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Empresarial I - Sociedade empresária

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DIREITO EMPRESARIAL I
DIREITO CAMBIÁRIO E CONTRATOS EMPRESARIAIS
5.1. Introdução ao Direito Cambiário: Direito Cambiário é a parte especial do Direito Empresarial que trata da circulação de riquezas através de títulos de crédito, estabelecendo direitos e obrigações entre as pessoas que o subscrevem, de acordo com as leis, costumes e princípios predominantemente empresariais. 
5.2. Título de Crédito: É um documento formal, representativo de dívida líquida e certa, com força executiva, de circulação desvinculada do negócio original (Art. 887 do CC), tendo como características: 
 Documentabilidade: Sempre é um documento (original). 
 Força Executiva: Tem força idêntica a uma sentença judicial. 
 Literalidade: Vale o que está escrito. 
 Formalismo: Prevalece os requisitos formais. 
 Solidariedade: Cada um dos coobrigados pode a ser chamado a responder pela totalidade da dívida. 
 Inoponibilidade de exceções pessoais: É a impossibilidade de apresentar defesa contra o terceiro de boa-fé, podendo o devedor argüir, no entanto, as seguintes exceções: defeito na forma do título; falsidade da própria assinatura; conteúdo literal; vício de capacidade; vício de representação. 
5.3. Título Incompleto: Se o título for preenchido de forma incompleta ou sacado em branco, pode ser preenchido pelo beneficiário, desde que antes da apresentação. Pressupõe a existência de contrato de preenchimento, mas o favorecido não pode preencher abusivamente (Art. 891 do CC). 
5.4. Título Extraviado/Destruído: O credor tem legitimidade para requerer que o devedor não pague o título a quem indevidamente o possuir, bem como pleitear a substituição do referido título. 
5.5. Formas do Título: O título de crédito pode ser nominativo (indica o nome do beneficiário) ou ao portador (o título pode ser transferido sem a necessidade de endosso). A partir da Lei 8.021/1990, foi proibida a emissão de títulos de crédito ao portador, exceto cheques de até R$ 100,00 (Lei 9.069/95). 
5.6. Intervenientes: O título de crédito envolve vários sujeitos, a saber:
 
 Emitente: É o sujeito que dá origem ao crédito, geralmente é o devedor, mas pode ser credor em alguns títulos(ex.: Duplicata, Letra de Câmbio). 
 Sacado: Devedor do título. 
 Sacador: É o emitente que ordena o pagamento do título ou se declara credor deste. 
 Tomador: Favorecido/beneficiário do crédito. 
 Endossante: Aquele que transfere o título e, ao mesmo tempo, assume a solvabilidade do título. 
 Endossatário: favorecido indicado no endosso. 
 Avalista: Garante o pagamento do título. 
5.7. Títulos Próprios (Cambiais): São aqueles que conferem o direito ao portador exigir pagamento em moeda corrente, como ocorre na duplicata, na letra de câmbio e na nota promissória. Além do mais, preenchem os requisitos dos títulos de crédito (autonomia, abstração, força executiva, etc). 
5.8. Títulos Próprios (Cambiaformes): Não preenchem plenamente os requisitos dos títulos de crédito ou sequer traduzem uma operação creditícia, conferindo ao portador direito de propriedade de certos bens ou à prestação de serviços. Vejamos alguns títulos cambiaformes: 
 Títulos de Financiamento: Oriundos de financiamento concedido por instituições financeiras, a exemplo de: Cédula Rural Pignoratícia (penhor de safra, animais, equipamentos, etc); Cédula Rural Hipotecária (quando o imóvel rural é dado como garantia); Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária (penhor reforçado com a hipoteca); Nota de Crédito Rural (garantia pessoal). As operações industriais e comerciais são efetuadas através de Cédulas (penhor, hipoteca ou alienação fiduciária) ou Notas de Crédito (garantia pessoal). 
 Títulos Representativos: Representam mercadorias depositadas em armazém gerais: Conhecimento de Depósito que representa a posse do documento e o “warrant”, que representa o domínio real da mercadoria. O segundo título é facultativo (se não for emitido o conhecimento de depósito terá duplo efeito). Temos também o conhecimento de frete (ou de transporte) que é emitido pela transportadora e serve para provar o recebimento da mercadoria e a obrigação de entregá-la no lugar de destino.
 Títulos de Legitimação: Conferem aos detentores o direito à prestação de serviços ou o ingresso em espetáculos artísticos ou desportivos (bilhete de metrô, bilhete de passagem de transporte, ingressos para cinemas, teatros, estádios, etc). 
5.9. Aceite e Apresentação: Todo título de crédito deve ser apresentado ao sacado para que proceda o pagamento no seu vencimento. 
Alguns, a exemplo da Duplicata e da Letra de Câmbio, que são emitidos pelo credor, devem ser encaminhados previamente ao devedor para que aceite (reconheça a existência da dívida). 
A falta de aceite ou de pagamento autoriza o credor a promover o protesto do título. 
5.10. Aval e Fiança: O aval é uma garantia pessoal dada em título de crédito, enquanto que a fiança é dada em contrato. Se a obrigação do avalizado for anulada, o aval continuará a ser exigido, enquanto que na fiança a garantia também desaparecerá se o contrato for considerado nulo. 
No que diz respeito à garantia fidejussória representada pelo aval, as novas regras estabelecidas pelo Código Civil (2002) alteraram a rotina das operações comerciais com a vedação do aval parcial (Art. 897, § único) e da necessidade de se obter o consentimento do cônjuge na prestação do aval, exceto os casados no regime da separação de bens (Art. 1.647, II). 
A proibição do aval parcial é uma novidade introduzida pelo atual Código, que, entretanto, não pode ser entendida de forma genérica. 
É importante lembrar que Tratados e Convenções Internacionais, dos quais o Brasil é signatário, devem ser respeitados. A Lei Uniforme de Genebra (Decreto 57.663/66) admite a possibilidade da garantia do aval ser prestada de forma parcial. 
Essa é uma regra ditada por lei especial, devendo ser analisada em conjunto com aquela ditada pelo Artigo 903 do Novo Código Civil, que ressalva a validade das normas vigentes em leis especiais no que diz respeito à regência dos Títulos de Crédito. 
Portanto, é razoável admitir que se tratando de Título de Crédito representado por Letra de Câmbio ou Nota Promissória, a prestação do aval parcial continua sendo permitida, valendo a nova regra para os demais títulos (proibição do aval parcial). 
Quanto à falta de outorga do cônjuge/companheiro, não torna o aval inválido, apenas exclui a meação do consorte em eventual processo de execução. 
5.11. Endosso: Ocorre quando o favorecido transfere o título para outra pessoa. O endosso também tem a finalidade de garantir a solvabilidade do título (quem endossa também assume condição similar à do avalista). 
O endosso pode ser em preto (quando o endossante indica o nome do endossatário) ou em branco (transformando um título nominativo em ao portador – isso somente é possível em se tratando de cheque até R$ 100,00).
O título pode ser endossado várias vezes, exceto o cheque (que somente admite um endosso – Lei 9.311/1996, que instituiu a CPMF, prorrogada até 31.12.2007 pela Emenda Constitucional 37, de 12.06.2002). 
Existe, ainda, o endosso-impróprio, ou seja, o ato que não transfere a propriedade do título ou não garante a sua liquidez:
 Endosso-Mandato (procuração), quando o beneficiário entrega o título para que uma empresa especializada ou um estabelecimento bancário faça a cobrança. 
 Endosso-Caução, o credor entrega o título apenas como garantia de pagamento de uma dívida contraída; 
 Endosso-Póstumo (posterior, tardio), aquele que é subscrito após fluir o prazo para fazer o protesto necessário do título, transferindo a propriedade sem garantir a liquidez. 
5.12. Protesto: É a apresentação pública do título. O protesto pode ser facultativo, necessário ou especial. 
Não é necessário protestar o título para executar o devedor principal (sacado) e seu(s) avalista(s), sendo facultativo o protesto. 
O protesto necessário é uma formalidade indispensável para que o credor possa executar os demaiscoobrigados (sacador e endossantes), devendo ser feito no 1o dia útil após ao vencimento do título ou da recusa ao aceite (no caso das duplicatas o prazo é de até 30 dias corridos). A apresentação do cheque ao banco equivale ao protesto necessário.
 
Existe, ainda, o protesto especial para que seja possível requerer a falência de devedor empresário (Art. 94, I, da Lei 11.101/2005), inclusive de cheques devolvidos. 
5.13. Ação Cambial Direta (Execução do Título): Em geral o credor de um título de crédito poderá executar o devedor principal e seu(s) avalistas no prazo de três anos, a contar do vencimento ou do protesto por falta de aceite, ou os demais coobrigados (endossantes) no prazo de um ano a contar do protesto (necessário). 
A decretação de falência de sacado empresário resultará na antecipação de vencimento do título de crédito, devendo o credor habilitar o seu crédito (quirografário) no processo falimentar. Em relação ao(s) avalista(s) e demais coobrigados (endossantes) os efeitos da antecipação não serão considerados, em face da autonomia dos títulos de crédito. 
No caso do cheque o prazo é de seis meses, a contar do término da apresentação do título. 
Se o credor não iniciar a execução no prazo, o crédito estará prescrito enquanto título executivo. Nada impedirá que o credor promova a ação de enriquecimento ilícito contra o devedor (em alguns casos corre-se o risco de prescrever também esse direito). 
5.14. Ação Cambial Indireta (Ação de Regresso): O avalista ou endossante que pagar o título de crédito terá o prazo de seis meses, a contar do pagamento ou da citação na ação cambial direta (Art. 70, in fine, do Decreto 57.663/1966) para promover a ação regressiva contra os demais coobrigados. 
5.15. Letra de Câmbio: É uma ordem de pagamento que o emitente (sacador) dá ao sacado (aceitante) em favor do tomador (beneficiário, que pode ser terceiro ou o próprio emitente) - Decreto 57.663/1966. 
O aceite não é obrigatório. Se o sacado não reconhecer a validade do título, o favorecido (tomador) poderá responsabilizar (executar) o emitente, protestando o título por falta de aceite e provocando o seu vencimento antecipado. Nesta hipótese, o emitente será considerado como devedor principal (sacado). 
Se a letra for aceita, o emitente será equiparado ao endossante, sendo necessário protestar o título no 1º dia útil após o vencimento. 
A Letra de Câmbio pode ser à vista ou a prazo. Sendo à vista o protesto (necessário) deve ser feito no 2º dia útil da aceitação do título, considerando que a prática empresarial concede 24 horas para pagamento de título à vista a partir da apresentação para pagamento. 
5.16. Nota Promissória: É uma promessa de pagamento pela qual alguém (emitente) se obriga a pagar certa soma de dinheiro ao beneficiário (sacador) - Decreto 57.663/1966. 
O título não precisa de aceite, posto que é emitido pelo próprio devedor. 
5.17. Duplicata: Título emitido pelo vendedor ou prestador de serviço (sacador) com base em fatura representativa de contrato com prazo não inferior a 30 dias. Requer escrituração em livro especial (Registro de Duplicatas) devidamente autenticado pela Junta Comercial (Lei 5.474/1968). 
Deve ser submetida ao aceite do comprador da mercadoria ou tomador do serviço (sacado). 
O aceite é obrigatório, somente poderá ser recusado se a mercadoria não tiver sido entregue ou foi entregue com defeito ou, no caso de serviço, este não foi prestado ou foi prestado com defeito. 
A duplicata simulada é uma prática criminosa (pena: de 2 a 4 anos de detenção e multa). A lei admite a duplicata de prestação de serviço. 
5.18. Cheque: É uma ordem de pagamento à vista, sobre quantia determinada emitida contra um banco, com base em provisão de fundos depositados pelo emitente ou oriundos de abertura de crédito (Lei 7.357/1985). 
O cheque é pagável a vista, considerando-se não escrita qualquer menção em contrário. 
Deve ser apresentado no prazo de 30 dias (na praça) e 60 dias (fora da praça). 
Se o favorecido não apresentar o cheque no prazo, perderá o direito de executar os demais coobrigados. Quanto ao emitente, também perderá se este possuía disponibilidade de fundos no prazo da apresentação e deixou de existir por motivos alheios à sua vontade (falência, falecimento,doença, etc). 
Vejamos algumas espécies de cheque: 
 Cheque Pré-Datado: Se for apresentado antes do prazo de vencimento deverá ser pago ou devolvido com a expressão “sem fundos”, em virtude do cheque ser uma ordem de pagamento a vista. O STJ tem o entendimento de que há um “contrato de confiança” entre o emitente e o favorecido, reconhecendo que é devida a indenização por danos morais em caso de inclusão do correntista no cadastro de emitentes de cheques sem fundos do Banco Central. 
 Cheque Cruzado: O cruzamento do cheque torna segura a liquidação de cheques ao portador, um vez que cruzado o título, será possível identificar a pessoa que resgatou o cheque. Identifica-se o pela aposição de dois traços paralelos no anverso do cheque. Se contiver a indicação de determinado banco (cruzamento em preto), apenas neste deverá ser depositado. Se o cruzamento for em branco, o cheque poderá ser depositado em qualquer instituição financeira. 
 Cheque Escritural: Também chamado crediconta. Não pode ser pago em dinheiro. Não pode ser endossado. 
 Cheque Garantido: Com diversas denominações, tais como cheque ouro, cheque especial, cheque azul, etc, têm como característica básica o fato de poderem ser pagos em valor superior à provisão de fundos. Resultam de um contrato de abertura de crédito. Alguns bancos também garante valor por folha, independentemente de fundos ou do emitente ter utilizado todo o crédito concedido pela abertura de crédito. 
 Cheque Visado: A pedido do emitente o banco pode lançar e assinar, no verso do cheque, certificando que o cheque possui disponibilidade de fundos. Imediatamente, o banco procede o débito na conta do emitente e reserva a importância em conta especial em favor do beneficiário. 
 Cheque Administrativo: Também chamado cheque bancário, ou cheque de direção, tal cheque é emitido pelo próprio banco, a pedido de qualquer pessoa, correntista ou não. Também pode ser utilizado para pagamento de compromissos do próprio banco. 
 Cheque Turismo: Os traveller´s check são cheques vendidos pelos bancos com importâncias fixas. Devem ser assinados por duas vezes: na aquisição e na liquidação. A liquidação pode ocorrer no Brasil ou no exterior, em estabelecimentos bancários ou em casas de câmbio (alguns estabelecimentos credenciados também aceitam o cheque de viagem).
Finalmente, o correntista poderá sustar ou contra-ordenar o cheque. 
Na sustação, o emitente somente poderá fazê-lo se possuir motivos relevantes. O Banco Central admite que a sustação seja realizada provisoriamente, no prazo de 2 dias, através de telefone, internet, fax, etc, devendo o correntista comparecer ao banco para confirmar pessoalmente. Em caso de roubo, furto ou extravio, o correntista deverá entregar ao banco o boletim de ocorrência policial (Art. 36 da Lei 7.357/1985). 
Na Contra-Ordem (revogação do cheque),é necessário que o emitente declare as suas razões, produzindo efeitos após o término do prazo de apresentação (Art. 36 da Lei 7.357/1985). 
5.19. Títulos Representativos: São títulos que representam mercadorias depositadas em armazém gerais ou em trânsito: 
 Conhecimento de Depósito: Emitido (obrigatoriamente) por armazém geral, representa a posse do documento. 
 “Warrant”: Também emitido por armazém geral, representa o domínio real da mercadoria, mas a sua emissão é facultativa (se não for emitido o conhecimento de depósito terá duplo efeito). 
 Conhecimento de Frete (ou de Transporte): Emitido por transportadora e serve para provar o recebimento da mercadoria e a obrigação de entrega-la no lugar de destino. 
5.20. Títulos de Financiamento: São títulos oriundos de financiamentos concedidos por instituições financeiras. Nas operações rurais (Decreto-lei 167/1967) são emitidos os seguintes: Cédula Rural Pignoratícia: Penhor de safra, animais, equipamentos, etc. 
 Cédula Rural Hipotecária: Quando o imóvel rural é dado como garantia. 
 Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária: Penhor reforçado com a hipoteca. 
 Nota de Crédito Rural: Garantia pessoal. 
As operações industriais e comerciais são efetuadas através de Cédulas (penhor, hipoteca ou alienação fiduciária) ou Notas de Crédito (garantia pessoal) específicas (Decreto-lei 413/1969 e Lei 6.840/1980). 
5.21. Títulos de Legitimação: Também denominados de títulos inominados ou signos ao portador, garantem a prestação de serviços (passagens aéreas, bilhetes de metrô, transporte coletivo, etc) ou acesso a espetáculos públicos (ingressos para cinemas, teatros, estádios, etc).
5.22 Contratos Empresariais: Os contratos nascem com a manifestação tácita ou expressa das partes, contemplando seus interesses, nos limites da função social do contrato e na observância dos princípios de probidade e boa-fé. 
Rigorosamente, a manifestação da vontade não é simultânea, pois uma das partes toma a iniciativa (proposta ou oferta), manifestando-se em seguida a outra parte (aceitação). A aceitação pode ocorrer imediatamente após à oferta ou com certo espaço de tempo. 
A proposta passa a obrigar o proponente quando, formulada sem prazo, for imediatamente aceita pela pessoa presente. O Código Civil considera presente a pessoa que contrata por telefone ou por outro meio semelhante (Art. 428, I). 
Obriga-se também o proponente em relação ao destinatário da proposta feita ao ausente se este manifestar o seu aceite no prazo estabelecido ou, se a proposta não tiver prazo, proposta quando o destinatário da proposta aceita em prazo razoável. Se for concedido prazo ao presente, a aceitação será tratada como feita à pessoa ausente. 
O Código Civil elegeu a teoria da expedição para aperfeiçoar a formação do contrato (Art. 434), desconsiderando as teorias da agnição (data da aceitação) e da recepção (recebimento da aceitação). 
Podemos assim classificar os contratos: 
 Mercantis (empresariais stricto senso), Civis e Consumeristas: Os primeiros são aqueles pactuados em relação à atividade fim dos empresários, exceto nas relações de consumo, enquanto que os segundos são vinculados a atividades fora do comércio e os últimos quando envolver relação de consumo (proteção especial pelo Código de Defesa do Consumidor). 
 Consensuais e Reais: Os contratos consensuais se tornam perfeito com o simples consentimento (contrato de compra e venda), na medida que os reais dependerão da tradição (real) para se tornarem perfeitos (contrato de depósito mercantil). 
 Unilaterais e Bilaterais: Todo contrato é bilateral na formação, mas pode ser unilateral nos efeitos. Entende-se como unilateral o contrato que impõe obrigações apenas para uma das partes (mútuo mercantil) e bilateral aquele que estabelece obrigações para ambas as partes (compra e venda mercantil). 
 Gratuitos e Onerosos: Nos contratos gratuitos resulta vantagem apenas para uma das partes, havendo proveito econômico para ambas as partes nos contratos onerosos (os contratos empresariais são onerosos por natureza, reduzindo a gratuidade nos contratos acessórios). 
 Principais e Acessórios: Os contratos principais existem independentemente de outro liame, mas os acessórios ficam subordinados a outros (é o caso do penhor mercantil que serve como garantia). O acessório, ainda que tenha natureza civil, acompanha a natureza mercantil do contrato principal.
 Comutativos e Aleatórios: Quando as obrigações das partes são certas (compra e venda mercantil, por exemplo, onde deve haver a transferência de domínio da coisa e o pagamento do preço) os contratos são comutativos, mas quando a obrigação depende de acontecimento futuro e incerto (compra e venda de safra) é aleatório. 
 Solenes e Não-Solenes: Solenes são aqueles que dependem de uma formalidade para que possam se aperfeiçoar (escritura pública na compra de imóveis). Já os não-solenes podem ser provados por todos os meios de provas no Direito. 
 Típicos e Atípicos: Os contratos que estão nominados na legislação são considerados como típicos, enquanto os atípicos são oriundos das práticas negociais (no Direito Empresarial é muito comum o surgimento de contratos atípicos ou adaptados, a exemplo do factoring, da franquia, do know how, do cartão de crédito. 
A extinção do contrato pode ocorrer por várias maneiras: 
 Cumprimento Espontâneo (Pagamento): Uma vez cumpridas todas as obrigações assumidas pelas partes, o contrato produz plenamente os fins almejados, extinguindo-se. 
 Extinção pelo Não-Cumprimento (Resolução): A parte prejudica da pode por fim a relação contratual, exigindo a reparação dos prejuízos que lhe forem causados por culpa do devedor (Art. 475 do CC). 
 Extinção pelo Impossibilidade de Cumprimento (Resolução Involuntária): Fatos supervenientes como força maior ou caso fortuito podem resultar na extinção contratual, mas não há a obrigatoriedade de reparar prejuízos, salvo quando o devedor assumiu expressamente os riscos de sua ocorrência (Art. 393 do CC). 
 Extinção por Excesso de Onerosidade: Com base na teoria da imprevisão (rebus sic stantibus), nos contratos comutativos, a parte que estiver prejudica pelo fato da obrigação se tornar excessivamente onerosa, poderá requerer a resolução do contrato, mas os efeitos da sentença que a decretar retroagirá à data da citação (Art. 478 do CC). 
 Extinção por Vontade das Partes (Resilição): O contrato pode ser extinto por iniciativa de uma das partes (resilição unilateral) ou por ambas (resilição bilateral). Dá-se o nome de distrato a resilição por acordo entre as partes que devem fazer pela mesma forma exigida para o contrato (Art. 472 do CC). Na resilição unilateral a parte deve pagar a multa penal convencionada e, a depender da natureza do contrato, a denúncia (resilição) somente produzirá efeitos depois de transcorrido prazo compatível com o vulto dos investimentos feitos pela outra parte (Art. 473 do CC). 
 Extinção pela Morte do Devedor (Cessação): A morte do devedor não faz a obrigação desaparecer, salvo quando se tratar de obrigações personalíssimas (intuitu personae). 
 Extinção por Justa Causa (Rescisão): A parte lesada pode pleitear a rescisão do contrato e exigir reparação pelos danos causados pela parte que lhe causou danos em virtude de práticas desleais ou abusivas. 
5.23. Contratos Empresariais: São ajustes de vontade feitos por duas ou mais pessoas, regulando entre si uma relação jurídica de índole patrimonial em razão dos interesses de uma ou mais organizações empresárias, para produção ou circulação de bens e/ou serviços. 
No sentido amplo, todos os contratos firmados em razão dos interesses do empresário são empresarias, pouco importando a natureza (civil, trabalhista, administrativo ou consumerista). 
No entanto, em sentido restrito, o Direito Empresarial tem como estudo os contratos firmados partes empresárias e ainda em razão de suas atividades econômicas diretas (mercantis e serviços). 
Embora a terminologia mercantil esteja vinculada à circulação de mercadorias, a expressão contratos mercantis é mais específica para retratar os negócios relativos à atividade fim do empresário, também podendo denominá-los de contratos comerciais, considerando o sentido amplo da terminologia contratos empresariais. 
5.24. Contrato de Compra e Venda Mercantil: É um pacto bilateral, consensual e oneroso, onde o vendedor (geralmente empresário) obriga-se a transmitir o domínio de certa coisa móvel ou semovente (mercadoria), enquanto o comprador (necessariamente empresário) compromete-se pelo pagamento do preço em dinheiro, destinando o objeto à sua atividade econômica (revenda para outros empresários ou consumidores), inclusive fazendo incidir ICMS ou Supersimples. É regido pelos Arts. 481 a 532 do CC, mais demais normas do Direito Empresarial. 
É a principal modalidade de contrato empresarial, a compra e venda mercantil possibilita a circulação de riquezas na economia(remuneração do capital, postos de trabalho, tributos, etc), além de ser matriz para a formação de outros negócios, a exemplo de transporte, seguro, distribuição, faturização, cartão de crédito, consumo, trabalho, etc. 
O vendedor deve entregar no prazo e pelo modo estipulado, sob pena de responder pelas perdas e danos (independentemente de cláusula penal). Se a coisa for consumida, alienada ou deteriorada antes da entrega, pagará o valor arbitrado, com base no uso que o comprador dela pretendia fazer, abatendo-se o preço se ainda não foi pago. 
O comprador deve ser responsabilizado pelo não pagamento do valor, não podendo recusar a coisa, salvo motivo justo. Tem o prazo de 10 dias para reclamar defeitos. Não é permitido o arrependimento, exceto quando há pena convencional para ambas as partes. Somente pode exigir a entrega sem o pagamento se a venda for a crédito (Art. 491 CC). 
A venda a crédito possibilita a emissão de duplicatas pelo vendedor (Lei 5.474/1968). 
Nas vendas a crédito, o vendedor poderá exigir caução se o comprador tornar-se insolvente (presumida pela existência de títulos protestados ou outros indícios legais), antes da entrega (Art. 495 CC). 
Se for decretada a falência do comprador (insolvência de direito) a mercadoria somente será entregue se o comprador, antes do pedido de falência, tiver revendido a mercadoria (sem fraude) à vista da fatura e do conhecimento de transporte (Art. 119, I, da Lei 11.101/2005), mas receberá seu crédito da massa falida (crédito extraconcursal). Se a mercadoria tiver sido entregue até 15 dias antes do pedido de falência, o vendedor requerer a devolução da mercadoria, se ainda não alienada. Se alienada, será restituído em dinheiro (Art. 86, I, da Lei 11.101/2005). 
Quando a venda é realizada sob amostra, protótipos ou modelos, prevalecerá a coisa deixada pelo vendedor no estabelecimento do comprador sobre a descrição do objeto no contrato (Art. 484 do CC). 
Temos, ainda, no meio empresarial a venda a contento (condicional) que somente se tornará perfeita após a manifestação do agrado pelo comprador, no prazo convencionado (Art. 509 do CC). O critério é subjetivo, mas o agrado do empresário (intermediário) é indireto, pois ele considera a aceitação do produto pelos seus consumidores. Não havendo prazo, será necessária a intimação do comprador (judicial ou extrajudicialmente). 
A venda sujeita a prova também é condicional, mas o critério para aceitação pelo comprador é objetivo, pois deverá ter um prazo para comprovar as qualidades asseguradas pelo vendedor (Art. 510 do CC). 
A tradição (entrega da coisa vendida) deve se dá no local da venda, salvo estipulação em contrário. Pode ser real ou ficta (através de conhecimento de frete ou de depósito). As despesas da tradição correm por contra do comprador, salvo acordo. 
No Direito Empresarial Internacional foram criadas as Cláusulas Incoterms, destacando-se as seguintes: 
 FOB: o frete, o seguro e as despesas correrão por conta do comprador a partir da entrega da mercadoria no porto de origem (onde ocorre a tradição); 
 CIF: o frete, o seguro e as despesas correrão por conta do vendedor até a entrega da mercadoria no porto de destino (local da tradição). 
5.25. Estimatório (Consignação): O contrato estimatório não é uma mera modalidade de compra e venda mercantil (venda sob consignação). Trata-se de contrato autônomo, porém faculta à conversão em compra e venda mercantil. O consignante (empresário) entrega mercadoria ao consignatário (empresário), que fica autorizado a (re)vendê-los, pagando o preco ajustado ou restituir a coisa consignada no prazo estabelecido (Arts. 534 a 537 do CC).
O consignante tem o direito à restituição da coisa ou receber o preço convencionado, responsabilizando pelo frete e pelo seguro, inclusive se a coisa for restituída, enquanto o consignatário deve restituir a mercadoria ou pagar o preço, mas assume os risco pela coisa, ainda que opor fato a ele não imputável. 
5.26. Mandato Mercantil: Ocorre quando o mandante (empresário) confia a outra pessoa (mandatário) a gestão de seus negócios, agindo e obrigando-se o mandatário em nome daquele (mandante).
O objeto deve ser lícito (Arts. 653 a 691 CC). Os poderes devem ser expressamente conferidos. Quando for verbal, abrangerá tão somente atos de gerência conexos e conseqüentes, mas não atos que exigem poderes especiais. É sempre oneroso, ao contrário do mandato civil que, de regra, é gratuito. 
Pode ser substabelecido, se for previsto no contrato. O terceiro de boa fé poderá acionar o mandante quando o mandatário agir com excesso de poder, embora possa mover ação regressiva contra este. 
Extingue-se por revogação (pelo mandante), renúncia (do mandatário), morte ou interdição do mandante (se pessoa física) ou do mandatário (pessoa física), bem como a conclusão do negócio ou expiração do mandato. 
Para administrar uma empresa, o administrador deve ter a ata de nomeação registrada na Junta Comercial, não podendo recair a escolha em pessoa impedida de empresariar (falido não reabilitado, estrangeiro não residente, funcionário público, leiloeiro, etc), como se vê no Art. 1.062 do C.Civil (sociedade limitada) e Art. 146 da Lei 6.404/1976 (sociedade anônima). 
5.27. Comissão Mercantil: Ao contrário do mandato, não existe a representação, pois o comissário (empresário) realiza o negócio em nome próprio, desonerando o comitente (empresário, ainda que de fato) perante terceiros (Arts. 693 a 709 CC). 
O comissário que se afastar das instruções recebidas responderá por perdas e danos ao comitente, salvo quando houver motivo justificável (vantagem parta o comitente, ratificação, etc). O comissário é responsável pela guarda e conservação dos bens do comitente, fazendo jus à remuneração (percentual sobre as vendas). 
O comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem contratou, se estas eram idôneas ao tempo do contrato (Art. 697 do CC). Pode ser responsabilizado (objetivamente) pela insolvência dos devedores (nas vendas a crédito) se do contrato constar cláusula Del credere (neste caso a remuneração do comissário será mais elevada). 
5.28. Representação Comercial: Representante comercial autônomo é uma pessoa física ou jurídica que sem relação de subordinação hierárquica trabalhista desempenha em caráter não eventual, por conta do proponente (empresário) a mediação de negócios, fazendo jus à remuneração. 
É regida pela Lei 4.886/65 (8.420/92), devendo o representante ser registrado no Conselho Regional, subscrevendo contrato com exclusividade ou não. Aplica-se, subsidiariamente, as regras dos artigos 710 a 721 do Código Civil, que trata da Agência e da Distribuição. Os honorários do representantes são equiparados aos créditos trabalhistas (strico senso) no caso de insolvência do proponente (falência). 
5.29. Depósito Mercantil: Trata-se de contrato onde o depositário (armazém geral) recebe coisa móvel (mercadoria), para guardar (conservar) até que o depositante (empresário) a reclame. 
Geralmente é pactuado, no meio empresarial, na modalidade irregular, onde não é necessário devolver a mesma coisa depositada, desde que o faça por outra coisa fungível: mesmo gênero, quantidade e qualidade.
As despesas correm por conta do depositante, de acordo com as tarifas estabelecidas pelo depositário em seu regulamento (registrado na Junta Comercial). O depositário pode exercer o direito de retenção quando o depositante não cumprir com as suas obrigações. 
O depositário (armazém geral) emitirá conhecimento de depósito (obrigatório) que pode ser cedido para terceiros (mediante endosso). Se for emitido o warrant (facultativo) o depositário somente fará a entrega da coisa depositada mediante a entrega dos dois documentos (conhecimento de depósito e warrant). 
Em caso de falência do depositante, o depositário não poderá exercer o seu direito de retenção e seu crédito terá natureza de privilégio especial (receberá depois dos créditos extraconcursais, dos trabalhistas, dos acidentários, dos reais e dos tributários). 
O depósitomercantil é regido pelo Código Civil (Arts. 627 a 652), pelo Decreto 1.102/1902 e Lei 2.313/1954, além de princípios e costumes empresariais. Pode ser civil ou consumerista a depender da natureza do depositante. 
5.30.Frete: O transportador (empresário) se obriga a transportar, de um lugar para outro, coisas (mercadorias) do remetente (empresário) para o destinatário (empresário), mediante remuneração. 
A transportadora emitirá conhecimento de transporte, em favor do destinatário, que pode ser o remetente ou terceiro (o que é mais comum). 
O valor do conhecimento de transporte limita a responsabilidade do transportador. 
Em caso de impedimento de prosseguir a viagem, o transportador deve solicitar instruções do remetente. Se a impossibilidade de seguir viagem decorrer de culpa do transportador (negligência, por exemplo), responderá pelos danos que causar (para evitar perecimento, poderá vender a coisa de acordo com as regras de mercado). 
Se não tiver culpa, poderá vender, obedecendo os costumes locais, prestando contas ao destinatário. 
Geralmente as depesas correm por conta do destinatário, conforme tenha sido pactuada cláusula FOB ou CIF (incoterms), adaptando-se ao transporte doméstico (nacional) no que couber. 
As transportadoras devem obedecer as normas regulamentares da permissão ou concessão pública, sendo regido pelos Arts.730 a 756 do CC, além de costumes e princípios empresariais. 
5.31. Seguro: É uma modalidade contratual onde uma empresa (seguradora) assume a obrigação de ressarcir prejuízo sofrido por outrem (segurado), garantindo interesse ou capital, de acordo com os termos da apólice/bilhete de seguro, mediante recebimento de prêmio (remuneração). 
É um contrato consensual e aleatório (embora alguns autores entendem que a seguradora não corre riscos), sendo que as seguradoras devem ser constituídas sob forma de sociedades anônimas).
No seguro mercantil, o objeto é garantir o risco sobre mercadorias do empresário, até o limite do valor venal, em dois momentos distintos: no transporte, pelo valor da aquisição, enquanto que no estoque pelo valor de revenda (média de mercado). 
Haverá perda da garantia quando o segurado prestar informações falsas, bem como não pagar o prêmio (não purgado antes do sinistro). 
A diminuição do risco não acarreta na redução do prêmio pago, salvo disposição em contrário, salvo quando a redução for considerável, o segurado poderá exigir a revisão do prêmio. 
As seguradoras são fiscalizadas pela SUSEP (Superintendência das Seguradoras Privadas), autarquia federal. 
5.32. Resseguro: Ocorre resseguro quando uma seguradora assume total ou parcialmente os riscos de outra (geralmente é o Instituto de Resseguros do Brasil, uma sociedade de economia mista). 
É regulado pelo Decreto-Lei 73/1966, bem como artigos 757 a 802 do Código Civil. 
5.33. Agência e Distribuição: O agente é um empresário e tem papel semelhante ao do representante comercial, agindo como intermediário entre o fabricante e o consumidor, diferindo do representante no fato deste intermediar dois empresários (fabricante e comerciante) e não dispor da mercadoria para pronta entrega ou entrega em menor lapso temporal. 
Geralmente, o fabricante (proponente) disponibiliza produto nos moldes do contrato estimatório (que adquire natureza de contrato acessório), mas o agente não tem a liberdade de revender a mercadoria pelo preço que achar conveniente (o preço é tabelado pelo fabricante, que concede desconto ao agente em patamar superior ao da representação comercial). É regido pelos Arts. 710 a 721 do CC, mais costumes e princípios empresariais. 
Na distribuição, o distribuidor (empresário) é dotado de estrutura (logística) para armazenagem e distribuição (direta) dos produtos do proponente (fabricante), incidindo as mesmas normas do contrato de agência (o CC denomina como “agência e distribuição”, quando apenas similares). 
O distribuidor difere do agente pelo fato de circular mercadoria em grande quantidade e ser intermediário entre o fabricante e outros empresários (atacadistas ou comerciantes), possuindo estrutura para entregar a imediata entrega da mercadoria ao comprador ou em menor espaço de tempo que faria o proponente (fabricante). 
A comissão (remuneração) do distribuidor é bem elevada que a dos agentes, pois geralmente contrata representantes comerciais para agilizar os negócios do proponente. 
Quando a mercadoria é transferida pelo fabricante para o distribuidor no mesmo Estado, não haverá incidência de ICMS (ainda não ocorreu a circulação de mercadorias/venda).
Quando a mercadoria é vendida (pelo distribuidor) ao atacadista ou comerciante, haverá incidência de ICMS sobre o valor da operação (no mesmo Estado), mas será exigida antecipação pelo valor estimado de revenda quando vendida para atacadista ou comerciante de outro Estado. 
5.34. Franquia Empresarial (Franchising): Sistema pelo qual o franqueador (empresário) cede ao franqueado (empresário) o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva, bem como eventualmente ao uso de tecnologia, mediante remuneração direta ou indireta (royalties). 
É um contrato híbrido (a Lei 8.955/1994 dispõe acerca dos direitos básicos das partes), envolvendo cessão de direitos; licença de marcas; prestação de serviços; compra e venda; distribuição, etc. Deve ser averbado no INPI . 
O franqueador deve passar todas as informações necessárias ao franqueado, através da Circular de Oferta de Franquia (taxa de publicidade, território, Layout , etc). 
O franqueado deverá comercializar exclusivamente produtos do franqueador, bem como adquirir matéria prima indicada, utilizar equipamentos aprovados, cobrar os preços fixados, pagar pela utilização da franquia, formar e preparar o pessoal dentro dos padrões, não havendo solidariedade tributária e trabalhista entre as partes. 
5.35. Segredo Industrial (know how): O contrato de know-how é uma convenção o detentor (empresário) de um segredo industrial transfere este bem imaterial ao beneficiário (empresário), mediante pagamento de royalties. 
Pode ser principal (kow-how puro) onde apenas é cedido o segredo, cabendo ao beneficiário explorar a sua própria marca, ou acessório (de franchising), onde é cedido conjuntamente com a marca do franqueador. 
O beneficiário deve se obrigar a guardar o segredo, sob pena de pagar multa estabelecida no contrato. Depois de extinto o contrato, deve abster-se de aproveitar do segredo ou revelá-lo a terceiros, sob pena de violar propriedade imaterial do detentor. 
O contrato deve ser registrado no INPI quando envolver franquia de marca ou de patente, mas no que diz respeito ao segredo não pode haver publicização. 
Modalidade atípica, aplicando-se no que couber as regras do contrato de franquia. 
5.36. Trespasse: É a transferência de estabelecimento comercial (alienação ou arrendamento) feito pelo alienante/arrendante (titular do estabelcimento) a outro empresário (adquirente). 
O estabelecimento é o conjunto de bens corpóreos e incorpóreos que garante, em última instância, os credores, inclusive o Fisco. O Art. 1.145 do CC estabelece que é dever do alienante, quando não possuir patrimônio restante para pagar todos os seus credores, pagar a estes ou obter o consentimento (considera-se autorizado se não houver a manifestação no prazo de 30 dias da notificação). 
O Art. 1.144 só considera válido o contrato, em relação a terceiros, depois de averbado na Junta Comercial.
O adquirente, em qualquer caso, responderá pelo passivo existente, desde que regulamente contabilizados, ficando o devedor primitivo solidário até um ano, a contar da publicação. Se o vendedor não entregar contabilidade regular o adquirente é solidário ad infinitum (enquanto não prescrever a obrigação) a este, pois praticou conduta ilegal. 
O Art. 133 do CTN estabelece que o adquirente responderá integralmente se o alienante deixar de exercer a sua atividade comercial. Se o vendedor continuar ou iniciar novo negócio, no prazo de 6 meses, o compradorserá responsável subsidiário. 
Em se tratando de arrendamento, a lei é omissa quanto à responsabilidade do arrendante/arrendatário. Numa interpretação sistemática, o entendimento é que a responsabilidade do arrendário é subsidiaria em relação às dívidas existentes até a data do negócio e o arrendante responderá subsidiariamente em relação às dívidas em função das atividades do arrendatário. 
Se o estabelecimento for adquirido em processo de falência ou recuperação, não haverá responsabilidade do sucessor (Lei 11.101/2005). 
Finalmente, não podemos confundir alteração do quadro social de uma sociedade empresária (alteração subjetiva do contrato social) com trespasse, pois a titularidade da organização não foi modificada (mesma pessoa jurídica, com novos sócios). 
5.37. Arrendamento Mercantil (Leasing): Disciplinado pela Lei 6.099/1974, é o negócio realizado pelo arrendador (empresário) e o arrendatário (empresário ou não) que tenha por objeto o arrendamento de bens (móveis ou imóveis) adquiridos pela arrendadora. 
Trata-se de um contrato complexo, misto de locação, financiamento e compra e venda e relação de consumo (quando o destinatário não for empresário). 
O arrendatário tem três opções: a) comprar o bem alugado, consistindo os aluguéis pagos em solução antecipada do preço, obrigando-se a pagar apenas o restante do preço; b) devolução do bem; c) renovação do arrendamento. 
O arrendamento pode ser financeiro ou operacional. O financeiro deve ser de no mínimo 2 anos para bens de até 5 anos de vida útil e de 3 anos para os demais bens. 
Existe nesta modalidade o leasing back (arrendamento de retorno), onde o arrendatário vende o imóvel para o arrendante e faz o leasing do bem. 
No leasing financeiro as despesas para manutenção do bem arrendado correm por conta do arrendatário, mas no leasing operacional são de encargo do arrendante. 
Em caso de falência do arrendatário, caberá ao administrador judicial optar pela continuidade do contrato, hipótese em que o bem será arrecadado em favor da massa (pagando-se o crédito em favor do arrendador antes dos demais créditos) ou devolver o bem (nessa hipótese o arrendatário passará a ser um credor comum e somente receberá o saldo a seu favor, se houver, depois dos credores preferenciais). 
5.38. Cartão de Crédito: Conjunto de relações jurídicas instrumentais destinado a otimizar os negócios pela simplificação e segurança que confere às transações. 
É uma evolução na prática das relações de troca e de consumo. Com efeito, enseja ao consumidor realizar operações mercantis ou de serviços sem ter que oferecer garantias e abrevia os riscos do vendedor. 
É um instrumento de pagamento imediato, substituindo o cheque, proporcionando relações jurídicas interdependentes. 
 Empresa Emissora/Administradora/Instituição Financeira (percepção de juros e taxas a serem cobradas do fornecedor); 
 Titular do Crédito (não necessita de talonário nem dinheiro para comprar; pode parcelar a compra); 
 Fornecedor/Vendedor (garantia de pagamento e poderá financiar as vendas). 
A natureza do cartão é complexa: contrato de financiamento (emissor/titular); compra e venda (titular/fornecedor); cessão de crédito(fornecedor/emissor); prestação de serviços(emissor/titular e emissor/fornecedor). 
5.39. Faturização (Factoring): Contrato de fomento, misto de compra e venda, desconto e cessão de crédito, pelo qual o faturizado (empresário) vende ao faturizador (empresário) o seu faturamento a prazo, total ou parcial, sem garantir o pagamento dos créditos transferidos. 
É um exemplo de costumes e princípios que revogam a solidaridade pelo endosso dos títulos cedidos. O endosso no factoring é impróprio (com a cláusula sem garantia). 
Quem assume os riscos é o faturizador, salvo quando há vícios redibitórios do serviço ou da mercadoria, ou quando a duplicata é fraudulenta. 
As empresas de factoringn não são instituições financeiras (Lei 4.595/1964), mas são autorizadas e fiscalizadas pelo Banco Central. 
O Factoring pode ser Convencional (antecipação) ou Matury Factoring (sem antecipação). 
Apesar de ser um contrato atípico, entende-se que o factoring deve ser realizado a partir da emissão de duplicatas (compra e venda a crédito entre empresários). 
Caso o empresário venda ao consumidor, através de cheques, estes devem ser repassados a uma financeira (para realização de mútuo ao consumidor, CDC) e não à faturizadora. 
5.40. Alienação Fiduciária: Na alienação fiduciária o fiduciante (devedor) obtém financiamento para aquisição de bem móvel (agora é possível de imóvel também), alienando o bem como garantia do financiamento ao fiduciário (credor) - chamado de proprietário fiduciário, tendo por base legal as leis 4.728/1965 (mercado de Capitais) e 9.514/1997 (Imóveis). 
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O devedor fiduciante também é chamado de devedor alienante. Deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos (em geral), junto ao Detran (veículos) ou Cartório de Registro de Imóveis (bens imóveis). 
Em caso de falência do devedor, caberá ao administrador judicial optar pela continuidade do contrato, hipótese em que o bem será arrecadado em favor da massa (pagando-se o crédito em favor do arrendador antes dos demais créditos) ou devolver o bem (nessa hipótese o arrendatário passará a ser um credor real, que deve receber seu crédito após aos créditos extraconcursais, acidentários e trabalhistas). 
5.41. Contratos Bancários (strico senso): O sistema financeiro nacional é regido pela Lei 4.595/1964 e disciplina contratos específicos praticados pelas instituições financeiras. 
Os contratos bancários são denominados de operações bancárias e são sigilosos por força do Art. 5º, incisos X e XII, da Constituição Federal. 
As operações bancárias são classificadas em passivas, ativas e acessórias: 
 Depósito Bancário: É o principal contrato passivo das instituições financeiras, onde o depositário (banco) recebe valores monetários do depositante (cliente), obrigando-se a restituí-los quando solicitados. Não se confunde com o depósito mercantil, pois os bancos podem dispor dos recursos depositados para suas necessidades, bem como emprestar aos demais clientes, cobrando juros. Os bancos também recebem depósitos com remuneração aos clientes (poupança e depósitos a prazo).percepção de juros e taxas a serem cobradas do fornecedor). 
 Mútuo Bancário: Não se confunde com o mútuo mercantil (onde os juros são limitados a 12% a.a.), pois cabe ao Conselho Monetário Nacional fixar os limites dos juros praticados pelos bancos. O contrato de mútuo bancário é uma operação bancária ativa (o banco é credor), podendo ser simples ou mediante garantia, onde o mutuário (devedor) se obriga a pagar juros e tarifas bancárias incidentes sobre os valores emprestados pelo mutuante (credor). 
 Desconto Bancário: Os bancos podem antecipar títulos confiados pelos clientes para cobrança. É a hipótese do desconto de títulos, onde o descontante (banco) realiza empréstimos para o descontário (cedente), mediante o pagamento de juros e tarifas bancárias. O descontário endossa os títulos, garantindo a sua solvabilidade, o que não ocorre nas operações de factoring. 
 Operações Acessórias: Os bancos também realizam várias operações acessórias, como cobrança de títulos (simples), guarda de valores, aluguel de cofres, custódia de títulos e documentos, etc, cobrando tarifas de seus clientes. 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
COELHO, Fábio Ulhoa, Manual de Direito Comercial, 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, ISNB 9788502083332. 
FAZZIO JR, Waldo, Manual de Direito Comercial, 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, ISNB 9788522457045. 
MAMEDE, Gladston, Manual de Direito Empresarial, 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, ISNB 9788522452705. 
MARTINS, Fran e ABRÃO, Carlos Henrique, Curso de Direito Comercial, 33ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, ISNB 9788530931339. 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
FAZZIO JR, Waldo, Nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas, 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, ISNB 9788522457090. 
MARTINS, Fran. Contratos e Obrigações Comerciais, 16ªed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, ISNB 9785830930363. 
SOUZA, Washington Peluso Albino de, Primeiras Linhas de Direito Econômico, 6ª ed. São Paulo: LTr, 2017, ISBN 8536107367. 
MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe e BENJAMIM, Antônio Herman de Vasconcelos, Manuel de Direito do Consumidor, 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, ISBN 9788520368602. 
LEGISLAÇÃO PRINCIPAL E SUBSIDIÁRIA 
Constituição Federal 
Código Civil 
Código de Processo Civil 
Sistema Financeiro Nacional (Lei 4.595/1964) 
Mercado de Capitais (Lei 4.728/1965) 
Convenção de Genebra (Decreto 57.663/1966) 
Comissão de Valores Mobiliários (Lei 6.385/1966) 
Sociedades Anônimas (Lei 6.404/1976) 
Registro Mercantil (Lei 8.934/1994) 
Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) 
Crimes Econômicos (Lei 8.137/1990) 
Conselho de Defesa Econômica (Lei 8.884/1994/Lei 12.529/2011) 
Propriedade Industrial (Lei 9.279/1996) 
Lei de Recuperação e Falência (Lei 11.101/2005) 
Estatuto das Micro e Pequenas Empresas (Lei Complementar 123/2006) 
(junho/2020)
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