Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM NA LITERATURA BRASILEIRA 2 Sumário FACULESTE ............................................................................................................. 3 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4 OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .................................................................... 5 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ..................................................................................... 7 SEMÂNTICA DOS VERBOS ..................................................................................... 9 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS .................................................................................. 11 USO COESIVO DOS PRONOMES E CONJUNÇÕES ............................................ 15 TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS (POESIA) ..................................................... 19 PÓS-MODERNISMO (PROSA) ............................................................................... 21 MODERNISMO 1ª FASE ......................................................................................... 22 DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO .............................................................................. 24 LÍNGUA OU LINGUAGEM? .................................................................................... 31 ORIGEM DA LINGUAGEM ...................................................................................... 32 ORIGEM DA LÍNGUA .............................................................................................. 34 ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA .................................................................... 34 LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO ........................................................................... 35 OS NÍVEIS DE LINGUAGEM .................................................................................. 37 OS TIPOS DE DISCURSO ...................................................................................... 41 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 43 3 FACULESTE A história do Instituto Faculeste, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Faculeste, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Faculeste tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 INTRODUÇÃO Para começo de conversa... [...] Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? [...] (Carlos Drummond de Andrade - Procura da poesia) Nesse poema Carlos Drummond de Andrade chama atenção para a palavra, um instrumento que utilizamos a todo o momento e, justamente por isso, nem sempre utilizamos da melhor forma. No poema, Drummond nos alerta: as palavras nos esperam ocultando, sob sua face neutra, de dicionário, mil possibilidades de sentido, que variam de acordo com a situação de comunicação e com a intenção comunicativa de nosso texto. Essas são algumas considerações sobre as quais nos debruçaremos. 5 OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Em todas as situações de comunicação podemos observar a presença de alguns elementos essenciais: Emissor: aquele que diz algo a alguém. Receptor: aquele com quem o emissor se comunica. Mensagem: tudo o que é transmitido do emissor para o receptor. Código: a convenção que permite ao receptor compreender a mensagem, como por exemplo, a Língua Portuguesa. Canal: o meio que conduz a mensagem ao receptor, como por exemplo, a língua oral. Referente: o assunto da mensagem. O emissor, ao transmitir uma mensagem, sempre tem um objetivo: informar algo, demonstrar seus sentimentos, convencer alguém. Consequentemente, a linguagem passa a ter uma função. Podemos encontrar em um mesmo texto diferentes funções. No entanto, uma das funções sempre prevalecerá sobre as demais. 6 As funções da linguagem são recursos de ênfase que atuam, cada qual, abordando um diferente elemento da comunicação. Foram estabelecidas seis diferentes funções da linguagem, cada uma delas se relaciona a um dos componentes do processo comunicativo. Dessa forma, em cada ato comunicativo, dependendo de sua finalidade, destaca-se um dos elementos da comunicação e, por conseguinte, uma das funções da linguagem. Podemos elaborar o seguinte diagrama: Atualmente, há uma tendência a considerar apenas duas grandes funções da linguagem: a cognitiva ou referencial e a pragmática ou interacional. A cognitiva ou referencial se prende à elaboração do texto a partir dos referentes, ou seja, levando em consideração os elementos contextuais, que estão fora da linguagem, mas a que a linguagem remete. A pragmática ou interacional se prende à interação. Mas vamos trabalhar aqui com as funções já conhecidas, por nos permitir uma associação mais clara entre elas e os elementos do processo de comunicação, que são importantes para que compreendamos a intenção comunicativa de cada texto que elaboramos. A interação se realiza de maneiras diferentes conforme a modalidade de uso da língua: na língua escrita, por exemplo, o emissor não está em intercâmbio direto com o receptor e, por isso, a explicitação de todos os elementos é fundamental para a compreensão da mensagem e o contexto extralinguístico deve ser descrito em detalhe; na conversação natural, são muitas as informações que não precisam aparecer sob a forma de palavras, já que o contexto situacional e os dados que falante e ouvinte dominam, um do outro, permitem a seleção das informações que serão subtendidas. Quando alguém se dirige a outra pessoa, dizendo: “Ufa, que calor, hein!”, pode estar querendo abrir a janela, ou ligar o ventilador, sem um pedido direto. A mensagem só será entendida se o interlocutor estiver ligado na situação, decodificando possíveis gestos e expressões faciais do falante. 7 As piadas, por exemplo, são textos que exigem inferências por parte do ouvinte, já que seu conteúdo ultrapassa o âmbito da mera significação das palavras, jogando com uma contextualização mais ampla e com dados que são de conhecimento restrito de um grupo social, de uma comunidade específica, de um momento histórico. Não é à toa que, às vezes, não entendemos piadas de americanos e ingleses, por exemplo, que se consideram grandes humoristas. Por não dominarmos as referências culturais, contextuais ou situacionais das suas piadas, não conseguimos fazer as inferências necessárias. FUNÇÕES DA LINGUAGEM Você já deve saber que podemos utilizar vários recursos para nos comunicarmos com alguém, como gestos, imagens, músicas ou olhares. No entanto, o discurso é a forma mais abrangente e efetiva que possuímos e, dependendo de nossa mensagem, podemos fazer inúmeras associações e descobrir o contexto ou acircunstância que aquela intenção comunicativa foi construída. A linguagem assume várias funções, por isso, é muito importante saber as suas distintas características discursivas e intencionais. Elementos presentes na comunicação são cinco: Emissor: quem fala; quem produz a mensagem. Receptor: A quem se direciona o que se deseja falar; o destinatário. Referente: O assunto, também chamado de contexto. Canal: Meio pelo qual será transmitida a mensagem. Código: A forma que a linguagem é produzida. Perceba que cada elemento comunicativo carrega uma função diferente. Passe a perceber, em uma conversa informal com amigos ou família, a identificação 8 de cada um desses elementos, assim, fica mais fácil de você compreender quais são os recursos utilizados para promover a comunicação. Agora, preste atenção: cada um dos itens apontados correspondem a uma função da linguagem diferente e você precisa conhecê-las. Pois bem, vinculada ao emissor temos a presença da função emotiva. Seus principais aspectos são o uso de 1ª pessoa, pontos de exclamações, interjeições, adjetivos, pronomes de 1ª pessoa e o caráter subjetivo. Na literatura, por exemplo, a função emotiva é predominante em poesias, pois o eu lírico visa trabalhar com seus sentimentos e abordar questões intimistas. Em contrapartida, o papel do receptor está associado à função conativa ou apelativa da linguagem, pois, o foco comunicativo é transmitir determinada mensagem a seu interlocutor. Seus principais aspectos são o uso de 2ª pessoa, presença de verbos no imperativo, uso de vocativo e pronomes de 2ª pessoa. Em geral, a função apelativa é muito utilizada em anúncios publicitários com o intuito de criar uma linguagem persuasiva ou sugestiva ao público-leitor a partir de uma circunstância. Para identificá-lo, existem alguns aspectos chaves: marcas de impessoalidade, uso da 3ª pessoa, foco na objetividade e, na maioria das vezes, uso da linguagem denotativa. Esse tipo de texto encontra-se em jornais e artigos. Já a função fática visa testar o canal que se dá a interação comunicativa, ou seja, o meio físico pelo qual o som se propaga. O grande segredo para identificá-lo é encontrar as interjeições de comprimento. Um exemplo clássico é quando testar o canal e saber se o interlocutor está ouvindo a transmissão do discurso. Por fim, temos a presença da função metalinguística vinculada ao código comunicativo. Ou seja, o texto faz uma referência a si próprio, à própria linguagem designada para esclarecer e refletir sobre o próprio código. Livros didáticos e dicionários são ótimos exemplos de Português metalinguagem, pois esses fazem referência à própria escrita. Não nos esqueçamos, ainda, da função poética. 9 Com foco na mensagem, tal função preocupa-se com a qualidade discursiva da mensagem e escolhe palavras específicas, como, o trabalho com recursos expressivos para enriquecer a sua forma. É importante lembrar que a função poética possui efeito conotativo e preocupa-se com a estética, portanto, contos e crônicas são bons exemplos para identificá-las. SEMÂNTICA DOS VERBOS Os verbos são uma das classes gramaticais mais cobradas nos vestibulares do Brasil. Além de sabermos que eles indicam ação, também pode indicar um estado, comportamento ou fenômeno da natureza. Vale relembrar que os verbos podem designar, ainda, distintos valores semânticos de acordo com a organização sintática e a contextualização do discurso. Pois bem, os verbos são divididos em três modos: indicativo, imperativo e subjuntivo e, cada um deles, exerce uma relação semântica, um comando diferente no discurso. O modo indicativo, por exemplo, visa transmitir a ideia de certeza. No entanto, é preciso lembrar, também que tal verbo pode trabalhar com a possibilidade. Vamos pensar em uma situação: você possui uma prova muito importante amanhã e sua mãe lhe pergunta se você estudou o suficiente para o exame. Você, então, responde: Eu acho que estou preparado. Note que o verbo ACHAR acarreta o valor de dúvida, mas é utilizado no modo indicativo, realçando o valor temporal de presente. Veja, abaixo, uma tirinha e observe os tempos verbais no modo indicativo: O modo indicativo apresenta os seguintes tempos verbais: Presente: expressa o momento atual. 10 Exemplo: Eu estudo para o ENEM. Pretérito perfeito: expressa uma ação que se iniciou no passado e não teve uma duração estendida. Exemplo: Marisa estudou para a prova de Português. Pretérito imperfeito: expressa um acontecimento ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi finalizado imediatamente. Exemplo: Lisandra corria na praia aos finais de semana. Pretérito mais que perfeito: apresenta um fato ocorrido antes de outro fato já concluído. Exemplo: O bombeiro chegou ao local onde o incêndio acontecera. Futuro do presente: enuncia um fato que deve vir a ocorrer em um momento posterior. Exemplo: Eu serei aluno da USP. Futuro do pretérito: indica um fato futuro em relação a um fato expresso por outro verbo. Exemplo: Se eu tivesse malhado todos os dias, estaria mais magra. Já o modo imperativo é aquele que expressa uma ordem, pedido ou súplica. Esse modo visa se comunicar diretamente com o interlocutor e é, também, umas das principais características da função conativa ou apelativa da linguagem. Outra característica importante é que ele não é conjugado na 1ª pessoa do singular e, ademais, o modo imperativo não é vinculado a marcas temporais. É válido lembrar que esse modo é dividido em duas classificações: o imperativo afirmativo e o imperativo negativo. Este último necessita de uma palavra negativa antecedendo o verbo, como, Não fume em ambientes Não sente. Temos, ainda, o modo subjuntivo. Você já o conhece? É aquele que apresenta o valor semântico de dúvida ou sugestão. Ademais, dependendo do contexto da oração, ele também pode apresentar valor de condição, de possibilidade. É importante salientar que o modo imperativo só ocorre em estruturas subordinadas, isso quer dizer que para entender o seu contexto, é crucial a interpretação da oração e do verbo principais. Os tempos verbais vinculados ao subjuntivo são: 11 Presente: expressa um acontecimento que pode ter a possibilidade de ocorrer no tempo. Exemplo: É conveniente que estudes para o ENEM. Pretérito Perfeito: Expressa um fato já finalizado no passado. Exemplo: Embora tenha saído cedo de casa, chegou atrasada. Pretérito Imperfeito: Apresenta um acontecimento passado posterior a outro ocorrido. Exemplo: Se ele tivesse malhado, estaria mais magro. Pretérito mais que perfeito: Expressa uma ação ocorrida antes de outro acontecimento ter sido finalizado. Exemplo: Embora tivesse chegado atrasado, conseguiu entrar no evento. Futuro do Presente: Apresenta a possibilidade de um determinado fato ocorrer no futuro. Exemplo: Quando ele vier à loja, será bem-recebido. Viu como a semântica dos verbos pode ser fácil? VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Há diferentes formas de promovermos o discurso através da linguagem. Isso ocorre porque nossa linguagem é maleável e podemos adaptá-la a diferentes situações e circunstâncias, seja para nos aproximarmos de um interlocutor ou criarmos um discurso mais formal em uma reunião de trabalho, por exemplo. Essa flexibilização só é possível graças às variações linguísticas. Vamos revisá-las? A partir dessa perspectiva, precisamos pensar em como a nossa linguagem se adapta a diferentes situações. O tempo inteiro. Por exemplo, a linguagem que você usa no WhatsApp ou nas redes sociais não é a mesma que você utiliza para escrever uma redação dissertativa argumentativa modelo Enem. 12 Assim como o discurso comunicativo usado por você para se comunicar com seus amigos não é o mesmoutilizado para dialogar com seus pais. Neste sentido, a variabilidade linguística avalia as circunstâncias que fazem o emissor flexibilizar a sua fala, dependendo do destinatário de determinada mensagem. Nos últimos anos, o ENEM tem abordado bastante essa discussão e é, também, uma maneira de colocar a temática em discussão, uma vez que devemos combater a ideia de que existe uma linguagem utilizada, a comunicação será estabelecida entre o emissor e o receptor. Algumas variações mais: Variação Social: Avalia marcas de oralidade e coloquialismo na fala em distintos contextos; observa o nível de escolaridade do indivíduo de acordo com a condição social, relaciona-se, também, à faixa etária e ao grupo profissional. Variação Regional: Avalia a linguagem de acordo com marcas linguísticas espaciais, como diferentes formas de pronúncias, termos semânticos, expressões, gírias e traços fonético-fonológicos. Variação Histórica: Avalia as variações ocorridas em diferentes períodos históricos, é válido lembrar que esse processo ocorre de forma gradual, ou seja, tais mudanças linguísticas não ocorrem de repente. É o caso, por exemplo, do vossa mercê > vossemecê > vosmecê > você. Linguagem da Internet: Em geral, marcas de abreviação de palavras, variações na escrita de acordo com a influência oral, uso de emojis ou emoticons, caps lock para ressaltar uma ideia, etc. Observe, abaixo, a tirinha com traços de variações sociais e a linguagem da internet para compreender, na prática, como essas marcas linguísticas fazem-se presentes. Além disso, precisamos falar sobre um assunto muito importante: o preconceito linguístico. Tal fato acontece quando uma pessoa tenta reprimir, de alguma forma, a maneira como uma pessoa utiliza as demais variantes, deixando-a constrangida e, até, caçoando de sua condição. Sabemos que esse tipo de opressão vem de um passado histórico e elitista colonial, uma vez que nem todos tinham o 13 livre acesso à escolarização e os grupos menos favoráveis baseavam-se, apenas, na linguagem oralizada para se comunicar. Hoje, esse problema ainda persiste, mas é papel das escolas debater esses assuntos e ensinar as demais variantes, mostrando, ainda, que o ensino da língua portuguesa não deve ser impositivo, mas reflexivo sobre o seu uso. Não se esqueça: a ocasião em que o falante se encontra determina o seu modo de fala, podendo ser formal ou informal. Além disso, toda língua é sujeita a variações, é isso que contribui para enriquecer nosso sistema linguístico e criar ou associar novas palavras a diferentes contextos. Quando paramos para ler um texto, percebemos que ele apresenta alguns traços essenciais que o caracterizam, como o público-alvo leitor, o nível de linguagem, o valor conotativo ou denotativo, o caráter subjetivo ou objetivo, a estrutura, dentre outras questões. Cada texto apresenta uma particularidade que o distingue de alguma maneira dos demais e, é nesse sentido, que estudamos os variados gêneros textuais. Trabalhamos o tempo todo com os gêneros textuais e, muitas vezes, nem percebemos os seus principais aspectos. A tirinha, por exemplo, é um gênero em que temos a fusão do texto verbal e não verbal, como também, é dividida em cenas e, em geral, visa transmitir uma mensagem de teor humorístico. No entanto, é necessário explicarmos, em primeiro lugar, a diferença crucial entre tipo textual e o gênero textual. Seguindo a linha de pensamento de Luiz Antônio Marcuschi, importante linguista brasileiro, a tipologia textual abrange as características mais gerais de um texto e se dividem nas seguintes categorias: exposição, argumentação, narração, injunção e descrição. É preciso lembrar que a exposição possui cunho informativo e dissertativo, já a argumentação visa persuadir o interlocutor, a narração está vinculada a cinco elementos narrativos (narrador, personagem, enredo, tempo e espaço). 14 Além disso, o texto injuntivo tem o intuito de sugerir ou aconselhar, enquanto que, o texto descritivo utiliza bastante adjetivos e tem o caráter de detalhamento. Já os gêneros textuais apresentam características sócio comunicativas definidas por conteúdos, com particularidades na estética, no nível de linguagem, na intenção discursiva, no público-alvo, em todo o processo de construção textual. Notícias: texto jornalístico de cunho informativo, impessoal e objetivo sobre ações ou acontecimentos. Artigo de Opinião: texto jornalístico que esclarece o posicionamento do autor sobre determinado tema e problemática. Resenha Crítica: espécie de resumo com comentário opinativo e crítico sobre determinado assunto. Crônicas: narrativa sobre o cotidiano de uma determinada época, podendo ser argumentativa ou não. Horóscopos: texto de caráter informativo e sugestivo sobre as avaliações astrológicas de cada signo. Cartas: mensagem destinada a um determinado destinatário e apresentação do intuito comunicativo. Pode ser carta argumentativa, ao leitor, de reclamação, intimista ou aberta. Sermões: texto de cunho religioso prega a oratória e o intuito moralizador. Receitas Culinárias: textos informativos e injuntivos sobre o passo a passo de como fazer receitas. Editorial: texto de cunho informativo que visa apresentar o ponto de vista de um jornal ou editora sobre um determinado tema ou problemática. Entrevista Jornalística: reprodução escrita de um diálogo ou debate entre entrevistado e entrevistador sobre uma temática. Charges: desenho humorístico, com possibilidade de apresentar ou não textos verbais, e tendo como tema uma visão crítica, humorística, reflexiva sobre um assunto. 15 Tirinhas: pequeno conjunto de história em sequências, sempre na faixa horizontal, com o intuito humorístico, crítico ou reflexivo. Outdoor: anúncio publicitário em forma de cartaz ou painel com intuito persuasivo. Piadas: breve história cujo intuito é produzir o riso, a gargalhada ao interlocutor. Bate-Papo por computador: texto escrito, em geral, com variações sociais, a fim de mostrar a adaptação da linguagem a diferentes meios. É claro que alguns gêneros, por vezes, podem causar confusão de entendimento, como muitas vezes ocorre com o editorial e o artigo de opinião, mas aos poucos, e com a leitura, você vai aprendendo a distingui-los. USO COESIVO DOS PRONOMES E CONJUNÇÕES Ao escrevermos ou lermos um texto, percebemos que existe uma série de elementos coesivos para conectar palavras, orações e deixar o texto mais coerente. Além de estabelecer uma ligação sintática feita pelos conectores, estes também podem indicar determinados valores semânticos. Você deve saber que a conjunção é uma palavra invariável que liga duas orações ou termos de mesma função sintática, quase sempre, atribuindo um papel semântico a eles. Neste sentido, elas dividem-se em dois blocos: conjunções coordenativas e as conjunções subordinativas. A primeira liga orações e termos de sentido independente, já a segunda, liga duas orações, mas uma oração é dependente da oração principal porque exerce a relação de subordinação. As conjunções coordenativas subdividem-se em: Aditivas: apresentam valor de adição, soma. Exemplo: bem como, mas ainda. Alternativas: expressam valor de alternância. 16 Exemplo: Ou..ou, ora...ora. Adversativas: apresentam caráter contraditório, de adversidade. Exemplo: mas, porém, no entanto, em contrapartida. Explicativas: valor semântico de justificativa. Exemplo: que, pois (antes do verbo), porque. Conclusivas: expressam ideias de conclusão. Exemplo: portanto, logo, pois (depois do verbo), assim, por isso. As conjunções subordinativas subdividem-se em: Integrantes: não apresentam papel semântico, são as únicas que apenas estabelecem valor sintático. Exemplo: que,se. Adverbiais: indicam valor circunstancial: Causais: introduzem uma oração que é causa do fato ocorrido na oração principal. Exemplo: porque, que, como (=porque, no início da frase), visto que, porquanto, uma vez que. Concessivas: introduzem uma ideia oposta à da oração principal, mas isso impede a sua ocorrência. Exemplo: embora, ainda que, se bem que, mesmo que, conquanto, posto que. Condicionais: expressam valor de condição. Exemplo: se, caso, desde que, a menos que, contanto. Conformativas: apresentam caráter de conformidade. Exemplo: conforme, segundo, como (=conforme). Comparativas: expressam a noção de comparação. Exemplo: como, tal como, assim como, que nem, tal qual. Consecutivas: introduzem uma oração que expressa consequência da oração principal. Exemplo: de forma que, de modo que. Finais: expressam a ideia de finalidade/objetivo. Exemplo: a fim de que, para que, para, no intuito de. 17 Proporcionais: introduzem uma oração que expressa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrência da principal. Exemplo: à medida que, ao passo que, à proporção que. Temporais: apresentam a noção circunstancial de tempo. Exemplo: quando, enquanto, agora, logo que, depois que, antes que, sempre que, assim que, desde que. Por outro lado, os pronomes são palavras variáveis responsáveis por acompanhar, substituir ou fazer referência ao nome. Há diferentes classificações, mas hoje, somente dois nos interessam: Português Bruna Saad os pronomes demonstrativos e os pronomes relativos, pois esses estão diretamente vinculados a elementos coesivos. Os pronomes possuem a função de substituir um termo ou um nome, em geral, os substantivos. São utilizados ainda para tornar o texto mais dinâmico e evitar a repetição de palavras. Os pronomes demonstrativos têm a função de retomar a uma palavra ou expressão dita anteriormente. Além disso, ele explicitam a posição de determinada palavra em relação ao tempo, espaço ou contexto discursivo. São eles: Pronome demonstrativo de 1ª pessoa: esta(s), este(s), isto se refere a algo que está perto da pessoa que fala. Pronome demonstrativo de 2ª pessoa: essa(s), esse(s), isso se refere a algo que está perto da pessoa com quem se fala. Pronome demonstrativo de 3ª pessoa: aquela(s), aquele(s), aquilo se refere a algo que está distante de quem fala e de quem ouve. Os pronomes relativos também possuem o caráter substitutivo, retomando a um termo anterior e estabelece uma relação entre as duas orações (a principal e a subordinada). É importante relembrar, também, que todo pronome relativo introduz uma oração subordinada adjetiva. São eles: Pronome Relativo Invariável: que, quem, onde. 18 Pronome Relativo Variável: o qual, a qual, os quais, as quais, cujo(s), cuja(s), quanto(s), quanta(s No entanto, muitos artistas sentiam-se presos a moldes tradicionais e há, então, a necessidade de criar uma arte que contemplasse a liberdade de expressão e a criatividade dos artistas, numa tentativa de combater a arte mimética. Surgem, assim, as vanguardas europeias. Bem, o termo vanguarda vem de uma expressão militar, que indica quem vem à frente, quem toma a posição inicial. Tal noção faz com que compreendamos melhor o que eram as vanguardas europeias, que são correntes artísticas criadas ao final do século XIX e início do século XX, com o intuito de promover uma nova perspectiva artística e combater com a arte mimética, que era muito valorizada nos movimentos tradicionais. É importante dizer que essas correntes não aconteceram no Brasil, mas impulsionaram os autores, músicos e artistas da terra tupiniquim a reformularem a visão que esses tinham sobre a arte e, ainda, divulgarem suas novas ideias e percepções a partir da Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo, em 1922. Vejamos, então, as principais vanguardas cobradas nos vestibulares: a) Cubismo: corrente voltada à valorização de imagens simbolizadas a partir de formas geométricas, imagens fragmentadas, de modo a fomentar uma visão mais perspectivada. O maior representante do Cubismo, sem dúvidas, é Pablo Picasso. (Guernica, de Pablo Picasso. ) b) Dadaísmo: corrente mais radical, mostra-se totalmente contrária a todas as influências artísticas da tradição. Utiliza imagens de forma que incitem ao deboche, ao humor, a Literatura Maria Carolina instabilidade do interlocutor. O dadaísmo surgiu a partir do medo e insegurança provocados pela Primeira Guerra Mundial. (Meme da internet com influência dadá) c) Expressionismo: corrente voltada à expressão do mundo interior do artista. Presença de imagens que deformam a realidade e valorização do caráter subjetivo. Destaque para autores como Van Gogh, Paul Klee e Edvard Munch. (Auto retrato, de Vincent Van Gogh) 19 d) Impressionismo: corrente voltada à valorização de imagens sugestivas, saí a ideia de captar a luminosidade do momento e as sombras. Paul Cézanne e Claude Monet são os maiores representantes. Literatura Maria Carolina (Nascer do sol, de Claude Monet) f) Futurismo: corrente influenciada pelas ações progressivas e futuristas da época, valorização da cor cinza e dos automóveis e aviões. Os principais artistas são Fillippo Tommaso Marinetti, Umberto Boccioni e Giacomo Balla. (Velocidade do automóvel, de Giacomo Balla) g) Surrealismo: corrente com influência onírica, arte que mistura a realidade com o irreal, o fictício. O principal autor é Salvador Dalí. Literatura Maria Carolina (A tentação de Santo Antonio, de Salvador Dalí) Perceba que todas essas correntes se diferem entre si, o que mostra a importância da consolidação de liberdade de expressão de cada artista. As vanguardas influenciaram, ainda, o Movimento Modernista, mas essa explicação é para outro dia! Bons estudos! TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS (POESIA) As tendências contemporâneas caracterizam-se pelas manifestações literárias a partir de meados do século XX até os dias atuais. Há uma vasta gama de artistas e autores que exploram diferentes formas de expressão e lirismo. A autora Adélia Prado é um dos grandes nomes da poesia contemporânea. Um dos grandes focos em sua temática é dar destaque para a voz feminina de forma leve e libertadora. Além disso, a autora escrevia poesias em que depositava sua fé cristã e há, também, poesias em que depositava uma maior sensualidade em relação à mulher. Eu quero amor feinho. Amor feinho não olha um pro outro. Uma vez encontrado é igual fé, não teologa mais. Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo e filhos tem os quantos haja. 20 Tudo que não fala, faz. Planta beijo de três cores ao redor da casa e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada. Amor feinho é bom porque não fica velho. Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: Literatura Maria Carolina eu sou homem você é mulher. Amor feinho não tem ilusão, o que ele tem é esperança: eu quero um amor feinho. (Do livro Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 97) A poesia marginal surgiu em um período de repressão nos anos 70: a ditadura militar. Essa manifestação representa a voz das minorias, dos grupos de artistas que nunca foram elevados poesia é dada por textos pequenos e preza pelo apelo visual, como quadrinhos e fotos associados ao texto verbal. Além disso, há a presença de uma linguagem coloquial e de uma temática cotidiana, que visa apresentar um caráter crítico, humorístico ou até erótico. Os grandes representantes são Chacal, Cacaso, Paulo Leminki e Torquato Neto. Minha terra tem palmeiras onde canta o tico-tico. Enquanto isso o sabiá vive comendo o meu fubá. Ficou moderno o Brasil ficou moderno o milagre: a água já não vira vinho, vira direto vinagre. Minha terra tem Palmares memória cala-te já. Peço licença poética Belém capitalPará. Bem, meus prezados senhores dado o avançado da hora errata e efeitos do vinho o poeta sai de fininho. (será mesmo com dois esses que se escreve paçarinho?) (Manoel de Barros) O autor Manoel de Barros também é um dos nomes mais aclamados da poesia contemporânea. Com uma preocupação enorme com a estética do texto, subverteu a sintaxe e escrevia orações na ordem inversa, valorizava neologismos e sinestesias. Sua 21 poesia carrega um caráter onírico e imaginativo, mas também relembra aspectos regionais de sua terra natal, Cuiabá. o autor. Ando muito completo de vazios. Meu órgão de morrer me predomina. Estou sem eternidades. Não posso mais saber quando amanheço ontem. Está rengo de mim o amanhecer. Ouço o tamanho oblíquo de uma folha. Literatura Maria Carolina Atrás do ocaso fervem os insetos. Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino. Essas coisas me mudam para cisco. A minha independência tem algemas. PÓS-MODERNISMO (PROSA) O Pós-Modernismo ou também conhecido como 3ª fase do Modernismo, no século XX, trata-se de um movimento que, devido a liberdade de expressão já consolidada, os autores deste corrente. Cada autor adota um estilo diferente na escrita, sempre prezando pela originalidade. Há dois grandes nomes - na prosa - que se destacam e até hoje são considerados alguns dos grandes representantes da literatura brasileira: Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Provavelmente você já ouviu falar sobre Clarice Lispector. Uma das grandes autoras do Brasil. Conhecida por desenvolver uma narrativa mais intimista e expressiva, dedica-se a um trabalho seletivo com a linguagem, que pode ser observado no uso de pontuações, por exemplo. A autora tenta seguir uma lógica particular e promove a inovação na prosa ao colocar narrador e personagens em novos papéis, fazendo com que o leitor, por vezes, identifique-se com o personagem. Além disso, percebemos em sua narrativa o uso de metáforas com animais e a transgressão do feio como belo, retratando a estranheza como protagonista. 22 Outra questão notável é a sensação de epifania ao ler as suas obras e o predomínio de algumas temáticas, tais como a mulher, os relacionamentos (familiares ou amorosos) e o retirante. (Guimarães Rosa) Já o autor Guimarães Rosa é conhecido por desenvolver uma prosa poética, ou seja, uma narrativa que apresente marcas de musicalidade, ritmo. Seus personagens, geralmente, apresentam um lado místico, acreditam em destino, vida após a morte ou se apegam à religiosidade. Também há uma preocupação com a linguagem muito grande, uma vez que o autor ficou muito famoso por criar neologismos em sua narrativa e apresenta, ainda, uma dupla personalidade entre os personagens, usufruindo do monólogo em sua prosa. Marcas regionalistas e as relações entre o patrão e o empregado fazem parte de sua temática, além do sentido metafórico de travessia, que alude ao percurso e as dificuldades enfrentadas pelos personagens. Leia um trecho abaixo e identifique algumas características da prosa poética de Guimarães: Supremada, muito mais do de dentro, e é só, do que um se pensa: ah, alma absoluta! Decisão de vender alma é afoitez vadia, fantasiado de momento, não tem a obediência legal." (João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas". Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994) MODERNISMO 1ª FASE A 1ª fase Modernista, também conhecida como fase heroica, é considerada de suma importância para a literatura e as outras manifestações de arte, principalmente, porque foi impulsionada após a Semana de Arte Moderna, em 1922. A importância do Modernismo para a construção da identidade brasileira é ímpar. Isso se justifica porque, comparando aos movimentos literários anteriores, do 23 século XIX, nota-se que a forma, a linguagem e a temática ainda estavam muito vinculadas aos modelos europeus. Após a influência das vanguardas europeias, que romperam padrões artísticos e desconstruíram a imagem prototípica do belo, dá-se início à valorização da liberdade de expressão. Influenciados pela criação artística, autores literários brasileiros sentem a necessidade de desenvolver uma poesia mais criativa e voltada para a realidade nacional. Neste sentido, a primeira fase do Modernismo, na poesia, tem o intuito de ajudar a construir de - forma crítica - a identidade nacional. As principais características são: Adoção de versos livres e brancos; Desvio das formas clássicas, como os sonetos; Valorização da linguagem coloquial; Nacionalismo crítico; Pluralidade cultural, fruto da miscigenação; Valorização do cotidiano; Dessacralização da arte; Liberdade artística; Na poesia, os principais autores são Oswald de Andrade (criador do Manifesto Pau Brasil e do Manifesto Antropofágico) e Manuel Bandeira. Já na prosa, destacam-se Mário de Andrade e Antônio de Alcântara Machado. Você conhece o Pré-Modernismo? Diferente das correntes literárias que estamos acostumados a estudar, o pré- modernismo não se trata de um movimento, mas sim de um período de transição entre as características literárias tradicionais do século XIX e as inovações que começam a surgir no século XX. Vamos revisar? =) (Imagem da Guerra de Canudos) 24 Antes da chegada do Movimento Modernista que pregava a liberdade de expressão, vários autores já transitavam, aos poucos, para a inovação temática, formal e linguística. No entanto, as influências do século XIX ainda estavam muito presentes, como a valorização da linguagem culta. A esse período de transição, chamamos de pré-modernismo, momento em que começamos a perceber uma preocupação dos autores em valorizar elementos que constituem a identidade nacional. Neste sentido, o contexto histórico também contribuiu para um maior engajamento social na literatura, uma vez que esse período de transição começou em 1900 e terminou em 1922, ano da Semana de Arte Moderna. Entre os acontecimentos históricos que motivaram uma maior preocupação social no âmbito literário, podemos destacar: A Revolta de Canudos (1896-97), A Revolta da Vacina (1904), a Greve dos Operários (1917) e o período da República Café Com Leite (1894- 1930). Conheça as principais características do pré- modernismo: Preocupação e denúncia social Uso de dialetos regionais nas prosas Linguagem coloquial Literatura Maria Carolina Foco na classe marginalizada Foco na região Nordeste Sincretismo literário Além disso, não podemos esquecer-nos dos autores que mais se destacaram neste momento: João do Rio, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Augusto dos Anjos e Monteiro Lobato. DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO 25 Já falamos um pouco sobre as funções da linguagem e sua relação com os elementos dos atos comunicativos. Agora vamos tentar entender cada uma delas. Para entendermos as funções da linguagem, entretanto, é preciso compreendermos bem a diferença entre dois níveis da linguagem: o denotativo e o conotativo. A palavra tem valor referencial ou denotativo quando é tomada no seu sentido usual ou literal, isto é, aquele que lhe atribuem os dicionários; seu sentido é objetivo, explícito, constante. Ela designa ou denota determinado objeto, referindo-se à realidade palpável. Denotação é a significação objetiva da palavra; é a palavra em “estado de dicionário”, como Drummond afirma no poema que lemos no início desta aula. Além do sentido referencial, literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos, virtuais, conotativos, que podem ser apenas sugestivos, evocando ideias de ordem abstrata, subjetiva. Conotação é a significação subjetiva da palavra; ocorre quando a palavra evoca outras realidades por associações que ela provoca. Exemplo 1 Bolo de arroz Ingredientes 3 xícaras de arroz 1 colher(sopa) de manteiga 1 gema 1 frango 1 cebola picada 1colher (sopa) de molho inglês 1colher (sopa) de farinha de trigo 1 xícara de creme de leite salsa picadinha Prepare o arroz branco, bem solto. Ao mesmo tempo, faça o frango ao molho, bem temperado e saboroso. Quando pronto, retire os pedaços, desosse e desfie. Reserve. Quando o arroz estiver pronto, junte a gema, a manteiga, coloque numa forma de buraco e leve ao forno. No caldo que sobrou do frango, junte a cebola, o 26 molho inglês, a farinha de trigo e leve ao fogo para engrossar. Retire do fogo e junte o creme de leite. Vire o arroz, já assado, num prato. Coloque o frango no meio e despeje por cima o molho. Sirva quente. Na receita exposta no exemplo 1 as palavras têm uma função bem clara, não é mesmo? O texto apresenta um sentido objetivo, explícito, constante; foram usadas denotativamente. Lembrando uma de nossas aulas anteriores, esse texto foi construído fundamentalmente através de uma sequência injuntiva, com a clara intenção de nos dar instruções acerca da elaboração de um prato que podemos saborear. (Nikolaus von Behr). Poeta. Nasceu em Cuiabá, em 1958. Mora em Brasília desde 1974. Em 1977, lançou seu primeiro livro Iogurte com farinha, em mimeógrafo. Em agosto de 1978, após ter escrito Grande circular, Caroço de goiaba e Chá com porrada, foi preso e processado pelo DOPS, sendo julgado e absolvido no ano seguinte. Até 1980, publicou 10 livros mimeografados. A partir deste ano, passou a trabalhar como redator em agências de publicidade. Publicou, entre outros, Viver deveria bastar (2001); Porque construí Brasília (2003); Menino diamantino (2003); Umbigo (2006). Exemplo 2 Receita Ingredientes Dois conflitos de gerações quatro esperanças perdidas três litros de sangue fervido cinco sonhos eróticos duas canções dos Beatles. Modo de Preparar Dissolva os sonhos eróticos nos três litros de sangue fervido e deixe gelar seu coração leve a mistura ao fogo adicionando dois conflitos de gerações às 27 esperanças perdidas corte tudo em pedacinhos e repita com as canções dos Beatles o mesmo processo usado com os sonhos eróticos mas desta vez deixe ferver um pouco mais e mexa até dissolver parte do sangue pode ser substituído por suco de groselha mas os resultados não serão os mesmos sirva o poema simples ou com ilusões (Nicholas Behr) A segunda receita, apresentada no exemplo 2, já não parece tão fácil de ser feita como a anterior, não é? As palavras, nesse texto, apresentam múltiplos sentidos, foram usadas conotativamente. Observa-se que os verbos que ocorrem tanto em uma quanto em outra – dissolver, cortar, juntar, servir, retirar, reservar – são aqueles que costumam ocorrer nas receitas; entretanto, o que faz a diferença são as palavras com as quais os verbos combinam, combinações esperadas no texto do exemplo 1, combinações inusitadas no texto do exemplo O texto do exemplo 2, evidentemente, não é realizável pragmaticamente, ele nos leva, na verdade, a refletir acerca dos conflitos, dos obstáculos e também dos prazeres e das emoções que constituem nossa existência, funcionando como uma espécie de reflexão acerca da vida. Esse texto consegue alcançar o objetivo de suscitar novos significados, porque trabalha a linguagem de forma a sugerir novos sentidos para palavras e expressões. Por isso, ele pode ser considerado um texto cuja função predominante é a função poética. A linguagem é o mais importante meio de comunicação social, já que ela está presente em todas as atividades sociais do homem. Lévi-Strauss, ao unir a linguística à antropologia social e à economia, lança os fundamentos de uma teoria geral da comunicação, refletindo a complexidade de âmbito da linguagem. A linguagem, segundo o filósofo Bühler, tem três funções essenciais: representação, manifestação psíquica e apelo. Como representação, ela é um conjunto de signos (significados e significantes) representativos do mundo cósmico, físico ou moral, procurando objetivar-se como lógica e racional. 28 É a sua função principal, já que pretende simbolizar, por meio de signos linguísticos, os fenômenos que nos afetam. É a concretização dos fatos, ordenando- os dentro de um sistema. Nesta estrutura linguística está o mais importante veículo de comunicação social. Mas a linguagem não é só representativa do mundo exterior ou intelectivo do homem, também é ela a manifestação psíquica de seu mundo interior e subjetivo. Ela denuncia os estados d'alma, as angústias íntimas, o homem enquanto homem. Ao lado do caráter subjetivo da linguagem, surge outra função já de características mais sociais - o apelo, momento em que o indivíduo quer agir sobre o seu semelhante, participando ativamente da vida social. Dificilmente estas três funções aparecem isoladas. A função representativa está presente em todas elas, já que é pela organização e sistematização dos símbolos que o homem se comunica, quer por expressões objetivas, subjetivas ou sociais. Mas, ora uma ora outra é predominante, o que irá caracterizar a sua linguagem naquele espaço de tempo. Fundamentado nesta classificação de Bühler, Bruno 'SnelI aproxima estas funções aos gêneros literários. Para este autor, a função representativa é predominante no gênero épico, a expressiva, no lírico e a apelativa, (de ação) no drama. Com o desenvolvimento da tecnologia e o aparecimento de uma teoria da comunicação, o moderno linguista estruturalista Roman Jakobson ampliou as três funções de BÜhler, adaptando-as ao processo comunicativo. Segundo a ênfase que se quer atribuir a um dos elementos do processo, temos: ao contexto, função referencial (representativa); ao remetente, função emotiva (manifestação psíquica); ao destinatário, função conativa (apelo); ao contato, função fática; ao código, função metalinguística, e à mensagem, função poética. Como vemos na classificação de Jakobson, estão presentes todos os elementos de um processo de comunicação: um remetente, um destinatário, e, entre eles, um contato, ou seja, um canal físico (em particular, para nós, a linguagem), um contexto - o significado abstraído da mensagem, um código, a língua usada, e uma mensagem - a fala, ou seja, a língua executada, objetivada num contexto. Em 29 qualquer uma das funções apresentadas, sem dúvida, a função representativa da linguagem é a mais importante, uma vez que ela é a própria linguagem, mediante seus símbolos representativos e interpretativos da realidade. É ela, pelo seu caráter de estruturadora do pensamento e da própria língua, a base de toda e qualquer função. Por outro lado, falar significa agir sobre o seu semelhante, incentivando-o para ouvi-lo, tentando modificar-lhe o comportamento, envolvendo-o num elo de simpatia, mas, ao mesmo tempo, não é só ele importante, também aquele que fala deixa-se levar por suas emoções pessoais, revelando seu íntimo. Assim as três funções, denunciadas por Bühler, raramente podem apresentar- se isoladas, já que o homem é ao mesmo tempo indivíduo e participante de uma sociedade e, entre ele e a sociedade, a linguagem estabelece o elo de comunicação. A linguagem é o mais importante meio de comunicação social, como já ressaltou Lévi-Strauss e, na escola, pela sua finalidade didática, deverá revelar-se como um processo contínuo e ininterrupto de educação. Quer por sua especificação, consoante a matéria que se ensina, quer por seu alto valor de comunicação social, ela deverá sempre revestir-se de propriedades e cuidados que se transformarão em objetivos educativos mediatos para a vida do educando. A linguagem, como vimos, tem basicamente a função representativa, não a isentando, na complexidade que lhe é inerente, de outras funções como de manifestação psíquica e de apelo. De acordo com a prioridade dada a uma das funções, ela iráclassificar-se como representativa, emotiva ou conativa. A estas três funções essenciais levantadas por Bühler, Jakobson, fundamentado na teoria da comunicação, acrescentou mais três; a fática, a metaling1lística e a poética, como já ressaltamos anteriormente, de acordo com a ênfase dada a um dos elementos do processo comunicativo. Na escola, a linguagem usada pelo professor sofrerá uma variedade, consoante a matéria que leciona. Não se deve perder de vista que, em qualquer que seja a matéria, a linguagem usada será predominantemente representativa, já que é a essência conferida pela semiologia, ou seja, o estudo dos signos, a transmissão de informações. 30 Assim, a linguagem do professor, consoante a teoria da comunicação, estará condicionada à matéria que ministra, subsidiariamente à função representativa. Pelo fato de ele ser um profissional da comunicação, usará de todas as funções inerentes ao processo comunicativo, por intermédio de sua linguagem oral, ao interpelar o aluno (função: apelo) ao fazê-lo participante dos seus processos· psíquicos (função: manifestação psíquica), ou ainda, quando para testar o código e sentir o grau de atenção de seus alunos (função: fática). O próprio código usado variará de acordo com a matéria ministrada. Um professor de matemática possui uma terminologia específica que se distingue da do professor de línguas, um professor de ciências sociais se diferencia de um de ciências físicas através da sua linguagem. Assim também o professor usa de línguas especiais, consoante a matéria que leciona. . Por outro lado, a linguagem usada por um professor para uma turma de 1.a série ginasial difere, na sua complexidade, da usada numa turma de 2.° ciclo. Ajustamos o registro às condições de maturidade e socioculturais do educando. Vimos, portanto, que as características da linguagem estão relacionadas diretamente com o processo de comunicação, no mais amplo e complexo emprego, e a ele a linguagem se conforma, segundo a ênfase que se quer dar a um dos elementos da comunicação, no momento em que se fala. Em qualquer situação, a linguagem tem de revestir-se de correção, propriedade, boa elocução, sobriedade, precisão, clareza e simplicidade, já que são características de uma boa linguagem, ideal de toda e qualquer exposição linguística. Especificar a linguagem mediante adjetivação - ou didática ou publicitária ou radiofônica, entre outras - não irá conferir, quanto à língua, características tão peculiares que as diferenciem entre si; quando muito, apenas refletirá um estilo diferente. Dentro do processo da comunicação, todas estas "linguagens" são predominantemente informativas, ou melhor, têm a função representativa, já que todas têm como objetivo comum informar. Assim falar de uma linguagem didática para a usada pelo professor, na sala de aula, ao expor sua disciplina, não a torna específica ou particular dentro do processo comunicativo. 31 A conotação dada ao termo reflete apenas uma adjetivação relativa ao momento em que é usada, ou aos seus objetivos, mas não a características próprias. Tipicamente didática ela jamais será, porque as características apontadas são comuns a toda e qualquer linguagem, bem empregada oralmente ou escrita. Concluindo, o termo linguagem didática só se justifica com o sinônimo de língua didática; aí sim ela será um tipo especial como a jurídica, médica, militar, entre outras. Suas características estarão diretamente relacionadas com o emprego de termos próprios referentes a sua problemática. Assim como há uma linguagem jurídica e uma literatura jurídica, uma linguagem médica e uma literatura médica, uma linguagem militar e uma literatura militar, poderíamos falar de uma linguagem . Didática e de uma literatura didática. Caracterizam-se estas linguagens e literaturas pelo caráter especifico do assunto de que tratam, numa língua especial, em que termos usados têm significados específicos, muitas vezes divergentes do seu uso cotidiano. Linguagem didática é o conjunto de termos· usados, com conotações específicas, na Didática, para a transmissão dos seus princípios. É a linguagem usada pela Didática para a sua problemática, entre didatas, para discutir seus fundamentos. Assim os demais tipos no processo de comunicação, a' própria comunicação entre profissionais do ensino, pela linguagem, irá revestir-se do caráter predominantemente representativo, como deverá ser, mas que não impedirá de matizar-se de funções emotivas e conativas. LÍNGUA OU LINGUAGEM? Muitas pessoas fazem uma natural confusão entre língua e linguagem. Para evitar esta confusão é útil conhecer o significado de ambas conforme a sua definição léxica. Assim buscaremos, segundo o dicionário Houaiss (2009, p. 464): a) Língua é: *conjunto das palavras e das regras que as combinam, usadas por uma comunidade linguística como principal meio de comunicação e de expressão, falado 32 ou escrito; *o idioma nacional. Sendo assim, a língua não é a linguagem. Aqui no Brasil, a nossa língua é aquela matéria cheia de regras e normas fixas que estudamos na matéria de Gramática, em alguns lugares registrada como “Português”, e em outros como “Comunicação e expressão”. b) Linguagem é: * “o conjunto das palavras e dos métodos de combiná-las usado e compreendido por uma comunidade.” * “capacidade de expressão, esp. Verbal.”. *meio sistemático de expressão de idéias ou sentimentos com o uso de marcas, sinais ou gestos convencionados. *qualquer sistema de símbolos e sinais; código. *linguajar. A linguagem é um fenômeno humano e, por conseguinte, está intrinsecamente relacionada com práticas sociais. Consequentemente, quando perguntamos pelo significado, é fundamental considerarmos o que as pessoas estão fazendo quando usam a linguagem. A forma de linguagem é determinada pelo emissor que por sua vez transmite ao receptor sua mensagem. ORIGEM DA LINGUAGEM Como surgiu, qual sua verdadeira origem? Segundo Eugen Rosenstock – Huessey em seu livro “A origem da linguagem”, surgiu através da imitação, dos gestos. Isso quer dizer que ela possui aquela limitação que é central a qualquer dessas questões: é preciso saber o que queremos dizer por “origem” o que queremos dizer por “origem” da linguagem. (ROSENSTOCK-HUESSEY, 2002, p. 37). Quando se fala em origem da linguagem temos um duplo sentido: a linguagem como capacidade do homem se comunicar, porque se trata de uma 33 propriedade essencial à sua espécie e a outra através das manifestações realizadas por sinais, sejam eles gestuais, fisionômicos ou construídos. São exemplos as fogueiras significantes, o telégrafo de Morse, os atuais semáforos para governar o trânsito nas cidades maiores, a dupla comunicação dos surdos-mudos, através de gestos que significam letras ou dos gestos simbólicos por eles criados e que permitem uma conversa quase tão rápida quanto a nossa. Ribot, na “Evolution des idées générale” diz: “Aperfeiçoar-se pelo esforço de todos a linguagem assim inventada e graças à tradição, que transmite os resultados bem sucedidos; mas ao mesmo tempo, ela se modifica, como tudo que vive; e quando as raças e grupos sociais da humanidade se dividiram e diversificaram, também ela se cindiu em línguas diferentes. Aqui se verifica que a linguagem se comporta como um fato social. (RIBOT, p. 81 apud MELO, 2009). Com o passar do tempo a linguagem evolui. No tempo dos primatas a forma de comunicação não era como nos dias atuais. E assim será ela estará sempre em constante evolução. Através da Linguagem que conseguimos expressar sentimentos, emoções e pensamentos, ela é apenas um instrumento de comunicação entre aqueles que fazem seu uso. A partir do momento em que compreendemos sua utilidade a inseríamos dentro de contextos o que nos dará formas de nos expressar.Por exemplo, não utilizarei a mesma linguagem para me comunicar com todos os seres, depende do meu receptor a maneira adequada de comunicação. Para essa distinção irei fazer uso da Linguagem formal e informal. É fácil distinguir entre os ruídos dos animais, a linguagem formal e a linguagem informal. [...]. A informalidade é uma rebelião contra a formalidade. Nunca pode o “informal” ser chamado de “pré-formal”; isto confundiria tudo. (ROSENSTOCK-HUESSEY, 2002, p. 39) Para cada momento existe uma maneira correta de usar a linguagem, para falar com uma criança, um amigo ou familiar falarei informalmente, meu discurso não será o mesmo utilizado para falar com o prefeito de minha cidade, ou qualquer outra autoridade neste irei fazer uso do discurso formal utilizando melhor minhas palavras. 34 ORIGEM DA LÍNGUA A língua teve sua origem através da linguagem, língua é um tipo de linguagem, uma modalidade expressa através de palavras, utilizada por um grupo de indivíduos que formam uma comunidade. Cada grupo possui sua língua, ou seja, seu mecanismo de comunicação o português, o alemão, entre outras línguas. É através desta língua com seus diferentes signos linguísticos que cada comunidade se comunica. Ribot, na “Evolution des idées générale” diz: “Apesar de todas as diversidades, todas as línguas humanas têm um fundo comum, constituído por certo número de raízes semelhantes. Mas, sobretudo o que por toda parte é idêntico é o próprio pensamento, são as operações intelectuais significadas e sintetizadas em sistemas de verdades científicas: em todos os lugares e sempre, sem grande dificuldade, os homens de todas as raças chegam a compreender-se e a comunicar, uns aos outros, seu patrimônio intelectual, estabelecendo uma equivalência entre suas línguas. A única hipótese explicativa deste fato é a unidade específica da humanidade, estando ligada a diversidade das línguas às diferenças individuais, socializadas pelas raças e as nações.” (RIBOT, p. 81 apud MELO, 2009). Cada língua possui suas particularidades, e seus signos linguísticos determinados por favores históricos, porém desde a mais complexa até a mais simples tem o mesmo objetivo: simplesmente comunicar, o fato de que mesmo diferentes elas fazem parte de um conjunto idêntico. Mas não podemos esquecer que para cada língua existe um conjunto de fatores que as diversificam. ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA A origem da Língua Portuguesa está relacionada com os acontecimentos históricos que se ocorreram na Península Ibérica, não se sabe ao certo quais eram 35 os habitantes antes da chegada dos romanos, entre eles citam-se iberos, celtas, fenícios, gregos e cartagineses, como o tempo deu-se a origem de um novo povo os chamados celtiberos. Mas os fenícios, os gregos e os cartagineses se estabeleceram nas colônias, estes últimos pretendiam apoderar-se da Península os celtiberos pediram ajuda aos romanos. Com a ajuda de Roma os cartagineses dominaram a Península tanto no aspecto político-militar quanto no aspecto cultural, nomeadamente no que respeita à língua. A civilização latina foi-se estabelecendo através da abertura de escolas, construção de estradas e de templos, pela incrementação do comércio, além de outros serviços. Consequentemente, a sua língua, o Latim tornou-se indispensável e obrigatório. “Porém, o Latim dos soldados era o chamado ‘latim vulgar”, não era o mesmo dos escritores. Com isto o povo árabe, ao longo dos mais de sete séculos de ocupação peninsular uma forte influência no chamado galaico-português, expressão linguística comum à Galiza e Portugal. À medida que Portugal alargava os seus domínios para Sul, continuava absorvendo os falares que ali existiam e, consequentemente, estava diferenciando- se do galego, até se constituírem como línguas independentes: o galego acabou por ser absorvido pela unidade castelhana, e o português, continuando a sua evolução, tornar-se-ia a língua de uma nação. LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Pode parecer estranho, mas a linguagem coloquial é apropriada a certos tipos de situação! Isso não quer dizer que esteja em acordo com as regras normativas, pois não está, mas sim a adequação do enunciado de acordo com o contexto. Por exemplo: Suponhamos que uma jovem ligue para a amiga, a fim de convidá-la para sair e diga: Olá Ana, bom dia! Como vai você? Quero convidá-la para passar 36 esta tarde comigo, a fim de que possamos nos divertir no shopping próximo a sua casa. Desfrutaríamos de bons momentos juntas se fôssemos. A fala acima, apesar de não contradizer o padrão culto da língua, não está ajustada à circunstância. Tudo é uma questão da consideração que se faz aos elementos usados no processo da comunicação, logo, emissor e destinatário devem ser analisados. Outro exemplo é falar com uma autoridade da maneira que se fala com um amigo! Imagine um aluno dirigindo-se à professora deste modo: E aí, véi! Cumé que é? Essa prova saí ou não saí? Ce sabe né fessora, tem que estudá, tá ligado?! A situação acima representa até mesmo uma questão de falta de respeito, pois a professora não fala assim e não há intimidade suficiente entre emissor (aluno) e receptor (educador) para esse tratamento. Em consideração à forma escrita, temos como exemplo um bilhete da irmã para a irmã: Fulana, peço-lhe que avise nossa mãe do seguinte: Não irei almoçar em casa hoje, pois tenho muitos afazeres, inclusive uma reunião. Por favor, não deixe de avisá-la, pois não quero causar trabalho desnecessário! Obrigada, Cicrana. Não seria muito mais apropriado se Cicrana escrevesse para Fulana algo do tipo: Mana, avisa a mamãe que não vou almoçar hoje, tenho reunião. Por favor, não esquece, senão ela vai acabar fazendo muita comida! Brigado viu, bjo! Então, tudo depende da circunstância em que se está inserido! Por isso, é importante levar em consideração o assunto tratado, o meio pelo qual a mensagem será transmitida, o contexto (tempo, espaço) e o nível social e cultural do interlocutor (destinatário). Sempre considere o padrão coloquial e culto da língua: o primeiro é usado para a comunicação mais informal, com mais liberdade, sem apego às normas gramaticais. Geralmente, é utilizado no trato com amigos e familiares. Já o segundo manifesta-se pelo emprego das estruturas formais da língua, usada em situações em que se exige a formalidade e regras gramaticais. 37 OS NÍVEIS DE LINGUAGEM Como a comunicação não é regida por normas imutáveis em decorrência de sua interação com a sociedade, ela pode transformar-se através do tempo. Para perceber isto, basta revisitar escritos antigos, ou mesmo nossas cartas e comparar com mensagens de internet enviadas atualmente por nossos filhos. Percebendo a dinamicidade da linguagem, entendida aqui como um processo social mediado pela troca de sentido simbólico (HOHFELDT, 2001), podemos reconhecer num primeiro momento dois tipos de língua: a falada e a escrita, conforme definimos a seguir: São características da Linguagem culta “obediência aos padrões linguísticos, uso de vocabulário variado, eliminação do vulgar, linguagem trabalhada e original”. Já a linguagem coloquial “foge às formalidades e aos requintes gramaticais”, enquanto que o nível vulgar “é espontânea, descontraída e sem preocupação com as formalidades da língua culta” (MEDEIROS 1998, P.40). É importante perceber que cada nível de linguagem, seja na forma falada, seja na escrita, possui um conjunto de códigos próprios, suficientes para que possam produzir sentido simbólico e com isso gerar entendimento entre emissor e receptor. Assim temos para a Língua-Padrão o respeito as normas gramaticais vigentes, o que não acontece na Língua Vulgar, porém em ambas, seus praticantes conseguem entender a mensagem, dada a produção simbólica de seus códigos. Outracaracterística relevante é a capacidade de mutação que ocorre dentro de cada nível de linguagem, pois se a Língua-Padrão modificou-se diversas vezes pelas reformas gramaticais, o mesmo ocorreu com as gírias que são consideradas Língua Grupal por utilizarem um vocabulário fechado e restrito, mas em constante mutação. Isso explica, portanto porque as gírias utilizadas pela juventude dos anos 1970 passariam sem sentido para os jovens da atualidade. Mais um aspecto essencial para a compreensão do processo de comunicação e que está relacionado ao sentido da linguagem refere-se a denotação e a conotação. O sentido denotativo é predominante no nível da Língua Culta e da Língua Padrão, nas expressões falada e escrita respectivamente. É o sentido encontrado nos dicionários e que confere valor real aquilo que se deseja comunicar. 38 Já o sentido conotativo reveste-se de uma complexidade maior, pois trata das diversas acepções que uma palavra pode ter no processo de construção da linguagem. Em Língua Portuguesa, particularmente, este aspecto linguístico tem grande relevância, devida grande quantidade de sinônimos e vocábulos que podem adquirir sentido diferenciado de acordo com a região do falante. A principal forma de não incorrer em erros de interpretação e de não provocar ruídos no processo de comunicação é analisar bem o contexto, pressuposto básico para uma boa comunicação. Na comunicação empresarial, objeto central do nosso estudo, o contexto sempre determina a forma de abordagem e o tipo de linguagem a ser utilizado, com clara predominância da Língua-Padrão, Língua Culta e da Denotação. Os três 'c’ essenciais: clareza, concisão e correção Antes de começarmos a discorrer sobre esses três elementos essenciais na comunicação empresarial vale a pena ressaltar o objetivo principal da escolha destes três aspectos linguísticos entre tantos outros: a interação entre eles. Não se pretende aqui traçar um mosaico com dezenas de subitens necessários ao processo de comunicação na empresa. Estes aspectos formais já estão dados em mais de uma dezena de manuais de redação. Por isso o que pretendemos é demonstrar como três dentre tantos elementos podem contribuir para a melhoria do processo de comunicação na empresa. Isto demonstrado, passamos a discorrer sobre eles. Segundo (MEDEIROS 1998, p.156), clareza “consiste na expressão exata de um pensamento”. Já (LIMA 2005, p.3) traz a clareza como “a fiel observância às regras de gramática ditadas pela tradição clássica da língua”. Das definições apresentadas temos que um texto claro é aquele que utilizando as normas gramaticais vigentes no padrão-culto, consiga expressar de maneira exata aquilo que se pensou. Ou seja, é conseguir transpor uma ideia para a forma escrita de maneira que respeite as normas da língua e se mantenha fiel ao significado original, garantindo total entendimento no fluxo da comunicação. No entanto, alguns erros comuns podem afetar a clareza, assim temos os solecismos que constituem erros de concordância, regência e construção nas frases; as 39 cacografias que são relacionadas ao uso incorreto da ortografia, do hífen e da acentuação e ainda os cruzamentos que consistem na utilização trocada de termos que possui escrita ou pronúncia semelhante (LIMA, 2005). Muitas vezes, na empresa o estilo claro é equivocadamente percebido de forma pejorativa. Muitas instituições ainda cultivam a linguagem excessivamente técnica, cheios de jargões em textos sinuosos e rebuscados. Esta prática está em total desacordo com o novo contexto empresarial da transparência das ações, da responsabilidade social e da participação cidadã. Sobre isso temos que: O excesso de linguagem técnica, antes de afirmar competência, revela superficialidade e desrespeito ao receptor. Portanto, estilo claro é o que evita a ambiguidade, a obscuridade, o pedantismo, a afetação, o esnobismo; o estilo claro significa uso de sintaxe correta e de vocabulário ao alcance do receptor (MEDEIROS 1998, p.156). A utilização de linguagem obscura e imprecisa, além de esconder a superficialidade sobre o tema, pois tenta impressionar pela forma e não pelo conteúdo, pode também obstruir o fluxo e inibir a participação na empresa. Isto ocorre porque o funcionário ao se deparar com um modelo comunicacional excludente, pode implicitamente entender que sua participação deve estar limitada apenas aos momentos específicos demandados pelo superior, e não ao cotidiano da empresa. Sobre a participação no processo de comunicação temos que: Entre as principais características desse processo comunicacional estão: opção política de colocar os meios de comunicação a serviço dos interesses populares; transmissão de conteúdos a partir de novas fontes de informações [...] a participação ativa das pessoas como protagonistas do processo (PERUZZO 2004, p.50). Assim, a dimensão da clareza no processo comunicacional está relacionada não só ao aspecto linguístico, mas também a processos sociais de participação, incluindo coprodução e avaliação por parte do corpo social da empresa. Sobre a concisão, (MEDEIROS 1998, p.157) afirma que “consiste em dizer muito com poucas palavras”. Já (LIMA 2005, p.4) traz que concisão “é a fuga da prolixidade”. Tanto estes, como outros autores que definem o termo concisão como (CEGALLA 2005) ou (FERNANDES 2008) o relacionam com a busca da objetividade na empresa. 40 A concisão é uma das ferramentas mais poderosas para que se obtenha a clareza, estão intimamente relacionadas, pois um texto prolixo, com excesso de adjetivações, pormenores irrelevantes e uso de artigos indefinidos, está longe de ser considerado conciso, tampouco se poderá dizer que obteve clareza. A brevidade daquilo que se quer transmitir é uma qualidade a ser cultivada na empresa, pois muitos programas desenvolvidos, quando passam por uma análise de eficácia, pecam pela falta de objetividade, apesar de apresentar em dada circunstância conteúdo relevante. A impessoalidade é uma característica primordial na comunicação empresarial, e longe de ser confundida com frieza de conteúdo, esta deve ser compreendida como foco total na mensagem a ser passada, e não em floreios secundários. Para se atingir um texto conciso é preciso grande capacidade linguística, diversidade de vocabulário e expressividade. Caso contrário, poderá incorrer no laconismo, o texto que conduz ao vago e simplório, carente de sentido e de conteúdo (MEDEIROS 1998). Escrever de forma concisa é conseguir atrair e manter a atenção do receptor sem cansá-lo com elucubrações é passar a mensagem de forma que se entender o final, sem que se esqueça daquilo que foi dito no começo. No que diz respeito à correção tanto (MEDEIROS 1998), quanto (LIMA 2005) e (CEGALLA 2005) convergem na definição de que “consiste no emprego adequado das normas gramaticais”. Não se pode afirmar que um texto que apresente correção na sua elaboração, possa ser instantaneamente classificado como detentor de clareza. No entanto, a observância da utilização correta das normais gramaticais é um dos componentes mais importantes na obtenção da clareza textual, pois evita a formação de códigos fechados e socializa a informação dentro do vocabulário comum aos falantes de um idioma. Os principais obstáculos à correção são a obscuridade que ocorre quando há acúmulo de elementos numa frase gerando sentido duvidoso; a ambiguidade erro gramatical que leva uma frase a ter duplo sentido e o barbarismo que consiste na escrita de palavras de forma errada, gerando uma palavra bárbara, ou seja, inexistente na língua portuguesa (MEDEIROS 1998, p.152). 41 Outro aspecto que tem contribuído decisivamente para observância de incorreção textual nas empresas é a má utilização dos pronomes oblíquos e dos tempos verbais. Diante disto ainda é comum depararcom pérolas do tipo estaremos enviando e você logo estará recebendo ao invés de enviaremos e você logo receberá; ou então já disse que ele sempre segue ele, no lugar de ele sempre o segue. Se os erros gramaticais geram ambiguidade e obscuridade, afetando o entendimento da mensagem, pode afirmar que apesar da correção não garantia incondicional de clareza textual, esta funciona como premissa, visto que sem correção o texto perde em entendimento, portanto não pode ser considerado claro. Ampliando agora a discussão para além do aspecto linguístico, a ausência de correção pode ter outros efeitos nocivos à empresa, tais como: perda de credibilidade junto aos seus clientes tanto internos quanto externos, pois levará a uma interpretação de falta de capricho na elaboração das mensagens institucionais; dependendo do ramo de atividade da empresa, uma incorreção gramatical pode levar a riscos de acidentes, perdas financeiras ou materiais, etc. A incorporação da clareza, concisão e correção no ambiente comunicacional da empresa é essencial para o êxito dos processos comunicativos partilhados, e isto deve fazer parte da cultura organizacional, não se restringindo a rígidos manuais de redação. É preciso entender o contexto dos apontamentos linguísticos dentro de um processo social e estratégico que envolve o endomarketing, o relacionamento com a imprensa e com os fornecedores e clientes externos. OS TIPOS DE DISCURSO Como já discorremos em outro capítulo, a empresa é o lugar onde convivem rotineiramente diversos saberes e esta diversidade leva a discursos que se pensados de forma fragmentada podem conduzir a uma imensa confusão e perda da identidade empresarial. Em uma mesma instituição podem estar lado a lado o discurso publicitário, administrativo, jornalístico, científico, enfim, cada um com suas concepções e 42 dinâmicas próprias, e nem sempre dispostos a se irmanar na construção de uma comunicação única. É de suma importância que consideremos as especificidades de cada um dos diversos discursos no interior da empresa, pois considerá-los como iguais seria desmerecer sua construção própria de sentido, pois a dinamicidade e criação está para o discurso publicitário como a objetividade está para o discurso científico. Desta forma, o que compete fazer é encontrar quais são os pontos de intersecção destes saberes e fazeres empresariais e a partir daí estabelecer uma direção comum que seja convergente com a missão institucional. Embora seja pacífico dizer que os diversos tipos de discurso na empresa tem como norte a questão da obediência gramatical, isto deve ser feito de forma equilibra conforme nos diz (MEDEIROS 1998, p.26): Embora se apregoe que o texto comercial deva respeitar as regras gramaticais, a utilização de formalismo excessivo pode provocar desinteresse da audiência, enquanto o aproveitamento de expressões coloquiais pode emprestar ao texto certo colorido que estimula a atenção do receptor (MEDEIROS 1998, p.144). No que se refere ao aspecto linguístico há que se discernir entre dois tipos de discurso: o direto caracterizado pela fala visível dos interlocutores e personagens e o indireto no qual a fala dos personagens é informada pelo narrador do texto (CEGALLA, 2005). Em cada campo de atuação empresarial um desses dois discursos vai ter certa prevalência. O discurso direto, por exemplo, é mais utilizado pelo pessoal do marketing, pois confere força ao anúncio. Já a área jurídica da empresa deverá utilizar mais o discurso indireto, pois é comum nestes tipos de documentos a narração de determinado fato e menos usual que este fato venha acompanhado da fala de seu autor. Dentro do universo empresarial, porém, é necessário entender que cada ferramenta só terá sua eficácia desejada se for utilizada no contexto correto. Sendo assim passaremos a analisar a título de amostragem alguns documentos que as empresas utilizam na sua comunicação interna e externa e quais as suas funções. 43 REFERÊNCIAS ANDRADE, Carlos Drummond de Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 1999. BRAGA, Rubem. Receita para mal de amor. In: BRAGA, Rubem. A traição dos elegantes. Rio de Janeiro: Record, 1985. CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. São Paulo: Ática, 1987. FUNÇÕES da linguagem. Disponível em: . Acesso em: 9 maio 2007. LEMINSKI, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 89. PORTUGUÊS: ensino a distância. Disponível em: . Acesso em: 09 maio 2007. CAMPOS, Maria Helena Rabelo. O canto da sereia: uma análise do discurso publicitário. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 1987. CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. 11. ed. São Paulo: Ática, 2002. DE CARVALHO, Nelly. Publicidade: a linguagem da sedução. 3. ed. São Paulo: Ática, 2002. GONZALES, Lucilene. Linguagem publicitária: análise e produção. São Paulo: Arte e Ciência, 2003. JAKOBSON, Roman. Linguística e Poética. In: ____. Linguística e comunicação. Tradução de Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1987. LADEIRA, Julieta de Godoy. Contato imediato com criação de propaganda. 2. ed. São Paulo: Global, 1987. MARCHIONI, Rubens. Criatividade & redação: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2000. MARTINS, Jorge S. Redação publicitária: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997. REBOUL, Olivier. O slogan. Tradução de Ignácio Assis Silva. São Paulo: Cultrix, 1975. 44 SANDMANN, Antônio. A linguagem da propaganda. São Paulo: Contexto, 1993. VEJA, São Paulo, ano 41, n. 26, ed. 2064. 11 de jun. 2008a. VEJA, São Paulo, ano 41, n. 22, ed. 2063. 4 de jun 2008b. VESTERGAARD, Torben; SCHRODER, Kim. A linguagem da propaganda. Tradução de João Alves dos Santos. São Paulo: M. Fontes, 1988.
Compartilhar