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RESPONSABILIDADE CIVIL E DIREITO À IMAGEM
1. UMA ÉPOCA DE FOTÓGRAFOS E CINEGRAFISTAS EM TODOS OS LUGARES: O CULTO À IMAGEM COMO VALOR ONIPRESENTE
O direito à imagem ostenta feição dúplice: é, de um lado, direito da personalidade, participando do núcleo essencial à dignidade humana; de outro, é direito que possui feições patrimoniais, e o uso indevido de imagem alheia, mesmo sem lesão à honra, é indenizável, conforme adiante veremos. Adiantemos que o direito à imagem, protegido constitucionalmente, é direito da personalidade que não se confunde com a proteção da honra ou da intimidade. O desafio dos juristas, nos direitos da personalidade, é buscar formas privilegiadas de proteção, que serão preferencialmente preventivas impedindo que a lesão ocorra ou continue a ocorrer.
2. CONTORNOS CONCEITUAIS DO DIREITO À IMAGEM: COMPREENDENDO SUA INSERÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E TRAÇANDO DIRETRIZES HERMENÊUTICAS
Hoje é lugar comum, na dogmática constitucional, a afirmação de que não existem direitos absolutos. Todos são socialmente condicionados. Isso vale, não poderia ser diferente, para a liberdade de expressão. Se é certo que existem períodos e ambientes em que se aceita maior virulência na adjetivação e maior rigor na forma de dizer – como os períodos eleitorais, por exemplo – também é certo que nem tudo é ou deve ser tolerável. Já se decidiu que não se deve confundir liberdade de expressão com irresponsabilidade de afirmação (STJ, REsp 801.249, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., DJ 17.9.2007). Cabe lembrar que certos aspectos da pessoa pública podem – e devem, diríamos nós – ser noticiados. Mas isso não significa que elas percam o direito à honra, obviamente (STJ, REsp 706.769, Rel. Min. Luis Felipe Salomão 4ª T., DJ 27.4.2009).
a) Em linha de tendência, a liberdade de expressão e comunicação não deve encontrar obstáculos jurídicos, sobretudo se prévios ao seu exercício
Apenas de modo absolutamente excepcional, e com imenso ônus argumentativo, o julgador deve determinar a proibição da veiculação da notícia. Mesmo porque, dada a incrivelmente veloz partilha de informações que ocorre em nossos dias, o efeito quase sempre é contrário ao pretendido. A indenização por danos morais, o direito de resposta no mesmo veículo e com o mesmo espaço, dentre outras sanções, são as sanções preferenciais relativamente ao tema. Devem ser evitadas quaisquer medidas, judiciais ou administrativas, que turbem o direito à livre circulação de notícias e opiniões. Lembremos que a Constituição Federal, art. 5º, IX, assegura ser “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Mais adiante, no inciso XIV, garante “a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
b) Os abusos, quando configurados, são atos ilícitos (Código Civil, art. 187), e perfazem danos indenizáveis, possibilitando a imposição de sanção exemplar, punitiva e pedagógica
O abuso de direito é categoria que, sob o prisma do direito civil, já foi estudado não só neste livro, mas também nesta coleção, em mais de uma oportunidade. Basta relembrar, aqui, que se trata de ato ilícito (Código Civil, art. 187) e que seus efeitos são variados, não apenas indenizantes. Não basta, na sociedade contemporânea, ter direito, é fundamental que seu exercício não se dê de modo agressivo ou ilimitado, rompendo a harmonia social.
c) A sátira e o humor, mesmo quando incisivos, devem ser admitidos, salvo quando instrumentalizem o ser humano, tornando-o, digamos assim, menos humano
Adiante, ainda neste capítulo, abordaremos a questão dos programas de humor, em tópico específico. Por clareza didática, uma vez que elencamos alguns temas acima, adiantaremos algo. Não é simples nem fácil delimitar as fronteiras entre o humor e o dano indenizável (costumamos nos esquecer ou nos fingir de distraídos, mas a verdade é esta: boa parte das piadas que rimos, às vezes as mais engraçadas, são de certo modo ofensivas a alguém, reforçam algum estereótipo negativo, diminuem determinado gênero, raça, origem etc.). Por outro lado, o humor tem imensos aspectos positivos e necessários, exerce, além disso, função de relevância coletiva na crítica política e de costumes. São dimensões culturais que precisam ser lembradas.
d) O direito de resposta é uma forma de tutela específica que pode ser concedida pelo magistrado, de modo exclusivo ou cumulado com a indenização, mesmo após o STF ter decidido pela não recepção da Lei de Imprensa pela Constituição de 1988
Cabe algo falar a respeito do direito de resposta. O autor de arguto estudo sobre o tema observa que “a liberdade de informação não é privativa do informador, mas de todos os que são citados ostensivamente por aquele. Da mesma forma, o direito de informação assegura o direito ao conhecimento do fato e, se o fato é inexato, assiste o direito à retificá-lo, a ser exercido por quem foi vulnerado pela notícia inexata. Outro fundamento é o princípio da igualdade. Há que se dotar o ofendido dos mesmos meios usados pelo ofensor, para que o leitor ou espectador possa fazer um juízo mais isento sobre a matéria jornalística”.
e) Embora não se admitam posturas levianas, não é exigível da imprensa o mesmo grau de certeza da prova produzida em juízo, por exemplo
Os veículos de comunicação não operam – nem poderiam –, na apuração e divulgação de notícias, com os mesmos graus de solidez e certeza exigíveis num processo judicial (sobretudo se penal). Isso é um fato incontestável, e ninguém razoavelmente exigiria que só se publicasse determinada notícia depois de anos debatendo internamente, à luz do contraditório e da ampla defesa, cada circunstância da notícia.
f) Recomenda-se ao intérprete, na matéria, especial cuidado para não escalonar o direito à imagem à luz da condição econômica ou social do ofendido
Talvez muitos de nós sequer se deem conta, mas o direito à imagem costuma ser encarado de modo diferente, dependendo da condição econômica ou social da vítima. Esses desníveis de exigência – o que viola o direito de imagem do rico não viola o do pobre – precisam ser submetidos a testes de consistência constitucional, para que não incidamos em práticas discriminatórias, sobretudo ao interpretar e aplicar o direito.
3. CONTEXTUALIZANDO O USO DA IMAGEM ALHEIA: OUTROS CRITÉRIOS POSSÍVEIS DE INTERPRETAÇÃO
a) Violação à imagem com ou sem violação à honra: diferenciações
Pode-se, em grandes linhas, violar o direito à imagem de duas formas: (a) violação ao direito à imagem com violação à honra; ou (b) violação ao direito à imagem sem violação à honra. As hipóteses, embora tematicamente conexas, não se confundem. Se, digamos, um jornal faz uma reportagem investigativa sobre corrupção e insere, por engano, a foto de um inocente na reportagem (haverá violação à imagem e à honra). Ou, de modo muito mais dramático, como aconteceu no tristemente célebre caso da Escola Base, ocasião em que falsas denúncias de pedofilia destruíram a vida de inocentes
b) A autorização que alguém eventualmente dê para o uso de sua imagem deve ser interpretada de modo restrito, não cabendo hermenêutica ampla
A cessão, onerosa ou gratuita, de imagem deve ser interpretada restritivamente. Não cabe, na matéria, entender-se que a cessão abrange outras imagens ou outros veículos em relação aos quais não houve claro assentimento da vítima. Se alguém, por exemplo, dá entrevista e permite que sua foto seja usada em revista técnica – com viés econômico, jurídico etc. –, isso não autoriza que o mesmo grupo editorial use a foto em outras revistas, de celebridades e fofocas, por exemplo. Mencionamos, no item anterior, que os jornais possuem um banco de fotos e costumam usá-lo sem muita preocupação com o contexto em que a pessoa foi fotografada. Esse uso descompromissado poderá, desde que as circunstâncias perfaçam hipótese de dano indenizável, gerar responsabilidade civil (mais dificilmente em casos de pessoas públicas, conforme mais à frente veremos). Se nemtodo uso configura abuso, há casos em que ele claramente se verifica. Lembremos, ademais, que a vítima, do outro lado, pouco ou nada poderá fazer. Pode ser devastadora a utilização indevida da imagem pela imprensa, sobretudo se aliada à violação à honra.
c) Fotos de multidões ou em lugares públicos (praias, por exemplo), se não destacam alguém em especial, não lesam o direito à imagem
A imagem, se é um direito da personalidade com as especificidades que apontamos, não cria uma redoma ao redor de cada um de nós. Não seria, decerto, razoável nem mesmo possível essa interpretação. Não há, metaforicamente falando, uma espécie de capa jurídica que cubra cada ser humano ao sair de casa, impedindo que sejam feitos os usos normais, comuns e esperados da nossa imagem à luz dos usos e costumes da sociedade contemporânea.
d) O uso de imagem de crianças e adolescentes deve ser excepcional e contextualizado, cabendo, em linha de princípio, optar pelo resguardo da imagem e não exibição
Não cabe divulgar imagens nem crianças ou adolescentes, nem mesmo quando se tratar de menor infrator. A Lei nº 10.764, de novembro de 2003, alterou o art. 143 do Estatuto da Criança e do Adolescente, dispondo que ele passou a ter a seguinte redação: “Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.”
e) A indenização por lesão à imagem não se condiciona a prova de prejuízo pelo ofendido nem tem como teto o lucro do agressor (quando houver)
A imagem é direito autônomo. Já vimos que ela pode ser violada isoladamente ou junto com a honra. Em nenhum dos dois casos, porém, faz-se necessária a prova de que houve prejuízo. Mesmo assim a lesão se faz presente. Político, por exemplo, que usa imagem alheia sem autorização – de pessoa carente e doente renal – em sua campanha política, responde civilmente. Por esses danos, aliás, respondem solidariamente o partido político e o candidato (STJ, REsp 663.887, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., DJ 1.2.2006).
4. CONTEXTUALIZAÇÃO: AS ESTREITAS CONEXÕES TEMÁTICAS ENTRE IMAGEM E IMPRENSA
O tema da imagem (seja dos cidadãos, seja das organizações sociais, sociedades civis ou empresárias) está, em boa medida, ligado à atuação da imprensa. É delicado o equilíbrio entre o direito de informar e o dever de não agredir a imagem das pessoas envolvidas. Se o exercício diário da liberdade de imprensa garante uma sociedade livre, não é menos certo que não se pode, sob esse pretexto, destruir vidas e tisnar honras. A época em que vivemos já foi chamada da “era da informação”, dado o impacto que a difusão do conhecimento atinge em nossos dias. Uma vez divulgada a informação – sobretudo com a internet, que parece feita para receber continuamente novas informações, mas dificilmente para excluir o que recebe – não é possível individualizar quem recebeu ou vai receber a informação jornalística.
4.1. JORNALISMO INVESTIGATIVO E CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO PÚBLICO
A imprensa, na sua tarefa de fiscalizar atos de interesse público, apura e julga com velocidade, como dissemos, nem sempre compatível com a verdade. Por outro lado, não se pode desconhecer a realidade sociológica: numa sociedade desigual como a nossa, marcada por forte herança patrimonialista, a imprensa desempenha função vital, desmascarando fraudes e cobrando a punição pelos meios institucionais – tão tradicionalmente inertes no Brasil. Sabemos que o aparato judicial funciona severamente contra pessoas humildes, cujos crimes, muitas vezes, apresentam escasso potencial lesivo. Já em relação a outros criminosos, confortavelmente situados em plano financeiro ou político, há uma tendência (já clássica) de não efetividade das punições – lamentável sob todos os aspectos. Basta acompanhar a história brasileira, na linha do tempo, sobretudo nas últimas décadas, para se concluir: sem a vigilância da imprensa variadíssimos crimes contra as finanças públicas não viriam à tona. A divulgação de tais práticas nefastas – inimigas do interesse público primário – assume, portanto, altíssima relevância social, desde que as publicações se mostrem responsáveis e sejam feitas com rigorosa checagem dos dados. É preciso, também, que seja oferecido ao envolvido o direito de apresentar sua versão sobre a denúncia.
4.2. QUAL A NATUREZA DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS VEÍCULOS DE IMPRENSA?
Não se pode dizer que tenhamos, nestas primeiras décadas do século XXI, uma resposta definitiva para a questão (talvez fosse mais exato dizer que não temos respostas definitivas para nenhuma questão. É uma das belezas do conhecimento humano). Existem, de todo modo, em relação ao tema, duas posturas teóricas definidas: (a) uma delas postula que a responsabilidade civil dos veículos de imprensa é subjetiva; (b) a outra postula que é objetiva, à luz da teoria do risco.
4.2.1. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
Para quem perfilha esse entendimento, a responsabilidade civil dos veículos de imprensa não se distanciaria do perfil clássico da matéria. Estaríamos, nessa perspectiva, diante de uma responsabilidade civil de tintas subjetivas, na linha tradicional, que atravessou séculos até chegar aos nossos dias.
4.2.2. RESPONSABILIDADE OBJETIVA FUNDADA NA TEORIA DO RISCO
Não é absurda, porém, imaginamos, a invocação da responsabilidade pelo risco na espécie. Sobretudo se tivermos em conta que a prova de que o veículo de imprensa sabia ou devia saber da falsidade pode se configurar, facilmente, “prova diabólica”. É o que veremos a seguir. Frisamos, por mais de uma vez, neste capítulo, os imensos e incalculáveis benefícios que a liberdade de imprensa traz à sociedade. Poderíamos, no entanto, no exercício dessa atividade, se ocorrer um dano, responsabilizar-lhes à luz da teoria do risco? É o que defendem alguns autores.
4.3. QUEM RESPONDE POR ESCRITOS OFENSIVOS PUBLICADOS ATRAVÉS DA MÍDIA?
Artigos e matérias publicados em jornais ou revistas – assinados ou não, físicos ou digitais – frequentemente são objeto de demandas judiciais. Uma pergunta prévia é esta: contra quem deve ser dirigida a ação? Quem figurará no polo passivo da demanda? O STJ já teve oportunidade de analisar a questão, decidindo que os jornalistas são civilmente responsáveis, ao lado do dono do veículo de comunicação, por aquilo que publicam (STJ, Súmula 221: “São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escritor quanto o proprietário do veículo de divulgação”).
4.4. CRITÉRIOS DE PONDERAÇÃO: A BUSCA DE SOLUÇÕES CONSTITUCIONALMENTE CONSISTENTES
O direito constitucional contemporâneo maneja, habitualmente, um tema cuja relevância ganha progressiva força: a ponderação de bens. Como resolver conflitos entre princípios? Como optar por um deles, se ambos ostentam idêntico status constitucional? No caso da liberdade de imprensa – que traduz o direito de informar e também, do outro lado, o de ser informado – diante das agressões possíveis à intimidade e a vida privada, temos um clássico caso da necessidade de ponderar bens e princípios.
4.4.1. VERACIDADE DA INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA
Um dos mais importantes critérios a respeito da legitimidade da informação jornalística diz respeito à sua veracidade. Informação cuja divulgação se protege, portanto, é a informação verdadeira. Informação falsa gera indenização por danos morais, cujo arbitramento variará conforme as circunstâncias. A doutrina, no Brasil e lá fora, reconhece este ponto: “Todos os doutrinadores citados, mesmo os que, em maioria, adotam uma disciplina comum entre expressão e informação, deparam-se com, pelo menos, uma distinção importante entre os dois institutos: a veracidade e a imparcialidade da informação.
4.4.2. LICITUDE DO MEIO EMPREGADO NA OBTENÇÃO DA INFORMAÇÃO
O meio empregado deve ser lícito. Se não for, a informação surge com vício de origem. Informações sigilosas vazam frequentemente para a imprensa, o que, se por um lado pressionaas instituições públicas a agir com eficiência e sem corporativismos, por outro pode atingir irreversivelmente pessoas inocentes. A tendência, em linha de princípio, é guardar prudente cautela diante de informações provindas de meios ilícitos. Não estamos, é certo, em âmbito estritamente processual, a cujo respeito a Constituição Federal, de modo absoluto, proscreve as provas obtidas por meios ilícitos (CF, art. 5º, LVI). O que discutimos neste tópico são informações veiculadas pela imprensa cuja obtenção ocorreu de forma irregular – através de escuta telefônica não autorizada pela justiça, por exemplo, ou escuta telefônica cuja investigação segue em segredo de justiça.
4.4.3. PERSONALIDADE PÚBLICA OU ESTRITAMENTE PRIVADA DA PESSOA OBJETO DA NOTÍCIA
Fator da mais alta relevância diz respeito à personalidade pública ou estritamente privada da pessoa objeto da notícia. Sabemos que não existem, na sociedade contemporânea, direitos absolutos, incondicionados. Todos extraem seu conteúdo do ambiente social em que os direitos serão exercidos. Também assim ocorre com a liberdade de expressão. Existem, é inegável, conforme já ponderamos, períodos e cenários em que se aceita maior virulência na adjetivação e maior aspereza no modo de dizer – como os períodos eleitorais, por exemplo. Mas nem tudo é admissível ou tolerável. Liberdade de expressão não é sinônimo de afirmação irresponsável.
4.4.4. LOCAL E NATUREZA DO FATO
Os autores que se debruçam sobre o tema não manifestam simpatia em relação à norma em questão (art. 20 do Código Civil). Trata-se de dispositivo que hierarquiza bens de um modo que se distancia das opções valorativas básicas da Constituição. Sempre que isso ocorrer, não se pode, decerto, pretender, em autêntica subversão normativa, pretender interpretar a Constituição à luz do Código Civil, consoante parece pacífico no padrão mental contemporâneo.
4.4.5. EXISTÊNCIA DE INTERESSE PÚBLICO NA DIVULGAÇÃO
O interesse público, se existente, permeia de razoabilidade a divulgação da notícia. Havendo interesse público, e sendo verdadeira a informação jornalística, os demais tópicos, ainda que contrários, ficam enfraquecidos. Vivemos dias férteis em denúncias. Algumas, embora acompanhadas de fortíssimos indícios, são veiculadas pela imprensa e logo depois esquecidas, atropeladas, por assim dizer, por outras, tão ou mais graves. Denúncias de corrupção, escusos acordos políticos, violação a direitos fundamentais, entre tantos outros casos, são exemplos de notícias cuja divulgação se mostra fundamental ao interesse social. O mesmo se diga de prisões de políticos, ou investigações que lhes digam respeito. A divulgação, em casos semelhantes, é possível e necessária, não cabendo a alegação de ofensa à “honra, a boa fama ou a respeitabilidade”. No mesmo sentido por nós defendido, o STJ recentemente decidiu que “a honra e imagem dos cidadãos não são violados quando se divulgam informações verdadeiras e fidedignas a seu respeito e que, além disso, são do interesse público” (STJ, REsp 1.297.567, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., DJ 2.5.2013).
4.4.6. PREFERÊNCIA POR MEDIDAS QUE NÃO ENVOLVAM A PROIBIÇÃO PRÉVIA DA DIVULGAÇÃO
Devem ser evitadas quaisquer medidas, judiciais ou administrativas, que turbem o direito à livre circulação de notícias e opiniões. Lembremos que a Constituição Federal, art. 5º, IX, assegura ser “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Mais adiante, no inciso XIV, garante “a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
5. DANO MORAL E TELEVISÃO: AGRESSÕES À IMAGEM NA GUERRA POR AUDIÊNCIA
A televisão brasileira é acusada de vulgaridade, exibindo, de modo inconsequente, o que for preciso para garantir vantagens no Ibope. Nessa disputa não é difícil constatar agressões severas a direitos fundamentais. A jurisprudência tem tentado coibir tais excessos. Em 2007, o STJ condenou o SBT a pagar indenização de cerca de 200 mil reais a cada uma das vítimas de uma comunidade ridicularizada no programa do Ratinho (STJ, REsp. 838.550, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 4ª T., 14.2.2007). Os contornos do caso foram os seguintes: em 1999 a colônia de naturismo Colinas do
Sul, situada no Município gaúcho de Taquara, recebeu uma equipe de televisão do SBT.
5.1. PROGRAMAS DE HUMOR
Seja como for, não faz sentido impor moral rígida aos programas de humor, exigindo que suavizem críticas e ironias, ou que as façam dentro de certo padrão. O mundo político, que é frequentemente alvo de piadas, vez por outra anuncia a intenção de processar humoristas, quase sempre sem ir adiante. A pessoa, classe ou categoria objeto da piada é fator que deve ser levado em conta pelo julgador. Ainda que certas generalizações possam ser injustas – piadas associando políticos a corrupção – são compreensíveis e aceitáveis, diante do número de lamentáveis escândalos que os tem como protagonistas. O humorismo, de alguma forma, se vinga, ironizando os corruptos.
6. BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS
O Brasil, em 2013, viveu intensa polêmica relativa ao fenômeno. Já conhecíamos a repulsa de Roberto Carlos à possibilidade de ser biografado – sobretudo, segundo diz o biógrafo, pelo pavor do cantor em não poder controlar a biografia, ele que (conta o biógrafo) costuma controlar tudo à sua volta. O dado novo na discussão foi a desastrada entrada em cena da associação Procure Saber. Tentava-se, em suma, condicionar a publicação das biografias à aquiescência dos biografados ou, no caso de já falecidos, dos seus familiares. Dizia-se também – fato veementemente contestado pelos biógrafos, que dizem quase não ganhar dinheiro com as biografias – que os biógrafos estariam se enriquecendo à custa deles, biografados. O fato é que quem passou a vida inteira no noticiário – seja como político, cantor, jogador de futebol – não pode pretender, de uma hora para outra, blindar sua imagem de qualquer abordagem, como se a pessoa em questão não tivesse feito, de algum modo, parte da história do país. Jurídica e culturalmente, isso não é possível. Nossa história, como nação, traz essas páginas, que não podem ser rasgadas. Ruy Castro, talvez o mais conhecido biógrafo do Brasil, reclama: “Com isso se torna difícil escrever a história do Brasil.” O próprio Ruy Castro teve problemas a esse respeito. Sua biografia de Garrincha – A estrela solitária – teve sua venda e reimpressão proibida durante 11 meses, em razão de uma ação proposta pela família do jogador.68 A reação contra os livros parte, muitas vezes, de herdeiros. Seria triste para o Brasil, culturalmente falando, que só pudéssemos ter, daqui em diante, biografias chapas brancas, mostrando o que interessa ao biografado, escondendo o que não convém mostrar.
7. HATE SPEECH
O STF – sob o ângulo penal, que não é o deste livro – analisou, em 2003, uma situação emblemática: o caso Ellwanger. Julgou-se na ocasião habeas corpus que buscava, como pano de fundo, discutir os livros editados pelo paciente, que negavam o holocausto e defendiam o antissemitismo. O STF, por maioria (7 × 3), manteve a condenação por crime de racismo. O tema mostra – mais uma vez e com nitidez – que não há campos jurídicos absolutos, por mais respeitável que seja o direito a ser exercido. Não há, nesse sentido, primazia incontrastável da liberdade de expressão. Se alguém, ao exercê-la, agride outrem (ou um grupo étnico, por exemplo), a indenização por dano moral será a resposta devida. Cremos, como temos tantas vezes frisado, que deve-se evitar, mesmo nesses casos, a censura prévia – por abrir precedentes perigosos em relação aos quais nem sempre é possível a volta. Somos livres para pensar e para expressar, como bem nos aprouver, nossos pensamentos, sentimentos e impressões. Quem, porém, prefere usar esse direito de modo virulentamente agressivo, deverá saber que é responsável civilmente pelo que diz, e que havendo dano, responderá por ele.
8. DIREITO AO ESQUECIMENTO: CONTEXTUALIZAÇÃO E DIFICULDADESA jurisprudência brasileira começa a se defrontar com o problema. O STJ entendeu que gera dano moral a veiculação de programa televisivo acerca de fatos antigos, com ostensiva identificação de pessoa que tenha sido investigada e, posteriormente, inocentada em processo criminal (STJ, REsp 1.334.097, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª T., DJ 10.9.2013). É preciso certo cuidado com a orientação, que pode ser adequada em alguns casos, mas certamente não o será em todos. A tendência da sociedade contemporânea é não transigir com proibições de veiculação de informações ou reportagens, sob qualquer verniz ou pretexto (sobretudo vedações prévias devem ser evitadas). Não é algo democraticamente saudável, ainda que sejam invocáveis luminosos argumentos. Há, no caso, a referência à absolvição criminal – dado que é realmente relevante e pode particularizar esse caso diante de outros, ainda que, muitas vezes, diante das notórias deficiências da justiça criminal, a absolvição por falta de provas nem sempre tranquilize a sociedade, que vê aí não o atestado de boa conduta do suspeito, mas apenas a permeabilidade judicial a influências outras, marcadas pelo poder econômico, pelas relações sociais, ou, quando menos, pela notória ineficiência do sistema judiciário. Seja como for, em linha de princípio, na sociedade da informação não se deve tentar abafar a circulação da informação. Deve-se, porém, isso sim, sancionar civilmente os abusos, que são atos ilícitos (Código Civil, art. 187).
INFOS
RESPONSABILIDADE CIVIL
Utilização indevida da imagem da pessoa em propaganda político-eleitoral
Configura dano moral indenizável a divulgação não autorizada da imagem de alguém em
material impresso de propaganda político-eleitoral, independentemente da comprovação de
prejuízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.217.422-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/9/2014 (Info 549).
Imagine a seguinte situação adaptada:
Determinado candidato ao cargo de vereador preparou um folheto para a sua campanha no qual ele
aparecia entregando um diploma de conclusão de curso profissional a João.
Ocorre que João não autorizou a utilização de sua imagem na campanha.
Ele terá direito de ser indenizado por isso?
SIM. Configura dano moral indenizável a divulgação não autorizada da imagem de alguém em material
impresso de propaganda político-eleitoral, independentemente da comprovação de prejuízo. 
Informativo 549-STJ (05/11/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12
Em se tratando de direito à imagem, a obrigação da reparação decorre do próprio uso indevido da imagem
(direito personalíssimo), não sendo necessário discutir se há ou não, no caso concreto, prova da existência
concreta de prejuízo, uma vez que o dano se apresenta in re ipsa.
No caso, existe o direito à indenização mesmo que a referida propaganda não tenha finalidade comercial
ou econômica, mas sim meramente eleitoral.
Apenas a título de curiosidade, na situação concreta, o STJ manteve a condenação do vereador ao
pagamento de 10 mil reais de indenização.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. DANO À IMAGEM. DIREITO À INFORMAÇÃO. VALORES SOPESADOS. OFENSA AO DIREITO À IMAGEM. REPARAÇÃO DO DANO DEVIDA. REDUÇÃO DO QUANTUM REPARATÓRIO. VALOR EXORBITANTE.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A ofensa ao direito à imagem materializa-se com a mera utilização da imagem sem autorização, ainda que não tenha caráter vexatório ou que não viole a honra ou a intimidade da pessoa, e desde que o conteúdo exibido seja capaz de individualizar o ofendido.
2. Na hipótese, não obstante o direito de informação da empresa de comunicação e o perceptível caráter de interesse público do quadro retratado no programa televisivo, está clara a ofensa ao direito à imagem do recorrido, pela utilização econômica desta, sem a proteção dos recursos de editoração de voz e de imagem para ocultar a pessoa, evitando-se a perfeita identificação do entrevistado, à revelia de autorização expressa deste, o que constitui ato ilícito indenizável.
3. A obrigação de reparação decorre do próprio uso indevido do direito personalíssimo, não sendo devido exigir-se a prova da existência de prejuízo ou dano. O dano é a própria utilização indevida da imagem.
4. Mesmo sem perder de vista a notória capacidade econômico-financeira da causadora do dano moral, a compensação devida, na espécie, deve ser arbitrada com moderação, observando-se a razoabilidade e a proporcionalidade, de modo a não ensejar enriquecimento sem causa para o ofendido. Cabe a reavaliação do montante arbitrado nesta ação de reparação de dano moral pelo uso indevido de imagem, porque caraterizada a exorbitância da importância fixada pelas instâncias ordinárias. As circunstâncias do caso não justificam a fixação do quantum reparatório em patamar especialmente elevado, pois o quadro veiculado nem sequer dizia respeito diretamente ao recorrido, não tratava de retratar os serviços técnicos por este desenvolvidos, sendo o promovente da ação apenas um dos profissionais consultados aleatoriamente pela suposta consumidora.
5. Nesse contexto, reduz-se o valor da compensação.
6. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 794.586/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 15/03/2012, DJe 21/03/2012)
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DANOS MORAIS. MATÉRIA JORNALÍSTICA OFENSIVA. LEI DE IMPRENSA (LEI 5.250/67). ADPF N. 130/DF. EFEITO VINCULANTE. OBSERVÂNCIA. LIBERDADE DE IMPRENSA E DE INFORMAÇÃO (CF, ARTS. 5º, IV, IX E XIV, E 220, CAPUT, §§ 1º E 2º). CRÍTICA JORNALÍSTICA. OFENSAS À IMAGEM E À HONRA DE MAGISTRADO (CF, ART. 5º, V E X). ABUSO DO EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE IMPRENSA NÃO CONFIGURADO.
RECURSO PROVIDO.
1. Na hipótese em exame, a Lei de Imprensa foi utilizada como fundamento do v. acórdão recorrido e o recurso especial discute sua interpretação e aplicação. Quando o v. acórdão recorrido foi proferido e o recurso especial foi interposto, a Lei 5.250/67 estava sendo normalmente aplicada às relações jurídicas a ela subjacentes, por ser existente e presumivelmente válida e, assim, eficaz.
2. Deve, pois, ser admitido o presente recurso para que seja aplicado o direito à espécie, nos termos do art. 257 do RISTJ, sendo possível a análise da controvérsia com base no art. 159 do Código Civil de 1916, citado nos acórdãos trazidos como paradigmas na petição do especial.
3. A admissão do presente recurso em nada ofende o efeito vinculante decorrente da ADPF 130/DF, pois apenas supera óbice formal levando em conta a época da formalização do especial, sendo o mérito do recurso apreciado conforme o direito, portanto, com base na interpretação atual, inclusive no resultado da mencionada arguição de descumprimento de preceito fundamental. Precedente: REsp 945.461/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe de 26/5/2010.
4. O direito à imagem, de consagração constitucional (art. 5º, X), é de uso restrito, somente sendo possível sua utilização por terceiro quando expressamente autorizado e nos limites da finalidade e das condições contratadas.
5. A princípio, a simples utilização de imagem da pessoa, sem seu consentimento, gera o direito ao ressarcimento das perdas e danos, independentemente de prova do prejuízo (Súmula 403/STJ), exceto quando necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública (CC/2002, art. 20).
6. Tratando-se de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público, deve ser ponderado se, dadas as circunstâncias, a exposição da imagem é ofensiva à privacidade ou à intimidade do retratado, o que poderia ensejar algum dano patrimonial ou extrapatrimonial. Há, nessas hipóteses, em regra, presunção de consentimento do uso da imagem, desde que preservada a vida privada.
7. Em se tratando de pessoa ocupante de cargo público, de notória importância social, como o é o de magistrado, fica mais restrito o âmbito de reconhecimento do dano à imagem e sua extensão, mormente quando utilizada a fotografia para ilustrar matéria jornalística pertinente, sem invasão da vida privada do retratado.
8. Com basenessas considerações, conclui-se que a utilização de fotografia do magistrado adequadamente trajado, em seu ambiente de trabalho, dentro da Corte Estadual onde exerce a função judicante, serviu apenas para ilustrar a matéria jornalística, não constituindo, per se, violação ao direito de preservação de sua imagem ou de sua vida íntima e privada. Não há, portanto, causa para indenização por danos patrimoniais ou morais à imagem.
9. Por sua vez, a liberdade de expressão, compreendendo a informação, opinião e crítica jornalística, por não ser absoluta, encontra algumas limitações ao seu exercício, compatíveis com o regime democrático, quais sejam: (I) o compromisso ético com a informação verossímil; (II) a preservação dos chamados direitos da personalidade, entre os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à intimidade; e (III) a vedação de veiculação de crítica jornalística com intuito de difamar, injuriar ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi).
10. Assim, em princípio, não caracteriza hipótese de responsabilidade civil a publicação de matéria jornalística que narre fatos verídicos ou verossímeis, embora eivados de opiniões severas, irônicas ou impiedosas, sobretudo quando se trate de figuras públicas que exerçam atividades tipicamente estatais, gerindo interesses da coletividade, e a notícia e crítica referirem-se a fatos de interesse geral relacionados à atividade pública desenvolvida pela pessoa noticiada. Nessas hipóteses, principalmente, a liberdade de expressão é prevalente, atraindo verdadeira excludente anímica, a afastar o intuito doloso de ofender a honra da pessoa a que se refere a reportagem. Nesse sentido, precedentes do egrégio Supremo Tribunal Federal: ADPF 130/DF, de relatoria do Ministro CARLOS BRITTO; AgRg no AI 690.841/SP, de relatoria do Ministro CELSO DE MELLO.
11. A análise relativa à ocorrência de abuso no exercício da liberdade de expressão jornalística a ensejar reparação civil por dano moral a direitos da personalidade depende do exame de cada caso concreto, máxime quando atingida pessoa investida de autoridade pública, pois, em tese, sopesados os valores em conflito, mostra-se recomendável que se dê prevalência à liberdade de informação e de crítica, como preço que se paga por viver num Estado Democrático.
12. Na espécie, embora não se possa duvidar do sofrimento experimentado pelo recorrido, a revelar a presença de dano moral, este não se mostra indenizável, por não estar caracterizado o abuso ofensivo na crítica exercida pela recorrente no exercício da liberdade de expressão jornalística, o que afasta o dever de indenização. Trata-se de dano moral não indenizável, dadas as circunstâncias do caso, por força daquela "imperiosa cláusula de modicidade" subjacente a que alude a eg. Suprema Corte no julgamento da ADPF 130/DF.
13. Recurso especial a que se dá provimento, julgando-se improcedentes os pedidos formulados na inicial.
(REsp 801.109/DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 12/03/2013)
O direito à indenização, independente de prova do prejuízo, pela publicação sem autorização da imagem de uma pessoa com fins econômicos ou comerciais agora está sumulado. A 2ª Seção do STJ aprovou em sua última sessão o verbete de número 403.
A matéria sumulada teve como referência a CF/88, art. 5º, V, segundo a qual «é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem», bem como no inciso X «são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação».
A Súmula 403/STJ ficou com a seguinte redação: «403 - Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.»
Em 2000, a 3ª T. garantiu à atriz Maitê Proença o direito a receber indenização por dano moral do jornal carioca Tribuna da Imprensa, devido à publicação não autorizada de uma foto extraída de ensaio fotográfico feito para a revista Playboy, em julho de 1996. As fotos foram publicadas no mês seguinte na edição comemorativa do 21º aniversário da revista.
Para aceitar o trabalho, a atriz estipulou, em contrato escrito, as condições para cessão de sua imagem, fixando a remuneração e o tipo de fotos que seriam produzidas, demonstrando preocupação com a sua imagem e a qualidade do trabalho, de modo a restringir e a controlar a forma de divulgação de sua imagem despida nas páginas da revista. No entanto, em 10 de agosto o jornal carioca estampou uma das fotos, extraída do ensaio para a Playboy em página inteira, sem qualquer autorização.
Para a Turma, a atriz foi violentada em seu crédito como pessoa, pois deu o seu direito de imagem a um determinado nível de publicação e poderia não querer que outro grupo da população tivesse acesso a essa imagem. Os ministros, por maioria, afirmaram que ela é uma pessoa pública, mas nem por isso tem que querer que sua imagem seja publicada em lugar que não autorizou, e deve ter sentido raiva, dor, desilusão, por ter visto sua foto em publicação que não foi de sua vontade. Por essa razão, deve ser indenizada.
Ao julgar o Resp 1.053.534, a Quarta Turma também entendeu que a empresa jornalística Tribuna do Norte Ltda. deveria pagar uma indenização de R$ 30 mil a Roberta Salustino Cyro Costa por erro na publicação de coluna social. O jornal publicou, em dezembro de 2006, uma foto dela ao lado de um ex-namorado com a notícia de que ela se casaria naquele dia, quando, na verdade, o homem da foto se casaria com outra mulher. A publicação foi feita na coluna Jota Oliveira.
Os ministros, seguindo o voto do relator, Min. Fernando Gonçalves, entenderam que Roberta foi vítima de grande desconforto e constrangimento ao ter sua foto publicada ao lado do ex-namorado. Segundo o relator, é evidente que o público frequentador da coluna social sabia se tratar de um engano, mas isso não a livrou de insinuações.
Já em 2008, em julgamento do Resp 1.082.878, a 3ª T. manteve decisão que obrigou a Editora Globo S/A a pagar uma indenização no valor de R$ 5 mil ao ator Marcos Pasquim, por danos morais decorrentes da publicação em 2006 de uma foto dele beijando uma mulher desconhecida, fato que teria provocado consequências para sua família e abalado seu casamento.
Para a relatora, Minª. Nancy Andrighi, a doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de entender que pessoas públicas ou notórias têm seu direito de imagem mais restrito que pessoas que não ostentem tal característica. Em alguns casos, essa exposição exagerada chega a lhes beneficiar. Entretanto, afirmou a ministra, nesse caso ficou caracterizado o abuso no uso da reportagem. Se fosse apenas um texto jornalístico relatando o fato verdadeiro ocorrido, desacompanhado de fotografia, desapareceria completamente o abuso de imagem, mas não se pode ignorar que a imagem foi feita com o propósito de incrementar a venda da revista. (Eresp 230.268; Resp 138.883; Resp 85.905; Resp 270.730; Resp 1.082.878; Resp 331.517; Resp 267529; Resp 1.053.534).
RESPONSABILIDADE CIVIL
A Súmula 403 do STJ não se aplica para divulgação de
imagem vinculada a fato histórico de repercussão social
Importante!!!
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato
histórico de repercussão social.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez,
tendo realizado, inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo
homicídio. Foram exibidas, sem prévia autorização da família, fotos da vítima Daniela. O STJ
entendeu que, como havia relevância nacional na reportagem, não se aplica a Súmula 403 do
STJ, não havendo direito à indenização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgadoem 24/10/2017 (Info 614).
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:
Em 2012, a Record exibiu uma reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez, tendo realizado,
inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo homicídio.
Na reportagem foram exibidas fotos de Daniela.
Diante disso, a mãe da vítima, a novelista Glória Perez, ajuizou ação de indenização contra a rede Record
alegando que houve violação ao direito de imagem, que é protegido nos termos da Súmula 403 do STJ:
 Informativo
comentado
Informativo 614-STJ (22/11/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
A presente situação enquadra-se na hipótese da Súmula 403 do STJ, gerando direito à indenização? A
veiculação não autorizada da imagem da filha da autora em programa televisivo configura dano moral
indenizável, além de ensejar a reparação por danos materiais, haja vista o caráter comercial da
reportagem?
NÃO.
A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 24/10/2017 (Info 614).
A sociedade possui o direito à memória em relação a fatos históricos de repercussão social.
Ao resgatar um fato histórico de repercussão social, a atividade jornalística reforça a promessa em
sociedade de que não queremos outros episódios de dor e sofrimento, de que precisamos superar, em
todos os tempos, a injustiça e a intolerância.
Registre-se que eventual abuso na transmissão do fato, cometido, entre outras formas, por meio de um
desvirtuado destaque da intimidade da vítima ou do agressor, deve ser objeto de controle sancionador.
Essa sanção, contudo, somente deve ocorrer em caso de abuso do direito e não pelo simples fato de ser
divulgado um fato histórico.
Importante ressaltar que o STF, no julgamento da ADI 4815, estabeleceu interpretação conforme a
Constituição ao art. 20 do CC/02, para declarar que não é necessária autorização prévia da pessoa
biografada para a publicação de obras biográficas literárias ou audiovisuais:
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das
demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia seria uma forma de censura,
não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada pela CF/88. As exatas palavras do STF
foram as seguintes:
“É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou
audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de
familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram
violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por meio de
indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de ressalva, de nova
edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITO À IMAGEM. ATLETA. UTILIZAÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO PARA PROMOÇÃO DE EVENTO. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. NÃO CABIMENTO. AUSÊNCIA DE FINS LUCRATIVOS.
IRRELEVÂNCIA. DANO MORAL. PROVA. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES.
DOUTRINA.
1. Compete ao Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso especial, a análise da interpretação da legislação federal, motivo pelo qual se revela inviável invocar, nesta seara, a violação de dispositivos constitucionais, porquanto matéria afeta à competência do STF (art. 102, inciso III, da Carta Magna).
2. A obrigação da reparação pelo uso não autorizado de imagem decorre do próprio uso indevido do direito personalíssimo e não é afastada pelo caráter não lucrativo do evento ao qual a imagem é associada.
3. Para a configuração do dano moral pelo uso não autorizado de imagem não é necessária a demonstração de prejuízo, pois o dano se apresenta in re ipsa.
4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente provido.
(REsp 299.832/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/02/2013, DJe 27/02/2013)
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. DIREITO À IMAGEM.
VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC: INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF.
CONTRARIEDADE AOS ARTS. 28, 30 E 79 DA LEI 9.610/98: AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO (SÚMULA 211/STJ). IMAGEM DE PESCADOR EM ATIVIDADE CAPTADA EM LOCAL PÚBLICO. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO OFENSIVO.
DIVULGAÇÃO: CAMPANHA PUBLICITÁRIA. FINALIDADE COMERCIAL. INEXISTÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO. PROVEITO ECONÔMICO. USO INDEVIDO DA IMAGEM. DANO MORAL CONFIGURADO (SÚMULA 403/STJ). RECURSO IMPROVIDO.
1. Relativamente à infringência ao art. 535 do CPC, cumpre salientar que a recorrente fez apenas alegação genérica de sua vulneração, apresentando uma fundamentação deficiente que impede a exata compreensão da controvérsia. Incidência da Súmula 284/STF.
2. Os arts. 28, 30 e 79 da Lei 9.610/98 não foram prequestionados no v. acórdão recorrido. Incidência da Súmula 211/STJ.
3. O uso e divulgação, por sociedade empresária, de imagem de pessoa física fotografada isoladamente em local público, em meio a cenário destacado, sem nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa, configura dano moral decorrente de violação do direito à imagem por ausência de autorização do titular. É cabível indenização por dano moral decorrente da simples utilização de imagem de pessoa física, em campanha publicitária, sem autorização do fotografado (Súmula 403/STJ: "Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais").
4. Recurso especial improvido.
(REsp 1307366/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 03/06/2014, DJe 07/08/2014)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANO MATERIAL E COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. PREQUESTIONAMENTO.
AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INADMISSIBILIDADE. USO INDEVIDO DE IMAGEM. FINS COMERCIAIS. ATRIZ DE TEATRO E TELEVISÃO. VEICULAÇÃO EM ÂMBITO NACIONAL. PREJUÍZO.
DESNECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO. DANO MORAL IN RE IPSA.
1. O Tribunal de origem não discutiu a questão relativa ao montante fixado para reparação dos danos materiais, o que impede o exame da matéria por esta Corte.
2. A análise dos pressupostos necessários ao reconhecimento da litigância de má-fé, bem como acerca da comprovação do prejuízo material experimentado pela autora, demandam o reexame de fatos e provas, o que é inadmissível em recurso especial (incidência da Súmula 7/STJ). Precedentes.
3. O acórdão recorrido, com base no substrato fático-probatório dos autos, concluiu que houve exposição da imagem da recorrente em âmbito nacional, sem prévia autorização desta, com fins exclusivamente econômicos e publicitários, em razão de campanha promovida pelo recorrido e veiculada em revista de grande tiragem e circulação e em outdoors espalhados pelo país.
4. Na hipótese, não é necessária a comprovação de prejuízo para configuração do dano moral, pois este decorre da própria violação do direito de imagem titulado pela recorrente - dano in re ipsa.
Entendimento consagrado na Súmula 403/STJ.
5. Restabelecimento do valor da condenação fixado pelo Juiz de primeiro grau. Para o arbitramento do montante devido, o julgador deve fazer uso de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades da hipótese em discussão, bem como ao porte econômico do causador e ao nível socioeconômico da vítima.
6. Recurso especial do réu não provido. Recurso especial da autora parcialmente provido.
(REsp 1102756/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 03/12/2012)
DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADECIVIL. INFORMAÇÕES VEICULADAS EM REDE DE RÁDIO E TELEVISÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL AJUIZADA POR MUNICÍPIO CONTRA O PARTICULAR. IMPOSSIBILIDADE.
DIREITOS FUNDAMENTAIS. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.
RECONHECIMENTO LIMITADO.
1. A tese relativa à indenização pelo dano moral decorrente de ofensa à honra, imagem, violação da vida privada e intimidade das pessoas somente foi acolhida às expressas no ordenamento jurídico brasileiro com a Constituição Federal de 1988 (artigo 5º, incisos V e X), que o alçou ao seleto catálogo de direitos fundamentais. Com efeito, por essa ótica de abordagem, a indagação acerca da aptidão de alguém sofrer dano moral passa necessariamente pela investigação da possibilidade teórica de titularização de direitos fundamentais, especificamente daqueles a que fazem referência os incisos V e X do art. 5º da Constituição Federal.
2. A inspiração imediata da positivação de direitos fundamentais resulta precipuamente da necessidade de proteção da esfera individual da pessoa humana contra ataques tradicionalmente praticados pelo Estado. É bem por isso que a doutrina vem entendendo, de longa data, que os direitos fundamentais assumem "posição de definitivo realce na sociedade quando se inverte a tradicional relação entre Estado e indivíduo e se reconhece que o indivíduo tem, primeiro, direitos, e, depois, deveres perante o Estado, e que os direitos que o Estado tem em relação ao indivíduo se ordenam ao objetivo de melhor cuidar das necessidades dos cidadãos" (MENDES, Gilmar Ferreira [et. al.]. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 222-223).
3. Em razão disso, de modo geral, a doutrina e jurisprudência nacionais só têm reconhecido às pessoas jurídicas de direito público direitos fundamentais de caráter processual ou relacionados à proteção constitucional da autonomia, prerrogativas ou competência de entidades e órgãos públicos, ou seja, direitos oponíveis ao próprio Estado e não ao particular. Porém, ao que se pôde pesquisar, em se tratando de direitos fundamentais de natureza material pretensamente oponíveis contra particulares, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal nunca referendou a tese de titularização por pessoa jurídica de direito público. Na verdade, há julgados que sugerem exatamente o contrário, como os que deram origem à Súmula n.
654, assim redigida: "A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado".
4. Assim, o reconhecimento de direitos fundamentais - ou faculdades análogas a eles - a pessoas jurídicas de direito público não pode jamais conduzir à subversão da própria essência desses direitos, que é o feixe de faculdades e garantias exercitáveis principalmente contra o Estado, sob pena de confusão ou de paradoxo consistente em se ter, na mesma pessoa, idêntica posição jurídica de titular ativo e passivo, de credor e, a um só tempo, devedor de direitos fundamentais, incongruência essa já identificada pela jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão (BVerfGE 15, 256 [262]; 21, 362.
Apud. SAMPAIO, José Adércio Leite. Teoria da Constituição e dos direitos fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2013 p. 639).
5. No caso em exame, o reconhecimento da possibilidade teórica de o município pleitear indenização por dano moral contra o particular constitui a completa subversão da essência dos direitos fundamentais, não se mostrando presente nenhum elemento justificador do pleito, como aqueles apontados pela doutrina e relacionados à defesa de suas prerrogativas, competência ou alusivos a garantias constitucionais do processo. Antes, o caso é emblemático e revela todos os riscos de se franquear ao Estado a via da ação indenizatória.
6. Pretende-se a responsabilidade de rede de rádio e televisão local por informações veiculadas em sua programação que, como alega o autor, teriam atingido a honra e a imagem da própria Municipalidade.
Tal pretensão representa real ameaça a centros nervosos do Estado Democrático de Direito, como a imprensa livre e independente, ameaça que poderia voltar-se contra outros personagens igualmente essenciais à democracia.
7. A Súmula n. 227/STJ constitui solução pragmática à recomposição de danos de ordem material de difícil liquidação - em regra, microdanos - potencialmente resultantes do abalo à honra objetiva da pessoa jurídica. Cuida-se, com efeito, de resguardar a credibilidade mercadológica ou a reputação negocial da empresa, que poderiam ser paulatinamente fragmentadas por violações a sua imagem, o que, ao fim e ao cabo, conduziria a uma perda pecuniária na atividade empresarial. Porém, esse cenário não se verifica no caso de suposta violação à imagem ou à honra - se existente - de pessoa jurídica de direito público.
8. Recurso especial não provido.
(REsp 1258389/PB, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe 15/04/2014)
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