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A hemostasia significa prevenção da perda de sangue. Esta ocorre por mecanismos como: constrição vascular, formação de tampão plaquetário e de coágulo sanguíneo, além de crescimento de tecido fibroso no coágulo, sempre que há uma lesão vascular. Ocorre imediatamente após a corte ou secção de um vaso sanguíneo, sendo um reflexo da própria parede vascular que leva à contração da musculatura lisa, reduzindo o fluxo sanguíneo. Tal contração resulta do espasmo miogênico local, de fatores autacoides locais e de reflexos nervosos. Em vasos menores, as plaquetas são importantes responsáveis pela vasoconstrição, através da liberação de tromboxano A2. É o mecanismo responsável por selar pequenas lesões nos vasos. As plaquetas são discos que correspondem a fragmentos celulares, formadas na medula óssea a partir dos megacariócitos, células extremamente grandes, que se fragmentam ainda na medula ou no momento em que passam pelos capilares. Em seu citoplasma, as plaquetas possuem fatores ativos como: Moléculas de miosina e actina, além de trombostenina, responsáveis pela contração das plaquetas; Retículo endoplasmático e complexo de Golgi que sintetizam enzimas e armazenam o íon cálcio; Mitocôndrias e sistemas enzimáticos que foram ATP e ADP; Sistemas coenzimáticos que produzem prostaglandias; Uma proteína denominada fator estabilizador de fibrina; Fator de crescimento, responsável pela multiplicação de células do endotélio, da musculatura lisa vascular e de fibroblastos. A membrana das plaquetas contém em sua superfície glicoproteínas que permitem a adesão dessas células apenas à áreas lesionadas da parede vascular, principalmente às células endoteliais e a qualquer colágeno exposto na profundidade da parede do vaso. Também contém fosfolipídios que ativam diversos estágios da coagulação sanguínea. As plaquetas têm meia-vida no sangue de 8 a 12 dias, sendo retiradas da circulação por meio de macrófagos, mas seus processos funcionais têm duração de várias semanas. Mecanismo Quando as plaquetas entram em contato com o vaso lesado, principalmente com as fibras de colágeno da parede celular, alteram suas características morfológicas. As plaquetas se dilatam e assumem formas irregulares, com numerosos pseudópodos. Suas proteínas contráteis provocam a contração, provocando a liberação dos grânulos e de seus fatores ativos. Esses, por sua vez, tornam-se pegajosos e aderem ao colágeno e ao fator de von Willebrand, que vaza do plasma para o tecido lesado. Além disso, elas liberam ADP e formam TXA2, responsáveis por ativar plaquetas vizinhas. A superfície pegajosa das plaquetas originais faz com que as novas fiquem aderidas a elas. Assim, quando inúmeras plaquetas forem atraídas ao local da lesão e consequentemente aderidas, forma- se o tampão plaquetário. É o terceiro mecanismo para a hemostasia. O coágulo começa a se desenvolver entre 15 e 20 segundos, se a lesão ao vaso for grave, e entre 1 e 2 minutos, se o trauma for pequeno. Substâncias ativadoras produzidas pelas plaquetas, pela parede vascular lesada e por proteínas sanguíneas iniciam a coagulação. Em cerca de 3 a 6 minutos após a ruptura do vaso, se não for muito grande, toda a abertura do vaso é ocupada pelo coágulo. Após 20 minutos a 1 hora, o coágulo se retrai, o que contribui para fechar ainda mais a abertura no vaso. Mecanismo Em resposta à lesão vascular ou a problemas sanguíneos, ocorre no sangue uma cascata de reações químicas com participação de mais de doze fatores de coagulação. O resultado é a formação do complexo de substâncias ativadas, chamado de ativador da protrombina. Esse composto catalisa a conversão da protrombina em trombina. A trombina atua como uma enzima que converte fibrinogênio em fibras de fibrina, formando emaranhado de plaquetas, células sanguíneas e plasma para formar o coágulo. Inicialmente, o ativador da protrombina forma-se como resultado da lesão do vaso ou da liberação de substâncias no sangue. Posteriormente, esse ativador, em presença de certa quantidade de Ca+2, converte protrombina em trombina. A trombina causa polimerização das moléculas de fibrinogênio em fibras de fibrina, dentro de segundos. As plaquetas também exercem papel importante na formação da trombina, já que grande parte da protrombina se fixa inicialmente aos receptores de protrombina nas plaquetas aderidas ao tecido lesado. A protrombina é uma proteína plasmática do tipo alfa 2-globulina, continuamente formada pelo fígado e utilizada também de modo contínuo para a coagulação. A vitamina K é necessária para que o fígado realize a ativação normal da protrombina, bem como para a formação de alguns fatores de coagulação. Portanto, a falta dessa vitamina ou patologias hepáticas que impeçam a formação normal de protrombina podem reduzir o seu nível e aumentar o risco de sangramento. Assim como a protrombina, o fibrinogênio é uma proteína sintetizada pelo fígado e de alto peso molecular. A doença hepática também pode reduzir consideravelmente a síntese dessa substância. Em condições em que a permeabilidade de capilares está aumentada, esse composto pode vazar para os líquidos teciduais promovendo a coagulação destes. A trombina é a enzima que atua sobre o fibrinogênio removendo quatro peptídeos de baixo peso molecular de cada molécula desse composto, formando um monômero de fibrina, com capacidade própria de polimerizar-se com outros monômeros para formar fibras de fibrina que, em questão de segundos tornam-se longas, constituindo o retículo do coágulo. No início da polimerização, os monômeros de fibrina são unidos por fracas ligações de hidrogênio não covalente, portanto, o coágulo é fraco. Porém, dentro de segundos, uma substância chamada fator estabilizador de fibrina, presente em pequena quantidade nas globulinas plasmáticas, mas que também é liberado pelas plaquetas no coágulo, é ativado pela trombina e atua como uma enzima para criar ligações covalentes e cruzadas entre os monômeros de fibrina, formando uma malha. Após a formação do coágulo, ele começa a se contrair e dentro de 20 minutos a uma hora, o mesmo expele grande quantidade do líquido que o compõe. Esse líquido é chamado de soro porque não contém o fibrinogênio e a maioria dos outros fatores de coagulação, assim diferindo do plasma. O soro não pode coagular por não conter esses componentes. As plaquetas são essenciais para a retração do coágulo, pois liberam o fator estabilizador de fibrina que cria mais ligações cruzadas entre as fibras dessa substância, além de contribuírem para a ativação da trombostenina da actina e da miosina plaquetárias, proteínas contratéis que auxiliam na contração do coágulo. A retração também é ativada e acelerada pela trombina e pelos íons cálcio, liberados das mitocôndrias, do retículo endoplasmático e do complexo de Golgi das plaquetas. O próprio coágulo é responsável por promover mais coagulação. Isso é regulado pela atividade proteolítica da trombina, que permite que ela atue sobre vários fatores de coagulação (VIII, IX, X, XI e XII) e sobre a agregação plaquetária, assim como sobre a própria protrombina, aumentando sua conversão em trombina. Via extrínseca Inicia-se com a lesão da parede vascular ou de tecidos extravasculares que entram em contato com o sangue. Isso leva a: 1. Liberação do fator tecidual ou tromboplastina tecidual pelo tecido lesado → fosfolipídios + complexo lipoproteico, que atua como enzima proteolítica; 2. Ativação do fator X → o complexo lipoproteico do fator tecidual se combina com o fator VII da coagulação e, em presença de Ca+2, ativa enzimaticamente o fator X, originando o fator Xa; 3. O fator Xa se combina com fosfolipídios teciduais adicionaisou que fazem parte dos fatores teciduais, liberados pelas plaquetas, além de com o fator V, para formar o ativador da protrombina. Após alguns segundos, em presença de Ca+2, essa combinação cliva a protrombina para formar a trombina, e a coagulação tem continuidade; 4. Inicialmente, o fator V está inativado, mas à medida que a trombina começa a se formar, sua ação proteolítica ativa esse fator, que passa a ser importante acelerador adicional da ativação da protrombina. Via intrínseca Inicia-se com a lesão ao próprio sangue ou a exposição do sangue ao colágeno da parede vascular lesada, desencadeando uma cascata de reações: 1. O trauma sanguíneo causa a ativação do fator XII e a liberação dos fosfolipídios das plaquetas → o fator XII, ao entrar em contato com o colágeno, assume uma nova configuração molecular que o converte na enzima proteolítica chamada de fator XIIa. Do mesmo modo, a lesão também afeta as plaquetas, devido à sua aderência ao colágeno, causando a liberação de seus fosfolipídios que contêm a lipoproteína chamada fator plaquetário 3, importante para a cascata; 2. O fator XIIa atua enzimaticamente sobre o fator XI, ativando-o. Essa reação necessita de cininogênio de alto PM (APM) e é acelerada pela pré-calicreína; 3. O fator XIa, por sua vez, ativa enzimaticamente o fator IX; 4. O fator IX, junto com o fator VIIIa e com os fosfolipídios plaquetários e com o fator 3 das plaquetas, ativa o fator X. O fator VIII é chamado de fator anti-hemofílico, pois está ausente em pessoas com hemofilia clássica. 5. Por fim, o fator Xa se combina com o fator V e com as plaquetas ou fosfolipídios teciduais para formar o complexo ativador da protrombina, etapa semelhante à da via extrínseca. Uma diferença expressiva entre as vias é a velocidade com que acontecem. A via extrínseca pode ser explosiva, já que a coagulação só é limitada pela quantidade de fator tecidual e dos fatores X, VII e V no sangue (pode ocorrer em 15 segs). Fatores da superfície endotelial: A uniformidade da superfície das células endoteliais; A camada do glicocálice do endotélio, que repele os fatores de coagulação e as plaquetas; A trombomodulina, ligada à membrana endotelial, que liga a trombina, lentificando o processo de coagulação pela remoção da trombina, e ativando a proteína C que inativa os fatores V e VII ativados. Assim, quando a membrana do vaso é lesada, sua uniformidade e a camada de glicocálice- trombomodulina são perdidas, e ocorre ativação do fator XII e as plaquetas, iniciando-se a via intrínseca da coagulação. Ação da antitrombina III: Os agentes anticoagulantes endógenos mais importantes são aqueles que removem as trombinas, dos quais destacam-se a antitrombina III, uma alfa-globulina, e as fibras de fibrina formadas durante a coagulação. Quando o coágulo está se formando, boa parte da trombina fica adsorvida às fibras de fibrina que estão se desenvolvendo, evitando assim, a disseminação da trombina para o resto do sangue e o crescimento do coágulo. A trombina não adsorvida às fibras de fibrina se liga com a antitrombina III que bloqueia o efeito da trombina sobre o fibrinogênio, além de inativa- la por até 20 minutos. Heparina: É um polissacarídeo conjugado com forte carga negativa, tem potente ação anticoagulante, mas sua concentração no sangue é baixa. O seu poder anticoagulante resulta da sua combinação com a antitrombina III, aumentando sua eficácia para a remoção de trombina em 100 a 1000 vezes. Além disso, o complexo heparina- antitrombina também remove outros fatores ativados da coagulação, como os fatores XII, XI, X e IX ativados. A heparina é produzida por diversas células do corpo, mas mais expressivamente pelos mastócitos basofílicos do tecido conjuntivo pericapilar de todo o corpo. Os basófilos, semelhantes aos mastócitos, também liberam heparina no plasma. As proteínas plasmáticas contêm uma euglobulina denominada plasminogênio ou pró-fibrinolisina que quando ativada transforma-se em plasmina ou fibrinolisina. A plasmina é uma enzima com ação proteolítica que digere as fibras de fibrina e algumas outras proteínas coagulantes, como o fibrinogênio, a protrombina, e os fatores V, VIII e XII, causando lise do coágulo. O plasminogênio aprisionado no coágulo junto com outras proteínas do plasma é ativado pelo ativador do plasminogênio tecidual (AP-t), liberado lentamente pelos tecidos lesados e pelo endotélio vascular. Alguns dias após o coágulo interromper o sangramento, esse mesmo fator converte o plasminogênio em plasmina, responsável por remover os restos do coágulo. A antiplasmina, presente no plasma, combina-se com o excesso de plasmina, visando evitar o aparecimento de fibrinólise generalizada. Depois que o coágulo é formado, ele pode se dissolver ou ser invadido por fibroblastos, após algumas horas de sua formação, sendo promovida pelo fator de crescimento que é liberado pelas plaquetas. A invasão permanece até a completa organização do coágulo em tecido fibroso, em um período de 1 a 2 semanas.
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