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. A pele tem várias funções, como por exemplo: Proteger o organismo contra a ação de agentes externos (físicos, químicos e biológicos) Impedir a perda excessiva de líquidos Manter a temperatura corporal Sintetizar a vitamina D Agir como órgão dos sentidos Daí, quando ocorre uma descontinuidade do tecido epitelial, das mucosas ou de órgãos, as funções básicas de proteção da pele são comprometidas. A ferida resultante dessa descontinuidade pode ser causada por fatores extrínsecos, como incisão cirúrgica, trauma, e por fatores intrínsecos, como as produzidas por infecção. Avaliação da ferida Deve-se avaliar causa e tempo de existência da ferida e presença ou não de infecção. Além disso, é preciso avaliar a dor, a presença de edema, a extensão e a profundidade da ferida e as características do leito da ferida, da pele perilesional e do exsudato. Essa avaliação deve ser continuada, é fundamental acompanhar a evolução do processo cicatricial, a cobertura da ferida e os produtos utilizados, devendo o profissional de saúde estar apto a realizar esta avaliação e seu acompanhamento. Feridas fechadas: Por definição, considera-se como ferida fechada aquela que pôde ser suturada. São as feridas que mais nos interessam do ponto de vista prático, pois são as mais comumente observadas nos ambulatórios de pronto-socorro. Na sequência da cicatrização das feridas fechadas, temos a ocorrência de 4 fases: fase inflamatória, fase de epitelização, fase celular e fase de fibroplasia. 1- Fase inflamatória. Após o trauma e o surgimento da lesão, existe vasoconstrição local, fugaz, que é logo substituída por vasodilatação. Ocorrem aumento da permeabilidade capilar e extravasamento de plasma próximo ao ferimento. A histamina é o mediador inicial que promove esta vasodilatação e o aumento da permeabilidade. Ela é liberada de várias células presentes no local: mastócitos, granulócitos e plaquetas. O efeito da histamina é curto, durando aproximadamente 30 min. Feridas Características das feridas As feridas podem ser classificadas quanto à causa, ao conteúdo microbiano, ao tipo de cicatrização, ao grau de abertura e ao tempo de duração. Elas podem ser: Cirúrgicas, feridas provocadas intencionalmente, mediante: Incisão: quando NÃO há perda de tecido e as bordas são geralmente fechadas por sutura; Excisão: quando há remoção de uma área de pele (por exemplo, área doadora de enxerto); Punção: quando resultam de procedimentos terapêuticos diagnósticos (por exemplo, cateterismo cardíaco, punção de subclávia, biópsia, entre outros). Traumáticas, feridas provocadas acidentalmente por agente: Mecânico: contenção, perfuração ou corte; Químico: iodo, cosméticos, ácido sulfúrico etc.; Físico: frio, calor e radiação. Feridas contusas resultam da ação de instrumento contundente; as feridas cortantes ou incisas são resultado da ação de instrumento cortante, e assim sucessivamente. Uma ferida corto contusa resulta da ação de um instrumento contundente que provoque uma contusão e um corte local. Feridas incisas são provocadas por instrumentos cortantes, tais como navalhas, facas, bisturis, lâminas de metal ou de vidro, etc. O trauma é causado pelo deslocamento sobre pressão do instrumento na pele. Suas principais características são: predomínio do comprimento sobre a profundidade, bordas regulares e nítidas, sendo geralmente retilíneas; o tônus tecidual e sua elasticidade fazem com que ocorra o afastamento das bordas da lesão. Podemos subdividir as feridas incisas em 3 tipos: 1- Incisas: Quando o instrumento penetra na pele de forma perpendicular; 2- Incisas com formação de retalhos quando o instrumento penetra de maneira oblíqua à pele; 3- Com perda de substância, já que certa porção do tecido é destacada. Feridas cortocontusas: Em um ferimento cortocontuso, o instrumento causador da lesão não tem gume tão acentuado como no caso das feridas incisas; um exemplo seria um corte por enxada no pé- e a força do traumatismo que causa a penetração do instrumento. Uma ferida cortocontusa pode ser ocasionada por um instrumento que não tem nenhum gume, mas que pela força do impacto, faz com que ocorra a solução de continuidade na pele. Feridas perfurantes: São provocadas por instrumentos longos e pontiagudos, tais como agulhas, pregos, alfinetes, etc., podendo ser superficiais ou profundas. No caso de uma ferida perfurante adentrar uma cavidade do corpo, como a cavidade peritoneal, ela receberá o nome de cavitaria. Feridas perfurocontusas: São causadas principalmente pelos projéteis de arma de fogo. Tratamento das lesões Uma anamnese sucinta é realizada, procurando-se determinar a causa e as condições nas quais ocorreram as lesões. É importante que seja feito um exame clínico geral objetivo, observando-se as mucosas, a pulsação, a pressão arterial, as auscultas cardíaca e pulmonar, para que sejam descartados fatores complicantes em relação ao tratamento que será estabelecido. Os passos no tratamento deverão obedecer à seguinte ordem: A) Classificação da ferida. Verificamos há quanto tempo ocorreu o ferimento, se existe ou não perda de substância, se há penetração em cavidades, se há perda funcional ou se existem corpos estranhos. A realização de exames complementares, como radiografias ou exames de laboratório, deverá ser feita na medida do necessário, avaliando-se caso a caso. B) Realização da assepsia. Ao redor da ferida, na maior parte dos casos, é suficiente a limpeza com PVP-I a 10%, sendo este removida posteriormente com irrigação por soro fisiológico. O ferimento deve ser meticulosamente limpo, basicamente com soro fisiológico. A água oxigenada é um bom agente para a remoção de coágulos de ferimentos maiores, do tipo contundente com rompimento da pele ou perda de tecido. Entretanto, deve ser evitado o seu contato íntimo com a superfície lesada, por ela provocar necrose celular – seu uso deve ser limitado apenas ao REDOR do ferimento. Caso o contado da água oxigenada com a lesão ocorra, deve-se irrigar novamente o ferimento com soro fisiológico. A irrigação vigorosa de uma ferida, utilizando-se soro fisiológico sob pressão em bolus, injetado através de seringas de 35 a 65ml de capacidade, e usando-se agulha calibre 19, é um método bastante eficaz para diminuir a contagem bacteriana no interior do ferimento. O volume injetado médio de soro fisiológico em uma lesão é de aproximadamente 150 a 250 ml. Esta técnica se tem mostrado bastante eficaz na prática, e gera pressões de 15 a 40 psi (libras/polegada2). Em contraste, o uso de frascos plásticos de soro fisiológico, sobre os quais é exercida pressão manual, conectados a agulha calibre 19, é capaz de gerar pressão de 2,0 a 5,5 psi. C) Fazer anestesia. Este procedimento varia para cada tipo de ferida, ou seja, desde uma simples infiltração de anestésico local até a anestesia geral. O uso de lidocaína tamponada ou de lidocaína aquecida torna o processo de anestesia local menos doloroso, podendo estas técnicas serem usadas em feridas traumáticas sem aumentar os índices de infecção. D) Hemostasia, exploração e desbridamento. Nas hemorragias, a conduta varia de acordo com a gravidade da lesão e o local onde se encontra o paciente (via pública, rodovia, hospital etc.) Fora do ambiente hospitalar, na presença de sangramento externo importante, a primeira medida a ser tomada é a compressão da lesão. No hospital, em hemorragias simples, bastam o pinçamento e a ligadura do vaso. A técnica de garroteamento com um manguito pneumático é boa opção para lesões nos membros. E) Sutura da lesão. É iniciada pelos planos mais profundos. Para a musculatura, utilizam-se fios absorvíveis do ácido poliglicólico (Dexon) ou da poliglactina, 2-0 ou 3-0. Esta sutura é feita com pontos separados em X ou em U. Geralmente não há necessidade de se suturar separadamente a aponeurose em ferimentos do tipo encontradoambulatorialmente, sendo ela englobada na sutura muscular. Suturas contínuas ou mesmo intradérmicas devem ser evitadas nos casos de ferimentos traumáticos. A sutura da pele não deve ser feita sob tensão. Um outro cuidado é o de que não devemos deixar os chamados “espaços mortos” durante a rafia dos planos profundos. Ulcerativas, feridas escavadas, circunscritas na pele (formadas por necrose, sequestração do tecido), resultantes de traumatismo ou doenças relacionadas com o impedimento do suprimento sanguíneo. As úlceras de pele representam uma categoria de feridas que incluem úlceras por pressão, de estase venosa, arteriais e diabéticas. Quanto ao conteúdo microbiano, as feridas podem ser: Limpas, feridas em condições assépticas, sem microrganismos; Limpas contaminadas, feridas com tempo inferior a 6h entre o trauma e o atendimento, sem contaminação significativa; Contaminadas, feridas ocorridas com tempo maior que 6h entre o trauma e o atendimento, sem sinal de infecção; Infectadas, feridas com presença de agente infeccioso no local e com evidência de intensa reação inflamatória e destruição de tecidos, podendo conter pus. A importância desta classificação está na indicação de antibioticoterapia, pois, de rotina, prescrevem-se antibióticos (esquema para tratamento) para as feridas contaminadas e infectadas. Nos casos de feridas limpas e limpas-contaminadas, administram-se antibióticos somente nos seguintes casos: comprometimento circulatório no local do ferimento (p. ex., lesão em membro inferior de portador de microangiopatia diabética); baixa resistência do paciente (por doença debilitante crônica ou por uso de drogas); ferimento (p.ex., lesão em membro inferior de portador de microangiopatia diabética); baixa resistência do paciente (por doença debilitante crônica ou por uso de drogas); ferimento em junção mucocutânea; ferimentos da mão em geral; paciente com hipotensão ou choque prolongado; feridas perineais ou em área genital. Ao se indicar um antibiótico em caso de ferimento contaminado ou infectado, não se está pensando em profilaxia, e sim em tratamento, já que temos a certeza da presença de bactérias no interior da lesão. Nunca é demais lembrar que um antibiótico, por mais potente e de amplo espectro que seja, não substitui um tratamento malfeito da ferida. Profilaxia do tétano O tétano é causado pela toxina tetânica, secretada pelo organismo Clostridium tetani. A infecção é geralmente pequena e localizada, sendo a neurotoxina a responsável pelos sintomas da doença. Dois são os mecanismos pelos quais ocorre a disseminação da toxina: o primeiro, através de vasos sanguíneos e linfáticos, e o segundo, através dos espaços perineurais dos troncos nervosos, até o sistema nervoso central O C. tetani é um anaeróbico que requer uma baixa potencial local de oxirredução, a fim de que seus esporos possam germinar. Assim, a mera presença do C. tetani ou de seus esporos em uma ferida não quer dizer que a doença irá ocorrer. Uma infecção bacteriana no ferimento, por exemplo, pode levar a uma baixa do potencial de oxirredução local, surgindo então a doença. Uma vez os organismos iniciem a sua multiplicação continuada. O período de incubação do tétano varia 48h a vários meses, sendo a gravidade da doença inversamente proporcional ao período de incubação. A maioria dos casos tem este período compreendendo a faixa de uma a duas semanas. Os ferimentos onde o tétano surge são dos mais variados tipos possíveis. Por vezes, ferimentos simples são negligenciados, e deles surge a doença. Outras vezes, o foco pode estar em uma simples extração dentária, ou em uma úlcera varicosa crônica de membro inferior. Procedimentos feitos para a prevenção do tétano: a) Desbridamento da lesão b) Uso de toxoide tetânico (imunização ativa) c) Uso de antitoxina (imunização passiva) e d) Antibioticoterapia Princípios gerais. Cabe ao médico determinar a profilaxia adequada para cada paciente. 1. Cuidados meticulosos com a ferida são indispensáveis, com remoção de tecido desvitalizado e corpos estranhos. 2. Todo paciente com uma ferida deve receber toxoide tetânico adsorvido por via intramuscular no momento da lesão (como uma dose imunizante inicial ou como reforço para imunização prévia), a menos que tenha recebido um reforço ou tenha completado sua série inicial de imunizações nos últimos 12 meses. 3. Deve-se pensar na necessidade de imunização passiva com imunoglobulina humana (homóloga), levando-se em consideração as características da ferida, as condições sob as quais ela ocorreu e o estado prévio de imunização ativa do paciente. 4. Todo paciente com ferida deve receber um registro por escrito da imunização realizada, deve ser instruído a portá-lo todo o tempo e, quando indicado, completar a imunização ativa. Para uma profilaxia exata do tétano, é necessária uma anamnese precisa e imediatamente disponível em relação à imunização ativa prévia. 5. A imunização básica com toxoide adsorvido exige três injeções. Está indicado um reforço do toxoide adsorvido 10 anos após a terceira injeção ou 10 anos após um reforço de ferida interveniente. B. Medidas específicas para pacientes com feridas 1. Indivíduos previamente imunizados a. Quando o paciente foi ativamente imunizado dentro dos últimos 10 anos: (1) Para a maioria, administrar 0,5 ml de toxoide tetânico adsorvido como reforço, a menos que exista a certeza de que o paciente recebeu um reforço nos últimos 12 meses. (2) Naqueles com feridas graves, negligenciadas ou antigas (mais de 24 horas), propensas ao tétano, administrar 0,5 ml do toxoide adsorvido, a menos que haja certeza de que foi fornecido um reforço nos últimos seis meses. b. Quando o paciente tiver sido ativamente imunizado há mais de 10 anos, não tendo recebido qualquer reforço no período seguinte: (1) Na maioria dos casos, administrar 0,5 ml do toxoide tetânico adsorvido. (2) Naqueles com feridas graves, negligenciadas ou antigas (mais de 24 horas), propensas ao tétano: (a) Administrar 0,5 ml do toxoide tetânico adsorvido. (b) Administrar 250-500 unidades de imunoglobulina tetânica (humana), IM (Tetanobulin®; Tetaglobuline®). Utilizar seringas, agulhas e locais diferentes. (c) Considerar a administração de oxitetraciclina ou penicilina. 2. Indivíduos não-imunizados anteriormente a. Nas feridas pequenas, limpas, nas quais o tétano é extremamente improvável, administrar 0,5 ml do toxoide tetânico adsorvido (dose imunizante inicial). b. Para todas as outras feridas (1) Administrar 0,5 ml do toxoide tetânico adsorvido (dose imunizante inicial). (2) Administrar 250-500 U de imunoglobulina tetânica humana. (3) Considerar a administração de oxitetraciclina ou de penicilina. A antibioticoterapia com penicilina é eficaz contra as células vegetativas do C. tetani. Pode-se empregar a oxitetraciclina quando o paciente é alérgico à penicilina. O antibiótico deve ser administrado nas três primeiras horas após o ferimento. XI. Escolha de Antibióticos em Pacientes Traumatizados. Sempre ocorre a dúvida do melhor agente a ser prescrito. A não ser nos casos de infecção já instalada, causada por microrganismo específico, a escolha deve ser por um agente de largo espectro, com rápido e eficaz poder de ação, e de custo acessível para o paciente. Desse modo, a escolha recai mais frequentemente na penicilina ou em um de seus derivados semissintéticos. Em relação à penicilina oral, esta é mais comumente usada na forma de penicilina V (Penve-oral®), administrando-se um comprimido de 500.000 UI a cada seis horas, no adulto, por um período de 7-10 dias. Apesar de sua absorção no trato gastrointestinal ser algo irregular, é uma escolha simples e barata de antibioticoterapia, ideal para casos mais simples. Na opção de se utilizar penicilina parenteral, aplica-se um frasco de penicilina G benzatina de 1.200.000 UI (Benzetacil®), IM, aplicando-se, no outro braço ou glúteo,um frasco de Despacilina® de 400.000 UI (que contém 300.000 UI de penicilina G procaína e 100.000 UI de penicilina G potássica), também IM. Isto é feito para que ocorra nível sanguíneo eficaz nas primeiras horas, necessário principalmente nos casos em que se suspeita de contaminação pelo bacilo do tétano em paciente não-imunizado. Caso o paciente seja alérgico à penicilina ou a seus derivados semissintéticos, ficam como opções as cefalosporinas (podem apresentar reação cruzada), a oxitetraciclina, o cloranfenicol, a eritromicina, a lincomicina e a associação sulfametoxazol + trimetoprim (Bactrim®). Quanto ao tipo de cicatrização, as feridas podem ser: De cicatrização por primeira intenção, feridas fechadas cirurgicamente com requisitos de assepsia e sutura das bordas; nelas não há perda de tecidos e as bordas da pele e/ou seus componentes ficam justapostos; De cicatrização por segunda intenção, feridas em que há perda de tecidos e as bordas da pele ficam distantes; nelas a cicatrização é mais lenta do que nas de primeira intenção; De cicatrização por terceira intenção, feridas corrigidas cirurgicamente após a formação de tecido de granulação, ou para controle da infecção, a fim de que apresentem melhores resultados funcionais e estéticos. Quanto ao grau de abertura, as feridas podem ser: Abertas, feridas em que as bordas da pele estão afastadas; Fechadas, feridas em que as bordas da pele estão justapostas. Quanto ao tempo de duração, as feridas podem ser: Agudas, quando são feridas recentes; Crônicas, feridas que têm um tempo de cicatrização maior que o esperado devido a sua etiologia. São feridas que não apresentam a fase de regeneração no tempo esperado, havendo um retardo na cicatrização.
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