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<p>Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade:</p><p>perspectivas e discussões atuais</p><p>M I N I S T É R I O D A</p><p>J U S T I Ç A E</p><p>S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A</p><p>SUMÁRIO</p><p>MÓDULO 1</p><p>APRESENTAÇÃO 16</p><p>UNIDADE 1 | AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL 18</p><p>UNIDADE 2 | POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS</p><p>DROGAS NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS? 21</p><p>2.1 O senso comum e o método científico 21</p><p>2.2 Os “sensos comuns” em torno das drogas 25</p><p>UNIDADE 3 | CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR,</p><p>LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA UMA</p><p>DESSAS PALAVRAS? 28</p><p>UNIDADE 4 | O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA 32</p><p>4.1 Primeiras regulações e proibições das drogas 37</p><p>REFERÊNCIAS 44</p><p>MÓDULO 2</p><p>APRESENTAÇÃO 52</p><p>UNIDADE 1 | COMO A SOCIEDADE LIDA COM AS</p><p>DROGAS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO? 54</p><p>UNIDADE 2 | AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS 59</p><p>2.1 As primeiras ações internacionais 59</p><p>2.2 As Conferências da ONU 61</p><p>UNIDADE 3 | AS INFLUÊNCIAS E CONSEQUÊNCIAS</p><p>DO MODELO DE GUERRA ÀS DROGAS NA</p><p>AMÉRICA LATINA 66</p><p>UNIDADE 4 | OS CONFLITOS E AS LEGISLAÇÕES</p><p>SOBRE DROGAS NO BRASIL 73</p><p>REFERÊNCIAS 77</p><p>MÓDULO 3</p><p>APRESENTAÇÃO 85</p><p>UNIDADE 1 | A ATUAL LEI DE DROGAS BRASILEIRA 87</p><p>UNIDADE 2 | O FUNCIONAMENTO DO</p><p>SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA</p><p>CRIMINAL NO BRASIL 91</p><p>UNIDADE 3 | OS DESAFIOS DO SISTEMA</p><p>DE SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA</p><p>CRIMINAL NO BRASIL 100</p><p>3.1 Superposição de esforços e conflitos entre as</p><p>instituições policiais e judiciais 100</p><p>3.2 Altos índices de violência, homicídios</p><p>e letalidade policial 102</p><p>3.3 Superlotação das prisões x sentimento de impunidade 104</p><p>3.4 Ascensão dos grupos criminosos organizados 107</p><p>UNIDADE 4 | OS IMPACTOS DA LEI DE DROGAS</p><p>NO BRASIL SOBRE A SEGURANÇA PÚBLICA 111</p><p>REFERÊNCIAS 116</p><p>MÓDULO 4</p><p>APRESENTAÇÃO 125</p><p>UNIDADE 1 | O SISNAD E SUAS FINALIDADES 127</p><p>UNIDADE 2 | A ESTRUTURA DO SISNAD 131</p><p>UNIDADE 3 | PRINCÍPIOS DO SISNAD 137</p><p>UNIDADE 4 | A POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS</p><p>(PNAD) E O PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE</p><p>DROGAS (PLANAD) 140</p><p>4.1 Prevenção 141</p><p>4.2 Tratamento, acolhimento, recuperação, apoio,</p><p>mútua ajuda e reinserção 142</p><p>4.3 Redução da oferta 142</p><p>4.4 Estudos, pesquisas e avaliações 142</p><p>4.5 O Plano Nacional de Políticas sobre Drogas (PLANAD) 143</p><p>REFERÊNCIAS 145</p><p>MÓDULO 5</p><p>APRESENTAÇÃO 152</p><p>UNIDADE 1 | MUDANÇAS NA PERCEPÇÃO</p><p>SOCIAL DO TABACO E DA CANNABIS E ALGUMAS</p><p>CONSEQUÊNCIAS REGULATÓRIAS 154</p><p>1.1 Apontamentos sobre o uso terapêutico da Cannabis 158</p><p>1.2 O debate sobre marcos regulatórios da Cannabis 161</p><p>UNIDADE 2 | TERMOS E PERSPECTIVAS RELEVANTES NO</p><p>DEBATE A RESPEITO DE POLÍTICA SOBRE DROGAS 166</p><p>UNIDADE 3 | FONTES PARA CONTINUAR</p><p>SEUS ESTUDOS 171</p><p>REFERÊNCIAS 176</p><p>Curso de Políticas sobre Drogas e Segurança Pública</p><p>em Perspectiva Comparada</p><p>O SURGIMENTO DAS</p><p>“DROGAS” E AS PREMISSAS</p><p>PARA SEUS CONTROLES</p><p>MÓDULO</p><p>1MÓDULO</p><p>1</p><p>O SURGIMENTO DAS “DROGAS”</p><p>E AS PREMISSAS PARA</p><p>SEU CONTROLE</p><p>GUIA DE AMBIENTAÇÃO</p><p>COMO LER O E-BOOK</p><p>MÓDULOS</p><p>Este curso está dividido</p><p>em módulos. O módulo</p><p>correspondente e o conteúdo</p><p>principal estão localizados na</p><p>capa do e-book, logo abaixo do</p><p>nome do curso.</p><p>GUIA DE AMBIENTAÇÃO</p><p>COMO LER O E-BOOK</p><p>PÁGINAS INTERNAS</p><p>As páginas internas do e-book</p><p>estão estruturadas em</p><p>duas colunas.</p><p>A coluna mais estreita</p><p>e externa (à esquerda)</p><p>é utilizada para enquadrar</p><p>ícones criados com a finalidade</p><p>de destacar os recursos e</p><p>elementos instrucionais,</p><p>como o “VÍDEO”.</p><p>VÍDEO</p><p>Os vídeos contemplam</p><p>conteúdos complementares para</p><p>enriquecimento do aprendizado</p><p>e seus links estão representados</p><p>pelo recurso QR Code.</p><p>GUIA DE AMBIENTAÇÃO</p><p>COMO LER O E-BOOK</p><p>ÍCONES</p><p>Ajudam a localizar, focalizar</p><p>e ressaltar respectivos textos</p><p>informativos. Cada ícone apresenta</p><p>uma função:</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Ao clicar no link, você é direcionado</p><p>para documentos disponibilizados na</p><p>internet, como leis e normas técnicas.</p><p>É preciso estar conectado à internet</p><p>para acessar o conteúdo.</p><p>PARA PENSAR</p><p>Frase ou parágrafo que incentiva</p><p>o cursista à reflexão, trazendo</p><p>perguntas retóricas, reflexões ou</p><p>questões que são respondidas logo</p><p>depois do recurso.</p><p>PODCAST</p><p>Este recurso apresenta de maneira</p><p>transcrita o trecho do conteúdo que</p><p>foi narrado e apresentado em formato</p><p>áudio na versão on-line do curso.</p><p>CITAÇÃO</p><p>Transcrições exatas de partes dos</p><p>conteúdos dos autores utilizados nos</p><p>materiais didáticos.</p><p>OUTRA PERSP CTIVA</p><p>Trecho de conteúdo que traz outras</p><p>perspectivas em relação às questões</p><p>enraizadas no senso comum.</p><p>SÍNTESE DO MÓDULO</p><p>Trecho de conteúdo que contempla</p><p>uma síntese dos pontos mais</p><p>importantes vistos no módulo.</p><p>DESTAQUE</p><p>Trechos de conteúdos importantes</p><p>para contribuir no aprendizado</p><p>do cursista.</p><p>VERBETE</p><p>Recurso utilizado para</p><p>explicar termos que</p><p>podem ser desconhecidos</p><p>ao cursista.</p><p>M I N I S T É R I O D A</p><p>J U S T I Ç A E</p><p>S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A</p><p>MÓDULO 1</p><p>O SURGIMENTO DAS “DROGAS”</p><p>E AS PREMISSAS PARA</p><p>SEU CONTROLE</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>GOVERNO FEDERAL</p><p>PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Luís Inácio Lula da Silva</p><p>MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Ricardo Lewandowski</p><p>SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO</p><p>DE ATIVOS</p><p>Marta Rodriguez de Assis Machado</p><p>DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES</p><p>Mauricio Fiore</p><p>COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA</p><p>Natália Neris da Silva Santos</p><p>COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO</p><p>BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS</p><p>Geórgia Belisário Mota</p><p>CONTEUDISTAS</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Mauricio Fiore</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>REVISÃO DE CONTEÚDO</p><p>Jessica Santos Figueiredo</p><p>Grazielle Teles de Araújo</p><p>APOIO</p><p>Brenda Juliana Silva</p><p>Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade</p><p>Luana Rodrigues Meneses de Sá</p><p>Maria Aparecida Alves Dias</p><p>EXPEDIENTE</p><p>Todo o conteúdo do COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade:</p><p>perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do</p><p>Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons</p><p>Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional.</p><p>BY NC ND</p><p>UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA</p><p>COORDENAÇÃO GERAL</p><p>Luciano Patrício Souza de Castro</p><p>FINANCEIRO</p><p>Fernando Machado Wolf</p><p>SUPERVISÃO TÉCNICA EAD</p><p>Giovana Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL</p><p>Francielli Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE MOODLE</p><p>Andreia Mara Fiala</p><p>SECRETARIA ADMINISTRATIVA</p><p>Elson Rodrigues Natario Junior</p><p>DESIGN INSTRUCIONAL</p><p>Supervisão: Milene Silva de Castro</p><p>Larissa Usanovich de Menezes</p><p>Sofia Santos Stahelin</p><p>DESIGN GRÁFICO</p><p>Supervisão: Sonia Trois</p><p>Eduardo Celestino</p><p>Giovana Aparecida dos Santos</p><p>Luana Pillmann de Barros</p><p>Vanessa de Oliveira Vieira</p><p>REVISÃO TEXTUAL</p><p>Cleusa Iracema Pereira Raimundo</p><p>PROGRAMAÇÃO</p><p>Supervisão: Alexandre Dal Fabbro</p><p>Luan Rodrigo Silva Costa</p><p>Luiz Eduardo Pizzinato</p><p>AUDIOVISUAL</p><p>Supervisão: Rafael Poletto Dutra</p><p>Andrei Krepsky de Melo</p><p>Julia Britos</p><p>Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira</p><p>Robner Domenici Esprocati</p><p>SUPERVISÃO TUTORIA</p><p>João Batista de Oliveira Júnior</p><p>Thaynara Gilli Tonolli</p><p>TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO</p><p>Alexandre Gava Menezes</p><p>André Fabiano Dyck</p><p>SIGLAS</p><p>CDESC - Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento</p><p>Social Comunitário</p><p>EUA - Estados Unidos da América</p><p>LSD - Dietilamida do Ácido Lisérgico</p><p>MDMA - Metilenodioximetanfetamina/Ecstasy</p><p>PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento</p><p>SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos</p><p>SIMCI - Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos</p><p>SNC - Sistema Nervoso Central</p><p>UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>14</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>CONTEUDISTAS DO MÓDULO</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Possui</p><p>e ser um criminoso.</p><p>Ao longo do século XX, quando a questão das drogas foi progressiva-</p><p>mente sendo considerada como prioritária para os Estados nacionais,</p><p>a medicalização e a criminalização foram dois fatores fundamentais.</p><p>Todavia, a forma como as drogas são tratadas pelos Estados, ou seja,</p><p>as políticas sobre drogas, tem relação com fatores muito mais amplos,</p><p>que envolvem preocupações sanitárias, questões econômicas, valores</p><p>morais, dogmas religiosos, disputas geopolíticas, entre outros.</p><p>MÓDULO 2</p><p>UNIDADE 2</p><p>AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>59</p><p>UNIDADE 2</p><p>AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS</p><p>O internacionalista Thiago Rodrigues afirma que a passagem de</p><p>um contexto histórico no qual os Estados permitiam que drogas</p><p>como a cocaína, a heroína e a maconha fossem vendidas de forma</p><p>praticamente livre para um controle que as colocou na ilegalidade</p><p>ocorreu de forma relativamente rápida e violenta (Rodrigues, 2008).</p><p>Para ele, essa transição é resultado de processos sociais, políticos, eco-</p><p>nômicos e diplomáticos consolidados durante o decorrer do século XX,</p><p>mas cujas origens remontam ao século XIX e ao contexto de disputas</p><p>de poder no período imperialista europeu.</p><p>PODCAST TRANSCRITO</p><p>Para sustentar seu argumento, ele reflete sobre a Lei Seca dos</p><p>Estados Unidos, que discutimos no módulo anterior,</p><p>e sobre as Guerras do Ópio, que ocorreram nas décadas</p><p>de 1840 e 1850, entre a China e um conjunto de potências</p><p>europeias, lideradas pelo Reino Unido. O governo imperial,</p><p>à época, proibiu o comércio e o consumo de ópio em todo o</p><p>extenso território chinês, o que impactou diretamente em um</p><p>mercado que era dominado pelos países ocidentais. De fato,</p><p>o consumo de ópio havia crescido e tinha impactos sanitários</p><p>e econômicos importantes para a China, mas os fatores que</p><p>explicam a proibição são complexos e envolvem, inclusive,</p><p>disputas políticas em torno da Dinastia Qing. De qualquer forma,</p><p>a China foi derrotada em ambas as guerras, e ironicamente,</p><p>algumas décadas depois, foram os países ocidentais que</p><p>lideraram os primeiros esforços para produzir tratados</p><p>internacionais com o objetivo de controlar a circulação e o</p><p>consumo de ópio e derivados.</p><p>Nas primeiras décadas do século XX, em uma série de encontros di-</p><p>plomáticos promovidos pela Liga das Nações, políticos, empresários,</p><p>diplomatas, médicos e juristas (entre outros atores) ocuparam-se</p><p>do desenho institucional para regular e, em alguns casos, proibir</p><p>internacionalmente, drogas que foram consideradas intrinsecamente</p><p>danosas para os indivíduos e a sociedade.</p><p>2.1 As primeiras ações internacionais</p><p>Confira a seguir algumas informações a respeito de convenções in-</p><p>ternacionais sobre drogas.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>60</p><p>1925</p><p>Outras convenções seguiram a essa, como a</p><p>Convenção Internacional do Ópio de 1925, que</p><p>inseriu a maconha no rol de substâncias a</p><p>serem monitoradas.</p><p>Em 1912, houve o primeiro acordo internacional</p><p>destinado a controlar a produção, o consumo e o</p><p>comércio de drogas. Trata-se da Convenção</p><p>Internacional do Ópio, que ocorreu em Haia.</p><p>O documento que resultou da Convenção orientava</p><p>que os Estados signatários da Liga das Nações:</p><p>• Avaliassem a possibilidade de criminalização da</p><p>posse de ópio, morfina, cocaína e seus derivados.</p><p>• Se comprometessem a impedir a exportação</p><p>dessas substâncias para os países onde elas</p><p>fossem proibidas.</p><p>• Controlassem a produção, importação e</p><p>exportação de seus derivados.</p><p>1912</p><p>Em 1931 aconteceu a Convenção de Genebra,</p><p>que restringiu a circulação das drogas ao volume</p><p>necessário para fins médicos e científicos.</p><p>1931</p><p>No entanto, conforme analisa Karam (2015), naquele momento as</p><p>ações pautadas pela Liga das Nações não chegavam a impor a crimi-</p><p>nalização das drogas, o que ocorreria na metade final do século XX,</p><p>em três convenções editadas pela Organização das Nações Unidas (ONU).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>61</p><p>2.2 As Conferências da ONU</p><p>Após a Segunda Guerra Mundial, o avanço tecnológico e o desen-</p><p>volvimento dos meios de transporte impulsionaram o crescimento</p><p>da demanda e facilitaram a circulação de produtos e pessoas. Esses</p><p>avanços, combinados com os lucros gerados pelo tráfico ilegal de</p><p>drogas, levaram à internacionalização das questões relacionadas às</p><p>drogas ilícitas. A partir da década de 1950, surge um mercado ilícito</p><p>transnacional, expandindo-se na mesma medida que os esforços para</p><p>fortalecer a proibição se estabeleciam como principal estratégia de</p><p>combate (Rodrigues, 2012).</p><p>À medida que os países procuravam soluções internas para o emer-</p><p>gente “problema das drogas”, que resultava em políticas cada vez</p><p>mais restritivas, uma tríade de convenções internacionais teve papel</p><p>central no estabelecimento do paradigma da proibição na segunda</p><p>metade do século XX. Esses três acordos internacionais, elaborados</p><p>sob a égide da ONU, orientaram a formulação de leis sobre drogas</p><p>nos mais de 170 países que assinaram seus termos.</p><p>Convenções internacionais</p><p>sobre drogas</p><p>1961 1971 1988</p><p>Convenção Única</p><p>sobre Entorpecentes</p><p>Convenção sobre</p><p>Substâncias</p><p>Psicotrópicas</p><p>Convenção</p><p>contra o Tráfico</p><p>Ilícito de</p><p>Entorpecentes</p><p>e Substâncias</p><p>Psicotrópicas</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>62</p><p>A Convenção Única sobre Entorpecentes (1961), a mais importante</p><p>do século, determinou que os Estados criminalizassem o:</p><p>[...] cultivo e a produção, fabricação, extração, preparo,</p><p>posse, ofertas em geral, ofertas de venda, distribuição,</p><p>compra, venda, entrega de qualquer espécie, corretagem,</p><p>expedição, expedição em trânsito, transporte, importação e</p><p>exportação de entorpecentes.</p><p>Karam, 2015, p. 8</p><p>Ela definiu, ainda, um modelo que divide as drogas e suas plantas</p><p>originárias em listas, considerando o potencial de abuso e as</p><p>potenciais aplicações médicas. Essa Convenção foi defendida,</p><p>patrocinada e sediada pelos EUA, que foi o país que liderou</p><p>globalmente a instituição de um paradigma proibicionista,</p><p>em incomum consenso entre nações em tempos de Guerra Fria</p><p>(Fiore, 2012).</p><p>Proibicionismo é uma forma simplificada de classificar o</p><p>paradigma que rege a atuação dos Estados em relação a</p><p>determinado conjunto de substâncias. Seus desdobramentos,</p><p>entretanto, vão muito além das convenções e legislações</p><p>nacionais. O proibicionismo modulou o entendimento</p><p>contemporâneo de substâncias psicoativas quando estabeleceu</p><p>os limites arbitrários para usos de drogas legais/positivas e</p><p>ilegais/negativas.</p><p>Fiore, 2012, p. 9</p><p>Fiore (2012) alerta que o empreendimento proibicionista é resul-</p><p>tado de uma série de fatores, entre eles, a radicalização política do</p><p>puritanismo norte-americano, o interesse da nascente indústria</p><p>médico-farmacêutica pela monopolização da produção de drogas,</p><p>os novos conflitos geopolíticos do século XX e uma preocupação social</p><p>crescente com os impactos sanitários e urbanos do consumo dessas</p><p>substâncias tornadas ilícitas.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone</p><p>ou tablet) para</p><p>o QR Code ao</p><p>lado e assista</p><p>ao vídeo sobre</p><p>o puritanismo</p><p>norte-americano.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/Vlfqi25JkhM</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>63</p><p>A segunda Convenção, de 1971, repetiu em linhas gerais o conteúdo</p><p>da Convenção de 1961, mas criou classificações mais específicas para</p><p>as substâncias de acordo com seu potencial de causar dependência</p><p>e seu valor terapêutico. No mesmo ano, um discurso realizado pelo</p><p>então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, é considerado o</p><p>marco inaugural da “guerra às drogas”, que passou a ser conhecida</p><p>como uma ação política de radicalização da proibição. Na ocasião,</p><p>Nixon afirmou que as drogas eram o inimigo número um dos Estados</p><p>Unidos e que somente uma grande ofensiva, policial e militar, seria</p><p>capaz de levar o país a uma vitória.</p><p>O discurso de “guerra às drogas” influenciou fortemente a terceira</p><p>Convenção,</p><p>que ocorreu em 1988. A Convenção contra o Tráfico Ilí-</p><p>cito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas (1988) teve como</p><p>foco principal aumentar a cooperação entre países e o combate ao</p><p>tráfico internacional.</p><p>Em cada um desses tratados internacionais, tanto a quantidade de</p><p>“drogas” que integram a lista quanto a dos recursos materiais e</p><p>humanos empregados nas políticas repressivas foi gradualmente</p><p>aumentando. O sociólogo Campos (2019) buscou resumir o que seriam</p><p>as bases e as consequências do paradigma advindo das convenções</p><p>internacionais sobre drogas em cinco pontos.</p><p>Presidente Richard Milhous Nixon.</p><p>Fonte: Encyclopædia Britannica.</p><p>Verbete</p><p>Guerra às drogas : “Expressão</p><p>cunhada pelo ex-presidente</p><p>americano Richard Nixon em 1971</p><p>para se referir a sua política de</p><p>drogas, centrada na repressão ao</p><p>uso e ao tráfico, amparada por</p><p>intervenções policiais e militares,</p><p>domésticas e internacionais”</p><p>(Araujo, 2017).</p><p>Defende-se a criminalização do uso</p><p>e comércio de drogas, com opção primordial</p><p>pela pena de prisão.</p><p>Não se priorizam o tratamento e a prevenção</p><p>ao uso de drogas ilícitas.</p><p>Rejeitam-se alternativas penais, entre elas,</p><p>as medidas de redução de danos, como</p><p>a troca de seringas, por exemplo.</p><p>Não são reconhecidos os direitos</p><p>das comunidades e dos povos indígenas</p><p>em relação ao uso de produtos tradicionais,</p><p>priorizando-se a meta de erradicação</p><p>das plantações e da cultura tradicional.</p><p>Trata-se de um modelo uniforme de controle</p><p>que submete as substâncias proibidas a um</p><p>regime internacional de interdição, sendo</p><p>o seu uso terapêutico bastante restrito.</p><p>1</p><p>2</p><p>3</p><p>4</p><p>5</p><p>Fonte: Adaptado de Campos (2019).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>64</p><p>Em seu auge, no século XX, de fato, essa lógica influenciou fortemente</p><p>o tratamento político e jurídico das drogas nos países ou periferica-</p><p>mente vinculados à chamada cultura ocidental. Ao mesmo tempo,</p><p>a aplicação dessa lógica esbarrou em uma série de outras questões</p><p>locais, culminando em distintas aplicações, conforme será discutido</p><p>nas unidades seguintes.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o</p><p>QR Code ao lado</p><p>e assista ao</p><p>vídeo sobre o</p><p>sistema ONU.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/_PrJW_byeJU</p><p>MÓDULO 2</p><p>UNIDADE 3</p><p>AS INFLUÊNCIAS E CONSEQUÊNCIAS</p><p>DO MODELO DE GUERRA ÀS DROGAS</p><p>NA AMÉRICA LATINA</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>66</p><p>UNIDADE 3</p><p>AS INFLUÊNCIAS E CONSEQUÊNCIAS</p><p>DO MODELO DE GUERRA ÀS DROGAS</p><p>NA AMÉRICA LATINA</p><p>As políticas internacionais de enfrentamento às drogas se basearam</p><p>em uma idealizada divisão do mundo em dois blocos: o dos países</p><p>produtores e o dos países consumidores. Essa divisão exteriorizava</p><p>o problema das drogas, culpabilizando os países do então Terceiro</p><p>Mundo (produtores) e, por outro lado, vitimizando os países mais</p><p>ricos, especialmente os Estados Unidos, como aqueles que sofreriam</p><p>as consequências da expansão do uso. Nessa divisão, países da Amé-</p><p>rica Latina ocupavam um lugar central entre os países considerados</p><p>“produtores”, como a Colômbia, o México, a Bolívia e o Peru, espe-</p><p>cialmente de cocaína e de maconha.</p><p>Países</p><p>consumidores</p><p>Países</p><p>produtores</p><p>Essa divisão entre produtores e consumidores é considerada</p><p>idealizada, pois diversos países produzem e consomem a</p><p>substância. Um exemplo disso é que já há algum tempo a</p><p>maior parte da maconha consumida nos Estados Unidos</p><p>atualmente é produzida no próprio país. Além disso,</p><p>como será apresentado ao longo da unidade, ela foi</p><p>utilizada para justificar uma série de medidas de controle</p><p>direcionadas aos países consumidores.</p><p>Tal divisão, somada ao mapeamento de rotas do tráfico, culmina</p><p>numa responsabilização desproporcional de países latino-americanos</p><p>sob o argumento de “guerra às drogas”, com intervenções militares</p><p>diretas norte-americanas, na qual se destaca, por exemplo, o Plano</p><p>Colômbia, no final dos anos 1990.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>67</p><p>Fonte: Adaptado de UNODC (2016).</p><p>Rodrigues (2012) destaca cinco fatores que contribuíram signifi-</p><p>cativamente para o avanço do narcotráfico nas Américas, são eles:</p><p>A existência de um mercado consumidor crescente,</p><p>não apenas nos Estados Unidos mas também nos</p><p>próprios países latino-americanos, sobretudo a partir</p><p>da década de 1960, com o aumento do consumo</p><p>de maconha e cocaína por parcelas da população</p><p>jovem, estimulado pela internacionalização de alguns</p><p>movimentos culturais.</p><p>1</p><p>A sedução econômica do narcotráfico em países com</p><p>altos níveis de pobreza e desigualdade, que aparece</p><p>como uma oportunidade, por vezes única, de elevação</p><p>rápida no padrão de vida.</p><p>2</p><p>As condições geográfico-climáticas propícias somadas</p><p>à existência de práticas sociais já desenvolvidas, como</p><p>o cultivo de folha de coca na Bolívia, que será</p><p>apresentado mais adiante.</p><p>3</p><p>A hipertrofia dos lucros para redes criminais que se</p><p>dedicam à venda das substâncias que foram tornadas</p><p>ilegais pela proibição.</p><p>4</p><p>A chamada “tecnologia bancária”, que permitiu com</p><p>que o dinheiro obtido por meio do comércio ilegal</p><p>de drogas após depósitos e transações bancárias fosse</p><p>facilmente convertido em moeda legal.</p><p>5</p><p>Canadá</p><p>EUA</p><p>Brasil</p><p>Bolívia</p><p>Chile</p><p>Argentina</p><p>África do Sul</p><p>Nigéria</p><p>Emirados</p><p>Árabes</p><p>Unidos</p><p>Sudeste Asiático</p><p>Bélgica</p><p>Holanda</p><p>Sudeste Asiático</p><p>e Oceania</p><p>Colômbia</p><p>Equador</p><p>Peru</p><p>Venezuela</p><p>OceaniaOceania</p><p>Rotas do tráfico de drogas internacional</p><p>Espanha</p><p>Portugal</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>68</p><p>Portanto, combater o narcotráfico na América Latina rapidamente</p><p>se tornou um desafio para a “guerra às drogas” estadunidense.</p><p>Internamente, enquanto a guerra às drogas impactou em um aumento</p><p>de penas e do encarceramento, com o fortalecimento de agências de</p><p>aplicação da lei – com a Drug Enforcement Administration (DEA),</p><p>criada em 1974, no plano internacional, os Estados Unidos forne-</p><p>ceram assistência financeira, treinamento e cooperação militar para</p><p>governos estrangeiros. Essa abordagem se baseava na lógica de que</p><p>o narcotráfico deve ser combatido por meio de um esforço junto às</p><p>polícias e às Forças Armadas dos países produtores, notadamente os</p><p>da América Latina, mas também do Sudeste Asiático, que produziam</p><p>ópio (Rodrigues, 2012). Nesse processo, o governo de Ronald Reagan</p><p>(1981-1988) acentuou o combate militarizado às drogas:</p><p>[...] Reagan retomou e ampliou, portanto, a definição dada por</p><p>Nixon, na década anterior, de que o narcotráfico era uma ameaça</p><p>à segurança nacional dos EUA, acrescentando seu potencial como</p><p>perigo à segurança nacional de cada país do hemisfério onde</p><p>houvesse atividade narcotraficante. Desse modo, o narcotráfico</p><p>deixou de ser encarado apenas como um problema de segurança</p><p>nacional estadunidense para ser, também, classificado como uma</p><p>questão de segurança nacional de cada país que contasse com</p><p>tráfico ilícito em seu território. Assim, despontava a avaliação,</p><p>por parte dos Estados Unidos, de que o narcotráfico crescera ao</p><p>ponto de ser, também, um problema de segurança regional.</p><p>Rodrigues, 2012, p. 18-19</p><p>Presidente Ronald Reagan.</p><p>Fonte: Bettmann/Getty Images.</p><p>É importante ressaltar que, ao se reconhecer o papel</p><p>central dos Estados Unidos no estabelecimento do</p><p>paradigma de proibição das drogas, não se depreende</p><p>que os demais países foram simplesmente obrigados a</p><p>impor leis rigorosas contra as drogas, já que cada um deles</p><p>estabeleceu tais normas a partir de uma tradução própria</p><p>para o seu contexto local.</p><p>A existência de um mercado consumidor crescente,</p><p>não apenas nos Estados Unidos mas também nos</p><p>próprios países latino-americanos, sobretudo a partir</p><p>da década de 1960, com o aumento do consumo</p><p>de maconha e cocaína por parcelas da população</p><p>jovem, estimulado pela internacionalização de alguns</p><p>movimentos culturais.</p><p>1</p><p>A sedução econômica do narcotráfico em países com</p><p>altos níveis de pobreza e desigualdade, que aparece</p><p>como uma oportunidade, por vezes única, de elevação</p><p>rápida no padrão</p><p>de vida.</p><p>2</p><p>As condições geográfico-climáticas propícias somadas</p><p>à existência de práticas sociais já desenvolvidas, como</p><p>o cultivo de folha de coca na Bolívia, que será</p><p>apresentado mais adiante.</p><p>3</p><p>A hipertrofia dos lucros para redes criminais que se</p><p>dedicam à venda das substâncias que foram tornadas</p><p>ilegais pela proibição.</p><p>4</p><p>A chamada “tecnologia bancária”, que permitiu com</p><p>que o dinheiro obtido por meio do comércio ilegal</p><p>de drogas após depósitos e transações bancárias fosse</p><p>facilmente convertido em moeda legal.</p><p>5</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>69</p><p>Uma das linhas de intervenção estadunidenses se baseava na visão</p><p>de que era mais simples, de seu ponto de vista, combater o tráfico</p><p>destruindo plantios, em especial da coca, matéria-prima da cocaína,</p><p>nos países onde o cultivo era abundante, do que enfrentar a distri-</p><p>buição de drogas internamente (Fraga, 2007).</p><p>PODCAST TRANSCRITO</p><p>Para conseguir que países latino-americanos aderissem à sua</p><p>campanha contra as drogas, uma das estratégias dos Estados</p><p>Unidos foi utilizar campanhas diplomático-econômicas: os EUA,</p><p>anualmente, certificavam aqueles países que contribuíram com</p><p>o combate ao “narcotráfico” internacional, e aqueles que não</p><p>obtivessem tal certificação poderiam sofrer sanções econômicas,</p><p>como veto de empréstimos junto ao Fundo Monetário</p><p>Internacional (FMI) (Fraga, 2007; Rodrigues, 2012).</p><p>Entretanto, no caso boliviano, por exemplo, o combate ao</p><p>cultivo da folha de coca esbarrou em práticas milenares dos</p><p>povos originários. Na Bolívia, a coca é uma planta sagrada</p><p>para diversas etnias andinas, de uso tradicional inclusive para</p><p>fins medicinais. Como aponta o sociólogo Paulo Fraga (2007),</p><p>é dos recursos provenientes do cultivo de coca que muitos</p><p>camponeses retiram seu sustento. Nesse contexto,</p><p>a estratégia de erradicação dos cultivos, inclusive daqueles</p><p>que não tinham por objetivo produzir cocaína, atingiu</p><p>fortemente a economia local.</p><p>Outro país produtor de coca é a Colômbia, mas nesse, diferente-</p><p>mente do que ocorre na Bolívia, a folha de coca não possuía uma</p><p>tradição cultural tão relevante. A participação da Colômbia no mercado</p><p>internacional de drogas se intensifica no final da década de 1970,</p><p>com o aumento da plantação de maconha e, especialmente, do plantio</p><p>da coca para fins ilícitos, isto é, a produção da cocaína, direcionada</p><p>a abastecer os mercados dos EUA e da Europa.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>70</p><p>Cultivo de coca.</p><p>Fonte: Agence France-Presse/AFP.</p><p>É durante a década de 1980 que redes poderosas que controlavam o</p><p>narcotráfico se consolidam na Colômbia. Sua ascensão é um fenô-</p><p>meno que abrange esferas diversas do cotidiano social e da política</p><p>colombiana. Nesse sentido, a formação dessa “economia das drogas”</p><p>leva a alterações e interferências diretas na estrutura política e social</p><p>do país, com a participação de traficantes em instituições ligadas ao</p><p>Legislativo, ao Executivo e ao Judiciário.</p><p>Durante a década de 1990, a militarização do combate ao narcotrá-</p><p>fico na América Latina tem um de seus capítulos mais relevantes.</p><p>Com o fim da Guerra Fria, a política contra as drogas passou a ser</p><p>uma das protagonistas na agenda geopolítica dos EUA. A incursão das</p><p>Forças Armadas dos Estados Unidos na América Latina foi, inclusive,</p><p>autorizada pelo Senado estadunidense em 1990 (Fraga, 2007). Ao se</p><p>adequar à política de proibição, a Colômbia recebeu altos recursos</p><p>financeiros, destinados à compra de equipamentos militares, além</p><p>de assessores militares dos Estados Unidos, enviados notadamente</p><p>para o combate aos famosos cartéis de Cali e de Medellín.</p><p>Em 2000, os presidentes Bill Clinton (Estados Unidos) e Andrés</p><p>Pastranas (Colômbia) assinaram o Plano Colômbia. Esse convênio</p><p>bilionário visava a erradicação de plantações de coca no país andino,</p><p>além do envio de ajuda militar dos Estados Unidos. Todavia,</p><p>esse plano não teve a capacidade de abalar significativamente a pro-</p><p>dução de drogas e, portanto, o poder econômico e social de cartéis do</p><p>narcotráfico no país (Fraga, 2007; Rodrigues, 2012).</p><p>Aponte a câmera</p><p>do seu dispositivo</p><p>móvel (smartphone</p><p>ou tablet) para o</p><p>QR Code ao lado</p><p>e assista ao vídeo</p><p>de animação sobre</p><p>a militarização</p><p>do combate ao</p><p>narcotráfico na</p><p>América Latina na</p><p>década de 1990.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/I_NC8panKgs</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>71</p><p>A eficácia e as consequências da “guerra às drogas” são um dos prin-</p><p>cipais pontos de controvérsia política em países da América Latina.</p><p>Muitos especialistas apontam como inaceitável o crescimento da</p><p>violência oriunda tanto das disputas entre redes criminosas como</p><p>das ações de repressão bélica dos Estados, com impactos na própria</p><p>ordem democrática das nações ante o poderio organizado no narco-</p><p>tráfico, especialmente diante da não redução do consumo de drogas</p><p>ilícitas. Outros apontam que somente a proibição tem sido capaz de</p><p>impedir um crescimento ainda maior do consumo.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Você pode encontrar mais detalhes sobre a política de drogas</p><p>na América Latina no artigo “A geopolítica das drogas na</p><p>América Latina”, disponível em: https://www.e-publicacoes.</p><p>uerj.br/index.php/revistaempauta/article/view/187.</p><p>https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/view/187</p><p>https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/view/187</p><p>MÓDULO 2</p><p>UNIDADE 4</p><p>OS CONFLITOS E AS LEGISLAÇÕES SOBRE</p><p>DROGAS NO BRASIL</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>73</p><p>UNIDADE 4</p><p>OS CONFLITOS E AS LEGISLAÇÕES</p><p>SOBRE DROGAS NO BRASIL</p><p>O Brasil é signatário de todos os acordos internacionais sob a égide da</p><p>ONU apresentados na Unidade 2. Portanto, os preceitos do paradigma</p><p>proibicionista seguem regendo as políticas sobre drogas brasileiras. Na</p><p>história, o Brasil teve, inclusive, papel importante na criminalização</p><p>internacional da maconha, tendo tornado a planta definitivamente</p><p>ilegal em 1932, cinco anos antes de isso ocorrer nos EUA, e proibições</p><p>anteriores já eram vigentes, conforme vimos no Módulo 1. Nesta</p><p>unidade, apresentaremos as legislações sobre drogas que já foram</p><p>vigentes no país e como elas foram aplicadas.</p><p>Para Silva (2014), até o final do século XIX, não se encontrava no</p><p>Brasil uma coerência definida na política criminal sobre droga. Além</p><p>da criminalização do “pito do pango”, discutida no Módulo 1, houve</p><p>apenas legislações sobre o acesso às substâncias tóxicas, em que o</p><p>caráter punitivo recaía sobretudo aos boticários e outros fornece-</p><p>dores, não aos usuários.</p><p>A partir da década de 1910, o governo brasileiro passa a tratar o</p><p>uso crescente do ópio e de seus derivados, como a morfina, e da</p><p>cocaína como problemas relevantes. Por meio de dois decretos</p><p>– um de 1914, outro de 1915 –, foram editadas medidas para</p><p>impedir a circulação dessas substâncias, normas inspiradas nas</p><p>resoluções aprovadas pela Conferência Internacional do Ópio</p><p>(1911) e pela Convenção Internacional do Ópio (1915).</p><p>No Código Penal de 1940, o tema das drogas aparece na seção</p><p>de Crimes Contra a Saúde Pública, sob a rubrica “Comércio,</p><p>posse ou uso de entorpecente que determine dependência fí-</p><p>sica ou psíquica”. A lei previa o crime de tráfico e de posse de</p><p>substâncias “entorpecentes”, e a pena era a de reclusão de um</p><p>a cinco anos; a lei não diferenciava as consequências penais da</p><p>posse da droga para consumo próprio ou para comercialização.</p><p>No Brasil, assim como nos EUA, em meados dos anos 1960, impul-</p><p>sionado pelo movimento de contracultura, a Cannabis, popularmente</p><p>conhecida como “maconha”, passou a ser objeto de interesse de ar-</p><p>tistas, intelectuais e universitários da classe média. Com isso, ocorre</p><p>uma mudança no perfil dos consumidores, que antes eram transeuntes</p><p>Aponte a câmera</p><p>do seu dispositivo</p><p>móvel (smartphone</p><p>ou tablet) para o</p><p>QR Code ao lado</p><p>e assista ao vídeo</p><p>sobre as primeiras</p><p>políticas de controle</p><p>das drogas no Brasil.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/OiUTdfUhXCo</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>74</p><p>de áreas mais pobres e marginalizadas da sociedade, como zonas de</p><p>prostituição, cais de portos, detentos de penitenciárias, toda gente</p><p>definida como malandros e marginais, para jovens de classe média</p><p>(Misse, 2003).</p><p>Cabe lembrar que, nessa época, o Brasil encontrava-</p><p>se sob uma ditadura militar, o que permite localizar o</p><p>direcionamento repressivo conferido à questão da droga.</p><p>Conforme aponta Bittencourt, ‘a norma penal em causa traz a</p><p>marca indelével do seu tempo’ (1986: 19-20). A mudança do</p><p>artigo que, como resultado, possibilitava uma interpretação</p><p>dúbia no Código Penal de 1940, afirmou o estatuto de</p><p>criminoso do usuário. Assim, decidiu-se pela criminalização</p><p>tanto do consumo quanto da comercialização, na mesma</p><p>proporção, seguindo a tendência repressiva e punitiva que</p><p>marcou o contexto da ditadura militar brasileira.</p><p>Silva, 2014, p. 21</p><p>Alinhada às orientações internacionais, a Lei nº 5.726, de 1971, atri-</p><p>buiu a toda a população (indivíduos e pessoas jurídicas) o dever de</p><p>colaborar no combate ao uso e ou tráfico de entorpecentes. A lei,</p><p>promulgada durante a ditadura militar, tinha como foco dois inimigos</p><p>internos: os subversivos e os traficantes. Com isso, observou-se um</p><p>salto nos inquéritos de criminalização das drogas e a entrada maciça</p><p>da juventude de classe média nas condenações (Batista, 2003).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>75</p><p>A década de 1970 consolidou uma mobilização de toda a sociedade,</p><p>fazendo emergir novas concepções, estratégias e mecanismos de</p><p>controle, repressão e prevenção. A força-tarefa convocada pelo Estado</p><p>no combate às drogas passou a envolver a escola, a família, a mídia</p><p>etc. A intensificação do uso de drogas por jovens de classe média</p><p>gerou uma crescente medicalização do tema, fortalecendo o discurso</p><p>de doença e cura de usuários de drogas. Nesse sentido, ocorreu uma</p><p>aproximação entre o discurso psiquiátrico e o discurso criminológico</p><p>(Silva, 2014). Um dos frutos dessa aproximação são as alterações da</p><p>Lei de Drogas em 1976.</p><p>A Lei nº 6.368, de 1976, operou uma diferenciação no tratamento</p><p>penal direcionado aos usuários e aos traficantes.</p><p>Ao primeiro grupo, ainda criminalizado, destinava-se o discurso</p><p>terapêutico, com pena de prisão de seis meses a dois anos e o paga-</p><p>mento de multa. Ao segundo grupo, estabeleceu-se a pena de prisão</p><p>de três a quinze anos, além de multa. Essa lei permaneceu vigente</p><p>até 2006, quando foi promulgada a Lei nº 11.343, a Lei de Drogas,</p><p>vigente até os dias atuais.</p><p>A atual Lei de Drogas excluiu a possibilidade de pena de prisão para</p><p>quem porta drogas ilícitas para uso próprio, mas aumentou para</p><p>cinco anos a pena mínima de quem tem a intenção de traficá-las.</p><p>Usuário</p><p>Traficante</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>76</p><p>SÍNTESE DO MÓDULO</p><p>Ao longo deste módulo, revisitamos brevemente</p><p>alguns fatores que, principalmente a partir do século</p><p>XX, contribuíram para a criação das políticas de drogas</p><p>que conhecemos hoje.</p><p>Nesse processo, vimos recuos e avanços nas</p><p>perspectivas de criminalização e medicalização,</p><p>conhecemos os processos de transnacionalização de</p><p>discursos e valores de combate às drogas no decorrer</p><p>dos séculos XIX e XX, analisamos o papel ocupado por</p><p>países como os Estados Unidos e países da América</p><p>Latina nas políticas de drogas e conhecemos o processo</p><p>histórico das legislações brasileiras sobre drogas.</p><p>Como síntese, podemos concluir que, no Brasil,</p><p>é impossível separar as políticas sobre drogas de</p><p>questões que definem nosso desenvolvimento</p><p>histórico, como a escravidão, a desigualdade e o</p><p>racismo. Diversos trabalhos acadêmicos demonstram</p><p>que a repressão ao tráfico e ao uso de drogas</p><p>ilícitas sempre teve como determinantes grupos</p><p>populacionais específicos, muito mais vulneráveis,</p><p>por exemplo, à violência de grupos criminosos e das</p><p>polícias. Esses pontos serão mais bem explorados nos</p><p>próximos módulos.</p><p>Você finalizou o Módulo 2!</p><p>No próximo módulo discutiremos a atual Lei de Drogas brasileira,</p><p>os seus efeitos, e conheceremos o sistema de segurança pública do</p><p>país e o papel que ele tem desempenhado na reprodução das atuais</p><p>políticas de drogas.</p><p>Veja a seguir os principais pontos abordados neste módulo.</p><p>77</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARAUJO, T. Guia sobre drogas para jornalistas. São Paulo: IBCCRIM-</p><p>-PBPD-Catalize-SSRC, 2017. Disponível em: https://pbpd.org.br/wp-</p><p>-content/uploads/2018/01/Guia-sobre-Drogas-para-Jornalistas-PBPD.</p><p>pdf. Acesso em: 31 jan. 2024.</p><p>BATISTA, V. M. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio</p><p>de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2003.</p><p>CAMPOS, M. Pela metade: a Lei de Drogas no Brasil. São Paulo: Anna-</p><p>blume, 2019.</p><p>FIORE, M. O lugar do Estado na questão das drogas: o paradigma proibi-</p><p>cionista e as alternativas. Novos Estudos, v. 92, p. 9-21, 2012. Disponível</p><p>em: https://doi.org/10.1590/S0101-33002012000100002. Acesso em: 30</p><p>jan. 2024.</p><p>FRAGA, P. C. P. A geopolítica das drogas na América Latina. Em Pauta,</p><p>Rio de Janeiro, v. 10, n. 19, p. 83-105, 2007.</p><p>FRAGA, P. C. P. (org.). Crimes, drogas e políticas. Ilhéus: Editora UESC,</p><p>2010.</p><p>KARAM, M. L. Legalização das drogas. São Paulo: Estúdio Editores, 2015.</p><p>(Coleção para entender Direito).</p><p>MISSE, M. Malandros, marginais e vagabundos: a acumulação social</p><p>da violência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2023.</p><p>RODRIGUES, T. M. S. A infindável guerra americana: Brasil, EUA e o</p><p>narcotráfico no continente. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 16,</p><p>n. 2, p. 102-111, 2002.</p><p>RODRIGUES, T. M. S. Narcotráfico e militarização nas Américas: vício</p><p>de guerra. Contexto internacional, v. 34, p. 9-41, 2012. Disponível em:</p><p>https://doi.org/10.1590/S0102-85292012000100001. Acesso em: 6 jul.</p><p>2023.</p><p>RODRIGUES, T. Narcotráfico: uma guerra na guerra. São Paulo: Desa-</p><p>tino, 2012.</p><p>RODRIGUES, T. Tráfico, guerra, proibição. In: LABATE, B. et al. (org.).</p><p>Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008.</p><p>RODRIGUES, T.; CARVALHO, J.; POLICARPO, F. Brasil y el Drug Policy</p><p>Framework (DPF): una propuesta teórica para el análisis de las políticas</p><p>de drogas en las Américas (estudio de caso: 1951-1961). Diálogos La-</p><p>tinoamericanos, v. 30, p. 1-23, 2022. Disponível em: https://tidsskrift.</p><p>dk/dialogos/article/view/127365. Acesso em: 6 jul. 2023.</p><p>SILVA, C. C. R. A aliança entre Justiça e psiquiatria no controle do uso</p><p>da droga: medicalização e criminalização na berlinda. In: BATISTA, V.</p><p>(org.). A violência na berlinda. Rio de Janeiro: Editora FAPERJ, 2014.</p><p>https://pbpd.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Guia-sobre-Drogas-para-Jornalistas-PBPD.pdf</p><p>https://pbpd.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Guia-sobre-Drogas-para-Jornalistas-PBPD.pdf</p><p>https://pbpd.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Guia-sobre-Drogas-para-Jornalistas-PBPD.pdf</p><p>https://www.scielo.br/j/nec/a/yQFZQG48VQvdYW8hQVMybCd/?lang=pt</p><p>https://www.scielo.br/j/cint/a/rwTYjJdcGrnzGjx6r3n46ww/?lang=pt</p><p>https://tidsskrift.dk/dialogos/article/view/127365</p><p>https://tidsskrift.dk/dialogos/article/view/127365</p><p>78</p><p>UNODC. World Drug Report 2016. Nova Iorque: UNODC, 2016. Dispo-</p><p>nível em: https://www.unodc.org/doc/wdr2016/WORLD_DRUG_RE-</p><p>PORT_2016_web.pdf. Acesso em: 30 jan. 2024.</p><p>UNODC. World Drug Report 2023. Nova Iorque: UNODC, 2023. Disponível</p><p>em: https://www.unodc.org/res/WDR-2023/WDR23_Exsum_fin_</p><p>SP.pdf. Acesso em: 30 jan. 2024.</p><p>https://www.unodc.org/doc/wdr2016/WORLD_DRUG_REPORT_2016_web.pdf</p><p>https://www.unodc.org/doc/wdr2016/WORLD_DRUG_REPORT_2016_web.pdf</p><p>https://www.unodc.org/res/WDR-2023/WDR23_Exsum_fin_SP.pdf</p><p>https://www.unodc.org/res/WDR-2023/WDR23_Exsum_fin_SP.pdf</p><p>M I N I S T É R I O D A</p><p>J U S T I Ç A E</p><p>S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A</p><p>MÓDULO 3</p><p>AS POLÍTICAS DE DROGAS NO BRASIL</p><p>E AS POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>EXPEDIENTE</p><p>Todo o conteúdo do</p><p>COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade:</p><p>perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do</p><p>Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons</p><p>Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional.</p><p>BY NC ND</p><p>GOVERNO FEDERAL</p><p>PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Luís Inácio Lula da Silva</p><p>MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Ricardo Lewandowski</p><p>SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO</p><p>DE ATIVOS</p><p>Marta Rodriguez de Assis Machado</p><p>DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES</p><p>Mauricio Fiore</p><p>COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA</p><p>Natália Neris da Silva Santos</p><p>COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO</p><p>BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS</p><p>Geórgia Belisário Mota</p><p>CONTEUDISTAS</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Mauricio Fiore</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>REVISÃO DE CONTEÚDO</p><p>Jessica Santos Figueiredo</p><p>Grazielle Teles de Araújo</p><p>APOIO</p><p>Brenda Juliana Silva</p><p>Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade</p><p>Luana Rodrigues Meneses de Sá</p><p>Maria Aparecida Alves Dias</p><p>UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA</p><p>COORDENAÇÃO GERAL</p><p>Luciano Patrício Souza de Castro</p><p>FINANCEIRO</p><p>Fernando Machado Wolf</p><p>SUPERVISÃO TÉCNICA EAD</p><p>Giovana Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL</p><p>Francielli Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE MOODLE</p><p>Andreia Mara Fiala</p><p>SECRETARIA ADMINISTRATIVA</p><p>Elson Rodrigues Natario Junior</p><p>DESIGN INSTRUCIONAL</p><p>Supervisão: Milene Silva de Castro</p><p>Larissa Usanovich de Menezes</p><p>Sofia Santos Stahelin</p><p>DESIGN GRÁFICO</p><p>Supervisão: Sonia Trois</p><p>Eduardo Celestino</p><p>Giovana Aparecida dos Santos</p><p>Luana Pillmann de Barros</p><p>Vanessa de Oliveira Vieira</p><p>REVISÃO TEXTUAL</p><p>Cleusa Iracema Pereira Raimundo</p><p>PROGRAMAÇÃO</p><p>Supervisão: Alexandre Dal Fabbro</p><p>Luan Rodrigo Silva Costa</p><p>Luiz Eduardo Pizzinato</p><p>AUDIOVISUAL</p><p>Supervisão: Rafael Poletto Dutra</p><p>Andrei Krepsky de Melo</p><p>Julia Britos</p><p>Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira</p><p>Robner Domenici Esprocati</p><p>SUPERVISÃO TUTORIA</p><p>João Batista de Oliveira Júnior</p><p>Thaynara Gilli Tonolli</p><p>TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO</p><p>Alexandre Gava Menezes</p><p>André Fabiano Dyck</p><p>SIGLAS</p><p>CV – Comando Vermelho</p><p>DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional</p><p>FBSP – Fórum Brasileiro de Segurança Pública</p><p>IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada</p><p>JECRIM – Juizado Especial Criminal</p><p>LEP – Lei de Execução Penal</p><p>MJSP – Ministério da Justiça e Segurança Pública</p><p>MVI – Mortes Violentas Intencionais</p><p>PCC – Primeiro Comando da Capital</p><p>PNPS – Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social</p><p>SAP/CE – Secretaria da Administração Penitenciária</p><p>e Ressocialização do Ceará</p><p>SAP/SC – Secretaria de Estado da Administração Prisional</p><p>e Socioeducativa de Santa Catarina</p><p>SAP/SP – Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo</p><p>SEAP/BA – Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização</p><p>do Estado da Bahia</p><p>SEAPE/DF – Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do</p><p>Distrito Federal</p><p>SENAPPEN – Secretaria Nacional de Políticas Penais</p><p>SISDEPEN – Sistema de Informações do Departamento</p><p>Penitenciário Nacional</p><p>SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas</p><p>SPF – Sistema Penitenciário Federal</p><p>SUSP – Sistema Único de Segurança Pública</p><p>TCO – Termo Circunstanciado de Ocorrência</p><p>UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>83</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>CONTEUDISTAS DO MÓDULO</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de</p><p>Janeiro (IFCS/UFRJ-2003), mestrado em Antropologia pela Universidade</p><p>Federal Fluminense (PPGA/UFF-2007), doutorado em Antropologia pela</p><p>mesma universidade (PPGA/UFF-2013), com bolsa-sanduíche na Univer-</p><p>sity of California, Hastings College of the Law/EUA (CAPES/2011-2012).</p><p>É professor adjunto de Antropologia no Departamento de Segurança</p><p>Pública do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança e do</p><p>Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito, na Universidade</p><p>Federal Fluminense. É pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de</p><p>Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Admi-</p><p>nistração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF). Tem experiência na área de</p><p>Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: consumo</p><p>de drogas e sistema de justiça criminal.</p><p>Possui graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura)</p><p>pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Antropologia</p><p>pelo mesmo programa, especialização em Políticas Públicas de Justiça</p><p>Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense</p><p>e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da</p><p>Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associado ao Instituto</p><p>de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos</p><p>(INCT-InEAC), onde coordena o subprojeto Laboratório de Iniciação</p><p>Acadêmica em Administração de Conflitos (LABIAC). Áreas de in-</p><p>teresse: conflitos relacionados às “drogas” (lícitas e ilícitas) e seus</p><p>usos, mercados, produção e repressão; antropologia visual; e estudos</p><p>de manifestações artísticas e culturais construídas por grupos sociais</p><p>mais ou menos definidos.</p><p>Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São</p><p>Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP (2019-</p><p>2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos</p><p>(IESP-UERJ). Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS- UERJ. Graduada</p><p>em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ). Pesquisa-</p><p>dora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Sui-</p><p>cídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências Sociais</p><p>(DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela CAPES no</p><p>Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford e Bolsa</p><p>de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP) na Universidade de</p><p>Bradford. Tem experiência com pesquisas quantitativas e qualitativas,</p><p>especialmente com ênfase em violência e segurança pública, atuando</p><p>principalmente nos seguintes temas: qualidade de vida do trabalho</p><p>policial, suicídio policial, política de drogas e funcionamento das ins-</p><p>tituições policiais e judiciais.</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>84</p><p>Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade</p><p>Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social</p><p>pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har-</p><p>vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir-</p><p>mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em</p><p>Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal</p><p>Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa</p><p>de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA),</p><p>professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia</p><p>e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi-</p><p>dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira</p><p>de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do</p><p>Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica,</p><p>com ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Po-</p><p>lítica, Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades.</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>85</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Olá, cursista!</p><p>Bem-vindo(a) ao terceiro módulo do COMPASSO - Curso sobre Polí-</p><p>ticas de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais.</p><p>Neste módulo, apresentaremos a atual Lei de Drogas brasileira –</p><p>promulgada em 2006 – e explicaremos as semelhanças e diferenças</p><p>dessa lei em comparação com as anteriores. Em seguida,</p><p>apresenta-</p><p>remos brevemente o funcionamento do sistema de segurança pública</p><p>e justiça criminal brasileiro.</p><p>Compreender o funcionamento desse sistema é fundamental para</p><p>refletir sobre como o controle sobre as drogas vem sendo exercido</p><p>no país. Apresentaremos, então, os principais desafios identificados</p><p>na área da segurança pública e da justiça criminal e, finalmente,</p><p>analisaremos os impactos que a atual Lei de Drogas tem gerado na</p><p>segurança pública e no sistema de justiça brasileiro.</p><p>Ao final do módulo, esperamos que você, cursista, tenha compreendido</p><p>melhor o funcionamento do sistema de segurança pública e de justiça</p><p>criminal e o papel da atual Lei de Drogas nesse sistema.</p><p>OBJETIVOS DO MÓDULO</p><p>z Possibilitar a compreensão em perspectiva histórica e</p><p>sociológica da Lei n° 11.343/2006.</p><p>z Apresentar brevemente o sistema de segurança pública e</p><p>justiça criminal brasileiro e os seus principais desafios.</p><p>z Analisar os impactos da atual Lei de Drogas no sistema de</p><p>segurança pública brasileiro.</p><p>MÓDULO 3</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de apresentação</p><p>do módulo!</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/gdUBtNSkRSA</p><p>MÓDULO 3</p><p>UNIDADE 1</p><p>A ATUAL LEI DE DROGAS BRASILEIRA</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>87</p><p>UNIDADE 1</p><p>A ATUAL LEI DE DROGAS BRASILEIRA</p><p>Em 2006, 30 anos após a vigência da Lei n° 6.368/1976, foi promulgada</p><p>a atual Lei de Drogas, a Lei n° 11.343/2006. A lei trata de basicamente</p><p>quatro aspectos, apresentados a seguir.</p><p>Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre</p><p>Drogas (SISNAS).</p><p>Prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção</p><p>e reinserção social de usuários e dependentes de drogas.</p><p>Estabelece normas para repressão à produção não autorizada</p><p>e ao tráfico ilícito de drogas.</p><p>Define os crimes relacionados às drogas ilícitas.</p><p>Neste módulo, exploraremos especialmente a repressão e os crimes</p><p>relacionados às drogas. O SISNAD e as medidas de prevenção, atenção</p><p>e reinserção serão discutidos no próximo módulo.</p><p>Assim como na Lei nº 6.368/1976, que vimos no módulo anterior,</p><p>a nova Lei de Drogas continua a diferenciar os usuários dos trafi-</p><p>cantes. No entanto, a lei atual retira a pena de prisão para quem porta</p><p>drogas para uso pessoal e, ao mesmo tempo, aumenta o tempo de</p><p>encarceramento para quem porta drogas com o objetivo de vendê-las</p><p>ou distribuí-las. A definição sobre quem será considerado usuário e</p><p>que tipo de medida poderá ser aplicada cabe ao sistema de justiça,</p><p>conforme este trecho da Lei nº 11.343/2006:</p><p>Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou</p><p>trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização</p><p>ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será</p><p>submetido às seguintes penas:</p><p>I - advertência sobre os efeitos das drogas;</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>88</p><p>Marcelo Campos.</p><p>Foto: © [Carolina de Paula] / UFJF.</p><p>II - prestação de serviços à comunidade.</p><p>III - medida educativa de comparecimento a programa</p><p>ou curso educativo.</p><p>§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo</p><p>pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à</p><p>preparação de pequena quantidade de substância ou produto</p><p>capaz de causar dependência física ou psíquica.</p><p>§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo</p><p>pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da</p><p>substância apreendida, ao local e às condições em que se</p><p>desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais,</p><p>bem como à conduta e aos antecedentes do agente.</p><p>Brasil, 2006, art. 28</p><p>O sociólogo Marcelo Campos (2019) descreveu os debates em torno da</p><p>lei durante a sua tramitação no Legislativo. Ele observou que houve</p><p>uma tentativa de deslocar a figura do usuário de drogas do sistema</p><p>de justiça criminal para o sistema de saúde. Nesse sentido, o usuário</p><p>passou a ser representado mais como um “doente”, com base no saber</p><p>médico, e a pena de prisão deixou de ser prescrita. Por outro lado,</p><p>aos que praticam as condutas caracterizadoras do crime de tráfico</p><p>coube a representação de “criminosos organizados”, e, por sua vez,</p><p>a dimensão mais punitiva e criminalizadora da lei.</p><p>Assim, ao usuário deveria ser fornecido um tratamento</p><p>de saúde e, ao traficante, medidas mais duras de prisão,</p><p>aumentando-se a pena mínima de três para cinco anos de</p><p>reclusão para aquele que praticar uma das ações previstas</p><p>no artigo 33 da nova lei, tornando essa prática uma das</p><p>mais rigorosamente punidas no Código Penal brasileiro.</p><p>Ao mesmo tempo, uma das controvérsias da lei atual, apontada por</p><p>diversos pesquisadores, é a não definição de critérios objetivos para</p><p>classificar as pessoas entre usuários ou traficantes. Como vimos, a lei</p><p>afirma que tal decisão caberá ao juiz a partir da análise de aspectos</p><p>relativos: “à natureza e à quantidade da substância apreendida,</p><p>ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias</p><p>sociais e pessoais, bem como à conduta e os antecedentes do agente</p><p>(Brasil, 2006, art. 28).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>89</p><p>A ausência de critérios mais objetivos é apontada por muitos es-</p><p>pecialistas como uma fonte de distorções na aplicação da Lei de</p><p>Drogas Além disso, conforme a professora e pesquisadora de Direito</p><p>Penal Luciana Boiteux e colaboradores (2009), a Lei n° 11.343/2006</p><p>também estabeleceu uma distinção entre o “traficante profissional”</p><p>e o “traficante ocasional”, diante da previsão do § 4º do art. 33, indi-</p><p>cando que poderá haver uma redução da pena desde que o agente seja</p><p>“[...] primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades</p><p>criminosas nem integre organização criminosa” (Brasil, 2006). Tra-</p><p>ta-se do que ficou conhecido como “tráfico privilegiado”.</p><p>Neste módulo, apresentaremos as principais mudanças que a lei teve</p><p>na prática, ou seja, quais foram os seus impactos no sistema de justiça</p><p>criminal brasileiro e como ela tem sido aplicada. Isso é importante</p><p>porque, por mais que o debate inicial tenha sido centrado no trata-</p><p>mento dado ao “usuário”, foi em relação ao “traficante” que essa lei</p><p>teve um maior impacto para o país, especialmente para o sistema pe-</p><p>nitenciário, como veremos no decorrer do módulo. Para compreender</p><p>esses impactos, na unidade a seguir explicaremos brevemente como</p><p>é organizado o sistema de justiça e segurança pública brasileiro.</p><p>Luciana Boiteux.</p><p>Foto: © [Marcelo Freixo] / Wikipédia.</p><p>MÓDULO 3</p><p>UNIDADE 2</p><p>O FUNCIONAMENTO DO</p><p>SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E</p><p>JUSTIÇA CRIMINAL NO BRASIL</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>91</p><p>UNIDADE 2</p><p>O FUNCIONAMENTO DO</p><p>SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E</p><p>JUSTIÇA CRIMINAL NO BRASIL</p><p>Você sabia que o sistema de segurança pública e justiça criminal</p><p>brasileiro envolve uma série de instituições?</p><p>Desde 2018, as instituições policiais brasileiras são definidas pela lei</p><p>que instituiu o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). O SUSP</p><p>tem como órgão central o Ministério da Justiça e Segurança Pública</p><p>(MJSP) e é integrado pelas seguintes polícias, além dos demais inte-</p><p>grantes estratégicos e operacionais do segmento da segurança pública.</p><p>Força Nacional de Segurança Pública</p><p>Polícia Federal Polícias Militares</p><p>Polícias CivisPolícia Rodoviária Federal</p><p>Corpos de Bombeiros Militares</p><p>Polícias Penais Guardas Municipais</p><p>Cada uma dessas instituições possui competências e abrangências</p><p>distintas. No quadro a seguir, você poderá conhecer um pouco sobre</p><p>cada uma das principais instituições policiais brasileiras.</p><p>Instituição Abrangência Competências</p><p>Número</p><p>de instituições</p><p>no país</p><p>Polícia Federal Federal</p><p>Prevenir e investigar</p><p>infrações federais,</p><p>o que inclui crimes</p><p>contra a ordem política</p><p>e social, e violações</p><p>com repercussão</p><p>interestadual ou</p><p>internacional.</p><p>1</p><p>Polícia</p><p>Rodoviária</p><p>Federal</p><p>Federal</p><p>Patrulhar as rodovias e</p><p>estradas federais. 1</p><p>Corpo de</p><p>Bombeiros</p><p>Militar</p><p>Estadual Executar atividades de</p><p>defesa civil.</p><p>27</p><p>| PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES POLICIAIS BRASILEIRAS</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>92</p><p>Instituição Abrangência Competências</p><p>Número</p><p>de instituições</p><p>no país</p><p>Polícia Civil Estadual Investigar crimes. 27</p><p>Polícia Militar Estadual</p><p>Realizar policiamento</p><p>ostensivo e manter a</p><p>ordem pública.</p><p>27</p><p>Polícia Penal Estadual</p><p>Realizar a segurança</p><p>e vigilância das</p><p>penitenciárias estaduais.</p><p>27</p><p>Polícia Penal</p><p>Federal</p><p>Federal</p><p>Realizar a segurança</p><p>e vigilância das</p><p>penitenciárias federais.</p><p>1</p><p>Guarda</p><p>Municipal</p><p>Municipal</p><p>Proteger bens, serviços</p><p>e instalações existentes</p><p>localmente e executar</p><p>políticas preventivas.</p><p>220</p><p>Fonte: Adaptado de Ribeiro et al. (2023).</p><p>As Polícias Militares são aquelas que estão mais presentes em nosso</p><p>cotidiano, uma vez que são responsáveis pelo policiamento preven-</p><p>tivo-ostensivo. São elas que usualmente atendem as ocorrências</p><p>registradas via 190, realizam abordagens policiais e fazem o patrulha-</p><p>mento das ruas. A Polícia Militar não possui capacidade investigativa</p><p>e, portanto, quando ocorre um delito, por exemplo um flagrante com</p><p>drogas, as pessoas envolvidas devem ser encaminhadas para uma</p><p>delegacia de Polícia Civil. Confira nos próximos infográficos um passo</p><p>a passo com os procedimentos.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>93</p><p>BOLETIM OU REGISTRO DE OCORRÊNCIA</p><p>CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS E</p><p>AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA</p><p>Ao chegarem à Delegacia de Polícia, o andamento da</p><p>ocorrência passa a ser uma atribuição da Polícia Civil.</p><p>Em casos envolvendo drogas, cabe ao delegado</p><p>classificar inicialmente se o caso se trata de porte</p><p>para uso pessoal ou para tráfico. Em caso de uso,</p><p>a pessoa não é presa em flagrante, e o caso é</p><p>encaminhado ao Juizado Especial Criminal (JECRIM).</p><p>Caso haja o entendimento, por parte do delegado</p><p>de Polícia, de que a ocorrência em questão se trata</p><p>de um ilícito penal, ela será registrada em um</p><p>boletim (ou registro) de ocorrência.</p><p>Nesses casos, não é instaurado um inquérito policial,</p><p>e o delegado encaminha para o JECRIM um</p><p>documento chamado Termo Circunstanciado de</p><p>Ocorrência (TCO), que contém um resumo do ocorrido.</p><p>O boletim de ocorrência registra os fatos ocorridos a partir da narrativa</p><p>dos envolvidos, com foco, no caso do flagrante, no depoimento dos</p><p>agentes que efetuaram a prisão (usualmente, os policiais militares).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>94</p><p>No JECRIM, o caso será julgado por meio de</p><p>audiências de conciliação. Esses casos, como prevê</p><p>a lei, não serão punidos com pena de prisão, mas</p><p>com as medidas previstas, já descritas na Unidade 1</p><p>deste módulo.</p><p>Nos casos em que o delegado considerar que o</p><p>flagrante se trata de crime de tráfico de drogas, todo</p><p>o procedimento burocrático realizado na delegacia</p><p>deve ser encaminhado para um(a) juiz(a) de direito,</p><p>que definirá, em até 24 horas, a legalidade da prisão.</p><p>A partir de 2015, essa apresentação da prisão para</p><p>o Poder Judiciário passou a ocorrer por meio das</p><p>audiências de custódia.</p><p>As audiências consistem em uma rápida apresentação</p><p>dos presos em flagrante a um(a) magistrado(a),</p><p>que analisa a legalidade e a necessidade da prisão,</p><p>e verifica eventuais irregularidades no decorrer da</p><p>prisão, como, por exemplo, se houve abuso no uso da</p><p>força utilizada pelos agentes policiais.</p><p>As audiências de custódia não são o julgamento do caso, apenas</p><p>uma primeira decisão sobre a situação da pessoa presa em flagrante,</p><p>que pode ser colocada em liberdade, usualmente com a aplicação de</p><p>medidas cautelares, tais como: restrição de horário para estar fora</p><p>de casa, restrição de sair do município, comparecimento periódico</p><p>ao tribunal, entre outras.</p><p>INQUÉRITO POLICIAL</p><p>Em paralelo a isso, com o registro de ocorrência,</p><p>os policiais civis darão início ao processo de</p><p>investigação, com a elaboração do inquérito policial.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>95</p><p>No inquérito policial, a partir de uma investigação,</p><p>os policiais civis analisam os fatos que comprovem,</p><p>ou não, o que foi relatado no boletim de ocorrência.</p><p>O inquérito policial deve reunir elementos mínimos que demonstrem</p><p>que uma conduta criminal foi cometida por uma determinada pessoa.</p><p>APRECIAÇÃO DO CASO PELO</p><p>MINISTÉRIO PÚBLICO E PODER JUDICIÁRIO</p><p>Uma vez concluído o inquérito policial, o caso passa a</p><p>ser apreciado pelas instituições que atuam no âmbito</p><p>do sistema de justiça criminal (Ministério Público e</p><p>Poder Judiciário).</p><p>• Ministério Público: fiscaliza e faz cumprir as</p><p>leis que defendem o patrimônio nacional e os</p><p>interesses da sociedade e dos cidadãos.</p><p>• Poder Judiciário: é o poder que o Estado detém</p><p>para aplicar o direito a um determinado caso, com</p><p>o objetivo de solucionar conflitos de interesses</p><p>e com isso resguardar a ordem jurídica e a</p><p>autoridade da lei.</p><p>• Defensoria Pública: presta serviço jurídico</p><p>gratuito para as pessoas que não têm condições</p><p>de pagar um advogado particular.</p><p>Inicialmente, compete ao Ministério Público analisar o</p><p>inquérito policial e decidir se oferecerá a denúncia para</p><p>o Tribunal de Justiça ou se realizará o arquivamento</p><p>do inquérito. Essa decisão dependerá da avaliação</p><p>do promotor de Justiça a respeito de elementos</p><p>suficientes, no documento do inquérito, para indicar a</p><p>materialidade e a autoria do crime. Em caso positivo,</p><p>o promotor encaminha a denúncia para o Judiciário.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>96</p><p>Se a denúncia for aceita pelo Judiciário, abre-se um</p><p>processo judicial e o indivíduo investigado passa</p><p>a ser réu. Nesse momento, o réu é notificado para</p><p>apresentar sua defesa. A defesa do réu caberá a</p><p>um advogado particular ou a um defensor público.</p><p>No Brasil, todo indivíduo acusado de um ilícito possui</p><p>o direito de ser defendido independentemente</p><p>do crime cometido e da sua condição econômica;</p><p>portanto, nos casos em que o réu não possui</p><p>condições financeiras de contratar um advogado,</p><p>ele será atendido por defensores públicos.</p><p>A partir desse momento, o caso será analisado por um</p><p>juiz de direito, que considerará a denúncia e a defesa do</p><p>réu para decidir sobre a condenação ou a absolvição.</p><p>Em casos de condenação, compete ao sistema</p><p>penitenciário efetivar as sentenças ou decisões criminais</p><p>e proporcionar condições para que a pena seja uma</p><p>forma de reintegração social do condenado.</p><p>O Poder Judiciário também fiscaliza o cumprimento de pena por meio</p><p>da figura do juiz de execução de pena; mas a administração das pri-</p><p>sões possui um órgão estatal próprio em cada unidade da Federação.</p><p>Veja alguns exemplos:</p><p>z Distrito Federal – Secretaria de Estado de Administração</p><p>Penitenciária (SEAPE/DF)</p><p>z São Paulo – Secretaria da Administração Penitenciária (SAP/SP)</p><p>z Santa Catarina – Secretaria de Estado da Administração</p><p>Prisional e Socioeducativa (SAP/SC)</p><p>z Ceará – Secretaria da Administração Penitenciária e Resso-</p><p>cialização (SAP/CE)</p><p>z Bahia – A Secretaria de Administração Penitenciária e</p><p>Ressocialização do Estado (SEAP/BA)</p><p>Na esfera federal, desde janeiro de 2023, temos a Secretaria Nacional</p><p>de Políticas Penais (SENAPPEN), que substituiu o antigo Departamento</p><p>Penitenciário Nacional (DEPEN), que, além das prerrogativas dispostas</p><p>na Lei de Execução Penal (LEP), é a responsável pela custódia das</p><p>pessoas presas nas cinco penitenciárias federais que existem hoje no</p><p>Brasil, geridas pelo Sistema Penitenciário Federal (SPF).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>97</p><p>A partir de 2019, por meio de uma mudança na Constituição Federal,</p><p>a categoria profissional responsável pela segurança</p><p>dos estabeleci-</p><p>mentos penais e pela custódia das pessoas presas foi equiparada às</p><p>outras polícias brasileiras. Com isso, os agentes penitenciários se</p><p>tornaram policiais penais federais, estaduais ou distritais.</p><p>A descrição que realizamos anteriormente é uma apresentação</p><p>sucinta e resumida do funcionamento do sistema de segurança</p><p>pública e justiça criminal brasileiro; a compreensão de cada uma</p><p>dessas etapas demandaria um aprofundamento maior nesse assunto,</p><p>o que tem sido realizado por diversas pesquisas na área das ciências</p><p>sociais e do direito. Por exemplo, o sociólogo Michel Misse (1999)</p><p>sintetiza esses procedimentos e sanções a partir do processo de</p><p>“criminação-incriminação”.</p><p>Michel Misse.</p><p>Foto: Sociedade Brasileira de Sociologia.</p><p>Catanduvas (PR)</p><p>Campo Grande (MS)</p><p>Porto Velho (RO)</p><p>Mossoró (RN)</p><p>Brasília (DF)</p><p>Penitenciárias federais do Brasil geridas</p><p>pelo Sistema Penitenciário Federal (SPF)</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>98</p><p>Grosso modo, o processo pode ser reduzido a três etapas:</p><p>a policial, que interpreta ou reinterpreta e registra um evento</p><p>como crime (ou contravenção) e indicia seus possíveis autores;</p><p>a etapa judicial inicial, que mantém o registro do evento</p><p>como crime (ou o anula ou arquiva) e acusa formalmente os</p><p>indiciados (ou os libera, quando anulados ou arquivados os</p><p>inquéritos policiais que os acusava); e a etapa judicial final,</p><p>o julgamento, que estabelece a criminação efetiva (para a qual</p><p>haverá possibilidade de recurso e revisão) e estabelece uma</p><p>sentença para o sujeito acusado da ação, o réu (sentença que</p><p>também pode absolvê-lo da acusação e anular a incriminação).</p><p>Misse, 1999, p. 136</p><p>Para finalizar a unidade, assista ao vídeo sobre o inquérito policial</p><p>e o processo judicial.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>sobre inquérito</p><p>policial e</p><p>processo judicial.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/qphPLAbYDCk</p><p>MÓDULO 3</p><p>UNIDADE 3</p><p>OS DESAFIOS DO</p><p>SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E</p><p>JUSTIÇA CRIMINAL NO BRASIL</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>100</p><p>UNIDADE 3</p><p>OS DESAFIOS DO</p><p>SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E</p><p>JUSTIÇA CRIMINAL NO BRASIL</p><p>Como vimos na unidade anterior, o funcionamento do sistema de</p><p>segurança pública e justiça criminal brasileiro envolve uma série de</p><p>instituições, com distintas abrangências e competências. Esse quadro,</p><p>somado a uma série de questões históricas, sociais e culturais do país,</p><p>culmina em uma série de desafios a serem enfrentados nesta área.</p><p>Nesta unidade apresentaremos alguns deles.</p><p>3.1 Superposição de esforços e conflitos</p><p>entre as instituições policiais e judiciais</p><p>Na unidade anterior, vimos de maneira sintética que o sistema de</p><p>segurança pública e justiça criminal brasileiro envolve uma série</p><p>de atores e instituições, com distintas atribuições e abrangências.</p><p>Parte considerável da estrutura das polícias é regida pelo artigo 144</p><p>da Constituição, que advém do Código Penal de 1940. Essa estru-</p><p>tura não teve alterações significativas desde então, mesmo após a</p><p>Constituição de 1988, promulgada após a redemocratização do país.</p><p>Um dos problemas do sistema de segurança pública e justiça criminal</p><p>do Brasil apontado por especialistas é a superposição de esforços ou,</p><p>até mesmo, um conflito de competência entre as instituições policiais</p><p>e judiciais. Um exemplo é a divisão entre o trabalho preventivo-os-</p><p>tensivo da Polícia Militar e o trabalho investigativo da Polícia Civil.</p><p>Esse modelo é criticado por autores como Luiz Eduardo Soares (2019).</p><p>Para ele, ao impedir que a maior força policial e a que está mais próxima</p><p>das ruas seja capaz de investigar, acabamos dificultando a investigação</p><p>de crimes e fazendo com que a maior parte das prisões ocorra em fla-</p><p>grante. Esse modo de controle faz com que alguns crimes ingressem mais</p><p>no fluxo do sistema de justiça do que outros. Portanto, torna-se mais</p><p>difícil resolver crimes que demandam maiores esforços investigativos,</p><p>o que contribui para alimentar a sensação de impunidade na sociedade.</p><p>A existência de culturas organizacionais distintas também é outra</p><p>fonte de conflitos entre as polícias. Enquanto a Polícia Civil segue</p><p>uma estrutura mais semelhante à das instituições civis, as Polícias</p><p>Militares têm um vínculo institucional com as Forças Armadas no que</p><p>se refere à estrutura das carreiras, dos regulamentos, dos regimentos</p><p>disciplinares e dos manuais de treinamento.</p><p>Luiz Eduardo Soares.</p><p>Foto: Brasil de Fato.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>101</p><p>Para Kant de Lima (2013), um dos grandes desafios das polícias</p><p>brasileiras é a convivência entre saberes tradicionais e éticas cor-</p><p>porativas com a carência de protocolos explícitos que regulem o uso</p><p>da força. Esse quadro pode conduzir a uma falta de transparência</p><p>e universalização dos controles utilizados pelos policiais em suas</p><p>rotinas de trabalho.</p><p>Ainda sobre questões estruturais, as Polícias Civis e as Polícias Mi-</p><p>litares são organizadas e possuem competência estadual, o que gera</p><p>disparidades orçamentárias e formativas, além de disparidade no</p><p>controle e na avaliação das atividades das duas polícias. A cooperação</p><p>entre ambas, portanto, se coloca como um grande desafio.</p><p>A Lei nº 13.675/2018, que instituiu o Sistema Único de Segurança</p><p>Pública (SUSP), mencionada na primeira unidade deste módulo,</p><p>tem como um de seus principais objetivos, a partir de uma arquite-</p><p>tura uniforme, a aproximação e o funcionamento harmônico dessas</p><p>instituições (Brasil, 2018). Com o SUSP, a competência de promoção</p><p>e garantia da segurança pública continua a ser dos estados, mas a</p><p>União cria as diretrizes para todo o país. Além de instituir o SUSP,</p><p>a lei instituiu o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social</p><p>(PNSP), que traz metas como a redução dos índices de mortes vio-</p><p>lentas e da violência contra a mulher e a atenção aos profissionais</p><p>de segurança pública.</p><p>Kant de Lima.</p><p>Foto: Academia Brasileira de Ciências.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>O Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 2021-</p><p>2030 está disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-</p><p>a-informacao/acoes-e-programas/susp/PNSP%202021-2030.</p><p>Os desafios que ocorrem entre as instituições policiais também são</p><p>observados na relação entre essas e as do sistema de justiça.</p><p>Cruz e Jesus (2022) apontaram que, entre tais instituições, ocorre</p><p>um uma percepção de incompreensão mútua. De um lado, existe a</p><p>desconfiança dos atores do Judiciário na habilidade das instituições</p><p>policiais de conduzirem seus trabalhos dentro dos parâmetros pre-</p><p>vistos pela lei. Por outro, policiais argumentam que o Judiciário seria</p><p>distante e insensível às complexidades do trabalho policial, seja a</p><p>atuação ostensiva das Polícias Militares, seja o trabalho investigativo</p><p>das Polícias Civis.</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/susp/PNSP%202021-2030</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/susp/PNSP%202021-2030</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>102</p><p>3.2 Altos índices de violência, homicídios</p><p>e letalidade policial</p><p>A segurança pública está entre as principais preocupações dos cida-</p><p>dãos brasileiros.</p><p>PODCAST TRANSCRITO</p><p>O medo de ser vítima de um crime orienta várias das nossas</p><p>atitudes, como os espaços, os horários e as formas de nossa</p><p>circulação pelas cidades. É fato que parte importante dessas</p><p>percepções é moldada pela cobertura dos veículos midiáticos,</p><p>que, muitas vezes, tende a atribuir atenção especial a esse tema.</p><p>Ao mesmo tempo, as estatísticas e, sobretudo, as experiências</p><p>de vitimização de um indivíduo ou de terceiros colaboram na</p><p>manutenção do medo de ser vítima de violência.</p><p>O Brasil, como muitos outros países da América Latina, possui altos</p><p>índices de violência.</p><p>De acordo com o “Estudo Global Sobre Homicí-</p><p>dios” do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC,</p><p>2023), a América Latina concentra a maior taxa de homicídios do</p><p>mundo, e o Brasil, uma das maiores da região (21,3 homicídios por</p><p>100.000 habitantes).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>103</p><p>Fonte: Adaptado de UNODC (2023).</p><p>As altas taxas de homicídio da região podem ser explicadas por uma</p><p>série de fatores, entre eles, a grande desigualdade que assola os países</p><p>latino-americanos. Para alguns autores, as origens de tal desigualdade</p><p>estariam associadas ao processo de colonização da região, marcado</p><p>por forte exploração e populações escravizadas.</p><p>Há muitos outros fatores apontados por especialistas que se rela-</p><p>cionam aos altos índices de violência em países latino-americanos,</p><p>inclusive a insuficiência dos serviços públicos destinados aos mais</p><p>pobres, resquício dos problemas econômicos herdados de governo</p><p>ditatoriais (Leeds, 1998). O tráfico de drogas ilícitas, notadamente a</p><p>cocaína, produzida na América Latina e distribuída para todo o pla-</p><p>neta, contribuiu significativamente para o fortalecimento de grupos</p><p>criminosos organizados, tema que será apresentado na próxima seção.</p><p>Vítimas de homicídio</p><p>a cada 100.000 pessoas</p><p>Taxas de homicídio por país ou território em 2021</p><p>ou no último ano disponível desde 2016</p><p>20 - 52.1</p><p>10 - 25</p><p>3 – 10</p><p>1 – 3</p><p>< 1</p><p>Sem dado</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>104</p><p>É preciso destacar as desigualdades sociais e raciais entre as vítimas</p><p>de violência letal no Brasil. Recorrentes estudos realizados no país</p><p>demonstram como negros (pretos e pardos) são as principais vítimas</p><p>de mortes intencionais, inclusive aquelas perpetradas por policiais.</p><p>O viés racial na atuação das forças policiais é apontado por diversos</p><p>outros estudos, como um publicado recentemente pelo Núcleo de</p><p>Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP),</p><p>que concluiu que adolescentes pretos chegam a ser duas vezes mais</p><p>abordados pela polícia do que os adolescentes brancos ou pardos</p><p>(Núcleo de Estudos da Violência, 2023).</p><p>3.3 Superlotação das prisões x sentimento</p><p>de impunidade</p><p>Outro fenômeno importante no âmbito da segurança pública e da</p><p>justiça criminal é o crescente número de pessoas encarceradas no</p><p>Brasil. Não se trata de um fenômeno isolado, haja vista que, na maior</p><p>parte dos países ocidentais, ainda que em dimensões distintas,</p><p>são observados processos de aumento do encarceramento e o recru-</p><p>descimento das penas. Para o teórico David Garland (2008), esse au-</p><p>mento foi um reflexo do crescimento da criminalidade e do sentimento</p><p>de insegurança da população das últimas décadas. O uso da pena de</p><p>prisão – e o consequente isolamento de pessoas condenadas – passou</p><p>a ser uma resposta cada vez mais comum para esses problemas.</p><p>Os Estados Unidos se tornaram um símbolo nesse processo conhecido</p><p>por alguns autores como “encarceramento em massa”.</p><p>No Brasil, ainda que em dimensões menores do que nos Estados</p><p>Unidos, também houve crescimento expressivo do encarceramento</p><p>nas últimas décadas. Em 1993, de cada 100.000 habitantes, 79 estavam</p><p>privados de liberdade. Em 2023, 30 anos depois, o número de encar-</p><p>cerados alcançou 319 para cada 100.000 habitantes (SISDEPEN, 2023).</p><p>Fonte: Fórum Brasileiro de</p><p>Segurança Pública (2023).</p><p>David Garland.</p><p>Foto: The British Academy.</p><p>Verbete</p><p>Encarceramento em massa: refere-se</p><p>à atual experiência estadunidense de</p><p>encarceramento, que é definida por</p><p>taxas de encarceramento comparativas</p><p>e historicamente extremas e pela</p><p>concentração desproporcional de</p><p>homens negros, jovens e pobres entre</p><p>aqueles que permanecem encarcerados.</p><p>Fonte: Wildeman (2012).</p><p>Mortes associadas à polícia em 2022 no Brasil</p><p>6.429 mortes por intervenção policial</p><p>13,5% das Mortes Violentas Intencionais (MVI)</p><p>161 policiais civis e militares assassinados, em serviço ou de folga</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>105</p><p>| POPULAÇÃO PRISIONAL NO BRASIL EM 2023</p><p>POPULAÇÃO PRISIONAL 30/JUNHO 2023 TOTAL</p><p>Presos em celas físicas</p><p>Estadual 644.305</p><p>649.592</p><p>Federal 489</p><p>Presos em carceragens de Polícia Civil, Polícia Militar,</p><p>Corpo de Bombeiros Militar e Polícia Federal</p><p>4.798</p><p>Pessoas em prisão</p><p>domiciliar</p><p>Com monitoramento</p><p>eletrônico</p><p>92.894</p><p>190.080</p><p>Sem monitoramento</p><p>eletrônico</p><p>97.186</p><p>Fonte: Adaptado de SISDEPEN (2023). Apesar da criação de diversas unidades prisionais nos últimos anos,</p><p>as vagas existentes não são suficientes para atender a toda essa po-</p><p>pulação prisional. Somente em 2023, o déficit de vagas foi de 166.7</p><p>mil vagas (SISDEPEN, 2023). Em consequência disso, a maioria das</p><p>prisões brasileiras está superlotada e em condições inadequadas.</p><p>Ao mesmo tempo que o país encarcera um número cada vez maior</p><p>de pessoas, existe na sociedade brasileira um forte sentimento de</p><p>impunidade, sustentado por percepções amplamente compartilhadas,</p><p>tais como: “a polícia prende, a Justiça solta”, “no Brasil o crime</p><p>compensa”, entre outras.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>106</p><p>Para pensar</p><p>O que os estudos realizados no país têm demonstrado é que</p><p>as taxas de impunidade são mais elevadas para os crimes</p><p>violentos, que são os que demandam maiores esforços de</p><p>investigação. Nesse sentido, os crimes que são registrados</p><p>em flagrante possuem maiores chances de seguirem o fluxo</p><p>processual até a condenação.</p><p>É possível identificar esse padrão quando se observam os tipos penais</p><p>que mais encarceram no Brasil, que são os crimes contra o patrimônio</p><p>ou os associados à Lei de Drogas, especialmente o tráfico.</p><p>| PRINCIPAIS INCIDÊNCIAS IDENTIFICADAS ENTRE A POPULAÇÃO PRESA EM 2023</p><p>Total de incidências registradas</p><p>682.265</p><p>Contra o</p><p>patrimônio</p><p>272.437</p><p>Lei de Drogas</p><p>193.001</p><p>Contra a pessoa</p><p>110.258</p><p>Contra a dignidade</p><p>sexual</p><p>41.314</p><p>Contra a fé</p><p>pública</p><p>4.412</p><p>Lei Código de</p><p>Trânsito Brasileiro</p><p>3.156</p><p>Contra o meio</p><p>ambiente</p><p>326</p><p>Genocídio</p><p>24</p><p>Estatuto do</p><p>Desarmamento</p><p>31.392</p><p>Contra a paz</p><p>pública</p><p>12.038</p><p>Lei Estatuto</p><p>da Criança e do</p><p>Adolescente</p><p>11.081</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>39,93%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>28,29%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>16,16%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>6,06%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>0,65%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>0,46%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>0,05%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>0,00%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>4,60%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>1,76%</p><p>% do total de</p><p>incidências</p><p>1,62%</p><p>Fonte: Adaptado de SISDEPEN (2023).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>107</p><p>3.4 Ascensão dos grupos criminosos</p><p>organizados</p><p>A partir das décadas de 1970 e 1980 novos desafios começam a surgir</p><p>no campo da segurança pública, com o crescimento de facções cri-</p><p>minosas que se articulam principalmente em torno do narcotráfico.</p><p>A explicação para o surgimento e as dinâmicas de funcionamento</p><p>dessas facções é complexa e já há uma ampla literatura sobre esse</p><p>tema que você pode consultar, como Zaluar (1994), Fraga (2010),</p><p>Feltran (2018), Misse (2023), entre outros.</p><p>Um ponto em comum de todas as pesquisas é a</p><p>observação de que a origem dessas facções, pelo menos</p><p>das duas mais conhecidas, foi o sistema prisional.</p><p>O Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando</p><p>da Capital (PCC), em São Paulo, se constituíram a partir dos presídios,</p><p>tanto como uma maneira de gerir de maneira mais eficaz a convi-</p><p>vência entre os encarcerados quanto como uma forma de reivindicar</p><p>melhores condições nas prisões.</p><p>Ao mesmo tempo, essa percepção de impunidade tem sido bastante</p><p>danosa para nossa sociedade. Ela tem como reflexo o descrédito na</p><p>legitimidade e na eficácia das instituições em lidarem com o crime,</p><p>o que pode gerar não apenas falta de cooperação com as instituições</p><p>policiais</p><p>e judiciais mas também o incremento de mecanismos pri-</p><p>vados de segurança ou de gestão de conflitos.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>A percepção de impunidade penal na população e a sua</p><p>relação com o funcionamento do fluxo do sistema de</p><p>segurança pública e justiça criminal tem sido objeto de</p><p>pesquisa na área da segurança pública. Na matéria intitulada</p><p>“A justiça da impunidade”, publicada pela Revista FAPESP,</p><p>você poderá conhecer de forma sintética alguns dos resultados</p><p>de pesquisa sobre esse tema, disponível em:</p><p>https://revistapesquisa.fapesp.br/a-justica-da-impunidade/.</p><p>https://revistapesquisa.fapesp.br/a-justica-da-impunidade/</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>108</p><p>Foto: © [Gláucio Dettmar] | Ag. CNJ/</p><p>Senado Notícias.</p><p>Os encarcerados, oriundos predominantemente dos estratos mais</p><p>pobres, encontram, nos presídios, uma condição de vida extremamente</p><p>precária. Entretanto, o crescente recrutamento, desde os anos 1970,</p><p>de jovens pobres pelo lucrativo mercado do narcotráfico está relacio-</p><p>nado às poucas oportunidades para um contingente pobre, com baixa</p><p>escolaridade e socialmente discriminado. O sociólogo Michel Misse</p><p>denominou esse processo social de “acumulação social da violência”.</p><p>Aponte a câmera</p><p>do seu dispositivo</p><p>móvel (smartphone</p><p>ou tablet) para o</p><p>QR Code ao lado</p><p>e assista ao vídeo</p><p>sobre a acumulação</p><p>social da violência.</p><p>VÍDEO</p><p>É como se alguns fatores sociais se alimentassem</p><p>reciprocamente em uma causação circular acumulativa,</p><p>gerando, de um lado, acumulação de desvantagens para um</p><p>segmento da população e, de outro, estratégias aquisitivas</p><p>partilhadas tanto por agentes criminais quanto por agentes</p><p>encarregados de reprimi-los, de um modo que ganhou</p><p>diferentes graus de legitimação em importantes camadas da</p><p>sociedade mais abrangente.</p><p>Misse, 2010, p. 18</p><p>https://youtu.be/HDuJbz0gj44</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>109</p><p>Os grupos criminosos organizados exploram a venda de merca-</p><p>dorias ilegais, tais como jogos de azar, armas, drogas e proteção.</p><p>Para comercializar essas mercadorias ilegalmente, é necessária uma</p><p>complexa rede de divisão de tarefas, conhecimento das estruturas</p><p>de poder, amplo emprego de mão de obra e acordos ilegais com</p><p>agentes públicos, entre outros. Além disso, conforme apontam</p><p>Jacqueline Muniz e Camila Dias (2022), por vezes a regulação desse</p><p>mercado envolve a construção violenta de monopólios, como uma</p><p>tentativa de eliminar disputas e concorrências. Essa violência recai</p><p>principalmente nos moradores das áreas que estão diariamente</p><p>sujeitos ao exercício desses poderes e suas consequentes disputas,</p><p>inclusive com as forças policiais.</p><p>Em um país no qual os grupos criminosos se proliferam e diver-</p><p>sificam sua atuação, adotando novas práticas, comercializando</p><p>novas mercadorias ilegais e complexificando suas redes de poder,</p><p>encontrar formas de desestruturá-los é uma tarefa urgente para</p><p>as políticas de segurança pública e justiça criminal.</p><p>Jaqueline Muniz.</p><p>Foto: © [Analice Paron] | Agência O Globo.</p><p>Camila Dias.</p><p>Foto: NEV/USP.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de animação a</p><p>respeito desses</p><p>grupos!</p><p>VÍDEO</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Para saber mais sobre as facções criminosas, confira</p><p>a edição especial do Anuário Brasileiro de Segurança</p><p>Pública de 2022, que apresenta um mapeamento das</p><p>facções ligadas ao narcotráfico com uma lista de 53 delas</p><p>espalhadas por todo o país. Confira o mapa na página 11,</p><p>disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/</p><p>uploads/2022/07/anuario-2022-ed-especial.pdf.</p><p>https://youtu.be/JslvoSq74h4</p><p>https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/07/anuario-2022-ed-especial.pdf</p><p>https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/07/anuario-2022-ed-especial.pdf</p><p>MÓDULO 3</p><p>UNIDADE 4</p><p>OS IMPACTOS DA LEI DE DROGAS NO BRASIL</p><p>SOBRE A SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>111</p><p>UNIDADE 4</p><p>OS IMPACTOS DA LEI DE DROGAS NO</p><p>BRASIL SOBRE A SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Quando analisamos os impactos da Lei de Drogas sobre a segurança</p><p>pública brasileira, percebemos a reprodução de diversos desafios</p><p>apontados na unidade anterior.</p><p>Uma pesquisa realizada em 2023 pelo IPEA e pela SENAD demons-</p><p>trou que, nos tribunais estaduais, 84% dos processos por tráfico</p><p>de drogas não tiveram origem em investigações anteriores ao fla-</p><p>grante, diferente do que ocorre nos tribunais federais, onde cerca de</p><p>44% dos inquéritos mencionam atividades investigativas pretéritas.</p><p>Esses resultados reforçam o ponto que debatemos nas unidades an-</p><p>teriores, que é a preponderância da prisão em flagrante nos crimes</p><p>associados ao tráfico de drogas.</p><p>A mesma pesquisa também demonstrou que as Polícias Militares</p><p>foram as forças que realizaram o maior número de flagrantes. Embora</p><p>prisões em flagrante também possam ser realizadas pela Polícia Civil</p><p>por meio de processos investigativos, para os autores, esse resultado</p><p>aponta como o modelo de policiamento ostensivo realizado pela Polícia</p><p>Militar é o que predomina no enfrentamento ao tráfico de drogas.</p><p>| CONDIÇÃO PROFISSIONAL DOS AGENTES RESPONSÁVEIS PELA ABORDAGEM</p><p>OU PELO FLAGRANTE DOS RÉUS – TJS</p><p>Registro Número de processos</p><p>individuais (%)</p><p>Policial militar 26.885 76,8</p><p>Policial civil 6.673 19,1</p><p>Agente penitenciário 1.202 3,4</p><p>Policial rodoviário federal 657 1,9</p><p>Guarda municipal 556 1,6</p><p>Verbete</p><p>Prisão em flagrante: prisão</p><p>realizada quando o ilícito penal está</p><p>sendo praticado ou logo depois.</p><p>Por ser a única hipótese de prisão</p><p>realizada sem mandado judicial,</p><p>toda a documentação é produzida na</p><p>delegacia de polícia (IDDD, 2013).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>112</p><p>Registro Número de processos</p><p>individuais (%)</p><p>Policial federal 325 0,9</p><p>Outros 137 0,4</p><p>Militar (outras forças) 36 0,1</p><p>Segurança privado 29 0,1</p><p>Agente socioeducativo 13 0,0</p><p>Fonte: Adaptado de IPEA (2023).</p><p>Outras pesquisas também têm demonstrado não apenas a centralidade</p><p>do trabalho dos policiais militares nos flagrantes de drogas, mas ainda a</p><p>preponderância da narrativa policial nesses processos. Um desses traba-</p><p>lhos foi realizado pela socióloga Maria Gorete Marques de Jesus (2018),</p><p>que analisou os indícios considerados pelos policiais para categorizar</p><p>um caso como tráfico.</p><p>Ela apontou que, diferente de outros crimes, como roubos ou furtos,</p><p>no caso do tráfico de drogas não existe uma pessoa vítima e, portanto,</p><p>as principais testemunhas são os próprios policiais que participaram</p><p>da prisão. Para a autora:</p><p>Maria Gorete Marques de Jesus.</p><p>Foto: Foto: NEV / USP.</p><p>A definição do flagrante vai depender da descrição</p><p>e da classificação realizada pelos policiais. Os fatos</p><p>serão concebidos como um flagrante tendo como base</p><p>aquilo que será narrado pelos policiais. São eles que</p><p>vão dizer se a droga pertencia ou não à pessoa suspeita,</p><p>se a viram vendendo, se houve ‘confissão informal’,</p><p>se viram a pessoa descartando a droga, entre outras</p><p>narrativas consideradas relevantes para o caso ser</p><p>recepcionado como um flagrante de drogas.</p><p>Jesus, 2018, p. 81</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>113</p><p>A partir de entrevistas, a autora destacou elementos que os policiais</p><p>consideram relevantes para classificar os casos como uso ou tráfico.</p><p>Veja alguns a seguir.</p><p>Tipos de drogas apreendidas</p><p>Presença/ausência de dinheiro</p><p>Antecedentes criminais</p><p>Local do flagrante</p><p>Quantidade da droga apreendida</p><p>A forma como a droga está dividida</p><p>| ELEMENTOS UTILIZADOS PELOS POLICIAIS PARA</p><p>CLASSIFICAÇÃO DE UM CASO COMO TRÁFICO</p><p>Fonte: Adaptado de Jesus (2018).</p><p>A pesquisa da autora demonstra ainda como os fatos apontados pela</p><p>Polícia Militar no momento do flagrante e reproduzidos pela Polícia</p><p>Civil na elaboração do inquérito policial</p><p>graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de</p><p>Janeiro (IFCS/UFRJ-2003), mestrado em Antropologia pela Universidade</p><p>Federal Fluminense (PPGA/UFF-2007), doutorado em Antropologia pela</p><p>mesma universidade (PPGA/UFF-2013), com bolsa-sanduíche na Univer-</p><p>sity of California, Hastings College of the Law/EUA (CAPES/2011-2012).</p><p>É professor adjunto de Antropologia no Departamento de Segurança</p><p>Pública do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança e do</p><p>Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito, na Universidade</p><p>Federal Fluminense. É pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de</p><p>Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Admi-</p><p>nistração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF). Tem experiência na área de</p><p>Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: consumo</p><p>de drogas e sistema de justiça criminal.</p><p>Possui graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura)</p><p>pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Antropologia</p><p>pelo mesmo programa, especialização em Políticas Públicas de Justiça</p><p>Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense</p><p>e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da</p><p>Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associado ao Instituto</p><p>de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos</p><p>(INCT-InEAC), onde coordena o subprojeto Laboratório de Iniciação</p><p>Acadêmica em Administração de Conflitos (LABIAC). Áreas de in-</p><p>teresse: conflitos relacionados às “drogas” (lícitas e ilícitas) e seus</p><p>usos, mercados, produção e repressão; antropologia visual; e estudos</p><p>de manifestações artísticas e culturais construídas por grupos sociais</p><p>mais ou menos definidos.</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São</p><p>Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP (2019-</p><p>2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos</p><p>(IESP-UERJ). Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS- UERJ. Graduada</p><p>em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ). Pesquisa-</p><p>dora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Sui-</p><p>cídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências Sociais</p><p>(DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela CAPES no</p><p>Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford e Bolsa</p><p>de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP) na Universidade de</p><p>Bradford. Tem experiência com pesquisas quantitativas e qualitativas,</p><p>especialmente com ênfase em violência e segurança pública, atuando</p><p>principalmente nos seguintes temas: qualidade de vida do trabalho</p><p>policial, suicídio policial, política de drogas e funcionamento das ins-</p><p>tituições policiais e judiciais.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>15</p><p>Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade</p><p>Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social</p><p>pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har-</p><p>vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir-</p><p>mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em</p><p>Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal</p><p>Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa</p><p>de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA),</p><p>professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia</p><p>e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi-</p><p>dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira</p><p>de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do</p><p>Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica, com</p><p>ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Política,</p><p>Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades.</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>16</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Olá, cursista!</p><p>Bem-vindo(a) ao nosso primeiro módulo do curso COMPASSO - Curso</p><p>sobre Políticas de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais.</p><p>O termo “drogas” não tem uma definição clara e objetiva. O seu sig-</p><p>nificado depende do contexto social em que é utilizado, bem como da</p><p>área de conhecimento que o mobiliza. Neste módulo, apresentaremos</p><p>uma abordagem para o tema das drogas a partir da perspectiva das</p><p>ciências sociais. Introduziremos alguns dos modelos de regulamen-</p><p>tação que têm sido adotados para lidar com o tema; e começaremos</p><p>a discutir os processos sócio-históricos que contribuíram para a</p><p>proibição do uso, da produção e da comercialização de uma série de</p><p>substâncias em diversos países do mundo.</p><p>Para aprofundar sua compreensão sobre a temática do curso, conforme</p><p>apresentado no vídeo de ambientação e funcionamento do curso,</p><p>utilize o “Glossário de termos sobre drogas”, que foi desenvolvido e</p><p>publicado por meio de uma cooperação internacional entre o Centro</p><p>de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário</p><p>(CDESC) e o Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos</p><p>(SIMCI – Colômbia) com o objetivo de padronizar termos e promover</p><p>um melhor entendimento de conceitos relacionados às drogas.</p><p>O CDESC é uma parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas</p><p>sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD) do Ministério da Justiça</p><p>e Segurança Pública do Brasil, o Programa das Nações Unidas para</p><p>o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório das Nações Unidas sobr</p><p>Drogas e Crime (UNODC).</p><p>Esse glossário está disponível em formato PDF no Ambiente Virtual</p><p>de Aprendizagem, no menu lateral de todos os módulos do curso,</p><p>denominado GLOSSÁRIO GERAL.</p><p>OBJETIVOS DO MÓDULO</p><p>z Permitir aos cursistas a compreensão crítica do conceito de</p><p>“drogas” na contemporaneidade e suas implicações.</p><p>z Abordar a diferenciação entre formulações obtidas</p><p>a partir do senso comum e aquelas construídas a partir</p><p>de método científico.</p><p>z Explicar a diferenciação entre a enunciação de problemas</p><p>sociais e a formulação de perspectivas analíticas.</p><p>z Apresentar os aspectos históricos mais relevantes sobre o</p><p>tema das drogas e das políticas sobre drogas.</p><p>MÓDULO 1</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de apresentação</p><p>do módulo!</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/AaI6OeZVH2I</p><p>MÓDULO 1</p><p>UNIDADE 1</p><p>AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>18</p><p>UNIDADE 1</p><p>AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL</p><p>Antes de tudo, vamos começar este curso com uma pergunta simples:</p><p>você sabe o que são drogas? Apesar de ser simples, a resposta a essa</p><p>pergunta é complexa, porque a definição de drogas depende de uma</p><p>série de fatores. Por exemplo, podemos, em uma primeira abor-</p><p>dagem, pensar as drogas do ponto de vista farmacológico e, portanto,</p><p>defini-las como substâncias que podem afetar o funcionamento de</p><p>um organismo. As drogas especificamente psicoativas podem ser</p><p>classificadas em grupos a partir dos efeitos que elas podem gerar</p><p>no funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), conforme</p><p>apresentado a seguir.</p><p>Diminuem a velocidade das mensagens que viajam</p><p>entre o cérebro e o corpo. Eles podem reduzir</p><p>a excitação e a estimulação, fazendo com que a pessoa</p><p>se sinta relaxada ou sonolenta.</p><p>Depressoras/sedativas</p><p>Aceleram as mensagens que viajam entre o cérebro e o</p><p>corpo. Elas podem fazer com que a pessoa se sinta mais</p><p>desperta, alerta, confiante ou enérgica.</p><p>Estimulantes</p><p>Afetam todos os sentidos, alterando o pensamento,</p><p>a percepção do tempo e as emoções de uma pessoa.</p><p>Também podem fazer com que a pessoa tenha</p><p>alucinações, veja ou ouça coisas que não existem</p><p>ou que estejam distorcidas.</p><p>Psicodélicas</p><p>Há controvérsias a respeito de uma quarta classificação, a dos pertur-</p><p>badores, que se refere notadamente aos canabinoides e que, embora</p><p>próximas dos psicodélicos, têm efeitos associados às outras três</p><p>classificações. Resumidamente, elas podem fazer com</p><p>costumam ser as únicas ou</p><p>as principais provas utilizadas tanto na fase investigativa quanto na</p><p>fase judicial dos processos de tráfico de drogas.</p><p>Outro tema recorrentemente associado à Lei de Drogas é o seu papel</p><p>no aumento do encarceramento no país. Apesar de a mudança na</p><p>lei, em 2006, ter como foco a retirada da pena de prisão para os</p><p>usuários, ela também redundou no aumento das prisões por trá-</p><p>fico de drogas. Conforme aponta Rodrigues (2012) com dados da</p><p>época advindos do Ministério da Justiça, em junho de 2007, no pri-</p><p>meiro ano de aplicação da lei, havia 63.269 pessoas cumprindo pena</p><p>por crimes relacionados ao tráfico de drogas. Quatro anos depois,</p><p>em junho de 2011, esse número saltou para 117.143. Outro levantamento</p><p>realizado pelo G1, em 2017, apontou uma trajetória de crescimento</p><p>das prisões por tráfico de drogas.</p><p>Aponte a câmera</p><p>do seu dispositivo</p><p>móvel (smartphone</p><p>ou tablet) para o</p><p>QR Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo de</p><p>animação sobre a</p><p>relação da polícia</p><p>e a classificação de</p><p>casos como tráfico.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/lEmUen3qnFk</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>114</p><p>Fonte: Adaptado de Portal G1 (2017).</p><p>Presos por tráfico de drogas</p><p>2005 2006</p><p>45.133</p><p>62.494</p><p>100.648</p><p>138.366</p><p>182.779*</p><p>2007 2010 2013 2017</p><p>Entrada em vigor</p><p>da Lei de Drogas</p><p>out.2006</p><p>representam</p><p>32,6%</p><p>dos presos</p><p>no país</p><p>31.520</p><p>representam</p><p>8,7%</p><p>dos presos</p><p>no país</p><p>*Sem dados de AL, BA, PE, PI e RJ</p><p>Apesar do aumento das prisões por tráfico de drogas, o que as pesquisas</p><p>realizadas em distintos contextos brasileiros têm demonstrado é que</p><p>as prisões em flagrante têm atingido mais os pequenos traficantes.</p><p>PODCAST TRANSCRITO</p><p>Esses pequenos traficantes portavam quantidade relativamente</p><p>pequena de drogas e não estavam armados (Boiteux et al.,</p><p>2009; Jesus et al., 2011). Ou seja, a maior parte das penas</p><p>de prisão por tráfico de drogas não atinge diretamente o</p><p>funcionamento desse mercado, nem a disponibilidade de drogas</p><p>ilegais, haja vista a substituição imediata dessas pessoas na</p><p>cadeia de distribuição.</p><p>Além disso, essas pesquisas apontam que determinadas</p><p>características podem aumentar a chance de os indivíduos serem</p><p>categorizados como traficantes, entre elas, se o local onde</p><p>foi realizado o flagrante é considerado uma área de venda de</p><p>drogas, a cor da pele do suspeito e o nível de escolaridade, entre</p><p>outras. Esse resultado sugere a reprodução de uma seletividade</p><p>específica nos processos por tráfico de drogas, composto</p><p>principalmente por jovens, pobres, negros e moradores de áreas</p><p>periféricas (Jesus, 2018).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 3 - As políticas de drogas no Brasil e as políticas de segurança pública</p><p>115</p><p>Outro reflexo da lei apontado por pesquisadores está relacionado à</p><p>atuação dos policiais no decorrer de um flagrante, especialmente</p><p>em casos de uso de drogas. Se, por um lado, os operadores do Judi-</p><p>ciário recuaram sua atuação em relação ao “uso e posse” de drogas;</p><p>por outro, os de segurança pública, em seu trabalho cotidiano de</p><p>abordagens na rua, tornaram-se os principais atores na administração</p><p>dessas infrações. Nesse sentido, se intensificaram as negociações</p><p>informais dos encaminhamentos ou não de usuários e usuárias para</p><p>as delegacias (Grillo; Policarpo; Verissimo, 2011).</p><p>Em síntese, podemos concluir que o tráfico de drogas, não obstante</p><p>responda por parte considerável do crescente encarceramento, con-</p><p>tinua sendo um dos principais problemas de segurança pública no</p><p>Brasil, inclusive pelo fato de reproduzir, ou mesmo agravar, condições</p><p>estruturalmente desiguais de nossa sociedade.</p><p>Veja a seguir os principais pontos abordados neste módulo.</p><p>Aponte a câmera</p><p>do seu dispositivo</p><p>móvel (smartphone</p><p>ou tablet) para</p><p>o QR Code ao</p><p>lado e assista ao</p><p>vídeo sobre as</p><p>consequências da Lei</p><p>de Drogas na prática.</p><p>VÍDEO</p><p>SÍNTESE DO MÓDULO</p><p>Ao longo deste módulo, pudemos perceber como o</p><p>funcionamento do sistema de segurança pública e</p><p>justiça criminal do país está diretamente relacionado</p><p>à aplicação da lei nos crimes relacionados às drogas.</p><p>Vimos, ainda, como as disputas em torno do mercado</p><p>ilegal de drogas no país têm gerado ou agravado uma</p><p>série de desafios.</p><p>Em relação à atual Lei de Drogas, verificamos como a</p><p>distinção absoluta entre a conduta de “uso e posse”</p><p>e a do “tráfico” de drogas – a primeira sem pena</p><p>de prisão, e a segunda com penas entre as mais</p><p>graves previstas no Código Penal – aprofundou um</p><p>viés desigual na aplicação da lei. Houve redução no</p><p>número de pessoas “enquadradas” como “usuários”,</p><p>mas, ao mesmo tempo, houve aumento do percentual</p><p>do crime de “tráfico” em relação ao total da</p><p>população carcerária, com grande impacto na política</p><p>penitenciária brasileira. Entre os fatores que explicam</p><p>a desigualdade na aplicação da Lei de Drogas, deve-</p><p>se considerar o importante viés racial do sistema de</p><p>segurança pública e justiça criminal brasileiro,</p><p>já apontado por diversos estudos.</p><p>Você finalizou o Módulo 3!</p><p>No próximo módulo apresentaremos a estrutura governamental</p><p>responsável pela coordenação das políticas sobre drogas no Brasil.</p><p>https://youtu.be/9lTzZ7RxmcM</p><p>116</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BOITEUX, L. WIECKO, E.; VARGAS, B.; BATISTA, V. O.; PRADO, G. M.</p><p>Tráfico de drogas e Constituição. Brasília: Ministério da Justiça, 2009.</p><p>(Série Pensando o Direito n. 1).</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa</p><p>do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 2021. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.</p><p>Acesso em: 2 ago. 2023.</p><p>BRASIL. Emenda Constitucional n° 104, de 4 de dezembro de 2019.</p><p>Altera o inciso XIV do caput do art. 21, o § 4º do art. 32 e o art. 144 da</p><p>Constituição Federal, para criar as polícias penais federal, estaduais e</p><p>distrital. Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível em:</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/</p><p>emc104.htm. Acesso em: 2 ago. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução</p><p>Penal. Brasília, DF: Presidência da República, 1984. Disponível em:</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210.htm. Acesso em: 6</p><p>de jul. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Na-</p><p>cional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD; prescreve medidas</p><p>para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários</p><p>e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção</p><p>não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras</p><p>providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Disponível</p><p>em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/</p><p>L11343.htm. Acesso em: 2 ago. 2023.</p><p>CAMPOS, M. da S. Pela metade: a Lei de Drogas no Brasil. São Paulo:</p><p>Annablume, 2019.</p><p>FELTRAN, G. Irmãos: uma história do PCC. São Paulo: Companhia das</p><p>Letras, 2018.</p><p>FRAGA, P. C. P. (org.). Crimes, Drogas e Políticas. Ilhéus: Editora UESC,</p><p>2010.</p><p>FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP). 17º Anuário Bra-</p><p>sileiro de Segurança Pública. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança</p><p>Pública, 2023. Disponível em: https://publicacoes.forumseguranca.org.</p><p>br/items/721e3396-1a66-4ff6-8ceb-ea319684a57a. Acesso em: 1º fev.</p><p>2024.</p><p>GRILLO, C. C.; POLICARPO, F.; VERISSIMO, Marcos. A “dura” e o “desen-</p><p>rolo”: efeitos práticos da nova Lei de Drogas no Rio de Janeiro. Revista</p><p>Sociologia Política, v. 19, n. 40, 135-148, 2011.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc104.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc104.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm</p><p>https://publicacoes.forumseguranca.org.br/items/721e3396-1a66-4ff6-8ceb-ea319684a57a</p><p>https://publicacoes.forumseguranca.org.br/items/721e3396-1a66-4ff6-8ceb-ea319684a57a</p><p>117</p><p>INSTITUTO DE DEFESA DO DIREITO DE DEFESA (IDDD). Direito Penal</p><p>para jornalistas: material de apoio para a cobertura de casos criminais.</p><p>São Paulo: IBICCRIM; IDDD, 2013. Disponível em: https://www.iddd.org.</p><p>br/wp-content/uploads/2014/03/OlharCritico_Guia_16_04_comCapa.</p><p>pdf. Acesso em: 19 jan. 2024.</p><p>INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Perfil do</p><p>processado e produção de provas nas ações criminais por tráfico de</p><p>drogas: relatório analítico nacional dos tribunais estaduais de justiça</p><p>comum. Brasília, DF: IPEA, 2023. 107. p. Disponível em: https://reposi-</p><p>torio.ipea.gov.br/bitstream/11058/12376/1/RI_Perfil_producao_provas.</p><p>pdf. Acesso em: 12 fev. 2024.</p><p>GARLAND, D. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade</p><p>contemporânea. Rio de Janeiro: Revan, 2017.</p><p>JESUS, M. G. M. A verdade jurídica nos processos de tráfico de drogas.</p><p>Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018.</p><p>JESUS, M. G. M.; OI, A. H.; ROCHA, T. T.; LAGATTA, P. Prisão provisória</p><p>e Lei de Drogas: um estudo sobre os flagrantes de tráfico de drogas na</p><p>cidade de São Paulo. São Paulo: Núcleo de Estudos da Violência, 2011.</p><p>Disponível em: https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2015/01/</p><p>down254.pdf. Acesso em: 28 fev. 2024.</p><p>JESUS, M. G. M.; CRUZ, F. N. Conflitos e confluências entre a polícia e</p><p>o Judiciário nos estudos publicados entre 2011 e 2021. Dilemas, Rio de</p><p>Janeiro, v. 15, n. 3, p. 999-1019, 2022.</p><p>KANT DE LIMA, R. Entre as leis e as normas: éticas corporativas e prá-</p><p>ticas profissionais na segurança pública e na justiça criminal. Dilemas,</p><p>Rio de Janeiro, v. 6, n. 3, p. 549-580, out./dez., 2013.</p><p>LEEDS, E. Cocaína e poderes paralelos na periferia urbana brasileira:</p><p>ameaças à democratização em nível local. In: ZALUAR, A.; ALVITO, M.</p><p>Um século de favela. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1998.</p><p>MACIEL, N. C. A. A criminalização da favela por meio da categoria</p><p>“lugar da ação” em sentenças de crimes da Lei de Drogas no Rio de</p><p>Janeiro. Revista da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, v. 4, n. 4,</p><p>p. 63-86, out. 2020 .</p><p>MISSE, M. Crime, sujeito e sujeição criminal. Aspectos de uma contri-</p><p>buição analítica sobre a categoria bandido. Lua Nova, v. 79, p. 15-38, 2010.</p><p>MISSE, M. Malandros, marginais e vagabundos: a acumulação social</p><p>da violência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FAPERJ/Lamparina, 2023.</p><p>MUNIZ, J.; DIAS, C. Domínios armados e seus governos criminais: uma</p><p>abordagem não fantasmagórica do “crime organizado”. Revista Novos</p><p>Estudos, v. 36, n. 105, p.131-152, 2022.</p><p>RIBEIRO, L.; OLIVEIRA, V.; DINIZ, A. M. A. Are the Brazilian Police Forces</p><p>Lethal Weapons? In: FARMER, C.; EVANS, R. Policing & Firearms. Swit-</p><p>zerland: Springer, 2023. p. 33-56.</p><p>https://www.iddd.org.br/wp-content/uploads/2014/03/OlharCritico_Guia_16_04_comCapa.pdf</p><p>https://www.iddd.org.br/wp-content/uploads/2014/03/OlharCritico_Guia_16_04_comCapa.pdf</p><p>https://www.iddd.org.br/wp-content/uploads/2014/03/OlharCritico_Guia_16_04_comCapa.pdf</p><p>https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/12376/1/RI_Perfil_producao_provas.pdf</p><p>https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/12376/1/RI_Perfil_producao_provas.pdf</p><p>https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/12376/1/RI_Perfil_producao_provas.pdf</p><p>https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2015/01/down254.pdf</p><p>https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2015/01/down254.pdf</p><p>118</p><p>RODRIGUES, T. Narcotráfico: uma guerra na guerra. São Paulo:</p><p>Desatino, 2012.</p><p>SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS PENAIS (SENAPPEN ). Brasília,</p><p>DF, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/senappen/pt-br . Acesso</p><p>em: 6 jul. 2023.</p><p>SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO SISTEMA PENITENCIÁRIO (SISDEPEN).</p><p>Brasília, DF, 2023. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrI-</p><p>joiMDY2ODEzOTgtYmJlMy00ZmVkLWIwMTEtMTJjZDQwZWRlYjdhIiwi-</p><p>dCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZ-</p><p>ThlMSJ9. Acesso em: 13 mar. 2024.</p><p>SOARES, L. E. Desmilitarizar: segurança pública e direitos humanos.</p><p>São Paulo: Boitempo, 2019.</p><p>SOARES, M. K.; MACIEL, N. C. A. A questão racial nos processos criminais</p><p>por tráfico de drogas dos tribunais estaduais de justiça comum: uma</p><p>análise exploratória. Brasília, DF: IPEA, 2023. (DIEST: Nota Técnica, 61).</p><p>THEODORO, R.; PICCIRILLO, D.; GOMES, A. M. (org.). A experiência</p><p>precoce e racializada com a polícia: contatos de adolescentes com as</p><p>abordagens, o uso abusivo da força e a violência policial no município</p><p>de São Paulo (2016 – 2019). São Paulo: FFLCH; NEV, 2023. Disponível</p><p>em: https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2023/06/relatorio-S-</p><p>PLSS-abordagem-digital.pdf. Acesso em: 19 jan. 2024.</p><p>UNODC. Global Study on Homicide 2023. Nova Yorque: Nações Unidas,</p><p>2023. Disponível em: https://www.unodc.org/documents/data-and-a-</p><p>nalysis/gsh/2023/Global_study_on_homicide_2023_web.pdf. Acesso</p><p>em: 19 jan. 2024.</p><p>ZALUAR, A. Condomínio do diabo. Rio de Janeiro: Editora Revan; Ed.</p><p>UFRJ, 1994.</p><p>WILDEMAN, C. Mass Incarceration. In: Oxford Bibliographies. 2012.</p><p>Disponível em: https://www.oxfordbibliographies.com/display/docu-</p><p>ment/obo-9780195396607/obo-9780195396607-0033.xml. Acesso</p><p>em: 12 mar. 2024.</p><p>https://www.gov.br/senappen/pt-br</p><p>https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDY2ODEzOTgtYmJlMy00ZmVkLWIwMTEtMTJjZDQwZWRlYjdhIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9</p><p>https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDY2ODEzOTgtYmJlMy00ZmVkLWIwMTEtMTJjZDQwZWRlYjdhIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9</p><p>https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDY2ODEzOTgtYmJlMy00ZmVkLWIwMTEtMTJjZDQwZWRlYjdhIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9</p><p>https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDY2ODEzOTgtYmJlMy00ZmVkLWIwMTEtMTJjZDQwZWRlYjdhIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9</p><p>https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2023/06/relatorio-SPLSS-abordagem-digital.pdf</p><p>https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2023/06/relatorio-SPLSS-abordagem-digital.pdf</p><p>https://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/gsh/2023/Global_study_on_homicide_2023_web.pdf</p><p>https://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/gsh/2023/Global_study_on_homicide_2023_web.pdf</p><p>https://www.oxfordbibliographies.com/display/document/obo-9780195396607/obo-9780195396607-0033.xml</p><p>https://www.oxfordbibliographies.com/display/document/obo-9780195396607/obo-9780195396607-0033.xml</p><p>M I N I S T É R I O D A</p><p>J U S T I Ç A E</p><p>S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A</p><p>MÓDULO 4</p><p>O SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS</p><p>PÚBLICAS SOBRE DROGAS (SISNAD)</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>EXPEDIENTE</p><p>Todo o conteúdo do COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade:</p><p>perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do</p><p>Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons</p><p>Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional.</p><p>BY NC ND</p><p>GOVERNO FEDERAL</p><p>PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Luís Inácio Lula da Silva</p><p>MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Ricardo Lewandowski</p><p>SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO</p><p>DE ATIVOS</p><p>Marta Rodriguez de Assis Machado</p><p>DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES</p><p>Mauricio Fiore</p><p>COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA</p><p>Natália Neris da Silva Santos</p><p>COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO</p><p>BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS</p><p>Geórgia Belisário Mota</p><p>CONTEUDISTAS</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Mauricio Fiore</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>REVISÃO DE CONTEÚDO</p><p>Jessica Santos Figueiredo</p><p>Grazielle Teles de Araújo</p><p>APOIO</p><p>Brenda Juliana Silva</p><p>Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade</p><p>Luana Rodrigues Meneses de Sá</p><p>Maria Aparecida Alves Dias</p><p>UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA</p><p>COORDENAÇÃO GERAL</p><p>Luciano Patrício Souza de Castro</p><p>FINANCEIRO</p><p>Fernando Machado Wolf</p><p>SUPERVISÃO TÉCNICA EAD</p><p>Giovana</p><p>Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL</p><p>Francielli Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE MOODLE</p><p>Andreia Mara Fiala</p><p>SECRETARIA ADMINISTRATIVA</p><p>Elson Rodrigues Natario Junior</p><p>DESIGN INSTRUCIONAL</p><p>Supervisão: Milene Silva de Castro</p><p>Larissa Usanovich de Menezes</p><p>Sofia Santos Stahelin</p><p>DESIGN GRÁFICO</p><p>Supervisão: Sonia Trois</p><p>Cintia Ferreira de Souza</p><p>Eduardo Celestino</p><p>Giovana Aparecida dos Santos</p><p>Luana Pillmann de Barros</p><p>REVISÃO TEXTUAL</p><p>Cleusa Iracema Pereira Raimundo</p><p>PROGRAMAÇÃO</p><p>Supervisão: Alexandre Dal Fabbro</p><p>Luan Rodrigo Silva Costa</p><p>Luiz Eduardo Pizzinato</p><p>AUDIOVISUAL</p><p>Supervisão: Rafael Poletto Dutra</p><p>Andrei Krepsky de Melo</p><p>Julia Britos</p><p>Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira</p><p>Robner Domenici Esprocati</p><p>SUPERVISÃO TUTORIA</p><p>João Batista de Oliveira Júnior</p><p>Thaynara Gilli Tonolli</p><p>TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO</p><p>Alexandre Gava Menezes</p><p>André Fabiano Dyck</p><p>SIGLAS</p><p>ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária</p><p>CFM – Conselho Federal de Medicina</p><p>CONAD – Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>MJSP – Ministério da Justiça e Segurança Pública</p><p>OBID – Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas</p><p>ONG – Organização Não Governamental</p><p>PLANAD – Plano Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>PNAD – Política Nacional sobre Drogas</p><p>SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência</p><p>SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>e Gestão de Ativos</p><p>SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas</p><p>SUAS – Sistema Único de Assistência Social</p><p>SUS – Sistema Único de Saúde</p><p>SUSP – Sistema Único de Segurança Pública</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>123</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>CONTEUDISTAS DO MÓDULO</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de</p><p>Janeiro (IFCS/UFRJ-2003), mestrado em Antropologia pela Universidade</p><p>Federal Fluminense (PPGA/UFF-2007), doutorado em Antropologia pela</p><p>mesma universidade (PPGA/UFF-2013), com bolsa-sanduíche na Univer-</p><p>sity of California, Hastings College of the Law/EUA (CAPES/2011-2012).</p><p>É professor adjunto de Antropologia no Departamento de Segurança</p><p>Pública do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança e do</p><p>Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito, na Universidade</p><p>Federal Fluminense. É pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de</p><p>Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Admi-</p><p>nistração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF). Tem experiência na área de</p><p>Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: consumo</p><p>de drogas e sistema de justiça criminal.</p><p>Possui graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura)</p><p>pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Antropologia</p><p>pelo mesmo programa, especialização em Políticas Públicas de Justiça</p><p>Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense</p><p>e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da</p><p>Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associado ao Instituto</p><p>de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos</p><p>(INCT-InEAC), onde coordena o subprojeto Laboratório de Iniciação</p><p>Acadêmica em Administração de Conflitos (LABIAC). Áreas de in-</p><p>teresse: conflitos relacionados às “drogas” (lícitas e ilícitas) e seus</p><p>usos, mercados, produção e repressão; antropologia visual; e estudos</p><p>de manifestações artísticas e culturais construídas por grupos sociais</p><p>mais ou menos definidos.</p><p>Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São</p><p>Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP (2019-</p><p>2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos</p><p>(IESP-UERJ). Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS- UERJ. Graduada</p><p>em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ). Pesquisa-</p><p>dora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Sui-</p><p>cídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências Sociais</p><p>(DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela CAPES no</p><p>Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford e Bolsa</p><p>de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP) na Universidade de</p><p>Bradford. Tem experiência com pesquisas quantitativas e qualitativas,</p><p>especialmente com ênfase em violência e segurança pública, atuando</p><p>principalmente nos seguintes temas: qualidade de vida do trabalho</p><p>policial, suicídio policial, política de drogas e funcionamento das ins-</p><p>tituições policiais e judiciais.</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>124</p><p>Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade</p><p>Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social</p><p>pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har-</p><p>vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir-</p><p>mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em</p><p>Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal</p><p>Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa</p><p>de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA),</p><p>professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia</p><p>e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi-</p><p>dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira</p><p>de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do</p><p>Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica,</p><p>com ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Po-</p><p>lítica, Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades.</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>125</p><p>MÓDULO 4</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Olá, cursista!</p><p>Bem-vindo(a) ao quarto módulo.</p><p>Neste módulo apresentaremos a estrutura governamental responsável</p><p>pela coordenação das políticas sobre drogas no Brasil. Passaremos</p><p>pela estrutura vigente e pelo funcionamento do Sistema Nacional de</p><p>Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), do Conselho Nacional de</p><p>Políticas sobre Drogas (CONAD) e da Secretaria Nacional de Políticas</p><p>sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD) do Ministério da Justiça e</p><p>Segurança Pública (MJSP). Apresentaremos, ainda, o Plano Nacional</p><p>de Políticas sobre Drogas (PLANAD), vigente entre 2022 e 2027.</p><p>Em síntese, apresentaremos a estrutura normativa que tem orientado</p><p>a atuação governamental acerca das políticas sobre drogas no país.</p><p>Mais do que decorar siglas e decretos, esperamos que você, cursista,</p><p>identifique a forma com que alguns princípios, como a participação</p><p>intersetorial e a atenção e o respeito aos direitos humanos, passaram</p><p>a nortear as políticas brasileiras sobre drogas.</p><p>OBJETIVOS DO MÓDULO</p><p>z Apresentar a estrutura e os princípios normativos do Sistema</p><p>Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD).</p><p>z Descrever o funcionamento do CONAD e a participação dos</p><p>conselhos para a formulação de políticas públicas.</p><p>z Sintetizar os eixos de atuação previstos para a realização do</p><p>Plano Nacional de Políticas sobre Drogas.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de apresentação</p><p>do Módulo 4.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/mbBxnSo0NmM</p><p>MÓDULO 4</p><p>UNIDADE 1</p><p>O SISNAD E SUAS FINALIDADES</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>127</p><p>UNIDADE 1</p><p>O SISNAD E SUAS FINALIDADES</p><p>No módulo anterior, você iniciou seus estudos e reflexões a respeito</p><p>do funcionamento do sistema criminal brasileiro no que diz respeito</p><p>às drogas e foi apresentado a alguns problemas da aplicação da Lei</p><p>n° 11.343/2006, a atual Lei de Drogas.</p><p>Foi essa mesma lei que instituiu o Sistema Nacional de Políticas</p><p>Públicas sobre Drogas, o SISNAD, que será o nosso objeto de estudo</p><p>nesta unidade. Procuraremos responder, entre outras questões:</p><p>o que é o SISNAD? Quem o compõe? Quais são os seus princípios?</p><p>Qual a sua importância?</p><p>Até este momento do curso, já mencionamos</p><p>algumas vezes a com-</p><p>plexidade de se pensar a temática das drogas, visto que ela mobiliza</p><p>não apenas aspectos científicos e sociais, mas também percepções</p><p>e moralidades diversas.</p><p>As convenções internacionais que estudamos no decorrer do Módulo 2</p><p>contribuíram para dividir as ações nos países signatários em duas grandes</p><p>frentes: a redução da demanda e a redução da oferta de drogas (Baptista,</p><p>2021). No caso brasileiro, a aplicação desses princípios implicou o desen-</p><p>volvimento de uma série de políticas intersetoriais, que envolvem áreas</p><p>como justiça, segurança pública, saúde, educação, defesa, entre outras.</p><p>Intersetorialidade</p><p>Justiça</p><p>Segurança pública</p><p>Saúde</p><p>Educação</p><p>Defesa</p><p>Outras áreas</p><p>Po</p><p>lít</p><p>ic</p><p>as</p><p>in</p><p>te</p><p>rs</p><p>et</p><p>or</p><p>ia</p><p>is</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>128</p><p>Um exemplo disso é a criação do SISNAD, previsto pela Lei de Drogas</p><p>de 2006 e regulamentado pelo Decreto nº 9.761, de 2019. Esse sistema</p><p>foi criado a partir de uma abordagem multidisciplinar que envolve</p><p>diversos setores, tendo como pressuposto que a questão das drogas</p><p>envolve aspectos não somente criminais e de segurança, mas também</p><p>de saúde, assistência social, educação e direitos humanos.</p><p>Intersetorialidade nas políticas sobre drogas</p><p>Segurança</p><p>pública</p><p>Saúde Assistência</p><p>social</p><p>Direitos</p><p>humanos</p><p>Educação</p><p>Integração das áreas</p><p>O SISNAD é constituído por um conjunto ordenado de princípios,</p><p>regras, critérios e recursos materiais e humanos que envolvem as</p><p>políticas, planos, programas, ações e projetos sobre drogas. Ele busca,</p><p>ainda, dividir as competências entre os entes federativos e estimula</p><p>a participação intersetorial, ou seja, objetiva que as suas ações en-</p><p>volvam a participação de diversos atores e instituições, considerando</p><p>as esferas municipais, estaduais e a federal.</p><p>Mas como a Lei n° 11.343/2006 institui o SISNAD?</p><p>Art. 3º O SISNAD tem a finalidade de articular, integrar,</p><p>organizar e coordenar as atividades relacionadas com:</p><p>I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social</p><p>de usuários e dependentes de drogas;</p><p>II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico</p><p>ilícito de drogas.</p><p>Brasil, 2006</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>129</p><p>§ 1º Entende-se por SISNAD o conjunto ordenado de princípios,</p><p>regras, critérios e recursos materiais e humanos que envolvem</p><p>as políticas, planos, programas, ações e projetos sobre drogas,</p><p>incluindo-se nele, por adesão, os Sistemas de Políticas Públicas</p><p>sobre Drogas dos Estados, Distrito Federal e Municípios.</p><p>§ 2º O SISNAD atuará em articulação com o Sistema Único de</p><p>Saúde – SUS, e com o Sistema Único de Assistência Social – SUAS.</p><p>Brasil, 2006</p><p>Ao ler o art. 3º, é possível que você tenha percebido como a es-</p><p>truturação do SISNAD segue a divisão entre redução da demanda,</p><p>direcionada às pessoas que consomem drogas, e redução da</p><p>oferta, direcionada a quem vende drogas. Alguns especialistas</p><p>com uma visão mais crítica consideram que essa divisão reforça</p><p>a perspectiva médico-criminal da Lei de Drogas.</p><p>O SISNAD tem como finalidade formular, planejar, coordenar e or-</p><p>ganizar ações direcionadas ao enfrentamento e à prevenção do uso</p><p>de drogas, além do tratamento e da reinserção social de usuários.</p><p>Nesse contexto, é relevante termos conhecimento das mudanças le-</p><p>gislativas recentes sobre o SISNAD, inseridas pela Lei n° 13.840/2019,</p><p>que incluiu dois novos parágrafos ao art. 3º:</p><p>MÓDULO 4</p><p>UNIDADE 2</p><p>A ESTRUTURA DO SISNAD</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>131</p><p>UNIDADE 2</p><p>A ESTRUTURA DO SISNAD</p><p>Finalizamos a unidade anterior mencionando as mudanças trazidas</p><p>pela Lei n° 13.840/2019. Pudemos perceber que o texto menciona a</p><p>participação de outros entes federativos no SISNAD, além da União,</p><p>assim como a importância da articulação com outros sistemas, como o</p><p>Sistema Único de Saúde, o SUS. Já deve estar claro, agora, que o SISNAD</p><p>é composto por diversos órgãos, entidades e setores da sociedade e</p><p>que todos devem se envolver na implementação de políticas e ações</p><p>sobre as drogas, os quais foram definidos pelo Decreto n° 5.912, de 27</p><p>de setembro de 2006, conforme apresentados no infográfico a seguir.</p><p>Integrantes do SISNAD</p><p>SISNAD</p><p>Conselho Nacional de Políticas</p><p>sobre Drogas (CONAD)</p><p>Secretaria Nacional de Políticas sobre</p><p>Drogas e Gestão de Ativos (SENAD)</p><p>Conjunto de órgãos e entidades públicas</p><p>do Executivo Federal, dos estados,</p><p>municípios e do Distrito Federal que</p><p>exerçam atividades de prevenção do uso</p><p>indevido, atenção e reinserção social de</p><p>usuários e dependentes de drogas e de</p><p>repressão da produção não autorizada e</p><p>do tráfico ilícito de drogas.</p><p>Organizações, instituições ou entidades da</p><p>sociedade civil que atuam nas áreas da</p><p>atenção à saúde e da assistência social e</p><p>atendem usuários ou dependentes de</p><p>drogas e seus familiares.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado para</p><p>aprofundar seu</p><p>conhecimento e</p><p>assistir ao vídeo</p><p>sobre o SISNAD.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/29NH_1lVC_s</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>132</p><p>Nessa estrutura, compete ao Conselho Nacional de Políticas sobre</p><p>Drogas (CONAD) debater e produzir resoluções e recomendações</p><p>sobre questões relacionadas às políticas sobre drogas no Brasil,</p><p>bem como discutir e a aprovar o Plano Nacional de Políticas sobre</p><p>Drogas (PLANAD).</p><p>Verbete</p><p>Conselho Nacional de Políticas</p><p>sobre Drogas: instância de</p><p>participação social na qual membros</p><p>do governo e da sociedade civil</p><p>discutem, acompanham, avaliam e</p><p>recomendam políticas sobre drogas.</p><p>Podem ser instâncias de articulação</p><p>de ações de governo ou de propostas</p><p>legislativas. No Brasil, existem</p><p>conselhos sobre drogas no nível</p><p>nacional, estadual e municipal</p><p>(Caldeira et al., 2023).</p><p>Para pensar</p><p>Você sabe qual a atribuição de um conselho?</p><p>Um dos principais objetivos de um conselho é</p><p>ampliar e qualificar a discussão com participação</p><p>de diversos órgãos de governo e da sociedade</p><p>civil. Com isso, é possível formular políticas</p><p>integradas e que melhor atendam aos anseios</p><p>da sociedade.</p><p>De acordo com a legislação brasileira, caberá aos conselhos sobre drogas:</p><p>I – auxiliar na elaboração de políticas sobre drogas;</p><p>II – colaborar com os órgãos governamentais no</p><p>planejamento e na execução das políticas sobre drogas,</p><p>visando à efetividade das políticas sobre drogas;</p><p>III – propor a celebração de instrumentos de cooperação,</p><p>visando à elaboração de programas, ações, atividades e projetos</p><p>voltados à prevenção, tratamento, acolhimento, reinserção</p><p>social e econômica e repressão ao tráfico ilícito de drogas;</p><p>IV – promover a realização de estudos, com o objetivo de</p><p>subsidiar o planejamento das políticas sobre drogas;</p><p>V – propor políticas públicas que permitam a integração e a</p><p>participação do usuário ou dependente de drogas no processo</p><p>social, econômico, político e cultural no respectivo ente federado; e</p><p>VI – desenvolver outras atividades relacionadas às políticas</p><p>sobre drogas em consonância com o SISNAD e com os</p><p>respectivos planos.</p><p>Brasil, 2006, art. 8º-E</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>133</p><p>As decisões e recomendações do CONAD são muito importantes para</p><p>orientar as ações do SISNAD. A sua composição plural tem o obje-</p><p>tivo de construir uma visão abrangente, multidisciplinar e interse-</p><p>torial nas discussões a respeito das políticas sobre drogas no Brasil.</p><p>Cabe à SENAD fazer sua organização e sua Secretaria Executiva, além de</p><p>substituir o ministro na presidência, em sua ausência. O mesmo Decreto</p><p>nº 11.480 definiu, dessa forma, a representação no CONAD:</p><p>a) Ministério da Defesa;</p><p>b) Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e</p><p>Combate à Fome;</p><p>c) Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania;</p><p>d) Ministério da Educação;</p><p>e) Ministério da Igualdade Racial;</p><p>f) Ministério das Mulheres;</p><p>g) Ministério dos Povos Indígenas;</p><p>h) Ministério das Relações Exteriores;</p><p>i) Ministério da Saúde;</p><p>j) Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da</p><p>Justiça e da Segurança Pública;</p><p>k) Agência Nacional de Vigilância Sanitária;</p><p>l) Conselho de Controle de Atividades Financeiras; e</p><p>m) Departamento de Polícia Federal;</p><p>IV - um representante de conselho estadual ou distrital</p><p>sobre drogas;</p><p>CONAD</p><p>Representantes</p><p>de órgãos do governo</p><p>Representantes</p><p>da sociedade civil</p><p>Atuando em nível nacional, o CONAD está vinculado ao Ministério</p><p>de Justiça e Segurança Pública, pelo qual é igualmente presidido.</p><p>Em 2023, o Decreto nº 11.480 atualizou a composição e o funciona-</p><p>mento do CONAD, tornando-o pela primeira vez um conselho pari-</p><p>tário – ou seja, com o mesmo número de representantes de órgãos</p><p>de governo e da sociedade civil – e com escolha da maior parte das</p><p>representações da sociedade civil por meio de eleições abertas.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>134</p><p>I - discutir e aprovar o Plano Nacional de Políticas sobre Drogas;</p><p>II - acompanhar e avaliar a gestão dos recursos do Fundo</p><p>Nacional Antidrogas, por meio de solicitação de informações</p><p>e elaborar recomendações aos protocolos de destinação dos</p><p>bens e valores do referido Fundo;</p><p>III - acompanhar e avaliar o cumprimento das diretrizes</p><p>nacionais das políticas públicas sobre drogas e promover sua</p><p>integração às políticas de proteção ao Estado Democrático de</p><p>Direito e aos direitos humanos e ao combate e superação do</p><p>racismo e de outras formas de discriminação;</p><p>IV - acompanhar e avaliar as ações de cooperação</p><p>internacional firmadas pelo Governo da República Federativa</p><p>do Brasil sobre drogas;</p><p>V - identificar e difundir boas práticas sobre drogas para as</p><p>três esferas de governo;</p><p>VI - articular com os conselhos estaduais, distrital e</p><p>municipais de políticas sobre drogas;</p><p>VII - articular com os conselhos participativos da</p><p>administração pública federal para o monitoramento</p><p>conjunto de políticas públicas e o fortalecimento da</p><p>participação social;</p><p>VIII - acompanhar e se manifestar sobre proposições</p><p>legislativas referentes à política sobre drogas e ao</p><p>funcionamento do próprio conselho.</p><p>Brasil, 2023, art. 2º</p><p>Entre as atribuições do CONAD estão:</p><p>V - um representante dos seguintes conselhos profissionais</p><p>e entidade:</p><p>a) Conselho Federal de Assistência Social;</p><p>b) Conselho Federal de Medicina;</p><p>c) Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;</p><p>d) Conselho Federal de Psicologia; e</p><p>e) Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência;</p><p>VI - dez representantes de organizações da sociedade civil,</p><p>escolhidos em processo eleitoral organizado pela SENAD e no</p><p>qual as votantes são as próprias organizações qualificadas</p><p>para participar.</p><p>Brasil, 2023</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>135</p><p>De acordo com o Decreto nº 11.480, o CONAD conta também com uma</p><p>Comissão Interfederativa Permanente, além de poder criar comissões</p><p>temáticas e grupos de trabalho para assessorar o plenário em temas</p><p>e questões específicas.</p><p>Verbete</p><p>Comissão Interfederativa</p><p>Permanente: órgão de apoio ao</p><p>CONAD que congrega todos os</p><p>conselhos sobre drogas estaduais e</p><p>o do Distrito Federal e tem direito</p><p>de escolher um representante para</p><p>o plenário principal do CONAD.</p><p>As funções da SENAD vão muito além da Secretaria Executiva</p><p>do CONAD. Entre elas, a SENAD deve supervisionar e articular</p><p>a política sobre drogas, estimular atividades de capacitação,</p><p>como esta da qual você está participando, realizar e financiar</p><p>estudos e pesquisas, além de fomentar ações de prevenção</p><p>e de redução da vulnerabilidade.</p><p>Além disso, deve assessorar e assistir o Ministro de Estado da</p><p>Justiça e Segurança Pública nos assuntos relacionados a drogas</p><p>e representar o Brasil nos fóruns internacionais sobre o tema,</p><p>inclusive nas Nações Unidas.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Para saber mais sobre todas as atribuições da SENAD, consulte</p><p>os artigos 20 a 23 do Anexo I do Decreto n° 11.348, de 1° de</p><p>janeiro de 2023, disponível em: https://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11348.htm.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>sobre o CONAD.</p><p>VÍDEO</p><p>A composição do CONAD busca contemplar as múltiplas perspectivas</p><p>necessárias para uma política sobre drogas integrada. Pelo lado dos re-</p><p>presentantes do governo, há órgãos ligados diretamente à fiscalização e</p><p>repressão do tráfico ilícito de drogas, como a Polícia Federal e o Minis-</p><p>tério da Defesa, como aqueles ligados à saúde, à educação e à assistência,</p><p>como os Ministérios da Saúde, da Educação, dos Direitos Humanos e da</p><p>Cidadania, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, entre outros.</p><p>Também é importante destacar que, além das entidades e orga-</p><p>nizações eleitas para representar a sociedade civil, têm vaga ga-</p><p>rantida no CONAD as entidades de classe com direta relação com</p><p>o tema, como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho</p><p>Federal de Psicologia.</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11348.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11348.htm</p><p>https://youtu.be/Z0M_PknLCVI</p><p>MÓDULO 4</p><p>UNIDADE 3</p><p>PRINCÍPIOS DO SISNAD</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>137</p><p>UNIDADE 3</p><p>PRINCÍPIOS DO SISNAD</p><p>Até aqui apresentamos uma visão geral do que é o Sistema Nacional</p><p>de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), sua finalidade e sua</p><p>estrutura. É possível que você tenha observado que o SISNAD é reflexo</p><p>de uma das inovações da Lei de Drogas de 2006, que colocou como</p><p>um dos objetivos das políticas públicas sobre drogas a promoção do</p><p>cuidado, da prevenção e da reinserção social de pessoas que fazem uso</p><p>problemático de drogas. Essa perspectiva está presente nos princípios</p><p>que norteiam o funcionamento do SISNAD.</p><p>Enfatizando o respeito aos direitos fundamentais,</p><p>às peculiaridades socioculturais e à singularidade das pessoas</p><p>enquadradas como usuários ou dependentes de drogas, e a</p><p>observância das diretrizes das políticas de saúde e assistência</p><p>social, a lei aponta para uma abordagem assistencial ao usuário,</p><p>em lugar da resposta penal, até então praticada no país.</p><p>Santos; Pires, 2021, p. 108</p><p>I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana,</p><p>especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade;</p><p>II - o respeito à diversidade e às especificidades</p><p>populacionais existentes;</p><p>III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do</p><p>povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o</p><p>uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados;</p><p>IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla</p><p>participação social, para o estabelecimento dos fundamentos</p><p>e estratégias do SISNAD;</p><p>V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado</p><p>e sociedade, reconhecendo a importância da participação social</p><p>nas atividades do SISNAD;</p><p>VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores</p><p>correlacionados com o uso indevido de drogas, com a sua</p><p>produção não autorizada e o seu tráfico ilícito;</p><p>VII - a integração das estratégias nacionais e internacionais</p><p>de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de</p><p>usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção</p><p>não autorizada e ao seu tráfico ilícito;</p><p>Os onze princípios do SISNAD estão elencados no art. 4º da Lei</p><p>nº 11.343/2006, são eles:</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>138</p><p>VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos</p><p>Poderes Legislativo e Judiciário visando à cooperação mútua nas</p><p>atividades do SISNAD;</p><p>IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça</p><p>a</p><p>interdependência e a natureza complementar das atividades</p><p>de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de</p><p>usuários e dependentes de drogas, repressão da produção não</p><p>autorizada e do tráfico ilícito de drogas;</p><p>X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção</p><p>do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e</p><p>dependentes de drogas e as de repressão à sua produção não</p><p>autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando garantir a estabilidade</p><p>e o bem-estar social;</p><p>XI - a observância às orientações e normas emanadas do</p><p>Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas – CONAD.</p><p>Brasil, 2006</p><p>Veja a seguir uma síntese com os princípios do SISNAD.</p><p>Princípios do SISNAD</p><p>Promoção da</p><p>saúde, o que</p><p>implica ações</p><p>de prevenção,</p><p>tratamento e</p><p>assistência</p><p>aos usuários.</p><p>Valorização da</p><p>vida, por meio de</p><p>políticas que</p><p>devem respeitar</p><p>a dignidade das</p><p>pessoas envolvidas</p><p>com a questão das</p><p>drogas, usuários,</p><p>familiares e as</p><p>comunidades.</p><p>Uma abordagem</p><p>multidisciplinar</p><p>e intersetorial, em</p><p>busca de consensos</p><p>e equilíbrio nas</p><p>políticas sobre drogas,</p><p>na cooperação entre</p><p>os diversos setores</p><p>da sociedade e dos</p><p>entes que compõem</p><p>a Federação.</p><p>Redução da demanda</p><p>e da oferta de drogas,</p><p>o que significa, por um</p><p>lado, a adoção de</p><p>ações de prevenção,</p><p>educação e</p><p>conscientização sobre</p><p>as drogas, e, por outro,</p><p>a ação de repressão da</p><p>produção, circulação</p><p>e comércio das</p><p>substâncias proibidas.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de animação</p><p>sobre os princípios</p><p>do SISNAD.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/OF60KOOwuTQ</p><p>MÓDULO 4</p><p>UNIDADE 4</p><p>A POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS</p><p>(PNAD) E O PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS</p><p>SOBRE DROGAS (PLANAD)</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>140</p><p>UNIDADE 4</p><p>A POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS</p><p>(PNAD) E O PLANO NACIONAL DE</p><p>POLÍTICAS SOBRE DROGAS (PLANAD)</p><p>A Política Nacional sobre Drogas sistematiza a divisão da política</p><p>nacional em políticas públicas de redução da demanda e da oferta.</p><p>Redução da demanda</p><p>Prevenção, promoção e manutenção da abstinência,</p><p>promoção à saúde, cuidado tratamento, acolhimento,</p><p>apoio, mútua ajuda, reinserção social, suporte social e</p><p>redução dos riscos e danos sociais e à saúde.</p><p>Redução da oferta</p><p>Ações de segurança pública, de defesa, de inteligência, de</p><p>regulação de substâncias precursoras, de substâncias</p><p>controladas e de drogas lícitas, além de repressão da</p><p>produção não autorizada, de combate ao tráfico de drogas,</p><p>à lavagem de dinheiro e crimes conexos, inclusive por meio</p><p>da recuperação de ativos que financiem atividades do Poder</p><p>Público nas frentes de redução da oferta e da demanda.</p><p>A atual PNAD está descrita no Decreto nº 9.761, promulgado em 2019,</p><p>e possui o importante pressuposto de que a política sobre drogas seja</p><p>tratada como política de Estado. Nesse sentido, prevê que sejam ga-</p><p>rantidos, de forma contínua, os recursos orçamentários, humanos,</p><p>administrativos, científicos e de governança para o desenvolvi-</p><p>mento de suas ações. A política traça orientações para quatro frentes,</p><p>que serão detalhadas a seguir.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>141</p><p>Prevenção</p><p>Tratamento,</p><p>acolhimento,</p><p>recuperação,</p><p>apoio, mútua</p><p>ajuda e</p><p>reinserção</p><p>Redução</p><p>da oferta</p><p>Estudos,</p><p>pesquisas e</p><p>avaliações</p><p>As quatro frentes da</p><p>Política Nacional sobre Drogas (PNAD)</p><p>4.1 Prevenção</p><p>A PNAD aponta para a fundamentação na filosofia de responsabilidade</p><p>compartilhada, ou seja, que a efetiva prevenção depende da coope-</p><p>ração e da parceria entre diversos membros da sociedade brasileira</p><p>e os órgãos da administração pública (municipal, distrital, estadual</p><p>e federal). As políticas devem estar orientadas pela promoção dos</p><p>valores voltados à saúde física, mental e social, e fatores de proteção</p><p>ao uso e redução dos fatores de risco relacionados ao consumo do</p><p>tabaco e de seus derivados, do álcool e de outras drogas.</p><p>A PNAD propõe, ainda, que as ações de prevenção sejam adequadas às</p><p>realidades locais e, se necessário, considerem a priorização das co-</p><p>munidades mais vulneráveis que tenham sido apontadas por diagnós-</p><p>ticos, estudos técnicos, indicadores sociais e pela literatura científica.</p><p>Atualmente, a SENAD tem dado prioridade absoluta aos programas</p><p>de prevenção consolidados por evidências em âmbito internacional,</p><p>mas devidamente adaptados às realidades locais, especialmente os</p><p>programas escolares.</p><p>Verbete</p><p>Fatores de proteção e fatores de</p><p>risco: trata-se de características</p><p>pessoais ou contextos sociais</p><p>associados à maior ou menor</p><p>probabilidade de ocorrência de</p><p>determinado problema de saúde.</p><p>Não são, necessariamente,</p><p>a causa de uma doença ou de sua</p><p>ausência. Por exemplo, sofrer</p><p>violência física ou psicológica</p><p>na infância é um fator de risco</p><p>para a dependência de drogas,</p><p>porque há, estatisticamente, mais</p><p>probabilidade de ocorrência desse</p><p>problema no futuro, mas não pode,</p><p>de forma alguma, ser considerada a</p><p>causa do problema isoladamente</p><p>(Araújo, 2017, p. 43).</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de animação</p><p>sobre o eixo de</p><p>prevenção da</p><p>PNAD.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/JDH4lzNTtSM</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>142</p><p>4.2 Tratamento, acolhimento, recuperação,</p><p>apoio, mútua ajuda e reinserção</p><p>Neste eixo, a PNAD aponta que é papel do Estado garantir, estimular</p><p>e promover ações para que a sociedade, com responsabilidade ética,</p><p>possa assumir o acolhimento e tratamento de pessoas que fazem</p><p>uso problemático de drogas e seus familiares. Essas ações podem</p><p>ser executadas diretamente pelo Poder Público, nos níveis federal,</p><p>estadual, distrital e municipal, e por Organizações Não Governa-</p><p>mentais (ONGs) sem fins lucrativos. As ações neste eixo devem ser</p><p>vinculadas a evidências científicas e comprometidas com a avaliação</p><p>para chegar a resultados efetivos.</p><p>4.3 Redução da oferta</p><p>As ações neste eixo buscam reduzir os crimes relacionados ao tráfico</p><p>ilícito de drogas por meio de ações continuadas de combate à cor-</p><p>rupção, à lavagem de dinheiro e ao crime organizado e do aperfei-</p><p>çoamento da gestão de ativos criminais vinculados ao narcotráfico.</p><p>4.4 Estudos, pesquisas e avaliações</p><p>Considerando a importância da realização de políticas públicas</p><p>baseadas em evidências, o quarto eixo aborda a realização de pes-</p><p>quisas, estudos e avaliações.</p><p>As ações neste eixo devem também considerar a</p><p>multifatorialidade das causas do uso e da dependência</p><p>de drogas lícitas e ilícitas; devem ser definidas normas</p><p>mínimas que regulem o funcionamento de instituições</p><p>dedicadas ao tratamento, ao acolhimento, à recuperação</p><p>e à reinserção social.</p><p>Novamente, é estimulada a cooperação entre diferentes órgãos.</p><p>Neste caso, entre os membros do Sistema Único de Segurança</p><p>Pública (SUSP), do SISNAD, do Poder Judiciário e do Ministério</p><p>Público. O eixo propõe, ainda, o desenvolvimento de ações</p><p>comprometidas em assegurar a promoção da saúde e a pre-</p><p>servação das condições de trabalho e da saúde física e mental</p><p>dos profissionais de segurança pública.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>143</p><p>4.5 O Plano Nacional de Políticas sobre</p><p>Drogas (PLANAD)</p><p>A Lei nº 13.840, de 5 de junho de 2019, previu a elaboração do Plano</p><p>Nacional de Políticas sobre Drogas (PLANAD), em parceria com es-</p><p>tados, Distrito Federal e municípios. O plano, por meio de metas e</p><p>A PNAD prevê que os estudos produzidos sejam disponibili-</p><p>zados pelo Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas</p><p>(OBID). O OBID esteve inoperante entre os anos de 2019 e 2022</p><p>e, em 2023, passou a ser reconstruído e, atualmente, uma alguns</p><p>dados estão disponíveis na página virtual do MJSP. O OBID, como</p><p>outros observatórios nacionais e seguindo a recomendação das</p><p>Nações</p><p>Unidas, deve ser fonte segura e atualizada de todos os</p><p>fatores que se referem às drogas no país, resguardados o sigilo,</p><p>a confidencialidade e observado os procedimentos éticos de</p><p>pesquisa e armazenamento de dados.</p><p>PODCAST TRANSCRITO</p><p>Neste eixo, está prevista a promoção, a realização, o incentivo e</p><p>o fomento a pesquisas sobre temas tais como: os determinantes</p><p>e condicionantes de riscos e agravos relacionados ao uso de</p><p>drogas, o conhecimento sobre as drogas lícitas e ilícitas e a</p><p>prevalência do consumo e de sua evolução. Além disso, caberá</p><p>às pesquisas identificar os princípios norteadores dos programas</p><p>preventivos e terapêuticos, reforçando a importância da</p><p>pesquisa científica para as políticas públicas.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Para conferir na íntegra todas as diretrizes e ações que</p><p>orientam a Política Nacional sobre Drogas (PNAD), acesse</p><p>o Decreto nº 9.761, de 11 de abril de 2019, disponível em:</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/</p><p>decreto/d9761.htm.</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9761.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9761.htm</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 4 - O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)</p><p>144</p><p>compromissos com prazos para a implementação, busca dar concre-</p><p>tude às diretrizes e aos pressupostos e objetivos da Política Nacional</p><p>sobre Drogas (PNAD) (Brasil, 2022).</p><p>O atual PLANAD foi aprovado pelo Conselho Nacional de Políticas</p><p>sobre Drogas (CONAD) em 2021 e, em 2024, passou a ser reavaliado</p><p>pelo CONAD. Essa reformulação foi uma demanda dos representantes</p><p>da sociedade civil, que veem limitações no escopo e nos pressupostos</p><p>do atual PLANAD, elaborado em um contexto no qual a participação</p><p>social no CONAD era limitada.</p><p>Assim, encerramos esse módulo convidando você, cursista, a participar</p><p>da reformulação do PLANAD, por meio de seus conselhos munici-</p><p>pais e estaduais sobre drogas e dos canais que serão oportunamente</p><p>abertos pela SENAD.</p><p>SÍNTESE DO MÓDULO</p><p>Ao longo deste módulo, conhecemos o funcionamento</p><p>do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre</p><p>Drogas (SISNAD). Identificamos como as ações</p><p>do sistema buscam atingir principalmente dois</p><p>objetivos: a redução da demanda e da oferta de</p><p>drogas. A estruturação do sistema parte do princípio</p><p>da necessidade de um trabalho intersetorial para</p><p>enfrentar o tema das drogas. Para isso, as ações têm</p><p>buscado articular órgãos e atores governamentais</p><p>e não governamentais, além de garantir e ampliar</p><p>a participação da sociedade civil neste processo.</p><p>Vale destacar, ainda, que as ações previstas buscam</p><p>resguardar a autonomia dos indivíduos e preveem uma</p><p>atuação que considere e respeite as especificidades</p><p>de distintos setores da população, em especial as</p><p>populações vulneráveis.</p><p>Veja, a seguir, os pontos principais abordados neste módulo.</p><p>Você finalizou o Módulo 4!</p><p>No próximo módulo, veremos brevemente alguns dos novos modelos</p><p>e abordagens sobre o tema das drogas no Brasil e no mundo, além de</p><p>algumas das propostas que estão em discussão no Brasil. Em seguida,</p><p>exploraremos alguns dos resultados recentes nas pesquisas com</p><p>drogas psicodélicas. Finalmente, apresentaremos algumas fontes de</p><p>informação confiáveis para você, cursista, continuar os seus estudos.</p><p>145</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARAUJO, T. Guia sobre drogas para jornalistas. São Paulo: IBCCRIM-PBP-</p><p>D-Catalize-SSRC, 2017. Disponível em: https://pbpd.org.br/publicacao/</p><p>guia-sobre-drogas-para-jornalistas/. Acesso em: 13 dez. 2023.</p><p>BAPTISTA, G. C. Oportunidades e os riscos da governança de políticas</p><p>públicas brasileiras: reflexões sobre o Sisnad e Susp. Revista do Sistema</p><p>Único de Segurança Pública, Brasília, Brasil, v. 1, n. 1, 2022. Disponível em:</p><p>https://revistasusp.mj.gov.br/susp/index.php/revistasusp/article/view/5.</p><p>Acesso em: 27 fev. 2024.</p><p>BRASIL. Decreto n° 11.348, de 1º de janeiro de 2023. Aprova a Estrutura Re-</p><p>gimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções</p><p>de Confiança do Ministério da Justiça e Segurança Pública e remaneja cargos</p><p>em comissão e funções de confiança. Brasília, DF: Presidência da República,</p><p>2006. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-</p><p>2026/2023/decreto/D11348.htm. Acesso em: 27 fev. 2024.</p><p>BRASIL. Decreto n° 11.480, de 6 de abril de 2023. Dispõe sobre o Conselho</p><p>Nacional de Políticas sobre Drogas - Conad, órgão superior permanente do</p><p>Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD. Brasília,</p><p>DF: Presidência da República, 2006. Disponível em: http://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11480.htm#:~:text=-</p><p>DECRETO%20N%C2%BA%2011.480%2C%20DE%206,que%20lhe%20</p><p>confere%20o%20art. Acesso em: 27 fev. 2024.</p><p>BRASIL. Decreto n° 9.761, de 11 de abril de 2019. Regulamenta aprova a</p><p>Política Nacional sobre Drogas – PNAD. Brasília, DF: Presidência da Re-</p><p>pública, 2006. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2019-2022/2019/decreto/d9761.htm. Acesso em: 27 fev. 2024.</p><p>BRASIL. Decreto n° 5.912, de 27 de setembro de 2006. Regulamenta a Lei</p><p>nos 11.343, de 23 de agosto de 2006, que trata das políticas públicas sobre</p><p>drogas e da instituição do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre</p><p>Drogas - SISNAD, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da</p><p>República, 2006. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_</p><p>ato2004-2006/2006/decreto/d5912.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Na-</p><p>cional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD. Brasília, DF: Presi-</p><p>dência da República, 2006. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.</p><p>BRASIL. Lei n° 13.840, de 5 de junho de 2019. Altera as Leis nos 11.343,</p><p>de 23 de agosto de 2006 [...], para dispor sobre o Sistema Nacional de</p><p>Políticas Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários</p><p>ou dependentes de drogas e para tratar do financiamento das políticas</p><p>sobre drogas. Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível</p><p>em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/</p><p>L13840.htm. Acesso em: 20 jun. 2023.</p><p>https://pbpd.org.br/publicacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/</p><p>https://pbpd.org.br/publicacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/</p><p>https://revistasusp.mj.gov.br/susp/index.php/revistasusp/article/view/5</p><p>https://revistasusp.mj.gov.br/susp/index.php/revistasusp/article/view/5</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11348.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11348.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11480.htm#:~:text=DECRETO%20Nº%2011.480%2C%20DE%206,que%20lhe%20confere%20o%20art.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11480.htm#:~:text=DECRETO%20Nº%2011.480%2C%20DE%206,que%20lhe%20confere%20o%20art.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11480.htm#:~:text=DECRETO%20Nº%2011.480%2C%20DE%206,que%20lhe%20confere%20o%20art.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11480.htm#:~:text=DECRETO%20Nº%2011.480%2C%20DE%206,que%20lhe%20confere%20o%20art.</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9761.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9761.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5912.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5912.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm</p><p>146</p><p>BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sistema Nacional de</p><p>Políticas sobre Drogas lança seu Manual de Identidade Visual. Gov.br,</p><p>Brasília, DF, dez. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/</p><p>assuntos/noticias/sistema-nacional-de-politicas-sobre-drogas-lan-</p><p>ca-seu-manual-de-identidade-visual. Acesso em: 19 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Composição do</p><p>SISNAD. Gov.br, Brasília, DF, 2021. Disponível em: https://www.gov.</p><p>br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/subca-</p><p>pas-senad/composicao-do-sisnad-1. Acesso em: 19 jul. 2023.</p><p>BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Conselho Nacional</p><p>de Políticas sobre Drogas – CONAD. Gov.br, Brasília, DF: MJSP, 2023.</p><p>Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/</p><p>politicas-sobre-drogas/subcapas-senad/conad/conselho-nacional-de-</p><p>-politicas-sobre-drogas-conad. Acesso em: 19 jul. 2023.</p><p>CALDEIRA, G. et al. Glossário de termos sobre drogas. Brasília: Centro de</p><p>Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (CDESC),</p><p>Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos da Colômbia</p><p>(SIMCI), Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC),</p><p>Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério</p><p>da Justiça e Segurança Pública, 2023.</p><p>SANTOS, M. P. G. dos.; PIRES, R. R. Sentidos da “Redução de Danos”</p><p>nos CAPS AD do Distrito Federal: entre o “escopo ampliado” e tra-</p><p>duções conservadoras. Teoria e Cultura, Juiz de Fora, v. 15 n. 2,</p><p>p. 148-164, jul. 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.</p><p>php/TeoriaeCultura/issue/view/1504/474. Acesso em: 19 jul. 2023.</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/sistema-nacional-de-politicas-sobre-drogas-lanca-seu-manual-de-identidade-visual</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/sistema-nacional-de-politicas-sobre-drogas-lanca-seu-manual-de-identidade-visual</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/sistema-nacional-de-politicas-sobre-drogas-lanca-seu-manual-de-identidade-visual</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/subcapas-senad/composicao-do-sisnad-1</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/subcapas-senad/composicao-do-sisnad-1</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/subcapas-senad/composicao-do-sisnad-1</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/subcapas-senad/conad/conselho-nacional-de-politicas-sobre-drogas-conad</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/subcapas-senad/conad/conselho-nacional-de-politicas-sobre-drogas-conad</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/subcapas-senad/conad/conselho-nacional-de-politicas-sobre-drogas-conad</p><p>https://periodicos.ufjf.br/index.php/TeoriaeCultura/issue/view/1504/474</p><p>https://periodicos.ufjf.br/index.php/TeoriaeCultura/issue/view/1504/474</p><p>M I N I S T É R I O D A</p><p>J U S T I Ç A E</p><p>S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A</p><p>MÓDULO 5</p><p>A EMERGÊNCIA DE NOVOS MODELOS E</p><p>ABORDAGENS SOBRE O TEMA DAS DROGAS</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Mauricio Fiore</p><p>GOVERNO FEDERAL</p><p>PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Luís Inácio Lula da Silva</p><p>MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Ricardo Lewandowski</p><p>SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO</p><p>DE ATIVOS</p><p>Marta Rodriguez de Assis Machado</p><p>DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES</p><p>Mauricio Fiore</p><p>COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA</p><p>Natália Neris da Silva Santos</p><p>COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO</p><p>BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS</p><p>Geórgia Belisário Mota</p><p>CONTEUDISTAS</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Mauricio Fiore</p><p>REVISÃO DE CONTEÚDO</p><p>Jessica Santos Figueiredo</p><p>Grazielle Teles de Araújo</p><p>APOIO</p><p>Brenda Juliana Silva</p><p>Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade</p><p>Luana Rodrigues Meneses de Sá</p><p>Maria Aparecida Alves Dias</p><p>EXPEDIENTE</p><p>Todo o conteúdo do COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade:</p><p>perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do</p><p>Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons</p><p>Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional.</p><p>BY NC ND</p><p>UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA</p><p>COORDENAÇÃO GERAL</p><p>Luciano Patrício Souza de Castro</p><p>FINANCEIRO</p><p>Fernando Machado Wolf</p><p>SUPERVISÃO TÉCNICA EAD</p><p>Giovana Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL</p><p>Francielli Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE MOODLE</p><p>Andreia Mara Fiala</p><p>SECRETARIA ADMINISTRATIVA</p><p>Elson Rodrigues Natario Junior</p><p>DESIGN INSTRUCIONAL</p><p>Supervisão: Milene Silva de Castro</p><p>Larissa Usanovich de Menezes</p><p>Sofia Santos Stahelin</p><p>DESIGN GRÁFICO</p><p>Supervisão: Sonia Trois</p><p>Cintia Ferreira de Souza</p><p>Eduardo Celestino</p><p>Giovana Aparecida dos Santos</p><p>Luana Pillmann de Barros</p><p>REVISÃO TEXTUAL</p><p>Cleusa Iracema Pereira Raimundo</p><p>PROGRAMAÇÃO</p><p>Supervisão: Alexandre Dal Fabbro</p><p>Luan Rodrigo Silva Costa</p><p>Luiz Eduardo Pizzinato</p><p>AUDIOVISUAL</p><p>Supervisão: Rafael Poletto Dutra</p><p>Andrei Krepsky de Melo</p><p>Julia Britos</p><p>Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira</p><p>Robner Domenici Esprocati</p><p>SUPERVISÃO TUTORIA</p><p>João Batista de Oliveira Júnior</p><p>Thaynara Gilli Tonolli</p><p>TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO</p><p>Alexandre Gava Menezes</p><p>André Fabiano Dyck</p><p>SIGLAS</p><p>ACNUDH - Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para</p><p>os Direitos Humanos</p><p>AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida</p><p>CBD - Canabidiol</p><p>CDESC - Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento</p><p>Social Comunitário</p><p>CICAD - Comissão Interamericana para o Controle do</p><p>Abuso de Drogas</p><p>FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz</p><p>GATS - Global Adult Tobacco Survey / Pesquisa Global de</p><p>Tabaco em Adultos</p><p>HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana</p><p>INCA - Instituto Nacional do Câncer</p><p>INCT-InEAC - Instituto de Estudos Comparados em Administração</p><p>de Conflitos</p><p>IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada</p><p>MDHC - Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania</p><p>MEM - Multilateral Evaluation Mechanism / Mecanismo de</p><p>Avaliação Multilateral</p><p>MJSP - Ministério da Justiça e Segurança Pública</p><p>NEV - Núcleo de Estudos da Violência</p><p>NSP - Novas Substâncias Psicoativas</p><p>OBID - Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas</p><p>OEA - Organização dos Estados Americanos</p><p>OMS - Organização Mundial de Saúde</p><p>OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde</p><p>PETab - Pesquisa Especial de Tabagismo</p><p>PNS - Pesquisa Nacional de Saúde</p><p>PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento</p><p>SAR - Subsistema de Alerta Rápido sobre Drogas</p><p>SCO - Secretaria de Comunicação Social</p><p>SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>e Gestão de Ativos</p><p>SINAP - Sistema Nacional de Prevenção do Uso de Álcool</p><p>e Outras Drogas</p><p>SINESP - Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública</p><p>STF - Supremo Tribunal Federal</p><p>THC - Tetra-hidrocanabinol</p><p>UFF - Universidade Federal Fluminense</p><p>UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS</p><p>UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime</p><p>USP - Universidade de São Paulo</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>151</p><p>Mauricio Fiore</p><p>CONTEUDISTAS DO MÓDULO</p><p>Bacharel em Ciências Sociais, mestre em Antropologia Social pela Uni-</p><p>versidade de São Paulo (USP) e doutor em Ciências Sociais pela Uni-</p><p>versidade Estadual de Campinas (UNICAMP), é pesquisador do Centro</p><p>Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) há mais de duas décadas.</p><p>Também é membro-fundador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares</p><p>sobre Psicoativos (NEIP). Seu principal campo de atuação acadêmica é</p><p>o dos estudos sobre drogas psicoativas, sob diversos de seus aspectos</p><p>(socioculturais, médicos, políticos, entre outros), sendo autor e orga-</p><p>nizador de vários trabalhos sobre o tema. Também atuou em pesquisas</p><p>e projetos relacionados às práticas culturais e ao uso do tempo livre,</p><p>à sociabilidade urbana, à violência e à educação. Atualmente está como</p><p>Diretor de Pesquisa, Avaliação e Gestão de Informações da SENAD.</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de</p><p>São Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP</p><p>(2019-2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais</p><p>e Políticos (IESP-UERJ).</p><p>Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS-UERJ.</p><p>Graduada em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ).</p><p>Pesquisadora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos</p><p>em Suicídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências</p><p>Sociais (DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela</p><p>CAPES no Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de</p><p>Oxford e Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP)</p><p>na Universidade de Bradford. Tem experiência com pesquisas quantita-</p><p>tivas e qualitativas, especialmente com ênfase em violência e segurança</p><p>pública, atuando principalmente nos seguintes temas: qualidade de</p><p>vida do trabalho policial, suicídio policial, política de drogas e funcio-</p><p>namento das instituições policiais e judiciais.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>152</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Olá, cursista!</p><p>Chegamos ao último módulo do nosso curso. Nele, apresentaremos</p><p>como as percepções sociais e as discussões a respeito da política sobre</p><p>drogas passaram por modificações importantes nas últimas décadas.</p><p>Primeiro passaremos pelas mudanças acerca da percepção social de</p><p>uma planta lícita, o tabaco, depois trataremos de uma ilícita cujo uso</p><p>terapêutico tem crescido, a Cannabis, a fim de conhecermos algumas</p><p>das transformações regulatórias recentes e algumas definições im-</p><p>portantes para entendê-las. Finalmente, apresentaremos fontes de</p><p>dados, as quais você, cursista, poderá consultar para aprofundar ou</p><p>continuar seus estudos.</p><p>OBJETIVOS DO MÓDULO</p><p>z Aportar elementos para uma discussão crítica acerca das</p><p>mudanças recentes nas políticas sobre drogas, tomando</p><p>como exemplo aquelas relacionadas ao tabaco e à Cannabis.</p><p>z Abordar algumas das definições e dos valores que estão</p><p>em jogo quando se debatem mudanças e permanências na</p><p>política sobre drogas.</p><p>z Apresentar fontes de informação para futuros estudos,</p><p>que foram elaboradas com base em dados e/ou</p><p>evidências científicas.</p><p>MÓDULO 5</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de apresentação</p><p>do módulo!</p><p>VÍDEO</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=0Rwo9uK_ImA&feature=youtu.be</p><p>MÓDULO 5</p><p>UNIDADE 1</p><p>MUDANÇAS NA PERCEPÇÃO SOCIAL DO</p><p>TABACO E DA CANNABIS E ALGUMAS</p><p>CONSEQUÊNCIAS REGULATÓRIAS</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>154</p><p>UNIDADE 1</p><p>MUDANÇAS NA PERCEPÇÃO SOCIAL DO</p><p>TABACO E DA CANNABIS E ALGUMAS</p><p>CONSEQUÊNCIAS REGULATÓRIAS</p><p>Nos últimos 50 anos, houve mudanças muito relevantes na forma</p><p>como as sociedades tratam as drogas psicoativas. Como já vimos nos</p><p>módulos anteriores, as políticas sobre drogas refletem apenas em parte</p><p>as diferentes percepções e práticas da sociedade com relação a esse</p><p>grande conjunto de substâncias. Mudanças na percepção social sobre</p><p>diferentes drogas e o avanço do conhecimento científico a respeito das</p><p>substâncias e de seus usos não são refletidas diretamente nos papéis</p><p>assumidos pelo Estado – na política sobre drogas, portanto. No caso</p><p>do arcabouço do sistema internacional de controles, as três conven-</p><p>ções internacionais – 1961, 1971 e 1988 – sobre drogas permanecem</p><p>vigentes, mantendo um conjunto de substâncias proscritas e outro</p><p>sob controle, e ignorando outras substâncias psicoativas de uso dis-</p><p>seminado, como álcool e tabaco. No entanto, essas duas drogas lícitas</p><p>vêm se tornando cada vez mais objetos de políticas mais restritas de</p><p>controle, especialmente no caso do tabaco, que é bastante emblemático</p><p>e pode nos ajudar a compreender melhor essas mudanças.</p><p>Até os anos 1980, as campanhas publicitárias dos cigarros, cigarrilhas,</p><p>charutos e cachimbos eram, na maior parte dos países, totalmente</p><p>desreguladas, e seus fabricantes podiam associar seu uso a práticas</p><p>saudáveis e sofisticadas. A partir dos anos 1990, a publicidade começou</p><p>a sofrer restrições progressivas e, ao mesmo tempo, as informações</p><p>sobre os grandes riscos à saúde desencadeados pelo consumo foram</p><p>se tornando obrigatórias.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>155</p><p>Em uma exposição intitulada “Propagandas de cigarro: como a in-</p><p>dústria do fumo enganou as pessoas”, que ocorreu em cidades dos</p><p>Estados Unidos e do Brasil, foram expostas as transformações na</p><p>publicidade do tabaco.</p><p>Em um dos cartazes da exposição, um certo dr. Batty’s ressalta</p><p>as qualidades de um cigarro que traz alívio imediato para casos</p><p>de asma, rinite, falta de ar e gripe [...]. Quem visitar a mostra vai</p><p>ficar sabendo, por exemplo, que durante a 1ª Guerra Mundial,</p><p>o cigarro foi distribuído aos soldados americanos, nas trincheiras.</p><p>O general John J. Pershing, comandante da Força Expedicionária</p><p>Americana na Europa, teria declarado que ‘para vencer a guerra</p><p>precisamos de fumo e de balas’. Se, na 1ª Guerra, o cigarro saiu</p><p>da clandestinidade e motivou atos de civismo, como doações ao</p><p>Fundo de Tabaco para Nossos rapazes na França, pouco tempo</p><p>depois a indústria tabagista conseguiu transformá-lo em ícone</p><p>da saúde e modernidade.</p><p>FIOCRUZ, 2010</p><p>Cartaz da campanha de cigarros. Nele, lê-se:</p><p>“Cá entre nós... Se você quer um MIMO em vez</p><p>de um TRATAMENTO... fume Old Golds”.</p><p>Fonte: Folha de São Paulo (2011).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>156</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone</p><p>ou tablet) para</p><p>o QR Code ao</p><p>lado e assista</p><p>ao vídeo de</p><p>animação sobre</p><p>a percepção</p><p>a respeito do</p><p>tabaco ao longo</p><p>dos anos.</p><p>VÍDEO</p><p>Observe o gráfico a seguir. Ele mostra dados da Pesquisa Global</p><p>de Tabaco em Adultos (GATS), da Pesquisa Especial de Tabagismo</p><p>(PETab) e da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), que demonstram a</p><p>diminuição do tabagismo ao longo dos anos. Um marco importante</p><p>dessa trajetória foi a ratificação da Convenção-Quadro para o Controle</p><p>do Tabaco, momento em que o Brasil assinou e confirmou sua adesão</p><p>ao primeiro tratado internacional de saúde pública da história da</p><p>Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela representa um instrumento</p><p>de resposta dos 192 países-membros da Assembleia Mundial da Saúde</p><p>à crescente epidemia do tabagismo em todo o mundo.</p><p>É importante dizer que, bem antes dessas limitações, já havia evi-</p><p>dências científicas sobre os riscos associados ao tabagismo, mas eles</p><p>demoraram a ser considerados nas políticas adotadas pelos Estados</p><p>para essa droga.</p><p>Por exemplo, era socialmente aceito e legalmente permitido que se</p><p>fumasse em locais públicos fechados, inclusive em aviões e ônibus;</p><p>nestes últimos, os assentos localizados juntos às janelas eram</p><p>preferenciais para fumantes, permitindo cenas que hoje parecem muito</p><p>mais distantes do que algumas décadas. A restrição de vendas para</p><p>crianças e adolescentes, quando existia, não era fiscalizada.</p><p>Entre 1989 e 2019, a proporção de adultos que usavam tabaco ou</p><p>derivados no Brasil caiu de 34,8% para 12,6%, uma redução expressiva.</p><p>Evidentemente, ela não pode ser explicada apenas pelas mudanças</p><p>regulatórias e outras ações do Estado, pois a percepção social sobre o</p><p>tabaco mudou, em um processo que foi mutualmente influenciado.</p><p>Esse cenário se alterou significativamente em nível internacional,</p><p>especialmente no Brasil, considerado um exemplo de sucesso nas suas</p><p>políticas de controle do tabaco.</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=faJfE69lHII</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>157</p><p>Se o tabaco é o melhor exemplo de uma droga que passou a ser objeto</p><p>de controle estatal mais rígido e de uma mudança na percepção so-</p><p>cial a respeito de seus riscos, a Cannabis, ou maconha, como é mais</p><p>popularmente conhecida no Brasil, pode nos ajudar a compreender</p><p>um caminho diferente: o de uma droga que foi, por diversos motivos,</p><p>se tornando excepcional no conjunto daquelas que foram proscritas</p><p>e perseguidas criminalmente, com importantes mudanças regula-</p><p>tórias recentes em um conjunto</p><p>cada vez maior de países. Por isso,</p><p>falar com mais cuidado sobre ela pode nos ajudar a entender alguns</p><p>dos pontos fundamentais do debate contemporâneo a respeito de</p><p>políticas sobre drogas.</p><p>Prevalência de fumantes de 18 anos ou mais no Brasil</p><p>Total</p><p>Homens</p><p>Mulheres</p><p>1989</p><p>34,8%</p><p>43,3%</p><p>27,0%</p><p>PNS</p><p>2003</p><p>22,4%</p><p>27,1%</p><p>18,4%</p><p>Pesquisa Mundial</p><p>de Saúde</p><p>2008</p><p>18,2%</p><p>22,9%</p><p>13,9%</p><p>PETab</p><p>2013</p><p>14,7%</p><p>18,9%</p><p>11,0%</p><p>PNS</p><p>2019</p><p>12,6%</p><p>15,9%</p><p>9,6%</p><p>PNS</p><p>-19% -14%-46%</p><p>2005</p><p>Ratificação</p><p>da Convenção-Quadro</p><p>para o Controle do Tabaco</p><p>GATS</p><p>Cannabis.</p><p>Foto: © [pablolupa] / Freepik.</p><p>Fonte: Adaptado de INCA (2022).</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>158</p><p>Verbete</p><p>Uso medicinal ou terapêutico de</p><p>Cannabis: expressão usada para se</p><p>referir ao uso da Cannabis Sativa L.,</p><p>ou de preparados da erva, com</p><p>finalidade terapêutica ou medicinal.</p><p>Desde o final do século XX, um grande número de países passou a</p><p>permitir a utilização da Cannabis e derivados para fins terapêutico</p><p>e medicinais e, na última década, países como o Uruguai, o Canadá,</p><p>a Alemanha e os Estados Unidos (nesse caso, em parte das suas</p><p>unidades federativas) alteraram suas legislações sobre a Cannabis</p><p>para permitir o uso recreativo ou social da planta por adultos.</p><p>Para pensar</p><p>O processo que acontece hoje é resultado de uma mudança</p><p>gradual no paradigma que foi estabelecido ao longo do</p><p>século passado. Assim, nesta unidade, convidamos você,</p><p>cursista, a compreender alguns dos pontos importantes</p><p>desse debate.</p><p>1.1 Apontamentos sobre o uso</p><p>terapêutico da Cannabis</p><p>Apesar de ter ganho relevância inédita atualmente, o uso medicinal</p><p>ou terapêutico de Cannabis e derivados não é recente. Afinal, essa é</p><p>uma planta domesticada pelos seres humanos milenarmente e seu uso</p><p>com fins terapêutico está bem demonstrado pela literatura. Para citar</p><p>um exemplo bem conhecido, há um tratado médico chinês de mais de</p><p>2.000 anos que recomendava o uso terapêutico da Cannabis devido às</p><p>suas propriedades anestésicas (Carlini, 1986). Você deve se lembrar que,</p><p>no Módulo 1 deste curso, mencionamos que até a década de 1930 a planta</p><p>poderia ser encontrada para venda em boticários e farmácias no Brasil.</p><p>“Cigarros índios” eram feitos à base de Cannabis e vendidos</p><p>em boticários para tratamento de problemas respiratórios.</p><p>Fonte: Smoke Buddies.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>159</p><p>No entanto, foi o uso não terapêutico da Cannabis, hoje conhecido como</p><p>recreativo ou social, que esteve no centro do processo que incluiu</p><p>a planta entre aquelas proibidas pelas convenções internacionais.</p><p>Hoje, por meio de trabalhos acadêmicos, sabemos que um dos motivos</p><p>para que a Cannabis fosse entendida como grave ameaça em países</p><p>como os Estados Unidos e o Brasil foi a associação do seu uso a grupos</p><p>populacionais tidos discriminados e perigosos, especialmente de</p><p>pessoas negras e de imigrantes. A proibição teve impacto importante</p><p>nas pesquisas sobre o uso terapêutico da Cannabis e das substâncias</p><p>presentes na planta. Mesmo assim, a despeito das dificuldades impostas</p><p>aos cientistas no estudo de um produto ilícito, a planta recebeu atenção</p><p>crescente de químicos, biólogos, farmacêuticos e neurocientistas.</p><p>Um importante marco do conhecimento científico sobre a Cannabis</p><p>foi a identificação de seus princípios ativos pelo químico israelense</p><p>Raphael Mechoulam. Em 1964, ele isolou e identificou as estruturas</p><p>químicas das duas moléculas consideradas, ao menos até hoje, as mais</p><p>importantes da Cannabis: o tetra-hidrocanabinol (THC) e, posterior-</p><p>mente, o canabidiol (CBD).</p><p>Verbete</p><p>Uso recreativo ou social: a princípio</p><p>utilizado para diferenciar o uso de</p><p>drogas psicoativas não problemático</p><p>ou abusivo, especialmente por quem</p><p>não sofria de uma dependência dessa</p><p>droga. Atualmente também é utilizado</p><p>em oposição ao uso terapêutico ou</p><p>médico de Cannabis e de opiáceos,</p><p>ou seja, seria uma utilização de drogas</p><p>para fins mais ligados ao prazer,</p><p>lazer ou bem-estar.</p><p>Raphael Mechoulam.</p><p>Foto: Amame.</p><p>Elisaldo Carlini.</p><p>Foto: Wikipédia.</p><p>Foto: Whalystore.</p><p>Mechoulam foi fundamental para a descrição científica dessa nova</p><p>classe de substâncias, os canabinoides. Hoje, sabe-se que há mais</p><p>de uma centena deles presentes na planta. Mechoulam teve como</p><p>um de seus colegas de investigação um pesquisador brasileiro,</p><p>Elisaldo Carlini, que publicou trabalhos pioneiros sobre o uso</p><p>terapêutico da planta.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>160</p><p>SAIBA MAIS</p><p>O Cientista” é um documentário que traça a história do candidato</p><p>ao prêmio Nobel, o pesquisador Dr. Raphael Mechoulam,</p><p>disponível em: https://www.ufpb.br/pexcannabis/contents/videos/</p><p>o-cientista-the-scientist-legendado-em-portugues. Além disso,</p><p>para que você entenda um pouco mais sobre a história dessas</p><p>descobertas científicas, recomendamos que leia a entrevista do</p><p>professor Elisaldo Carlini, disponível em: https://revistapesquisa.</p><p>fapesp.br/elisaldo-carlini-o-uso-medicinal-da-maconha/.</p><p>Com o avanço no conhecimento a respeito dos canabinoides, foi</p><p>possível compreender com mais precisão como essas substâncias</p><p>agem no organismo humano, e, nos anos 1990, foi mais bem descrito</p><p>o sistema endocanabinoide.</p><p>Em linhas gerais, ele é formado por canabinoides endógenos, ou seja,</p><p>presentes e produzidos pelo próprio organismo humano e respon-</p><p>sáveis por importantes funções fisiológicas, tais como sono, dor,</p><p>apetite, humor e reações imunológicas (Malcher-Lopes; Ribeiro,</p><p>2007). Entre os inúmeros canabinoides contidos na planta, o mais</p><p>utilizado e com mais evidências científicas disponíveis para fins</p><p>terapêuticos é o CBD. O THC, molécula mais conhecida da Cannabis</p><p>e principal responsável pelos seus efeitos psicoativos, também vem</p><p>sendo investigado, isoladamente ou não, para tratar ou aliviar alguns</p><p>tipos de doenças ou condições.</p><p>O avanço nas pesquisas e na utilização da Cannabis para fins medici-</p><p>nais aconteceu de forma concomitante, e não necessariamente pelos</p><p>mesmos motivos, ao crescimento do uso recreativo ou social da erva.</p><p>https://www.ufpb.br/pexcannabis/contents/videos/o-cientista-the-scientist-legendado-em-portugues</p><p>https://www.ufpb.br/pexcannabis/contents/videos/o-cientista-the-scientist-legendado-em-portugues</p><p>https://revistapesquisa.fapesp.br/elisaldo-carlini-o-uso-medicinal-da-maconha/</p><p>https://revistapesquisa.fapesp.br/elisaldo-carlini-o-uso-medicinal-da-maconha/</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>161</p><p>PODCAST TRANSCRITO</p><p>A Cannabis é, há muitas décadas, a droga proscrita pelas</p><p>convenções internacionais de maior prevalência de uso</p><p>no mundo; em outras palavras, a droga ilícita com mais</p><p>consumidores no planeta.</p><p>Diferentemente do tabaco, cuja percepção socialmente</p><p>negativa, muito associada aos seus riscos para a saúde,</p><p>foi crescente a partir da segunda metade do século XX,</p><p>com a Cannabis ocorreu o oposto. Ela, então, se tornou o</p><p>objeto central das críticas ao paradigma vigente em âmbito</p><p>internacional e, a partir da virada para o séc. XXI, seu estatuto</p><p>legal, que já vinha passando por alterações pontuais menos</p><p>restritivas desde a década de 1970 em países como a Holanda,</p><p>foi efetivamente alterado em alguns países, quebrando um</p><p>pilar importante das convenções internacionais.</p><p>Assim, a Cannabis é um exemplo bastante didático para</p><p>compreendermos muito do que está sendo discutido</p><p>atualmente no campo de política sobre drogas, um debate</p><p>tão controverso quanto urgente.</p><p>1.2 O debate sobre marcos</p><p>regulatórios da Cannabis</p><p>No caso específico da Cannabis, podemos separar em dois tipos as</p><p>mudanças que foram levadas a cabo nas últimas décadas. A maior</p><p>parte delas foi no sentido de permitir, sob diferentes modelos,</p><p>a utilização da planta e de seus derivados para fins terapêuticos, o que</p><p>varia de país para país. No Uruguai, por exemplo, o controle estatal</p><p>que a pessoa</p><p>se sinta feliz, relaxada, ansiosa ou paranoica.</p><p>Também podemos responder à referida pergunta traçando relação</p><p>com a natureza da substância: e desse ponto de vista as drogas são</p><p>classificadas como sintéticas, como a anfetamina e os ansiolíticos,</p><p>ou como de origem “natural”, como a maconha e a cocaína.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>19</p><p>Por outro lado, a pergunta daqueles que querem saber o que são</p><p>drogas poderia ter como base o ponto de vista do estatuto jurídico,</p><p>que classifica as substâncias entre lícitas e ilícitas.</p><p>Lícitas</p><p>Álcool</p><p>Tabaco</p><p>Cafeína</p><p>Solventes</p><p>Ilícitas</p><p>Cocaína</p><p>Maconha</p><p>LSD</p><p>MDMA (Ecstasy)</p><p>Heroína</p><p>Fonte: Adaptado de Alarcon</p><p>(2012, p. 105).</p><p>Não é preciso ficar confuso com essas listas, ou ficar preocupado em</p><p>tentar decorá-las para ter a resposta na ponta da língua.</p><p>Para pensar</p><p>O mais importante para responder à pergunta disparadora</p><p>do nosso debate é entender que a resposta será sempre</p><p>contextual. Ou seja, é preciso entender que a própria palavra</p><p>“droga” é utilizada de formas variadas, para classificar uma</p><p>série de substâncias.</p><p>Além disso, essas classificações são dinâmicas, o que corresponde</p><p>a dizer que podem ser reformuladas. Por exemplo, atualmente, a</p><p>planta Cannabis Sativa L., mais conhecida no Brasil como maconha,</p><p>está deixando de ser uma droga ilícita e, aos poucos, sendo consi-</p><p>derada – e não sem muita controvérsia – como uma droga lícita.</p><p>Em alguns países, a mudança na classificação legal da planta Can-</p><p>nabis para lícita já é uma realidade, inclusive com a permissão do</p><p>seu livre consumo por adultos, como no Uruguai e no Canadá, para</p><p>citar apenas dois casos.</p><p>MÓDULO 1</p><p>UNIDADE 2</p><p>POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS DROGAS</p><p>NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS?</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>21</p><p>UNIDADE 2</p><p>POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS</p><p>AS DROGAS NA PERSPECTIVA DAS</p><p>CIÊNCIAS SOCIAIS?</p><p>Conforme vimos na Unidade 1, existem muitas abordagens possíveis</p><p>para estudarmos o tema das drogas. Poderíamos estudar a compo-</p><p>sição ou as suas peculiaridades químicas, os diferentes efeitos que</p><p>o consumo de uma determinada substância gera nos indivíduos,</p><p>ou ainda os elementos que contribuíram para que uma determinada</p><p>droga seja considerada lícita ou ilícita.</p><p>Todas essas abordagens podem nos oferecer conhecimentos impor-</p><p>tantes sobre o assunto. E, apesar das diferenças, todas elas possuem</p><p>algo em comum: um método científico. O método científico é o que</p><p>nos ajuda a analisar cientificamente uma hipótese, fazer um expe-</p><p>rimento, comprovar e/ou rejeitar uma hipótese, e talvez o elemento</p><p>mais central: possibilita ser analisado, criticado e ou validado por</p><p>outros pesquisadores da área.</p><p>Neste curso, vamos explorar o tema das drogas a partir do paradigma</p><p>das ciências sociais. Com essa abordagem, esperamos que você, cur-</p><p>sista, seja capaz de analisar os fatores históricos, sociais e culturais</p><p>que contribuíram para a formação das percepções e opiniões das</p><p>pessoas sobre o tema das drogas.</p><p>2.1 O senso comum e o método científico</p><p>O sociólogo Anthony Giddens (2012) nos ensina que a maior parte</p><p>das pessoas interpreta o mundo a partir do que é familiar a elas.</p><p>Essas interpretações, que promovem uma espécie de sabedoria de</p><p>navegação social, são identificadas na literatura sociológica pela</p><p>expressão senso comum.</p><p>O chamado senso comum é tudo aquilo que um</p><p>determinado sujeito, inserido em uma dada realidade</p><p>social, compartilha de sua cultura, de seus hábitos e de</p><p>suas práticas sociais. Forma também o conteúdo das</p><p>conversas e, por extensão, informa as redes interpretativas</p><p>através das quais amplos consensos sociais vão sendo</p><p>formados, reformados e eventualmente contestados.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>22</p><p>O senso comum é marcado por:</p><p>Aplicabilidade Acessibilidade Praticidade</p><p>Se aplica às</p><p>rotinas e desafios</p><p>da vida social.</p><p>Seus vocabulários</p><p>e lógicas são</p><p>acessíveis a</p><p>praticamente</p><p>toda a população.</p><p>Resolvem ou</p><p>administram</p><p>problemas</p><p>práticos</p><p>da vida</p><p>cotidiana.</p><p>Sendo assim, o senso comum tende a operar na lógica da simplificação</p><p>e da naturalização. Essa forma de ler o mundo, apesar de ser simples</p><p>e acessível a todos, por vezes pode estar impregnada de preconceitos,</p><p>especialmente quando diz respeito ao desconhecido.</p><p>Podemos encontrar autores e professores que afirmam, para exem-</p><p>plificar, que o senso comum é como o ato de dirigir um veículo au-</p><p>tomotor nas ruas e estradas de nossas cidades. Ou seja, o condutor</p><p>de veículo atento ao que faz, que dirige como se imagina que se deve</p><p>dirigir, fará uma série de movimentos, com os membros superiores,</p><p>os inferiores e o pescoço, automaticamente, enquanto conduz o veí-</p><p>culo. Imagine se o motorista se vê diante de um caminhão aparen-</p><p>temente desgovernado, deslocando-se rápida e perigosamente em</p><p>sua direção. A sequência de movimentos muito bem coordenados que</p><p>terá que fazer para escapar dessa situação de extremo perigo soará</p><p>como automática, inconsciente. De fato, se tivesse que reproduzir</p><p>uma equação matemática para calcular a velocidade e a angulação</p><p>da rota de colisão do caminhão em direção a seu carro, certamente</p><p>não sobreviveria para contar a história.</p><p>Esse hipotético viajante das ruas aqui retratado, que utiliza sua des-</p><p>treza adquirida na prática da condução de veículos, está em uma</p><p>posição análoga à dos sujeitos, pessoas, indivíduos que utilizam o</p><p>senso comum para navegar socialmente, para ganhar a vida, namorar,</p><p>cumprir obrigações sociais, profissionais e de parentesco, interpretar</p><p>os fatos que lhes são apresentados ao longo da vida etc.</p><p>A ciência, em contrapartida, utiliza métodos sistemáticos de inves-</p><p>tigação empírica, análise de dados, pensamento teórico e a avaliação</p><p>lógica de argumentos para desenvolver um corpus de conhecimento</p><p>sobre um determinado assunto (Giddens, 2012).</p><p>Para ser aceita como válida, uma pesquisa científica precisa seguir</p><p>uma série de etapas, tal como demonstra o esquema a seguir.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de animação</p><p>sobre os aspectos</p><p>do senso comum!</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/T0qwOoDYNxY</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>23</p><p>Definição do problema: o pesquisador</p><p>seleciona o problema que ele deseja investigar.1</p><p>Execução da pesquisa: etapa de coleta</p><p>dos dados.5</p><p>Etapas da pesquisa científica</p><p>Seus resultados são registrados e discutidos</p><p>na comunidade acadêmica mais ampla –</p><p>levando talvez ao início de novas pesquisas.</p><p>Interpretação dos resultados: análise</p><p>dos dados coletados anteriormente;</p><p>o pesquisador analisa se a hipótese</p><p>da pesquisa se confirma ou não.</p><p>6</p><p>Apresentação dos resultados</p><p>da pesquisa: o pesquisador apresenta</p><p>os seus resultados, analisando-os em</p><p>relação aos estudos anteriores realizados</p><p>sobre o tema. A apresentação pode se dar</p><p>por meio de artigos científicos, em reuniões</p><p>ou congressos científicos, bancas</p><p>de avaliação, entre outros.</p><p>7</p><p>Revisão de literatura: o pesquisador deve</p><p>familiarizar-se com as pesquisas realizadas</p><p>anteriormente no tema a ser investigado</p><p>ou em temas correlatos.</p><p>2</p><p>Formulação da hipótese: usualmente,</p><p>nesta etapa, o pesquisador formula uma</p><p>pergunta de pesquisa que pode ou não ser</p><p>confirmada pela pesquisa.</p><p>3</p><p>Delineamento da pesquisa: o pesquisador</p><p>escolhe as técnicas e métodos que serão</p><p>utilizados e que poderão contribuir</p><p>para responder à(s) sua(s) pergunta(s)</p><p>de pesquisa.</p><p>4</p><p>Fonte: Adaptado de Giddens (2012).</p><p>As ciências sociais se dedicam a compreender, de forma mais ampla do</p><p>que as explicações do senso comum, por que agimos e como agimos.</p><p>Por meio de métodos científicos, as pesquisas nessa área do conhe-</p><p>cimento buscam demonstrar como muitas coisas que interpretamos</p><p>como naturais são profundamente influenciadas por fatos históricos</p><p>e processos sociais.</p><p>sobre o que é produzido e distribuído é bastante estrito, diferente do</p><p>que ocorre com a legalização na maior parte dos Estados americanos,</p><p>com regras mais gerais e bastante focados na tributação.</p><p>É muito importante separarmos com clareza os dois tipos de regulação</p><p>da produção, distribuição e uso de drogas psicoativas – terapêutica e</p><p>recreativa/social – quando discutimos esse tema, especialmente no</p><p>caso da Cannabis, mas não apenas. Embora não possam ser separados</p><p>do ponto de vista de uma percepção social mais ampla, já que a cres-</p><p>cente utilização da Cannabis para fins terapêuticos também impacta</p><p>a forma como a sociedade percebe o uso da planta com outros fins,</p><p>os riscos e as questões ensejadas pelos dois tipos de regulação são</p><p>bastante diversos.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>162</p><p>O direito à saúde também é evocado para se defender que a</p><p>manutenção de restrições rigorosas poderia prevenir o au-</p><p>mento da prevalência de uso de Cannabis e, assim, dos riscos e</p><p>dos danos associados ao seu uso, especialmente entre crianças</p><p>e adolescentes.</p><p>Como já vimos nos módulos anteriores, as maneiras como os Estados</p><p>se posicionam e agem diante do fenômeno do uso de substâncias</p><p>psicoativas – que é o que chamamos de políticas sobre drogas – são</p><p>construídas a partir de contextos, perspectivas, prioridades e valores</p><p>que não necessariamente convergem, ainda que possam ter objetivos</p><p>aparentemente comuns, como a promoção da saúde e da segurança</p><p>pública, por exemplo. Ou seja, em um debate a respeito da política sobre</p><p>drogas, duas opiniões divergentes podem ser justificadas a partir de</p><p>um mesmo valor, como o caso da preservação da saúde pública, ou por</p><p>dar mais prioridade a um determinado valor em detrimento de outro.</p><p>Para melhor entender esse processo, vamos seguir utilizando o</p><p>exemplo da Cannabis.</p><p>A defesa da regulamentação ampla para uso terapêutico se</p><p>sustenta especialmente no direito à saúde de quem utiliza a</p><p>droga para alguma condição ou doença.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>163</p><p>Há algumas evidências e dados que poderiam sustentar as duas pers-</p><p>pectivas, mas o que importa para o nosso curso é o compartilhamento</p><p>de valores em posições divergentes no debate. De outra forma, valores</p><p>diferentes podem ser ponderados para que se defenda uma ou outra</p><p>forma de regulação.</p><p>Por exemplo, a defesa do direito que pessoas adultas teriam</p><p>para decidir sobre o seu próprio consumo de Cannabis (ou de</p><p>outras drogas), desde que assumindo os riscos dessa ação, está</p><p>baseada em um valor social, que é o da liberdade individual.</p><p>Sem necessariamente negar que esse valor existe, pode-se</p><p>argumentar que ele deve ser limitado por um outro, o valor</p><p>da preservação da saúde pública e do bem comum, o que daria</p><p>legitimidade ao Estado para intervir em determinadas ações</p><p>com potencial prejuízo para os indivíduos e a sociedade.</p><p>Enquanto se apropria desses conceitos presentes na discussão sobre o</p><p>tema, é importante que você tenha sempre como pressuposta a com-</p><p>plexidade da política sobre drogas, na medida em que ela é atravessada</p><p>por valores e por perspectivas diferentes. Assim, liberdade, cuidado,</p><p>segurança, autonomia, precaução, saúde, para citar apenas alguns</p><p>desses valores, estão presentes no debate, mas são necessariamente</p><p>atravessados por dimensões concretas do fenômeno, o que envolve</p><p>tanto os riscos e os danos associados ao consumo de drogas como</p><p>as consequências de ações de regulação estatal que se aplicam sobre</p><p>elas, como a repressão policial ao tráfico.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>164</p><p>Para pensar</p><p>Como vimos no primeiro módulo do COMPASSO,</p><p>é importante, sempre que possível, se distanciar do senso</p><p>comum e buscar amparo em evidências científicas e dados</p><p>concretos. Essa, aliás, é uma postura que pode ser aplicada</p><p>a grande parte dos desafios e debates políticos.</p><p>A liberdade de adultos para consumir uma droga pode acarretar um</p><p>maior risco de exposição de crianças e adolescentes. A preservação da</p><p>saúde por meio da criminalização severa da produção, da venda e do</p><p>uso de uma substância pode trazer impactos no direito à segurança</p><p>e à vida de grupos sociais mais vulneráveis. Esses dois argumentos</p><p>podem, ainda que divergentes, estar em alguma medida corretos e</p><p>dependerão, para que o debate seja mais qualificado, das evidências</p><p>científicas disponíveis e de perspectivas socialmente situadas.</p><p>Agora que já discutimos como valores e perspectivas podem ser con-</p><p>trapostos nas discussões a respeito de política sobre drogas, podemos,</p><p>enfim, apresentar brevemente algumas definições que norteiam as</p><p>legislações sobre drogas.</p><p>MÓDULO 5</p><p>UNIDADE 2</p><p>TERMOS E PERSPECTIVAS</p><p>RELEVANTES NO DEBATE A RESPEITO</p><p>DE POLÍTICA SOBRE DROGAS</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>166</p><p>UNIDADE 2</p><p>TERMOS E PERSPECTIVAS</p><p>RELEVANTES NO DEBATE A RESPEITO</p><p>DE POLÍTICA SOBRE DROGAS</p><p>Quando um Estado legisla sobre alguma substância, ele define o seu</p><p>estatuto jurídico. Mas você pode se perguntar: a legislação penal</p><p>define toda a política sobre drogas de um país? A resposta, diferente</p><p>da política sobre drogas, é muito simples: não.</p><p>A política sobre drogas envolve todos os papéis assumidos</p><p>pelo Estado diante do fenômeno do uso de substâncias</p><p>psicoativas, não apenas os seus estatutos jurídicos.</p><p>Como se faz a prevenção dos problemas associados ao uso, as formas</p><p>de cuidado e de tratamento oferecidas aos usuários e os mecanismos</p><p>de aplicação da legislação vigente são alguns de muitos outros com-</p><p>ponentes da política sobre drogas. Essas diferentes atuações têm</p><p>conexões e se influenciam mutuamente.</p><p>No entanto, é comum que o estatuto jurídico de uma droga prepondere</p><p>sobre os outros aspectos da política sobre drogas no debate público e,</p><p>assim, você ouça, com muito mais frequência, debates a respeito da</p><p>legalização de uma droga proibida ou da criminalização de quem possui</p><p>drogas ilícitas para uso pessoal, por exemplo. Isso acontece, em parte,</p><p>porque a legislação que define o estatuto jurídico de uma substância</p><p>tem repercussões muito importantes que ultrapassam o próprio tema.</p><p>Para que você tenha condições de compreender e participar desse debate,</p><p>é importante conhecer alguns dos principais termos, retomando uma</p><p>discussão que já foi feita nos módulos anteriores, quando falamos da</p><p>atual Lei de Drogas brasileira, por exemplo. Mas, dessa vez, usaremos</p><p>como guia da nossa discussão a regulação brasileira de quatro drogas</p><p>psicoativas, duas delas permitidas no Brasil – o álcool e o tabaco –</p><p>e duas proibidas – a Cannabis e a cocaína.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone</p><p>ou tablet) para</p><p>o QR Code ao</p><p>lado e assista ao</p><p>vídeo com alguns</p><p>desafios em torno</p><p>do processo de</p><p>regulamentação.</p><p>VÍDEO</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=52WTyaxQWWI</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>167</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de animação</p><p>a respeito das</p><p>formas de</p><p>regulação estatal!</p><p>VÍDEO</p><p>Antes de entrarmos nas diferenças entre essas drogas, é importante</p><p>apresentarmos um pressuposto: se a legislação proíbe completamente</p><p>a produção, a distribuição e o uso de uma droga, isso é uma forma de</p><p>regulação estatal, ainda que altamente restritiva, justamente a regulação</p><p>que caracteriza, como já discutimos antes, o paradigma proibicionista</p><p>que rege as convenções internacionais vigentes (Fiore, 2012).</p><p>No entanto, entre esses exemplos mais extremos, há um número</p><p>considerável de possibilidades e, principalmente, de nuances</p><p>regulatórias. E eles não são estanques, na medida em que o mercado</p><p>e os padrões de consumo de drogas são, como outros fenômenos</p><p>sociais, dinâmicos. Além disso, o avanço no conhecimento científico</p><p>reforça o que se sabe sobre os riscos a respeito de cada substância</p><p>e de seus diferentes usos, impactando também na percepção social</p><p>sobre o tema.</p><p>Por outro lado, se não há legislação ou outros marcos normativos a</p><p>respeito de uma droga, também devemos entender essa como uma forma</p><p>de regulação, só que caracterizada por um sentido oposto ao da primeira:</p><p>uma mínima interferência do Estado diante das questões relativas ao uso</p><p>de tal substância.</p><p>Formas</p><p>de regulação</p><p>estatal</p><p>Por exemplo, duas drogas psicoativas lícitas com alta prevalência de</p><p>uso no Brasil, o álcool e o tabaco, não são reguladas da mesma forma.</p><p>Os marcos regulatórios que regem a produção e a distribuição das</p><p>bebidas alcóolicas são mais próximos dos controles sanitários</p><p>dos alimentos e a restrição mais importante à sua venda diz</p><p>respeito ao acesso proibido aos menores de 18 anos. Entretanto,</p><p>há poucas restrições aos locais em que se pode consumir álcool</p><p>e à publicidade de bebidas com menos de 13 graus Gay Lussac</p><p>(grau GL, utilizado para medir volume alcóolico), o que torna</p><p>praticamente livre a propaganda de cervejas, de bebidas tipo</p><p>“ice” e de alguns vinhos.</p><p>https://youtu.be/fo3zAzrXnrY</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>168</p><p>Já as regulações direcionadas ao tabaco, como vimos no início</p><p>deste módulo, se tornaram muito mais restritas nas últimas</p><p>décadas e, além da proibição da venda para crianças e adoles-</p><p>centes, há restrições de consumo em locais públicos, especial-</p><p>mente os fechados, e interdição quase completa de campanhas</p><p>publicitárias. Além disso, há obrigatoriedade de as embalagens</p><p>apresentarem rótulos bastante assustosos a respeito dos danos</p><p>acarretados à saúde pelo seu uso, o que não ocorre com as bebidas</p><p>alcóolicas. Há, ainda, a proibição no Brasil da venda de qualquer</p><p>dispositivo eletrônico para vaporização ou aquecimento de tabaco</p><p>e derivados (popularmente conhecidos como vapes).</p><p>No caso de outras duas drogas ilícitas, a Cannabis e a cocaína, há uma</p><p>regulação que as torna legalmente equivalentes, com a proibição da</p><p>produção, da distribuição e do consumo, todos eles criminalizados</p><p>e, no caso do tráfico, com penas severas. No entanto, a mesma lei</p><p>que define essa proibição – a Lei nº 11.343, de 2006, permite, como</p><p>exceções, a utilização científica ou médica das substâncias ilícitas,</p><p>o que, como vimos anteriormente, é um fenômeno bastante impor-</p><p>tante para o caso da Cannabis. Assim, uma série de legislações e normas</p><p>de nível federal e estadual e de decisões no âmbito do Poder Judiciário</p><p>têm sido criadas com o objetivo de regular o acesso à Cannabis para</p><p>uso terapêutico, todas pautadas na distinção para o uso recreativo</p><p>ou social, que permanecem criminalizados.</p><p>Veja o quadro a seguir que sintetiza o que foi posto anteriormente</p><p>sobre essas quatro substâncias psicoativas.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>169</p><p>Padrão regulatório brasileiro para quatro drogas psicoativas</p><p>Permitido</p><p>para adultos</p><p>Permitida</p><p>sem restrição</p><p>para adultos</p><p>Sem maiores</p><p>restrições</p><p>Restrições apenas</p><p>para bebidas</p><p>com mais de</p><p>13 graus GL</p><p>Sem</p><p>regulamentação</p><p>Permitido</p><p>para adultos</p><p>Criminalizado</p><p>Criminalizado</p><p>Criminalizada</p><p>como tráfico</p><p>de drogas</p><p>Criminalizada</p><p>como tráfico</p><p>de drogas</p><p>Autorizado sob</p><p>restrições de</p><p>diferentes marcos</p><p>normativos ou</p><p>pelo Poder</p><p>Judiciário</p><p>Criminalizado</p><p>Criminalizado</p><p>Permitida</p><p>com restrição</p><p>para adultos</p><p>Com restrições em</p><p>locais públicos</p><p>fechados</p><p>Proibida</p><p>Proibida</p><p>Proibida</p><p>Proibido</p><p>Proibido</p><p>Substância</p><p>Bebidas</p><p>alcoólicas</p><p>Tabaco</p><p>Cannabis/</p><p>maconha</p><p>Cocaína</p><p>Uso</p><p>Venda/</p><p>Distribuição</p><p>Limitações</p><p>de uso Publicidade</p><p>Uso</p><p>terapêutico/</p><p>medicinal</p><p>Esse quadro é apenas uma apresentação sintética da regulação</p><p>dessas quatro drogas psicoativas no Brasil e seu objetivo é facilitar</p><p>a percepção das diferenças mais estruturais, como as que dividem</p><p>as drogas lícitas das ilícitas, e também de detalhes peculiares que</p><p>separam esses pares. Você pode continuar pesquisando nas fontes que</p><p>serão apresentadas ao final deste módulo para saber mais detalhes</p><p>sobre a regulação dessas substâncias, inclusive em âmbito interna-</p><p>cional, ou se aprofundar nos dados empíricos sobre a prevalência</p><p>de uso dessas substâncias e nos riscos que acarretam segundos as</p><p>evidências científicas. E, assim, poderá perceber também que as di-</p><p>ferentes políticas sobre drogas não estão associadas exclusivamente</p><p>– como a história dessas substâncias já discutida anteriormente</p><p>demonstra – aos riscos de seu consumo, mas a outras motivações</p><p>e consequências sociais.</p><p>Além disso, os desafios para a construção das políticas sobre drogas,</p><p>que já são enormes para as drogas que conhecemos, crescem conti-</p><p>nuamente por conta da descoberta ou da síntese de novas drogas –</p><p>o fenômeno das Novas Substâncias Psicoativas (NSP) – ou de novos</p><p>padrões e formas de uso que encadearão riscos próprios e demandam</p><p>modelos regulatórios que devem ser continuamente aperfeiçoados.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>sobre os desafios</p><p>contemporâneos</p><p>para lidar com o</p><p>tema das drogas.</p><p>VÍDEO</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=gDbvSXZDlVQ</p><p>MÓDULO 5</p><p>UNIDADE 3</p><p>FONTES PARA CONTINUAR</p><p>SEUS ESTUDOS</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>171</p><p>Acesse o site do SINESP: https://atendimento.sinesp.</p><p>gov.br</p><p>Acesse o site do SINAP: https://plataformasinap.com.br</p><p>O SINESP é uma plataforma recém-lançada pelo Ministério da</p><p>Justiça e Segurança Pública (MJSP) com informações integradas</p><p>que possibilita consultas operacionais, investigativas e estratégicas</p><p>sobre segurança pública no Brasil. Lá você poderá encontrar</p><p>estatísticas atualizadas na área de segurança pública em temas</p><p>como: ocorrências de crimes, apreensão de drogas, ocorrências por</p><p>tráfico de drogas, entre outros.</p><p>O SINAP é uma plataforma do Ministério da Justiça e Segurança</p><p>Pública (MJSP) que tem como objetivo facilitar a integração,</p><p>o compartilhamento e a coordenação de atores e ações de prevenção</p><p>baseados em evidências, buscando disponibilizar informações</p><p>atualizadas sobre normativas federais, estaduais e municipais</p><p>relevantes, produção científica, publicações e práticas referentes à</p><p>prevenção, entre outros recursos.</p><p>Sistema Nacional de Informações</p><p>de Segurança Pública (SINESP)</p><p>Sistema Nacional de Prevenção do Uso</p><p>de Álcool e Outras Drogas (SINAP)</p><p>UNIDADE 3</p><p>FONTES PARA CONTINUAR</p><p>SEUS ESTUDOS</p><p>Finalmente, chegamos ao final do nosso curso. Ao longo dos cinco</p><p>módulos buscamos apresentar sínteses teóricas e dados empíricos</p><p>sobre o tema. No entanto, os estudos sobre as políticas de drogas e</p><p>sobre o sistema de justiça e segurança pública se atualizam todos os</p><p>dias no Brasil e no mundo. Em razão disso, nesta última unidade do</p><p>curso, descreveremos algumas fontes para que você, cursista, possa</p><p>continuar e atualizar os seus estudos nesse tema. A seguir, apresen-</p><p>taremos brevemente algumas delas.</p><p>https://atendimento.sinesp.gov.br</p><p>https://plataformasinap.com.br</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>172</p><p>Acesse o site do CDESC: https://www.gov.br/mj/pt-br/</p><p>assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/o-centro-</p><p>de-estudos-sobre-drogas-e-desenvolvimento-social-</p><p>comunitario-cdesc</p><p>Acesse o painel: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoi</p><p>Y2E0MjgyMDMtMzFkZS00Mjk5LTkxOWYtZTBjZTBhM2</p><p>I0MDAzIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05</p><p>MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9</p><p>O CDESC tem como missão subsidiar a Secretaria Nacional de</p><p>Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça</p><p>e Segurança Pública (SENAD/MJSP), por meio da elaboração de</p><p>estudos e análises baseadas em evidências nas áreas da demanda</p><p>e de estratégias de inovação em políticas públicas sobre drogas,</p><p>além de contribuir na divulgação dessas informações para parceiros</p><p>governamentais, da sociedade</p><p>civil e da imprensa nacional e</p><p>internacional. No site do CDESC é possível encontrar uma série de</p><p>boletins temáticos, inclusive sobre Novas Substâncias Psicoativas</p><p>no âmbito do Subsistema de Alerta Rápido sobre Drogas (SAR).</p><p>Previsto no Plano Nacional de Política de Drogas (PNAD),</p><p>conforme vimos no Módulo 4, o OBID tem o objetivo de fomentar</p><p>e disponibilizar informações sobre drogas que contribuam para a</p><p>produção de novos conhecimentos, elaboração e monitoramento</p><p>de políticas públicas baseadas em evidências e construção de</p><p>rede de informações e parcerias, nos paradigmas da prevenção,</p><p>reinserção social e redução da oferta de drogas em conformidade</p><p>com os procedimentos éticos de pesquisa, de armazenamento de</p><p>dados e com as boas práticas de governo. A plataforma passa</p><p>atualmente por um processo de reformulação e em breve estará</p><p>disponível para os usuários.</p><p>Um primeiro produto da plataforma, todavia, já pode ser acessado.</p><p>Trata-se do Painel de Dados da Pesquisa “Perfil do Processado e</p><p>Produção de Provas nas Ações Criminais por Tráfico de Drogas”,</p><p>que traça um panorama sobre a condução processual de cinco mil</p><p>autos referentes à Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas). O painel,</p><p>que visa fortalecer a democratização dos dados e o aprimoramento</p><p>do sistema de justiça, é uma parceria do MJSP com o Instituto</p><p>de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e possibilita mais de</p><p>1,9 mil cruzamentos a partir da base de dados de pesquisa por</p><p>pesquisadores e interessados em geral.</p><p>Centro de Estudos sobre Drogas e Desen-</p><p>volvimento Social Comunitário (CDESC)</p><p>Observatório Brasileiro de Informações</p><p>sobre Drogas (OBID)</p><p>https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/o-centro-de-estudos-sobre-drogas-e-desenvolvimento-social-comunitario-cdesc</p><p>https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiY2E0MjgyMDMtMzFkZS00Mjk5LTkxOWYtZTBjZTBhM2I0MDAzIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>173</p><p>Acesse as diretrizes: https://www.humanrights-</p><p>drugpolicy.org/site/assets/files/1672/hrdp_guidelines_</p><p>portugese_2020.pdf</p><p>Em 2023, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e</p><p>Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública</p><p>(SENAD/MJSP), por meio de parceria com a Universidade de Essex,</p><p>UNAIDS, ACNUDH, OPAS/OMS, PNUD e MDHC, traduziu para</p><p>o português, publicou e debateu as “Diretrizes Internacionais de</p><p>Direitos Humanos e Políticas sobre Drogas”. O documento destaca</p><p>as medidas que os Estados deveriam adotar, ou abster-se de</p><p>tomar, para cumprir suas obrigações de direitos humanos, levando</p><p>em consideração suas obrigações concomitantes em relação às</p><p>convenções internacionais de controle de drogas: a Convenção</p><p>Única sobre Entorpecentes de 1961 (com emendas), a Convenção</p><p>sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971 e a Convenção Contra</p><p>o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas das</p><p>Nações Unidas de 1988. Criticamente, eles não inventam novos</p><p>direitos. Eles aplicam as leis de direitos humanos existentes ao</p><p>contexto jurídico e político do controle de drogas, a fim de maximizar</p><p>as proteções aos direitos humanos, inclusive na interpretação e</p><p>implementação das convenções de controle de drogas.</p><p>Diretrizes Internacionais sobre Direitos</p><p>Humanos e Políticas sobre Drogas</p><p>Acesse o site do UNODC: https://www.unodc.org/lpo-</p><p>brazil/pt/drogas/relatorio-mundial-sobre-drogas.html</p><p>O UNODC possui sede em Viena e unidades regionais por todo o</p><p>mundo. Ele apoia os países na implementação das três Convenções</p><p>das Nações Unidas sobre drogas através de programas globais e</p><p>escritórios regionais que prestam assistência técnica e científica</p><p>para os Estados-membros da ONU na área de drogas e crime.</p><p>Anualmente, o UNODC publica o “Relatório Mundial sobre</p><p>Drogas”, que infelizmente está em inglês, mas que reúne os</p><p>principais dados e análises de tendências sobre a produção,</p><p>o tráfico e o consumo de drogas ilegais em todo o mundo. Os dados</p><p>são compilados pelo UNODC a partir de questionários enviados</p><p>aos países-membros e compõem um documento de referência</p><p>para nortear as políticas globais sobre drogas.</p><p>Relatório Mundial sobre Drogas do</p><p>Escritório das Nações Unidas sobre</p><p>Drogas e Crime (UNODC)</p><p>https://www.humanrights-drugpolicy.org/site/assets/files/1672/hrdp_guidelines_portugese_2020.pdf</p><p>https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/drogas/relatorio-mundial-sobre-drogas.html</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>174</p><p>Acesse o site do MEM: https://www.oas.org/ext/en/</p><p>security/mem</p><p>O MEM é um processo de revisão entre pares dedicado a dar</p><p>seguimento aos compromissos dos países-membros previstos</p><p>na Estratégia Hemisférica sobre Drogas, assim como no conjunto</p><p>de acordos estabelecidos no âmbito das Nações Unidas sobre</p><p>o tema. O mecanismo foi criado em 1999 como um método de</p><p>avaliação governamental multilateral, sob coordenação da</p><p>Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas</p><p>(CICAD), visando monitorar os esforços nacionais para controlar</p><p>a produção e o tráfico de drogas ilícitas, e fortalecer a cooperação</p><p>internacional nessa área. O site da CICAD/OEA está em inglês,</p><p>mas existe a possibilidade de escolher o idioma português no</p><p>cabeçalho, acesse!</p><p>Mecanismo de Avaliação Multilateral</p><p>(MEM) da Comissão Interamericana para</p><p>o Controle do Abuso de Drogas (CICAD)</p><p>Acesse o site do INCT-InEAC: https://www.ineac.uff.br</p><p>Acesse o site do NEV-USP: https://nev.prp.usp.br</p><p>O INCT-InEAC vem há décadas desenvolvendo estudos empíricos</p><p>sobre o trabalho das instituições do, assim compreendido, sistema de</p><p>justiça, segurança pública e administração institucional de conflitos.</p><p>São vários artigos publicados em periódicos acadêmicos,</p><p>publicações de divulgação científica, bem como dissertações de</p><p>mestrado e teses de doutorado defendidas nas últimas décadas</p><p>(grande parte posteriormente publicada).</p><p>O Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) desde 1987</p><p>desenvolve pesquisas e forma pesquisadores por meio de uma</p><p>abordagem interdisciplinar na discussão de temas relacionados à</p><p>violência, democracia e diretos humanos.</p><p>Instituto de Estudos Comparados em</p><p>Administração de Conflitos (INCT-InEAC),</p><p>da Universidade Federal Fluminense (UFF)</p><p>Núcleo de Estudos da Violência da</p><p>Universidade de São Paulo (NEV-USP)</p><p>https://www.oas.org/ext/en/security/mem</p><p>https://www.ineac.uff.br</p><p>https://nev.prp.usp.br</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 5 - A emergência de novos modelos e abordagens sobre o tema das drogas</p><p>175</p><p>Acompanhe essas fontes e mantenha-se atualizado!</p><p>Veja a seguir os pontos mais importantes demonstrados neste módulo.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>e conhecer mais</p><p>algumas dicas</p><p>para continuar</p><p>seus estudos</p><p>sobre a temática</p><p>das drogas.</p><p>VÍDEO</p><p>SÍNTESE DO MÓDULO</p><p>O que procuramos apresentar a você no</p><p>decorrer deste módulo é que a realidade</p><p>atual da “questão das drogas” tem sido</p><p>reconsiderada em diferentes contextos.</p><p>O paradigma da proibição, que vigorou</p><p>nas últimas décadas, é colocado em</p><p>questionamento em diversos países,</p><p>inclusive no Brasil. Além das mudanças</p><p>nas políticas de drogas, descobertas no</p><p>campo da ciência podem contribuir para a</p><p>construção de novos paradigmas nessa área.</p><p>Esperamos que o conteúdo aprendido</p><p>até aqui tenha contribuído para sua</p><p>compreensão sobre os processos</p><p>históricos, sociais e políticos que envolvem</p><p>as políticas de drogas e os seus efeitos.</p><p>Ao mesmo tempo, a partir de agora,</p><p>caberá a você, cursista, a partir dos</p><p>conhecimentos adquiridos ao longo do</p><p>curso, continuar se informando sobre o</p><p>tema. Desejamos que você tenha sucesso</p><p>nesta caminhada!</p><p>Você finalizou o último módulo do “COMPASSO - Curso sobre Políticas</p><p>de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais”. Parabéns!</p><p>Esperamos que você tenha aproveitado o conteúdo e que dê continui-</p><p>dade aos seus estudos com as referências indicadas.</p><p>Bom percurso!</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=-XOMtNVFuLE</p><p>176</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARAUJO, T. Guia sobre drogas para jornalistas. São Paulo: IBCCRIM-</p><p>-PBPD-Catalize-SSRC, 2017. Disponível em: https://pbpd.org.br/pu-</p><p>blicacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/. Acesso em:13 dez. 2023.</p><p>BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema</p><p>Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD; prescreve medidas</p><p>para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários</p><p>e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção</p><p>não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras</p><p>providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2006.</p><p>CALDEIRA, G. et al. Glossário de termos sobre drogas. Brasília: Centro de</p><p>Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (CDESC),</p><p>Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos da Colômbia</p><p>(SIMCI), Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC),</p><p>Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério</p><p>da Justiça e Segurança Pública, 2023.</p><p>CARLINI, E. A. Maconha (Cannabis Sativa): mito e realidade, fatos e fantasia.</p><p>In: HENMAN, Anthony; PESSOA JR., Osvaldo. Diamba sarabamba: coletânea</p><p>de textos brasileiros sobre a maconha. Editora Ground: São Paulo, 1986.</p><p>FIORE, M. O lugar do Estado na questão das drogas: o paradigma proi-</p><p>bicionista e as alternativas. Novos Estudos CEBRAP, n. 92, mar. 2012.</p><p>FIOCRUZ. Exposição mostra como a indústria do fumo enganou as</p><p>pessoas. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: https://agencia.fiocruz.</p><p>br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-</p><p>-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20</p><p>mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20</p><p>enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20</p><p>reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20</p><p>e%20a%20garganta%E2%80%9D. Acesso em: 24 abr. 2024.</p><p>INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA). Prevalência do tabagismo.</p><p>[Rio de Janeiro], 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/</p><p>assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/observatorio-da-politica-</p><p>-nacional-de-controle-do-tabaco/dados-e-numeros-do-tabagismo/</p><p>prevalencia-do-tabagismo. Acesso em: 10 jun. 2024.</p><p>MALCHER-LOPES, R.; RIBEIRO, S. Maconha, cérebro e saúde. Florianópolis:</p><p>Vieira e Lent Editora, 2007.</p><p>MECHOULAM, R.; CARLINI, Elisaldo A. Towards drugs derive from</p><p>Cannabis. Naturwissenschaften, v. 65, n. 4, p. 174-179, 1978.</p><p>UNODC. World Drug Report 2021. Drug Market trends: Cannabis opioids.</p><p>Viena, 2021. Disponível em: https://www.unodc.org/res/wdr2021/field/</p><p>WDR21_Booklet_3.pdf. Acesso em: 24 abr. 2024.</p><p>https://pbpd.org.br/publicacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/</p><p>https://pbpd.org.br/publicacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/</p><p>https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20e%20a%20garganta%E2%80%9D</p><p>https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20e%20a%20garganta%E2%80%9D</p><p>https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20e%20a%20garganta%E2%80%9D</p><p>https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20e%20a%20garganta%E2%80%9D</p><p>https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20e%20a%20garganta%E2%80%9D</p><p>https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20e%20a%20garganta%E2%80%9D</p><p>https://agencia.fiocruz.br/exposi%C3%A7%C3%A3o-mostra-como-a-ind%C3%BAstria-do-fumo-enganou-as-pessoas#:~:text=Exposi%C3%A7%C3%A3o%20mostra%20como%20a%20ind%C3%BAstria%20do%20fumo%20enganou%20as%20pessoas,-Imprimir&text=Em%20v%C3%A1rias%20reprodu%C3%A7%C3%B5es%20da%20%C3%A9poca,o%20nariz%20e%20a%20garganta%E2%80%9D</p><p>https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-tabaco/dados-e-numeros-do-tabagismo/prevalencia-do-tabagismo</p><p>https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-tabaco/dados-e-numeros-do-tabagismo/prevalencia-do-tabagismo</p><p>https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-tabaco/dados-e-numeros-do-tabagismo/prevalencia-do-tabagismo</p><p>https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-tabaco/dados-e-numeros-do-tabagismo/prevalencia-do-tabagismo</p><p>https://www.unodc.org/res/wdr2021/field/WDR21_Booklet_3.pdf</p><p>https://www.unodc.org/res/wdr2021/field/WDR21_Booklet_3.pdf</p><p>M I N I S T É R I O D A</p><p>J U S T I Ç A E</p><p>S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A</p><p>REALIZAÇÃO</p><p>aPRESENTAÇÃO</p><p>unidade 1</p><p>As “drogas” no mundo Ocidental</p><p>unidade 2</p><p>Por que e como são estudadas as drogas na perspectiva das ciências sociais?</p><p>2.1 O senso comum e o método científico</p><p>2.2 Os “sensos comuns” em torno</p><p>das drogas</p><p>unidade 3</p><p>Criminalizar, descriminalizar, legalizar: o que significa cada uma dessas palavras?</p><p>unidade 4</p><p>O tema das drogas na história</p><p>4.1 Primeiras regulações e proibições</p><p>das drogas</p><p>Referências</p><p>aPRESENTAÇÃO</p><p>unidade 1</p><p>Como a sociedade lida com as drogas no mundo contemporâneo?</p><p>unidade 2</p><p>As conferências internacionais</p><p>2.1 As primeiras ações internacionais</p><p>2.2 As Conferências da ONU</p><p>unidade 3</p><p>As influências e consequências do modelo de guerra às drogas na América Latina</p><p>unidade 4</p><p>Os conflitos e as legislações sobre drogas no Brasil</p><p>Referências</p><p>aPRESENTAÇÃO</p><p>unidade 1</p><p>A atual Lei de Drogas brasileira</p><p>unidade 2</p><p>O funcionamento do</p><p>sistema de segurança pública e justiça criminal no Brasil</p><p>unidade 3</p><p>Os desafios do</p><p>sistema de segurança pública e justiça criminal no Brasil</p><p>3.1 Superposição de esforços e conflitos entre as instituições policiais e judiciais</p><p>3.2 Altos índices de violência, homicídios</p><p>e letalidade policial</p><p>3.3 Superlotação das prisões x sentimento de impunidade</p><p>3.4 Ascensão dos grupos criminosos organizados</p><p>unidade 4</p><p>Os impactos da Lei de Drogas no Brasil sobre a segurança pública</p><p>Referências</p><p>MÓDULO 4</p><p>aPRESENTAÇÃO</p><p>Unidade 1</p><p>O SISNAD e suas finalidades</p><p>Unidade 2</p><p>A estrutura do SISNAD</p><p>Unidade 3</p><p>Princípios do SISNAD</p><p>Unidade 4</p><p>A Política Nacional sobre Drogas (PNAD) e o Plano Nacional de Políticas sobre Drogas (PLANAD)</p><p>4.1 Prevenção</p><p>4.2 Tratamento, acolhimento, recuperação, apoio, mútua ajuda e reinserção</p><p>4.3 Redução da oferta</p><p>4.4 Estudos, pesquisas e avaliações</p><p>4.5 O Plano Nacional de Políticas sobre Drogas (PLANAD)</p><p>Referências</p><p>aPRESENTAÇÃO</p><p>Unidade 1</p><p>Mudanças na percepção social do tabaco e da Cannabis e algumas consequências regulatórias</p><p>1.1 Apontamentos sobre o uso</p><p>terapêutico da Cannabis</p><p>1.2 O debate sobre marcos</p><p>regulatórios da Cannabis</p><p>Unidade 2</p><p>Termos e perspectivas</p><p>relevantes</p><p>no debate a respeito de política sobre drogas</p><p>Unidade 3</p><p>Fontes para continuar</p><p>seus estudos</p><p>Referências</p><p>Diferentemente daquilo que acontece com físicos, químicos e boa</p><p>parte dos biólogos, cujas pesquisas se dão em laboratórios guardados</p><p>em condições controladas de temperatura e pressão, os cientistas</p><p>sociais têm a vida social, na qual circulam como seres viventes, como</p><p>seu “laboratório”. Enquanto sujeito que não apenas estuda, mas vive</p><p>imerso nesse meio social, as inquietações que dão origem a seus</p><p>projetos de pesquisa, não raro, surgem em articulação com seus</p><p>desejos ou sistemas corporativos de crenças.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>24</p><p>Embora esse fenômeno afete todos os campos de produção do conhe-</p><p>cimento, os pesquisadores das ciências sociais estão especialmente</p><p>intricados com os problemas sociais que estudam, e isso pode ser um</p><p>grande complicador para seu trabalho. Como observou o sociólogo</p><p>francês Remi Lenoir (1998), é para isso que devemos cuidadosamente</p><p>atentar no momento de construir nossas análises sociológicas a partir</p><p>do terreno minado dos problemas sociais.</p><p>O papel do pesquisador é compreender os “problemas sociais”, é,</p><p>portanto, fornecer subsídios confiáveis na forma de conhecimento</p><p>para avançarmos no entendimento dos processos sociais. O primeiro</p><p>passo para se compreender um “problema social” é considerá-lo</p><p>como resultado de um trabalho social permanente, da atividade</p><p>coletiva de várias pessoas, com interesses e motivações diversos.</p><p>Isto é, transformar o “problema social” em um objeto sociológico.</p><p>O que é construído como ‘problemas sociais’ varia segundo as</p><p>épocas e as regiões e pode desaparecer como tal, precisamente</p><p>no momento em que subsistem os fenômenos designados por</p><p>eles. É o caso, por exemplo, da pobreza que, nos Estados Unidos,</p><p>foi um grave ‘problema social’ durante os anos 30, desapareceu</p><p>na década de 1940-1950 e voltou a aparecer nos anos 80;</p><p>ou ainda o caso do racismo que só se transformou em um</p><p>‘problema social’ nos anos 60.</p><p>Lenoir, 1998, p. 64</p><p>Considerando que o “problema social” não é algo dado, mas cons-</p><p>truído socialmente, o passo seguinte para compreendê-lo é analisar</p><p>o contexto em que surge.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>25</p><p>PODCAST TRANSCRITO</p><p>Para que alguma prática ou condição social se torne um</p><p>“problema social”, é preciso que um grupo de pessoas consiga</p><p>chamar a atenção de todo mundo, que seja capaz de mobilizar a</p><p>opinião pública em seu favor, fazendo com que a sua definição</p><p>seja aceita. Se esse primeiro esforço for bem-sucedido,</p><p>o “problema social” começa a ser “resolvido”, isto é, serão</p><p>criados meios e ferramentas para, dependendo do “tipo de</p><p>problema”, avaliar a sua “dimensão”, por meio de estatísticas</p><p>de empresas e institutos, para “combatê-lo” com novos</p><p>departamentos policiais; para “estudá-lo”, com novas</p><p>especialidades de formação, e assim por diante. Quanto mais</p><p>bem-sucedido for o trabalho de definição, mais investimentos e</p><p>atenção o “problema social” vai receber.</p><p>A análise sociológica de todos esses elementos, dos grupos envolvidos,</p><p>passando pelos meios de veiculação mobilizados, até a institucionali-</p><p>zação das ações para “resolver” o “problema social”, é o que produz</p><p>evidências científicas. Ao contrário do senso comum, as evidências</p><p>científicas são testadas e discutidas.</p><p>2.2 Os “sensos comuns” em torno</p><p>das drogas</p><p>A formulação “as ‘drogas’ matam e fazem mal” é uma afirmação</p><p>amplamente compartilhada por porções da população brasileira e</p><p>mundial atualmente. A cientista política canadense Line Beauchesne,</p><p>com vasta experiência de pesquisa nesse campo, demonstra que certo</p><p>terror criado sobre as “drogas”, muito longe de poupar os indivíduos</p><p>e as coletividades dos males que tais substâncias eventualmente</p><p>podem trazer, acaba se tornando parte do problema.</p><p>As drogas podem corresponder a necessidades de descontração,</p><p>bem-estar e servir de suporte de maneira adequada a certas</p><p>atividades e certos estilos de vida. Todavia, se o consumo</p><p>de drogas pode fornecer benefícios tanto físicos quanto</p><p>psicológicos, estes podem se transformar em malefícios para a</p><p>saúde do consumidor e, mesmo, para sua organização de vida,</p><p>se o consumo não puder mais ser controlado adequadamente</p><p>segundo as necessidades e capacidades do consumidor,</p><p>ou os valores e limites de seu meio social. Os benefícios podem</p><p>também se transformar em malefícios caso os indivíduos</p><p>tenham associado um medo muito forte a estes produtos e a</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>26</p><p>uma forte convicção de seu teor nocivo. No Quebec,</p><p>por exemplo, como em outros lugares, no passado, quando</p><p>médicos e pacientes curados convenceram uma parte da</p><p>população de que a masturbação podia causar cegueira, loucura</p><p>e, mesmo, provocar a morte, diversas pessoas, após a prática da</p><p>masturbação, ficaram cegas, loucas, e mesmo morreram.</p><p>A crença no efeito de uma ação ou efeito placebo de um produto</p><p>não pode ser negligenciada no que diz respeito ao discurso-</p><p>pânico sobre a questão das drogas. O estresse da desobediência,</p><p>a culpa e a crença, na realidade dos efeitos anunciados, podem</p><p>ser suficientes para levar pessoas a confirmar em seus corpos e</p><p>comportamentos os malefícios dos produtos.</p><p>Beauchesne, 2014, p. 28</p><p>Portanto, mais do que negar as ideias do senso comum, neste curso</p><p>exploraremos as origens delas e demonstraremos que muitas das</p><p>que parecem inatas ou imutáveis estão sujeitas às mutações sociais.</p><p>Além disso, apresentaremos como as evidências vindas do mundo</p><p>científico têm contribuído para desmistificarmos algumas das visões</p><p>vigentes nos sensos comuns sobre o tema das drogas.</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>que trata sobre</p><p>a distinção entre</p><p>senso comum</p><p>e perspectiva</p><p>analítica.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/MXHXARFvdLk</p><p>MÓDULO 1</p><p>UNIDADE 3</p><p>CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, LEGALIZAR:</p><p>O QUE SIGNIFICA CADA UMA DESSAS PALAVRAS?</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>28</p><p>UNIDADE 3</p><p>CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR,</p><p>LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA</p><p>UMA DESSAS PALAVRAS?</p><p>Uma vez que propomos estudar o tema das drogas a partir da pers-</p><p>pectiva da sociedade, precisamos compreender o estado atual do</p><p>tema em uma determinada sociedade, assim como os processos que</p><p>nos guiaram até o momento que estamos hoje.</p><p>Émile Durkheim, considerado um dos pais fundadores da sociologia,</p><p>contribuiu significativamente para que as questões que antes eram</p><p>atribuídas a um comportamento individual passassem a ser concebidas</p><p>como forças e relações sociais (Giddens, 2011). Durkheim analisou</p><p>temas como o crime, o desvio e o direito. Para ele, o direito é um in-</p><p>dicador da evolução das sociedades (Lallement, 2008). A partir dele</p><p>podemos identificar os valores e crenças vigentes em uma determi-</p><p>nada sociedade. Ele afirma que no mundo social o direito teria duas</p><p>funções: atingir aqueles que cometem as transgressões e restituir a</p><p>sociedade, um determinado indivíduo ou um grupo de pessoas do</p><p>direito que foi lesado. Em uma sociedade em movimento, as normas</p><p>e leis que a regem também estão em movimento. Em razão disso,</p><p>determinadas condutas, que em dado momento são consideradas</p><p>criminosas, podem deixar de ser, ou pode ocorrer o processo inverso,</p><p>uma conduta que não era considerada criminosa em um determinado</p><p>momento histórico tornar-se criminosa.</p><p>Outra contribuição importante para o tema é a do sociólogo estadu-</p><p>nidense Howard Becker (2005). Ele é um dos principais autores do</p><p>que chamamos de “sociologia do desvio”. A partir de uma pesquisa</p><p>de campo com musicistas de jazz e usuários de maconha na cidade</p><p>de Chicago (EUA), ele defende que o desvio é uma criação social,</p><p>ou seja, a sociedade define o que é o comportamento normal e, con-</p><p>sequentemente, o comportamento anormal (desviante). Em geral,</p><p>as regras que definem um desvio seriam criadas</p><p>por pessoas em</p><p>posição de maior poder em uma sociedade e se direcionariam às que</p><p>estão em posição de menor poder.</p><p>Émile Durkheim.</p><p>Fonte: Wikipédia.</p><p>Howard Becker.</p><p>Fonte: © [Sophie Bassouls/Sygma]</p><p>|The New York Times.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>29</p><p>Portanto, para Becker, o quanto um determinado ato será</p><p>tratado ou não como desvio depende de quem o comete</p><p>e de quem se sente prejudicado por ele, assim como as</p><p>regras tendem a ser aplicadas mais a algumas pessoas</p><p>do que a outras.</p><p>Portanto, se Durkheim nos ensina que compreender as regras formais</p><p>– definidas pelo direito – nos ajuda a compreender os valores de</p><p>uma determinada sociedade, Becker nos ensina como a construção</p><p>dessas regras usualmente reproduz estruturas de poder vigentes</p><p>na sociedade. Além das contribuições de Durkheim e de Becker,</p><p>uma série de autores, no Brasil e no mundo, tem se dedicado a</p><p>compreender diversos aspectos sobre o tema das drogas a partir</p><p>das ciências sociais. Alguns deles serão apresentados ao longo deste</p><p>curso. Mas, em resumo, uma abordagem para o tema das drogas a</p><p>partir das ciências sociais busca demonstrar que:</p><p>[...] não há uma substância e nem um indivíduo como elementos</p><p>universais e objetivos, mas há contextos sociais e culturais</p><p>diferentes, de substâncias diferentes e realizados por indivíduos</p><p>diferentes e, sem a devida atenção a essa diversidade, não é</p><p>possível uma compreensão razoável do fenômeno.</p><p>Fiore, 2020, p. 26-27</p><p>Se consideramos que a forma de gestão do tema das drogas é social,</p><p>precisamos conhecer algumas das formas como as sociedades vêm</p><p>lidando com essa questão, seja no sentido de proibir, controlar ou até</p><p>mesmo de não opinar sobre o seu uso. No esquema a seguir, apresen-</p><p>tamos algumas dessas possibilidades. No Módulo 5, discutiremos um</p><p>pouco mais o que alguns desses termos significam nos atuais debates</p><p>a respeito da política sobre drogas.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>30</p><p>Tornar uma conduta/prática um crime previsto pelo Código Penal.</p><p>Criminalizar</p><p>O consumo da substância continua sendo crime de acordo com o</p><p>Código Penal, mas é retirada a pena de prisão para o usuário.</p><p>Despenalizar o uso</p><p>Retira a conduta/prática do Código Penal, portanto, deixa de ser</p><p>crime. No entanto, podem ser estabelecidas ou medidas</p><p>administrativas, tais como multa, para determinadas condutas</p><p>consideradas inadequadas.</p><p>Descriminalizar</p><p>Estabelecer uma ou mais normas ou leis para a produção, venda</p><p>ou consumo de substâncias psicoativas.</p><p>Regulamentar</p><p>Torna lícita todas as atividades ligadas a produção, comércio</p><p>e consumo das drogas.</p><p>Legalizar</p><p>Aponte a câmera</p><p>do seu dispositivo</p><p>móvel (smartphone</p><p>ou tablet) para o</p><p>QRCode ao lado</p><p>e assista ao vídeo</p><p>sobre as diferentes</p><p>categorias de</p><p>controle das drogas.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/e2uTHrXC2HU</p><p>MÓDULO 1</p><p>UNIDADE 4</p><p>O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>32</p><p>UNIDADE 4</p><p>O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA</p><p>Conhecer os processos históricos em que se desenvolveram as nossas</p><p>concepções nos ajuda a desnaturalizar ideias que pareciam naturais e</p><p>compreender como foram construídas as visões que possuímos hoje</p><p>sobre um determinado assunto. Isso se aplica ao tema das drogas.</p><p>O historiador Henrique Carneiro (2005), um dos principais especia-</p><p>listas sobre o tema no Brasil, nos indica uma possível etimologia da</p><p>palavra drogas.</p><p>Verbete</p><p>Etimologia:</p><p>1. Parte da gramática que trata da</p><p>origem e formação das palavras.</p><p>2. Origem de uma palavra.</p><p>A palavra ‘droga’ provavelmente deriva do termo holandês</p><p>droog, que significava produtos secos e servia para designar,</p><p>dos séculos XVI ao XVIII, um conjunto de substâncias naturais</p><p>utilizadas, sobretudo, na alimentação e na medicina. Mas o</p><p>termo também foi usado na tinturaria ou como uma substância</p><p>que poderia ser consumida por mero prazer.</p><p>Carneiro, 2005, p. 11</p><p>Sendo assim, a análise da provável origem da palavra “droga” já nos</p><p>mostra que o termo foi usado com diferentes significados ao longo dos</p><p>séculos: na alimentação, na medicina, na tinturaria ou para definir</p><p>as práticas sociais mais diversas.</p><p>Fonte: © [master1305] / Freepik.</p><p>Se observarmos a grafia da palavra utilizada em diversos idiomas</p><p>contemporâneos, veremos que a vinculação etimológica, tese de</p><p>Carneiro, é consistente.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>33</p><p>“Droga” → português, espanhol, italiano</p><p>“Drug” → inglês</p><p>“Drogue” → francês</p><p>“Drosch” → alemão</p><p>Esses exemplos são para citar algumas línguas faladas ao redor do</p><p>mundo e de alguma forma vinculadas ao que se convencionou chamar</p><p>de cultura ocidental. Temos, inequivocamente, na etimologia dessa</p><p>palavra, um radical compartilhado.</p><p>Aprofundando mais o assunto, o antropólogo Eduardo Viana Vargas nos</p><p>fornece mais algumas informações importantes sobre o contexto do</p><p>surgimento da palavra “droga” e seus usos. Ele diz que essa etimologia:</p><p>[...] também nos permite situar a emergência do vocábulo</p><p>[droga] diretamente no contexto dos contatos entre os povos</p><p>europeus e seus outros (encarnados, na época, sobretudo pelos</p><p>árabes e demais povos do Oriente), tais como esses contatos se</p><p>deram nos últimos séculos da Idade Média.</p><p>Vargas, 2008, p. 42</p><p>Portanto, além de diferentes significados, a palavra “droga” parece</p><p>ter surgido para dar conta de sentidos que apareceram com força no</p><p>contexto do contato dos povos europeus com outros povos, como os</p><p>árabes e os africanos, e posteriormente os ameríndios, após o fim da</p><p>Idade Média. Ou seja, a palavra “droga” começou a ser usada para</p><p>designar substâncias exóticas, estranhas ao mundo europeu da época,</p><p>coincidindo com o período de inovações nas ciências náuticas, que</p><p>permitiram, por sua vez, uma exploração do mundo em níveis antes</p><p>praticamente impensáveis.</p><p>É importante ressaltar que esse é o período da “expansão europeia”,</p><p>inicialmente para o Oriente, e adiante para a África e América, com as</p><p>“grandes navegações”, que impulsionaram a criação de rotas comerciais</p><p>e, consequentemente, o contato entre os povos. Em suma, ensejaram</p><p>a experiência da diferença cultural em níveis até então inéditos.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>34</p><p>SAIBA MAIS</p><p>O comércio europeu na época da “expansão” se baseava em</p><p>diversos produtos, entre eles, especiarias, açúcar, temperos</p><p>como cravo, canela, pimenta, gengibre e noz-moscada.</p><p>Também, tecidos, corantes e alimentos típicos de cada região.</p><p>Para saber mais sobre esse período, acesse o link, disponível</p><p>em: https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/</p><p>grandes-navegacoes.</p><p>Através desse contato, uma série de substâncias amplamente classifi-</p><p>cadas como drogas se tornaram conhecidas e muito apreciadas pelos</p><p>europeus. E que drogas eram essas tão valiosas? Muito provavelmente</p><p>você tem na despensa de sua casa, mas nunca pensou nessas substân-</p><p>cias dessa forma: essas “drogas” são as especiarias, tão comuns na</p><p>culinária brasileira. Além delas, outras substâncias que hoje consi-</p><p>deramos alimentos também já foram mais comumente classificadas</p><p>como “drogas”. Veja em seguida alguns exemplos.</p><p>https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes</p><p>https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>35</p><p>Na mesma direção, as substâncias que atraíram o interesse europeu</p><p>por seus efeitos psicofarmacológicos, ou, dito de outra maneira,</p><p>por sua capacidade de alterar os estados de consciência, como o tabaco,</p><p>a maconha e a coca, também foram nomeadas de “drogas”.</p><p>O ponto a ser destacado aqui é que há inúmeras substâncias diferentes</p><p>entre si, além das citadas. Ainda poderíamos incluir o pau-brasil,</p><p>a quina, a copaíba. Como já mencionado, não</p><p>adianta tentar separar</p><p>essas substâncias em listas ou decorar seus nomes.</p><p>A solução, como também já destacamos, é entender que o</p><p>uso da palavra “droga” se modificou ao longo da história.</p><p>Portanto, não há uma qualidade intrínseca em qualquer</p><p>substância que a conduza a ser classificada, ou não, como</p><p>droga. O foco não deve ser na substância, qualquer que seja</p><p>ela, mas na escolha que é feita, em determinado momento,</p><p>sobre o que é ou não droga.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>36</p><p>Em seguida, uma vez que se entende como uma substância é defi-</p><p>nida, deve-se focar em como sua produção, circulação, mercados</p><p>e consumo são regulados pela sociedade, por meio de instituições,</p><p>leis e costumes. Assim, há um ponto em comum entre todas essas</p><p>substâncias que, ao longo da história, foram classificadas dessa forma:</p><p>[...] todas essas substâncias vieram de longe, de fora da Europa:</p><p>o açúcar e o café da Arábia, o chá da China, o chocolate e o tabaco</p><p>da América, e mesmo as bebidas destiladas, que aparentemente</p><p>foram inicialmente elaboradas na Europa, só o foram em virtude</p><p>da introdução, naquele continente, do alambique, aparelho que,</p><p>ao que tudo indica, é de origem árabe.</p><p>Vargas, 2008, p. 48</p><p>Esse é um ponto muito importante que a análise etimológica e histórica</p><p>nos indica e que merece ser destacado. A palavra “droga” surgiu no</p><p>contexto de complexos encontros culturais e começou a ser usada para</p><p>classificar substâncias exóticas, desconhecidas do mundo europeu.</p><p>Por serem desconhecidas, as “drogas” foram consideradas muito</p><p>valiosas e desejadas, de tal forma que despertaram muito interesse</p><p>e grande aceitação, por suas potencialidades mercadológicas, espa-</p><p>lhando-se assim pelo mundo todo. É interessante observar que essa</p><p>dupla característica das “drogas”, de algo exótico e desconhecido,</p><p>mas que desperta desejo e aceitação, continua ainda presente na</p><p>maneira como os Estados modernos lidam com essas substâncias.</p><p>Por um lado, classificamos como</p><p>“drogas” as substâncias que não</p><p>deveriam fazer parte do mundo</p><p>atual, que devem ser criminalizadas</p><p>e proibidas, taxadas como venenos.</p><p>Por outro lado, também são</p><p>denominadas como “drogas”</p><p>substâncias que nos salvam a vida,</p><p>amplamente desejadas e aceitas,</p><p>que se tornam medicamentos e são</p><p>produzidas em escala industrial.</p><p>Foto: © [itakdalee] / iStock.</p><p>Foto: © [Pixabay] / Pexels.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>37</p><p>Entre as concepções de veneno e remédio, abre-se ainda um arco de</p><p>outros usos possíveis, hedonísticos, ritualísticos etc.</p><p>Um dos termos mais utilizados como sinônimo de drogas é o de</p><p>fármaco – daí a farmácia e a farmacopeia –, e sua origem é a língua</p><p>grega. Pharmakon era um termo polissêmico (de muitos sentidos)</p><p>e poderia ser remédio, veneno ou até inócuo, a depender da dose,</p><p>do contexto e do objetivo de quem usa ou ministra para uso a outra</p><p>pessoa (Serson, 2007).</p><p>Aponte a câmera</p><p>do seu dispositivo</p><p>móvel (smartphone</p><p>ou tablet) para o</p><p>QR Code ao lado</p><p>e assista ao vídeo</p><p>sobre a diversidade</p><p>na caracterização,</p><p>mercados e consumo</p><p>de “drogas”</p><p>em diferentes</p><p>sociedades!</p><p>VÍDEO</p><p>4.1 Primeiras regulações e proibições</p><p>das drogas</p><p>É difícil assegurar qual foi a primeira regulação estatual ou mesmo</p><p>a primeira proibição de alguma droga no mundo. Isso porque nem</p><p>sempre temos os registros históricos acessíveis das normas e regras</p><p>que regeram determinadas sociedades. No entanto, a partir da histo-</p><p>riografia, somos capazes de encontrar alguns momentos históricos</p><p>que são considerados marcos no mundo Ocidental. Nesta unidade,</p><p>falaremos sobre o caso do álcool e da maconha.</p><p>Atualmente o consumo de álcool é amplamente disseminado; portanto,</p><p>ele é considerado uma droga lícita em diversos países. Entretanto,</p><p>ao longo da história, o consumo e a venda de álcool foram objetos</p><p>de uma série de disputas que culminaram em diferentes iniciativas</p><p>de proibição e/ou controle.</p><p>https://youtu.be/HsX-LGM78mU</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>38</p><p>1730</p><p>Em poucas décadas, seu consumo</p><p>proliferou e, por volta de 1730,</p><p>o consumo massivo, especialmente</p><p>entre as pessoas mais pobres,</p><p>se tornou um problema social.</p><p>Naquele contexto, o álcool aparecia</p><p>para os mais pobres como uma saída</p><p>para lidar com as condições de</p><p>miserabilidade enfrentadas pelo país.</p><p>Sérgio Shecaira (2014) analisa a</p><p>gênese da proibição do álcool e</p><p>demonstra como, por volta de</p><p>1690, sua produção e consumo</p><p>foram amplamente incentivados</p><p>na Inglaterra.</p><p>1690</p><p>Em resposta a esse uso, os setores</p><p>mais privilegiados da sociedade</p><p>passaram a defender políticas que</p><p>restringissem o acesso das classes</p><p>mais pobres ao álcool.</p><p>Em 1736, foi aprovada uma forte</p><p>taxação à bebida, o que acabou por</p><p>restringir a possibilidade de</p><p>consumo pelos setores mais pobres.</p><p>Em paralelo a isso, desenvolveu-se</p><p>uma série de práticas para alterar a</p><p>percepção social acerca do álcool,</p><p>e o seu consumo, que antes era</p><p>incentivado, passa a ser considerado</p><p>algo a ser combatido.</p><p>1736</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>39</p><p>Um processo semelhante também foi experienciado nos Estados</p><p>Unidos anos depois. Durante o final do século XIX, o chamado “mo-</p><p>vimento de temperança”, sustentado por setores tradicionais e com</p><p>tendências religiosas, intensificou o incentivo pela proibição do uso</p><p>de bebidas alcóolicas no país. Diversas políticas de controle do ál-</p><p>cool foram implementadas nos Estados Unidos ao longo de décadas,</p><p>chegando ao auge com a promulgação de sua proibição através da Lei</p><p>Seca, que vigorou entre 1919 e 1933 (Shecaira, 2014).</p><p>Mesmo com a revogação da Lei Seca, o espírito de proibição</p><p>que pairava sobre as drogas permaneceu, e novos hábitos</p><p>de consumo foram sendo impostos estatalmente. Nos anos</p><p>seguintes, outras proibições mais severas e abrangentes</p><p>estariam por vir. O próximo passo seria a proibição da maconha.</p><p>Shecaira, 2014, p. 337-338</p><p>Quando chegamos a um riacho, encontramos por lá pelo menos</p><p>umas dez pessoas, rapazes e moças de uma fazenda vizinha que</p><p>já eram conhecidos do Belchior e nos receberam muito bem.</p><p>Eles tinham liamba, e me ofereceram. Eu já tinha sentido o</p><p>cheiro na senzala e percebido que as pessoas ficavam muito</p><p>felizes de fumar, e foi essa sensação que eu tive, de alegria.</p><p>Primeiro achei que não tinha acontecido nada, mas logo comecei</p><p>a sentir uma moleza pelo corpo, os movimentos ficando cada vez</p><p>mais preguiçosos, assim como também tive a impressão de que a</p><p>água do riacho corria mais devagar.</p><p>Gonçalves, 2021, p. 120</p><p>Já o tema da proibição da maconha nos remete quase que imedia-</p><p>tamente à história da proibição que ocorreu nos Estados Unidos a</p><p>partir do século XIX, tema que exploraremos no próximo módulo do</p><p>curso. Mas você sabia que a primeira proibição da maconha do mundo</p><p>ocorreu aqui no Brasil? No romance “Um defeito de cor”, Ana Maria</p><p>Gonçalves narra a história de uma menina escravizada, desde a vinda</p><p>da África até a rotina da escravidão no Brasil. A história narrada mis-</p><p>tura elementos ficcionais com relatos de uma série de documentos</p><p>encontrados pela autora durante uma viagem para a Bahia. Em uma</p><p>passagem do livro, há o registro acerca do uso da “liamba de Angola”,</p><p>outro nome utilizado para maconha:</p><p>Embora não possamos aferir com certeza que essa passagem advém</p><p>dos materiais de pesquisa coletada pela autora, registros trazidos por</p><p>outros historiadores também demonstram como o uso de maconha</p><p>era disseminado entre os escravizados no Brasil. O historiador Edison</p><p>Carneiro (1958), ao estudar o Quilombo dos Palmares, afirma também</p><p>que a “liamba” era utilizada pelos escravizados em momentos de</p><p>tristeza e/ou de saudade da África.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>40</p><p>Anos antes do final do período da escravidão – que ocorreu no país</p><p>apenas em</p><p>1888 – foi editada no Brasil a primeira norma legal que</p><p>proibiu o uso e a venda de maconha, na época chamada de “pito do</p><p>pango” ou “diamba”.</p><p>Reportagem do jornal “O Globo”, década de 30.</p><p>Fonte: smokebuddies.</p><p>O código de postura municipal do Rio de Janeiro de 1830 previa multa</p><p>para os vendedores e três dias de cadeia para os consumidores,</p><p>destacando, entre estes, os escravizados.</p><p>É proibida a venda e o uso do pito do pango, bem como a</p><p>conservação dele em casas públicas. Os contraventores serão</p><p>multados, a saber: o vendedor em 20$000, e os escravos e mais</p><p>pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia.</p><p>Mott, 1986, p. 131</p><p>A lei é considerada uma forma de controle social da população negra,</p><p>assim como outras leis que foram promulgadas antes e depois da</p><p>abolição da escravidão no país que proibiam ou controlavam uma</p><p>série de condutas e práticas realizadas majoritariamente por essa</p><p>parcela da população.</p><p>Além de precursor na proibição da planta, o Brasil, por meio da atuação</p><p>de José Rodrigues Dória, também contribuiu para a proibição da</p><p>planta internacionalmente. Em dezembro de 1915, durante o II Con-</p><p>gresso Científico Pan-Americano, o médico e professor das faculdades</p><p>de Direito e Medicina da Bahia apresentou um trabalho intitulado</p><p>“Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício”.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>41</p><p>Suas bases teóricas eram o evolucionismo social do</p><p>século XIX e as teorias racistas da degenerescência,</p><p>as quais tinham à época o status de legitimidade</p><p>científica, que posteriormente deixariam de ter.</p><p>Rodrigues Dória se esforçou para incluir a maconha entre as “drogas”</p><p>que deveriam ser proibidas de existir no mundo, e esse esforço teve</p><p>resultado positivo.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Para saber mais sobre o evolucionismo social dessa época,</p><p>assista ao vídeo “A entrada das teorias raciais no Brasil”,</p><p>com Lilia Schwarcz, disponível em: https://www.youtube.com/</p><p>watch?v=93f7nkbD7tY.</p><p>É notável que grande parte dos dados utilizados por Dória foram ob-</p><p>tidos em segunda mão, por via de médicos colaboradores, que traba-</p><p>lhavam em sanatórios, quartéis e prisões. Sendo assim, a associação</p><p>(melhor dizendo, as relações de causalidade), que o autor alega, entre</p><p>o hábito de fumar maconha com a criminalidade e as doenças men-</p><p>tais, toma como base dados claramente enviesados, uma vez que são</p><p>produzidos em interação com populações já compostas, em grande</p><p>parte, por pessoas em tratamento de doenças mentais, sob regime de</p><p>internato, ou cumprindo penas por crimes anteriormente cometidos.</p><p>Por volta da década de 1930, seu trabalho era tido como uma refe-</p><p>rência de estudo sobre a maconha, em um tempo em que a planta</p><p>havia caído na ilicitude, interditando assim a existência de novas</p><p>pesquisas. Contudo, com o passar do tempo, tais “verdades” sobre a</p><p>maconha e os adeptos de seu uso passaram a ser contestadas quando</p><p>postas à prova. Um exemplo disso é que alguns dos aspectos que Dória</p><p>apontava como fazendo parte dos “males do vício”, como os efeitos</p><p>Suas descrições da planta, dos plantios às margens do Rio São Fran-</p><p>cisco, no Nordeste brasileiro, e de espaços de sociabilidade são de-</p><p>talhadas. A sua tese era a de que a planta era perigosa e representava</p><p>um castigo à civilização branca que colonizou o Brasil por meio da</p><p>escravidão de povos de origem africana. Ele denunciava o que afirmava</p><p>ser o efeito “degenerante” do consumo da maconha na população</p><p>brasileira e que sua cultura teria entrado no Brasil pelas mãos dos</p><p>“povos oriundos da África”. O efeito de alguém se tornar adepto dessa</p><p>substância seria, com o tempo, segundo suas conclusões, converter-se</p><p>em um pervertido, um imbecil, em suma, um degenerado.</p><p>https://youtu.be/93f7nkbD7tY?si=c6sqAS0mnAQ7MeU5</p><p>https://youtu.be/93f7nkbD7tY?si=c6sqAS0mnAQ7MeU5</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>42</p><p>Para pensar</p><p>Dória mobiliza um sistema de crenças aceito à época</p><p>como conhecimento científico, que seria posteriormente</p><p>ultrapassado e destituído da condição acadêmico-científica,</p><p>mas que vez por outra volta na condição de mais nova</p><p>mitologia do senso comum. O estudo de Dória nos alerta</p><p>como tanto para o pesquisador, ou para o professor, ou para</p><p>o estudioso, o importante é estar atento para que nossos</p><p>desejos não embotem nosso senso crítico em relação ao que</p><p>nos é dado como dados da pretensa realidade.</p><p>afrodisíacos e antidepressivos da maconha, fartamente descritos</p><p>no trabalho, seriam considerados, no contexto da medicina atual,</p><p>promotores de bem-estar.</p><p>O exemplo da proibição do álcool no contexto inglês e estadunidense</p><p>e o da proibição da maconha no Brasil reforçam questões que a so-</p><p>ciologia vem apontando desde sua gênese sobre o tema do desvio e</p><p>das regras. Entre elas:</p><p>A criação e a imposição</p><p>de regras é um processo</p><p>construído socialmente.</p><p>Assim como a sociedade é</p><p>dinâmica, as regras e leis</p><p>que a regem também são</p><p>e, portanto, alterações nos</p><p>contextos sociais e culturais</p><p>podem implicar também</p><p>alterações nas normas e</p><p>valores vigentes.</p><p>Usualmente, a definição dos</p><p>atos desviantes reproduz as</p><p>estruturas de poder vigentes</p><p>em uma sociedade; portanto,</p><p>a compreensão dos atos</p><p>desviantes nos ensina também</p><p>sobre os poderes e valores</p><p>vigentes em uma sociedade.</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle</p><p>43</p><p>Esses pontos, embora não sejam os únicos, são fundamentais para</p><p>entendermos como o tema das drogas vem sendo tratado pela so-</p><p>ciedade atualmente.</p><p>[...] mais do que se apropriar da experiência do consumo de</p><p>drogas, o que as sociedades contemporâneas parecem ter</p><p>feito foi criar literalmente o próprio fenômeno das drogas:</p><p>mais remotamente, com a loucura das especiarias e, mais</p><p>recentemente, com o duplo processo da invasão farmacêutica e</p><p>da criminalização das drogas assim tornadas ilícitas.</p><p>Vargas, 2010, p. 55</p><p>Veja a seguir os pontos mais importantes demonstrados neste módulo.</p><p>SÍNTESE DO MÓDULO</p><p>Neste módulo, procuramos introduzir o tema do curso</p><p>por meio da problematização de sua categoria central,</p><p>que é a de “droga” (intencionalmente deixada entre</p><p>aspas). Em seguida, a partir de uma leitura do tema</p><p>sob a perspectiva das ciências sociais, buscamos</p><p>problematizar os sensos comuns vigentes sobre o</p><p>tema e ultrapassar formas naturalizadas de interpretar</p><p>a realidade. Por isso, nos atentamos para as distinções</p><p>entre a perspectiva científica e a do senso comum</p><p>na busca pelo conhecimento. Demonstramos ainda</p><p>como uma série de questões culturais, econômicas</p><p>e sociais são fundamentais para entendermos como</p><p>as sociedades têm lidado com o tema das drogas,</p><p>sobretudo a partir do caso do álcool e da maconha.</p><p>Nos próximos módulos, continuaremos a explorar esse</p><p>tema no mundo contemporâneo.</p><p>Você finalizou o Módulo 1!</p><p>No próximo módulo abordaremos a construção daquilo que cha-</p><p>mamos de paradigma médico-jurídico e seus consequentes efeitos</p><p>nas políticas de segurança pública.</p><p>44</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ACSELRAD, G. Drogas, a educação para a autonomia como garantia de</p><p>direitos. Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63, p. 96-104, out./</p><p>dez. 2013. Edição especial.</p><p>ALARCON, S. Drogas psicoativas: classificação e bulário das principais</p><p>drogas de abuso. In: ALARCON, S.; JORGE, M. A. S. (org.). Álcool e outras</p><p>drogas: diálogos sobre um mal-estar contemporâneo. Rio de Janeiro:</p><p>EPSJV/RJ, 2012. v. 1. p. 103-130.</p><p>ARAUJO, T. Guia sobre drogas para jornalistas. São Paulo: IBCCRIM-</p><p>-PBPD-Catalize-SSRC, 2017. Disponível em: https://pbpd.org.br/publi-</p><p>cacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/. Acesso em: 13 dez. 2023.</p><p>BEAUCHESNE, L. Legalizar as drogas: para melhor prevenir os abusos.</p><p>Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2015.</p><p>BECKER, H.S: Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Editora Jorge</p><p>Zahar, Rio de Janeiro, 2008.</p><p>CARNEIRO, E. de S. O Quilombo dos Palmares. Companhia Editora Na-</p><p>cional: São Paulo, 1958.</p><p>CARNEIRO, H. Transformações</p><p>do significado da palavra “droga”: das</p><p>especiarias coloniais ao proibicionismo contemporâneo. In: VENÂNCIO,</p><p>R. P.; CARNEIRO, H. S. (org.). Álcool e drogas na história do Brasil. São</p><p>Paulo: Alameda; Belo Horizonte: Editora PUCMinas, 2005. p. 11-28.</p><p>DORIA, R. Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício. In: MACRAE,</p><p>E.; ALVES, W. C. (org.). Fumo de Angola: canabis, racismo, resistência</p><p>cultural e espiritualidade. Salvador: EDUFBA, 2016.</p><p>FACULDADE GETÚLIO VARGAS. Atlas histórico do Brasil. [S. l.]: FGV,</p><p>2016. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/</p><p>mapas/grandes-navegacoes. Acesso em: 11 maio 2023.</p><p>FIORE, M. Substâncias, sujeitos, eventos: uma autoetnografia sobre o</p><p>uso de drogas. Rio de Janeiro: Telha, 2020.</p><p>GIDDENS, A. Sociologia. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.</p><p>GONÇALVES, A.M. um defeito de cor. Rio de Janeiro: Editora Record, 2021.</p><p>LALLEMENT, M. História das idéias sociológicas. Petrópolis: Editora</p><p>Vozes, 2008. v 1: Das origens a Max Weber.</p><p>LENOIR, R. Objeto sociológico e problema social In: CHAMPAGNE, P. et</p><p>al. Iniciação à prática sociológica. Petrópolis: Vozes, 1998.</p><p>MOTT, L. A maconha na história do Brasil. In: HENMAN, A.; PESSOA Jr., O.</p><p>Diamba Sarabamba. (Coletânea de textos brasileiros sobre a maconha).</p><p>São Paulo: Ground, 1986. p. 117-135.</p><p>https://pbpd.org.br/publicacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/</p><p>https://pbpd.org.br/publicacao/guia-sobre-drogas-para-jornalistas/</p><p>https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes</p><p>https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/grandes-navegacoes</p><p>45</p><p>RODRIGUES, T. Tráfico, guerra, proibição. In: LABATE, B. et al. (org.).</p><p>Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008.</p><p>SERSON, Breno. Pharmakon e vínculo: melhorando a farmacoterapia</p><p>psiquiátrica. Vínculo, São Paulo, v. 4, n. 4, p. 70-78, dez. 2007. Dis-</p><p>ponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttex-</p><p>t&pid=S1806-24902007000100008&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13</p><p>dez. 2023.</p><p>SHECAIRA, S. S. Drogas e Criminologia. In: LIMA, R.S. et al. (org.) Crime,</p><p>polícia e justiça no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2014. v.1, p.</p><p>334-339.</p><p>SILVA, L. A. M. da. Sociabilidade violenta: por uma interpretação da cri-</p><p>minalidade contemporânea no Brasil urbano. In: RIBEIRO, L. C. (org.).</p><p>Metrópoles: entre a cooperação e o conflito. São Paulo/Rio de Janeiro:</p><p>Perseu Abramo/Fase, 2004.</p><p>VARGAS, E. V. Fármacos e outros objetos sociotécnicos: notas para uma</p><p>genealogia das drogas. In: LABATE, B. C. et al. (org.). Drogas e cultura:</p><p>novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008. v. 1, p. 41-63.</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-24902007000100008&lng=pt&nrm=iso</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-24902007000100008&lng=pt&nrm=iso</p><p>M I N I S T É R I O D A</p><p>J U S T I Ç A E</p><p>S E G U R A N Ç A P Ú B L I C A</p><p>MÓDULO 2</p><p>AS DROGAS NO MUNDO</p><p>CONTEMPORÂNEO</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>EXPEDIENTE</p><p>Todo o conteúdo do COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade:</p><p>perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas</p><p>e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do</p><p>Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons</p><p>Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional.</p><p>BY NC ND</p><p>GOVERNO FEDERAL</p><p>PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL</p><p>Luís Inácio Lula da Silva</p><p>MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA</p><p>Ricardo Lewandowski</p><p>SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO</p><p>DE ATIVOS</p><p>Marta Rodriguez de Assis Machado</p><p>DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES</p><p>Mauricio Fiore</p><p>COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA</p><p>Natália Neris da Silva Santos</p><p>COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO</p><p>BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS</p><p>Geórgia Belisário Mota</p><p>CONTEUDISTAS</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Mauricio Fiore</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>REVISÃO DE CONTEÚDO</p><p>Jessica Santos Figueiredo</p><p>Grazielle Teles de Araújo</p><p>APOIO</p><p>Brenda Juliana Silva</p><p>Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade</p><p>Luana Rodrigues Meneses de Sá</p><p>Maria Aparecida Alves Dias</p><p>UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA</p><p>COORDENAÇÃO GERAL</p><p>Luciano Patrício Souza de Castro</p><p>FINANCEIRO</p><p>Fernando Machado Wolf</p><p>SUPERVISÃO TÉCNICA EAD</p><p>Giovana Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL</p><p>Francielli Schuelter</p><p>SUPERVISÃO DE MOODLE</p><p>Andreia Mara Fiala</p><p>SECRETARIA ADMINISTRATIVA</p><p>Elson Rodrigues Natario Junior</p><p>DESIGN INSTRUCIONAL</p><p>Supervisão: Milene Silva de Castro</p><p>Larissa Usanovich de Menezes</p><p>Sofia Santos Stahelin</p><p>DESIGN GRÁFICO</p><p>Supervisão: Sonia Trois</p><p>Eduardo Celestino</p><p>Giovana Aparecida dos Santos</p><p>Luana Pillmann de Barros</p><p>Vanessa de Oliveira Vieira</p><p>REVISÃO TEXTUAL</p><p>Cleusa Iracema Pereira Raimundo</p><p>PROGRAMAÇÃO</p><p>Supervisão: Alexandre Dal Fabbro</p><p>Luan Rodrigo Silva Costa</p><p>Luiz Eduardo Pizzinato</p><p>AUDIOVISUAL</p><p>Supervisão: Rafael Poletto Dutra</p><p>Andrei Krepsky de Melo</p><p>Julia Britos</p><p>Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira</p><p>Robner Domenici Esprocati</p><p>SUPERVISÃO TUTORIA</p><p>João Batista de Oliveira Júnior</p><p>Thaynara Gilli Tonolli</p><p>TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO</p><p>Alexandre Gava Menezes</p><p>André Fabiano Dyck</p><p>SIGLAS</p><p>DEA – Drug Enforcement Administration / Agência de Combate às Drogas</p><p>EUA – Estados Unidos da América</p><p>ONU – Organização das Nações Unidas</p><p>UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>50</p><p>Frederico Policarpo de Mendonça Filho</p><p>CONTEUDISTAS DO MÓDULO</p><p>Marcos Alexandre Veríssimo da Silva</p><p>Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de</p><p>Janeiro (IFCS/UFRJ-2003), mestrado em Antropologia pela Universidade</p><p>Federal Fluminense (PPGA/UFF-2007), doutorado em Antropologia pela</p><p>mesma universidade (PPGA/UFF-2013), com bolsa-sanduíche na Univer-</p><p>sity of California, Hastings College of the Law/EUA (CAPES/2011-2012).</p><p>É professor adjunto de Antropologia no Departamento de Segurança</p><p>Pública do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança e do</p><p>Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito, na Universidade</p><p>Federal Fluminense. É pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de</p><p>Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Admi-</p><p>nistração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF). Tem experiência na área de</p><p>Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: consumo</p><p>de drogas e sistema de justiça criminal.</p><p>Possui graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura)</p><p>pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Antropologia</p><p>pelo mesmo programa, especialização em Políticas Públicas de Justiça</p><p>Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense</p><p>e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da</p><p>Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associado ao Instituto</p><p>de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos</p><p>(INCT-InEAC), onde coordena o subprojeto Laboratório de Iniciação</p><p>Acadêmica em Administração de Conflitos (LABIAC). Áreas de in-</p><p>teresse: conflitos relacionados às “drogas” (lícitas e ilícitas) e seus</p><p>usos, mercados, produção e repressão; antropologia visual; e estudos</p><p>de manifestações artísticas e culturais construídas por grupos sociais</p><p>mais ou menos definidos.</p><p>Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São</p><p>Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP (2019-</p><p>2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos</p><p>(IESP-UERJ). Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS- UERJ. Graduada</p><p>em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ). Pesquisa-</p><p>dora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Sui-</p><p>cídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências Sociais</p><p>(DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela CAPES no</p><p>Centro</p><p>de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford e Bolsa</p><p>de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP) na Universidade de</p><p>Bradford. Tem experiência com pesquisas quantitativas e qualitativas,</p><p>especialmente com ênfase em violência e segurança pública, atuando</p><p>principalmente nos seguintes temas: qualidade de vida do trabalho</p><p>policial, suicídio policial, política de drogas e funcionamento das ins-</p><p>tituições policiais e judiciais.</p><p>Fernanda Novaes Cruz</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>51</p><p>Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade</p><p>Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social</p><p>pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har-</p><p>vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir-</p><p>mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em</p><p>Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal</p><p>Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa</p><p>de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA),</p><p>professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia</p><p>e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi-</p><p>dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira</p><p>de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do</p><p>Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica,</p><p>com ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Po-</p><p>lítica, Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades.</p><p>Roberto Kant de Lima</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>52</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Olá, cursista!</p><p>Bem-vindo(a) ao nosso segundo módulo do COMPASSO - Curso sobre</p><p>Políticas de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais.</p><p>Neste módulo analisaremos como se formaram alguns dos valores</p><p>que orientam as políticas de drogas nas sociedades contemporâ-</p><p>neas. Apresentaremos a origem de termos amplamente utilizados</p><p>até hoje nos debates sobre políticas de drogas, entre eles, o “proi-</p><p>bicionismo” e a “guerra às drogas”. Demonstraremos como as</p><p>conferências internacionais foram relevantes para a incorporação</p><p>desses discursos em diversos países do mundo, com foco na América</p><p>Latina e no Brasil. Ao mesmo tempo, refletiremos como as legis-</p><p>lações também incorporaram suas questões locais ao espectro da</p><p>proibição. Para isso, analisaremos as legislações sobre drogas que</p><p>já foram vigentes no Brasil.</p><p>OBJETIVOS DO MÓDULO</p><p>z Apresentar aspectos históricos relevantes para a</p><p>compreensão das políticas de drogas vigentes nas</p><p>sociedades contemporâneas.</p><p>z Refletir sobre os aspectos transnacionais que influenciaram</p><p>a formação das políticas de drogas vigentes atualmente.</p><p>z Situar a América Latina no mercado mundial das drogas.</p><p>z Apresentar e discutir as primeiras legislações de drogas</p><p>brasileiras e como essas leis foram aplicadas.</p><p>MÓDULO 2</p><p>Aponte a</p><p>câmera do seu</p><p>dispositivo móvel</p><p>(smartphone ou</p><p>tablet) para o QR</p><p>Code ao lado e</p><p>assista ao vídeo</p><p>de apresentação</p><p>do Módulo 2.</p><p>VÍDEO</p><p>https://youtu.be/wXASUgt5gs4</p><p>MÓDULO 2</p><p>UNIDADE 1</p><p>COMO A SOCIEDADE LIDA COM AS DROGAS</p><p>NO MUNDO CONTEMPORÂNEO?</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>54</p><p>UNIDADE 1</p><p>COMO A SOCIEDADE LIDA</p><p>COM AS DROGAS NO MUNDO</p><p>CONTEMPORÂNEO?</p><p>Quando falamos da questão do uso de drogas, conforme discutimos</p><p>no módulo anterior, temos que levar em conta que se trata de uma</p><p>generalização que busca dar conta de fenômenos muito diversos,</p><p>que agrupa substâncias, experiências e sentidos que vão do encanto</p><p>ao perigo, passando pelo conforto e pela cura. Assim, não seriam</p><p>menos diversas suas formas de produção, circulação, mercados e</p><p>consumos que são administradas em diferentes sociedades, culturas,</p><p>coletividades. Em suma, existem substâncias que são tratadas e</p><p>entendidas como drogas, algumas controladas, algumas proibidas,</p><p>e outras totalmente liberadas. Muitas vezes, aquilo que é proibido em</p><p>determinado lugar (sociedade ou cultura) pode ser objeto de controle</p><p>rigoroso em outro; ou, ainda, liberado e até mesmo estimulado em</p><p>outros contextos.</p><p>Devemos lembrar que álcool, tabaco, morfina, Cannabis e café</p><p>são exemplos de drogas psicoativas mas, no entanto, são far-</p><p>macologicamente diferentes. Mais do que isso, uma mesma</p><p>substância pode ter usos e significados sociais muito diversos.</p><p>As bebidas alcoólicas, por exemplo, são proibidas em alguns</p><p>países de maioria islâmica, ao passo que, em países de ma-</p><p>joritariamente cristãos, elas são lícitas e partes integrantes de</p><p>eventos sociais e da culinária; o vinho, por exemplo, integra</p><p>alguns rituais católicos, tendo, nestes casos, significados e</p><p>sentidos radicalmente diversos daqueles que caracterizam o</p><p>uso cotidiano de bebidas alcoólicas.</p><p>Para pensar</p><p>O que explica que uma determinada substância – ou um</p><p>determinado hábito, ligado ao consumo social, terapêutico,</p><p>religioso etc. de tal substância – seja rotulada socialmente</p><p>como “ilícita” ou “lícita”, ou, em uma outra chave, como</p><p>“imoral” ou “moral”?</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>55</p><p>Existe uma série de indícios que nos demonstram que, apesar da</p><p>existência de diversas formas de proibição, as drogas ainda são am-</p><p>plamente consumidas pelas sociedades contemporâneas. Um relatório</p><p>publicado em 2023 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas</p><p>e Crime (UNODC) apontou um crescimento de 23% no consumo de</p><p>drogas ilícitas no mundo nos últimos 10 anos (UNODC, 2023).</p><p>Fonte: Adaptado do Relatório</p><p>Mundial de Drogas (UNODC, 2023).</p><p>O mesmo relatório aponta, ainda, distintos desafios que os países</p><p>enfrentam em relação às drogas, tanto no que se refere ao consumo</p><p>das substâncias quanto aos conflitos que se desdobram a partir da</p><p>produção e do comércio ilegal.</p><p>Pessoas que usam drogas, 2021</p><p>296</p><p>milhões</p><p>de pessoas</p><p>23%</p><p>em 10 anos</p><p>Cannabis</p><p>219 Opioides</p><p>(dos quais 32</p><p>são opiáceos)</p><p>Anfetaminas</p><p>36</p><p>Cocaína</p><p>22</p><p>Ecstasy</p><p>60 20</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>56</p><p>Fonte: Adaptado do Relatório</p><p>Mundial de Drogas (UNODC, 2023).</p><p>Ao mesmo tempo que existem diferenças nos desafios que as socie-</p><p>dades têm enfrentado com o tema das drogas, ao longo da história</p><p>contemporânea foram criados alguns consensos sobre a gestão do</p><p>tema que influenciaram muito na maneira como os Estados definiram</p><p>seus modelos políticos – como a proibição – que são vigentes até</p><p>hoje. Neste módulo, discutiremos como se formaram algumas dessas</p><p>ideias e consensos e seus impactos em nossas legislações sobre drogas.</p><p>Você, cursista, identificará que as políticas de controle das drogas no</p><p>mundo contemporâneo têm adotado majoritariamente duas grandes</p><p>perspectivas: a da medicalização e a da criminalização.</p><p>Enquanto o uso e o tráfico de Cannabis afetam</p><p>todas as regiões do mundo, outras questões</p><p>sobre drogas representam ameaças adicionais</p><p>em distintas localizações geográficas.</p><p>Cocaína Opioides/opiáceos Grupo das anfetaminas HIV entre as pessoas</p><p>que injetam drogas</p><p>O problema mundial das drogas:</p><p>desafios comuns, dinâmicas locais</p><p>Curso COMPASSO</p><p>Módulo 2 - As drogas no mundo contemporâneo</p><p>57</p><p>Medicalização e criminalização</p><p>Medicalização</p><p>Ato de medicar; tratamento mediante o uso</p><p>de medicamentos. No caso das drogas,</p><p>a medicalização implica tratar o usuário</p><p>de drogas como um indivíduo que tem</p><p>um problema de saúde e que precisa</p><p>se submeter a um tratamento médico</p><p>(ou equivalente) capaz de levá-lo</p><p>a interromper ou controlar seu uso.</p><p>Por vezes, a medicalização pode acarretar</p><p>na produção de estereótipos ou mesmo</p><p>estigmas de pessoas que usam drogas.</p><p>Criminalização</p><p>Ato de tornar crime; infração a uma ou</p><p>demais leis. No tema das drogas, implica</p><p>tornar crime a produção, o consumo,</p><p>o comércio, o porte e, em alguns casos,</p><p>o uso de determinadas substâncias.</p><p>A criminalização tem como uma de suas</p><p>consequências possíveis a vinculação direta</p><p>entre ser usuário de uma substância</p>