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1Curso Ênfase © 2021 DIREITO EMPRESARIAL SOCIEDADES PERSONIFICADAS Sociedade anônima 1. Introdução As Sociedades Anônimas (S/A) são as sociedades empresárias cujo capital social está dividido em ações. A Lei nº 6.404/1976, conhecida como Lei das S/A (LSA), é a principal norma de regência das sociedades anônimas. Em caso de lacuna, se aplicam as normas do Código Civil (CC) naquilo que for compatível com a natureza da S/A. As sociedades anônimas têm as seguintes características: a) Serão sempre sociedades empresárias (nunca serão simples – art. 982, parágrafo único, do Código Civil). b) O registro é realizado na junta comercial. c) Trata-se de sociedade institucional, pois seu ato constitutivo é um estatuto social (não há contrato social). d) É uma sociedade de capital (não importam as características subjetivas dos sócios). A sociedade anônima é empresária e, por força de lei, sempre terá fins lucrativos, sendo que o seu objeto social consiste em atividade econômica por ela explorada, e não pode contrariar a lei, a ordem pública e os bons costumes. 2Curso Ênfase © 2021 .. O objeto social deve estar devidamente delimitado e descrito no estatuto social, pois este servirá de parâmetro ao acionista controlador e aos administradores, que respondem por danos decorrentes dos desvios da companhia do seu objeto social, o qual só pode ser alterado pela assembleia geral, conferindo-se o direito de retirada do sócio dissidente, com direito de reembolso de suas ações. A sociedade anônima é classificada como institucional, porque é regulada pelo estatuto social, instituído pelos fundadores da companhia e que estabelece as bases da organização social. Ao contrário das sociedades contratuais, em que os sócios discutem as bases da organização social e chegam a uma avença exteriorizada no contrato social, na S/A, os acionistas, seja os que aderem ao estatuto no ato de constituição, seja os que adquirem ações posteriormente, não discutem as bases do estatuto e a ele ficam vinculados. Muito importante! Assim, o estatuto social é o regulamento da companhia e se aplica a todos os acionistas, inclusive, o acionista controlador, e só pode ser modificado pela assembleia geral, que não pode delegar tal competência. A S/A é identificada por uma denominação indicada no estatuto e composta por qualquer expressão, comum ou de fantasia, que deve designar o objeto social e ser acompanhada das expressões “companhia” ou “sociedade anônima”, por extenso ou de forma abreviada (“Cia.” ou “S/A”), vedada a utilização da primeira ao final. A denominação pode ser acompanhada por nome do fundador, acionista ou pessoa que tenha contribuído para o êxito da empresa (por exemplo: Indústria Reunidas Francisco Matarazzo S/A), sem risco de confusão com firma, diante do uso das expressões “Cia.” ou “S/A”. O Código Civil passou a exigir que a denominação da companhia indique o objeto social desenvolvido por ela (por exemplo, Banco Bradesco S/A; Magazine Luiza S/A). Há duas espécies de sociedade anônima (art. 4º da Lei nº 6.404/1976): a) Companhia aberta: é aquela em que seus valores mobiliários são admitidos à negociação no -- 3Curso Ênfase © 2021 mercado de valores mobiliários. b) Companhia fechada: é aquela em que seus valores mobiliários não são admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários. Os valores mobiliários são títulos de investimento emitidos por uma sociedade anônima com o objetivo de captação de recursos. Por exemplo: ações, debêntures, partes beneficiárias etc. Já o mercado de valores mobiliários é composto pela bolsa de valores e pelo mercado de balcão. A bolsa de valores é uma associação civil de direito privado ou uma S/A constituída por corretoras de uma mesma base territorial, que, autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), organiza e mantém o pregão de ações e outros valores mobiliários. Vale destacar que a Bolsa de Valores de São Paulo deixou de ser uma associação civil e passou a ser uma sociedade anônima. A bolsa de valores tem como objetivo aumentar o fluxo de negociação de valores mobiliários, acompanhar as negociações realizadas, supervisionando os atos, trazendo a regulamentação devida, controlando o padrão ético das operações realizadas. Ela traz segurança para quem compra e para quem vende, justamente porque há esse acompanhamento direto. Mercado de balcão consiste nas operações oficiais realizadas fora da bolsa de valores. Por exemplo, as instituições financeiras e sociedades corretoras fazem o intermédio na compra e venda de ações realizadas fora da bolsa de valores. 2. Requisitos para constituição de S/A Os requisitos preliminares para a constituição de uma S/A estão dispostos no art. 80 da LSA: a) Subscrição, por pelo menos duas pessoas, de todas as ações do capital social. Ou seja, há necessidade de pluralidade de sócios. Exceto: Empresa pública federal. Subsidiária integral: art. 251 da LSA. b) Realização, como entrada, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro. Exceção: tratando-se de instituição financeira privada, esse percentual é de 50%, nos 4Curso Ênfase © 2021 .. termos do art. 27 da Lei nº 4.595/1964. c) Depósito do valor realizado como entrada no Banco do Brasil ou em outro estabelecimento bancário. A constituição propriamente dita de uma S/A aberta é chamada de subscrição pública (ou sucessiva). Temos, basicamente, três etapas sucessivas na constituição de uma S/A aberta: a) Registro de emissão de ações na CVM. b) Contratação de uma instituição financeira (underwriting). c) Assembleia de constituição. A constituição de S/A fechada é chamada de subscrição particular (ou simultânea). Nessa, haverá uma escritura pública ou uma assembleia de fundação. Muito importante! Apenas a subscrição de S/A aberta precisa de registro de emissão na CVM. A S/A fechada não precisa dessa etapa de constituição. As formalidades complementares da constituição de S/A são previstas nos arts. 94 a 99 da LSA. Com efeito, após a constituição da companhia por deliberação da assembleia ou por escritura pública, os fundadores devem entregar os documentos, papeis e livros aos primeiros administradores, aos quais competem: a) o arquivamento dos atos constitutivos na junta comercial; b) publicação dos atos constitutivos no Diário Oficial, no prazo de 30 dias. Muito importante! -- -- 5Curso Ênfase © 2021 .. .. Em caso de mora dos primeiros administradores, têm eles responsabilidade solidária perante a companhia pela demora, e pessoal perante terceiros, em decorrência dos atos e operações realizadas em nome da companhia. 3. Valores mobiliários O objetivo dos valores mobiliários é a captação de recursos. São valores mobiliários: ações, debêntures, commercial papers, bônus de subscrição e artes beneficiárias. 3.1. Ações Muito importante! As ações são frações do capital social que conferem a seu titular o direito de ser sócio de uma S/A. Na S/A, a responsabilidade dos sócios se limita ao preço das ações que subscrevem ou adquirem (art. 1º da LSA). O acionista não tem responsabilidade pela integralização do capital social, que é formado pelo total das ações subscritas. As formas de integralização das ações podem ser por meio de pagamento em: a) dinheiro; b) bens; -- 6Curso Ênfase © 2021 .. c) créditos. Muito importante! Na S/A, não se admite a integralização do capital social pela prestação de serviços. Quanto às espécies de ações, elas podem ser: Ordinárias (ON): conferem direitos comuns ao acionista (art. 16 da LSA). Por exemplo: participação nos lucros, direito de fiscalização etc. O art. 110 da LSA diz que toda ação ordinária terá direito a voto. Preferenciais(PN): propiciam ao acionista vantagens econômicas ou vantagens políticas. Por exemplo: art. 17, I, da LSA (prioridade de recebimento). Normalmente, a ação preferencial não tem direito a voto. A golden share é uma ação preferencial com vantagem política como instrumento de proteção dos interesses nacionais efetivamente relevantes. Isso ocorre na privatização de sociedades de economia mista, pois possibilita a retirada do Estado da atuação direta na atividade econômica, mas mantém a gerência estatal na relevante atividade desenvolvida pela S/A. Gozo/fruição (art. 44, § 5º, da LSA): são ações atribuídas aos acionistas cujas ações foram totalmente amortizadas. Seu titular estará sujeito às mesmas restrições ou desfrutará das mesmas vantagens da ação ordinária ou preferencial amortizada, salvo se os estatutos ou a assembleia geral que autorizar a amortização dispuserem em outro sentido. Se a sociedade resolve encerrar as atividades, terá que passar pela liquidação (venda do patrimônio e utilização do valor arrecadado para pagamento dos credores). Após a liquidação, o valor que sobrar (acervo) será repartido entre os acionistas na proporção das ações de cada um. O acionista controlador é a pessoa jurídica ou natural que tem a maioria das ações, com direito a voto e o poder de eleger a maioria dos administradores, e usa, efetivamente, esse poder. Art. 116. (...) -- 7Curso Ênfase © 2021 Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, para com os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender. Por sua vez, o acordo de acionistas, como o próprio nome indica, trata-se de um acordo entre os próprios acionistas. É um acordo parassocial, ou seja, que não irá interferir nas matérias tratadas no estatuto social, mas apenas sobre normas de comportamento. O acordo de acionistas poderá tratar das seguintes matérias: a) compra e venda de ações; b) preferência para adquiri-las; c) exercício do direito de voto; d) poder de controle. Os direitos essenciais do acionista, assim sendo chamados porque nem o estatuto social, nem a assembleia podem privá-lo deles, são os seguintes (art. 109 da LSA): a) Participação nos lucros: no final de cada exercício, apura-se o lucro líquido da companhia. Após tal apuração, 5% do lucro líquido deve ser destinado à reserva legal e outra parte deve constituir o dividendo obrigatório, que corresponderá à metade do lucro líquido, se o estatuto não dispuser de forma diferente. Se o estatuto dispuser sobre a forma de distribuição do dividendo obrigatório, este não poderá ser inferior a 25% do lucro líquido da companhia. b) Direito de fiscalização: os acionistas têm o direito de escolher os membros do conselho fiscal. Além disso, os acionistas detentores de no mínimo 5% do capital social podem exigir a exibição judicial integral dos livros da companhia, desde que apontem atos contrários à lei ou ao estatuto ou demonstrem fundada suspeita de graves irregularidades na administração. c) Direito de participação no acervo da companhia em caso de liquidação: liquidada a companhia, os acionistas têm direito ao que sobrou do patrimônio da empresa, na proporção das ações de que são titulares, podendo o estatuto prever preferência aos acionistas preferenciais em detrimento dos acionistas ordinários. d) Direito de retirada: trata-se de uma proteção da minoria. O acionista dissidente de uma 8Curso Ênfase © 2021 deliberação da assembleia, referente aos temas dos arts. 136, I a VI e IX, e 137 da LSA, pode se retirar da companhia, mediante reembolso. e) Direito de preferência de subscrição de novas ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição: caso haja deliberação para aumento do capital social, os acionistas terão direito de preferência para aquisição das novas ações. Além dos direitos essenciais, os acionistas também têm direitos outros: a) Direito à negociação das ações: as ações são consideradas bens móveis pela lei e podem ser objeto de venda, doação usufruto e penhor. Na companhia aberta, as ações podem ser alienadas depois de integralizado 30% do preço de emissão. Se a alienação ocorrer antes da integralização, os alienantes continuaram responsáveis solidariamente com os adquirentes pelo prazo de dois anos a contar do dia da transferência. Em regra, a alienação de ações é livre, exceto em alguns casos, como na companhia fechada, em que a alienação pode ficar condicionada a determinados fatos, desde que não fique ao arbítrio do administrador ou do acionista controlador. b) Direito ao voto: a cada ação ordinária corresponde um voto nas deliberações da assembleia geral, mas o estatuto social pode suprimir esse direito dos acionistas preferenciais. 3.2. Debêntures As debêntures são títulos representativos de um mútuo que conferirão aos titulares direito de crédito contra a companhia, nas condições constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado (art. 52 da LSA). Quando a sociedade realiza empréstimo bancário, é o banco que define o prazo, os juros, o valor que poderá ser emprestado etc. Se a sociedade emitir debêntures, a S/A poderá especificar as condições que melhor lhe aprouverem. O mutuante é o debenturista. O mutuário é a S/A. A debênture é um título executivo extrajudicial (art. 784, I, do Código de Processo Civil – CPC). Temos as seguintes espécies de debêntures (art. 58 da LSA): a) flutuante: crédito com privilégio geral; b) com garantia real: crédito com garantia real; c) subordinadas: depois dos créditos quirografários; 9Curso Ênfase © 2021 d) quirografárias: créditos sem garantia real. A deliberação sobre emissão de debêntures é feita pela assembleia geral, que, por sua vez, poderá delegá-la para o conselho de administração. 3.3. Commercial paper O commercial paper é também chamado de nota promissória da sociedade anônima. Não há previsão na LSA quanto ao commercial paper. Há somente em Instruções Normativas (IN) da CVM. O mecanismo é o mesmo da debênture, mas nesta o prazo de resgate é de médio a longo prazo. No commercial paper, o prazo é de (IN nº 134 da CVM): 30 a 360 dias – no caso de S/A aberta; 30 a 180 dias – no caso de S/A fechada. 3.4. Bônus de subscrição Com relação ao bônus de subscrição, são títulos negociáveis, emitidos exclusivamente pelas companhias abertas, dentro do limite de aumento de capital autorizado no estatuto (art. 168). Os bônus de subscrição conferirão aos seus titulares, nas condições constantes do certificado, direito de subscrever ações do capital social, que será exercido mediante apresentação do título à companhia e pagamento do preço de emissão das ações. Com efeito, os bônus de subscrição conferem um direito de preferência ao seu titular: quando a S/A emitir novas ações, ela dá preferência de compra para aqueles que têm o bônus. Se a pessoa não aceitar a oferta de venda, não terá direito de receber o que pagou pela preferência. Se aceitar comprar, deve pagar pelo preço da ação (do valor da ação, será deduzido o valor do bônus). A deliberação acerca de sua emissão caberá à assembleia geral (regra) somente se o estatuto não determinar que cabe ao conselho de administração. 3.5. Partes beneficiárias As partes beneficiárias são os títulos que dão participação nos benefícios da companhia. São títulos 10Curso Ênfase © 2021 negociáveis, estranhos ao capital social, que conferem aos seus titulares direito de crédito eventual, consistente na participação dos lucros anuais – vide art. 46 da LSA. Em outros termos, trata-se de valor mobiliário que represente um título de investimento emitido poruma S/A fechada, que confere a seu titular direito de crédito eventual (se tem lucro, recebe; se não tem lucro, não recebe nada), consistente na participação dos lucros anuais. A diferença para a ação é que os títulos são estranhos ao capital social. O titular de partes beneficiárias não tem os direitos de acionista. Somente participa na eventualidade de ter lucro. Se não teve, não participa de nada. O direito será por determinado período de tempo. Não se admite a emissão de partes beneficiárias para S/A aberta (art. 47, parágrafo único, da LSA). Além disso, tais titulares possuem o direito de fiscalizar os atos dos administradores, nos termos do que dispõe o § 3º do art. 46 da LSA. 4. Órgãos das sociedades anônimas Quanto aos órgãos da sociedade anônima, temos: a assembleia geral; o conselho de administração; a diretoria; o conselho fiscal. 4.1. Assembleia geral Assembleia geral é o órgão deliberativo máximo de uma sociedade anônima. Temos a assembleia geral ordinária e a assembleia geral extraordinária. A assembleia geral ordinária deve ser realizada anualmente, nos primeiros quatro meses seguintes ao término do exercício social. É competência privativa da assembleia geral ordinária (art. 132 da LSA): a) tomada das contas do administrador; b) destinação dos lucros; 11Curso Ênfase © 2021 c) deliberação sobre a distribuição de dividendos; d) eleição de administrador e membros do conselho fiscal; e) aprovação da correção da expressão monetária do capital social (atualizar capital social); f) deliberação sobre a distribuição de dividendos. Todo e qualquer tema que não seja um dos descritos anteriormente será decidido em assembleia geral extraordinária. 4.2. Conselho de administração O conselho de administração, em regra, é um órgão facultativo. Aliás, é o único órgão da S/A facultativo. No entanto, o conselho de administração será órgão obrigatório em três situações: a) Sociedade anônima aberta (art. 138, § 2º, da LSA). b) Sociedade de capital autorizado (art. 138, § 2º, da LSA): é aquela em que o próprio estatuto já permite o aumento do capital social. Nas demais sociedades, a assembleia geral irá deliberar sobre o aumento. c) Sociedade de economia mista (art. 239 da LSA). Nos termos do art. 142 da LSA, a função do conselho de administração consiste em: Art. 142. (...) I − fixar a orientação geral dos negócios da companhia; II − eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, observado o que a respeito dispuser o estatuto; III − fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração, e quaisquer outros atos; 12Curso Ênfase © 2021 IV − convocar a assembleia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do artigo 132; V − manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria; VI − manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir; VII − deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição; (Vide Lei nº 12.838, de 2013.) VIII − autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo não circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009.) IX − Escolher e destituir os auditores independentes, se houver. Quanto à estrutura, o conselho de administração deve ser composto por, no mínimo, três membros; pessoas naturais ou físicas; acionistas ou não. Art. 146. Poderão ser eleitas para membros dos órgãos de administração pessoas naturais, devendo os diretores serem residentes no país. Até meados de 2001, a LSA exigia que o conselho de administração fosse formado exclusivamente por acionistas pessoas físicas. Pois bem. Atualmente, não há mais essa exigência, uma vez que o art. 146 foi alterado e passou a ter a seguinte redação: “Poderão ser eleitas para membros dos órgãos de administração pessoas naturais, devendo os diretores ser residentes no País (Redação dada pela Lei nº 12.431, de 2011.)”. Essa mudança já era reclamada há tempos pelos operadores do direito societário. Muitas vezes o controlador vendia ou emprestava uma única ação a alguém, apenas para que essa pessoa adquirisse a condição de acionista e pudesse compor o conselho de administração. Compete ao conselho de administração (art. 142 da LSA): orientação geral dos negócios da companhia; eleição e destituição de diretores; fiscalização da gestão dos diretores. 4.3. Diretoria A diretoria é um órgão obrigatório de uma sociedade anônima. O diretor será o representante legal da S/A (art. 144 da LSA). 13Curso Ênfase © 2021 .. Muito importante! “No silêncio do estatuto e inexistindo deliberação do conselho de administração (art. 142, II e parágrafo único), competirão a qualquer diretor a representação da companhia e a prática dos atos necessários ao seu funcionamento regular” (art. 144 da LSA). “Nos limites de suas atribuições e poderes, é lícito aos diretores constituir mandatários da companhia, devendo ser especificados no instrumento os atos ou operações que poderão praticar e a duração do mandato, que, no caso de mandato judicial, poderá ser por prazo indeterminado” (parágrafo único do art. 144 da LSA). A diretoria deve ser composta por: no mínimo, dois membros; pessoas naturais; acionistas ou não; residentes no país (isso porque sua função é representar a S/A). 4.4. Conselho fiscal O conselho fiscal detém a função de fiscalizar a gestão e assessorar a assembleia geral. A companhia terá um conselho fiscal e o estatuto irá dispor sobre seu funcionamento, de modo permanente ou nos exercícios sociais em que for instalado a pedido de acionistas (pode ser “desativado” e “ativado” por pedido de acionistas). Muito importante! É órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento facultativo. O conselho fiscal é composto por: -- -- 14Curso Ênfase © 2021 .. no mínimo, três membros e, no máximo, cinco membros; igual número de suplentes; acionistas ou não; residentes no país. Frise-se que os membros do conselho fiscal devem ser pessoas naturais, diplomadas em curso de nível universitário, ou que tenham exercido, por prazo mínimo de três anos, cargo de administrador de empresa ou de conselheiro fiscal. 5. Sociedades coligadas As sociedades coligadas (também chamadas de ligações societárias) estão dispostas no art. 1.097 do Código Civil e são as sociedades que, em suas relações de capital, são controladas, filiadas, ou de simples participação, na forma dos artigos seguintes. No ordenamento jurídico, temos as seguintes sociedades coligadas: a) Sociedade controlada (art. 1.098 do CC): I) a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembléia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores; II) a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente, esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas possuídas por sociedades ou sociedades por esta já controladas. b) Sociedade filiada ou coligada (art. 1.099 do CC): é aquela sociedade de cujo capital outra sociedade participa com 10% ou mais, sem controlá-la. c) Sociedade de simples participação (art. 1.100 do CC): é aquela de cujo capital social outra sociedade tenha participação com menos de 10%, com direito de voto. 15Curso Ênfase © 2021 ADENDO Lei nº 14.030/2020 Em 29.07.2020 foi publicada a Lei nº 14.030, que dispõe “sobre as assembleias e as reuniões de sociedades anônimas, de sociedades limitadas, de sociedades cooperativas e de entidades de representação do cooperativismo durante o exercício de 2020; altera as Leis nos5.764, de 16 de dezembro de 1971, 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil); e dá outras providências”. Trata-se de lei que prevê o alargamento dos prazos para a realização das assembleias de sociedades anônimas, sociedades limitadas, dentre outras, cujo exercício social tenha se encerrado entre 31.12.2019 e 31.03.2020, tudo em decorrência do estado de calamidade pública instalado pela Covid- 19. Ainda, permite a realização de reuniões e votações em forma não presencial, on-line, viabilizando o cumprimento das medidas de distanciamento social e sanitárias decorrentes da alta taxa de contaminação pelo coronavírus. Especificamente em relação à sociedade anônima, atenção ao disposto nos arts. 1º e 9º. Vejamos: O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º. A SOCIEDADE ANÔNIMA cujo exercício social tenha sido encerrado entre 31 de dezembro de 2019 e 31 de março de 2020 poderá, excepcionalmente, realizar a assembleia geral ordinária a que se refere o art. 132 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, no prazo de 7 (sete) meses, contado do término do seu exercício social. 16Curso Ênfase © 2021 § 1º Disposições contratuais que exijam a realização da assembleia geral ordinária em prazo inferior ao estabelecido no caput deste artigo serão consideradas sem efeito no exercício de 2020. § 2º Os prazos de gestão ou de atuação dos administradores, dos membros do conselho fiscal e de comitês estatutários ficam prorrogados até a realização da assembleia geral ordinária nos termos do caput deste artigo ou até a ocorrência da reunião do conselho de administração, conforme o caso. § 3º Ressalvada a hipótese de previsão diversa no estatuto social, caberá ao conselho de administração deliberar, ad referendum, sobre assuntos urgentes de competência da assembleia geral, os quais serão objeto de deliberação na primeira reunião subsequente da assembleia geral. § 4º O disposto neste artigo aplica-se às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às subsidiárias das referidas empresas e sociedades. Art. 2º. Até que seja realizada a assembleia geral ordinária a que se refere o art. 1º desta Lei, o conselho de administração, se houver, ou a diretoria poderá, independentemente de reforma do estatuto social, declarar dividendos, nos termos do art. 204 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 3º. Excepcionalmente, durante o exercício de 2020, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) poderá prorrogar os prazos estabelecidos na Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, para as companhias abertas. Parágrafo único. Competirá à CVM definir a data de apresentação das demonstrações financeiras das companhias abertas. Art. 4º. A sociedade LIMITADA cujo exercício social tenha sido encerrado entre 31 de dezembro de 2019 e 31 de março de 2020 poderá, excepcionalmente, realizar a assembleia de sócios a que se refere o art. 1.078 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), no prazo de 7 (sete) meses, contado do término do seu exercício social. § 1º Disposições contratuais que exijam a realização da assembleia de sócios em prazo inferior ao estabelecido no caput deste artigo serão consideradas sem efeito no exercício de 2020. § 2º Os mandatos dos administradores e dos membros do conselho fiscal previstos para se encerrarem antes da realização da assembleia de sócios nos termos do caput deste artigo ficam prorrogados até a sua realização. Art. 5º. A sociedade cooperativa e a entidade de representação do cooperativismo poderão, 17Curso Ênfase © 2021 excepcionalmente, realizar a assembleia geral ordinária a que se refere o art. 44 da Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, ou o art. 17 da Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009, no prazo de 9 (nove) meses, contado do término do seu exercício social. Parágrafo único. Os mandatos dos membros dos órgãos de administração e de fiscalização e dos outros órgãos estatutários previstos para se encerrarem antes da realização da assembleia geral ordinária nos termos do caput deste artigo ficam prorrogados até a sua realização. Art. 6º. Enquanto durarem as medidas restritivas ao funcionamento normal das juntas comerciais decorrentes exclusivamente da pandemia da Covid-19, deverão ser observadas as seguintes disposições: I – o prazo de que trata o art. 36 da Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, será contado da data em que a junta comercial respectiva restabelecer a prestação regular dos seus serviços, para os atos sujeitos a arquivamento assinados a partir de 16 de fevereiro de 2020; e II – a exigência de arquivamento prévio de ato para a realização de emissões de valores mobiliários e para outros negócios jurídicos fica suspensa a partir de 1º de março de 2020, e o arquivamento deverá ser feito na junta comercial respectiva no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data em que a junta comercial restabelecer a prestação regular dos seus serviços. Art. 7º. As associações, as fundações e as demais sociedades não abrangidas pelo disposto nos arts. 1º, 4º e 5º desta Lei deverão observar as restrições à realização de reuniões e de assembleias presenciais até 31 de dezembro de 2020, observadas as determinações sanitárias das autoridades locais. Parágrafo único. Aplicam-se às pessoas jurídicas de direito privado mencionadas no caput deste artigo: I – a extensão, em até 7 (sete) meses, dos prazos para realização de assembleia geral e de duração do mandato de dirigentes, no que couber; II – o disposto no art. 5º da Lei nº 14.010, de 10 de junho de 2020. Art. 8º. A Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 43-A: “Art. 43-A. O associado poderá participar e votar à distância em reunião ou em assembleia, que poderão ser realizadas em meio digital, nos termos do regulamento do órgão competente do Poder Executivo federal. 18Curso Ênfase © 2021 Parágrafo único. A assembleia geral poderá ser realizada de forma digital, respeitados os direitos legalmente previstos de participação e de manifestação dos associados e os demais requisitos regulamentares.” Art. 9º. Os arts. 121 e 124 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passam a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 121. ......................................................................................................... Parágrafo único. Nas companhias, abertas e fechadas, o acionista poderá participar e votar à distância em assembleia geral, nos termos do regulamento da Comissão de Valores Mobiliários e do órgão competente do Poder Executivo federal, respectivamente.” (NR) “Art. 124. ........................................................................................................... § 2º A assembleia geral deverá ser realizada, preferencialmente, no edifício onde a companhia tiver sede ou, por motivo de força maior, em outro lugar, desde que seja no mesmo Município da sede e seja indicado com clareza nos anúncios. § 2º-A. Sem prejuízo do disposto no § 2º deste artigo, as companhias, abertas e fechadas, poderão realizar assembleia digital, nos termos do regulamento da Comissão de Valores Mobiliários e do órgão competente do Poder Executivo federal, respectivamente. ..........................................................................................................................” (NR) Art. 10. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 1.080-A: “Art. 1.080-A. O sócio poderá participar e votar à distância em reunião ou em assembleia, nos termos do regulamento do órgão competente do Poder Executivo federal. Parágrafo único. A reunião oua assembleia poderá ser realizada de forma digital, respeitados os direitos legalmente previstos de participação e de manifestação dos sócios e os demais requisitos regulamentares.” Art. 11. (VETADO). Art. 12. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 19Curso Ênfase © 2021 Brasília, 28 de julho de 2020; 199º da Independência e 132º da República. JAIR MESSIAS BOLSONARO Paulo Guedes Bento Albuquerque Roberto de Oliveira Campos Neto José Levi Mello do Amaral Júnior Este texto não substitui o publicado no DOU de 29.07.2020. (Grifos nossos.) Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência dos temas em provas de concursos públicos. A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts. Todos os direitos reservados.
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