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Texto Pensamento Sistêmico - Caderno de Campo

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166 • Pensamento Sistêmico – Caderno de Campo . 
O Que Vem a Ser Sistêmico? 
 
É comum às pessoas, ao tomar contato com o Pensamento Sistêmico, 
passarem a usar o termo “sistêmico” mais freqüentemente. Referem-se a uma 
ação mais sistêmica, a uma teoria mais sistêmica, ou a uma decisão mais 
sistêmica. Passam a utilizar o termo de uma maneira mais ou menos 
indiscriminada. Parece útil, nesse momento, identificar de maneira um pouco 
mais clara o que caracteriza o termo “sistêmico”. 
 
As Características do Pensamento Sistêmico 
Além da função de ajudar no adequado emprego do termo “sistêmico”, a 
identificação das características do Pensamento Sistêmico tem também a 
função de deixar claro um conjunto de idéias que o suportam. 
Essas idéias foram sendo constituídas ao longo de uma história, e 
consolidam-se na medida que resultados de experimentos dão mais 
credibilidade às próprias idéias, na ciência e na vida prática. 
A história construída é a história da contextualização do pensamento 
mecanicista. Como você viu anteriormente, o pensamento mecanicista 
encontrou seus limites no início do Séc. XX. Uma nova forma de pensar era 
necessária, e ela necessitava ter características especiais para compreender os 
novos fenômenos complexos diante dos olhos dos cientistas e das pessoas em 
geral na vida prática. 
 
 A história do Pensamento Sistêmico está descrita em: “O Que Usaremos no 
 Campo, Chefe?”, na pág. @ 
 
As características que o Pensamento Sistêmico incorporou ao longo 
desses anos de estudo nos levaram a perceber o mundo de uma maneira 
específica, e a tentar resolver os problemas desta maneira. Houve uma 
mudança gradual de ênfases, afastando a nova forma de pensar das 
características do pensamento mecanicista. A partir de um novo conjunto de 
ênfases, foi-se caracterizando o novo paradigma. 
Perceber a realidade desta nova maneira é percebê-la de uma maneira 
sistêmica, e resolver problemas com base nesta percepção, leva a um tipo de 
ação sistêmica. Mas, afinal, o que vem a ser sistêmico? 
De acordo com o conjunto de vertentes sistêmicas que embasam este 
livro, as características do Pensamento Sistêmico são as que vêm abaixo. 
Trata-se da mudança de ênfase: 
 
1) Das Partes para o Todo 
No pensamento mecanicista, o processo analítico tem função primordial. 
Busca-se a compreensão dos objetos delimitando claramente sua fronteira e 
decompondo-os em partes menores de mais simples compreensão. A 
decomposição visa a busca de elementos de maior simplicidade, mais 
Estas características foram 
compiladas ao longo do trabalho 
do físico Fritjof Capra. Veja no 
final deste texto uma revisão de 
suas principais obras. 
 
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compreensíveis e de características mais essenciais que o próprio todo. Esse 
movimento é chamado de reducionismo. 
Essa busca pelo essencial parte do pressuposto de que haverá uma parte 
muito pequena indivisível, cujas propriedades desmistificariam a 
complexidade inerente ao todo. Este movimento é denominado atomismo. 
Este processo tanto trouxe progresso quanto dificuldades. As principais 
dificuldades dizem respeito a três aspectos. O primeiro é derivado da perda 
dos relacionamentos do todo com o ambiente apartado pelo processo de 
delimitação de fronteiras. O todo é isolado do seu ambiente para que possa 
ser mais bem controlado no processo de conhecimento. Como decorrência 
desse princípio, a segunda dificuldade ocorre, pois também as partes 
componentes são isoladas, apartando assim os relacionamentos com as 
demais partes e com o todo maior. E terceiro, o reducionismo e o atomismo 
passam a permear o pensamento científico e tecnológico, e mesmo o 
raciocínio diário, fazendo com que as pessoas acreditem que aquilo que não 
for detalhado não é sistemático, e por isso não é conhecimento verdadeiro. 
Esse reducionismo e atomismo exagerados levam as pessoas a “afogarem-se” 
em um oceano de dados, dos quais é difícil extrair uma visão estratégica, 
sistêmica. 
O Pensamento Sistêmico busca reequilibrar as coisas passando a olhar no 
sentido contrário do reducionismo e do atomismo, dando maior ênfase ao 
todo que à parte. Inicialmente, estabelece também uma fronteira de sistema, 
mas ela é “fraca” e mais ou menos arbitrária, para que os sucessivos 
entendimentos posteriores possam restabelecer exatamente de que escopo 
está-se falando. Isto permite a inclusão durante o processo de aspectos 
importantes, como relacionamentos com o ambiente e com outros sistemas. 
Há aqui também um perigo: o entendimento abstrato de que tudo está 
conectado a tudo, e assim só parar o processo de inclusão ao chegar ao 
sistema maior: o Universo. Para que o “detalhismo” não ocorra também na 
direção oposta, o Pensamento Sistêmico adota duas posturas: o processo de 
inclusão é delimitado por um interesse declarado dos atores pensantes, por 
um lado, e por outro sintetiza e agrega variáveis, toda vez que o mapa do 
sistema torna-se cognitivamente confuso. 
Logo, o Pensamento Sistêmico está interessado nas características 
essenciais do todo integrado e dinâmico, características essas que não estão 
em absoluto em partes, mas em relacionamentos dinâmicos entre partes e 
partes, partes e todo, e entre todo e outros todos. Ao invés de se concentrar 
em elementos ou substâncias básicos, propõe a atenção a princípios básicos 
de organização e a adoção de equilíbrio entre tendências opostas, como 
reducionismo e holismo, e análise e síntese. 
 
2) De Objetos para Relacionamentos 
A ênfase em objetos tem parte de sua subsistência na constituição 
lingüística ocidental. As línguas ocidentais, a maioria delas derivadas do 
proto-indo-europeu, dão uma ênfase especial à leitura do mundo através de 
objetos, pela sua ênfase estrutural em sujeitos e objetos, ao invés dos verbos. 
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Conhecer o mundo, dentro da tradição ocidental e mecanicista, significa 
conhecer os objetos que o compõem. 
Não nos deteremos nas vantagens deste processo, pois não serve aos 
nossos propósitos neste ponto. Analogamente ao discutido na mudança de 
ênfase de partes para todo, o “pensamento por objetos” está pouco atento aos 
relacionamentos entre os objetos. Como são os relacionamentos que 
promovem a dinâmica, o “pensamento por objetos” não considera a 
codificação de atividades, de operações e, em última instância, do processo 
que ocorre a partir dos relacionamentos. 
Uma vez reconhecida a importância dos relacionamentos para o 
entendimento do todo, faz mais sentido buscar um entendimento da realidade 
não através de coleções de objetos, mas através de redes de relacionamentos 
incorporadas em redes maiores. A busca da generalização no Pensamento 
Sistêmico não se dá por classificação de objetos isolados com as mesmas 
características, mas através do estudo dos padrões de organização. Neste 
processo, observam-se repetidamente os mesmos padrões – configurações de 
relacionamentos – em diferentes sistemas. Há uma mudança de foco, do que 
o sistema é composto (conteúdo), para padrões de relacionamentos. 
Aquilo que é denominado objeto, ou parte de objeto, é apenas um padrão 
abstrato arbitrado dentro de uma teia inseparável de relações. Em última 
análise, não há objetos ou partes em absoluto, mas padrões de 
relacionamentos mais ou menos estáveis. Este padrão de organização, o que 
denominamos sistema, está em permanente co-evolução através de 
interações. 
 
3) De Hierarquias para Redes 
No pensamento analítico, objetos são decompostos hierarquicamente em 
partes, que por sua vez são novamente decompostos em parte menores, 
inferiores dentro da hierarquia. O conceito de hierarquia permeia todo o 
processo analítico, conferindo aos níveis abaixo graus decrescentes de 
importância na medida do avanço do processo analítico. Transferido aos 
sistemas sociais, o pensamento hierárquico impregna a compreensão e a 
intervenção na realidade com uma degradaçãoda importância na medida em 
que se desce na hierarquia, que é nociva à complexidade da realidade social. 
Além disso, o processo analítico confere um caráter de cerceamento das 
partes ao interior do objeto em análise, o que nem sempre é o caso, pois 
sistemas complexos aninhados dentro de sistemas complexos nem sempre se 
limitam às fronteiras do sistema maior. Indivíduos dentro de organizações 
são muito mais que partes confinadas dentro de uma empresa, mas sistemas 
complexos em interações com vários sistemas em vários níveis. Por isso, as 
fronteiras entre sistemas, separando os organismos vivos de seu ambiente, 
são freqüentemente de difícil distinção. A interdependência e coordenação de 
coletividades de seres vivos geram um contato tão estreito, que o sistema 
acaba por se parecer com um grande organismo. 
Assim, a capacidade de entendimento da realidade reside em deslocar a 
atenção de um lado para outro entre níveis sistêmicos, através da ampla rede 
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de relações do mundo vivo. Perceber essa ampla teia traduz-se em utilizar 
um pensamento em rede, outra das características essenciais do Pensamento 
Sistêmico. Uma série de descrições interconectadas de fenômenos é 
construída através da descrição do funcionamento da rede, na medida em que 
percebemos a realidade como relacionamentos. Nosso próprio processo de 
conhecimento vai também tecendo uma teia de descrições construída em 
rede, de forma que a metáfora do conhecimento como edifício vai sendo 
substituída pela rede. Em última análise, do ponto de vista da construção do 
conhecimento, nossas descrições do mundo acabam por formar uma rede 
interconectada de concepções e de modelos. 
 
4) De Causalidade linear para Circularidade 
Pelo pensamento mecanicista, o entendimento da realidade científica 
passa do levantamento dos dados para o reconhecimento de padrões, e daí 
para explicações causais dos fenômenos. Porém, a tradição de estudos de 
causalidade sempre esteve limitada ao reconhecimento dos padrões lineares 
de conexão. Por, implicitamente, considerar as relações tautológicas (de 
causalidade circular) anômalas ou de exceção, relegou-as ao segundo plano. 
Porém, a partir da nova ciência, que tem origem na cibernética e 
engenharia de controle, essa relação acabou por inverter-se. Essas novas 
ciências reconhecem a importância e essencialidade das relações circulares. 
Em função da inclusão do ambiente contextual na compreensão dos sistemas 
complexos, a cibernética começou a notar a participação cada vez maior das 
relações circulares de causa e efeito na explicação do comportamento e 
sustentação dos sistemas complexos. Tais relações são também chamadas de 
feedback loops ou enlaces de retroalimentação. Sem o entendimento de tais 
relações circulares, a compreensão do todo fica limitada. Por isso o 
Pensamento Sistêmico tende a buscar um entendimento integral da realidade 
através dos fluxos circulares, em vez de apenas por relações lineares de causa 
e efeito. 
Tome por exemplo um sistema como o rio. Ele só existe e se sustenta pela 
relação circular maior do ciclo das águas. Ou um animal. Só se mantém e 
tem tais características por inúmeras circularidades: controle da temperatura 
corporal, pressão sangüínea, cadeia alimentar, respiração. Assim também são 
os fenômenos organizacionais: a mudança sustentada que é nutrida pelos 
enlaces de reforço, a manutenção dos problemas que se dá através dos 
enlaces equilibradores. 
 
5) De Estrutura para Processo 
Outra mudança que se configura através do Pensamento Sistêmico é 
oriunda de um duplo reconhecimento. O primeiro é de que a estrutura de um 
sistema complexo é o influenciador fundamental do funcionamento dos seus 
processos. Mas o segundo é o principal. São os processos fundamentais que 
estabelecem padrões de organização, e que acabam por se materializar em 
uma estrutura. Dentro do Pensamento Sistêmico, principalmente por 
influência da teoria da autopoiese, de Maturana e Varela, e da teoria das 
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estruturas dissipativas de Prigogine, a busca essencial é o do entendimento 
dos processos subjacentes que organizam um padrão, e que por fim dão 
origem a uma estrutura materializada. 
Este movimento encontra adeptos tanto nas ciências naturais como nas 
ciências sociais. Teóricos como Giddens, Habermas e Luhmann trabalharam 
para a busca de uma teoria integradora entre estruturalismo e funcionalismo, 
ganhando força cada vez maior este processo de transcendência da dicotomia 
nas ênfases estrutura-comportamento. 
Isto faz sentido na medida em que um sistema vivo ou social é mais do 
que uma configuração estática de componentes. Mantém-se em constante 
fluxo através de processos metabólicos e de desenvolvimento que 
configuram e reconfiguram sua estrutura, fazendo com que sua forma se 
mantenha e se desenvolva. Acaba que toda estrutura é vista como a 
manifestação de processos subjacentes, fazendo com que o Pensamento 
Sistêmico seja um “pensamento de processo”, que considera a natureza 
intrinsecamente dinâmica da realidade. Nesse entendimento, a rede inteira de 
relacionamentos é vista como intrinsecamente dinâmica, e a estrutura rígida 
cede lugar a manifestações flexíveis de processos subjacentes. 
 
6) De Metáfora Mecânica para Metáfora do 
Organismo Vivo e Outras Não-Mecânicas 
O Pensamento Sistêmico dá especial ênfase ao uso da metáfora do 
organismo vivo, em contraposição à dominante metáfora mecanicista. Os 
sistemas vivos têm se mostrado uma metáfora útil na compreensão da nova 
ciência, pois conceitos como contexto, ambiente, relações, mutualidade, 
fluxos, fronteiras permeáveis, processos, desenvolvimento e evolução são 
conceitos muito mais próximos dos objetos de estudo da biologia e ecologia 
do que das máquinas. A metáfora mecanicista para compreensão e 
construção de organizações começa a dar sinais de esgotamento quando 
vivemos em um mundo cada vez mais interconectado, dinâmico e em 
mudança. 
Também a metáfora mecânica precisa dar cada vez mais espaço ao uso 
das metáforas sociais para compreensão da realidade organizacional. Como o 
mecanicismo coloca ênfase quase exclusiva na dimensão tecnológica, 
freqüentemente ficam esquecidas as dimensões política e cultural das 
organizações, em muito responsáveis por sucessos ou fracassos de iniciativas 
de mudança. 
Na medida em que a metáfora do organismo e as novas teorias dos 
sistemas vivos vão sendo adotadas, um novo conjunto de aplicações 
conceituais vai se incorporando à forma sistêmica de encarar o mundo. 
É preciso lembrar, porém, que o Pensamento Sistêmico é simpático a 
diversas outras metáforas, como a do cérebro, da holografia, do fluxo e 
transformação, da cultura e da política. Todos esses fenômenos, de uma 
forma ou de outra, têm acolhida numa forma sistêmica de pensar, que por 
origem é uma forma inclusiva, e não excludente de pensar. O pensamento 
metafórico, de uma forma geral, é sinérgico ao Pensamento Sistêmico, sendo 
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útil dentro de uma nova forma de compreender a realidade mutante. Isso faz 
sentido na medida em que a cognição e o controle de um sistema precisam 
ter uma variedade no mínimo igual à variedade da situação a ser conhecida e 
controlada. Significa que, para um mundo complexo, é necessária uma forma 
de pensamento também complexa, o que implica um repertório quantitativa e 
qualitativamente superior de metáforas, modelos e pontos de vista. 
 
7) De Conhecimento Objetivo para Conhecimento 
Contextual e Epistêmico 
Quando se está falando de conhecimento objetivo, está-se referindo ao 
campo da experiência independente dos interesses e emoções do observador 
individual. É um conhecimento obtido por métodos acordados por diversos 
especialistas, em que as subjetividades são apartadas do processo, tornando-o 
“neutro”. Porém, a arbitrariedade na seleção das teiasde relacionamentos a 
serem observadas, analisadas ou resolvidas está longe de ser um 
procedimento “neutro”. Os cientistas e gerentes podem concordar sobre um 
método para realizar uma investigação, mas a teia específica de 
relacionamentos a ser investigada, bem como suas fronteiras, dependem 
amplamente da subjetividade, dos interesses, crenças e paradigmas dos que a 
selecionaram. 
Principalmente em função desta dependência é que começa a ser 
necessária uma contextualização dos pressupostos básicos de trabalho do 
investigador científico ou do líder da mudança nas organizações. Se o ator é 
um “mecanicista clássico”, abordará a organização como se fosse uma 
máquina que necessita de controle, e implementará mecanismos para 
controlá-la. Não há nenhum problema inerente nesta postura, desde que sua 
ontologia organizacional e epistemologia sejam expressamente declaradas. 
Ou seja, o ator da mudança ou investigador científico precisa declarar sua 
visão de mundo sobre como a realidade é, e de como o conhecimento se 
constrói. Isso se torna necessário para que ele possa receber apoio coerente 
ao seu movimento, ou de modo a receber crítica bem embasada, impossível 
sem uma declaração dos seus pressupostos a respeito da natureza da 
organização, do ser humano e da realidade. 
Além disso, como a “[...] natureza é vista como uma rede dinâmica e 
interconexa de relações que inclui o observador humano como um 
componente integrante”, o próprio entendimento desse observador sobre o 
processo de conhecimento tem que ser incluído explicitamente na descrição 
dos fenômenos. Como os pressupostos relacionados ao processo de 
conhecimento, suas teorias, modelos e formas de mensuração dependem do 
paradigma em uso, e como há diferentes paradigmas disponíveis, o 
observador-participante precisa explicitamente declarar sua epistemologia 
em uso. Nesse sentido, a epistemologia em uso é parte do processo de 
observação e, ao mesmo tempo, o influencia. Por exemplo, isolar um padrão 
numa rede complexa desenhando uma fronteira ao seu redor, chamando esse 
padrão de “objeto”, é uma ação arbitrária, porém válida dentro de uma certa 
ontologia e epistemologia, especificamente do pensamento mecanicista. Já o 
A citação foi extraída de 
CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. 
São Paulo, Cultrix, 1999. 19a 
ed., p. 247. 
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Pensamento Sistêmico, em função da precariedade cognitiva humana, 
também estabelece “fronteiras” ao redor de sistemas. No entanto, adota uma 
postura diferenciada na medida em que imprime uma permeabilidade e 
interconexão através desta “fronteira”. Logo, passa a haver cada vez mais a 
necessidade de uma mudança de postura a respeito do processo de 
observação e conhecimento, passando este de objetivo para contextual e 
epistêmico. 
 
8) Da Verdade para Descrições Aproximadas 
Mas se todo isolamento de objetos torna-se arbitrário, e toda observação 
implica participação, como ainda continuar a busca pelo conhecimento da 
verdade e a libertação da caverna? O que torna esta busca ainda válida, e o 
reconhecimento de que a abordagem sistêmica ainda seja uma forma 
científica, é o entendimento de que há conhecimento aproximado, apesar da 
impossibilidade de abarcar o todo em sua complexidade e infinita conexão. A 
postura sistêmica é a do reconhecimento de que todas as concepções e todas 
as teorias científicas são limitadas e aproximadas. Na ciência sempre lidamos 
com descrições limitadas e aproximadas da realidade (modelos). 
Assim, Pensamento Sistêmico é, em essência, pensamento de 
modelagem, e este admite que todos os conceitos, teorias e modelos são 
limitados e aproximados. Por isso, Pensamento Sistêmico implica um 
deslocamento da busca da verdade para busca de descrições aproximadas 
úteis dentro de um contexto. 
 
9) De Quantidade para Qualidade 
Como o Pensamento Sistêmico abandona a ênfase nos objetos para 
concentrar-se nos padrões e nas formas, ele implica uma mudança de ênfase 
da mensuração quantitativa dos objetos para uma postura de mapeamento e 
visualização. Na medida em que objetos possuem propriedades intrínsecas 
próprias, como pressupõe o pensamento analítico, distingui-los seria uma 
tarefa de compará-los com padrões universais, ou seja, o processo de medir e 
quantificar. Porém, diante do pressuposto do Pensamento Sistêmico de que 
propriedades são dependentes de contextos, relações, formas e padrões, essas 
mensurações necessitam contextualização na teia maior de relacionamentos. 
Como relacionamentos, formas e padrões são difíceis de serem mensurados, 
torna-se necessária uma atitude mais livre de visualização e mapeamento. 
Assim, pensar em termos de padrões implica uma mudança de quantidade 
para qualidade. 
 
10) De Controle para Cooperação, Influenciação e 
Ação Não-violenta 
Por fim, o reconhecimento dos padrões de comportamento da vida leva ao 
entendimento de que a evolução depende de um equilíbrio dinâmico entre 
competição e cooperação. A ecologia e o estudo da evolução dos sistemas 
vivos complexos demonstram que os organismos no mundo natural têm 
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grande tendência para associação, cooperação e simbiose, equilibrando 
competição e mútua dependência. Este equilíbrio gera organismos e coletivos 
de organismos em ordens estratificadas que, na medida em que há tanto 
competição quanto cooperação, não existe razão para controle unilateral. 
Nesse entendimento, a importância da ordem estratificada advém da 
organização da complexidade, não da transferência do controle, como na 
organização humana dos últimos 10.000 anos. A hipótese dos estudiosos 
ligados à ecologia é que os sistemas humanos hierárquicos que trabalham sob 
controle unilateral são insustentáveis e que a imitação da natureza, na 
complementaridade de tendências auto-afirmativas e integrativas, torna-se 
necessária à permanência da condição humana sobre a Terra. 
Logo, a atitude postulada por Bacon, de dominação e tortura da natureza 
com vistas ao seu domínio e controle, também pode ser encarada como uma 
atitude não sustentável na relação com a comunidade da vida. Essas 
percepções implicam a necessidade de uma mudança da atitude de 
dominação e controle da natureza, incluindo os seres humanos, para um 
comportamento cooperativo e de não-violência, tanto na ciência quanto na 
tecnologia, organização e sociedade. 
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 
O Tao da Física 
CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. São Paulo, Cultrix, 1999. 19a ed. 
Neste seu primeiro livro, Capra traça os paralelos entre a física moderna e 
as filosofias orientais, em especial o taoísmo. 
O Ponto de Mutação 
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo, Cultrix, 1982. 
Obra seminal de Capra, pois lança as primeiras idéias sobre a síntese do 
movimento sistêmico na ciência, tecnologia e sociedade. O livro é composto 
de duas partes: a visão mecanicista e a visão sistêmica de áreas importantes 
do conhecimento humano. 
A Teia da Vida 
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo, Cultrix, 1996. 
Atualização do movimento sistêmico com novidades dos campos da nova 
ciência. 
Pertencendo ao Universo 
CAPRA, Fritjof e STEINDL-RAST, David. Pertencendo ao Universo. 
São Paulo, Cultrix/Amana-key, 1996. 
Diálogo que aproxima a nova ciência da nova espiritualidade. Steindl-
Rast é teólogo católico e trava um diálogo muito rico com Capra, num 
mosteiro da Califórnia. 
As Conexões Ocultas 
CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas. São Paulo, Cultrix, 2002. 
Livro recente com última visão de sustentabilidade do autor. Apresenta 
todo o amplo espectro de experiências mundiais em direção ao paradigma 
sistêmico, incluindo algumas realizadas no Brasil. 
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