Buscar

O Direito à Busca da Felicidade

Prévia do material em texto

O DIREITO À BUSCA DA FELICIDADE 
 
O direito à busca da felicidade no ordenamento jurídico pátrio: noções introdutórias 
 
Embora não tenha previsão expressa no ordenamento pátrio, o direito à busca da 
felicidade tem aparecido em diversos julgamentos do Supremo Tribunal Federal como 
fundamento de suas decisões. Dentre os julgados, destacam-se a ADI 3.300, que tinha 
por objeto o art. 5º da Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança), e ADPF 132, que tratou 
do reconhecimento da união estável homoafetiva. Na ADI 3.300, a Suprema Corte 
analisou a constitucionalidade de utilização de células-tronco embrionárias que vinha 
previsto no art. 5º da Lei de Biossegurança. No julgamento da ADPF 132, estava em 
julgamento à equiparação da união estável homoafetiva as uniões heteroafetivas. Em 
ambos os julgados, a Excelsa Corte utilizou o direito à busca da felicidade para 
fundamentar a decisão. Embora esses dois julgados tenham se destacados, há outras 
decisões que citam o direito à busca da felicidade, como SE 6467, que tratou de 
homologação de sentença estrangeira de divórcio, e RE 431.996, que tratava 
continuidade do recebimento de proventos por servidores públicos, tendo a declaração 
de inconstitucionalidade da lei estadual que fundamentava o benefício. 
Deve-se acrescentar que o direito à busca da felicidade aparece em alguns documentos 
históricos importantes e atualmente vem previsto em algumas constituições. Entre os 
documentos históricos que expressamente tratam do direito à busca da felicidade está 
a Declaração de Direitos de Virgínia de 1776 (arts. 1º, 3º e 15), nascida no contexto de 
Independência dos Estados Unidos. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
de 1789, produzida no auge da Revolução Francesa e com influência da declaração 
anterior, faz também expressa menção, em seu preâmbulo, ao direito à busca da 
felicidade. Na atualidade, o direito à busca da felicidade está previsto nas Constituições 
da República do Butão, Japão e Coreia do Sul. Na Constituição da República do Butão há 
inclusive o conceito de Felicidade Nacional Bruta – FNB (Gross National Happiness – 
GNH), que é usado em substituição ao PIB – Produto Interno Bruto. 
Feitas as considerações acima, importante analisar esse direito, buscando delinear o seu 
objeto, estabelecer em qual categoria de direito se insere, bem como investigar os 
limites desse direito. 
 
2. Objeto do direito à busca da felicidade 
 
Ao tratar do direito à busca da felicidade, uma questão de grande relevo é a definição 
do objeto de sua tutela. Em algumas análises, o direito à busca da felicidade é 
identificado como direito à própria felicidade. Estaria próximo em se reconhecer ao 
titular do direito a garantia de um estado de felicidade, fazendo nascer um dever 
correspondente. Esse dever, que seria a face oposta do direito, recaia contra o Estado e 
a coletividade. Essa concepção do direito à busca da felicidade se assenta em um projeto 
coletivo de felicidade. É nesse sentido a manifestação de AGUIAR: “Indubitável que o 
envolver do direito à felicidade, no espaço público-institucional, somente ocorre em uma 
dimensão ética e comprometida com o projeto de felicidade alheio. Não se pode ser feliz 
em meio à infelicidade alheia- salvo a patologia do egoísmo, que contrasta com o 
princípio da solidariedade” (2008, pag. 113-114). 
Ao reconhecer que esse direito garantiria a própria felicidade, haveria a necessidade de 
se conceitua-la, vez que seria o próprio objeto da tutela. Nesse sentido, vários autores 
buscam definir o que seria felicidade, passando por definição como prazer, honra, 
riqueza, saúde, em conceitos modernos, como aponta Erick Silva (ERICK, 2013). 
Em outro sentido, o direito à busca da felicidade poderia ser conceituado como sendo 
a concretização de todos os direitos individuais e coletivos. A felicidade, pensada como 
exercício do próprio direito, seria o resultado natural da tutela dos demais direito. 
“Todo ser humano almeja ser feliz. Mas para isto e, antes de qualquer busca, ele precisa 
estar vivo, ter saúde, alimentar-se, ter onde morar, ter instrução/educação, ter trabalho 
(ser produtivo) e, ao envelhecer saber que colherá os frutos do trabalho” (HORITA; 
SIMÕES, 2014, pag. 5). O direito à felicidade só poderia ser concretizado se os demais 
direitos forem satisfeitos, como o direito à vida, à saúde, à alimentação, à moradia, à 
educação, ao trabalho, entre outros. 
Essas concepções a certa do direito à busca da felicidade incorrem em um equívoco 
conceitual. Em primeiro lugar, o direito é à busca da felicidade e não à própria 
felicidade. O termo ‘busca’ está na própria essência do direito tratado. Assim, como a 
busca é ato essencialmente do sujeito, o direito à busca da felicidade não pode ser 
simplesmente conceituado como direito à própria felicidade. 
Ademais, se o sujeito tem direito à felicidade, conclui-se, por simples raciocínio lógico, 
que a infelicidade seria um ilícito, ou seja, violação ao direito à felicidade. Se a 
infelicidade é um ilícito, poderia produzir suas consequências na ordem jurídicas, como 
indenização por danos ou até mesmo uma obrigação de fazer. Vê-se, pois, que essa 
definição do direito analisado apresenta certa incoerência. 
Por definir o direito à busca da felicidade como direito à própria felicidade, haveria 
dificuldade em sustentar a própria existência desse direito. Assim afirma Erick Silva 
(2013, pag. 114): “Por esta inclusão constitucional a felicidade não seria propriamente 
um direito. O máximo que poderia se admitir é que a felicidade estaria inserida neste 
sentido de meta a ser alcançada (...)”. A felicidade, de per si, não poderia ser tutelada 
pelo direito: “É certo que as pessoas têm que ter oportunidade de minimizar os danos, 
as privações ou os sofrimentos graves que atuam negativamente no plano de suas vidas, 
mas nem todos os danos são reparáveis. A vida traz experiências negativas que o 
convívio social, a ciência e o direito não têm forças para afastar. (...) Portanto, se o 
Direito não pode assegurar a felicidade como prazer ou mesmo como ausência de 
sofrimento, poderá assegurar o livre desenvolvimento das potencialidades criativas do 
sujeito para que este possa se proteger do que lhe perturba e perseguir o que lhe traz 
prazer, satisfação e crescimento.” (MARTINS; MENEZES, 2013, pag. 484). 
Entender o direito à busca da felicidade como direito à felicidade não parece correto. 
Embora muitos dos direitos sociais e individuais possam, em alguma medida, produzir 
condições geradoras de bem-estar, difícil, a partir disso, conceber o dever do Estado 
ou até mesmo da coletividade em garantir a felicidade dos indivíduos. 
Analisando os julgamentos da Suprema Corte em que foi usado o direito à busca da 
felicidade como fundamento da decisão, tem-se um delinear do direito em questão. No 
julgamento da constitucionalidade de uso de células-tronco embrionárias em pesquisas, 
o Ministro Celso de Mello afirma que a liberação das pesquisas permitiria a milhões de 
pessoas “o exercício concreto de um direito básico e inalienável – o direito à busca da 
felicidade e o de viver com dignidade (...)” (BRASIL, 2008, pag. 209). Analisando a questão 
posta em julgamento, percebe que o direito à saúde e o direito à vida talvez pudesse ser 
suficiente para fundamentar a decisão tomada, mas é possível afirmar que o direito à 
busca da felicidade possibilitou alcançar dimensões existenciais para a causa. A palavra 
‘esperança’ foi constante no julgamento, como se a Corte dissesse que ao menos a 
esperança deveria ser garantida aos acometidos pelas enfermidades que poderiam ser 
curadas com a ajuda das pesquisas. Observa-se nos fundamentos da decisão em relação 
ao direito à busca da felicidade um sentido existencial, não compreendido no direito à 
saúde ou, até mesmo, no direito à vida. 
O direito à saúde pode ser compreendido em duas dimensões: o direito de nãosofrer 
violação por parte de terceiro e o direito à prestação de serviços de prevenção de 
doenças, promoção, proteção e recuperação da saúde (MANICA, 2012, pag. 26). Ao 
permitir as pesquisas tutelava não só a saúde, mas a própria esperança de milhares de 
pessoas. Nas palavras da Ministra Cármen Lúcia: “A esperança é um direito natural (...)” 
(BRASIL, 2008, pag. 327). Ora, os animais podem ter saúde e vida, mas jamais terão 
esperança. É a esse elemento humano que estaria a proteger. Esse elemento traz 
importantes pistas do objeto de tutela do direito analisado. 
No julgamento da ADPF 132, que tratou do reconhecimento da união homoafetiva, o 
direito à busca da felicidade construiu sentido parecido com o enunciado acima. Nas 
palavras do Ministro Ayres Britto, “(...) se as pessoas de preferência heterossexual só 
podem se realizar ou ser felizes heterossexualmente, as de preferência homossexual 
seguem na mesma toada: só podem se realizar ou ser felizes homossexualmente” 
(BRASIL, 2011, pag. 31). O direito à busca da felicidade passaria a tutelar o projeto 
legítimo de felicidade do sujeito de orientação homossexual, permitindo-lhe realizar-se 
em plenitude. 
Uma discussão central no julgamento da ADPF 132 era a definição da natureza da união 
homoafetiva, se união estável ou sociedade de fato, prevista no art. 981 do CC/02. O 
fundamento da autonomia privada não seria suficiente para concluir se tratar de união 
estável, pois por esse princípio poderia se concluir, de igual maneira, por se tratar de um 
caso de sociedade de fato. Foi o direito à busca da felicidade que possibilitou dar um 
salto no sentido de se considerar como união estável. 
Entendendo a família, conforme sustentou Ayres Britto, como locus por excelência para 
a realização dos direitos fundamentais e o direito à busca da felicidade um direito 
fundamental, decorre que o reconhecimento da união homoafetiva como família 
mantém coerência com máxima efetivação desse direito. Por outro lado, está a se 
proteger o projeto de vida existencial, o que vai além do conceito de autonomia privada 
(BRASIL, 2011, pag. 39). 
Merece consideração ainda o julgamento da SE 6467, homologação de sentença de 
divórcio, embora com pouco teor decisório. O divórcio é manifestação do direito de 
autodeterminação, na busca da plena realização de vida. Não poderia o Estado compelir 
alguém a manter-se unida a outra pessoa quando não mais há afeto. 
Aparece ainda nos julgados da Suprema Corte brasileira o direito à busca da felicidade 
relacionado à obrigação de cunho prestacional, tratando da continuidade de benefício 
previdenciário, fundada em lei declarada inconstitucional. A Excelsa Corte manteve o 
benefício, tendo por base a boa-fé dos beneficiários, já que percebia os benefícios a um 
longo tempo. Por fim, fez referência ao direito à busca da felicidade. 
 
O Direito À Busca Da Felicidade E Sua Incidência No Direito Comparado 
 
Talvez, o primeiro grande modelo constitucional a tratar o direito à busca da felicidade 
como fundamental foi a Constituição norte-americana, influenciada pela Declaração de 
Direitos da Virgínia, elaborada em 1776. Nela, se faz menção expressa acerca da sua 
relação com os direitos individuais dos seres humanos. 
“Consideramos que essas verdades são evidentes, que todos os homens são criados 
igualmente, que são dotados de certos direitos inalienáveis, concedidos pelo Criador, 
entre os quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. 
No que tange à Declaração de Direitos da Virgínia, um aspecto se mostra interessante. 
Aqui, é outorgado ao homem o direito individual de buscar a sua própria felicidade, dado 
o seu grau de subjetividade. 
Não obstante, observa-se, além da felicidade individual, a concepção de felicidade 
coletiva, verificada nas reivindicações dos indivíduos em prol de uma felicidade comum. 
A Declaração dos Direitos Homem e do Cidadão, datada de 1789, nos traz tal 
“novidade”. 
Constata-se, no Preâmbulo da Constituição Francesa de 1958, a consagração de diversas 
garantias introduzidas pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, dentre 
elas, o direito à busca pela felicidade. Vejamos: 
 
“O povo francês proclama solenemente o seu compromisso com os direitos humanos e 
os princípios da soberania nacional, conforme definido pela Declaração de 1789, 
confirmada e completada pelo Preâmbulo da Constituição de 1946, bem como com os 
direitos e deveres definidos na Carta Ambiental de 2004.) [...]” 
Do mesmo modo, o art. 13º da Constituição japonesa determina que todas as pessoas 
gozam do direito de buscar sua felicidade, desde que esta não obste ao bem estar 
público. 
O art. 10º da Constituição da Coréia do Sul, por sua vez, determina que todas as pessoas 
tem o direito de alcançar sua felicidade, estando o eminente direito atrelado ao papel 
de provedor que o Estado exerce, sobretudo na garantia dos direitos humanos à todos. 
A carta constitucional do Reino de Butão é, sem sombra de dúvidas, a que mais chama 
atenção. O art. 9º do referido diploma obriga o cumprimento do chamado Índice 
Nacional de Felicidade Bruta (INFB). Tal indicador social serve para medir a qualidade de 
vida das pessoas, analisando, dentre outros aspectos, o bem-estar, a educação e a 
cultura. Ademais, o art. 20, item I estabelece a obrigatoriedade que o Estado tem de 
promover as condições necessárias para que o povo viva com qualidade. 
 
O Direito À Busca Da Felicidade No Brasil 
 
Entre 2005 e 2009, a revista Forbes realizou um estudo para saber quais são os países 
mais felizes do mundo. Curiosamente, o Brasil foi apontado como o 12º, considerando 
que 58% dos entrevistados brasileiros disseram-se felizes, enquanto que apenas 2% se 
declaram como pessoas sofridas. 
Conforme pudemos observar, até o presente momento, não temos a positivação do 
Direito à busca da felicidade. Contudo, tal omissão legislativa não obsta a aplicação do 
referido direito nos mais diversos julgamentos. 
Caso notório acerca da aplicação do direito à busca da felicidade é o julgamento feito 
pelo STF acerca da ADPF 132/RJ que, na oportunidade, reconheceu a união homoafetiva. 
Dentre as justificativas, está a de que o reconhecimento do direito à preferência sexual 
está diretamente ligado ao princípio da “dignidade da pessoa humana”, só sendo o 
referido princípio efetivamente aplicado, se verificado, dentre outros, o exercício do 
direito à auto-estima, de modo a aplainar o mais abrangente caminho da felicidade. 
Nesse sentido, a brilhante reflexão contida no voto proferido pelo Min. Decano Celso de 
Mello se torna oportuna: 
“Reconheço que o direito à busca da felicidade – que se mostra gravemente 
comprometido, quando o Congresso Nacional, influenciado por correntes majoritárias, 
omite-se na formulação de medidas destinadas a assegurar, a grupos minoritários, a 
fruição de direitos fundamentais – representa derivação do princípio da dignidade da 
pessoa humana, qualificando-se como um dos mais significativos postulados 
constitucionais implícitos cujas raízes mergulham, historicamente, na própria 
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, de 04 de julho de 1776.” 
Não só há o reconhecimento do direito à busca da felicidade, mas também verifica-se, 
no presente voto, a sua derivação do princípio da dignidade da pessoa humana, previsto 
no art. 1º, III da CF. É desta derivação que se retira o caráter implícito do direito 
fundamental à busca da felicidade. 
 
A PEC DA FELICIDADE 
Em que pese o fato de não termos previsão legal expressa acerca do tema, no ano de 
2010, o Senador Cristovam Buarque elaborou a Proposta de emenda à constituição de 
número 19/2010, popularmente conhecida como PEC da Felicidade. A referida PEC tem 
como objetivo incluir o direito à busca da felicidade ao art. 6º da Constituição, de modo 
a tornar o Estado garantidor das condições adequadas para que tal direito se concretize. 
Éclara a inspiração nos modelos constitucionais acima elencados. 
Caso a PEC da Felicidade tivesse sido aprovada, a redação do art. 6º passaria a ser: 
“Art. 6º São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a 
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição.” 
Percebam: a PEC em tela não visa proteger a felicidade em seu aspecto subjetivo, 
particular de cada indivíduo. A intenção é apontar que, somente ao concretizar os 
direitos sociais previstos no referido artigo (educação, saúde, alimentação e etc...), o 
Estado garantiria ao povo o sentimento de felicidade coletiva. 
Cumpre salientar que tal projeto encontra-se arquivado, em virtude da mudança de 
legislatura, conforme o art. 332 do Regimento Interno do Senado Federal. 
 
O Direito Fundamental À Busca Da Felicidade: Reflexões Sobre Um Novo Dano 
A evolução da responsabilidade civil na sociedade contemporânea é marcada pelo 
escanteio dos direitos subjetivos patrimoniais em prol da dignidade da pessoa humana, 
priorizando-se, assim, os interesses existenciais, assegurando às vítimas, em qualquer 
hipótese lesiva, a possibilidade de pleitear a reparação integral. Derrogando o 
patrimonialismo oitocentista, a responsabilidade civil pós-moderna pretende 
reposicionar o ser humano e os valores imateriais no vértice do ordenamento jurídico. 
Partindo desse patamar evolutivo, o Direito enfrenta o desafio de assegurar a 
reparação de novas modalidades de danos sem conteúdo econômico e que antes 
estavam abrangidos na denominação genérica de “dano moral”. Esse é caso do dano 
pela violação do direito à busca da felicidade ou, simplesmente, dano pela quebra do 
“projeto de felicidade”. 
 
Há quem considere a busca da felicidade um direito natural, independente de qualquer 
inserção no ordenamento jurídico positivo, e que impedir uma pessoa de ser feliz 
violaria a Moral e o Direito. Não seguiremos esse caminho, pois entendemos que essa 
positivação já ocorreu, ainda que de forma implícita. Existe, na Constituição de 1988, 
um princípio constitucional implícito de busca da felicidade, que confere faculdades 
jurídicas aos sujeitos, com esteio nas quais se poderá falar, também, em um direito 
subjetivo fundamental à busca da felicidade. 
Não seria delírio imaginar hipóteses lesivas decorrentes da violação do direito, a 
justificar a incidência do arcabouço da responsabilidade civil e o seu tratamento como 
dano autônomo, diverso do dano moral ou do dano existencial, inclusive nas 
manifestações de “dano ao projeto de vida” e de “dano à vida de relação”. 
Nessa primeira modalidade de dano existencial, o lesado tem frustradas as suas 
expectativas em relação ao futuro, principalmente no campo profissional, como a 
perda dos dedos das mãos de um pianista ou de um cirurgião, ou a perda das pernas 
de um jogador de futebol. Na segunda, o ofendido perde a possibilidade de manter as 
suas atividades cotidianas e de reinserir-se nas relações sociais, como é o caso, por 
exemplo, da vítima de abuso sexual que não consegue mais se relacionar sexualmente 
com ninguém. Entretanto, nem a divisão entre “dano ao projeto de vida” e “dano à vida 
de relação”, nem o conteúdo dessas duas modalidades de prejuízo, afiguram-se 
pacíficas na doutrina. Há quem reconheça apenas a segunda modalidade, ainda assim 
identificando-a com danos corporais cujas sequelas resultem “prejuízo de lazer”, 
“prejuízo sexual” e “prejuízo juvenil”[1]. 
No dano pela quebra do projeto de busca da felicidade, a vítima se vê impedida (ou 
restringida) de concretizar escolhas pessoais que poderiam conduzir ao estado emotivo 
de bem-estar a que chamamos de felicidade. 
Os pressupostos tradicionais da responsabilidade civil se encontram nucleados nos arts. 
186 e 927, caput, do Código Civil Brasileiro, a impor que todo aquele que “violar direito” 
e “causar dano” assuma a obrigação de reparar. Logo, quando se reconhece um “direito 
à busca da felicidade”, forçoso anuir que o seu descumprimento ou violação, ainda que 
na órbita das relações privadas, interfere na ordem jurídica e, sempre que causar dano 
ou prejuízo, caracteriza ato ilícito, obrigando à reparação. 
A felicidade, em si, não é um direito, mas um estado de espírito. Não se pode transferir 
a ninguém o ônus de alcançá-lo ou a responsabilidade pela sua frustração. Mas a todos 
assiste um direito à busca desse estado emotivo. A Constituição nos assegura o direito 
de buscar a felicidade e ninguém pode obstar essa busca, sob pena de cometer ato 
ilícito. 
 
Referências: 
Cf. SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da reparação integral. São Paulo: 
Saraiva, 2011, pp. 303/305. 
AGUIAR, Marcelo Souza. O direito à felicidade como direito humano Fundamental. 
Revista de Direito Social, São Paulo, p. 109-116, jul/Set. 2008. 
MATIELLO, Carla. Princípio da busca da felicidade . Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 
18, n. 3669, 18 jul. 2013. Disponível em:. Acesso em: 11 nov. 2016. 
MONTEIRO, Juliano Ralo. PEC da felicidade positivará direito na CF. Disponível em: < 
http://www.conjur.com.br/2010-mai-29/pec-felicidade-positivacao-direito-
reconhecido-resto-mundo>

Continue navegando