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FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA ÁREA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: CONTROVÉRSIAS SOBRE A NECESSIDADE DE ESPECIALIZAÇÃO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Ingrid Marcelino Serafim1 Resumo O objetivo deste estudo é identificar as diretrizes das Políticas Públicas Educacionais implantadas para a formação de professores em Educação Especial. A realidade escolar demonstra que existem muitas dificuldades dos professores no tocante ao atendimento educativo de crianças com necessidades especiais em escolas regulares e ocorrem muitas controvérsias quanto à necessidade de especialização dos professores neste novo campo de atuação. Pretende-se escrever as estratégica de ações e projetos de formação de professores para a implementação da política de inclusão de alunos com necessidades especiais; discutir as controvérsias sobre a necessidade de “Especialização do Educador” para o ensino em escolas regulares; e descrever as tendências da educação inclusiva no Brasil com base na visão de qualidade do ensino na escoa inclusiva. Os resultados demonstraram que a qualidade educativa no Brasil é profundamente desigual e em nível de políticas públicas, embora tenha havido mudanças qualitativas com a criação dos Núcleos de Educação Especiais e os cursos de especialização para professores na área de Educação Especial, muitos municípios brasileiros ainda atendem de forma precária as crianças com necessidades especiais. Palavras chave: Educação Especial; Formação de Professores; Escola Inclusiva. 1. Introdução As transformações de caráter social e político ocorrido no bojo do processo das conquistas de certos direitos democráticos produziram efeitos sobre a concepção de Educação Especial. No campo dos direitos sociais, a comunidade internacional reconhece a garantia de novos direitos, frutos da evolução histórica dos direitos de cidadania. A escola, como instituição educativa, tem se constituído em sua esfera de atuação como constitutiva de diversas formas de exclusão que têm caracterizado a 1 Graduação em Pedagogia pela UNINOVE, especialização em Educação Especial. E-mail do autor: ingrid.serafim@hotmail.com história do Sistema Escolar. Neste contexto, as crianças consideradas “diferentes” enfrentavam processos discriminatórios em Escolas Especiais e Celetistas que atuavam somente com Portadores de Necessidades Educacionais. Esse processo de construção ideológica favoreceu o processo de marginalização dos sujeitos considerados diferentes, por alguma condição física. Neste sentido, por meio da Lei de Diretrizes de Bases, as Políticas Públicas de Educação começaram a reconhecer a importância da Formação dos Professores como pré-requisito para a Inclusão Escolar ao estabelecer a necessidade de Especialização adequada em nível médio ou superior, tanto para Atendimento Especializado como para Professores do Ensino Regular, sendo estes capacitados a integração desses educandos nas Classes Comuns. Compreendendo-se que a Especialização para a atuação na Escola Inclusiva deve se realizar em nível pós-graduação lato sensu voltado às expectativas de aprimoramento profissional e com caráter de educação continuada e com objetivo técnico-profissional específico, a problemática deste estudo aponta que existem muitas controvérsias quanto a necessidade de formação para os professores em “Educação Especial” embora, as Políticas Públicas reconheçam plenamente a urgência de Especialização como fator de qualidade para Portadores de Necessidades Educacionais. Justifica-se a realização deste estudo com base no pressuposto de que na perspectiva de uma Educação Inclusiva se deve considerar que muitos educadores acostumados a salas de aulas de ensino regular têm grande dificuldade em lidar com a heterogeneidade quando se trata de Portadores de Necessidades Educacionais, sendo, portanto, importante refletir sobre a formação de professores. O objetivo pauta identificar as Diretrizes das Políticas Públicas Educacionais implantadas para a formação de professores em Educação Especial, descrevendo as estratégias de ações e projetos deformação de professores para a implementação da política de inclusão de Portadores de Necessidades Educacionais, discutindo as controvérsias sobre a necessidade de “Especialização do Educador” para o ensino em escolas regulares e descrevendo as tendências da Educação Inclusiva no Brasil com base na visão de Qualidade do Ensino na Escola Inclusiva, além de focar as Políticas Públicas voltadas para a questão do Atendimento Educacional Especializado. A metodologia do estudo pautou-se na pesquisa bibliográfica e exploratória com base nos pressupostos teóricos de autores como Almeida (2002), Cunha (2002), Miranda & Martins (2003) e Figueiredo (2002) que realizaram estudos sobre a formação de professores na Educação Especial. Trata-se, portanto, de uma pesquisa com a finalidade de levantar as contribuições sobre Diretrizes das Políticas Públicas Educacionais implantadas para a formação de professores em Educação Especial. Neste contexto, o tema é relevante e envolve a análise de como está se desenvolvendo as Políticas Públicas de Educação no tocante à Formação de Professores em Educação Especial. 2. FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA ÁREA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: CONTROVÉRSIAS SOBRE A NECESSIDADE DE ESPECIALIZAÇÃO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO O Estado Brasileiro reconhece por meio do Art. 208 da Constituição Brasileira à necessidade de especialização profissional para o Atendimento Educacional Especializado de Portadores de Necessidades Educacionais na Rede Regular de Ensino. A Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEEP, 1994), determina as diretrizes de apoio por meio do financiamento de Projetos Institucionais para fortalecer a Política de Inclusão Social. Em vários municípios brasileiros existem Projetos Institucionais que favoreceram a criação de Núcleos Educacionais que tem a finalidade de contribuir para o processo de adaptação da criança na Escola Regular. A criação dos Núcleos de Educação Especial permitiu a diversificação nos apoios necessários aos alunos e educadores nas dificuldades de aprendizagem no atendimento às áreas deficitárias do aluno, como, por exemplo, cognição, socialização, dificuldades na linguagem, expressão corporal e motricidade por meio de acompanhamento interdisciplinar envolvendo profissionais em áreas distintas como, por exemplo, Fonoaudiólogos, Psicólogos e Assistentes Sociais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n°. 9.394/96), e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (CNE / CEB, 2001) que prescrevem a necessidade da formação dos professores pontuando que os capacitados são “professores das classes comuns e da educação especial que estejam plenamente capacitados e especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos”. A escola não se constitui em um espaço clínico, mas educacional. O docente não tem obrigação de se preparar para suprir as necessidades clínicas e terapêuticas de seus alunos, mas para lidar pedagogicamente com eles. Assim, trabalhar com crianças especiais não requer uma especialização em educação Especial para reduzir ou pôr termo às suas deficiências, mas o professor precisa apenas eliminar as barreiras próprias que se impõe nas relações sociais na escola. Esse é seu papel. (FIGUEIREDO, 2002, p. 76). Desta forma, é possível notar que Figueiredo (2002) é enfática em analisar que não existe a necessidade de uma especialização em Educação Especial para professores de escolas regulares e ainda considera que o papel do educador é exercer a função pedagógica, ou seja, buscar oferecer à criança uma interação social com os outros alunos, já que o professor não poderá determinar os mesmos critérios de aprendizagem em relação a toda a turma. Atualmenteos grandes desafios colocados pela Prática Pedagógica é a condição do educador de lidar com as diferenças. A construção de uma Educação para a Diversidade, de uma ética da diversidade e de uma cultura da diversidade, como discurso da Educação Inclusiva, exige professores conscientes de que a diferença enriquece e estimula a Educação. Sendo assim, será preciso reconstruir o saber da escola e a formação do educador para trabalhar pedagogicamente com a heterogeneidade e a diferença. Cunha (2002, p. 31) revela que os saberes adquiridos por meio da experiência profissional constituem “os fundamentos da competência do educador para lidar com situações educativas diversificadas”. É a partir destas competências que os professores necessitam julgar sua formação antecedente ou sua formação no decorrer do curso de formação. É também a partir destas competências para a diversidade que o docente terá como julgar o benefício do curso de formação em sua prática profissional que possam superar as Práticas Educativas Tradicionais. Portanto, parte-se do princípio prático de que a formação de professores deve ter o objetivo de fundamentar e dar subsídios à prática cotidiana em sala de aula, especialmente quando houver necessidade de aplicação de técnicas e métodos diferenciados no processo ensino-aprendizagem. Tardif (2002, p. 49) comenta que: Os saberes experienciais são o conjunto de saberes atualizados, adquiridos e necessários no âmbito da prática da profissão docente e que não provêm das instituições de formação nem dos currículos. Estes saberes não se encontram sistematizados em doutrinas ou teorias, mas são saberes práticos que formam um conjunto de representações a partir das quais os professores interpretam, compreendem e orientam sua profissão e sua prática cotidiana em todas as suas dimensões. Eles constituem, por assim dizer, a cultura docente em ação. (TARDIF, 2002, p. 49). Assim, compreende-se que os saberes experienciais estão enraizados nas Práticas Educativas que impõe situações de ensino que se desenvolve num contexto de múltiplas interações que representam condicionantes diversos para a atuação do professor. Contudo, Tardif (2002) revela que os docentes dependem de fundamentar estes saberes em seus pressupostos teóricos, filosóficos, didáticos, técnicos e metodológicos que os cursos de formação deverão oferecer ao ofício de docente. Neste contexto, os cursos de especialização de docentes devem suscitar tais mudanças e julgamentos relativos à ação pedagógica do docente, para que com a conscientização dos conhecimentos adquiridos possa inseri-los necessariamente num processo de aprendizagem, especialmente nos casos que exigem conhecimentos de técnicas ensino para lidar com a heterogeneidade em sala de aula. A Política Oficial do Estado de São Paulo coloca a formação/especialização de professores como pré-requisito fundamental de renovação e elevação da qualidade da educação escolar. Enfim, todo este quadro estabelece novas perspectivas para a profissionalidade e novas expectativas em relação ao desempenho do professor, em outras palavras, ampliam o âmbito da prática profissional do professor. Almeida (2002, p. 15) considera que as necessidades educacionais se constituem de necessidades fisiológicas, de segurança, de participação social, de estima ou reconhecimento e as de auto realização estão intricadas nas necessidades educacionais comuns e especiais cuja satisfação inclui a atuação competente das escolas. Atualmente, várias pesquisas demonstram que as Políticas Públicas Educacionais voltadas à Educação Especial favorecem as condições para um quadro de qualidade do ensino nas escolas regulares que estão recebendo a assistência e o apoio para as Diretrizes da Educação Inclusiva. As Leis Brasileiras e as Políticas Públicas acataram todas as Diretrizes Internacionais de Inclusão Social aplicadas em documentos de reconhecimento de direitos humanos e inclusão social, como a Declaração de Salamanca que estabelece a dimensão da Importância da inclusão social e educativa dos Portadores de Necessidades Educacionais. Neste sentido, ao aplicar Leis que priorizam a formação e a especialização de professores para atuarem em Educação Especial, há o reconhecimento desta necessidade como pressuposto da qualidade do ensino, na medida em que existem educadores cuja formação profissional é profundamente generalista no ensino regular, e estes educadores não tem um mínimo de conhecimento e prática sobre como trabalhar pedagogicamente com alunado diversificado, já os professores especialistas tem conhecimentos sobre as formas de atuação para desempenhar um papel de mediador da aprendizagem em salas de aula diversificadas. Verifica-se que as Leis priorizam a formação e especialização dos professores para atuarem com a Educação Especial, colocando a questão da qualidade do ensino, na melhoria profissional do educador. Constatou-se que existem divergências quanto à necessidade de especialização em Educação Especial, esse processo deve ser analisado pelo enfoque de oportunização para que os professores que se sentem inseguros ou despreparados para trabalhar em turmas de alunos diversificados superarem suas dificuldades. O importante no contexto educativo é a disponibilização de cursos de especialização para que esses profissionais possam desenvolver suas habilidades para atuar junto às turmas que existem Portadores de Necessidades Educacionais. As Leis e Diretrizes apontam como as Leis Brasileiras avançaram na criação de dispositivos de Inclusão Social dos Portadores de Necessidades Educacionais, juntamente com a criação dos Núcleos de Educação deu um passo importante para o Apoio Pedagógico às Escolas Públicas. 3. Conclusão O estudo favoreceu a compreensão de que as Políticas Públicas acentuam a importância da formação e especialização dos professores em Educação Especial e no Atendimento Educacional Especializado. Embora se possa reconhecer que houve avanços nas Políticas Públicas Brasileiras em relação à Inclusão Educativa, deve-se considerar que as escolas públicas brasileiras são ainda precárias para que os Portadores de Necessidades Educacionais possam ter uma qualidade educativa em todo o Brasil. Sendo o educador um facilitador do processo de construção do conhecimento, ele precisa poder contar com recursos que propiciem situações estimuladoras e desafiantes. Constata-se que para o educador dar conta desta tarefa de educar alunos em situações diversificadas de forma eficaz dependerá, no mínimo de uma boa formação profissional e se houver dificuldades para desenvolver as atividades pedagógicas, a especialização é uma saída fundamental para trabalhar com os Portadores de Necessidades Educacionais. É necessário que a formação profissional do educador lhe assegure um embasamento teórico sobre o desenvolvimento do pensamento, capacidade de empatia, engajamento e criatividade, conhecimentos sobre os recursos pedagógicos que poderá utilizar e o apoio de políticas públicas contínuas de melhoramento das escolas. Em todas as situações, não se pode perder de vista a importância de propiciar para o aluno um ambiente social estimulador, livre de segregação, um ambiente que não reforce as suas limitações, mas desafie o desenvolvimento e a aprendizagem de novas habilidades. No entanto, deve-se considerar que esse quadro de melhorias não ocorre igualmente em todas as regiões do país onde as desigualdades sociais afetam as populações. A qualidade educativa no Brasil é profundamente desigual e em nível de políticas públicas, embora tenha havido mudanças qualitativas com a criação dos Núcleos de Educação Especiais e os cursos de especialização para professores na área de Educação Especial, muitos municípios brasileiros ainda atendem de forma precária aos Portadores de Necessidades Educacionais. Quanto asPolíticas Públicas na Perspectiva da Educação, voltadas para o Atendimento Educacional Especializado, o professor, em sua prática inclui e inclui-se em uma esfera paradigmática com vistas a entender o seu ponto de vista educacional para atenuar uma esfera estigmatizante para o aluno. Referências ALMEIDA, Maria Isabel da. Ações organizacionais e pedagógicas dos sistemas de ensino: Políticas de inclusão. In: Políticas organizacionais e curriculares, educação inclusive e formação de professores. Rio de janeiro: DP&A, 2002. BRASIL. Atos normativos e regulamentares da LDB. Lei Nº 9.394 de 1996. Brasília, 1996. CUNHA, Maria Isabel da. Impactos das políticas de avaliação externa na configuração da docência. In: Políticas organizacionais e curriculares, educação inclusive e formação de professores. Rio de janeiro: DP&A, 2002. DECLARAÇÃO de Salamanca sobre Princípios. Política e Prática em Educação Especial. Disponível em: <www.direitoshumanos.usp.br>. Acesso em: 23 de novembro de 2017. FIGUEIREDO, Rita Vieira de. Políticas de inclusão: escola-gestão da aprendizagem na diversidade. In: Políticas organizacionais e curriculares, educação inclusive e formação de professores. Rio de janeiro: DP&A, 2002. MIRANDA C.; MARTINS F. Poderemos viver juntos? Iguais e diferentes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação Internacional de Doenças. Tradução: Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português. 9 ed. São Paulo, 2003. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
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