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1 Introdução às Ciências Sociais Texto 1 – A construção histórica das ciências sociais Alexandre Koyré - reconstituição da evolução das concepções espaciais e temporais europeias O progresso agora é uma palavra de ordem, dotada de um sentido de infinitude; Finitude do espaço físico; Augusto Comte Tentava impedir a corrupção sistemática que havia sido elevada ao estatuto de “ferramenta indispensável de governação”; A “física social” iria permitir uma reconciliação entre o progresso e a ordem ao entregar a solução dos problemas sociais a um nº reduzido de inteligência de elite; Nova estrutura de conhecimento – filósofos são agora “especialistas em generalidades”; A ciência positiva visa a libertação em relação a todos os modos de “explicação” da realidade – as investigações positivas devem limitar-se ao estudo sistemático do que é, renunciando à descoberta da causa pioneira e do destino final; John Stuart Mill Corresponde a Comte mas substitui o termo “ciência positiva” por “ciência exata”; Primeiras discussões sobre o tema do Desvio Social; Criação de múltiplas disciplinas das ciências sociais insere-se no esforço global no sentido de garantir e de fazer avançar um conhecimento objetivo sobre a realidade; O objetivo é aprender a verdade em vez de a inventar ou intuir; O estatuto científico das Ciências Sociais Ruptura: a ciência desconfia das evidências do senso-comum Construção: todo o conhecimento é contruído através de instrumentos. Não representa uma realidade concreta, não uma realidade nesse momento Validação: o conhecimento científico é válido dentro das condições que foi contruído e depois foi confrontado com a realidade Problemas Epistemológicos das C.S. 1. Natureza do objeto: pessoas em interação 2 Variável no espaço ou no tempo, é difícil universalizar comportamentos; 2. Inseparabilidade sujeito/objeto Familiaridade social e ilusão da transparência: o investigador muitas das vezes está inserido no grupo social em estudo Carácter ideológico, político, pragmático e etnocêntrico: enquanto indivíduos vamos aprendendo práticas durante o processo de socialização e avaliamos o mundo segundo essas práticas e valores. 3. Carácter pluriparadigmático Não há um modelo teórico definido; conflitualidade interna entre as C.S., não existe um conjunto de princípios e conceitos teóricos que sejam aceites por todas as C.S. e existem mesmo princípios contraditórios. Fatores de Diferenciação das C.S. Fragmentação do objeto empírico; cada ciência social estuda o objeto de forma diferente, de acordo com as suas próprias perspectivas Diversidade teórica; várias perspectivas de análise Orientações metodológicas; cada disciplina estudo o objeto de análise com base nos seus métodos APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Condições Sociais em que as C.S. se reorganizaram Reorganização Política à escala mundial (hegemonia dos EUA; ascensão política do 3º mundo (grande desenvolvimento)) Grande aceleração do desenvolvimento e crescimento económico (30 anos gloriosos e a expansão demográfica; desenvolvimento do 3º mundo) Desenvolvimento académico (surgem novas universidades; maior circulação de pessoas, ideias e teorias; C.S. reconhecidas não só nos países desenvolvidos) As C.S. são acusadas de serem: Eurocêntricas Machistas Burguesas Texto 2 – A pesquisa em sociologia: métodos de investigação Articulação entre teórica e empírica: Teoria; Metodologia; Empiria Ponto de partida: teoria; permite escolher que método utilizar 3 Metodologia: segundo o tipo de interrogações decide-se qual o método de analise a seguir Empiria: testar empiricamente; analisar se as conclusões que devem ser novamente analisadas Métodos de Investigação – técnicas de pesquisa utilizadas para estudar o mundo social Questionário Entrevistas Trabalho de campo na comunidade em estudo Interpretação de estatísticas oficiais e documentos históricos Etapas no processo de investigação 1º definição do problema – CAMPO TEÓRICO Selecionar um tópico para a pesquisa; formulação específica do problema de investigação; 2º revisão da bibliografia existente/ pesquisa bibliográfica – CAMPO TEÓRICO Familiarizar-se com a pesquisa já existente sobre o problema; aprofundar o conhecimento; 3º formulação de hipóteses – CAMPO ANALÍTICO O que se pretende testar; elaborar uma resposta provisória; 4º seleção do modelo de investigação – CAMPO ANALÍTICO Escolha do método de investigação – experiências; inquéritos; observação, uso de fontes… 5º realização de investigação/ recolha de informação – CAMPO DE OBSERVAÇÃO Recolher dados; registar informação; 6º interpretação de resultados – CAMPO ANALÍTICO 7º elaboração de relatório final – CAMPO TEÓRICO Qual o significado das conclusões; como se relacionam com as descobertas anteriores; TÉCNICAS DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO Tratamento quantitativo (análise extensiva) Inquéritos por questionário – questionários abertos ou fechados; questionários fechados apresentam perguntas com respostas fechadas de modo a permitir a fácil comparabilidade. 4 Questionários fechados – permite um grau de generalização maior; respondem entre as possibilidades apresentadas; resultados fáceis de comparar e catalogar. Questionários abertos – opinião completa; não há restrições na resposta; fornecem uma informação mais completa e rica; resultados mais difíceis de comparar. Recolha de informação – retira-se informação de estatísticas do INE, ou seja, resultados de questionários já realizados. A informação estatística é acessível à recolha de informação e a posterior conclusão dado que reduz a complexidade da realidade a indicadores quantitativos. Vantagens Desvantagens Permite recolher muita informação Informação pouco aprofundada Fácil comparação entre respostas Nem sempre reflete a realidade Permite quantificar a informação Quando o inquérito é fechado podem escapar pormenores importantes Permite generalizar as conclusões Tratamento Qualitativo (análise intensiva) Tipo Vantagens Desvantagens Trabalho de campo Info + rica/aprofundada; flexibilidade para alterar a estratégia a seguir; + adequado p/ estudar culturas desconhecidas Apenas pode ser utilizada para estudar comunidades relativamente pequenas; ñ se pode generalizar conclusões; a presença do investigador pode não ser bem aceite Entrevista Fornece info + rica do que o inquérito; dá mais liberdade a ambas partes; info com profundidade O nº de entrevistados é menor no que no inquérito; a influência do investigador é grande; pequeno grau de comparabilidade Pesquisa documental Grandes quantidades de informação; apropriado em estudos históricos Depende das fontes existentes que podem ser parciais; dificuldade de interpretação do doc.; pouco fiáveis Experiências O investigador controla as variáveis específicas; as experiências são mais fáceis de repetir em investigações posteriores Muitas vezes ñ se pode criar a situação; as reações estudadas são afetadas pela situação experimental; Histórias de vida – reconstitui- se a vida de uma pessoa/instituição e daí retiram-se orientações para elaborar um trabalho/estudo 5 Diários – registos regulares feitos pelas pessoas que podem ser úteis em estudos sobre atividades quotidianas Triangulação – combinar vários métodos de modo a eliminar as limitações de cada um Texto 3 – Desigualdades, identidades e valores Diferenciação social e cultural Classe Social é diferenciável por: Nível de poder, possibilidades escolares ou profissionais, níveis de consumo; Destinos sociais; Diferenças não só sociais mas também entre sexos, raças, etnias Classes sociais em Karl Marx – as classes definem-se a partir da estrutura económica das sociedades(conjunto de relações que os indivíduos necessariamente estabelecem na produção social da sua existência) Karl Marx foi grande inspirador das doutrinas socialistas que criticou a sociedade capitalista. Relações de: Exploração – proprietário paga um salário inferior ao valor real da força do trabalho na produção pelo proletariado – base funcional do sistema-lucro Dominação – o Estado é o instrumento de domínio político Duas classes principais: proletariado e burguesia O enriquecimento progressivo da classe burguesa contrasta fortemente com as duras condições de vida dos que mais contribuem para essa mesma riqueza – torna-se inevitável o conflito entre classes. Devido à diferente posição que cada classe ocupa no sistema produtivo, o sistema capitalista gera desigualdades entre as mesmas sendo necessário mudança, acabando com este sistema. Karl apresenta um modelo revolucionário no qual o sistema passa a ter meios de produção coletivos. A mudança estava nas mãos do proletariado uma vez que representava a maioria da população, pelo que nenhuma força conseguir-lhe-ia resistir. A divisão social que Marx apresenta na produção reflete-se depois em todos os níveis de vida social. Para além das duas classes sociais já existentes, Marx falou também nas classes intermédias (transitórias) que mais tarde acabariam por se introduzir nas classes principais (proletariado e burguesia). 6 Poder da estratificação social em Max Weber Weber propôs um sistema que se opõe ao sistema apresentado por Karl Marx. O sistema de Marx define as classes sociais segundo a ordem económica, considerando as relações entre classes relações de poder. No entanto, para Weber as classes não estabelecem entre si relações de exploração, mas sim relações de competição entre indivíduos e grupos que jogam os seus recursos – sejam de propriedade, força de trabalho ou qualificações mais ou menos raras. Para Weber não são as classes o exclusivo motivo de desigualdade, há outros meios, como por exemplo os grupos de Status (diferenciação feita através do prestígio socialmente atribuído a certos estilos de vida, tipos de profissão, etc) Divisão em quatro classes: Superior – grandes proprietários Média alta – pequenos proprietários altamente qualificados Média baixa – pequenos proprietários com pouca qualificação Inferior – trabalhadores desqualificados Para Weber as desigualdades sociais não dependem apenas de um fator económico, embora este seja o mais importante. Do ponto de vista analítico, o modelo de Weber é mais flexível no tempo e no espaço. Três esferas da estruturação das desigualdades e das relações de poder 1. Poder económico Ordem económica/mercado Classes Recursos: propriedade, força de trabalho, qualificações, posição de mercado, oportunidades de vida, situação de classes 2. Poder social Ordem social Grupos de Status Estima e honra social, partilha de estilos de vida 3. Poder político Ordem política Partidos Organização de interesses, influência sobre a acção colectiva e a decisão pública Existem diferenças IMPORTANTES em relação à visão de Karl Marx: as classes sociais constituem-se a partir da sua posição no mercado (grupos de Status) e a partir das suas qualificações; contrariamente à visão de Marx que as classes eram definidas pela sua posição económica (proletariado e burguesia; se trabalhava ou mandava trabalhar). Eric Olin Wright Define classes sociais a partir da articulação de 3 recursos (apoiando-se em Marx): 7 Propriedade dos meios de produção – estabelece uma linha divisória entre proprietários e não proprietários Recursos com qualificações (escolares ou profissionais) – distingue os que ocupam posições teóricas dos que desempenham apenas funções de execução KARL MARX – ESTRUTURA ECONÓMICA Recursos Organizacionais (relacionado com a capacidade de decisão) – diferenciam os que tem poder de decisão e autoridade hierárquica dos que não tomam decisões nem tem poder sobre os outros trabalhadores. Matriz de localizações de classes nas sociedades capitalistas contemporâneas Proprietários Não Proprietários/ Assalariados Burguesia/ capitalista Pequenos empresários Pequena burguesia Wright distingue assim 12 classes sociais diferentes. É na esfera não proprietária que a população tem crescido mais. Pierre Bourdieu (Faz fusão entre os aspetos teóricos de Marx e Weber) As linhas de divisão entre classes são traçadas pela posse diferencial de vários capitais que operam generalizadamente nas relações sociais. 4 critérios de diferenciação social (distingue classes pelo tipo de capital) Capital económico: propriedade e rendimentos Capital social: escolaridade e cultura Capital cultural: a cultura que possuímos Capital simbólico: maneira como as pessoas se valorizam, prestígio Existem diferentes classes cada um com diferentes níveis desses capitais. Tipologia de classes: Gestores qualificados Gestores semiqualificados Gestores não qualificados Supervisores qualificados Supervisores semiqualificados Supervisores não qualificados Técnicos não gestores Trabalhadores semiqualificados Proletários + credenciais/qualificações - Re cur sos org ani zac ion ais 8 Classes superiores – níveis elevados de capital económico, cultural e social. As várias frações de classe vivem em constante competição para adquirirem mais capital. Padrões de indústria e comércio, professores, produtores artísticos, profissões liberais, quadros, engenheiros Classes médias – níveis médios dos 3 tipos de capital. Nova pequena burguesia, técnicos, formadores, empregados, quadros médios, artesão, pequenos comerciantes Classes populares – desprovidos de todo o tipo Após observarmos as hipóteses dos 4 autores (Marx, Weber, Wright, Bourdieu) podemos definir classes como categorias sociais cujos membros, em virtude de serem portadores de montantes e tipos de recursos semelhantes, tendem a ter condições de existência semelhantes. Estrutura de classes – é o sistema de diferença que “encaixa” cada indivíduo no lugar Notas: Componente ética - as pessoas incorporam valores referentes ao grupo social onde são socializadas Componente estética – gastos referentes a cada grupo Texto 4 – Violência Doméstica Realidade dinâmica, heterogénea que se expressa por diferentes formas: Violência física Violência sexual Violência psicológica Violência emocional Discriminação sociocultural Mal-estar social Insegurança Medo e descrença/incerteza no futuro Uma realidade pode ser mais ou menos prolongada no tempo, combinando vários atos de violência. Tipos de violência: Física – murros e pontapés, puxar o cabelo, empurrar, atirar objetos, tentativa de ou atropelamento… Psicológica – não deixar dormir, maltratar amigos, bater em coisas, desprezar, humilhar, insultar, gritar Sexual – violar, obrigar a ver filmes pornográficos e agir como nos filmes, prostituição forçada, práticas sexuais não consentidas Intimidação – perseguição, mostrar ou mexer em objetos intimidatórios, ameaça de suicídio, utilização dos filhos 9 Isolamento – proibir a vítima de sair sozinha ou sem o seu consentimento, proibir a vítima de trabalhar fora de casa, afastá-la do convívio com família e amigos Económica – negar o acesso a bens ou a dinheiro, gerir o salário da vítima, manipulá-la para que se demita Se considerarmos a violência no namoro jovem devemos acrescentar aos tipos de violência anteriores: Stalking – assédio e forma de violência definida como um conjunto de comportamentos de assédio praticados, de forma persistente, por umapessoa contra outra, sem que esta os deseja. O autor destes comportamentos de assédio pode ou não ser alguém que a vítima conhece Cyberbullying Abuso sexual Os custos da violência doméstica Custos que incidem diretamente sobre as pessoas envolvidas: Custos que afetam individualmente a vítima Custos aos que lhe estão mais próximos (família chegada) Custos visíveis a curto prazo, normalmente associados aos atos de violência, mas custos, também, que se prologam ao longo da vida – como o stress pós-traumático – ou mesmo que afetam as gerações futuras – através dos filhos Custos que, pela sua natureza, num primeiro momento, só se deixam observar com instrumentos qualitativos. Por exemplo, os aspetos que se relacionam com as dimensões emocionais e afetivas, cujas consequências podem ter expressão na ação pessoal quotidiana, ou ações futuras Custos que são pagos por toda a sociedade: Financiados por impostos – casas abrigo (vítima), polícia, magistrados, técnicos de apoio social Custos que têm uma expressão económica, mas custos, também, difíceis de quantificar – psicológicos, sociais e culturais. Custos económicos da violência doméstica A violência nas relações de intimidade provoca perdas na produção económica na medida que tem um impacto negativo no emprego das mulheres. A violência leva a ausências prolongadas do local de trabalho à perda de emprego. Proveniente disso, há uma perda de produtividade (ausências ao emprego e perdas nos postos de trabalho). Estes custos económicos têm ramificações para a economia e para a sociedade em geral (o produto é reduzido devido à diminuição da produtividade). Tipos de Custos: 10 Intangíveis – sofrimento, medo, tentativa/risco de suicídio, efeitos emocionais nas crianças, morte Vida pessoal e familiar – alterações dos modos de vida e padrões do consumo (considerando os elevados custos despendidos na justiça, saúde, educação ou perda do posto de trabalho), menos tempo de lazer Justiça – investigação judicial, custos dos tribunais em processos cíveis, penais, de família e menores, serviços forenses, advogados oficiosos, custos prisionais, indemnizações a cargo do estado Saúde – formação especializada de vários profissionais de saúde, mais valências hospitalares e ao nível dos Centros de saúde; apoio médico e psicológico prolongado às vítimas Educação – educação especial para as crianças; programas de reeducação e formação, programas de prevenção e de consciencialização da violência doméstica nas escolas Serviços sociais – casas de abrigo, serviços de apoio à vítima e descendentes, linhas de financiamento de apoio a ONG O número de suspeitos de violência doméstica e de pessoal efetivo nas equipas de proximidade de apoio à vítima tem vindo a aumentar ao longo dos anos. Texto 5 - A economia-mundo, a semiperiférica e a incorporação africana Nos 30 anos que se procederam após a 2ª Guerra Mundial o desenvolvimento que surgiu trouxe com ele 2 novas teorias: Teoria da modernização – pressupõe um quadro do mundo capitalista, é uma interpretação problemática, pois toma como modelo de desenvolvimento os países que se desenvolveram em primeiro Teoria da dependência – os países do 3º mundo não têm capacidade para efetuar certas trocas com os países do 1º mundo (trocas desiguais). Esta teoria baseia-se no facto dos países não passarem todos pelas mesmas fases de desenvolvimento Immanuel Wallerstein - Teoria do sistema-mundo O sistema-mundo é um sistema de relações económicas e políticas à escala internacional. É constituído por: Centro, Semiperiferia, Periferia Esta teoria procura explicar o funcionamento económico e político à escala mundial em períodos de longa duração. Recupera a ideia da teoria da dependência, de que as trocas internacionais são desiguais, isto porque, o tipo de atividades dos países condiciona as suas relações e os seus tipos de economia. Características que definem a situação de cada país no sistema-mundo: Económicas – tipos de atividades produtivas Sociais – qualificações e remunerações dos trabalhadores Políticas – tipo e papel do estado 11 As regiões do sistema-mundo (centro, periferia, semiperiferia) apresentam, entre si, uma relação de interdependência. O sistema capitalista foi expandido a grande parte do mundo e novos territórios foram adicionados ao sistema-mundo. Definição das zonas do sistema-mundo: Centro – países mais desenvolvidos c/ maior poder económico, que dominam politicamente (os que mais beneficiam da divisão internacional do trabalho) Semiperiferia – 3 qualidades estruturais/características Estável - são mais equilibrados e permanecem mais tempo nesta posição Os países periféricos reproduzem a sua própria semiperiferidade (estado prolongado) Permanente – existem sempre a semiperiferia, independentemente da situação particular dos estados Há movimentos de países, mas nunca pode deixar de existir semiperiferia assim como centro e periferia, pois deixaria de ser sistema-mundo Relacional – para além das dinâmicas internas, os estados estão sujeitos a pressões dos países do centro e da periferia Periferia – países com menos recursos, participam na divisão internacional do trabalho em fases menos rentáveis (salários baixos e grande exploração). Não têm capacidade para se desenvolverem – produzem e vendem matérias-primas e mão-de-obra (para o centro especialmente). Pouca participação no sistema político Papel da semiperiferia Económico – nível de desenvolvimento intermédio - Função de intermediação entre centros e periferia - Absorve setores económicos abandonados pelo centro Político – função de intermediação política - Impede a polarização e a existência de uma única autoridade no sistema-mundo (centro, dado que a periferia não tem meios nem capacidade para terem influência no sistema político) Social – contribui para a incorporação da mão-de-obra dos países periféricos na economia-mundo capitalista Os países semiperiféricos podem ser definidos como os que tendem à produção de produtos manufaturados para o mercado interno (do próprio país), mas também são exportadores de produtos primários, desempenhando o papel de parceiros periféricos face aos países centrais e parceiros centrais face a alguns países periféricos. 12 Texto 6 - Processos de Globalização Globalização – processo de distensão: conexão em rede entre contextos sociais e regiões, à escala de toda a superfície do planeta; - Intensificação das relações sociais, económicas, políticas e culturais à escala mundial, que ligam lugares distantes; - As concorrências locais são moldadas por dinâmicas e acontecimentos que se dão a grande distância geográfica. Aspetos a considerar sobre a globalização: Homogeneidade – produtos idênticos em todo o mundo (ex: McDonald’s) Diversificação – adaptação de produtos idênticos em todo o mundo para a cultura em que está a ser comercializado (ex: no McDonald’s em Portugal vende-se sopa e McBifana dado que é algo da cultura portuguesa) Aspetos negativos da globalização: Destruição de culturas locais (dado que com a globalização muitos países adotam culturas estrangeiras acabando por diminuir a sua) Aumenta as desigualdades do mundo (os ricos enriquecem, porque já apresentam meios para se desenvolverem cada vez mais, já os pobres empobrecem cada vez mais; uma das razões para tal poderá ser devido à abertura de fronteiras económicas, assim o comércio local perde lucros para o estrangeiro – a subsistência é destruída) O protecionismo pode ser uma medida adequada para evitar a destruição da economia interna, no entanto, apenas deve ser usado em certos casos e com cautela dado que poderá ser benéfico, mas em excesso pode constituir um entrave ao desenvolvimento dos países. Problema da colonização ao contrário - O desemprego naeconomia ocidental aumenta derivado da mobilização das empresas de países desenvolvidos para países em desenvolvimento devido à maior e mais barata mão de obra. O desemprego aumenta nos países desenvolvidos devido a esta mobilização. Dimensões institucionais da modernidade: Capitalismo – vasto campo de ação para atividades globais de grandes empresas Industrialismo - tarefas profissionais Vigilância – o estado não pode intervir noutros países, as empresas podem Poder militar - aliança entre estados Dimensões institucionais da globalização: Economia capitalista mundial – isolamento económico em relação às políticas de cada país; autonomia das empresas – influenciam decisões políticas 13 Divisão internacional do trabalho – especialização regional Sistemas de estados-nação - a globalização compra poder dos estados Ordem militar mundial – envolvimento global dos estados em conflitos Boaventura de Sousa Santos Modos de produção da globalização: Localismo globalizado - o processo pelo qual determinado fenómeno local é globalizado com sucesso Ex: atividades mundiais das multinacionais, transformação da língua inglesa em língua franca, difusão global do fast food ou música popular americana Globalismo localizado – impacto específico de práticas e imperativos transnacionais nas condições locais, as quais são, por essa via, desestruturadas e reestruturadas de modo a responder a esses imperativos transnacionais (de modo a corresponder à globalização) Ex: zonas dentro de países de comércio livre ou zonas francas; desflorestação e destruição maciça dos recursos naturais para pagamento da dívida externa; Práticas e discursos de resistência aos localismos globalizados e aos globalismos localizados Cosmopolitismo – organização transnacional de resistência; vítimas das trocas desiguais ao abrigo da globalização Património comum da humanidade – lutas pela proteção e desmercadorização de recursos, entidades, ambientes que nos garantem a sobrevivência Globalização hegemónica Força marcada pela homogeneização de carácter neoliberal (atuante a vários níveis), imposta de cima para baixo, que faz emergir desigualdades de poder, que enfraquece o poder do Estado, que causa exclusão da população (especialmente do terceiro mundo) Desvalorização cultural desses povos, por via do processo de homogeneização da globalização hegemónica. Periferia do sistema-mundo encontra-se no paradoxo entre a civilização e a resistência: Caso se entreguem à civilização, estarão destinados ao desaparecimento, fazendo parte de outra classe de excluídos Somente se houver resistência (defesa dos seus valores, dos seus padrões culturais e afirmação dos direitos que possuem como povo) poderão assegurar a sobrevivência. Globalização contra-hegemónica 14 A globalização enquanto processo não é mais que um campo de lutas transnacionais. É feita de luta contra a violência estrutural que assola países pobres. Trata-se da sobrevivência das comunidades locais, dos seus lugares simbólicos e da sua biodiversidade. Assenta na ideia de um multiculturalismo emancipatório, baseada “em iniciativas enraizadas no lugar”. Texto 7 – Terceiro setor e Estado-Providência em Portugal Estado-Providência: Estado responsável (direta ou indiretamente) pelo bem-estar da população numa perspetiva de equidade, proteção social e justiça social Pós segunda guerra mundial Pressupõe um compromisso entre as classes trabalhadoras e os detentores do capital, um compromisso que é gerido pelo Estado Políticas sociais Economia social/ Terceiro setor Enquadra as organizações sem fins lucrativas, que não são governamentais (ONG), e que visam gerar serviços de caracter público Lógica distinta da lógica do Estado e do Mercado Capitalista Organiza-se em torno de fatores humanos e não de lógicas competitivas individuais, da reciprocidade e formas comunitárias de propriedade O estado-providência implica a intervenção do estado no domínio da segurança social, do emprego, da educação, da saúde (atinge o seu ponto mais alto nos 30 anos gloriosos que se procedem à II guerra mundial); este pacto, no entanto, degradou-se com a crise da década de 1970, e posteriormente com o Consenso de Washington, tendo esta forma de estado ter sido alvo de reformas de retração. Tais reformas levaram, a certos países, a erosão/diminuição dos salários, das prestações sociais e dos direitos liberais, o que criou fortes entraves ao consumo, do qual depende também o crescimento e o emprego. O consumo, o investimento e até algumas intervenções sociais passaram a ser mantidos com recurso ao crédito bancário. Pressupostos comuns dos regimes de “Welfare State” O sistema económico dominante é o capitalismo. As relações de classes baseiam-se na divisão de trabalho. Detentores vs. Não detentores de capital O principal meio para assegurar a existência é ter emprego no mercado formal de trabalho Autonomia relativa do estado 15 A intervenção do estado combina-se com as estruturas e processos familiares e de mercado para construir um pluralismo de bem-estar (welfare mix) O Welfare Mix desmercadoriza os bens e serviços necessários à reprodução social, fornecendo-os fora do mercado (Desmercadorizar significa impedir que a economia de mercado estenda o seu âmbito a tal ponto que transforme a sociedade no seu todo numa sociedade de mercado, numa sociedade onde tudo se compra e tudo se vende, inclusive os valores éticos e as opções políticas) Estado-Providência em Portugal Estado novo – modelo de família patriarcal com responsabilidades na provisão do bem-estar e instituições caritativas e mutualidades Criação da caixa geral de aposentações (dirigida aos funcionários públicos – 1929) e criação de um sistema de seguros sociais obrigatórios dirigido aos trabalhadores privados com o objetivo de cobrir situações de velhice, invalidez e doença 1974 – marca a institucionalização das políticas sociais que propiciaram o alargamento da proteção social a toda a população, melhorando o apoio em termos de prestações, através da criação do regime não-contributivo que contemplava a atribuição de pensões sociais a quem não auferia rendimentos nem tinha carreira contributiva 16 CRP 1976 - reconhece a segurança social como competência do estado. A proteção social passa a abranger os desempregados, as situações de doença e de vulnerabilidade, a velhice, a invalidez, a maternidade, a viuvez, e a orfandade, deixando assim de abranger apenas alguns segmentos da população mais relacionados com o trabalho. É criado o Serviço Nacional de Saúde (1979), como garantia de assegurar o direito à saúde enquanto direito universal 1984 (1º Lei de Bases da SS), o Estado-Providência define as suas políticas sociais e a sua atuação com base no pressuposto de um regime de proteção social universal, pretendendo uma cobertura de todos os cidadãos, seja pela via do regime contributivo, do regime não contributivo ou da ação social. Prevê ainda o livre acesso a todos os cidadãos à saúde e à educação, serviços considerados essenciais para o bem-estar da população. Década de 90 - Apoios sociais escolares, apoios médicos e alimentares a alunos mais carenciados, formalização da escolaridade obrigatória a partir dos 6 anos de idade, alargamento do ensino superior, criação do ensino especial; aposta-se também no ensino recorrente de adultos e na formação contínua dos professores Características da Economia Social Primazia das pessoas e objetivo social sobre o capital; Combinação de interesses dos membros como interesse geral; Controlo democrático pelos membros deste tipo de entidades; A maioria dos excedentes é usada para objetivos de desenvolvimento sustentável, serviços do interesse dos membros ou do interesse geral; Implicaa adesão voluntária e aberta a este tipo de iniciativas; Defendem a aplicação dos princípios de solidariedade e responsabilidade; Gozam de autonomia de gestão e independência das autoridades públicas. O sector cooperativo e social compreende especificamente: a) Os meios de produção possuídos e geridos por cooperativas, em obediência aos princípios cooperativos, sem prejuízo das especificidades estabelecidas na lei para as cooperativas com participação pública, justificadas pela sua especial natureza b) Os meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais c) Os meios de produção objeto de exploração coletiva por trabalhadores 17 d) Os meios de produção possuídos e geridos por pessoas coletivas, sem carácter lucrativo, que tenham como principal objetivo a solidariedade social, designadamente entidades de natureza mutualista Texto 8 – Ciência, Tecnologia e Sociedade de Risco Sociedade de Risco: Possibilidade de ocorrência de evento com consequências nefastas Surge nos séculos XVI e XVII pelos exploradores portugueses e espanhóis, e a questão dos seguros marítimos Implica a necessidade de compreender que fatores desencadeiam situações de risco e quais os seus efeitos Risco e incerteza: o risco implica incerteza Riscos manufaturados ou “novos riscos” implicam processos complexos de decisão sociais, económicos e políticos Os novos riscos resultam do impacto do desenvolvimento tecnológico e científico – implica, ainda a perda de capacidade de prever o futuro e, sobretudo, de atuar previamente (ex: aquecimento global) Tecnologia e ciência enquanto elementos paradoxais neste contexto: é ameaça, mas também potencial solução inovadora Ulrich Beck (1986) - A sociedade de Risco O conceito de “modernidade reflexiva” A ciência e a tecnologia são produtoras de desenvolvimento e progresso, mas também produtoras de risco Os riscos, tal como a riqueza, são objeto de distribuição: no que toca aos riscos estamos perante a distribuição de “males”, não de bens materiais, de educação ou de propriedade. Beck argumenta que os riscos são transescalares, que a distribuição desses males, dos riscos, é transversal a todas as classes Além dos riscos ecológicos, assiste-se a uma precarização crescente e massiva das condições de existência, com uma individualização da desigualdade social e de incerteza quanto às condições de emprego, tornando-se a exposição aos riscos generalizada A principal crítica de Beck é dirigida ao “estatuto de verdade” conferido à Ciência: “Nas questões de risco ninguém é perito, todos são peritos.” Anthony Giddens (1990) Globalização do risco em termos de intensidade (ex: Guerra nuclear) Expansão da quantidade de eventos contingentes que afetam todos: acumulação de uma grande diversidade de risco - ecológicos, biomédicos, sociais, militares, políticos, económicos, financeiros… Por exemplo, os riscos referentes às rápidas mudanças globais nas relações de trabalho, já que com o acelerado incremento da tecnologia aumenta o desemprego Socialização da natureza, ou seja, a forma dada à natureza pelo homem (a manipulação genética de alimentos e riscos para a saúde humana) Riscos manufaturados – riscos sociais contruídos (pela ciência e tecnologia) 18 Risco e Democracia Omnipresença do risco nas sociedades contemporâneas O discurso político cauteloso e a questão da confiança dos cidadãos quando o discurso é contrariado pelos factos Amplificação mediática do debate público em torno do risco: controvérsias sociotécnicas Os estudos sobre risco (individual, social e ambiental), antes considerados uma subárea das ciências passaram a construir-se em temas políticos centrais, com impacto nas agendas de políticas públicas O risco é propenso ao debate público – a importância crescente da participação cidadã As certezas procuradas pelo poder político contrapõem-se às incertezas veiculadas pela ciência Restruturação dos processos de decisão na resposta aos riscos Estratégias para lidar com o risco Politização do risco: da função de redistribuição do estado-providência à regulação pelo estado de áreas como o ambiente, segurança alimentar… Regulação do risco – intervenção do estado no mercado ou nos progressos económicos e sociais visando controlar as potências consequências adversas que podem resultar para a saúde pública, ambiente ou segurança das pessoas Atuação a título preventivo Regulação do risco/governação do risco Participação Informar o público Ouvir o público Envolver o público nas decisões estabelecer acordos O que significa participar? A participação cidadã implica o envolvimento direto e/ou indireto nos processos de decisão que envolvem situações de risco A participação pública pode ser definida como o processo através do qual os membros de uma comunidade, sobretudo face a situações de risco, individual ou coletivamente, desenvolvem a capacidade de assumir a responsabilidade de: colaborar no planeamento de soluções, avaliar as soluções adotada Importância da participação pública: 1. A participação pública é desejável porque os cidadãos possuem uma perspetiva (experiência e conhecimento) 2. Os serviços públicos devem ser responsáveis e transparentes, sobretudo quando questões de risco estão implicadas nas decisões 19 Texto 9 – De dependentes da Estaco a dependentes Estado: Desemprego de meia-idade e o estado social como último reduto Trabalho: Atividade que transforma a natureza Uma atividade que combina criatividade, pensamento conceptual e analítico e uso de aptidões manuais para conseguir um objetivo pré-determinado Emprego: Atividade destinada à sobrevivência Atividade feita sob alguma dureza e controlo de outros, de instituições ou tecnologias Atividade levada a cabo na experiência de receber algo em troca, estando associada a uma situação de dependência (trabalho assalariado) Organização do capitalismo industrial “acabou” com o “trabalho” e valorizou a estabilidade no emprego História do trabalho: Desde do século XVII que se valoriza o trabalho produtivo livre: juntamente com o serviço militar o trabalho produtivo torna-se o critério de independência e de cidadania plena ou ativa Século XIX: trabalho como “liberdade criadora” que permite ao ser humano transformar suas condições de vida, o mundo e ele próprio Capitalismo industrial: o trabalho torna-se mercadoria Século XX: o fim do trabalho… o trabalho que não é só exercido por seres humanos (automação) O trabalho como emprego O trabalho remunerado é chave para a integração social e económica Ciclo de vida normal (homens nos países industrializados) orientado para um emprego remunerado Sistemas orientados para o trabalho Sistemas educativos – confere qualificações para o trabalho Sistema de proteção social – preenche as lacunas na vida laboral (acidente, doença, desemprego) e acautelam a transição para a reforma Intervenção social e estatal no mercado de trabalho (emprego como objetivo e como direito) Estatutos sociais estruturam-se na relação como o emprego (empregados, desocupados, desempregados, assistidos) Vida cívica - trabalho oferece possibilidades de um estilo de vida independente e de estatuto social; movimentos de trabalhadores conseguem conquistas sociais (aumentos salariais, redução do horário de trabalho, férias…) Transformações no trabalho e no emprego A nova revolução industrial: automatização das máquinas substituída pela era informacional; novas profissões e qualificações e dificuldades de reconversão profissional de alguns trabalhadores 20 Dualização do mercado de trabalho: distância crescente entre o grupo de trabalhadores protegidos (salários, benefícios estatais e da empresa e ações) e o dos trabalhadores precários Nova categoriasocial: trabalhadores pobres Desemprego de massa e de longa duração afetando as vidas e identidades dos que são atingidos Desemprego diferido: pessoas que se esforçam por não cair no desemprego c/ formação, manutenção das rotinas quotidianas Dispositivos públicos de apoio ao emprego e formação criam novas categorias de trabalhadores (estagiários, bolseiros) A precariedade laboral refere-se a “empregos sem estatuto” (empregos incertos com menos regalias sociais) diferentes de empregos satisfatórios A precariedade relaciona: Insegurança no emprego Perda de regalias sociais Salários baixos Descontinuidade nos tempos de trabalho A precaridade laboral é resumida a instabilidade (a impossibilidade de programar o futuro), a incapacidade económica (impossibilidade de fazer face aos “riscos sociais” e de assegurar as despesas económicas do quotidiano – surgimento dos “novos pobres”) e alteração dos ritmos de vida (alteração nos horários de trabalho e da relação entre trabalho/desemprego) 21 O fim do trabalho Duas ideias centrais: 1. Supressão material do trabalho Transformações na materialidade das atividades Constrangimentos das tecnologias de informação e comunicação (TIC) Novas formas de organização do trabalho De um “emprego para a vida” para uma “empregabilidade para a vida” 2. Transformação dos seus significados Transformações nos referentes identitários Diversidade de estatutos do trabalho Individualização das relações de trabalho O desemprego A população desempregada integra quem já trabalhou, quem procura um novo emprego e quem procura o primeiro emprego; “indivíduos com idades entre os 15 e os 74 anos que estejam nas seguintes condições”: Estarem sem trabalho durante a semana de referência (a semana em que decorre o inquérito), isto é, não terem um emprego (por uma hora ou mais) em situação de trabalho remunerado ou por conta própria; Estarem disponíveis para trabalhar, isto é, estarem disponíveis para trabalhar num emprego remunerado ou por conta própria antes de finalizarem as duas semanas seguintes à semana de referência; Estarem ativamente à procura de trabalho, isto é, terem feito diligências para procurar emprego remunerado ou por conta própria, no período de quatro semanas a terminar na semana de referência ou terem encontrado trabalho a ser iniciado em data posterior, isto é, no período de pelo menos três meses Desemprego de longa duração: conjunto de pessoas que estão desempregadas há mais de um ano Consequências do desemprego Objetivas Subjetivas Perda de rendimento regular Perda de autoestima Prestações sociais que implicam rendimentos inferiores Sentimento de inutilidade social dada a centralidade da ética do trabalho Possibilidade de existir perda de rendimento total Impactos de foro psicológico Degradação das condições de vida Aumentos dos casos de violência Risco de pobreza Estratégias de enfrentamento do desemprego Estado social Mercado (atividades de substituição e pequena produção para autoconsumo) Sociedade-providência (redes sociais) 22 Emigração Texto 10 – A sociedade de consumo: estilos de vida, cultura e mercado Sociedades de consumo: origens e desenvolvimento histórico 1ª etapa: primeira metade séc. XX 1910-20 – Mudanças nos processos produtivos (linha de montagem, estandardização, fabrico em série + inovação tecnológica) (Ford T) Mudanças nos processos comerciais (marketing, compra e crédito) Mudanças na vida quotidiana (novas formas de lazer e entretenimento) Anos 30 (crise económica = new deal: políticas sociais e estimulação da economia pelo lado da procura) 2º etapa: pós II guerra mundial 1945-1975: os “trinta anos gloriosos” Fordismo, políticas económicas keynesianas, estado-providência, ganhas de produtividade e consumo em massa Contexto que favoreceu o incremento dos níveis de rendimento e bem-estar das populações, em especial classes médias e populares Sociedade de consumo É aquela que se encontra numa avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços. É consequência do desenvolvimento industrial em que a oferta excede a procura. Investimento em estratégias de marketing (agressivas e sedutoras) que obrigam a consumir, permitindo escoar a produção. O consumismo como tendência: tipo de consumo impulsivo, descontrolado, irresponsável e muitas vezes irracional. Fatores socioeconómicos que justificam a sociedade de consumo Crescimento exponencial da capacidade produtiva – modelo fordista de produção em massa (pós 2ª guerra mundial) Desenvolvimento dos mercados e das técnicas de vendas, marketing e publicidade Desenvolvimento do crédito (e a questão do endividamento – constitui uma nova fonte de consumo ou investimento) Desenvolvimento dos serviços e das indústrias do lazer (pós 2ª guerra) Crescimento dos rendimentos das famílias (pós 2ª guerra mundial) Fatores políticos do desenvolvimento da sociedade de consumo Reivindicações dos trabalhadores e do movimento sindical Redução do horário de trabalho Direito a férias e ao usufruto de tempos livres Políticas redistributivas (políticas fiscais; IRS/IRC, taxas progressivas) e institucionalização dos direitos sociais – estado-providência (após 2ª guerra mundial) 23 Direito à segurança social, à saúde, à educação Fatores socioculturais do desenvolvimento da sociedade de consumo Cultura individualista e consumo como forma de prazer, de autossatisfação e de construção das identidades pessoais Competição estatutária através do consumo (quem consumir mais/bens e serviços mais caros equaliza-lhe um estatuto maior ao dos outros consumidores) Crescimento das classes médias e dos estilos de vida centrados no consumo Importância dos espaços de consumo na organização dos territórios urbanizados e do espaço público As transformações da sociedade de consumo: Transformações dos padrões de compra e de comportamento dos consumidores = novos consumos Homogeneização e segmentação (homogeneização que resulta da produção em massa + segmentação com maior variedade dos mercados) Consumidor como agente da economia moderna (centralidade do consumidor e sua psicologia, motivações, desejos, competências e modelos com impacto direto na estratégia dos mercados) Sociedade de consumo como sociedade de lazer (aumento do tempo de não trabalho, industrialismo e capitalismo penetram na esfera do lazer) Z. Bauman O consumo é hoje estrutural na sociedade O consumo estrutura a nossa identidade (imagem que criamos para nós mesmos e imagem que enviamos para os outros) O consumo organiza as relações sociais Os consumidores são também mercadorias Jean Baudrillard Quatro lógicas do consumo/ quatro tipos de valores dos objetos LÓGICA FUNCIONAL valor de uso dos objetos, princípio da utilidade LÓGICA DA EQUIVALÊNCIA ECONÓMICA Valor de troca dos objetos, princípio do mercado LÓGICA SIMBÓLICA Valor afetivo e de representação dos objetos, princípio da identificação individual ou grupal LÓGICA DO VALOR-SIGNO valor comunicativo e expressivo dos objetos, objeto indicativo dos gostos e posição social = princípios da diferenciação e da competição social O PAPEL DAS MARCAS E DA PUBLICIDADE NA LÓGICA SOCIAL DO CONSUMO.
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