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Os desenhos de estudo são modos científicos de abordar e investigar a saúde da população, os fatores que a determinam, a evolução do processo da doença e o impacto das ações propostas para alterar o seu curso. Frequentemente a pergunta que se deseja responder envolve uma exposição que potencialmente pode alterar a vida das pessoas, como o ato de fumar, e um desfecho de interesse, como o câncer de pulmão. De acordo com o objetivo de estudo, é essencial que o pesquisador adote um desenho adequado e que permita a obtenção das respostas a sua pergunta de interesse. De forma geral, os desenhos de estudo podem ser classificados de acordo com três critérios: Modo de exposição dos sujeitos; Propósito geral do estudo, Direção temporal da coleta de dados. O modo de exposição diz respeito a interação do pesquisador com o sujeito de pesquisa. Nos estudos observacionais, o pesquisador não realiza interferências junto aos participantes, ele apenas observa e coleta dados sobre o que aconteceria normalmente, independentemente da realização do estudo. Por outro lado, nos estudos de intervenção, o pesquisador altera de forma intencional algum aspecto da vida do paciente, como oferecer algum tipo de tratamento ao paciente. Os estudos também podem ser classificados de acordo com seu propósito geral. Se o objetivo do estudo é apenas descritivo, ou seja, se o objeto é caracterizar um contexto em saúde, há a utilização de desenhos descritivos. Por outro lado, se o objetivo da pesquisa é investigar relações de causalidade entre fatores de exposição suspeitos e desfechos, se faz necessário utilizar desenhos de estudos analíticos. Os estudos epidemiológicos também podem ser classificados de acordo com a direção temporal. Se o pesquisador acompanha os indivíduos durante um período de tempo, dizemos que se trata de um desenho longitudinal. Esse período de observação pode acontecer a partir do início do estudo até uma data no futuro de forma que temos os estudos longitudinais prospectivos. Mas existem também os estudos longitudinais retrospectivos em que o seguimento ou o acompanhamento dos participantes começa a partir de uma data no passado. Exemplo: selecionar 10 mulheres que atualmente tem câncer de mama e pesquisar seus históricos médicos desde 20 anos atrás com o objetivo de verificar, se elas foram expostas a algum fator de risco no passado. Além disso, há os estudos onde não ocorre um seguimento dos participantes, são os chamados estudos transversais. Nesses estudos, são coletados dados em ponto especifico no tempo, como se fosse tirado uma fotografia do indivíduo naquele instante. Os desenhos observacionais descritivos são relatos ou série de casos, estudos ecológicos e transversais. Os estudos observacionais analíticos são os estudos de caso-controle e o de coorte. Os estudos de intervenção sempre são analíticos, como os ensaios clínicos. Os estudos de ensaios clínicos, caso-controle e coorte são estudos longitudinais. Esses estudos descrevem as características de um paciente/grupo de pacientes que possuem a mesma doença ou apresentam quadros desconhecidos semelhantes com o objetivo de entender a apresentação clínica da doença, as características demográficas dos indivíduos, sua evolução e prognóstico. Esses desenhos de estudo costumam ser a primeira abordagem para a avaliação inicial de problemas de saúde ainda desconhecidos ou manifestações raras/não usuais de doenças já descritas. Os relatos de casos são uteis para detectar: Início de uma epidemia A emergência de uma nova doença Novos padrões de doenças conhecidas Porém esses estudos não são conclusivos. Eles servem para gerar hipóteses que vão precisar ser testadas futuramente utilizando outros desenhos de estudos mais adequados. Uma característica importante essa classe de estudos é que eles não são baseados em dados individuais, mas em dados médios de frequência de doenças e exposições em um determinado grupo populacional, ou seja, a unidade de análise é um grupo populacional inteiro. Esses estudos tem como objetivo avaliar e comparar a frequência global de doenças em diferentes populações, buscando identificar uma correlação entre diferentes fatores de exposição e a frequência dessas doenças. Como grupo populacional, podemos entender desde comunidades pequenas (ex: bairros) até populações de países inteiros. São estudos exploratórios iniciais que servem na verdade para gerar hipóteses que serão testadas futuramente utilizando outros desenhos de estudo. Precisamos lembrar que para uma exposição cause um efeito no indivíduo, tanto a exposição quanto o efeito deve ocorrer na mesma pessoa. Porém uma característica importante dos desenhos de estudo ecológicos, é que não há informação no nível individual, os dados estão agregados. Assim, nos estudos ecológicos, não se sabe se as pessoas que tiveram o desfecho foram efetivamente expostas aos fatores de exposição. Além disso, não se sabe se as pessoas já estavam com o problema de saúde quando começaram a estar expostas aos fatores. Da mesma forma, não se sabe se pessoas que não estiveram expostas, tiveram o mesmo desfecho. Essa característica dos estudos ecológicos é referida como falácia ecológica e uma implicação disso é que apesar de vermos uma possível relação positiva entre o fator de exposição e o desfecho, nós não podemos afirmar que essa associação existe baseados apenas nos resultados de um estudo ecológicos. Outro cuidado que se deve ter em relação a interpretação dos resultados de um estudo ecológico, diz respeito as correlações aparentes. Ex: um de determinado estudo poderia apontar uma forte correlação linear entre o consumo de chocolate per capita de um país e o número de ganhadores do prêmio nobel nascidos ali. No entanto, isso não faz sentido. Existem vários outros fatores que poderiam explicar esse grande número de premiados, como a riqueza de um país, que por sua vez pode explicar também o grande consumo de chocolate. No exemplo acima, o consumo de chocolate seria um fato de confundimento. O confundimento ocorre quando outro fator, que não é o fator de exposição que estamos interessados em estudar, distorce a associação entre a exposição e o desfecho limitando a capacidade do estudo em inferir que a exposição leva à ocorrência da doença. Apesar dessas limitações, os estudos ecológicos apresentam algumas vantagens: Os dados agregados, geralmente, estão disponíveis em bases de dados governamentais e por isso a sua execução é relativamente rápida e barata. São estudos uteis como uma análise exploratória inicial sobre correlações de interesse entre os fatores de exposição e os desfechos. Permitem comparar o mesmo fenômeno em uma ampla variedade de populações e localidades. Nesse estudo, os dados da saúde de uma população são obtidos em um ponto de tempo definido de forma que se obtem um retrato da situação da saúde daquela população. Geralmente, esses dados podem ser obtidos por meio de inquéritos populacionais em que os indivíduos são diretamente questionados sobre seu estado de saúde e a condição de exposição de um determinado momento. Por isso, muitas vezes esses estudos são chamados de estudos de prevalência. Apesar dos estudos serem relativamente baratos e fáceis de serem realizados, eles possuem uma limitação importante, pois não são capazes de determinar se um fator de exposição realmente está associado com a ocorrência do evento. Isso ocorre, pois a primeira condição necessária para determinação de uma relação causalidade não é garantida nesse desenho. E essa condição é que para que uma exposição cause a ocorrência de um desfecho, está tem que preceder o desfecho, ou seja, precisaacontecer antes. Porém, no desenho de estudo transversal, não temos como assegurar que essa ordem aconteceu. Sabemos apenas está exposto a um fator e se ele possui o desfecho ou não, mas não sabemos qual foi a relação temporal entre as duas informações. Ex: um estudo transversal foi realizado para investigar a associação entre hipertensão arterial e doença renal. Foi entrevistado um total de 320 pacientes. Dos 152 indivíduos que relataram ser hipertensos, 90 apresentavam doença renal, por outro lado, dos 170 pacientes que não eram hipertensos, 30 declararam sofrer de doença renal. É possível afirmar que existe associação entre a hipertensão e a doença renal? Uma maneira de investigar essa associação é por meio do calculo da razão de prevalência da doença renal nos dois grupos. Para calculá-la podemos construir uma tabela 2x2. Para calcular a razão de prevalência, precisamos calcular a prevalência em todos os grupos, ou seja, no grupo que tem hipertensão e no grupo que não tem hipertensão. O resultado obtido sugere uma associação entre a HT e a DR, porém o estudo transversal não permite, pois não sabemos a ordem dos fatores. Apesar dessas limitações, os estudos transversais são uteis: São relativamente mais baratos que estudos longitudinais e fáceis de realizar. Podem informar sobre múltiplas exposições e desfechos São estudos rápidos e por isso, muitas vezes, eles são a única opção de desenho de estudo, principalmente, quando se há urgência dessas análises. São desenhos observacionais, analíticos e longitudinais, que tem como objetivo investigar a relação de causalidade entre uma exposição e um desfecho. Nesse desenho, sabemos que os indivíduos estão doentes e o que queremos descobrir é o motivo da doença, que no caso seria alguma exposição que eles sofreram no passado. Para responder essa questão, precisamos esclarecer se haviam pessoas que foram expostas a esse fator, mas que não ficaram doentes. Para responder essa pergunta nos estudos de caso controle precisamos comparar um grupo de pessoas sabidamente doentes, que chamamos de grupo de casos, com um grupo de pessoas não doentes, que são chamadas de controle. As pessoas que fazem parte do grupo controle, devem possuir características semelhantes as pessoas do grupo de casos da doença. De maneira simplificada, no estudo de caso- controle se selecionam dois grupos: um grupo de indivíduos que apresentam a doença de interesse e um grupo de indivíduos que não apresentam a doença. O próximo passo, é investigar o passado dessas pessoas e comparar a frequência de exposição ao fator suspeito em cada um desses grupos. Nos estudos caso-controle, como buscamos a informação sobre exposição ao fator no histórico dos indivíduos, classificamos esse desenho como um estudo retrospectivo. Um primeiro passo para um estudo de caso- controle bem sucedido é a seleção cuidadosa dos grupos. No caso da seleção dos casos, dá- se preferencia a seleção de casos incidentes da doença, ou seja, pacientes em casos iniciais, pois possibilita o estudo da evolução da doença e também poderá evitar que características individuais afetem os resultados. Já com a relação da seleção dos controles, é importante garantir que eles sejam selecionados a partir da mesma população que deu origem aos casos e, além disso, eles devem ter a mesma oportunidade de serem selecionados como casos se, ao invés de saudáveis, fossem ou se tornassem doentes; e uma maneira de conseguir isso é através do pareamento. Como qualquer desenho de estudo, os estudos de caso-controle possuem vantagens e desvantagens. Vantagens: Relativamente baratos e menor tempo Investiga múltiplos fatores de exposição Investigar doenças raras ou de longo período de latência. Desvantagem: Não é adequado para investigação de exposições raras Não estima a incidência Informa sobre a exposição é obtida após a ocorrência da doença, o que causa o viés de memória. Diferentemente dos estudos de caso-controle, nos estudos de coorte partimos de um grupo de pessoas que não apresentam o desfecho, ou seja, não estão doentes. E a pergunta que queremos responder é se eles ficarão doentes, desta forma o que se pretende descobrir são quais os efeitos da exposição a um determinado fator. Nos estudos de coorte comparamos dois grupos que se diferem contra a exposição de um fator de interesse, ou seja, teremos um grupo de pessoas saudáveis, mas que estão expostas a um determinado fator e um segundo grupo de pessoas saudáveis que não estarão expostas (controle). Ambos os grupos serão acompanhados durante um período de tempo e, no final desse período, se compara a frequência da doença nos dois grupos. Como o acompanhamento dos grupos se faz de uma data presente até uma data no futuro, os estudos de coorte são, geralmente, prospectivos. Vantagens: Ausência da ambiguidade temporal, como nos estudos de coorte, logo a serem iniciados sabemos exatamente qual são os pacientes que estão expostos ao fator e quais não estão expostos, e além disso temos certeza que nenhum deles apresentam desfecho, é possível assegurar que se o desfecho ocorrer, ocorrerá após a exposição de indivíduo. E essa certeza é fundamental para estabelecermos a relação de causalidade entre a exposição e o desfecho de interesse. Permite calcular a incidência, consequentemente, permite o cálculo do risco relativo que é considerado a medida de associação padrão única Adequado para avaliar exposições raras Possível avaliar mais de um desfecho em um único estudo Desvantagens: Mais demorado e caro Perda de seguimento, ou seja, perda de informação sobre um determinado participante, que pode ocorrer pois o participante desistiu do estudo. Inadequado para avaliar doenças raras
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