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Dores Dentino-Pulpares e Periapicais na Dentição Permanente APOIO INSTITUCIONAL: REALIZAÇÃO: Créditos COSTA, Susilena Arouche; SOUZA, Soraia de Fátima Carvalho. Dores dentino-pulpares e periapicais na dentição permanente. In: UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Saúde Bucal na Atenção Primária: urgências, doenças transmissíveis, gestantes, puérperas e pessoa com deficiência. Cuidado em saúde bucal para pessoas em situações de urgências odontológicas. São Luís: UNA-SUS; UFMA, 2021. Coordenação do Projeto Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Coordenação Geral da DTED/UNA- SUS/UFMA Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Gestão de projetos da UNA-SUS/ UFMA João Pedro de Castro e Lima Baesse Matheus Augusto Pereira Louzeiro Coordenação de Produção Pedagógica da UNA-SUS/UFMA Paola Trindade Garcia Coordenação de Ofertas Educacionais da UNA-SUS/UFMA Elza Bernardes Monier Coordenação de Tecnologia da Informação da UNA-SUS/UFMA Mário Antonio Meireles Teixeira Coordenação de Comunicação da UNA-SUS/UFMA José Henrique Coutinho Pinheiro Professoras-autoras Susilena Arouche Costa Soraia de Fátima Carvalho Souza Validador técnico USP Giulio Gavini Validadora técnica da Coordenação Geral de Saúde Bucal/SAPS Ana Beatriz de Souza Paes Validadoras pedagógicas Paola Trindade Garcia Revisora textual Talita Guimarães Santos Sousa Designer instrucional Karoline Corrêa Trindade Designers Gráficos Carlos Haide Sousa Santos João Victor Marinho Figueiredo COMO CITAR ESTE MATERIAL © 2021. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz & Universidade Federal do Maranhão. É permitida a reprodução, disseminação e utilização desta obra, em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada sua utilização comercial, sem a autorização expressa dos seus autores, conf. Lei de Direitos Autorais-LDA (Lei n.º9.610, de 19 de fevereiro de 1998). Sumário Apresentação 5 1. DOR DENTINO-PULPAR E PERIAPICAL 6 1.1 Cárie não tratada 6 2. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS AGUDAS DA POLPA E DO PERIÁPICE 10 2.1 Como estabelecer o diagnóstico correto das doenças pulpares e periapicais? 11 2.2 Sinais e sintomas da pulpite reversível e irreversível 15 2.3 Manejo terapêutico das Pulpites na USF 16 2.3.1 Manejo da pulpite reversível 17 2.3.2 Manejo da pulpite irreversível sintomática 21 3. SINAIS E SINTOMAS DA PERIODONTITE APICAL SINTOMÁTICA E DO ABSCESSO PERIAPICAL AGUDO 23 3.1 Manejo terapêutico da inflamação dos tecidos periapicais na USF 25 3.1.1 Manejo da periodontite apical sintomática 25 3.1.2 Manejo do abscesso periapical agudo 25 3.1.3 Prescrição Medicamentosa 27 Considerações Finais 32 Referências 33 5 Apresentação Olá, aluna(o)! Neste recurso, vamos abordar as principais patologias dentino-pulpares e periapicais relacionadas à ocorrência de dor, bem como o seu adequado manejo terapêutico. OBJETIVO Após sua leitura, você conseguirá identificar as urgências odontológicas dentino-pulpares e periapicais, apontando o manejo terapêutico adequado para cada condição. Por isso, o conhecimento sobre as patologias envolvidas neste processo e o domínio do manejo terapêutico para a resolução do fenômeno álgico são fundamentais para a prestação de um serviço de urgência odontológica de qualidade. Vamos lá? Você sabia que a dor de origem odontogênica é o tipo de dor mais frequente no mundo, que afeta indivíduos de diferentes faixas etárias? E que é o principal fator a levar o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) à procura dos serviços de saúde bucal? 6 Comecemos analisando a situação a seguir: Vamos agora conhecer o caso de Fábio, um jovem de 21 anos, melanoderma, de classe econômica C, profissão eletricista, faltou ao emprego pela manhã para buscar tratamento de urgência na Unidade de Saúde da Família (USF) de seu bairro. Fábio queixou-se que passou a noite anterior sem dormir porque sentiu muita dor de dente, apontando que a dor estava localizada no maxilar superior esquerdo e que irradiava para o olho e ouvido esquerdos. Situações como esta são comuns na USF. Você sabe quais impactos essa dor dentária trouxe para a vida de Fábio? Certamente Fábio terá uma perda do sono e deverá se ausentar do trabalho devido à necessidade de buscar tratamento, terá ainda impactos negativos na qualidade de vida ocasionados pela dor de origem odontogênica. Após essa breve reflexão, vamos agora entender a dor de origem odontogênica, bem como seus impactos na vida dos indivíduos acometidos. 1 DOR DENTINO-PULPAR E PERIAPICAL A dor de origem odontogênica, um dos tipos mais frequentes de dor em seres humanos, contribui para diminuir a qualidade de vida entre adultos, adolescentes e crianças, em todo o mundo1,2. Tem impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos porque resulta em1,2: • Perda de sono; • Diminuição do rendimento no trabalho; • Ausência na escola ou trabalho; • Mudança nos hábitos alimentares; e • Perda de peso. É mais frequente em indivíduos de situação socioeconômica menos favorecida e é um dos principais preditores para a utilização de serviços de urgência na Atenção Primária à Saúde (APS)3,4. Aproximadamente 85% de todas as urgências odontológicas ocorrem em consequência de uma patologia pulpar ou periapical5. A principal causa de dor dentino-pulpar e periapical é a cárie não tratada6. 1.1 Cárie não tratada A cárie não tratada foi considerada a doença crônica não transmissível mais prevalente em 2015 pelo Global Burden of Diseases, afetando 35% da população global, ou seja, 2.5 bilhões de pessoas em todo o mundo7. 7 VOCÊ CONHECE? O Global Burden of Diseases é o estudo epidemiológico mundial mais abrangente até o momento, incluindo 195 países. Esse estudo descreve mortalidade e morbidade por doenças graves, lesões e fatores de risco à saúde nos níveis global, nacional e regional. A cárie é uma doença biofilme açúcar-dependente8,9,10, na qual o metabolismo do açúcar por bactérias no biofilme oral resulta em produção de ácido promovendo desmineralização do esmalte. Mesmo no estágio inicial, já estimula reações defensivas no complexo dentino-pulpar11,12. Quando a produção de ácido no biofilme oral ocorre, frequentemente, há períodos prolongados de desmineralização, a superfície do esmalte fica friável e colapsa por esforços mecânicos, dando origem à lesão em dentina13. Quando a lesão de cárie atinge a dentina, a velocidade de progressão da doença aumenta, pois a dentina é menos mineralizada que o esmalte dental. Além disso, a presença de cavitação facilita a formação de biofilme oral espesso protegido da atrição mecânica intraoral (mastigação ou escovação). Na fase de cavitação em dentina, há exposição dos túbulos dentinários e pode ocorrer sintomatologia dolorosa13. Três reações dentinárias podem ocorrer concomitantemente como resposta protetora do complexo dentino-pulpar e dependem da velocidade de progressão da lesão cariosa11,12: 1 2 Diminuição da permeabilidade dentinária: É a primeira defesa da polpa dentária contra a cárie, em que ocorre a constrição dos túbulos dentinários, pelo depósito da dentina intratubular e de cristais minerais no interior dos túbulos dentinários, com o objetivo de diminuir a permeabilidade da dentina. Este processo também é conhecido como esclerose dentinária. Formação de dentina terciária: Bactérias presentes no biofilme da cárie produzem ácidos que desmineralizam a dentina e provocam a liberação de moléculas bioativas previamente isoladas na matriz dentinária. Muitas dessas moléculas bioativas são fatores de crescimento que têm a capacidade de estimular a formação de dentina terciária. A formação da dentina terciária funciona como uma barreira para impedir a invasão bacteriana na polpa. 8 3 Reações inflamatórias e imunes da polpa dentária: Os antígenos bacterianos e os seus subprodutos metabólicos podem se difundiratravés dos túbulos dentinários, provocando uma resposta imuno- inflamatória na polpa dentária, mesmo antes da polpa se tornar infectada. A extensão da inflamação pulpar em resposta à cárie depende da11,12: Profundidade da invasão bacteriana intratubular Virulência bacteriana Duração do processo da doença Quanto a permeabilidade dentinária foi reduzida Assim, se a cárie não for tratada e a desmineralização continuar progredindo, haverá aumento da cavitação, exposição da dentina à invasão bacteriana, micro-exposição pulpar e aumento da inflamação pulpar com liberação de mediadores químicos, como bradicinina e histamina, responsáveis pela dor14. Você pode entender melhor a dinâmica do processo fisiopatológico pulpar e periapical em resposta à cárie não tratada observando as imagens abaixo15. 1. À medida que a lesão de cárie avança em direção à polpa, as bactérias e/ou seus subprodutos podem atingir a câmara pulpar mesmo sem ocorrer exposição, o que induz ao processo inflamatório pulpar. Nesta fase a inflamação pulpar pode ser reversível. 2. Após exposição pulpar por cárie, a agressão tecidual exercida diretamente pelos microrganismos é intensa evoluindo para a inflamação pulpar irreversível. 9 3. Compartimentos do tecido pulpar são mantidos sob a agressão bacteriana, formam-se microabscessos superficiais que se coalescem e necrosam o tecido pulpar tornando-o infectado. 5. E assim, se estabelece a infecção na porção mais apical do sistema de canais radiculares. 4. A infecção avança no interior do canal radicular em direção apical. Observa-se necrose e infecção de praticamente toda a polpa radicular, como resultado dos eventos de agressão, inflamação, necrose e infecção. 6. A infecção se estende para os tecidos perirradiculares originando a periodontite apical, lesão osteolítica que pode ser sintomática ou assintomática. Além da cárie (fatores microbianos), existem outros fatores que também podem induzir uma resposta inflamatória da polpa, como: 10 Fatores físicos Fatores químicos • Mudanças térmicas como, por exemplo, o calor gerado pela caneta de alta rotação, traumatismos dentários e forças podem induzir uma resposta inflamatória na polpa dentária16. • Alguns materiais odontológicos podem agredir o complexo dentino- pulpar provocando lesões pulpares16,17 . 2 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS AGUDAS DA POLPA E DO PERIÁPICE Segundo a Associação Americana de Endodontistas18, as doenças inflamatórias da polpa que podem gerar sintomatologias dolorosas são categorizadas em: Doenças inflamatórias da polpa Pulpite reversível: Baseia-se em achados subjetivos e objetivos, indicando que a inflamação deve regredir e a polpa retornar ao normal após tratamento adequado da etiologia. Pulpite irreversível sintomática: Baseia-se em achados subjetivos e objetivos de que a polpa inflamada vital se torna incapaz de cura. Já as patologias inflamatórias agudas que acometem os tecidos periapicais do dente, após a necrose pulpar, são categorizadas em18: Periodontite apical sintomática Resposta inflamatória aguda no ligamento periodontal. Se nenhum tratamento for realizado, esta patologia poderá seguir um ou mais dos vários cursos possíveis, dentre eles a formação de abscesso periapical agudo. 11 Abscesso periapical agudo Este termo deve ser utilizado apenas quando houver evidência de formação de secreção purulenta. IMPORTANTE Há casos em que ocorre dor semelhante à periodontite apical sintomática em dentes com vitalidade pulpar. Mas, quais são eles? Alguns fatores como restaurações com sobrecontornos oclusais, pontos de contato oclusais prematuros, más oclusões e forças ortodônticas excessivas podem desencadear o aparecimento de dor intensa, localizada e espontânea ou provocada pela mastigação, mesmo o dente com vitalidade e higidez pulpar. Essa condição é denominada pericementite traumática. Nesses casos, a remoção dos fatores desencadeadores levará à remissão total do quadro doloroso19. Clinicamente, as características das doenças da polpa e do periápice são diferentes. Isto nos ajuda a estabelecer o diagnóstico correto e consequentemente, na tomada de decisão pelo tratamento adequado para cada caso. 2.1 Como estabelecer o diagnóstico correto das doenças pulpares e periapicais? Antes de iniciar o nosso conteúdo, vamos revisitar o caso de Fábio, o jovem de 21 anos que compareceu à USF do seu bairro queixando-se de dor de dente. Imagine que você é o cirurgião-dentista que atende na USF do bairro em que Fábio mora. Para selecionar o tratamento adequado para o caso do Fábio, você deverá inicialmente estabelecer um diagnóstico, certo? Quais condutas você poderia tomar para resolver o caso do Fábio? Você sabe quais exames e testes semiotécnicos são necessários para estabelecer o diagnóstico correto? 12 Um diagnóstico raramente se baseia em um único achado, e sim em um conjunto de observações, por isso só é possível estabelecer o diagnóstico correto após a execução de uma anamnese acurada e a realização de exames e testes semiotécnicos18,20. Durante a anamnese de um paciente que chega à USF relatando dor, você precisará obter informações acerca da história pregressa da dor. Desta forma, você deve procurar saber18,20: 1 3 6 4 7 2 5 Há quanto tempo o paciente sente a dor; Se a dor tem curta duração ou se é persistente; O horário que a dor costuma se manifestar; Se o paciente tomou algum analgésico para a remissão da dor; Se há histórico de restauração ou traumatismos recentes. Se a dor é desencadeada pela mastigação, por estímulos quente, frio ou doce, ou se a dor é espontânea; Se o paciente consegue localizar a origem da dor (se a dor é localizada ou referida); Os dois principais exames a serem realizados para se obter o diagnóstico da condição pulpar e periapical estão relacionados abaixo20: Exame extraoral: Para averiguar se há alguma infecção presente, você deverá realizar a palpação dos nódulos linfáticos cervicais e submandibulares e verificar se há edema facial e fístula. Fo nt e: U N A- SU S/ UF M A. 13 Exame intraoral: Durante o exame intraoral, você deverá inspecionar os tecidos moles e a presença de edemas e fístulas. Você deverá realizar os testes semiotécnicos para investigar a condição pulpar e periapical. A seguir veja a descrição dos testes semiotécnicos que devem ser realizados durante o exame intraoral20: Teste de palpação dígito-apical: Este teste consiste em palpar a região apical do dente com a ponta do dedo indicador, com o objetivo de verificar se há alguma resposta dolorosa. Teste de sensibilidade pulpar: O método mais popular é o teste de sensibilidade ao frio utilizando- se um gás refrigerante. Para realizar este teste, você deverá fazer o isolamento dos dentes que serão avaliados com a utilização de rolos de algodão. Uma “bolinha” de algodão embebida com o gás refrigerante deve ser aplicada na linha média da face vestibular do dente. Os dentes adjacentes normais também devem ser testados para se estabelecer uma resposta base. O paciente deve ser solicitado a levantar o antebraço esquerdo quando sentir dor e a abaixá-lo assim que a dor desaparecer. A duração e a forma com que ocorre o declínio da dor são importantes para se estabelecer o diagnóstico diferencial da condição pulpar. Fo nt e: U N A- SU S/ UF M A. Fo nt e: U N A- SU S/ UF M A. Fo nt e: U N A- SU S/ UF M A. 14 Teste de mobilidade: Dois cabos de espelho devem ser utilizados, um na face vestibular e outro na face lingual do dente. Toda mobilidade acima do grau 1 deve ser considerada anormal. A mobilidade do dente avaliado deve ser comparada à mobilidade dos dentes adjacentes e contralaterais. Teste de percussão: Este teste deve ser realizado utilizando a extremidade romba do cabo do espelho. Você deverá testar primeiro o dente contralateral que servirá como um controle. A percussão deve ser realizada no sentido oclusal ecaso o paciente não relate nenhuma diferença, o teste deverá ser repetido nas superfícies vestibular e lingual. Uma resposta positiva ao teste de percussão vertical pode indicar uma inflamação dos tecidos periapicais de origem endodôntica. Temos como exame complementar o exame radiográfico, que pode auxiliar no diagnóstico da condição pulpar e periapical. Uma lesão de cárie profunda se apresenta radiograficamente com 2/3 ou 3/4, ou mais de desmineralização na espessura da dentina20. A técnica periapical mostra a profundidade de cárie, alterações perirradiculares e espessamento do ligamento periodontal resultantes do comprometimento da polpa dentária (Figura a: Radiografia periapical mostrando periodontite apical assintomática no dente 15). Quando a radiografia periapical deixar dúvida quanto a profundidade da cárie, recomenda-se que essa avaliação seja feita pela técnica interproximal (Figura b: Radiografia interproximal mostrando lesão de cárie secundária e sua proximidade com a cavidade pulpar no dente 15). Fo nt e: U N A- SU S/ UF M A. Fo nt e: U N A- SU S/ UF M A. 15 Fonte: Imagens cedidas por Soraia de Fátima Carvalho Souza. Vale lembrar que em muitas Unidades de Saúde da Família (USF), os profissionais não dispõem de aparelho de raio-x, o que reforça a necessidade de se realizar uma anamnese acurada, que o auxilie na tomada de decisão terapêutica para o atendimento de urgência20. 2.2 Sinais e sintomas de pulpite reversível e irreversível Agora que você já sabe a importância da anamnese, dos testes semiotécnicos e do exame radiográfico para estabelecer o diagnóstico correto da condição pulpar, vamos conhecer os sinais e sintomas da pulpite reversível e irreversível18. Pulpite reversível • O paciente informa sentir desconforto aos estímulos frio ou doce, relatando que a dor desaparece alguns segundos após a remoção do estímulo. Ou seja, na pulpite reversível, podemos dizer que a dor é provocada, localizada e de curta duração. • Clinicamente, o dente pode apresentar lesão de cárie ou restaurações extensas. • O teste de sensibilidade pulpar ao frio apresenta resposta positiva. O paciente relata que a dor desaparece após a remoção do estímulo. Os testes de palpação e percussão apresentam resposta negativa. • Radiograficamente, a extensão da lesão cariosa ou da restauração é profunda. Não observa-se alterações radiográficas significativas na região periapical do dente. 16 Pulpite irreversível • O paciente informa sentir dor aguda espontânea e persistente. Poderá relatar a utilização de análgesicos sem remissão da dor. Às vezes, a dor pode ser acentuada por alterações posturais, como deitar-se ou curvar-se. A dor pode ser de dificil localização, irradiando-se para outras regiões da face. • Clinicamente, o dente pode apresentar lesão de cárie, restaurações extensas ou fraturas com exposição pulpar. • O teste de sensibilidade pulpar ao frio apresenta resposta positiva. A dor demora desaparecer após a remoção do estímulo (30 segundos ou mais). Os testes de palpação e percussão apresentam resposta negativa. • Radiograficamente, a extensão da lesão cariosa ou da restauração é profunda. Não observa-se alterações radiográficas significativas na região periapical do dente. Não confunda a Pulpite Reversível com a Hipersensibilidade Dentinária, outro sintoma comum observado na prática clínica. A hipersensibilidade dentinária é definida como uma dor aguda e de curta duração que surge em resposta aos estímulos térmicos, táteis, osmóticos, químicos ou evaporativos sobre a dentina radicular cervical exposta, que não podem ser atribuídos a nenhuma patologia dentária de origem infecciosa21. A hipersensibilidade dentinária pode estar relacionada à abrasão excessiva por escovação dos dentes, doença periodontal ou erosão proveniente dos ácidos da dieta ou ácidos gástricos; pode ser exacerbada após a raspagem e o alisamento radicular21. PARA SABER MAIS Saiba mais sobre a hipersensibilidade dentinária acessando o artigo “Etiologia, diagnóstico e tratamento da hipersensibilidade dentinária: revisão da literatura”, de autoria de Ribeiro e colaboradores. 2.3 Manejo terapêutico das Pulpites na USF Agora vamos entender o manejo terapêutico referente a pulpite reversível e irreversível sintomática. Acompanhe abaixo. 17 2.3.1 Manejo da pulpite reversível A pulpite reversível recebe esta denominação porque a inflamação pulpar, pode regredir após a remoção da causa e realização do tratamento adequado18. Durante muito tempo, a remoção completa de toda dentina cariada seguida do capeamento pulpar indireto foi a primeira escolha para o tratamento de pulpite reversível. No entanto, esta técnica resultava em alto risco de exposição pulpar e hoje é desaconselhada22,23. Novas técnicas de remoção de tecido cariado surgiram à medida em que as características da dentina cariada foram sendo desvendadas. Uma das principais descobertas da Cariologia que vem norteando o tratamento das lesões de cárie é a divisão da dentina cariada em duas zonas/camadas. A dentina cariada pode ser descrita clínica e histologicamente em duas camadas alteradas24: A camada superficial, irreversivelmente deteriorada e com fibras colágenas desorganizadas, chamada de dentina infectada. A camada mais profunda, em processo de desmineralização, chamada de dentina afetada. A dentina afetada, ao contrário da camada necrótica mais externa e infectada, pode se recuperar ou remineralizar, eliminando o ataque bacteriano que a produziu25. Com esta descoberta, a ideia de preservar a dentina afetada resultou no desenvolvimento de novas técnicas de remoção de tecido cariado, visando salvar tecidos sadios e remineralizáveis. A partir desta perspectiva, surgiu a técnica de remoção seletiva de tecido cariado em dois passos23 ou tratamento expectante. Nesta técnica, inicialmente, apenas a dentina cariada superficial altamente infectada é removida, enquanto a dentina capaz de remineralização (afetada) é mantida23,26, com intuito de possibilitar a formação de dentina terciária. Após um período de 6 a 12 meses há uma nova intervenção em que a remoção do tecido cariado remanescente na proximidade da polpa é realizada. No entanto, muitos autores defendem que esta segunda etapa pode não ser necessária. Isto porque, esta técnica pode apresentar maior risco de exposição pulpar durante a segunda intervenção, além de aumentar os custos do tratamento27,28. Sendo assim, você tem conhecimento de qual técnica é atualmente preconizada pela literatura científica para o tratamento de lesões profundas de cárie com diagnóstico de pulpite reversível? 18 Atualmente, as evidências recomendam técnicas minimamente invasivas com o intuito de preservar a vitalidade da polpa, impedir a progressão da cárie e maximizar a durabilidade da restauração. Assim, a técnica indicada para o tratamento de lesões de cáries profundas em dentes com sinais e sintomas indicativos de pulpite reversível é a remoção seletiva de tecido cariado em passo único22,23. Vamos conhecer as particularidades desta técnica? Algumas características clínicas referentes ao maior amolecimento e à maior umidade da dentina cariada devem ser observadas durante a realização do tratamento, pois estas características devem nortear o clínico na quantidade do tecido cariado que será removido durante o preparo cavitário23. Veja abaixo as características clínicas da cárie. Com base na aparência, uma lesão de cárie na dentina que progride ativamente tende a ter uma cor amarela/ bege clara, a textura da superfície é úmida e é fácil de desintegrar ou de penetrar um sonda dentária (dentina amolecida). Quando a cárie deixa de ser ativa, a dentina torna- se mais escura, não há excesso de umidade e não é possível penetrar com uma sonda (dentina firme) Uma lesão menos ativa tende a ser mais escura, com uma cor mais próxima de marrom e é seca e mais firme quando sondado(dentina coriácea) Fonte: Adaptado de BJØRNDAL, L; SIMON, S; TOMSON, P. L; DUN- CAN, H. F. Management of deep caries and the exposed pulp. Int Endod J. 2019;52(7):949–73. Disponível em: https://onlinelibrary. wiley.com/ doi/epdf/10.1111/iej.13128 19 Antes de iniciar a remoção seletiva de tecido cariado em passo único23,26 é indicado realizar anestesia local e isolamento absoluto com dique de borracha, para que a assepsia possa ser preservada durante o procedimento. Brocas esféricas em baixa rotação ou curetas dentinárias afiadas estéreis podem ser utilizadas para a remoção do tecido cariado. O objetivo da remoção seletiva de tecido cariado é eliminar apenas a dentina cariada superficial altamente infectada, enquanto a dentina capaz de remineralização (afetada) é mantida23,26. Esta técnica pode ser realizada de duas maneiras: remoção seletiva até dentina firme ou remoção seletiva até dentina amolecida (porém organizada e com remineralização possível)23,26. Na remoção seletiva até dentina firme o objetivo é escavar até que seja encontrada uma dentina coriácea ou firme na parede pulpar da cavidade. Em lesões profundas em que o risco de exposição pulpar é maior, a técnica de remoção seletiva até dentina amolecida, porém organizada deve ser utilizada23,26. Nesta técnica uma quantidade de dentina amolecida, mas organizada e com capacidade de remineralização, é deixada na parede pulpar para evitar a exposição da polpa23,26. Cabe destacar que, em ambas as técnicas, a dentina deve ser escavada até que se obtenha uma consistência dura nas paredes circundantes para que ocorra um melhor selamento adesivo da restauração23,26. Após remoção seletiva do tecido cariado, um cimento a base de hidróxido de cálcio deve ser utilizado na parede pulpar com o intuito de induzir a formação de dentina terciária (capeamento pulpar indireto) e então, o selamento coronário (restauração definitiva) deverá ser realizado23,26. REFLETINDO Em algum momento da sua vida profissional você já considerou utilizar a técnica de remoção seletiva de tecido cariado até dentina amolecida? Se você não considerou, em quais situações esta técnica poderia ser útil na USF em que você trabalha e quais cuidados você deveria ter ao utilizá-la? Um estudo mostrou que nenhuma correlação entre a consistência dentinária e a contagem de S. mutans ou Lactobacillus spp. foi observada após o selamento da cavidade. Este achado indica que o critério de consistência/dureza pode não ser preciso para identificar a dentina que precisa ser removida, uma vez que a dentina se tornará mais endurecida após o selamento, independentemente de sua consistência inicial29. Ou seja, embora ainda não exista um consenso sobre quais critérios de consistência devam ser levados em consideração na remoção seletiva do tecido cariado, o cirurgião-dentista deve ter bom senso ao utilizar esta técnica. A dentina amolecida remanescente deve ser uma dentina com certa organização tecidual, constatada pela percepção visual e tátil, portanto com capacidade de remineralização. 20 Agora, imagine que você está realizando a remoção seletiva de tecido cariado e ocorre exposição pulpar. Qual conduta seria a mais adequada nesta situação? A conduta ideal para esta situação é a realização da pulpotomia parcial, ou curetagem pulpar22,26, que consiste em remover uma pequena porção coronal do tecido pulpar exposto (1 a 2 mm) com o auxílio de uma cureta dentinária afiada ou broca esférica estéreis, irrigação com soro fisiológico e hemostasia, proteção da polpa exposta com aplicação de uma camada de hidróxido de cálcio pró-análise22,26, utilizando anestésico como veículo, seguida da proteção deste curativo e de toda parede pulpar com cimento à base de hidróxido de cálcio antes da realização da restauração definitiva (Figura a e b). O anestésico é o veículo mais recomendado por ser uma solução estéril e por aumentar a velocidade de dissociação dos íons cálcio e hidroxilas30. Fonte: Imagem cedida por Soraia de Fátima Carvalho Souza. A imagem (a) trata-se de uma radiografia periapical pré-operatória dos dentes 16 e 17. O paciente queixava-se de dor nos dentes 16 e 17 ao tomar água gelada, sem relato de uso de analgésico. O teste de sensibilidade pulpar ao frio foi positivo, com declínio lento para ambos os dentes. Após diagnóstico de pulpite reversível, realizou-se remoção seletiva do tecido cariado em passo único. No dente 17 foi realizada a remoção da dentina infectada e a proteção da dentina afetada com cimento de hidróxido de cálcio. No dente 16 ocorreu exposição pulpar durante o procedimento, por isso foi realizada pulpotomia parcial e capeamento pulpar (b). Controle radiográfico após 90 dias. Na proservação clínica de ambos os dentes, o teste de sensibilidade pulpar ao frio foi positivo e os testes de palpação dígito-apical e percussão vertical foram negativos, mostrando sinais de vitalidade pulpar*. O caso clínico retratado acima, foi cedido pela Profa Dra Soraia de Fátima Carvalho Souza*. 21 Todos os procedimentos descritos neste tópico (remoção seletiva de tecido cariado e pulpotomia parcial) podem ser realizados integralmente no âmbito da USF. Após 6 meses e 1 ano, a condição pulpar do dente tratado deve ser preservada por meio dos testes de sensibilidade pulpar ao frio, palpação dígito-apical, percussão vertical, e exame radiográfico periapical. 2.3.2 Manejo da pulpite irreversível sintomática O tratamento de urgência para pulpite irreversível depende do grau de formação do ápice radicular. Em casos de dentes com rizogênese incompleta, ou seja, com ápice radicular aberto, preconiza-se a pulpotomia como tratamento definitivo19. Nesses casos, você deve observar algumas características da polpa, tais como19: • Qualidade e quantidade do sangramento (sangue com coloração vermelho-rutilante e tempo de coagulação de até cinco minutos); e • Consistência do tecido pulpar que deve ser firme e resistente ao corte. Observe a descrição do procedimento Pulpotomia em dentes com ápice aberto. Após realizar a anestesia e o isolamento absoluto, siga os passos a seguir: Já para dentes permanentes com o ápice completamente formado, a pulpotomia (remoção da polpa coronária)31,32 ou a pulpectomia19,32 (remoção completa da polpa dentária) podem ser realizadas como tratamento de urgência. 22 Você sabe quais critérios devem ser utilizados para selecionar uma dessas técnicas? O que irá definir qual das técnicas será empregada é a disponibilidade de material e instrumentais, tempo para o atendimento e a habilidade do operador. Se você tiver estas condições poderá dar início ao tratamento endodôntico na USF32. Observe abaixo os procedimentos que deverão ser realizados nestes casos. A pulpotomia de urgência32 requer significativamente menos tempo e é uma técnica simples que alivia os sintomas de maneira rápida e eficaz. Isto é possível porque em casos de pulpite irreversível, a inflamação pulpar está principalmente contida no tecido pulpar coronário, não estando generalizada em toda a polpa31. Veja a seguir a descrição da técnica: 23 3 SINAIS E SINTOMAS DA PERIODONTITE APICAL SINTOMÁTICA E DO ABSCESSO PERIAPICAL AGUDO A necrose pulpar é a categoria de diagnóstico clínico que indica a morte da polpa dentária. Nesse estágio, a polpa não responde ao teste de sensibilidade pulpar ao frio. Embora seja uma condição assintomática, é uma infecção e necessita ser tratada18. A intensidade da agressão bacteriana aos tecidos perirradiculares depende do número de bactérias patogênicas, de sua virulência e da resposta imune inata e adaptativa do hospedeiro31. A seguir, estão dispostos os principais sinais e sintomas da periodontite apical assintomática17,32 e do abscesso periapical agudo18,35: Na presença de inflamação pulpar irreversível, não havendo intervenção, o curso da doença progride ocorrendo a formação de microabscessos focais na polpa que coalescem, levando à necrose progressivado órgão pulpar. Desta forma, a polpa perde a capacidade de defesa contra a infecção bacteriana e gradativamente as bactérias colonizam todo o sistema de canais radiculares até alcançarem a região periapical33,34. 24 Periodontite Apical Sintomática Abscesso Periapical Agudo • O paciente relata dor intensa, localizada e espontânea. Pode relatar exacerbação da dor durante a mastigação, extrema sensibilidade ao toque do dente e sensação de dente "crescido". • O teste de sensibilidade pulpar ao frio é negativo. O teste de percussão vertical é positivo, podendo ser extremamente doloroso ao paciente. O teste de palpação poderá ser positivo ou não, dependendo da extensão da resposta inflamatória. • Radiograficamente, podem ser observadas extensa destruição coronária ou restauração extensa com cárie secundária. O dente poderá apresentar espessamento do ligamento periodontal na região apical. • O paciente relata dor espontânea, pulsátil, lancinante e localizada. Poderá apresentar sintomas de envolvimento sistêmico, como febre, linfadenopatia, trismo, disfagia e mal-estar; • O dente envolvido poderá apresentar tumefação intra ou extraoral (flutuante ou não) dependendo da fase de desenvolvimento do abscesso, mobilidade e discreta extrusão; • O teste de sensibilidade pulpar ao frio é negativo. Os testes de percussão e palpação são positivos. • Radiograficamente, podem ser observados extensa destruição coronária ou restauração extensa com cárie secundária. O dente poderá apresentar espessamento do ligamento periodontal na região apical ou destruição óssea perirradicular (quando o abscesso se desenvolve pela agudização de uma lesão periapical crônica). O abscesso periapical agudo apresenta três estágios de desenvolvimento19: • Estágio inicial: Não será observado edema, pois o exsudato estará restrito à região perirradicular. Nesta fase, o diagnóstico clínico usualmente é confundido com a periodontite apical aguda e só é confirmado após a abertura coronária, momento em que pode ser observado exsudato purulento drenando pelo canal; • Estágio em evolução: Haverá edema, porém sem ponto de flutuação; • Estágio evoluído: Será observado edema com ponto de flutuação, porque neste estágio a secreção purulenta alcança a região subperióstea e submucosa. 25 3.1 Manejo terapêutico da inflamação dos tecidos periapicais na USF Acompanhe a seguir o manejo referente a periodontite apical sintomática, abscesso periapical agudo e a prescrição medicamentosa. 3.1.1 Manejo da periodontite apical sintomática O tratamento da periodontite apical consiste na redução substancial da carga microbiana do canal radicular e na prevenção da reinfecção19. Durante o atendimento de urgência na USF de um paciente que é diagnosticado com quadro de periodontite apical sintomática de origem infecciosa, você deverá realizar a abertura coronária, instumentação dos canais radiculares, medicação intracanal com hidróxido de cálcio e restauração provisória19. Veja o protocolo clínico abaixo: 3.1.2 Manejo do abscesso periapical agudo O tratamento do paciente com abscesso periapical agudo consiste na drenagem do pus e na eliminação do foco de infecção19. O manejo terapêutico dependerá do estágio de desenvolvimento do abscesso. 26 O tratamento do abscesso periapical agudo no estágio inicial é semelhante ao instituído para a periodontite apical de origem infecciosa. Caso não ocorra a drenagem espontânea da coleção purulenta pelo canal após a abertura coronária, irrigação/aspiração com NaOCl a 2,5% e penetração desinfetante no sentido cora-ápice, você poderá obter essa drenagem via canal, ultrapassando o forame apical com uma lima tipo K de diâmetro compatível ao forame. Se ainda assim, não ocorrer a drenagem de secreções (pus e/ou sangue) proceda a instrumentação dos canais radiculares, medicação intracanal com hidróxido de cálcio e restauração provisória. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos19. Para o abscesso periapical agudo em evolução, além das medidas locais realizadas para o abscesso periapical agudo inicial, pode-se ainda recomendar bochechos com solução aquecida (morna) várias vezes ao dia, com o intuito de acelerar o desenvolvimento do abscesso. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos19. Nos casos de abscesso periapical agudo nos estágios inicial e em evolução, ainda há controvérsias na literatura quanto à decisão clínica de após a instrumentação do canal radicular deixar o dente selado, ou aberto para favorecer a drenagem da secreção e prevenir a dor. Alguns estudos mostraram que deixar o dente aberto favorece a reinfecção e a colonização dos canais radiculares por microrganismos da cavidade oral36,37,38. Além disso, observou-se que dentes que foram deixados sem selamento coronário apresentaram maior chance de serem submetidos a cirurgias parendodônticas posteriormente36,37,38. Assim, deixar o dente aberto, não é recomendado. Entretanto, em situações raras, em que a drenagem de pus pelo canal persistir, deixar o dente aberto pode ser uma alternativa para evitar a dor. Nestes casos excepcionais, deve-se marcar o retorno do paciente dentro de 24 horas para reavaliação e continuação do tratamento36,37,38. Em relação ao abscesso periapical agudo evoluído, além das medidas locais realizadas para o abscesso periapical agudo inicial, caso não tenha ocorrido a drenagem espontânea intraoral, e se o edema estiver localizado, você poderá executar a drenagem cirúrgica desde que exista ponto de flutuação. Assim, uma incisão no ponto de flutuação do edema poderá ser feita para que ocorra a drenagem da coleção purulenta. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos19. Após atendimento de urgência, o paciente deverá ser encaminhado para o Centro de Especialidades Odontológicas. 27 IMPORTANTE Se o abscesso periapical não drenar pela superfície cutânea ou para o interior da cavidade oral, poderá se disseminar difusamente pelos planos fasciais dos tecidos moles. Esta disseminação é denominada celulite. Embora vários padrões de celulite possam ser observados, duas formas merecem atenção: (1) Angina de Ludwig e (2) trombose do seio cavernoso. Estas condições são potencialmente perigosas porque podem resultar em mediastinite, obstrução das vias aéreas, meningite, septicemia e, caso não receba tratamento adequado, pode resultar até em óbito35. O tratamento destas condições é de caráter emergencial, uma vez que o crescimento rápido da celulite poderá levar o paciente a óbito. O paciente deverá ser encaminhado para um ambiente hospitalar, onde será executada a drenagem cirúrgica e medicação sistêmica. Somente após essa fase emergencial, o foco de infecção poderá ser tratado de forma local, conforme descrito para os outros estágios de desenvolvimento do abscesso periapical agudo35. 3.1.3 Prescrição Medicamentosa Os fármacos (analgésicos e anti-inflamatórios) mais recomendados para redução da dor pós-operatória nos casos de periodontite apical sintomática e abscesso periapical agudo são o ibuprofeno (600mg) ou a combinação de ibuprofeno (600mg)/paracetamol (1000mg)39. As evidências atuais não recomendam o uso empírico de antibióticos nestes casos40,41. Considerando que a prevenção da resistência de cepas bacterianas aos antibióticos é uma preocupação global, em 2018, a Sociedade Europeia de Endodontia em reunião de consenso se posicionou sobre os critérios para o Uso de Antibióticos em Endodontia42. Assim, recomenda que antibióticos devem ser prescritos apenas em algumas situações, tais como: (1) abscesso periapical agudo em pacientes clinicamente comprometidos; (2) abscesso periapical agudo com envolvimento sistêmico (edema flutuante localizado, temperatura corporal elevada > 38°C, mal-estar, linfadenopatia, trismo; (3) Infecções progressivas (início rápido de infecção grave em tempo < 24 h, celulite ou infecção disseminada e osteomielite), onde é recomendado encaminhamento para o cirurgiãobucomaxilofacial40,41,42. O antibiótico de primeira escolha para estes casos são os beta-lactâmicos (penicillina V e amoxicilina). A amoxicilina apresenta como benefícios: • O amplo espectro contra bactérias gram-negativas; e • Nível plasmático mantido em níveis adequados por um tempo mais longo quando comparado à penicilina. 28 No entanto, este fármaco é suscetível à degradação por bactérias produtoras de β ‐ lactamase (por exemplo, Staphylococcus aureus) e por isso, geralmente, é administrada em associação ao ácido clavulânico. Com o intuito de evitar o surgimento de cepas bacterianas resistentes, as novas diretrizes baseadas em evidências recomendam que a associação de amoxicilina e ácido clavulânico deve ser reservada para pacientes imunocomprometidos ou para aqueles que não responderam à primeira terapia antimicrobiana associada às medidas locais da terapia endodôntica para o abscesso periapical agudo. Para alérgicos à amoxicilina, os seguintes fármacos podem ser utilizados: clindamicina, claritromicina e azitromicina43. Veja abaixo a posologia dos antibióticos que podem ser prescritos nestes casos. Quadro 1. Tipo, dose e duração de antibióticos prescritos em Endodontia. SEGURA-EGEA, J. J; GOULD, K. ŞEN, B. H; JONASSON, P; COTTI, E; MAZZONI, A; et al. European Society of Endodontology position statement: the use of antibiotics in endodontics. Int Endod J. 2018;51(1):20–5. Observações: a Se a penicilina VK sozinha não for eficaz após 48h–72h, o metronidazol (dose de ataque - 1000 mg seguida por 500mg a cada 6h) pode ser usado em combinação com Penicilina VK. Ou outra opção é mudar a Penicilina VK pela associação amoxicilina + ácido clavulânico ou clindamicina. b Se o paciente for alérgico à penicilina. 29 Agora que você já conhece as principais patologias associadas a ocorrência de dores dentino-pulpares e periapicais e o manejo terapêutico adequado para cada uma destas patologias, vamos revisitar o caso de Fábio? Na anamnese, Fábio foi interrogado sobre Como sua dor surgiu? Ele relatou que há alguns meses já vinha sentindo dor de dente durante a alimentação, provocada especialmente por água gelada, mas que passava rapidamente. Agora, a dor surgiu espontaneamente durante a noite, intensa, e mesmo com o uso de analgésico, não desapareceu totalmente. Fábio relatou que era difícil localizar a dor, pois ela se irradiava para o lado da face, do olho e ouvido esquerdos. Durante o exame clínico não foram observados edemas extra ou intraoral. No entanto, foram observadas lesões de cárie nos dentes 25 e 26 e restauração oclusal de resina composta no 27. Os testes de percussão vertical, palpação dígito-apical e sensibilidade pulpar ao frio com o gás diclorodifluormetano foram realizados nos dentes 25, 26 e 27. Os resultados dos testes estão descritos no Quadro 01. Quadro 1: Respostas aos Testes de percussão vertical (TPV), palpação dígito- apical (PDA) e sensibilidade pulpar ao frio (TSF) Cabe informar que o dente 27 respondeu rápido ao teste de sensibilidade pulpar ao frio e a dor desapareceu com declínio rápido. Já no dente 26 a dor foi exacerbada pelo frio e após remoção do estímulo, Fábio relatou que o declínio foi lento e intermitente, e que a dor não desapareceu totalmente. Foi realizado o exame radiográfico pela técnica periapical no qual observaram-se algumas características descritas no Quadro 02. 30 Quadro 02: Aspectos radiográficos dos dentes 25, 26 e 27. Agora, que você já conhece os dados semiotécnicos e radiográficos do Caso de Fábio, vamos refletir e responder os seguintes questionamentos: 1. Qual o dente responsável pela dor de Fábio? 2. Qual o diagnóstico clínico-radiográfico provável para os dentes 25, 26 e 27? 3. Qual o manejo terapêutico para os dentes 25, 26 e 27? 4. O que você poderia fazer na sua USF para resolver a situação-problema de Fábio? 31 COMENTÁRIO REFERENTE ÀS QUESTÕES APRESENTADAS ACIMA: Analisando o caso, percebemos que o elemento 26 apresentou sintomatologia subjetiva sugestiva de pulpite irreversível, manifestando dor aguda espontânea e persistente, possivelmente acentuada por alterações posturais, como deitar-se, visto que a dor surgiu espontaneamente durante a noite, de difícil localização, irradiando-se para outras regiões da face e sem cessar após o uso de analgésicos. Temos como diagnóstico clínico-radiográfico provável para os seguintes dentes: 25 - Periodontite apical sintomática: O paciente apresentava no elemento dor intensa, localizada e espontânea; testes de percussão vertical e palpação dígito-apical positivos; teste de sensibilidade pulpar ao frio negativo; extensa destruição coronária e espessamento do ligamento periodontal na região apical observado radiograficamente; 26 - Pulpite irreversível: O paciente apresentava no elemento dor aguda espontânea e persistente que não cessava com a utilização de analgésicos e irradiava para outras regiões da face; teste de sensibilidade pulpar ao frio positivo com sensação de desconforto prolongada; testes de percussão vertical e palpação dígito-apical negativos e extensa destruição coronária observada radiograficamente; 27 - Pulpite reversível: O paciente apresentava no elemento sensação de desconforto ao estímulo frio que cessava de forma rápida após a remoção do estímulo; testes de percussão vertical e palpação dígito-apical negativos e restauração profunda observada radiograficamente. E como manejo terapêutico para os dentes: 25 - Abordagem de urgência com realização da abertura coronária, instrumentação dos canais radiculares, medicação intracanal com hidróxido de cálcio, restauração provisória e encaminhamento ao CEO para continuidade do tratamento endodôntico; 26 - Abordagem de urgência com pulpotomia ou pulpectomia e encaminhamento ao CEO para continuidade do tratamento endodôntico. 27 - Remoção seletiva de tecido cariado em passo único seguido de restauração definitiva. Para resolver a situação de Fábio, você pode realizar abertura coronária, instrumentação dos canais radiculares, medicação intracanal com hidróxido de cálcio e restauração provisória do elemento 25; pulpotomia de urgência no elemento 26 (que requer menos tempo que a pulpectomia e alivia a sintomatologia dolorosa de forma rápida e eficaz) e remoção seletiva de tecido cariado em passo único, seguido de restauração definitiva do elemento 27. 32 Considerações Finais E, agora, com todas as informações que lhes foram apresentadas, você seria capaz de resolver as situações de urgências de dores dentino-pulpares e periapicais que podem surgir na USF em que você trabalha? Nunca se esqueça de ouvir atentamente a queixa principal do seu paciente, de resgatar a história pregressa da dor, avaliar as características clínicas extra e intraorais do paciente, avaliar as respostas aos testes semiotécnicos dos dentes envolvidos e de interpretar atentamente o exame complementar radiográfico. Seguir esse raciocínio passo a passo é condição indispensável para sistematizar as informações obtidas para você estabelecer o diagnóstico diferencial entre as patologias dentino-pulpares e periapicais que podem levar os usuários das USF a buscar atendimento de URGÊNCIA e, finalmente, definir o diagnóstico correto para realizar o manejo terapêutico adequado e obter a resolução do quadro álgico do paciente. Até a próxima! Referências 1. PINHO, A. M. S; CAMPOS, A. C. V; FERREIRA, E. F, VARGAS, A. M. D. Toothaches in the daily lives of Brazilian adults. Int J Environ Res Public Health. 2012;9(8):2587–600. 2. SANTOS, P. S; MARTINS-JÚNIOR, P. A; PAIVA, S. M; KLEIN, D; TORRES, F.M. GIACOMIN, A, et al. Prevalence of self-reported dental pain and associated factors among eight- to ten-year- old Brazilian schoolchildren. PLoS One. 2019;14(4):1–13. 3. LACERDA, J. T; SIMIONATO, E. M; PERES, K. G; PERES, M. A, TRAEBERT, J; MARCENES, W. 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