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1 TELETRABALHO: HOME OFFICE E OS IMPACTOS APÓS A REFORMA TRABALHISTA TELE WORK: HOME OFFICE AND THE IMPACTS AFTER LABOR REFORM #1 – Cleverton Luiz Padilha Bacharel em Direito pela Faculdade das Indústrias; Graduado em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade das Indústrias; Pós-Graduando - MBA Gestão em Legislação Trabalhista pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas do Paraná - FACET, Curitiba-PR, Brasil E-mail:clevertonlpa@gmail.com #2 - Maurício Bittencourt Bacharel em Administração – FAAP-São Paulo Bacharel em Direito pela Universidade de Guarulhos – SP Pós-graduado em Gestão de Pessoas pela PUC-Pr Professor do Curso Pós-Graduação MBA Gestão em Legislação Trabalhista- Facet, Curitiba-PR, Brasil. E-mail: mauribitten@hotmail.com Resumo Este estudo propõe uma análise da visão geral e atual da modalidade de Home Office, que surgiu diante da globalização, revolução tecnológica e necessidade de resguardo sanitário, o qual é marcado pelo surgimento da pandemia do Coronavírus (COVID-19). Estas mudanças tornam a comunicação e as interações sociais cada vez mais virtuais, mostrando ser importante a adoção de um novo método de trabalho para empresas e empregados. Deste modo, foi adotado pelas empresas o Home Office, permitindo muitas vantagens, dentre elas, a redução de custo de instalações na empresa, maior produtividade e diminuição ao stress de deslocamentos de seus colaboradores, o qual visa à elevação da qualidade de resultados, já para o empregado os fatores aos quais influenciam sua jornada é a motivação e a qualidade de vida. Sendo assim, o Home Office demonstra ser vantajoso para empresa e colaborador tendo um importante papel na atualidade tendendo a permanecer. Esta implementação do Home Office também reflete em efeitos nas relações trabalhistas das quais, serão abordadas por meio da Lei 13.467 de 2017, mais conhecida como reforma trabalhista que alterou e regulamentou as normas dessa modalidade de contratação. Assim, o objetivo geral deste estudo é analisar as vantagens e desvantagens do trabalho remoto e os impactos e adequações na legislação brasileira. Palavras-chave: Trabalho remoto, legislação trabalhista. Abstract This study proposes an analysis of the general and current overview of the Home Office modality, which emerged in the face of globalization, technological revolution and the need for health protection, which is marked by the emergence of the Coronavírus pandemic (COVID-19).These changes make communication and social interactions increasingly virtual, showing that it is important to adopt a new working method for companies and employees. In this way, the Home Office was adopted by the companies, allowing many advantages, among them, the reduction of the cost of installations in the company, greater productivity and reduction to the stress of displacement of its collaborators, which mailto:clevertonlpa@gmail.com mailto:mauribitten@hotmail.com 2 aims to increase the quality of results, already for the employee, the factors that influence his journey are motivation and quality of life. Thus, the Home Office proves to be advantageous for the company and the collaborator, having an important role today, tending to remain. This implementation of the Home Office also reflects on the effects on labor relations, which will be addressed through Law 13,467 of 2017, better known as labor reform that changed and regulated the rules of this type of hiring. Thus, the general objective of this study is to analyze the advantages and disadvantages of remote work and the impacts and adjustments in Brazilian legislation. Keywords: Work remote, labor legislation. 1. Introdução O teletrabalho possui diversas modalidades, dentre elas o home office que é conceitualmente definido como trabalho realizado fora das dependências das organizações, esse conceito de trabalho flexível pode apresentar diferentes conotações, dentre elas a flexibilidade de locais, horários e contrato (Morgan, 2004). Esta modalidade atualmente é evidenciada e muito utilizada, como consequência de grandes marcos históricos como a revolução industrial, avanço tecnológico (Schwab, 2019), crise econômica e sanitária, sendo esta desencadeada pela pandemia do Covid-19. O avanço da revolução 4.0 que teve seu marco inicial na feira industrial de Hannover na Alemanha em 2011, auxiliou na flexibilização das relações de trabalho frente às constantes transformações globais (Schwab, 2019). Esse tipo de labor tornou-se cada vez mais presente na rotina das organizações e trouxe vantagens e desvantagens para empregado e empregador. Entre essas vantagens para a adoção do home office em organizações está a redução de custos dos escritórios (Nilles, 1996; Bentley&Yoong, 2000; Martínez- Sánchez et al., 2007; Patrickson, 2002). Algumas vantagens atribuídas para o empregado é a redução dos custos de deslocamentos e alimentação (Nilles, 1996). Com a incorporação desse regime de trabalho, houve a diminuição do benefício de gestores e trabalhadores da separação do trabalho com a vida pessoal, encontrando o desafio de viabilizar medidas e planejar para executar metas e prazos dentro do convívio familiar (Losekann& Cardoso, 2020). 3 Essas alterações nas modalidades de trabalho demandaram a necessidade de alterações na Consolidação das leis trabalhistas (CLT), essas modificações e adaptações foram significativas na lei 13.467 de 13 de julho de 2017, conhecida como Reforma trabalhista, que consequentemente trouxe relevantes mudanças sociais que refletem em mudanças no mundo jurídico afetando as relações de trabalho. Assim o estudo teve como objetivo analisar os impactos da modalidade de home office na reforma trabalhista, o porque as empresas vem adotando esta nova modalidade e quais são as vantagens e desvantagens para empregados e empregadores. 2. Materiais e métodos Este estudo utiliza o método qualitativo e de caráter descritivo baseado em Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS) ou Revisão Sistemática de Literatura (RSL), esta pesquisa é uma forma de reconhecer, avaliar e interpretar as pesquisas já desenvolvidas, as quais são relevantes a questões da pesquisa (Kitchenham, 2004). Esta metodologia de pesquisa auxilia e contribui por meio de outros estudos a síntese de argumentações contribuindo para conclusões futuras (Tranfield, 2003). Para o levantamento do conteúdo bibliográfico, utilizaram-se plataformas de pesquisas em sites, livros, revistas e artigos científicos. 3. Resultados e Discussão 3.1 Contextos históricos da Revolução Industrial As revoluções normalmente ocorrem quando há necessidade de mudanças frente a novas tecnologias e formas de percepções do mundo, sendo utilizado o termo “revolução” para mudanças rápidas e radicais, das quais, desencadeiam modificações nas estruturas econômicas e sociais. Essas revoluções industriais, conforme Schwab (2019) são classificadas atualmente em quatro tipos de revolução, sendo elas: -Primeira revolução industrial: Foi desencadeada aproximadamente entre os anos de 1760-1840 reconhecida pelo marco inicial da produção mecânica, da qual utilizava máquinas a vapor e construções ferroviárias como principal meio de produção. A relação do trabalhador com o empregado era baseada principalmente na exploração do trabalho e na opressão, tornando essa relação mais dura e menos 4 pessoal, esta revolução trouxe a exploração da mão-de-obra, o controle do tempo pelos patrões e não mais pelos trabalhadores (Oliveira, 2004). -Segunda revolução industrial: Ocorreu no final do século XIX e início do século XX, com advento da eletricidade e da linha de montagem que permitiu a produção em massa de bens de produtos. Nesta revolução os proprietários de fábricas realizaram maior investimento na busca de maiores lucros, ampliando-se a produçãode artigos em série, barateando, desta forma o custo do produto fabricado. A chegada desta revolução, exigiu a especialização extrema de trabalhadores para desenvolver funções específicas dentro da linha de produção (Silva & Gasparin, 2005). -Terceira revolução industrial: Começou na década de 1960, caracterizada pela revolução digital e do computador, sendo esta impulsionada por tecnologia moderna, principalmente pela computação (1970 e 1980) e internet (1990). Nesta revolução o trabalho é dividido em duas vertentes, uma em trabalhadores centrais e periféricos, e a outra em desempregados e excluídos, estas divisões marcam a necessidade do conhecimento e especialização da utilização de tecnologias, o que ocasionou desigualdades de poder pelo saber e controle econômico de grandes empresas, estando presente nos dias atuais como uma importante ferramenta de trabalho (Joffily, 1994). - Quarta revolução industrial (ou Revolução 4.0): Teve seu marco inicial na feira industrial da cidade de Hannover, na Alemanha em 2011, da qual implicou na união dos sistemas físicos e virtuais, que auxiliaram de modo global e flexível na fabricação de produtos, por meio de novos modelos operacionais, essas tecnologias alteraram significativamente as formas de trabalho e sobretudo as relações de trabalho. Essas relações de trabalho, foram diretamente afetadas pela era digital da qual foi viabilizada por meio da internet de alta velocidade, pelos aparelhos móveis e tecnologia de nuvem, auxiliando no impulso da flexibilização do trabalho, permitindo maior comodidade, mobilidade e acessibilidade do trabalhador, que passa a não estar mais limitado a um determinado local físico específico para exercer suas atividades profissionais (CNI, 2017). 3.2. Teletrabalho Diferentemente do trabalho tradicional que normalmente envolve tarefas manuais, o teletrabalho engloba o desenvolvimento de tarefas mais complexas e 5 abrange os setores como: de transmissão e acumulação de informação; investigação; secretariado; consultoria, assistência técnica e auditoria; gestão de recursos, vendas e operações mercantis em geral, desenho, jornalismo, digitação, redação, edição, contabilidade, tradução e também setores de utilização de novas tecnologias, como informática e telecomunicações (Barros, 2011). Na convenção nº177, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), abordou o tema sobre o trabalho em domicílio, conceituando o teletrabalho, como o trabalho realizado na casa do trabalhador ou em qualquer outro local de sua preferência, o qual é desenvolvido em troca de remuneração, a partir de orientações do empregador com a finalidade de produção de produtos ou prestações de serviços dos quais são fornecidos matéria prima ou equipamentos necessários. Segundo Nascimento (2011), o teletrabalho também pode ser definido como sendo aquele cuja execução pode ser realizada em locais diferentes do estabelecimento do empregador, podendo ser na própria residência do trabalhador, do qual utiliza de tecnologias para o desenvolvimento do trabalho. Este tipo de trabalho é classificado para melhor organização, em modalidades conforme Costa (2004, p. 15): - Teletrabalho móvel: realizado por trabalhadores que se encontram em constante movimento, podendo ser por meio de viagens, visitação ou trabalhando em instalações que pertençam aos clientes. Os teletrabalhadores móveis utilizam como ferramenta de trabalho celulares, notebooks, palmtops e são caracterizados por ter o “escritório” ao seu alcance. - Escritório satélite: caracterizados por serem escritórios pertencentes a própria empresa, localizados, normalmente em regiões mais afastadas das grandes cidades ou dos centros, em locais alugados com valor acessível e de fácil acesso para os trabalhadores. - Telecentros (Coworking): são locais dos quais concentram escritórios equipados com recursos de tecnologia importantes para o desenvolvimento do teletrabalho, nestes locais, variadas empresas ou pessoas alugam o espaço por determinado tempo, podendo ser por apenas um dia, uma semana ou o período de tempo de um projeto. - Tele Cottages: surgiu em países escandinavos, sendo caracterizado como uma iniciativa de comunidades para aprimorar a mão-de-obra, incentivar o emprego e estimular a competitividade na economia local, sendo realizada 6 principalmente na Europa. Este trabalho é desenvolvido em locais onde é disponibilizado treinamento e infraestrutura e suporte tecnológico para moradores locais e empresas da comunidade, podendo haver recebimento de auxílio governamental. - Home Office: é quando o espaço de trabalho é transferido de uma sede da empresa e passa a ser executado na residência do teletrabalhador. A modalidade de Home Office A modalidade teletrabalho de Home Office pode ser conceitualmente definida como escritório em casa, ou seja, a atividade é desenvolvida na casa do profissional periodicamente e, de forma constante, podendo ser utilizadas ferramentas de tecnologias como internet, notebooks e celulares. Essa forma de trabalho é considerada flexível porque envolve maior flexibilidade de tempo, espaço e comunicação, sendo considerado não somente um trabalho tecnológico, mas também uma questão que engloba o social e o organizacional (Silva, 2009). Este modelo de trabalho flexível pode ser caracterizado como uma forma resultante de constantes evoluções tecnológicas, que ocorrem no decorrer dos anos. Estas modificações evolutivas, como por exemplo, a constante utilização da internet, permite um novo jeito da prática de trabalho em organizações e também para os empregados (Taschetto & Froehlich, 2019). No mundo todo o Home Office é praticado a mais de cinquenta anos permitindo a prática do trabalho, no qual os trabalhadores deixaram de exercer a profissão em sedes da empresa e passaram a exercer em suas residências e mantendo seus vínculos com a organização. No Brasil, esta nova modalidade de trabalho teve início em empresas privadas, e nos últimos 10 anos passou a ser incorporada em empresas públicas, permitindo que os trabalhadores atuem em variados locais e turnos distintos (Filardi & Castro, 2017; Kugelmass, 1996). A utilização do teletrabalho foi mais aplicada depois da reforma trabalhista, a qual foi reformulada após uma grande crise que afetou diversos setores no Brasil e teve o objetivo de facilitar a negociação de empregados e empregadores. Além da crise econômica, o uso do teletrabalho atualmente foi intensificado após a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), que impactou diretamente os alicerces da sociedade contemporânea, não só nas noções de segurança mas também nas formas 7 de relações humanas e sociais. A crise econômica foi agravada com a pandemia, devido aos impactos diretos e acelerados por consequência das medidas adotadas pelos governos de isolamento total ou parcial da população, sendo estas adotadas como forma de prevenção a maior propagação do vírus. As medidas incluem isolamento e suspensão de atividades presenciais em empresas de pequeno e grande porte, assim, passaram a adotar o trabalho por meio do sistema de teletrabalho (Losekann & Mourão, 2020; Vilanova & Werberich, 2020). Vantagens e desvantagens do Home Office A prática de home office está se tornando cada vez mais presente na rotina das empresas, a adoção da política de home office pode ser uma boa solução para os colaboradores adquirirem a independência, pois, terão que desenvolver certa disciplina e se organizar com suas tarefas, além de ajudar a aumentar o seu bem estar por estar em ambiente familiar. Para as empresas essa prática ajuda com a redução de custos e ganhos de produtividade, havendo assim a necessidade de adoção e aplicação de novas políticas internas, por meio de pesquisas, testes e projetos para adaptação dessa modalidade de contratação.Essa modalidade de teletrabalho gera constantemente diversos debates sobre suas vantagens e desvantagens, deste modo, serão sintetizados (Tabela 1.) o ponto de vista de alguns autores sobre o assunto. Tabela 1. Dispersão de aspectos culturais da empresa, com vantagens e desvantagens sobre o home office. Autores Vantagens Desvantagens Soares (1995) Tremblay (2002) Maleabilidade de horários; Melhoria na produtividade e qualidade do trabalho; Proximidade da família e redução no tempo de deslocamento. Conflito trabalho e vida familiar; Menor desenvolvimento e motivação; Falta treinamento específico; Isolamento social; Tecnologia falha, mais trabalho. Pérez, Sanchez e Carnicer (2007) Autonomia na organização de tarefas; Economia de custos e espaço; Flexibilidade de horários e nas relações de trabalho; Gerenciamento por objetivos; Melhoria da produtividade e qualidade do trabalho; Menor absenteísmo e oportunidade para deficientes. Custos de equipamentos; Dificuldade de desenvolvimento, de motivação e organizacionais; Erros de seleção de tarefa; Isolamento profissional; Mudanças na estrutura organizacional; percepção de perda status e problemas psicológicos. 8 Freitas (2008) Melhor concentração; Refeições em casa e consequente interação com a família; Horários maleáveis; Menor interrupções e maior privacidade; Redução de custos para a empresa e para o empregado; Redução no tempo de deslocamento; Mais segurança e silêncio. Aumento no custo de água e luz do empregado; Dificuldade de controle nas tarefas; Distração com atividades domiciliares; Falta de infraestrutura; Isolamento profissional e social e receio de má avaliação. Barros e Silva (2010) Mais da produtividade; Menos exposição violência e ao stress em deslocamentos; Redução de custos para a empresa e para o empregado e flexibilidade de horários. Conflito trabalho e vida familiar; Falta infraestrutura e supervisão; Isolamento profissional e cobrança. Nohara, Acevedo, Ribeiro et al. (2010) Liberdade na organização de tarefas; Interação maior com a família; Melhoria na qualidade de vida; Menos stress em deslocamentos e redução no tempo de deslocamento. Dificuldade em separar trabalho e vida familiar; Dificuldade no controle de atividades; Ausência de reconhecimento de colegas de trabalho, interação e supervisão; aumento de trabalho. Boscatte (2010) Melhoria de qualidade de vida e produtividade; Menor taxa de faltas e redução de custo empregado. Gaspar, Bellini, Donaire et al. (2014) Nogueira e Patini (2012) Autonomia para organizar tarefas; Flexibilidade de horários; Maior interação familiar e planejamento das atividades; Melhor qualidade e produtividade no trabalho; Menor stress em deslocamentos e redução de custos do empregado na empresa. Dificuldade de controle e de avaliação de desempenho; Falta de infraestrutura e isolamento profissional. Costa (2013) Liberdade para organizar tarefas e flexibilidade de horários. Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; Aumento na qualidade de vida e Diminuição no tempo de deslocamento. Dificuldade em separar trabalho e vida familiar; Dificuldade no desenvolvimento sem auxílio e supervisão; Isolamento social; Maior exigência, e necessidade de montar estrutura em casa. Mello, Santos, Shoitiet al. (2014) Melhoria na qualidade de vida; na produtividade e qualidade do trabalho; Vagas oportunas para pessoas com deficiência e Diminuição de custos com água e luzpara a empresa. Hislop, Axtell, Collins et al. (2015) Liberdade para organizar tarefas; Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e flexibilidade de horários. Isolamento social. Eom (2016) Equilíbrio no trabalho e na vida pessoal do trabalhador; Melhores resultados, produtividade; Diminuição do tempo de deslocamento e da poluição dos carros. Isolamento profissional e social e Dificuldade na adaptação aoteletrabalho. 9 Villarinho e Paschoal (2016) Melhor bem-estar dos indivíduos, Maior produtividade; Menor interrupções, stress e tempo em deslocamentos até o local de trabalho. Afastamento social e Tecnologia precária. Aderaldo, Aderaldo e Lima (2017) Crescimento profissional dos jovens. Fragilidade e desequilíbrio da carga de trabalho. Fonte: Adaptada de Filardiet. al., 2020. Como o home office vem se tornando uma tendência mundial no universo trabalhista, é importante observar as vantagens e desvantagens para a realização do trabalho remoto para a organização e estar atento a possibilidade de associar o perfil comportamental dos integrantes da equipe com o home office, com a finalidade de indicar perfis com melhor possibilidade de adaptação, tornando assim este regime de labor positivo para empregado e empregador. 4. Direito do trabalho No Brasil, o primeiro grande marco do direito brasileiro foi a partir de 1888, com a abolição da escravatura. Isto porque na impossibilidade de escravizar índios, passou- se a escravizar negros africanos que chagavam ao Brasil por meio de colonizadores portugueses que os enviavam, após a abolição passou-se a contratar europeus livres para trabalhar de forma remunerada (Dallari, 1993). O período compreendido entre os anos 1888 a 1930 teve uma expressiva importância na evolução dos direitos trabalhistas no Brasil, esse período é caracterizado pelo surgimento das primeiras normas trabalhistas, como por exemplo a Lei nº 1.313 de 1891, que regulamentou o trabalho de indivíduos menores de dezoito anos (Godinho, 2015). A partir de 1930 a 1945, o governo do presidente Getúlio Vargas criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, o qual permitiu dar forma a nova política trabalhista, que somente em 1999 passou a ser chamado de Ministério do Trabalho, do qual foi atribuída a função de fiscalização e modernização de diretrizes brasileiras (Gomes, 2007). A consolidação das leis trabalhistas- CLT, foi criada através do Decreto nº 5.492 de 01 de maio de 1943, que reuniu leis esparsas decorrentes da relação de emprego, 10 através do Decreto nº1.237 de 02 de maio de 1939 e se deu a criação da Justiça do Trabalho, modificando algumas leis e criando outras, através das mudanças sociais, da qual permitiu o surgimento do Home Office como uma relação de emprego (Brasil, 1943). Outro histórico acontecimento foi a Constituição de 1988 ao qual é atribuída importante modificação nos direitos trabalhistas, como por exemplo, a igualdade e a inviolabilidade do direito à vida, segurança e a propriedade. São direitos atribuídos ao trabalhador a melhoria de condição social, proibição de distinção entre trabalhos ou entre os profissionais (Brasil, 1988). 4.1 Impactos do teletrabalho na Reforma Trabalhista O direito do trabalho é caracterizado por ser bastante dinâmico, e por mudar com frequência as condições de trabalho, sendo este dinamismo atrelado a questões econômicas (Martins, 2013). De acordo com Fincato e Bitencourt (2014, p.414), a utilização de tecnologias propiciadas como resultado da globalização, permitiu o surgimento de diversos tipos de relações, incluindo as trabalhistas, com o surgimento de novas formas de prestações de serviços. Com a crise econômica e a consequente mudança nas formas de prestações de serviços, houve a necessidade de mudanças nas leis trabalhistas, assim, por meio da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, conhecida como Reforma Trabalhista foi introduzida na Consolidação das leis trabalhistas (CLT), uma regulamentação da matéria, apresentando um conceito e impactando as relações jurídicas que trata a matéria. Desta forma, a Reforma Trabalhista alterou e revogou variados dispositivos do decreto- lei 5.452, de 01 de maio de 1943 (CLT), a partir de novembro de 2017, das quais surgiram com potencial de influência em rotinas de trabalho principalmente em organizações voltadas a tecnologia.Assim, o regime de teletrabalho foi regulamentado com a reforma trabalhista, modelo esse que trata da prestação de serviços fora das dependências do empregador, conforme a Lei 13.467/2017 que dispõe em seus artigos específicos: “Art. 75-A.A prestação de serviços pelo empregado em regime de teletrabalho observará o disposto neste Capítulo. Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização 11 de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo. Parágrafo único. O comparecimento às dependências do empregador, para a realização de atividades específicas que exijam a presença do empregado no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletrabalho. Art. 75- C. A prestação de serviços na modalidade de teletrabalho deverá constar expressamente do contrato individual de trabalho, que especificará as atividades que serão realizadas pelo empregado. §1० Poderá ser realizada a alteração entre regime presencial e de teletrabalho desde que haja mútuo acordo entre as partes, registrando em aditivo contratual. §2० Poderá ser realizada a alteração do regime de teletrabalho para o presencial por determinação do empregador, garantindo prazo de transição mínimo de quinze dias, com correspondente registro em aditivo contratual. Art. 75-D. As disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito. Parágrafo único. As utilidades mencionadas no caput deste artigo não integram a remuneração do empregado. Art. 75- E. O empregador deverá instruir os empregados, de maneira expressa e ostensiva, quanto às precauções a tomar a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho”, (Brasil, 2017). Visando esclarecer as mudanças da Reforma Trabalhista, serão analisados a seguir os artigos da Lei citada anteriormente, com a finalidade de explanar as alterações, impactos e aplicações do teletrabalho. No artigo 75-A, criou-se um capítulo específico para tratar sobre o teletrabalho, evidenciando a importância desta atividade para o desenvolvimento organizacional. O artigo 75-B e seu parágrafo único define categoricamente o conceito de teletrabalho, distinguindo este do trabalho externo, em que o empregado só consegue realizar seu trabalho fora das dependências da empresa, como por exemplo, instalador de televisão a cabo por assinatura. Com relação ao teletrabalho, mesmo que o empregado precise esporadicamente comparecer a sede da empresa, este permanece vigente. É criada no artigo 75-C, a obrigação da criação de instrumento contratual, o qual é assinado por ambas às partes e define o regime de Home Office, ou seja, deve ser especificado em contrato que o labor será realizado de forma remota e assinado por empregado e empregador. Seus parágrafos 1° e 2° dispõe sobre a alteração do regime presencial para teletrabalho se houver concordância entre ambas as partes cabíveis, porém, o empregador poderá, respeitando o prazo de quinze dias reverter o regime remoto para presencial. 12 No artigo 75-D e em seu parágrafo único, é reforçada a importância das definições de responsabilidades sobre eventuais custos no exercício do teletrabalho em contrato. Estes eventuais custos não compõem a remuneração do empregado. Em seu artigo 75-E e seu parágrafo único a lei busca estabelecer ao empregador suas responsabilidades em relação a proteção à saúde do empregado, ordenando que haja instrução ao empregado a respeito de doenças e prevenção de acidentes. Ainda conforme disposto no artigo 62 da Lei 13.467/2017, que versa a respeito da jornada de trabalho: “Art. 62 - Não são abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: I - os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no registro de empregados; II - os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gestão, aos quais se equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores e chefes de departamento ou filial. III - os empregados em regime de teletrabalho. Parágrafo único - O regime previsto neste capítulo será aplicável aos empregados mencionados no inciso II deste artigo, quando o salário do cargo de confiança, compreendendo a gratificação de função, se houver, for inferior ao valor do respectivo salário efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento)”, (Brasil, 2017). Como podemos analisar no inciso III supracitado acima, exclui-se o empregado que trabalha remotamente do regime de controle de jornada. Ou seja, aquele que laborar em teletrabalho não terá benefício como adicional noturno, hora extra e intrajornadas. Vale salientar que com a nova redação da reforma trabalhista as orientações doutrinárias não se vinculam a posição dos magistrados, podendo haver possibilidade de entendimentos diversos, o que precisará de tempo até que haja um posicionamento consolidado nos tribunais. Desta forma, a reforma trabalhista especificou e detalhou procedimentos em relação à prestação de serviço laboral remoto, por meio do teletrabalho, para empregadores e empregados, assegurando assim uma legislação condizente com essa nova modalidade de prestação de serviços, requerida cada vez mais nas organizações brasileiras. 13 5. Conclusão Amplamente adotada, a modalidade do home office passou a ser evidenciada a partir da reforma trabalhista e da crise econômica brasileira e sanitária advinda da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19). Este modelo de trabalho permitiu mesmo com a crise econômica brasileira, a manutenção do emprego e por consequência a prevenção de doenças por se tratar de um segmento de trabalho que pode ser realizado de forma remota. Essa evolução na utilização do teletrabalho ocasionou inúmeros impactos, sociais e jurídicos para empregados e empresas do regime de home office após a reforma trabalhista. Embora algumas desvantagens sejam inerentes ao trabalho, como não conseguir treinar adequadamente seus colaboradores, e também para os profissionais o fato de não conseguir separar vida pessoal da vida profissional, para esta modalidade de labor são atribuídas diversas vantagens como menores custos para o empregador e, para o empregado maior interação e proximidade com a família, além de um ambiente mais aconchegante e acolhedor, se sobrepondo as desvantagens. Portanto, este estudo evidencia que esta nova modalidade de trabalho tende a permanecer, coexistindo desta forma com trabalhos presenciais. Referências: BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2011. BENTLEY K. & YOONG P. Knowledge work and telework: an exploratory study. Internet Research: Electronic Networking Applications and Policy, v.10, n.4, p.346- 356, 2000. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 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