da área cultivada, a quantidade produzida de opioides ilegais permaneceu estável em 7,610 toneladas em 2019. Isso significa que os traficantes estão atingindo ganhos maiores em produtividade. Cápsula da papoula, de onde se extrai o ópio. Foto: © [Pyty] / Adobe Stock. Em relação ao cultivo de coca, a área global está estimada em 244.200 hectares em 2018. Trata-se de uma queda marginal de -0,5% com relação a 2017. Também houve um declínio significativo na pro- dução de cocaína, refletindo uma queda na produção de cocaína colombiana (-1,2%) e no Estado Plurinacional da Bolívia (-5,7%). Esses dois países, juntamente com o Peru, respondem por 90% da área cultivada de coca no mundo. A Colômbia, de longe, é a maior líder mundial na produção de coca (70%). No país, tal qual ocorreu com o ópio na Ásia, o aumento de produtividade na produção de cocaína compensou a queda da área cultivada de sua planta de origem. Ou seja, mesmo com a queda da área cultivada, nos últimos anos não houve queda significativa na produção da folha de coca. Estima-se que foram produzidas mais de 1.723 toneladas de cocaína pura em 2018. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 19 19 9 8 19 9 9 20 0 0 20 0 1 20 0 2 20 0 3 20 0 4 20 0 5 20 0 6 20 0 7 20 0 8 20 0 9 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 300,000 2,000 1,600 1,200 1,381 Fa br ic aç ão d e co ca ín a (to ne la da s c om 1 00 p or c en to d e pu re za ) Cu lt iv o gl ob al d e co ca ( h ec ta re s) 1,723 800 400 240,000 180,000 120,000 60,000 0 0 Cultivo total de coca (estimativa) Cultivo de coca na Bolívia Cultivo de coca no Peru Cultivo de coca na Colômbia Fabricação de cocaína 869 Fonte: World Drug Report (2020). Em relação à Cannabis, é importante saber que faltam dados quanti- tativos disponíveis suficientes para atualizar a estimativa global de seu cultivo, porém é sabido que o cultivo dessa erva ocorre na maioria dos países. Ou seja, isso a difere de plantas que dão origem a outras drogas e estão limitadas a regiões específicas do planeta. Já informações qualitativas de alguns países mostram que a plantação externa de Cannabis é mais difundida pelo mundo do que a plantação em ambientes fechados (como estufas). Por outro lado, aparentemente o cultivo em ambientes internos parece crescer mais rapidamente que o cultivo em ambientes externos. Cultivo interno de Cannabis. Foto: © [Claude Jin] / Adobe Stock. cUlTivO glObal DE cOca E fabRicaçãO DE cOcaíNa (1998-2018)| Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 20 Ainda há que se destacar o fato de que, ao contrário do que ocorre com a planta de coca, o cultivo da erva Cannabis já foi liberado em vários países. Porém, em relação à liberação do cultivo de Cannabis, há um caso emblemático que acabou ganhando atenção em nível internacional: um incêndio na Austrália. Incêndio na Austrália iniciado para proteger plantação de maconha. Foto: © [Getty] / Metro. Segundo a imprensa local e internacional, um dos maiores incêndios florestais da história da Austrália, que varreu boa parte da costa leste daquele país em 2019, foi iniciado por um homem que tentava proteger sua plantação de maconha. Você pode conferir a matéria completa sobre esse incêndio na Austrália aqui, disponível em: https://metro. co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man- wanted-protect-cannabis-crop-11175202/ Saiba MaiS 1.2.2 DiSTRibUiçãO Os mercados de drogas, que podem ser abertos, semiabertos e fe- chados, e o uso de drogas estão constantemente associados a lugares, coisas e determinados indivíduos. � Lugares – muitas vezes regiões inteiras, bairros, ruas, esquinas etc. � Coisas – simbologias visuais como tatuagens, pichações, palavras-código etc. https://metro.co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man-wanted-protect-cannabis-crop-11175202/ https://metro.co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man-wanted-protect-cannabis-crop-11175202/ https://metro.co.uk/2019/11/18/australian-bushfire-started-man-wanted-protect-cannabis-crop-11175202/ Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 21 � Determinados indivíduos – pessoas com alguma caracterização pessoal ou de padrão gestual típico do uso ou do tráfico de drogas ilícitas. Distribuir, adquirir e consumir drogas pode ser algo bastante fluido aos olhos de um desavisado que não conhece a trilogiasimbólica evocativa de “lugares, coisas e pessoas”. Essa trilogia é citada na doutrina da organização “Narcóticos Anônimos” como algo a ser evitado. O “Guia Introdutório para Narcóticos Anônimos” diz que, “quando nos permitimos aproximar de velhos conhecidos e lugares, estamos nos preparando para recair. Em relação à doença da adicção, somos impotentes. Estas pessoas e lugares nunca nos ajudaram a nos mantermos limpos. Seria tolice pensar que as coisas pudessem ser diferentes agora.” Tal problemática parece ter passado a um nível ainda complexo com o advento da internet. (popularizada no início da década de 1990) e, depois dela, da universalização da telefonia móvel (com os cha- mados “celulares”, o primeiro deles tendo sido comercializado no Brasil também na década de 1990). Nesse passo, também surgiram as redes sociais e seus aplicativos como o WhatsApp, que desde 2009 é o aplicativo de smartphone (aparelho que que alia as tecnologias de informação com as de comunicações) mais disseminado no Brasil, tendo hoje milhões de usuários. Foto: Adaptado de © [ameko_suki] / Adobe Stock. Atualmente, drogas são amplamente comercializadas on-line em várias plataformas. A venda de drogas através dos mercados da cha- mada Darknet é uma ameaça significativa e continua a se expandir. Você pode entender Darknet como nome genérico de tecnologias de informação, estudo, investigação e comunicações que permitem comunicação anônima na internet com a utilização de navegadores específicos. Utiliza criptografia na comunicação entre seus membros, protegendo o anonimato deles. Funciona como um “apêndice”, parte da internet, mas desconectado dela. Não há uma única Darknet para diferentes usuários, mas várias delas, tantas quantas sejam estabe- lecidas por seus usuários. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 22 Ainda assim a distribuição de drogas manteve seus canais clássicos (associados a lugares, coisas e pessoas), aos quais foram acrescidas redes cujos usuários estão protegidos (tal qual a cidadania inteira) pelos mais diversos instrumentos legais, resguardados por uma série de institutos do Direito em geral, mais particularmente no que concerne às garantias e direitos individuais. Surge assim uma “criminalidade em rede”. Em um desdobramento lógico e sequencial, esse tipo de expressão do crime se exacerba ao ser instrumental para os “criminosos por excelência”, muitas vezes contumazes, aqueles que se encontram nos estabelecimentos prisionais. No Brasil, já resta provado que organizações criminosas foram estabelecidas a partir das prisões, estando fortemente conectadas com o narcotráfico e com o mundo exterior a elas, não obstante o cometimento de vários outros delitos por elas, caso de extorsões e justiçamentos, por exemplo. As Tecnologias de Informação e Comunicações (TIC) passaram a ter a criminalidade em rede como objeto em prol da persecução penal. Várias gerações de ferramentas de visualização de redes cri- minosas complexas foram concebidas, como podemos identificar na imagem a seguir: glossáRio Tecnologias de Informação e Comunicações (TIC) é uma expressão que corresponde ao conjunto tecnológico, incluindo equipamentos físicos (hardware) e programas (software) devidamente integrados, para a automação da pesquisa sobre redes (entre outras funções). Característica complexa dos mercados de drogas – criminalidade em rede. Fonte: Adaptado de Xu e Schen (2005). Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 23 A NCA (National Crime Agency – Agência Nacional contra o Crime) trabalhou com forças em toda a Europa na operação ‘maior e mais significativa’ de aplicação da lei no Reino Unido. Os principais números do crime estavam entre mais de 800 prisões em toda a Europa depois que mensagens no EncroChat foram interceptadas e decodificadas. Mais de duas toneladas de drogas, várias dezenas de armas e £54 milhões em dinheiro suspeito foram apreendidos, diz a NCA. Embora a NCA fizesse parte da investigação, ela foi iniciada e liderada pela polícia francesa e holandesa, e também envolveu a Europol – a Agência da União Europeia para a Cooperação Policial. (BBC, 2020) Há expressões no mundo inteiro para representar o fenômeno da criminalidade em rede, veja a notícia veiculada pela rede BBC britânica intitulada “Centenas de pessoas presas durante o cracking da rede de bate-papo sobre crime”. A matéria, de autoria de Danny Shaw, correspondente de assuntos internos, foi publicada em 2 de julho de 2020. Você pode conferir a matéria na íntegra disponível em: https://www.bbc.com/news/uk-53263310 Saiba MaiS https://www.bbc.com/news/uk-53263310 Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 24 Veja os principais fluxos do tráfico de Cannabis na Europa: Fonte: Adaptado de Europol (2017). Em um relatório de análise recente das tendências globais, o National Intelligence Council (EUA) incluiu uma pequena seção sobre organi- zações e redes criminosas prevendo algumas ações futuras em relação a essas organizações e rede criminosas. O relatório observou que as organizações e redes criminosas sediadas na América do Norte, Europa Ocidental, China, Colômbia, Israel, Japão, México, Nigéria e Rússia expandiram a escala e o escopo de suas atividades. Essas organizações formaram alianças frouxas entre si, com empreendedores criminosos menores e movimentos insurgentes para operações específicas. REPÚBLiCA TCHECA PAÍSES BAiXOS ALBÂNiA PRODUçãO, TRÁficO E DiSTRibUiçãO DE cAnnAbis hERbÁcEa Na EUROPa | Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 25 O documento também previu que as organizações corromperam líderes de Estados instáveis, economicamente frágeis ou em decadência. Além disso, se insinuaram em bancos e empresas em dificuldades, cooperando com movimentos políticos insurgentes para controlar áreas geográficas substanciais. As previsões do National Intelligence Council (EUA), mormente considerando a relação das organizações criminosas com o poder formal do Estado, ou mesmo a tomada das instituições legítimas do Estado por tais organizações, estão em linha com as predições de Juliet Berg, em dissertação apresentada em 1998 no Instituto de Criminologia da Universidade de Cape Town, África do Sul. O pro- cesso descortinado por Berg, especialmente em forma de alerta para o Brasil, já foi tratado no Módulo 1. Ainda assim, dada a sua pertinência com o presente tópico, vale a pena terminar esta aula com mais uma citação do referido trabalho: Num momento final, dar-se-ia o conluio, grau mais alto de envolvimento do Estado com o crime organizado. Em tal estágio, o Estado estaria completamente envolvido com grupos criminosos, numa verdadeira relação simbiótica. A estrutura estatal passaria a ter total parceria nas atividades do crime organizado, com seus representantes trabalhando diretamente com os sindicatos do crime. Segundo Berg, o conluio será tão mais aberto quanto maior seja o grau de subdesenvolvimento do país, já que Estados industrializados ou pós-industrializados costumam ser menos abertos em eventual conluio com o crime organizado, vis-à-vis países pobres que dependem mais intensamente da exportação de mercadorias ilegais. (DANTAS, 2010) E assim chegamos ao final de nossa primeira unidade. Seguindo, vamos continuar pelo grande caminho que já fizemos até aqui, passando de um “caminho largo” (macro) dos mercados de drogas para caminhos um pouco mais específicos (micro) que explicam esses mesmos mercados. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 26 Nesta unidade, a proposta didático-pedagógica é identificar fatores relacionados ao engajamento dos indivíduos no mercado ilícito de drogas, sobretudo do ponto de vista daqueles (indivíduos) que parti- cipam ativamente desse mercado econômico nosegmento da oferta. Para tanto, serão consideradas questões disposicionais e situacionais correlatas a processos psicossociais que dizem respeito aos indivíduos, a seus relacionamentos em/com grupos e a seus ambientes imediatos. Assim, iniciamos nossa caminhada pelos percursos do conhecimento de lógica de mercado em nível micro. COnTexTUaLiZandO 2.1 aBORdaGenS PSiCOSSOCiaiS SOBRe OS aTOReS dO VaRejO de dROGaS iLÍCiTaS Uma das questões centrais da Criminologia é: por que algumas pessoas cometem crimes e outras não? Desde a alvorada da Criminologia e do Direito Penal no século XVIII, várias correntes criminológicas vêm tentando responder a essa per- gunta fundamental. Por exemplo, a Criminologia Positivista, cujo maior ícone foi Cesare Lombroso, apostava na investigação do cri- minoso nato (atavismo), assumindo o crime, portanto, como fruto de algum tipo de patologia. Outra corrente de pensamento que podemos destacar é o Utilitarismo, que tinha como um nome importante o filósofo inglês e jurista teórico Jeremy Bentham (1748-1832). UnIdade 2 LÓGICa de MeRCadO (nÍVeL MICRO) glossáRio A palavra latina “atavus”, que pode ser traduzida como “ancestral”, chegou à nossa língua como atavismo. O conceito é usado, no campo da biologia, para nomear o fenômeno que implica o regresso de um ser vivo com características de seus predecessores distantes. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 27 Jeremy Bentham. Foto: © [Georgios Kollidas] / Adobe Stock. Jeremy Bentham era chefe de um grupo de filósofos radicais, conhe- cidos como “utilitaristas”, que pregavam reformas políticas e sociais, entre elas uma nova Constituição para o país. Outra corrente de pensamento bem conhecida é a Criminologia Psicanalítica. Criada por Freud com o objetivo de tratar desequilíbrios psíquicos, esse corpo teórico foi responsável pela descoberta do inconsciente na tentativa de mapeá-lo e de compreender seus mecanismos em um plano psíquico. Essa disciplina visa também analisar o comportamento humano, decifrar a organização da mente e curar doenças carentes de causas orgânicas. Ainda sobre a Criminologia Psicanalítica, Cerqueira e Lobão (2004) afirmam que “o crime representaria a erupção vitoriosa das pulsões libidinosas no campo da consciência. A função do crime seria, por conseguinte, satisfazer simbolicamente os instintos libidinosos.” Já para a Escola de Chicago ou da Ecologia Urbana, o crime seria determinado pelas desordens físicas e sociais presentes na cena urbana. Por sua vez, uma ampla revisão da literatura realizada por Free Jr. encontrou evidências empíricas na Teoria Broken Home, que tem sua origem ainda na década de 1940, no sentido de que os lares desestruturados são fortes preditores de delinquência juvenil. PodcAst TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 28 Por fim, ressalte-se que há correntes da Criminologia que simplesmente rejeitam a simples hipótese da existência do crime em si. A Criminologia Crítica, por exemplo, acredita que o crime não passa de uma convenção discursiva que visa justificar a dominação das classes dominantes sobre as classes exploradas. De toda sorte, percebe-se, na maioria das correntes criminológicas, a busca pelos elementos endógenos (internos ao indivíduo) e exógenos (externos ao indivíduo) que predispõem uma pessoa a escolher, como diz a linguagem poética dos penalistas, a senda (caminho) do crime. Ao contrário do Direito Penal, que se circunscreve às ciências jurídicas e a seus métodos, a Criminologia possui caráter multidisciplinar e, como observado nos exemplos acima, essa ciência utiliza em suas investigações abordagens e técnicas de pesquisa das mais variadas áreas do conhecimento. Estão entre essas áreas o próprio Direito, a Sociologia, a Economia e a Psicologia. Sociologia Antropologia Psicologia Economia Ciências Políticas Biologia História Conformidade Obediência Redes sociais Liderança chave Tendências globais Neurociência Biologia evolucionária Religião Crença ConfiançaMagia DecepçãoCultura Etnografia Influência Personalidade Portanto, com a pesquisa criminológica dos crimes relacionados ao narcotráfico e ao crime organizado não seria diferente. Não por outra razão, importantes centros de pesquisa possuem um comitê para a compreensão e o controle da demanda por drogas ilegais, como a Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos, em sua Divisão de Comportamento, Ciências Sociais e Educação. Segundo o National Research Council (2010), esse comitê tem abor- dado a problemática da demanda por drogas sob o enfoque das mais variadas áreas do conhecimento, como a Educação, a Medicina, Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 29 O estudo do crime e dos criminosos é a província da criminologia. Conforme foi escrito pelo saudoso Edwin Sutherland em seu trabalho clássico Principles of Criminology (1939, 1) ‘A criminologia é o corpo de conhecimento com respeito ao crime enquanto fenômeno social. Ela inclui em seu escopo o processo legislativo, de violação da lei e de reação contra a violação da lei.’ Ainda que a definição de Sutherland acerca da criminologia seja comumente aceita e vastamente citada, não é bastante acurada, porque declara que o estudo da criminologia está focado apenas em fatores sociais. Na realidade, o estudo do crime por criminologistas engloba vários campos do conhecimento que não são basicamente de natureza social. A criminologia é geralmente entendida como um descendente da disciplina de sociologia. Embora seja indiscutivelmente o caso, tal declaração despreza tanto a história da criminologia quanto as várias disciplinas que compreendem a largura do campo. Em uma vez ou outra, as disciplinas de filosofia, história, antropologia, psicologia, psiquiatria, medicina, biologia, genética, endocrinologia, neuroquímica, ciência política, economia, serviço social, jurisprudência, geografia, planejamento urbano, arquitetura, e todas as estatísticas tiveram papéis de destaque no desenvolvimento [...]. as Ciências Sociais e as Ciências Comportamentais, por meio de relevantes pesquisas empíricas sobre o tema. O que todas essas áreas têm em comum, seja na perspectiva endó- gena, seja na perspectiva exógena, é o foco especial no ser humano e em suas relações com seu entorno, mas cada uma, a seu turno, com sua dimensão particular (biológica, cognitiva, emocional e social, por exemplo). Para entendermos melhor o caráter multidisciplinar da Criminologia, veja o que a Encyclopedia of Police Science (2007) diz: Além da questão de por que algumas pessoas cometem crimes e outras não, importantes criminólogos, como Edwin Sutherland, também traziam e ainda trazem consigo outra inquietação: por que algumas pessoas são punidas por seus crimes e outras não? Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 30 “POR QUE OS DELiNQUENTES DO COLARiNHO BRANCO NÃO SÃO PUNiDOS?” EDWiN SUTHERLAND Nesse sentido, subáreas da Psicologia como a Psicologia Social e a Psicologia Ambiental podem contribuir em muito para a compreensão do fenômeno criminal e principalmente sua mitigação. Isso vale espe- cialmente para os fenômenos psicossociais correlatos ao envolvimento dos indivíduos com as organizações criminosas que atuam direta ou indiretamente no mercado das drogas. A Psicologia Social, na definição clássica de Gordon Allport, estuda como os pensamentos, as emoções e os comportamentos das pessoas são influenciados pela presença real ou percebida de outrem. Na categoria “outrem”, são incluídos os grupos de pertença (conjunto de pares com que um indivíduo se identifica e no qual pretende permanecer) ou mesmo aqueles que circunstancialmente se formam em torno dos indivíduos. Por sua vez, a Psicologia Ambiental investiga as relaçõesrecíprocas entre a pessoa e o ambiente. A Psicologia Ambiental tem contribuições importantes a fazer para a Criminologia Ambiental, uma vez que este ramo da Criminologia investiga a dinâmica do crime a partir de sua perspectiva temporal e espacial. Assim, da mesma forma que a Criminologia Tradicional pergunta o porquê de algumas pessoas se envolverem com o crime e outras não, a Criminologia Ambiental pergunta o porquê de alguns locais gerarem mais oportunidades para o crime (de tráfico, por exemplo) do que outros; ou nos termos de Weisburd, Green e Ross (1994, p. 65), que questionam: “por que alguns lugares se tornam mercados de drogas e por que certos tipos de crimes são mais prováveis de ocorrer lá do que em outros lugares”? Em suma, a Criminologia Ambiental e a Psicologia Ambiental, quando articuladas, conseguem trazer respostas bem consistentes para essa questão. A Psicologia Social pode ajudar a desnudar os fenômenos de ordem psicológica e social no ingresso e na permanência do indivíduo no comércio ilegal de drogas. Por outro lado, a Psicologia Ambiental Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 31 pode ajudar a descortinar a prática do comércio de drogas no varejo a partir dos locais em que esses crimes são praticados. É importante que você conheça três experimentos clássicos que aju- daram na identificação e compreensão de fenômenos que, até hoje, são objeto de estudos e intervenções na área. São eles: 1. Estudo de conformidade de Solomon Asch. 2. Experimento de obediência de Stanley Milgram. 3. Experimento da Prisão de Stanford conduzido por Philip Zimbardo. Na década de 1950, o polonês Solomon Asch conduziu experimentos que marcaram para sempre a história da psicologia social. Seus ex- perimentos mostraram o quanto as pessoas são capazes de adotar comportamentos, muitas vezes irracionais, somente para se amoldar ao comportamento dominante do grupo em que estão inseridas. O mais impressionante é que não importa se o grupo acabou de se formar e irá se dissolver em instantes, como é o caso do encontro corriqueiro de pessoas em um elevador, as pessoas sempre têm a tendência de seguir aquilo que está explicitado como sendo a norma (regra comportamental) que impera no grupo. A Psicologia Social convencionou chamar esse fenômeno de conformidade. Ou seja, as pessoas tendem a se comportar conforme (com a forma) do grupo. Ou seja, as pessoas tendem a se comportar conforme (com a forma) do grupo. Veja como Meyers (2014, p. 162) define e exemplifica o fenômeno da conformidade: “Assim conformidade é uma mudança de comportamento ou de crença para concordar com os outros. Quando, em meio a uma multidão, você se levanta para aplaudir um gol de vitória, você está se conformando? Quando, junto com milhões de outras pessoas, você bebe leite ou café, você está se conformando? Quando você e todo mundo concorda que as mulheres ficam melhor com um cabelo mais longo do que com cortes à escovinha, você está se conformando? Talvez sim, talvez não. A chave é se o seu comportamento e suas crenças seriam os mesmos fora do grupo. Será que você se levantaria para aplaudir o gol caso fosse o único torcedor na arquibancada?” Parafraseando Gustave Le Bon, em “Psicologia das Multidões”, num grupo, sentimentos e atos são contagiosos, e contagiosos em tal grau, que o indivíduo PodcAst TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 32 prontamente sacrifica seu interesse pessoal em prol do interesse coletivo. Para ilustrar, imagine o que acontece com a violência em estádios de futebol. Existe uma conformidade de comportamento agressivo entre pessoas que não se conhecem. Na imagem abaixo, vemos um exemplo de conformidade de com- portamento agressivo, entre pessoas que não se conhecem, em um estádio de futebol. Para demonstrar o fenômeno da Conformidade, em 1951, Asch (1956 apud MCLEOD, 2018) apresentou a um grupo de oito pessoas um quadro com vários cartazes. Em cada um dos cartazes, havia uma linha padrão ao lado de outras três linhas (A, B e C) com alturas diferentes. A tarefa do grupo era bem simples: um a um os participantes tinham de dizer qual das linhas (A, B ou C) possuía a mesma altura da linha padrão. Ocorre que, dos oito participantes, apenas o comportamento de um participante (“o ingênuo”) realmente estava sendo avaliado pelo ex- perimento. Todos os outros indivíduos, por assim dizer, eram “cúm- plices” de Asch. Na dinâmica do experimento, Asch sempre colocava o participante real para opinar por último. Na primeira rodada, as coisas sempre iam bem para o ingênuo. Todos os participantes cúmplices, com voz alta e sem vacilar, respondiam corretamente. Porém, ao final de dezoito rodadas, em doze delas, os cúmplices com a mesma voz alta e aparente convicção apresentavam respostas sistematicamente erradas. Mais ainda, essas respostas erradas eram dadas de forma unânime pelos cúmplices. O resultado esperado por Asch se confirmou em 75% dos casos; ou seja, a maioria absoluta dos participantes avaliados, ao menos uma vez, sim- plesmente respondia deliberadamente de forma incorreta, sucumbindo à pressão implícita do grupo. Outra forma de dizer esse resultado é destacar que apenas 1/4 dos participantes manteve sua independência. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo animado sobre conformidade de comportamento agressivo. RA Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 33 Nos anos seguintes, Asch continuou a realizar pesquisas sobre confor- midade, e seus experimentos revelaram alguns elementos que estão diretamente relacionados com esse fenômeno. Assim, conclui-se que: � Quanto maior o tamanho do grupo, maior a conformidade dos indivíduos. � Quanto maior a unanimidade no grupo, menor a possibilidade de um indivíduo isolado conseguir escapar à pressão. No sentido oposto, quanto mais aliados fizerem, maiores são as chances de os divergentes escaparem à pressão do grupo. � Quanto maiores forem as ambiguidades entre o certo e o errado, e quanto mais difíceis forem os desafios, maiores serão as possibilidades de os sujeitos se submeterem à pressão implícita do grupo. Os experimentos de Asch acabaram se popularizando e entrando para o mundo das pegadinhas. Um exemplo disso está no “experimento” do Elevador de 1962, em que câmeras escondidas mostram pessoas comuns, “ingênuas”, mudando estranhamente de posição seguindo os movimentos de pessoas as quais nunca antes haviam visto. Se os experimentos de Asch retratavam o fenômeno da conformi- dade a partir da aprovação daqueles que se sujeitavam à pressão implícita do grupo, os estudos de Stanley Milgram (2014) revelam o poder que figuras de autoridade exercem sobre o comportamento humano. Em seus estudos, Milgram conflitava entre a obediência à autoridade e a consciência individual. O Experimento de Milgram. Foto: Visão. Milgram tinha um especial interesse em saber como cidadãos co- muns alemães se tornaram cúmplices das atrocidades nazistas, por exemplo, entregando os próprios vizinhos para a morte. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 34 Em seu experimento, Milgram selecionou participantes ingênuos por meio de anúncios em jornais. O participante era informado que teria uma tarefa simples. Ele ficaria ao lado de um professor (caracterizado por jaleco branco), que faria perguntas para outro participante (cúmplice) que estava sendo submetido a um processo de aprendizagem. Todas as vezes que o sujeito submetido à aprendizagem (cúmplice) errasse uma resposta, supostamente ele seria punido com um choque dado pelo participante ingênuo. Claro que o choque era fictício. Porém a ambos, participante ingênuo e cúmplice, era informado que o choque teria três níveis de referência: de 15 volts (choqueleve), até 375 volts (choque severo e perigoso) e acima de 450 volts (possível letalidade). Os resultados de Milgram foram impressionantes: dois terços (65%) dos participantes continuaram aplicando os choques até níveis superiores a 450 volts. Todos os participantes, sem exceção, aplicaram mais de 300 volts, mesmo tendo sido informados no início do experimento que poderiam abandonar o estudo no momento que desejassem. O pior, as pessoas continuavam aplicando o choque apenas porque o “professor” pedia para que continuassem. Isso, mesmo sob os gritos da vítima. PodcAst TRaNScRiTO O último dos experimentos clássicos da Psicologia Social que podemos destacar é o Experimento da Prisão de Stanford. Trata-se de algo marcante para a Ciência da Influência Social. A Ciência da Influência Social, dedicada a tratar do evento em detalhes, é disponibilizada em português. Você pode tomar conhecimento de tudo visitando a página do Experimento da Prisão de Stanford, disponível em: https://www.prisonexp.org/portuguese-1. Saiba MaiS https://www.prisonexp.org/portuguese-1 Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 35 O estudo foi conduzido por uma equipe liderada por Philip Zimbardo, em 1971, no subsolo de um dos prédios da Universidade de Stanford. Assim como no caso de Milgram, os participantes foram recrutados por um anúncio de jornal que oferecia 15 dólares para os voluntários a participarem de um estudo sobre unidades prisionais. Vinte quatro jovens, brancos, de classe média e sem nenhum problema de saúde foram selecionados para tomar parte no experimento. Experimento Prisional de Stanford. Foto: What is Psychology? (2020). De forma aleatória, os voluntários foram divididos em dois grupos. Um grupo foi designado para atuar como guardas e o outro como prisioneiros. O experimento contou com a colaboração da polícia local, de um padre e de um advogado. Os pais também puderam visitar os filhos na “prisão”. O cenário e o figurino eram o mais próximo possível de uma prisão real. Assim, em uma manhã de domingo, no mês de agosto, policiais reais foram às casas dos jovens escolhidos por cara ou coroa para serem os presos. Todos os protocolos da polícia americana foram seguidos e os detidos foram entregues na “prisão” de experimento Zimbardo para cumprir pena por roubo à mão armada e furto. Tudo estava programado para ocorrer em duas semanas. Porém, em seis dias o estudo precisou ser interrompido porque os abusos perpetrados pelos “guardas” e o sofrimento imposto aos presos havia saído completamente do controle. Os impactos desse experimento foram tão significativos que extrapo- laram o campo da ciência e chegaram às telas dos cinemas. Três filmes contaram sua história, um alemão e dois de Hollywood. Outros tantos filmes se inspiraram nele. Tal qual o estudo de Milgram, Zimbardo, com a prisão simulada em Stanford, mostrou como pessoas comuns, Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 36 ao serem submetidas a determinadas circunstâncias, são capazes de cometer as mais cruéis barbaridades contra seus semelhantes. Para ampliar seu entendimento do conteúdo, disponibilizamos a seguir uma indicação para você. O filme “A Onda” é baseado em um experimento de ensino infame de 1967, conduzido na Califórnia por Ron Jones (que atuou como consultor no filme). Trata-se de um drama didático que “transplanta a ação para a Alemanha moderna, onde Rainer (Jürgen Vogel), um professor de ensino médio descolado, está tentando transmitir os pontos mais delicados da autocracia.” (CATSOULIS, 2020, tradução nossa). Disponível em: https://youtu.be/zG3TfjAhs30 Dica DE MíDia Os três experimentos que acabamos de conhecer trouxeram à tona os contornos da “conformidade”, que até hoje são estudados nas ciências comportamentais e lançam luz sobre o impacto da pressão do grupo nos comportamentos individuais. Os experimentos trazem elementos que ajudam a responder uma variante da pergunta fundamental que abriu esta aula: “por que algumas pessoas se envolvem com crimes como o narcotráfico e o crime organizado e outras não?” E, de fato, compreender a força da conformidade ajuda a desvendar um dos relevantes porquês do envolvimento de determinadas pessoas com o tráfico de drogas. Na direção de nosso estudo, conheça a história de Hosmany e apri- more seus conhecimentos. https://youtu.be/zG3TfjAhs30 Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 37 CiRURGiAS, CRiMES E FUGAS A trajetória de Hosmany, de médico brilhante a assassino condenado - e finalmente solto. ANOS 1970 Atendia em dois consultórios e era assistente de Ivo Pitanguy, um dos maiores cirurgiões plásticos do mundo. Vivendo em um apartamento de luxo em Copacabana, no Rio, começa a traficar drogas internacionalmente. 1981 É condenado a 53 anos de detenção por vários crimes: roubo de aviões, contrabando de automóveis, tráfico de drogas e assassinato do piloto Joel Avon. Depois de fugir do presídio, é encontrado no Paraguai. 1996 Escapa do Instituto Penal Agrícola de Bauru (SP) e é recapturado um mês depois ao participar do sequestro do fazendeiro Ricardo Rennó. Pelo crime, é condenado a mais 30 anos de reclusão. 2008 Convoca jornalistas para anunciar que não voltará à cadeia após o fim da saída temporária de Natal e Ano Novo. Afirma que denunciará a corrupção no sistema carcerário. 2009 É preso novamente ao tentar entrar na Islândia com o passaporte do irmão. Passa a cumprir pena no presídio de Junqueirópolis (SP). 2016 Em setembro, sua defesa solicita à Justiça o indulto para que ele possa deixar a penintenciária. O Ministério Público questiona a ausência de exames criminológicos, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo dá parecer favorável à soltura do médico. Hosmany, de médico brilhante a assassino. Fonte: Adaptado de Isto é (2017). Pela história de Hosmany, você pode ver que nem sempre há uma explicação sobre por que as pessoas se envolvem com o tráfico. Você pode acessar a matéria na íntegra disponível em: http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/ 0,26665,GIJ0- 5257-215694,00.html Saiba MaiS http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215694,00.html http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215694,00.html http://redeglobo.globo.com/Linhadireta/0,26665,GIJ0-5257-215694,00.html Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 38 Como visto no estudo de Asch, a pressão do grupo não necessariamente precisa ser explícita para que uma pessoa deliberadamente faça uma escolha errada. Portanto, intuitivamente já é fácil imaginar como as pessoas estão sujeitas à influência de grupos de pertença, como familiares, vizinhos, colegas nas escolas e universidades, e amigos de trabalho. Indo além da intuição, estudos vêm demonstrando a validade dos achados de Asch. As contribuições da literatura da área sobre a influência objetiva ou subjetiva do grupo no comportamento dos indivíduos é vasta (LI- TTLE; STEINBERG, 2006; MILLER; PRENTICE, 2016). A pesquisa de Bearden, Rose e Teel (1994), por exemplo, revela como a influência de familiares e amigos pode ser determinante para que alguém venha a ingerir bebida alcóolica e consumir drogas ilícitas. Já Pessoa et al. (2017, p. 251), em estudo qualitativo com ado- lescentes com envolvimento com o tráfico de drogas na América Latina, afirmam que: A ausência de engajamento em atividades educacionais, igualmente à futilidade de programas sociais, quase sempre é abastecida pelo senso de pertencimento que pode ser atingido pela participação em atividades ilícitas com a formação de grupos que compartilham histórias de vida parecidas. (PESSOA et al., 2017, p. 251) Ou seja, mais uma vez se verifica a influência dos grupos de pertença nos comportamentos dos indivíduos. Ainda assim, vale considerarmos que não setrata somente da pressão de grupos de pertença. Influência dos grupos de pertença. Foto: © [Andril Zastrozhnov] / Adobe Stock. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 39 No experimento das linhas e em suas inúmeras repetições e varia- ções, Asch e vários pesquisadores mostraram que grupos formados instantaneamente também produzem efeitos significativos no com- portamento dos indivíduos. Ou seja, o que ocorre em uma festa ou em um passeio de férias, por exemplo, pode determinar todo o futuro de um indivíduo. Isso ainda é mais significante quando se imagina que a primeira experiência de uma pessoa com drogas ilícitas, ou mesmo com a prática de algum crime ligado ao mercado de drogas, pode acontecer justamente em uma dessas circunstâncias. Se Asch demonstrou o efeito sutil, implícito, do grupo nos padrões comportamentais dos indivíduos, Milgram desvendou o poder da figura de autoridade. Mais recentemente, Cialdini e Salgarin (2005), em uma série de estudos, assentou a autoridade como um de seus seis princípios da persuasão. Esse princípio tem muitas implicações para o contexto deste curso. Basta imaginar a influência que um professor tem sobre os com- portamentos de seus alunos ou mesmo o poder que a imagem de um traficante que ostenta poder tem nos membros de uma comuni- dade, principalmente sobre os mais jovens. Isso também vale para a violência perpetrada por criminosos dentro das prisões quando criminosos faccionados, seguindo o exemplo dos demais ou mesmo diante das ordens dos líderes, praticam atos de barbárie como os mencionados no Módulo 1. Finalizando esta aula, ressalte-se que o experimento de Zimbardo também reforçou a verdade inconveniente de que pessoas, sem nenhum histórico anterior de agressão e violência, são capazes de perpetrar os mais cruéis atos com cinismo e sadismo, a depender da situação em que estão envolvidas. Porém, uma boa notícia é que bastou a intervenção de uma pessoa para que o Experimento de Stanford fosse interrompido e todos os participantes, inclusive os pesquisadores, fossem trazidos de volta para a realidade. Foto: © [Prot] / Adobe Stock. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 40 Para aprimorar seus conhecimentos, seguem algumas dicas de vídeos para você: Parece exagero dizer que qualquer pessoa adulta e psicologicamente sadia possa se submeter a um padrão comportamental induzido por pessoas que acabou de conhecer. Derren Brown, por meio da produção “The Push” (Netflix), mostra que não há exagero nenhum nisso. De forma chocante, Brown mostra como pessoas comuns podem ser levadas a cometer atrocidades inimagináveis ao estarem envolvidas em fenômenos psicossociais como os estudados nesta aula. Você também pode saber mais sobre o Experimento da Prisão por meio do próprio Zimbardo em “Como pessoas comuns se tornam monstros... ou heróis”, disponível em: https://www.ted.com/talks/philip_zimbardo_the_ psychology_of_evil?language=pt-br. Dica DE MíDia Portanto, ainda diante de tudo, espera-se que o conhecimento dos fenômenos retratados possa contribuir para uma melhor compreensão da dinâmica psicossocial do crime organizado e do tráfico de drogas. 2.2. InFLUÊnCia SOCiaL: TeORia dO COMPORTaMenTO PLanejadO (aTiTUde, nORMa SUBjeTiVa e COnTROLe COMPORTaMenTaL PeRCeBidO) Esta aula segue com a busca por respostas para a pergunta: “Por que algumas pessoas se engajam em comportamentos criminosos tais quais os relacionados ao crime organizado e ao tráfico de drogas?”. Visando avançar ainda mais nesta direção, vale a reflexão sobre o exemplo do envolvimento de determinados universitários com o mundo do crime. Não é de hoje que o recinto universitário vem se tornando cenário para os mais variados crimes. Por exemplo, na Inglaterra os delitos no ambiente acadêmico possuem até mesmo um ranking oficial, sendo o roubo, o furto e as agressões sexuais as ofensas mais comuns (WOOD, 2018). https://www.ted.com/talks/philip_zimbardo_the_psychology_of_evil?language=pt-br https://www.ted.com/talks/philip_zimbardo_the_psychology_of_evil?language=pt-br Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 41 Livre comércio de drogas na UnB: conivência ou falta de policiamento? Foto: Metrópoles (2018). No cenário brasileiro, somam-se a esses tipos penais o consumo e a venda de drogas tanto nos centros acadêmicos quanto nas áreas comuns das universidades (KERR-CORREA et al., 2001). Uma pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Antidrogas do Ministério da Justiça, em 2010, revelou que os universitários compõem a parcela da população brasileira que mais consome drogas. Tal fato se reveste de especial gravidade, visto que vários outros crimes estão associados ao uso de drogas. Universitárias que abusam de substâncias ilícitas estão mais expostas a agressões sexuais (GILMORE; LEWIS; GEORGE, 2015; HINES et al., 2015). No mesmo sentido, usuários de drogas que se engajam em crimes como furto, roubo e tráfico muitas vezes o fazem em busca de recursos para sustentar o vício (LEIDENFROST; LEONARD; ANTONIUS, 2017). Como visto no Módulo 1, a maconha é a droga mais amplamente uti- lizada pela população, e o público acadêmico não faz exceção a essa regra (JANSON, 2017). Trata-se de algo preocupante. O consumo de maconha está relacionado a diversos transtornos mentais, tais como depressão (DEMBO et al., 2017), síndrome de pânico (DEAS; GERDING; HAZY, 2000; ZVOLENSKY et al., 2006) e esquizofrenia (OLIVEIRA; MOREIRA, 2007). Ao seu turno, a percepção de disponibilidade da droga constitui fator preditor de seu uso, não importando a faixa etária (MARTINS et al., 2016; MAURO et al., 2017). Aproximadamente 4% dos adultos do mundo (cerca de 162 milhões de pessoas) consomem Cannabis pelo menos uma vez no decorrer de um ano, tornando-a a droga ilícita mais usada no mundo. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 42 Assim, assume-se neste curso que o desenvolvimento de abordagens baseadas em evidências científicas para o enfrentamento do tráfico e do consumo de drogas ilícitas e suas consequentes mazelas, nas universidades e em todos os outros lugares, é uma necessidade atual e imediata. Somando-se ao fenômeno da conformidade e por se tratar de uma situação paradigmática, nas próximas linhas será discorrido sobre o poder de variáveis específicas na predição da intenção de estudantes em traficar drogas no ambiente universitário sob as lentes de uma das mais relevantes abordagens de influência social, a Teoria do Comportamento Planejado – TCP (AJZEN, 1991). Em linhas gerais, a Teoria do Comportamento Planejado (TCP) parte da premissa de que todo comportamento realizado por ato de vontade é precedido por uma intenção. Por isso, ao se predizer a intenção, também é possível, em boa parte dos casos, predizer se a pessoa irá ou não realizar determinado comportamento. A pesquisa na área vem mostrando, desde a década de noventa, que essa regra vale para as mais variadas circunstâncias da vida social humana. Com os temas abuso de drogas, violência, agressão e crime não é diferente. A TCP é um dos modelos de predição de comportamento mais parcimoniosos no campo da Psicologia Social e amplamente empregado em diversas áreas do conhecimento, tais como Economia, Nutrição e comportamento do consumidor. Com a prevenção de crimes e comportamentos antissociais ocorre o mesmo. Em 2015, Finigan-Carr e colegas usaram a TCP em busca da predição de comportamentos agressivos e porte de arma entre jovens negros de baixa renda. Já em 2017, Skrzypiec usou uma abordagem interdisciplinar, empregando a TCP e aportes da Criminologia, para examinar a intenção de adolescentes em se envolver em atividades criminais. Entre os estudos com suporte teórico na TCP, estão vários que buscam investigar fatores que possibilitem a predição da intenção deuso de maconha entre estudantes de graduação. O modelo tradicional da TCP adota as variáveis atitude, norma subjetiva e controle comportamental, percebidas como preditores da intenção do indivíduo em praticar determinado comportamento. PodcAst TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 43 Na figura abaixo, você pode observar o modelo da TCP de forma gráfica: ATiTUDES EM RELAÇÃO AO COMPORTAMENTO NORMA SUBJETiVA CONTROLE PERCEBiDO DO COMPORTAMENTO iNTENÇÃO DE COMPORTAMENTO COMPORTAMENTO ATiTUDES EM RELAÇÃO AO COMPORTAMENTO NORMA SUBJETiVA CONTROLE PERCEBiDO DO COMPORTAMENTO iNTENÇÃO DE COMPORTAMENTO COMPORTAMENTO Note-se que as três variáveis (atitudes, norma subjetiva e controle comportamental percebido), além de predizerem a intenção, se in- fluenciam mutuamente. Nesse ponto, é relevante trazer definições sucintas do que vêm a ser os elementos do modelo. Do ponto de vista estritamente da Psicologia Social, as atitudes têm a ver com as avaliações que as pessoas fazem do que as cercam em suas vidas. Tecnicamente “a atitude consiste numa predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável em relação a objetos, pessoas, instituições ou acontecimentos” (AJZEN; FISHBEIN, 1972). Nesse sentido, por exemplo, uma pessoa pode ter uma atitude po- sitiva em relação a um determinado político e negativa em relação a outro. Já na Segurança Pública, uma pessoa pode ter uma atitude positiva ante o porte irrestrito de armas e uma atitude negativa ante a legalização da venda de drogas. Em ambos os casos, a atitude pode predizer a intenção de voto de acordo com a avaliação pessoal dos políticos e de suas bandeiras. Por sua vez, as normas subjetivas (ou sociais) estão relacionadas às reações ou avaliações das pessoas ao redor (por exemplo, ante a objetos e situações) e se o indivíduo está ou não interessado em acatar as expectativas dessas pessoas. Em outras palavras, elas “referem-se às comparações que são feitas com pessoas próximas, TEORia DO cOMPORTaMENTO PlaNEjaDO (TcP)| Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 44 as quais podem influenciar a forma de pensar de quem está ao seu redor.” (AJZEN, 2008). Um exemplo do poder da influência da norma subjetiva está em sua predição da conformidade, como pode ser observado nos experimentos de Solomon Asch. Seja no caso da comparação entre os tamanhos das linhas, seja no caso do posicionamento que as pessoas adotavam no elevador, o que a pessoa identificava como sendo a norma do grupo invariavelmente exercia uma influência quase que irresistível sob sua própria forma de agir. Isso também ocorre no mercado das drogas. Li e Feigelman (1994) examinaram a influência de algumas variáveis, como a prática de tráfico por familiares e amigos próximos, na intenção de jovens adolescentes se envolverem nessa atividade e encontraram fortes correlações entre essas variáveis. Uma espécie de norma subjetiva é aquela que prescreve o silêncio diante de faltas cometidas por colegas de serviço. De caráter universal, em diversas culturas e profissões, essa regra sutil parece ser ainda mais significativa em meio aos agentes da lei. A obra de William Westley, “Violence and the Police” (1970), é con- siderada um dos trabalhos mais importantes já desenvolvidos sobre a polícia, sendo constantemente referida na literatura respectiva e nos círculos que tratam do comportamento desviante e controle social. Westley busca explicar a razão pela qual a violência policial é tão generalizada e difícil de controlar. O autor baseia seu estudo na cultura ocupacional, valendo-se dela enquanto conceito explanatório básico. Observa que, em razão de o público poder ser não confiável, hostil, e até mesmo violento, a cultura ocupacional policial enfatiza a proteção individual, sigilo e violência, bem como a ideia-força da necessidade de manutenção do respeito pela polícia. Westley aponta aqueles temas como configurações variáveis, mais salientes nos grandes departamentos urbanos de polícia do que em outras organizações menores. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 45 O pesquisador, em sua obra de referência, observa que mais de três de cada quatro policiais (parte da amostra de uma enquete por ele desenvolvida), declararam que não denunciariam outro policial por receber dinheiro de um preso, e que tampouco testemunhariam contra ele, caso fosse acusado posteriormente por isso. Tal atitude seria parte do famoso “código de silêncio”, aspecto da cultura ocupacional antagônico ao controle da corrupção policial. nA PRátIcA Finalmente, o controle comportamental percebido diz respeito aos fatores que podem facilitar ou bloquear a efetivação do comportamento (AZJEN, 2008). Em outros termos, isso teria relação com a crença da pessoa quanto à sua capacidade de efetivamente performar determi- nado comportamento e conseguir arcar com as consequências do feito. Um exemplo do controle comportamental percebido está no fato de um universitário perceber que possui acesso a drogas no atacado, tem condições de vendê-las no varejo entre os colegas universitários e não será incomodado pela administração da universidade ou pela polícia. Foto: © [Syda Productions] / Adobe Stock. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 46 ORBELL E COLEGAS (2001) Testaram os efeitos do acesso a drogas e do envolvimento de amigos no crime sob a intenção de adolescentes seguirem o mesmo caminho. Empregou a variável fortalecimento da reputação (reputation enhancement) como um fator entre a variável e a intenção de engajamento de jovens em atividades criminais. LiTTLE E STEiNBERG (2006) SKRZYPiEC (2017) Testaram o controle comportamental percebido diante do uso efetivo de ecstasy como variável mediadora entre o hábito e a intenção de se usar a droga. Veja a seguir alguns estudos empregados com a variável: Como podemos observar, em todos os casos, de forma isolada ou interagindo com atitudes e normas subjetivas, o controle compor- tamental percebido revelou-se um fator determinante na predição da intenção de se praticar os crimes de uso e tráfico de drogas. Em suma, o modelo da Teoria do Comportamento Planejado (TCP) assume que a intenção é fator determinante para os comportamentos performados pelos indivíduos de forma livre. Ou seja, três são as variáveis que determinam a intenção: a atitude, as normas subjetivas e o controle comportamental percebido. Ademais, a maior parte dos exemplos citados na apresentação da TCP relaciona-se à intenção de universitários se envolverem com o tráfico de drogas. Porém, ressalta-se que o poder preditor da TCP abrange vários outros tipos de comportamentos quotidianos, inclusive criminosos. Para finalizar o tópico, segue um exemplo de aplicação prática da TCP em exercício de análise do crime de roubo ao transporte coletivo. Vale lembrar que esse tipo de crime muitas vezes está diretamente relacionado ao narcotráfico, visto que serve para pagar dívidas Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 47 com o tráfico, sustentar o vício ou mesmo levantar recursos para as organizações criminosas das quais seus autores fazem parte. Em outras palavras, muitas vezes “o crime (comum) é um meio de garantir o bom funcionamento do mercado de drogas.” (WEISBURD; GREEN; ROSS, 1994). O indivíduo avalia que, por meio do roubo em transporte coletivo, pode auferir lucro fácil e alto, com o qual poderá adquirir drogas e outros objetivos de seu interesse, ao mesmo tempo que avalia positivamente essa prática. O indivíduo, então, avalia que, se realizar um roubo a coletivo no horário de pico, pode obter grande quantia em dinheiro, além de celulares e demais pertences das vítimas. Atitude fAvorável Existindo, na comunidadeem que o indivíduo está inserido, aceitabilidade quanto à prática de determinados delitos, para esta comunidade a prática criminosa é relativizada. Muitas vezes esse é o caminho que parece ser mais fácil encontrado pelas pessoas na comunidade para conseguir ter acesso a bens materiais e influência. Assim, o indivíduo entende que entre seus pares o crime é algo aceito. Sendo assim, a norma subjetiva seria a aceitabilidade do crime na comunidade em que o delinquente está inserido. O indivíduo acredita fielmente que não será preso em razão da prática delituosa, tendo em vista confiar em sua habilidade. Isso permite um paralelo com o instituto da culpa consciente, tratada no direito penal, em que o indivíduo acredita fielmente que o resultado não ocorrerá por conta de sua habilidade na prática daquela conduta. NormA subjetivA CoNtrole ComportAmeNtAl perCebido Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 48 Estando as três variáveis antecedentes convergentes, forma-se a intenção do indivíduo em praticar roubos em transporte coletivo. INteNção Havendo oportunidade e reunindo o indivíduo os meios para tal, ele possivelmente praticará roubos em transporte coletivo. ComportAmeNto Avance para o tópico a seguir e veja como alguns fatores podem estar diretamente relacionados com o envolvimento no tráfico de drogas. 2.3 VULneRaBiLidadeS SOCiOeCOnôMiCaS e OUTROS PRediTOReS dO enVOLViMenTO COM O TRáFiCO de dROGaS e O CRiMe ORGaniZadO Compreender as variáveis preditoras do envolvimento das pessoas com atividades criminosas é essencial para o desenvolvimento de estratégias preventivas; ou seja, para que isso não aconteça. O mesmo princípio vale para as ações interventivas; ou seja, de resgate daqueles que já estão inseridos no mundo do crime. Isso se torna ainda mais significativo, uma vez que as pesquisas re- velam que, embora os números da criminalidade saltem aos olhos, apenas uma pequena parcela da população realmente se envereda pelo caminho do crime. Portanto, os esforços do governo e da sociedade se tornam mais eficazes se direcionados a fatores de risco relacionados a públicos específicos. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 49 Observe a imagem a seguir: 20% ESFORÇO 80% RESULTADOS = 80% 80% 20% 20% 80% 20% Princípio de Pareto: sustenta que a expressão majoritária dos resultados de muitos fenômenos (80%) resulta de esforços quantitativamente minoritários (20%) de um conjunto de variáveis independentes. Em revisão sistemática da literatura, Komatsu e Bazon (2018), em- pregando categorias predefinidas por Hawkins e colegas (2000), tendo o público jovem como referência, organizaram os principais fatores preditores de envolvimento com a criminalidade violenta em cinco categorias: indivíduo, família, escola, pares e bairro/comunidade. Na pesquisa de Komatsu e Bazon, pode-se observar os seguintes resultados: glossáRio Revisão sistemática da literatura é quando os autores tentam encontrar todas as pesquisas sobre um determinado assunto, estabelecendo um recorte temporal dentro de bases específicas. Uma base de pesquisa muito consultada é o Google Acadêmico. CAtegoriA iNdivíduo Os fatores que mais se sobressaíram foram baixa empatia e baixo autocontrole. CAtegoriA fAmíliA Destacaram-se violências físicas e rejeição parental. PRiNcíPiO DE PaRETO| Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 50 domíNio esColAr Os principais fatores encontrados foram reprovação e evasão escolar. CAtegoriA pAres Verificou-se que fatores de risco se mostraram bastante influentes no final da adolescência e no início da vida adulta. domíNio bAirro/ ComuNidAde Trabalhos pesquisados revelaram o poder da influência da desordem e da criminalidade. Para a realização da pesquisa, Komatsu e Bazon (2018) se debruçaram sobre 37 artigos, que envolveram estudos empíricos e investigações que se utilizaram de dados secundários (por exemplo, estatísticas oficiais). No domínio indivíduo, os resultados apontaram o poder preditivo do envolvimento com o crime em fatores como o abuso de substâncias. Os autores definem o abuso de substâncias como a “condição psiquiátrica diagnosticada pelas consequências negativas à saúde e ao cumprimento dos deveres sociais que o uso de álcool e/ou outras drogas produz ao indivíduo”. Foto: © [Photographee.eu] / Adobe Stock. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 51 Um dos estudos realizados no Brasil mostrou que os adolescentes abusadores de álcool possuem duas vezes mais chances de se envolver com a criminalidade violenta que os adolescentes que não têm a mesma experiência daqueles que passam por problemas com o álcool. Por exemplo, esse é um resultado que está em linha com o que foi encontrado em uma pesquisa no estado do Texas, nos Estados Unidos. Outro fator abordado pelos autores na categoria indivíduo é o histórico com o crime. Pessoas que se envolveram com o crime na adolescência revelaram ter muito mais chances de seguir a trajetória do crime na vida adulta. Isso é bastante significativo na realidade brasileira, onde adolescentes são utilizados pelo narcotráfico tanto para servirem como “aviõezinhos” quanto para executarem os atos de justiçamento dos “tribunais do crime”. glossáRio “Aviãozinho” é um dependente químico que “trabalha” para traficantes, fazendo a entrega de droga por dinheiro ou em troca de pequenas porções para o consumo próprio. Para que você possa compreender melhor o que são os “tribunais do crime”, acesse esta matéria na íntegra, disponível em: https://www.midiamax.com.br/ policia/2020/adolescente-que-matou-jovemem- tribunal-do-crime-e-flagrado-com-carro-furtado Saiba MaiS Na categoria família, na revisão de Komatsu e Bazon (2018), chama a atenção que “o fato de um dos responsáveis pelo adolescente ter sido preso constitui um importante indicador de risco em relação ao envolvimento do(s) filho(s) em delitos violentos.” Esses resultados foram encontrados nos cinco estudos que trataram do tema. Uma pesquisa na Suécia, por exemplo, revelou que tanto faz se os pais são biológicos ou adotivos, se esses tiverem envolvimento com o crime, a tendência é que seus filhos também o venham a ter no futuro. Ainda na perspectiva familiar, sofrer violência no ambiente doméstico ou testemunhá-la também se mostrou um forte preditor de futuras manifestações de atos de violência. Foto: © [Prostock-studio] / Adobe Stock. https://www.midiamax.com.br/policia/2020/adolescente-que-matou-jovemem-tribunal-do-crime-e-flagrado-com-carro-furtado https://www.midiamax.com.br/policia/2020/adolescente-que-matou-jovemem-tribunal-do-crime-e-flagrado-com-carro-furtado https://www.midiamax.com.br/policia/2020/adolescente-que-matou-jovemem-tribunal-do-crime-e-flagrado-com-carro-furtado Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 52 No domínio escola, reprovações e expulsões se mostraram como os fatores mais impactantes para um futuro envolvimento com a de- linquência. Adolescentes que passaram por esse tipo de experiências foram identificados como tendo até cinco vezes mais chances de se envolver com crimes violentos. Outros fatores importantes que podem ser detectados no ambiente escolar são as agressões a professores e a desorganização. Alunos que possuem histórico de agressões a profes- sores ou que estão em ambientes escolares marcados pela desordem mostraram-se mais propensos a cometerem crimes fora da escola. Foto: © [Pololia] / Adobe Stock. No domínio pares, o principal fator preditor de delinquência foi o envolvimento de colegas com o mundo do crime. O mesmo resultado foi encontrado para o envolvimento com gangues juvenis. Foto: © [olly] / Adobe Stock. Por ora, destaca-se que esses resultados podem ser explicados pelo fenômeno da norma subjetiva.Em outras palavras, os resultados estatísticos e os fenômenos psicológicos estudados até o momento parecem corroborar um famoso dito popular, que precisa apenas de uma adaptação ao contexto das ciências comportamentais: “diga-me com quem tu andas, e te direi como tu te comportas”. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 53 Finalmente, a pesquisa de Komatsu e Bazon (2018) informa que, na categoria bairro/vizinhança, os principais fatores de risco são a desor- ganização e o ambiente criminal. Sobre o assunto, os autores registram: Um bairro degradado, percebido como perigoso devido às taxas de criminalidade, e devido à existência de pouco aparato social, associa-se ao aumento do relato de envolvimento em delitos violentos. Nofziger e Kurtz (2005), por sua vez, já haviam encontrado que adolescentes que testemunham violência no cotidiano de suas comunidades, como brigas, roubos, venda de drogas e outros tipos de crime, possuem maior risco de se envolver em comportamentos violentos. (KOMATSU; BAZON, 2018) Siga para a próxima aula, nela você verá algumas reflexões sobre as subculturas criminais. 2.4 SUBCULTURaS CRiMinaiS Nas aulas anteriores desta unidade, foi traçada uma visão panorâmica da criminologia e também dos fenômenos psicossociais e de suas relações com variáveis que possuem influência sobre o engajamento das pessoas com crimes como o tráfico de drogas. Nesta última aula da Unidade 2, iremos contemplar aspectos relacionados ao envolvi- mento com a criminalidade no nível dos indivíduos, de seus grupos e ambientes imediatos. Contudo, serão incorporadas reflexões sobre elementos atinentes a variáveis e fenômenos de outras perspectivas como a econômica, a social e a cultural. Duas das principais frentes de explicação para o crime e para a delinquência nos Estados Unidos nos anos 1920, e que ainda influenciam a Criminologia contemporânea, eram a Teoria da Associação Diferencial de Edwin Sutherland e a Teoria da Estrutura e da Anomia de Robert Merton. A proposta de Sutherland se baseava na visão da Universidade de Chicago sobre o aprendizado de comportamentos (transmissão de hábitos e costumes) pelas interações em grupo. Ou seja, da mesma forma que os demais comportamentos, o comportamento PodcAst TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 54 criminal também seria aprendido pelo contato estreito entre os membros de um determinado grupo, conforme citado nos Princípios da Aprendizagem Diferencial de Sutherland. Já a visão de Merton se inspirava no princípio da anomia de Émile Durkheim. Para Merton, ao compartilhar do sonho americano, mas não possuir os recursos para realizá-lo, os indivíduos mais vulneráveis da sociedade passariam a produzir adaptações visando o equilíbrio entre objetivos e meios. O crime, portanto, seria apenas uma dessas adaptações. Edwin Sutherland nasceu em 13 de agosto de 1883, em Gibbon em Ne- braska e morreu em 11 de outubro de 1950, na cidade de Bloomington, em Indiana. Foi um criminologista americano que se tornou especial- mente conhecido por seu desenvolvimento da teoria da associação diferencial do crime. O prêmio anual mais importante da American Society of Criminology é concedido em seu nome, em reconhecimento à sua influência na área. Em que pese haver sofrido forte influência de Sutherland e Merton, Albert K. Cohen acreditava que a delinquência juvenil era fruto de subculturas em que imperava o desvio de valores e padrões morais. Cohen nomeou esses subsistemas contrários às regras da maior parte da sociedade (ou seja, antissistemas) de subculturas delinquentes (criminais). Para Cohen, a principal característica das subculturas criminais era o desvio dos valores e dos padrões morais da sociedade. Se por um lado esses desvios seriam identificados pela sociedade como crimes, por outro, seriam justamente os fatores que geram mais prestígio e reco- nhecimento para os membros das subculturas. Por esses princípios, todo ato hostil, agressivo e violento contra não membros seria justi- ficável e não geraria nenhum tipo de sentimento de remorso ou culpa. Na base da concepção de Cohen, encontram-se elementos da anomia, tal qual em Merton. Assim, as subculturas criminais seriam fruto da impossibilidade de jovens dos extratos mais vulneráveis da sociedade conseguirem alcançar aquilo que a sociedade entende por sucesso. Tendo almejado os sonhos comuns, mas sem as condições materiais para alcançá-los, para Cohen, o jovem acabava por se unir a outros jovens igualmente frustrados e resignados. Assim, se formaria um subgrupo, uma subcultura, com linguagem, códigos morais e regras comportamentais peculiares. A quantidade de subculturas delinquentes seria tanto quanto fossem os arranjos criados nesse novo perfil. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 55 Você sabia que hoje em dia, no Brasil, é possível encontrar evidências de padrões de linguagem de subculturas criminais no exemplo do uso de tatuagens por criminosos? O capitão da Polícia Militar da Bahia, Alden José Lázaro da Silva, realizou uma extensa pesquisa que constatou que 60% dos presidiários possuíam tatuagens em seus corpos, disponível em: http://front.senad.ufsc. br/frontM1SL1/ Saiba MaiS Para encerrar esta aula, vale relatar a experiência de Boston, nos Estados Unidos, em mais um momento de encontro entre a subcultura criminal envolvendo a juventude e seu encontro com espécies de drogas recém- -chegadas no mercado. O que podemos chamar de um case de sucesso. “Como muitas cidades americanas durante o final década de 1980 e início de 1990, a cidade de Boston sofreu uma epidemia de violência juvenil que teve suas raízes na rápida disseminação dos mercados de rua de cocaína/crack (Kennedy, Piehl e Braga 1996). Gangues se envolveram no comércio de crack e cada vez mais recorrem a armas de fogo para proteger seu território e interesses financeiros, bem como manter o respeito de seus rivais. O desrespeito entre eles foi um gatilho para a violência de gangues. A violência de gangue envolvia conflitos em curso entre grupos específicos que eram muito pessoais e semelhantes a uma vingança. Os ciclos de violência entre gangues de Boston permaneceram após os conflitos territoriais do mercado de rua de crack ficarem estabilizados. Em 1990, a cidade de Boston teve um recorde de 152 homicídios. A cidade parecia fora de controle e os residentes de Boston exigiram o fim da grave crise de violência que atormentou seus bairros.” Em meio a esse cenário, não é difícil imaginar o alto nível de insatisfação e os elevados escores de medo e insegurança registrados pela comunidade daquela que é a capital e a mais importante cidade do estado de norte-americano de Massachusetts. Foi justamente nesse cenário que se desenvolveu o policiamento comunitário, conhecido como policiamento de bairro, em Boston. As estratégias e táticas de policiamento desenvolvidas pelo Departamento de Polícia de Boston alcançaram tamanho sucesso que serviram de inspiração para as ações realizadas pelo programa Tolerância Zero em Nova York. PodcAst TRaNScRiTO http://front.senad.ufsc.br/frontM1SL1/ http://front.senad.ufsc.br/frontM1SL1/ Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 56 Uma das experiências mais exitosas de Boston com o policiamento comunitário ocorreu em meados dos anos noventa com o cha- mado Boston Gun Project’s Operation Ceasefire. O projeto envolveu duas frentes principais. Uma das frentes envolveu a distribuição de panfletos em comunidades que tinham problemas com gangues, informando que qualquer ato de delinquência geraria consequên- cias imediatas a seus autores. Essa medida buscava a mudança das normas subjetivas entre os jovens. A segunda frente envolveu o envolvimento de líderes religiosos de comunidades negras em que a violênciaenvolvendo armas e drogas ocorria com mais frequência. Essa medida tinha por objetivo colocar o relacionamento entre polícia e comunidade debaixo de um guar- da-chuva de legitimidade. Os líderes religiosos que participaram na mudança de percepção da polícia também participaram ativamente da abordagem tolerância zero, sem deixar de serem críticos da ação policial em favor de suas comunidades. Se você observar bem, vai perceber que a polícia de Boston, para reverter a subcultura que gerava crime e violência em seus bairros, articulou em seu programa de polícia comunitária vários elementos estudados ao longo desta unidade. Entre esses elementos estão: O reconhecimento da norma subjetiva entre os jovens, com sua consequente mudança. O reconhecimento do poder do grupo na modulação do comportamento. O reconhecimento do poder da autoridade sobre o comportamento dos indivíduos. Veja na próxima unidade como são realizadas as políticas de re- dução de demanda. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 57 UnIdade 3 RedUÇÃO da deManda e da OFeRTa de dROGaS COnTexTUaLiZandO Nesta unidade, você terá a oportunidade de aprofundar seus conhe- cimentos acerca de como os fenômenos e as abordagens da Unidade 2 podem ser articulados com aplicações práticas para a redução da demanda e da oferta de drogas. 3.1 RedUÇÃO da deManda Esta aula versa sobre a redução da demanda por drogas. Então, é importante contar um pouco sobre quem é o demandante por drogas. Para isso, primeiramente, é preciso considerar que “narco” tem origem na expressão grega νάρκη, que significa "torpor". Pois bem, o demandante por drogas, também conhecido por termos mais técnicos como drogadito, ou por termos que evocam um esta- tuto moral (viciado), é alguém a quem o imaginário popular associa historicamente ao LSD, cuja sigla advém de Lysergsäurediethylamid, palavra alemã para a dietilamida do ácido lisérgico, uma das mais potentes substâncias alucinógenas conhecidas. Porém, como você já deve ter testemunhado presencialmente ou pelas telas de TVs e celulares, hoje é comum no cotidiano das grandes ci- dades que os usuários de crack estejam em um estado de alta excitação. Essa excitação se traduz por “demandar a droga” e seus respectivos efeitos. E demandar consiste em tentar obter, pedir, exigir, precisar. No ambiente de usuários de drogas, a demanda pela droga é referida como “fissura”. Tharcila Chaves e colaboradores (2011, p. 1.171), em artigo que pros- pectou adictos de crack pela técnica de entrevista, apontam três ci- tações acerca da demanda/fissura: “Pistas internas: ‘Eu parei [de fumar crack], só que aí quando começava (sic) as brigas em casa, eu ia e fumava.’ (...) Pistas externas: ‘Às vezes eu pegava aquele dinheiro, eu falava: ‘Agora eu vou no restaurante. Vou comer’. Aí eu passava em frente à bocada, o pessoal me chamava e pronto. Aí eu comprava [crack]. Ali mesmo eu ficava.’ (...).” Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 58 “Após a retirada do crack, quando o indivíduo quer obter o prazer mais uma vez ou, pelo menos, não quer mais sentir o desconforto de ficar sem o crack: ‘A fissura, ela vem quando você perde aquela sensação de prazer que estava sentindo, tipo, você fumou, você está sentindo um puta (sic) prazer, está um puta (sic) negócio legal, gostoso. Do nada, ela pára. (...) você quer sempre aquele prazer de novo.’ (...).” Diante disso, verifica-se que, enquanto os adictos/dependentes quí- micos (de crack ou de outras drogas psicoativas) estiverem fora de si, em estado de torpor ou de excitação, são considerados incapazes de praticar de forma livre e consciente os atos da vida civil perante a lei. Veja o que diz o Código Civil Brasileiro, no art. 4º, inciso II: “Na vigência do uso de crack, a fissura como um de seus efeitos. Esse tipo de fissura parece ter forte relação com os binges de consumo de crack: ‘Não existe uma [pedra] só. (...) você nem terminou a primeira [pedra], você já está pensando como você vai fazer para pegar a segunda.’ (...)”. Código Civil Brasileiro Art. 4º Inciso II. São incapazes a certos atos ou à maneira de os exercer os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido. A lei brasileira, inclusive, prevê que aqueles que, por causa transi- tória ou permanente não puderem exprimir a sua vontade, fiquem sujeitos à assistência de curador nomeado judicialmente. Isso vale para o embriagado, o usuário de crack e também para alguém que esteja tendo alucinações provocadas por LSD. A incapacidade permanente ou temporária do dependente químico também causa impactos significativos na economia formal e nas contas públicas. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 59 Uma notícia publicada pelo jornal “O Globo” apresenta informações de que, nos últimos anos, o requerimento de benefícios ao INSS au- mentou em 256%. Isso significa que o consumo de drogas cresce de forma alarmante, bem como afasta milhares de brasileiros de seus trabalhos e aumenta a pressão sobre os recursos humanos, materiais e orçamentários da Previdência pública. Veremos adiante os fatores de proteção e de risco para as drogas – eles implicam a construção de políticas públicas de aplicação social e proteção coletiva – políticas genéricas, portanto, de redução da demanda. Nesse ponto, entretanto, parece oportuno enfatizar os aspectos referentes ao próprio indivíduo que está no processo de parar de demandar por drogas e as estratégias individuais para isso. Reduzir a demanda por drogas implica, individualmente, manter a cessação do uso. Uma palavra-chave desse processo é “coping” (palavra oriunda da língua inglesa). Coping : sem tradução exata para a língua portuguesa, pode significar lidar, manejar, adaptar-se ou enfrentar. Trata-se de um processo de interação entre o indivíduo e o meio ambiente, com a função de reduzir ou suportar uma situação adversa que exceda os recursos do indivíduo. (ALMEIDA; STROPPA, 2009) A esse respeito, vale citar novamente Tharcila Chaves e colaboradores (2011). Para os autores, coping tem a ver com as habilidades que a pessoa desenvolve com vistas ao domínio e à adaptação das situa- ções de estresse. Dessa forma, as estratégias ou processos de coping permitem uma resposta, comportamental ou cognitiva, frente às adversidades quotidianas. A escolha da estratégia ou das estratégias empregadas pela pessoa em uma determinada situação depende de seu repertório individual e das experiências tipicamente reforçadas em sua trajetória pessoal. Por outro lado, as pesquisas revelam que pessoas dependentes de cocaína possuem dificuldade de entender e reconhecer as próprias emoções. Isso constitui um obstáculo ao desenvolvimento de habilidade de enfrentamento (coping), como o autocontrole. Tharcila Chaves e colaboradores concluem com um exemplo bastante pertinente ao presente tópico: Nosso estudo demonstrou haver associação entre o uso de algumas estratégias de coping e a motivação para parar de usar crack, o tempo de internação e o tempo de abstinência desta substância. Os pacientes mais motivados parecem tentar fazer um esforço no sentido de controlar a fissura e evitar a recaída, utilizando as estratégias aprendidas durante o tratamento. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 60 Na medicina, nem mesmo as drogas escaparam à influência da mitologia grega. O mais conhecido narcótico do grupo dos opioides, a morfina, obteve seu nome de Morfeu, o deus grego dos sonhos. (VIANA, 2010). Outro dado importante está no fato de os demandantes por drogas ilegais de hoje terem sido aqueles que fazem ou fizeram uso abusivo de drogas legais ontem. Nos Estados Unidos, por exemplo, 0,3% da população fez uso de heroína nos últimos doze meses, dessas pessoas, 80% também fizeramuso abusivo de opioides vendidos legalmente com prescrição médica. Outro aspecto importante, em relação ao dependente químico, é se ele, além do crime de consumo – que, diga-se de passagem, foi des- penalizado no Brasil em 2006 –, também for praticante contumaz de outros crimes. Barbero e Pérez (2009) realizam uma análise de três hipóteses relacionadas a essa questão, quais sejam: � O consumo de drogas causa delinquência. � A delinquência causa consumo de drogas. � Não existe relação de causalidade entre o consumo de drogas e delinquência porque ambos os comportamentos são deflagrados por causas comuns. As autoras argumentam que esta última hipótese é a que vem rece- bendo mais atenção nas últimas décadas, dado que as pesquisas vêm mostrando que o consumo de drogas e a delinquência são causados pelos mesmos fatores. Para explicar as condutas de consumo e delin- quência, o trabalho se debruça sobre questões familiares, de grupos de pertença e causas pessoais, muito ao estilo do que foi ministrado na Unidade 2 deste módulo. A conclusão da investigação das autoras é a de que, de fato, um consumidor de drogas não necessariamente se envolve com outras modalidades de crimes. O sentido oposto também se mostra verda- deiro no trabalho citado, nem todo criminoso é usuário de drogas. Porém, em grande medida, os mesmos preditores do crime e da violência também predizem que alguém, em determinado momento de sua vida, irá se tornar um usuário de drogas ilícitas. Nesse sentido, o Relatório Mundial sobre Drogas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em sua versão de 2020, pode ser instrumental para políticas de prevenção do crime, em geral, e de redução da demanda por drogas, em específico, na medida em que aponta os fatores de risco para o uso prejudicial dessas substâncias. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 61 | fAtores de risCo pArA uso prejudiCiAl de drogAs | fAtores protetivos vis-à-vis o uso de substâNCiAs � Pobreza. � Guerras e conflitos. � Falta de moradia e status de refugiado. � Exclusão social e desigualdade. � Desordem de bairros. � Uso de substâncias pelos pares e disponibilidade de drogas. � Problemas de saúde mental. � Traumas e adversidades na infância. � Bairros seguros. � Segurança física e inclusão social. � Ambiente escolar de qualidade. � Acesso a serviços de saúde. � Envolvimento de cuidadores e monitoramento sendo feito por eles. � Habilidades nas áreas de saúde e neurologia: habilidades na lida (manejo) de indivíduos e regulação emocional. Tais fatores parecem ter relação direta com a redução da demanda, posto que constam de um documento essencialmente preditivo. Os fatores de risco precisam ser prevenidos ou neutralizados se já estiverem instalados, ou até mesmo reprimidos em situações extremas. De outra parte, os fatores de proteção precisam ser proa- tivamente promovidos. Curiosamente, os fatores de risco possuem um caráter essencialmente estrutural (de manejo complexo), enquanto os fatores de proteção parecem ser mais específicos (de manejo objetivo enquanto alvos de políticas públicas focadas especificamente na redução da demanda). 3.2 RedUÇÃO da OFeRTa A Política Nacional sobre Drogas (PNAD) brasileira mudou signi- ficantemente com o advento do Decreto nº 9.761, de 11 de abril de 2019. Já em sua introdução, a nova PNAD destaca a ênfase das ações de redução da oferta, as quais incluem: Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 62 Decreto nº 9.761 de 11 de abril de 2019 As ações de segurança pública, defesa, inteligência, regulação de substâncias precursoras, de substâncias controladas e de drogas lícitas, repressão da produção não autorizada, de combate ao tráfico de drogas, à lavagem de dinheiro e crimes conexos, inclusive por meio da recuperação de ativos que financiem ou sejam resultados dessas atividades criminosas. Com o referido decreto, o governo federal brasileiro passou a enfa- tizar, no âmbito da redução de oferta de drogas, o que é denominado de “ciclo virtuoso”. A expressão ‘ciclo virtuoso’ é utilizada para designar um círculo de acontecimentos positivos que se retroali- mentam. No polo diametralmente oposto está o ciclo vicioso. Gestão de ativos criminais Fomento, modernização, capacitação e fortalecimento das polícias Apreensão de bens pelas polícias Em seguida, entenda como funciona o ciclo vicioso, na prevenção criminal. O ciclO viRTUOSO Da POlíTica NaciONal SObRE DROgaS (PNaD) | Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 63 Em prevenção criminal, um exemplo de ciclo vicioso está na relação desordem-medo do crime-crime-violência- desordem. Ambientes caracterizados por desordens físicas e sociais geram medo do crime, afastando usuários legítimos. Em seguida, a ausência de atividades lícitas, ou dos “olhos da rua”, nas palavras de Jane Jacobs, acaba se tornando um fator atrativo para atividades ilegítimas ou antissociais que terminam gerando ambientes propícios a crimes menos graves e depois a crimes mais graves. Por fim, os ambientes são tomados pela violência, como, por exemplo, o assassinato de rivais, ou de consumidores que não efetuam o pagamento da droga, em “bocas de fumo” (mercados de drogas). Os ambientes marcados por medo, crime e violência acabam gerando mais desordens físicas e sociais. Tem-se, assim, um ciclo vicioso. A lógica do ciclo virtuoso que, desde 2019, passou a orientar a política pública brasileira de redução da oferta de drogas está centrada na conversão dos bens e ativos das organizações criminosas (ORCRIMs) em recursos que venham a fortalecer as ações de repressão a essas mesmas organizações. Dessa forma, equipamentos, propriedades, veículos e os demais recursos apreendidos das ORCRIMs são repassados para a Secretaria Nacional Sobre Drogas (SENAD). Esses recursos, então, são leiloados e cerca de 20% a 40% do valor obtido é repassado diretamente para as instituições policiais responsáveis pelas apreensões ou confisco de bens e ativos de origem criminosa. O restante do percentual apurado pela SENAD é utilizando para fomento, modernização, capacitação e fortalecimento das polícias, para que estas possam aumentar o número de apreensões e confiscos de bens e ativos. Completa-se, assim, o ciclo virtuoso de redução da oferta de drogas. PodcAst TRaNScRiTO O resultado da orientação da política de drogas, com ênfase no desmantelamento das organizações criminosas, inclusive com uso de seus próprios recursos, começa a ser expresso em números. Somente em ações da Polícia Federal, R$ 653,9 milhões de recursos de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas foram bloqueados em 2019. Isso representa um aumento de 44% em relação a 2018, quando foram bloqueados R$ 451,5 milhões em ações de mesma natureza. Em nota ao site R7, a Polícia Federal informou que esses “[...] números confirmam o empenho da instituição em promover a descapitalização financeira de organizações criminosas”. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 64 Apreensão 2018 2019 Variação Maconha 2.341 ton 9.164 ton 291% Cocaína 24,5 kg 120,4 kg 390% Cigarros 142.319 346.500 143% BOs emitidos 745 893 20% Pessoas presas 576 770 34% É importante também enfatizar que os recursos obtidos a partir do leilão dos bens disponibilizados à Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) também podem ser revertidos em favor dos estados. A Lei nº 13.886, de 17 de outubro de 2019, garantiu ainda mais se- gurança jurídica ao processo de aceleração da destinação de bens apreendidos ou sequestrados que tenham vinculação com o tráfico ilícito de drogas. Essa lei se juntou ao já referido Decreto nº 9761, de 11 de abril de 2019, e facilitou a venda de bens apreendidos ou confiscados do tráfico para que o dinheiro seja utilizado em polí-ticas públicas. Assim, joias, aeronaves, fazendas e veículos de luxo apreendidos em condutas criminosas associadas ao tráfico de drogas podem ser vendidos e investidos em ações federais e estaduais contra a oferta de drogas. Os recursos obtidos com o tráfico não precisam necessariamente ser apenas leiloados. As armas apreendidas com criminosos podem ser destruídas ou doadas para as forças de segurança. Veja o que diz a Lei nº 13.886/2019: Lei nº 13.886 Art. 3º. O art. 25 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação: As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo juiz competente ao Comando do Apreensões realizadas pela PRF. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo que trata da descapitalização do narcotráfico. RA Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 65 Exército, no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do regulamento desta Lei. § 1º As armas de fogo e munições apreendidas em decorrência do tráfico de drogas de abuso, ou de qualquer forma utilizadas em atividades ilícitas de produção ou comercialização de drogas abusivas, ou, ainda, que tenham sido adquiridas com recursos provenientes do tráfico de drogas de abuso, perdidas em favor da União e encaminhadas para o Comando do Exército, devem ser, após perícia ou vistoria que atestem seu bom estado, destinadas com prioridade para os órgãos de segurança pública e do sistema penitenciário da unidade da federação responsável pela apreensão. O exemplo do repasse das armas apreendidas com criminosos para as instituições policiais é ilustrativo do papel dessas instituições no ciclo virtuoso objetivado pela Nova Política Nacional sobre Drogas. Trata-se da superação de um paradigma outrora alicerçado quase que exclusivamente em políticas de cunho social. A respeito desse assunto, é importante revisitar um comentário de Brito e Dantas (2009): “a utilização exclusiva de iniciativas de prevenção criminal baseadas em políticas de cunho social pode limitar a eficiência da ação do Estado no provimento da segurança pública e na performance da polícia nas ações correspondentes”. Ou seja, para prevenir o crime e o narcotráfico, não é exceção à regra, são necessárias ações que vão muito além do discurso hegemônico de que nenhuma outra ação seria efetiva fora da superação das de- sigualdades sociais, econômicas, raciais, de gênero etc. Por essa e outras razões, a Nova Política sobre Drogas dirige um olhar especial para temas como a Inteligência de Segurança Pública (ISP). Um dos recursos essenciais à inteligência, sobretudo de segurança pública, é a vigilância. Segundo a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP), a vigilância é uma das modalidades de ações de busca em inteligência. Em termos práticos, tenha em mente que boa parte das apreensões de drogas e armas por parte da Polícia Rodoviária Federal (PRF) ocorre em razão da vigilância empreendida por homens e equipa- mentos dessa instituição ao longo dos milhares de quilômetros da malha viária nacional. Enquadre no seu celular ou tablet o código de REALIDADE AUMENTADA do aplicativo Zappar para assistir ao vídeo sobre alterações da gestão de ativos que geraram transformações na Política Nacional sobre Drogas. RA Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 66 Esse é um exemplo de vigilância física que, em atividades típicas de polícia judiciária, se as autoridades suspeitarem que alguém está envolvido em atividades ilícitas podem recorrer ao ato de segui-lo. PRF terá à disposição carro de luxo apreendido em operação contra a corrupção. Foto: Jovem Pan. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) reconhece ser a vigilância uma ferramenta de investigação ampla- mente utilizada, embora a maioria dos países tenha posto limite a esse tipo de ação de busca. O direito à privacidade na própria casa, por exemplo, tem reconhecimento quase universal, então os países impõem restrições a tal intrusão. O limite de quando as autoridades governamentais podem entrar em espaços privados depende da juris- dição e pode incluir causa provável, suspeita razoável, fundamentos razoáveis e prováveis e geralmente requer autorização judicial prévia. Vigilância de áudio Vigilância visual Vigilância de rastreamento Vigilância de dados Escuta telefônica Câmeras de vigilância oculta Aparelhos de localização georreferenciada (GPS) Computudores e internet (spyware e cookies) Roteamento de conversação humana usando a internet ou qualquer outra rede de computadores baseada no Protocolo de Internet (VOIP - Voice over Internet Protocol) Dispositivos de escuta (ex.: escuta ambiental) Câmeras embarcadas em veículos Câmeras corporais Circuito fechado de TV (CCTV) Câmeras infravermelhas Dispositivo de identificação de radiofrequência Dispositivo para leitura de informação biométrica (ex.: leitura de retina) Telefones portáteis Telefones móveis Dispositivos de monitoramento de teclados (keystroke monitoring) Tipos e exemplos de vigilância eletrônica Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 67 Um tipo de vigilância essencial para a atividade de ISP contra o nar- cotráfico e o crime organizado é a vigilância eletrônica, a qual tem natureza intrusiva, principalmente quando realizada por meio de escuta eletrônica. O UNODC orienta que, nos países em que for per- mitida, a vigilância eletrônica só pode ser considerada quando os meios menos invasivos tiverem sido esgotados ou ineficazes, ou quando nenhuma alternativa razoável para obter provas possa ser oferecida, dadas as circunstâncias do caso. Um exemplo para representar essa vigilância é a possibilidade de a polícia invadir o WhatsApp para obter provas sobre algum suspeito de tráfico. Foto: © [tashatuvango] / Adobe Stock. Ainda de acordo com o UNODC, a vigilância eletrônica desempenha uma função semelhante às operações veladas, mas permite a coleta de uma gama mais ampla de evidências. É o método de investigação preferido quando um grupo criminoso organizado não pode ser penetrado por um estranho ou quando a infiltração física ou vigi- lância representam um risco inaceitável para a investigação ou para a segurança dos investigadores. Dada a sua intromissão, a vigilância eletrônica está sujeita a um estrito controle judicial e salvaguardas legais para prevenir abusos e limitar a invasão de privacidade. Como se vê, a vigilância é essencial à atividade de ISP contra as orga- nizações criminosas envolvidas na oferta de drogas. Isso vale tanto para a vigilância física, realizada por uma agência de policiamento ostensivo, como a Polícia Rodoviária Federal, quanto para a vigilância eletrônica, realizada pelas polícias investigativas. Para os dois casos, a realização de vigilância depende do investimento na qualificação de agentes e na compra de equipamentos. Portanto, resta evidente o potencial de impacto do uso dos recursos e ativos das organizações criminosas para o fortalecimento das or- ganizações policiais com o fechamento do ciclo virtuoso de redução da oferta de drogas. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 68 O Decreto nº 9.662, de 1º de janeiro de 2019, Anexo I, ao descrever as competências da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), já antecipava a guinada da expressão legal da Política sobre Drogas no país. Note que esse decreto foi editado em janeiro de 2019, enquanto o Decreto nº 9.761/2019 seria editado em abril e a Lei nº 13.886/2019 somente viria a ser promulgada em outubro daquele ano.Nas competências da SENAD, está implícita a ênfase da gestão dos recursos e ativos das organizações criminosas, de forma que as agên- cias policiais pudessem ser fortalecidas para combatê-las: Decreto nº 9.662 de 1º de janeiro de 2019 Anexo I. À Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas compete: VI. Indicar bens apreendidos e não alienados em caráter cautelar, a serem colocados sob custódia de autoridade ou de órgão competente para desenvolver ações de redução da demanda e da oferta de drogas, IX. Executar ações relativas à gestão de ativos no âmbito da Política Nacional sobre Drogas e aos programas federais de políticas sobre drogas. Por fim, repare que essas atribuições da SENAD estão em linha com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16, da Organização das Nações Unidas, particularmente a meta 16.4, qual seja: Até 2030, reduzir significativamente os fluxos financeiros ilícitos e de armas, fortalecer a recuperação e devolução de bens roubados e combater todas formas de crime organizado, está no cerne da resposta ao combate ao tráfico de drogas. (ONU, 2021). Siga para a próxima unidade, e continue seus estudos. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 69 UnIdade 4 LaVaGeM de dInHeIRO e FInanCIaMenTO de ORGanIZaÇÕeS CRIMInOSaS COnTexTUaLiZandO Você está lembrado da afirmação de Ferro Júnior e Dantas (2011) sobre o fato de ser o dinheiro “o sangue que corre nas veias do nar- cotráfico”? Pois bem, nesta unidade, você terá a oportunidade de aprofundar um pouco mais seus conhecimentos sobre dois temas introduzidos no Módulo 1: a lavagem de dinheiro e o financiamento das organizações criminosas. 4.1. FinanCiaMenTO de ORGaniZaÇÕeS CRiMinOSaS Financiamento é o dinheiro que um determinado indivíduo ou em- presa necessita para alguma finalidade econômica (empreendimento). Pode ser considerado simplesmente o processo de obtenção de fundos ou, ainda, o arranjo para que o dinheiro seja obtido por alguém e pago posteriormente ao agente financeiro. A expressão, portanto, é essencialmente abrangente quanto aos possíveis objetos da sua aplicação (o que está sendo financiado). Os agentes financeiros, igualmente, podem ser tão diversos quanto um governo central ao financiar um determinado programa, plano ou política de um ente federativo. Os mecanismos de financiamento não são diferentes no mundo da ilicitude. Drogas ilícitas são passí- veis de financiamento em sua produção, processamento, transporte, distribuição e atividades retalhistas nos respectivos mercados em que são consumidas por seus usuários e/ou dependentes químicos. O financiamento dessas atividades, de maneira óbvia, acontece pela rentabilidade e liquidez vantajosas das atividades do mercado de drogas ilícitas, em oposição ao que é lícito e seguro no mercado tradicional (usualmente com menor liquidez e rentabilidade do que em transações ilícitas). O professor Pery Shikida, um estudioso da economia do crime, nos últimos vinte anos tem se notabilizado pelos trabalhos de pesquisa que vem realizando com detentos. Os resultados de suas pesquisas têm desafiado o senso comum ao revelar que os criminosos ligados ao Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 70 que ele define como crimes lucrativos ou econômicos (furto, tráfico de drogas, entre outros) não se reconhecem como vítimas da sociedade. Pelo contrário, as muitas centenas de pessoas entrevistadas por ele afirmam que entram para o mundo do crime pela rentabilidade de suas ações criminosas; ou seja, para ganhar muito dinheiro. Para saber mais sobre os estudos do professor Shikida, assista à entrevista que ele concedeu ao programa “Dentro da Lei” do canal da Gazeta do Povo no YouTube, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=6XhzpU1-hcU&feature=youtu.be. Saiba MaiS Do retorno dos investimentos ilícitos, advêm ativos financeiros. Os ativos financeiros usualmente são dinheiro em espécie, que, por sua vez, é obtido através de operações ilícitas. Esse dinheiro “sujo” implica no fenômeno da “lavagem de dinheiro”, sendo transformado em “dinheiro limpo”, ao ser integrado ao mercado financeiro e lícito. Um exemplo de operações do tipo é a compra de bens de luxo ou imóveis pagos com dinheiro em espécie e que, ao fim, passam a estar devidamente documentados. 4.1.1 a PRODUçãO DE cAnnAbis E cOcaíNa O fenômeno econômico das drogas e de seu financiamento lícito tem feições próprias nos lugares em que já aconteceu a liberação de subprodutos de drogas atualmente ilícitas no Brasil, como no caso da Cannabis. Assim ocorre nos Estados Unidos da América (EUA) e no seu estado do Colorado. Fruto de um “ambiente econômico liberacionista”, empresas que comercializam subprodutos farmacêuticos da Cannabis (a exemplo, o canabidiol) já estão posicionadas oficialmente em bolsas de valores dos EUA e Canadá. Ainda que, indiretamente, até mesmo brasileiros já possam investir em tais negócios (iguais aos cidadãos de outros países). Tratar do financiamento das organizações criminosas, particular- mente no caso em que o “empreendimento” é a produção de drogas atualmente de uso ilícito no país, sobretudo cocaína e Cannabis (drogas ilícitas majoritariamente usadas no Brasil), envolve primariamente o custo do cultivo destas duas espécies vegetais: Erythroxylum coca (insumo natural da cocaína) e Cannabis sativa (espécie vegetal que origina a “erva” conhecida como maconha). glossáRio O canabidiol é uma substância extraída da planta da maconha que atua no sistema nervoso central, sendo útil no tratamento de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia ou ansiedade. https://www.youtube.com/watch?v=6XhzpU1-hcU&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=6XhzpU1-hcU&feature=youtu.be Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 71 Foto: © [Elroi] / Adobe Stock. O tema passa a ser ainda mais complexo ao considerar que o cultivo da Erythroxylum coca está relacionado com hábitos ancestrais dos povos nativos da chamada “América Andina” (como os povos aimará e quíchua), o que inclui a Colômbia, Peru e Bolívia. Sobre a questão dos hábitos ancestrais, veja um exemplo: Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, ao falar da cocaína disse que “se trata de uma folha de coca. Esta não é a cocaína. Isso representa a cultura dos povos indígenas da região andina”. Na Bolívia, a legislação do país reconhece o uso tradicional da folha de coca, tanto para mascar quanto para a manufatura de bebidas e alimentos, sem esquecer seu uso ritual pela população nativa (tão majoritária que a Bolívia se denomina constitucionalmente como “Estado Plurinacional”). A Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a legalidade dessa utilização cultural da folha de coca na Bolívia, muito embora tenha vedado a sua exportação, por classificá-la como substância de uso narcótico. Tal situação já não acontece com a Cannabis no Brasil, já que não existe, via de regra, outra utilização dela que não seja como droga psicoativa de uso ilícito. Diferentemente do que acontece na Bolívia com a Erythroxylum coca, no Brasil a Cannabis sativa é de cultivo vedado, na conformidade da legislação que trata do tema. Entretanto, para produzir Cannabis, geralmente vendida in natura, é necessário tão somente obter uma área agricultável, fazer o cultivo (envolvendo água, mão de obra intensiva, defensivos agrícolas e sementes modificadas genetica- mente em prol de um maior grau de prevalência de tetrahidroca- nabinol), colher, secar, transportar e comercializar. Bem diferente da maconha/Cannabis, comercializada pura, a folha de coca precisa passar por alguns estágios de produção, inclusive com a utilização de substâncias ditas precursoras. glossáRio O tetrahidrocanabinol, também chamado de THC, Δ⁹-THC, é a principal substância psicoativa encontrada nasplantas do gênero Cannabis. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 72 Assim, em que pese praticamente toda a produção da folha de coca ocorrer nos países andinos, vizinhos do Brasil, o processamento de seu princípio ativo para a obtenção da cocaína e derivados pode ocorrer em qualquer lugar do mundo. Nesses termos, nem mesmo a Europa, distante geograficamente dos centros produtores da folha de coca, escapa da produção de cocaína e derivados entre suas fronteiras. A situação se torna ainda mais grave dado o pacote de crimes conexos que acompanham o mercado das drogas ilegais. Os desafios enfrentados pelos 27 Estados-membros da União Euro- peia (UE) com o mercado das drogas é detalhado no site da Agência Policial da UE (Europol), o qual reporta que os mercados de drogas continuam sendo os maiores mercados criminosos no território sob os auspícios da UE. Mais de um terço dos grupos criminosos ativos na UE estão envolvidos na produção, tráfico ou na distribuição de vários tipos de drogas. O comércio de drogas ilícitas gera lucros de bilhões de euros para os grupos envolvidos no mercado das drogas na União Europeia, cujo varejo tem um valor estimado em pelo menos 24 bilhões de euros por ano. Foto: © [Mipan] / Adobe Stock. Os imensos lucros gerados a partir do comércio de drogas financiam várias outras atividades criminosas que permitem que as orga- nizações criminosas (ORCRIMs) prosperem e desenvolvam seus empreendimentos criminosos em prejuízo da saúde, prosperidade e segurança dos cidadãos da UE. Um fator bastante relevante reportado pela Europol é a dependência que as ORCRIMs ligadas ao tráfico de drogas possuem da corrupção para facilitar suas atividades. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 73 Ademais, para financiar e desenvolver seus “negócios”, o tráfico de drogas, além da corrupção, se utiliza de um emaranhado de outros crimes na UE. Entre esses crimes com relação ao tráfico de drogas, estão: � O uso de documentos fraudulentos para importação falsa. � O registro de empresas de fachada. � A adulteração de certificados para esconder a importação de drogas ilícitas entre bens legais. � O registro legal de equipamentos que depois são usados como parte de processos de produção de drogas ilícitas. Se o financiamento do tráfico, sobretudo transnacional, como é o caso da UE, na escala macro de sua logística, está mais associado a delitos como o crime do colarinho branco e o tráfico de pessoas, no nível local, como é o caso do Brasil, esse financiamento apresenta uma face um tanto quanto mais violenta. Isso pode ser observado nas explosões de caixas eletrônicos e mesmo no roubo no transporte coletivo. 4.2 LaVaGeM de dinHeiRO No Brasil, como nas demais nações signatárias da Convenção de Viena de 1988, esconder recursos legais ou ilegais é uma conduta tipificada como crime. O artigo 1º da Lei nº 9.613/1998 define este crime, que também abrange a ocultação de bens, direitos e valores, a saber: glossáRio A Convenção de Viena de 1988 foi contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas. Lei nº 9.613/1998 Art. 1º. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Perceba que o crime de lavagem de dinheiro não precisa ser ne- cessariamente antecedido por crimes relacionados ao tráfico de drogas. Em que pese o foco inicial da Convenção de Viena ter sido esse, inclusive também o foco da legislação brasileira, hoje a la- vagem de dinheiro (e condutas criminais conexas) constitui um crime por si. Existem razões para que isso seja assim. Uma dessas razões está na multiplicidade de origens e destinos do dinheiro “sujo”, a exemplo do terrorismo. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 74 Diante do que estamos estudando, leia o verso abaixo da música “Pecado Capital”, de Paulinho da Viola. diNheiro NA mão é veNdAvAl É vendaval Na vida de um sonhador De um sonhador Quanta gente aí se engana E cai da cama Com toda a ilusão que sonhou E a grandeza se desfaz Quando a solidão é mais Alguém já falou O terrorismo parece algo distante da realidade brasileira, principal- mente quando imaginado nos padrões enviesados retratados pela mídia ou pelo cinema. Há alguns anos, um artigo publicado no jornal “The Washington Times” por Alexander e Dantas (2005) mostrou que a situação é um tanto quanto diferente. Primeiramente, o artigo aponta que seria apenas questão de tempo para ocorrer, em outro lugar do planeta, um ataque semelhante ao ocorrido em 11 de setembro em Nova York e Washington. Os autores também trazem a lembrança de que brasileiros já foram vítimas de atentados terroristas ou de ações contra terroristas no exterior apenas porque estavam no lugar errado e na hora errada. Ademais, o artigo segue contextualizando os desafios impostos pelos Jogos Olímpicos Pan-americanos de 2007 no Rio de Janeiro. Particularmente, dois pontos destacados no artigo do Washington Times, e de interesse imediato deste curso, são: a expansão do nexo entre crime e grupos terroristas em atividades ilegais, como drogas, tráfico, contrabando e lavagem de dinheiro; e “o possível ‘transbordamento’ terrorista da área da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai”. PodcAst TRaNScRiTO Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 75 Sobre a tríplice fronteira sul do Brasil, o artigo indica que essa é uma região conhecida pelos crimes de tráfico de armas, tráfico de drogas, contrabando, fraude monetária, lavagem de dinheiro e fabricação e transporte de mercadorias pirateadas. Mas não apenas isso, também é chamada a atenção para os vários relatórios de inteligência à época que mencionaram o fato de que a América Latina poderia ser palco de atividades de grupos como Hamas, Hezbollah e Al Qaeda. Ou seja, como os próprios autores concluem: “o potencial de colaboração entre criminosos brasileiros e terroristas estrangeiros é possível, senão provável.” Esse cenário parece ainda mais factível diante das ações do narcoterrorismo na fronteira norte e noroeste do Brasil, região bem próxima de onde facções criminosas do narcotráfico realizaram decapitações e extrações de corações de inimigos no epicentro da crise dos presídios em 2019. Isso sim está dentro do estereótipo dos grupos terroristas retratados com frequência pela mídia, como o Estado Islâmico. Existem outros estudos que mostram a relação entre o crime orga- nizado e o terrorismo na América Latina. Para saber mais sobre as relações entre o crime organizado e o terrorismo na América Latina, você pode acessar uma palestra ministrada pelo professor espanhol David Odalric de Caixal i Mata, no I Congresso de Ciências Policiais organizado pela Polícia Militar do Distrito Federal, disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=D3KHs-PYIbM Dica DE MíDia Não obstante ao que já foi apresentado nesta aula, talvez você ainda esteja se perguntando: por que tratar de terrorismo dentro de um curso de narcotráfico e crime organizado, ainda mais quando o tópico é lavagem de dinheiro? https://www.youtube.com/watch?v=D3KHs-PYIbM https://www.youtube.com/watch?v=D3KHs-PYIbM Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 76 Essa, sem dúvida, é uma questão legítima, e a ex-tradutora do FBI, Sibel Edmonds (2020), a responde de forma bem direta: Você chega a um ponto em que tudo fica muito complexo, em que há atividades de lavagem de dinheiro, atividades relacionadas a drogas e atividades de apoio ao terrorismo convergindo em certos pontos e se tornando uma só. (EDMONDS, 2020). As organizações terroristas também necessitam de dinheiro para financiar os ataques a seus alvos. Os recursosque alimentam as ati- vidades de grupos terroristas podem advir de diversas fontes. Fato peculiar é que os terroristas, em regra, não procuram disfarçar a origem de seus recursos. Por outro lado, desenvolvem maneiras de con- ciliar o destino de seus recursos ao propósito para o qual foram coletados. Ainda assim, as técnicas empregadas pelos terroristas e por suas or- ganizações para esconder recursos são muito parecidas com aquelas utilizadas pelos demais criminosos envolvidos com a lavagem de dinheiro. Por isso, a aplicação de técnicas de investigação e de inteligência no contexto da lavagem de dinheiro constitui um caminho eficaz para prever, detectar e desarticular tanto as ações terroristas quanto as atividades comuns. Por incrível que pareça, talvez o criminoso que possua o modus operandis mais semelhante ao terrorista quando o assunto é lavagem de dinheiro seja o corrupto. O corrupto, diferentemente da maioria dos chefes do tráfico, não vive escondido. Pelo contrário, tal qual o terrorista, ele busca se inserir o mais intrinsecamente possível no tecido social. O Ministro Luiz Fux (2012), do Supremo Tribunal Federal, sintetiza bem esse quadro quando assevera que, a partir do momento em que a parte recebe o dinheiro por corrupção, ela não vai guardar esse dinheiro num armário nem numa estante, ela vai tentar integrá-lo à economia. Ou seja, enquanto os líderes do tráfico, em geral, cons- troem verdadeiras fortalezas nas favelas, o corrupto compra, com dinheiro ilícito, obras de arte ou produtos de luxo para revendê-los em seguida, para dar a aparência de uma operação comercial legal. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 77 Mansões dos chefões da Rocinha são ilhas de luxo na favela. Foto: Veja (2011). Antes de encerrar esta aula, é importante abordar adicionalmente al- gumas questões técnicas acerca da lavagem de dinheiro. Como citado no início da aula, no Brasil, esse crime e suas nuances estão previstos na Lei nº 9.613/1998. Em poucas palavras, o crime de “lavagem” ou ocultação de bens, mais conhecido como lavagem de dinheiro, diz respeito ao ato de ocultar ou dissimular a origem ilícita de bens ou valores que sejam fruto de crimes. A expressão lavagem de dinheiro está relacionada à origem ilícita dos recursos, que precisam ser lavados para se tornarem limpos. A legislação prevê pena de três até dez anos de reclusão e multa para esse tipo de prática. Também prevê penas maiores para os casos nos quais o crime ocorra de forma reiterada ou por intermédio de orga- nização criminosa. A reprimenda pode ser ainda maior a depender de fatores como o cometimento de outros crimes e a associação de seus autores com outros criminosos. Contudo, se o autor do crime colaborar espontaneamente com a Justiça, sua pena pode ser reduzida em até ⅔, além de poder contar com outras alternativas de pena que não seja a reclusão em presídio. Veja o que diz a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, sobre a tipificação e a punição dos crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores: Lei nº 9.613 de 3 de março de 1998 Art. 1º. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal (redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012). Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 78 Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa (redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012). § 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal: (redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I. os converte em ativos lícitos; II. os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; III. importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros. § 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem: (redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal (redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012); II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei. § 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Penal. § 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa (redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012). § 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime (redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012). Assim, chegamos ao fim de mais um módulo. Até aqui você percorreu um caminho pelo conhecimento da economia envolvida no mercado drogas, o qual contemplou: � As noções e os conceitos essenciais à temática da economia das drogas. � Os fatores psicológicos, sociais, culturais e econômicos relevantes para a identificação de fatores que preveem o envolvimento dos indivíduos com a violência, o crime e as drogas. Curso FRoNt MÓDULO 2 - ECONOMIA DAS DROGAS, DINÂMICA DO NARCOTRÁFICO E CRIMES CONEXOS 79 � As características gerais do perfil do demandante por drogas e do perfil do ofertante de drogas. � Os aspectos legais e operacionais relacionados à lavagem de dinheiro e ao financiamento das organizações criminosas. 80 ReFeRÊnCiaS AGÊNCIA ESTADO. Tráfico perdeu R$ 653,8 mi em 2019, diz Polícia Fe- deral. R7, 17 jan. 2020. Disponível em: https://noticias.r7.com/brasil/ trafico-perdeu-r-6538-mi-em-2019-diz-policia-federal-17012020. Acesso em: 27 dez. 2020. AJZEN, I. 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