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Saúde Preventiva e Promoção da Saúde

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AN02FREV001/REV 4.0 
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SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AN02FREV001/REV 4.0 
2 
 
2 
 
 
 
 
SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO 
DA SAÚDE 
 
 
DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES 
Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00 
 
ATENDIMENTO AO ALUNO 
editorafamart@famart.edu.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
mailto:editora
AN02FREV001/REV 4.0 
3 
 
3 
 
 
Sumário 
 
FAMÍLIA, SAÚDE E COMUNIDADE .......................................................................... 4 
HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA E A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ..................... 6 
SUS, OS MODELOS DE ATENÇÃO, AS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE NO 
BRASIL .................................................................................................................... 32 
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ................................................................... 38 
OS MODELOS DE ATENÇÃO ................................................................................. 41 
ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE ................................................................................. 45 
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA ........................................................ 46 
ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE ....................................................................... 48 
ATENÇÃO TERCIÁRIA À SAÚDE ........................................................................... 50 
AS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE .......................................................... 51 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 70 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AN02FREV001/REV 4.0 
4 
 
4 
 
 
FAMÍLIA, SAÚDE E COMUNIDADE 
 
SAÚDE E SOCIEDADE 
 
Segundo o artigo 196 da Constituição Federal de 1988: A saúde é um direito 
de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que 
visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Para Shuqair (1996), o Estado tem o dever de prestar benefícios aos cidadãos, 
a fim de proporcionar a melhoria das condições de vida. Para a Organização Mundial 
da Saúde (OMS), o conceito de saúde é definido como “o completo bem-estar físico, 
mental e social, e não apenas a ausência de doença”. 
A saúde é um direito complexo, que envolve o bem-estar físico e mental, além 
do direito de não ficar doente. Portanto, isso significa que alimentação, abrigo, 
proteção, segurança, ausência de doenças e tratamentos são direitos relacionados à 
saúde do brasileiro. Assim como o direito ao abrigo está envolvido no conceito de 
saúde, a proteção contra o estresse e a segurança no trabalho também são aspectos 
do direito à saúde, porque se saúde é o completo bem-estar mental, é necessário ter 
total segurança, não só a segurança do trabalho. 
Além disso, o direito de não ser contaminado, e assim perder a saúde, bem 
como o direito a ser tratado, tudo isso é requisito para que um indivíduo tenha saúde. 
Concluindo, não podemos reivindicar saúde como apenas ausência de doença, temos 
de ter bem claro que saúde é também bem-estar físico, mental e social 
(CIANCIARULLO, 2007). 
O Estado tem a obrigação de oferecer serviços acessíveis a toda à população 
e que resolvam o problema, ou seja, eficientes. Em relação ao medicamento, além de 
garantir o seu acesso, deve assegurar que este chegue às pessoas com qualidade e 
dentro dos padrões estipulados nos regulamentos. E que, por meio das fiscalizações, 
se faça cumprir o poder de polícia das vigilâncias sanitárias, com o intuito de 
prevenção e não punição, para evitar as falsificações e venda de produtos de má 
qualidade, que possam causar prejuízo à saúde. 
AN02FREV001/REV 4.0 
5 
 
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A saúde e a doença são objetos ao mesmo tempo sociais e biológicos. As 
pessoas são sadias, ficam doentes e morrem não apenas por causas biológicas, mas 
também por razões sociais. Em Sociologia, uma sociedade “é o conjunto de pessoas 
que compartilham propósitos, preocupações e costumes, e que interagem entre si”, 
na qual estão politicamente organizadas, partilhando objetivos comuns, dando sentido 
como um ser de relações, capaz de fazer sua própria vida (WIKIPEDIA, 2008). 
Logo, segundo Rouquayarol e Almeida Filho (2003), a organização social 
depende de como está produzida e distribuída a riqueza, a totalidade de 
desenvolvimento e, sobretudo, das condições de vida da população. Logo, o que se 
pode observar entre os grupos sociais é que as pessoas privilegiadas com poder 
aquisitivo (ricas) podem estar menos sujeitas à ação dos fatores ambientais, que 
estimulam a ocorrência de certos tipos de doenças. 
Ao contrário do que acontece com os grupos de baixa renda (pobres), que são 
mais propensos a doenças graves, morrem mais jovens, apresentam em maior 
proporção crianças desnutridas e uma taxa de mortalidade infantil mais elevada. Por 
exemplo, as parasitoses intestinais estão sempre onde a miséria se faz presente. 
Portanto, o histórico socioeconômico e cultural de uma comunidade tem relação com 
a determinação social das doenças. 
Assim, quando avaliamos as questões epidemiológicas no Brasil nos 
deparamos com um quadro que compreende doenças do atraso e do 
desenvolvimento, por exemplo, das parasitoses às doenças cerebrovasculares, da 
desnutrição à obesidade, da febre amarela às cardiovasculares. Para isso, os serviços 
brasileiros de saúde devem estar organizados para prevenir, tratar e recuperar com a 
mesma eficácia estes problemas de saúde pública. Estas complexas questões 
epidemiológicas estão relacionadas ao processo de desenvolvimento capitalista 
brasileiro, desigual e atrasado, que combina a tecnologia de ponta com o “fora de 
moda” em alguns setores, a pobreza da maioria com a riqueza para a minoria. 
Essas contradições estão relacionadas ao processo desordenado de 
industrialização, sem o devido planejamento urbano, o saneamento básico e o trânsito 
que suportasse a inversão do fluxo populacional, no sentido campo- cidade, na ordem 
de 30% a 70%. Além disso, esta desordem da industrialização reflete negativamente 
AN02FREV001/REV 4.0 
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no meio ambiente, por exemplo, por meio do desmatamento, dos resíduos industriais 
e do processo de trabalho, que são também responsáveis pela qualidade do 
desenvolvimento, da vida e da saúde (ROSA, 1997). 
É importante destacar que os determinantes sociais têm forte inter- relação, 
pois mantêm as semelhanças de propriedade, garantem a acumulação e produzem a 
desigualdade. Outros determinantes na má qualidade de vida e de saúde da 
população são os diferentes níveis de desenvolvimento regional, o salário das classes 
trabalhadoras e a concentração de terra. 
As condições precárias de trabalhar a terra, em função dos latifúndios e 
ausência de incentivos agrícolas, produzem o inchaço populacional nas cidades. Com 
isso, a produção e a oferta de empregos na indústria, comércio e setor de serviços 
são inversamente proporcionais à demanda. Para os que conseguem ocupação no 
mercado de trabalho, os salários são pequenos, o que impede o acesso aos bens 
essenciais. Esta desigualdade é mais frequente nas regiões norte e nordeste. 
Daí a ocorrência dos piores indicadores de saúde, já que é nestas regiões que 
a fome, a desnutrição e a mortalidade infantil são, em média, duas vezes superiores 
às verificadas no sul e sudeste. Além do que, em algumas cidades nordestinas a 
esperança de vida é até 30 anos menor em relação às encontradas nas regiões sul e 
sudeste (ROSA, 1997). A compreensão da relação entre saúde e sociedade é 
essencial para que possamos entender as contradições e o insucesso das políticas 
de saúde implantadas no Brasil até o momento. 
 
HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA E A SAÚDE PÚBLICANO BRASIL 
 
Repensar a saúde coletiva, aproveitando-se da história e da tradição da saúde 
pública, faz-se necessário para traçar um panorama da Saúde Coletiva no Brasil. 
 
 Cerca de 1000 a.C - o Mundo Greco-Romano 
 
Conforme Rosen (1994), achados do Médio Império (2100-1700 a.C.) oferecem 
ideia das condições da saúde pública no Egito antigo. Por meio dos estudos históricos 
AN02FREV001/REV 4.0 
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das ruínas de Kahum foi verificado cuidados com o escoamento de água (por 
intermédio de calhas de pedra de mármore); sistema de abastecimento de água para 
beber; destino de dejetos e sistema de esgotamento. As pessoas mantinham-se 
limpas para se apresentarem puras aos olhos dos deuses e não por questão de 
higiene. 
As doenças, neste período, eram consideradas sobrenaturais. Logo, atribuía-
se o processo saúde e doença a processos naturais. Os médicos gregos eram 
filósofos naturais. Não tinham o objetivo de lidar com problemas de saúde, mas 
desejavam entender o universo das relações entre o homem e a natureza. Assim, não 
distinguiam as diferentes doenças, só se preocupavam com vários grupos por meio 
de teorias sobre a mistura anormal dos fluidos do corpo (humoralismo) ou acerca dos 
estados das partes sólidas do corpo (solidismo). 
A relação solo e saúde eram reconhecidas pelos gregos pela necessidade de 
instalar suas construções em ambiente salubre. Usava-se então, a inspeção do 
fígado. Sacrificavam-se os animais que haviam pastado em determinada terra e 
observavam-se suas vísceras. Se estas apresentassem a cor amarelo-esverdeado, 
considerava-se a terra insalubre para o homem. 
 
Primeiros Relatos de Doenças Agudas 
 
 
Difteria: relatos de graves dores de garganta que muitas vezes terminavam em 
morte. Aplicava-se a palavra grega KYNANCHE às várias doenças inflamatórias 
agudas da garganta e laringe. As complicações eram: voz anasalada, dificuldade em 
engolir, saída de fluido pela narina durante a ingestão de líquidos, dificuldade de ficar 
de pé, presença de úlceras nas amígdalas e formação de uma membrana semelhante 
a uma teia de aranha. 
Malária: Muito familiar aos médicos gregos. Febres maláricas são abundantes 
e devido à periodicidade falavam em terçã e quartã. Nesta época, já se fazia a 
associação de pântanos e febre malárica. Logo, os rios eram desviados para os 
pântanos para prevenir a estagnação das águas e salubrificá-las. 
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É neste período da história da saúde que se originaram os termos: 
 
- Endemia: doença habitualmente comum entre pessoas de uma região, 
cuja incidência se prende à ocorrência de determinados fatores locais, se traduz pelo 
aparecimento de menor número de casos ao longo do tempo. 
- Epidemia: se caracteriza pela incidência, em curto período de tempo, de 
grande número de casos de uma doença. 
 
 Idade Média (500 a 1500 d.C) 
 
Com a desintegração do mundo greco-romano, sob o impacto da invasão dos 
bárbaros, ocorreu o declínio da cultura urbana e a decadência da organização e da 
prática da saúde pública. 
Conforme Ferreira (1997), na Idade Média os problemas de saúde eram 
enfrentados em termos mágicos e religiosos (período chamado de “Idade das Trevas” 
– 500-1000 a.C) favorecendo um terreno de supernaturalismos. Os costumes e rituais 
pagãos eram usados para resolver os problemas de saúde dos indivíduos e 
comunidades. 
Ao mesmo tempo os cristãos afirmavam a existência de uma relação entre a 
doença e o pecado. A doença era uma punição pelo pecado. As causas da doença 
eram consideradas a possessão pelo diabo e a feitiçaria. Para resolver os problemas 
de saúde eram usadas as orações, a penitência e a invocação dos santos, para que, 
assim, o corpo fosse salvo e a alma ficasse mais forte fisicamente para suportar os 
ataques dos demônios. 
Outro problema presente nesta época foi o crescimento da população nas 
cidades. Com isso, as cidades apresentavam problemas para acomodar as pessoas, 
logo, muitas dificuldades de saúde pública começavam a surgir: ruas sem calçadas, 
as imundícies, os refugos eram acomodados nas beiras das estradas e, por fim, as 
doenças. 
Duas epidemias marcaram o começo da Idade Média: a Peste Justiniano, em 
543, e a Morte Negra, em 1348. Outros surtos de doenças também arruinaram a 
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Europa e o litoral mediterrâneo, tais como: lepra, peste bubônica, varíola, difteria, 
sarampo, influenza, tuberculose, escabiose, antraz. 
Varíola: é no início do século 10 que aparece a primeira descrição da doença. 
O termo varíola surge no relato de Marius, significando simplesmente “pintado ou 
pontilhado”. 
Lepra: Representou a grande praga das pessoas medievais. O medo de todas 
as doenças dificilmente dava-se para comparar ao terror desencadeado pela lepra. 
A lepra assumiu proporções epidêmicas em decorrência dos grandes 
deslocamentos de populações resultantes das Cruzadas, pois ao retornar do Oriente, 
os cruzados trouxeram casos. Com o tempo a doença cedeu, em virtude de a morte 
negra ter levado a vida de muitos leprosos. Só no século XVI a lepra perdeu sua 
importância. 
Os leprosos eram isolados em hospedarias destinadas ao acolhimento de 
vítimas de doenças contagiosas. Quando estas pessoas sofriam de uma moléstia 
transmissível, que podia ameaçar diretamente a saúde dos que os circulam, a 
comunidade sentia-se no direito de, para se proteger, sujeitar este indivíduo a 
restrições. Surgiu, assim, a obrigação de notificar algumas doenças comunicáveis. 
Estes locais de isolamento de leprosos deram origem, mais tarde, aos 
hospitais, que em vez de receber os doentes para seu isolamento, começaram a tratá-
los para sua recuperação. Os leprosos tornaram-se uma ameaça pública. Assim, as 
pessoas, para proteger os sadios, expulsavam-nos. E por ser uma doença incurável, 
eram considerados mortos-vivos. Para isso, era feito o funeral com a presença da 
vítima, como ritual de expulsão desta pessoa da sociedade. 
Os leprosos eram vestidos com uma mortalha, lia-se a missa solene para os 
mortos, jogava-se terra sobre o doente e então os padres o conduziam acompanhado 
pelos parentes, amigos e vizinhos, para os leprosários, fora do limite da comunidade. 
 
 Período de colonização do Brasil (1500 a 1830) 
 
Conforme Barbosa-Filho e Stockler (1991), a sociedade brasileira foi formada 
por três tipos distintos: o branco europeu, o índio americano e o negro africano. 
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Na época da descoberta do Brasil, as Américas eram habitadas por cerca de 80 
milhões de índios americanos. Em seguida, chegaram os primeiros portugueses, que 
em geral eram aventureiros e indivíduos expulsos de Portugal. 
Após 1530, chegaram fidalgos, funcionários do governo e soldados, que 
vinham com o desejo de enriquecer fácil. Como o governo português nada ganhava 
com a escravidão indígena, apoiava os jesuítas e a igreja na defesa do índio contra o 
interesse dos colonos em escravizá-los. Logo, os negros africanos (na grande maioria 
prisioneiros de guerra) eram escravizados para fazer os trabalhos domésticos e na 
lavoura. 
Segundo Rosa (1997), neste período entre a colonização e a chegada da 
família Real no Brasil, o país não apresentava nenhum modelo de atenção à saúde 
da população. As pessoas limitavam-se aos seus conhecimentos empíricos para 
desenvolver a arte de curar a partir de seus recursos (por exemplo, uso de plantas 
medicinais). 
A cidade do Rio de Janeiro era precária e mal cheirosa, provinciana, suja e 
descuidada. A situação das residências era terrível, mas pior ainda em lugares em 
que se acumulavam muitas pessoas. Não existia nenhuma preocupação com insetos, 
ratos ou outros animais, pois ninguém imaginava que eles pudessem transmitir 
enfermidades. 
Em relação à água, a preocupação era apenas quanto ao cheiro e, às vezes, 
com a sua cor. A presença de micro-organismos era conhecida e encarada comindiferença, pois não se imaginava que eles pudessem ser nocivos. As casas 
possuíam apenas uma janela, sem condição de que fosse renovado e purificado o ar 
(ROSA, 1997). 
Aos poucos foi surgindo a ideia de que as doenças eram causadas pelo mau 
cheiro. No século XVIII, torna-se popular a teoria dos miasmas, para explicar as 
doenças produzidas por cheiros de coisas estragadas e deterioradas. Neste período, 
a limpeza era tratada como uma questão de estética, e não como uma questão de 
saúde, ou seja, de higiene. Os lixos e os excrementos eram afastados das casas 
apenas por causa de seu cheiro. 
Na luminosa manhã de 8 de março de 1808, mais de 10 mil nobres exilados se 
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preparam para pôr novamente os pés em terra e iniciar não só um novo período para 
a história de Portugal, como uma nova era para o Brasil. Embora satisfeita com o 
desembarque, a família real não pôde deixar de notar que, além da cidade do Rio de 
Janeiro apresentar um cenário geográfico maravilhoso que envolve a Baía de 
Guanabara, que encantou a navegadores, viajantes e poetas, o fato é que a cidade 
exalava “os odores pútridos.” 
A população ficou deslumbrada com o glamour dos príncipes, nobres, 
cortesões e a Rainha Louca pisando em solo carioca, acompanhados do som dos 
clarins, o estourar dos rojões e os aplausos, porém, não foi capaz de ignorar a feiura 
de D. João VI e da princesa Carlota Joaquina, nem os gritos alucinados da Rainha 
Maria I e as cabeças raspadas das cortesãs (devido à epidemia de piolho ocorrida a 
bordo) (ROSA, 1997). 
Mas com a vinda da família real viu-se a necessidade do estabelecimento de 
um controle sanitário mínimo, para que então a realeza pudesse morar na cidade do 
Rio de Janeiro e instalar o império no país. Outro fato importante é a carência de 
profissionais médicos, o que oportunizou a proliferação pelo país dos boticários 
(farmacêuticos). Este profissional não apresentava formação acadêmica. Conforme 
Thomaz (2002), o conhecimento dos pajés, juntamente com o dos jesuítas (que 
sabiam aplicar e utilizar as plantas da flora brasileira e a cura de doenças) contribuiu 
para o início da manipulação destas fórmulas e o cuidado da população. 
A princípio os medicamentos já vinham prontos de Portugal. No entanto, 
dificuldades operacionais impediam a vinda frequente de navios. Assim, os jesuítas 
terminaram sendo os primeiros boticários da nova terra e nos seus colégios foram 
instaladas as primeiras boticas, onde o povo encontrava drogas vindas da metrópole, 
bem como remédios preparados de plantas medicinais, conhecimento incorporado 
dos pajés (THOMAZ, 2002, p. 2). 
Em 1839 foi criado o curso de Farmácia, anexo ao curso de Medicina, na Escola 
de Farmácia de Ouro Preto (BERMUDEZ, 1995). Assim, gradualmente, as boticas são 
substituídas pelas “Pharmácias” e com isso os medicamentos passam a ser 
formulados pelos farmacêuticos embasados em formulários internacionais, 
enciclopédias, farmacopeias populares. 
AN02FREV001/REV 4.0 
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12 
 
 
Segundo Polignano (2008), “até 1850 as atividades de saúde pública estavam 
limitadas ao seguinte: delegação das atribuições sanitárias às juntas municipais e 
controle de navios e saúde dos portos”. A falta de um modelo sanitário para o país 
deixava as cidades brasileiras à mercê das epidemias (como a varíola, a malária, a 
febre amarela e posteriormente a peste), o que acabou gerando sérios problemas para 
saúde coletiva e para o comércio exterior. Devido à situação sanitária existente na 
cidade os navios estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro. 
 
Novas Doenças no Mundo no Período de 1400 a 1850 
 
A história das grandes descobertas geográficas dos séculos XV e XVI trouxe a 
visão de um mundo mais espaçoso, mas também novos problemas. 
1849: RUDOLF VIRCHOW – Elaborou uma teoria segundo a qual a doença 
epidêmica seria uma manifestação de desajustamento social e cultural. As doenças 
epidêmicas aparecem e desaparecem muitas vezes sem deixar rastro. 
 
Suor inglês (1485) 
 
 
Esta doença tinha como principais características a febre alta, com calafrios, 
cãibras nas extremidades e dores em várias partes do corpo, uma sensação de 
profunda angústia, dificuldade de respirar e irregularidade do pulso. Em casos graves 
apareciam delírios e alucinações (FERREIRA, 1997). A moléstia durava algumas 
poucas horas até um dia e como o restabelecimento acontecia após suores profundos, 
recebeu o nome de Suor Inglês. 
Ela matou milhares de pessoas em Londres em uma semana nos anos de 1508 
e de novo em 1517, 1528 (surto mais grave) e 1551. Nunca se esclareceu de forma 
suficiente a natureza da doença. 
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13 
 
 
 
Tifo 
 
Descrita pela primeira vez por Fracastoro, em 1546. Sempre esteve 
intimamente ligada às guerras, fome e pobreza. A doença continua a ser presente em 
acampamentos militares, prisões, navios e hospitais, ou seja, quando as pessoas se 
juntam e não conseguem manterem-se limpas, e assim se expõem inclusive ao piolho 
transmissor, passando a ser uma ameaça. 
 
Raquitismo ou doença inglesa 
 
Em 1649, doutor Fuller descreve a doença existente em crianças: o Raquitismo. 
A cabeça aumenta muito, ao passo que as pernas e partes inferiores mínguam 
demais. No século XVII, passou a atrair a atenção da saúde pública. Um aumento 
marcante de sua incidência ocorreu durante as duas primeiras décadas do século 
XVII, graças à severa pressão econômica e à terrível pobreza, em especial no sul da 
Inglaterra. 
Esse aumento estaria relacionado ao crescimento da vida urbana, quando era 
difícil consumir “carnes brancas”, em particular leite, este fato associado ainda à falta 
de banho de sol. 
 
 
Escorbuto, a negra do mar 
 
 
As rotas marítimas para o externo Oriente e o Novo Mundo implicavam viagens 
maiores. Assim, nas longas viagens os marinheiros encontravam seu grande inimigo 
no escorbuto. Uma enfermidade devido a uma dieta deficiente ou destituída de 
VITAMINA C. Em sua viagem, no ano de 1498, Vasco da Gama perdeu 55 de seus 
marinheiros. 
Em 1749 todos afirmavam o valor dos sucos de limão e de laranja. Então, em 
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1753 os britânicos editaram uma famosa ordem para que todos os marinheiros 
recebessem uma provisão de suco de limão. 
 
Doença dos trabalhadores 
 
Em 1700 aparece a primeira citação sobre as enfermidades dos trabalhadores. 
Em virtude de avanços econômicos e tecnológicos os mineiros e metalúrgicos 
estiveram entre os primeiros grupos ocupacionais a merecerem estudos. Em 1523 foi 
impressa a primeira publicação que trata dos riscos de um grupo ocupacional: sobre 
os venenos e maléficos vapores e gases metais, como prata, mercúrio, chumbo e 
outros, que o valioso negócio de ourives compele os trabalhadores a usar. 
Em 1567 surgem três livros tratando das doenças pulmonares dos 
mineradores, das moléstias dos funcionários metalúrgicos e das enfermidades 
causadas pelo mercúrio. 
 
Sífilis 
 
Entre as novas doenças dos séculos XVI e XVII sobressaiu-se a sífilis. 
Ela apareceu em Nápoles, de onde se disseminou para o resto do continente. 
 
 1495: Alemanha, França e Suíça. 
 1496: Holanda e Grécia. 
 1497: Inglaterra e Escócia. 
 1499: Hungria e Rússia. 
 
 
 
Algumas medidas de controle tiveram como alvo as prostitutas. O bordel era 
uma instituição aceita e a prostituição uma profissão amplamente praticada. Em 1496, 
Besançon expulsou as prostitutas e os estrangeiros acometidos pela doença. Ainda 
em 1497, Bamberg proibiu os sifilíticos de entrarem em hospedarias e igrejas e de 
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manterem quaisquer contatos com pessoas sadias. 
Foram criados hospitais para tratamento de sifilíticos. Em 1552, foi expedido 
um alvará que determinava que os sifilíticos deveriam procurar os HOSPITAIS DOS 
INCURABLES. 
 
 As Revoluções ao movimentosanitário (1830-1900) 
 
Segundo Saga (1981), a febre amarela era endêmica, introduzida no Rio de 
Janeiro por um cargueiro norte-americano. A doença acometia a população 
principalmente no verão, quando provocou a morte de 6.500 pessoas no ano de 1850. 
No inverno podiam-se observar as doenças como varíola (que matou 3566 pessoas 
no ano de 1904), cólera, peste bubônica, tifo e a tuberculose. 
As primeiras medidas sanitárias foram tomadas no governo de Campos Sales, 
em 1899, com a criação do Instituto Manguinhos, destinado à produção de vacinas 
contra a peste bubônica. Para a organização da instituição o governo do Rio de 
Janeiro consultou o Instituto Pasteur de Paris, que indicou o brasileiro Osvaldo 
Gonçalves Cruz – paulista de São Luís do Paratinga – para tomar frente aos trabalhos 
de saneamento da cidade (SAGA, 1981). 
Conforme Polignano (2008), Oswaldo Cruz, nomeado diretor-geral de Saúde 
Pública por Ricardo Alves, se propôs a higienizar a cidade e erradicar a epidemia de 
febre amarela do Rio de Janeiro. 
Para sanear a cidade o diretor-geral de saúde pública organizou uma equipe 
“mata-ratos”, que percorria armazéns, becos, cortiços e hospedarias espalhando 
raticidas e removendo os lixos. Nesta época foi criado o cargo comprador de ratos, 
um funcionário do governo que andava nas ruas do centro e interior da cidade, 
pagando 300 réis por roedores apanhados pela população. A partir destas medidas, 
poucos meses depois, a peste bubônica estava sob controle (SAGA, 1981). 
A outra medida tomada por Oswaldo Cruz foi a Campanha para a erradicação 
da febre amarela. Foi criado um exército de 1.500 pessoas que passaram a exercer 
atividades de desinfecção no combate ao mosquito vetor da febre amarela. Esta 
brigada de “mata-mosquitos” vasculhava as casas e despejava petróleo nos alagados. 
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A falta de esclarecimento e a prepotência dos “guardas-sanitários” causaram revoltas 
na população (POLIGNANO, 2008). Mas os rápidos resultados da campanha 
acalmaram os ânimos. Isto pode ser percebido por meio da redução de mortes 
provocadas pela febre amarela, que em 1906 havia baixado para 42, contra 289 casos 
fatais em 1905 e 984 em 1902. 
Conforme Polignano (2008), este modelo de intervenção ficou conhecido como 
campanhista e foi concebido dentro de uma visão militar, em que os fins justificam os 
meios, e no qual o uso da força e da autoridade eram considerados os instrumentos 
preferenciais de ação. 
Mas ainda faltava a varíola. E a onda de insatisfação se agravava com outra 
medida de Oswaldo Cruz: a Lei Federal nº 1261, de 31 de outubro de 1904, que 
instituiu a vacinação antivariólica obrigatória para todo o território nacional. Nesta 
época corre o boato de que em vez de imunizar a vacina provocaria a doença. Surge, 
então, um grande movimento popular de revolta, que ficou conhecido na história como 
a revolta da vacina. 
Segundo Saga (1981), a imprensa e os positivistas opunham-se à nova lei, 
denunciando seu caráter arbitrário e a violência da privacidade praticada pelos 
“guardas-sanitários”, que vacinavam as pessoas à força. 
Rui Barbosa, em discurso no Senado diz: Assim como o direito veda ao poder 
humano invadir-nos a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme (...), 
expondo-nos (...), obstinadamente, a envenenar-nos com a introdução de um vírus, 
em cuja influência existem os mais fundados receios de que seja o condutor da 
moléstia ou da morte. 
Em 10 de novembro a multidão saiu às ruas para protestar contra a vacina 
obrigatória, tomando dimensões gigantescas. Apesar disso, ao passar o poder a seu 
sucessor, Afonso Pena, em 1906, Rodrigues Alves entregou a cidade totalmente 
saneada e modernizada. O modelo campanhista obteve importantes vitórias no 
controle das doenças epidêmicas, conseguindo inclusive erradicar a febre amarela da 
cidade do Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo proposto e o tornou hegemônico, 
como proposta de intervenção na área da saúde coletiva (SAGA, 1981; POLIGNANO, 
2008). 
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Neste período Oswaldo Cruz procurou organizar a diretoria geral de saúde 
pública, criando uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço de 
engenharia sanitária e de profilaxia da febre amarela, a inspetoria de isolamento e 
desinfecção, e o instituto soroterápico federal, posteriormente transformado no 
Instituto Oswaldo Cruz. 
Na reforma promovida por Oswaldo Cruz foram incorporados como elementos 
das ações de saúde: 
 
- o registro demográfico, possibilitando conhecer a composição e os fatos 
vitais de importância da população; 
- a introdução do laboratório como auxiliar do diagnóstico etiológico; 
- a fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em massa. 
 
 A era Bacteriológica (1875-1950) 
 
Segundo Lemos e Lima (2002), a partir das últimas décadas do século XIX 
surgiram as pesquisas sobre a etiologia (causas) das doenças infecciosas e Pasteur 
descobriu que as doenças eram causadas exclusivamente por meio da penetração e 
multiplicação de uma bactéria, nada mais do que isto. Os conceitos até então 
utilizados para explicar as causas das endemias na espécie humana foram deixados 
de lado, isto é, a relação entre ser humano e meio ambiente deixou de apresentar a 
importância que vinha assumindo. 
Abandonou-se a velha tradição da escola hipocrática quanto à influência do 
meio físico sobre o homem e sobre as doenças que o afligem. Ela foi relegada a um 
simples capítulo da história da medicina. Assim nascia a denominada era 
bacteriológica ou pastoriana. 
Com a era bacteriológica a teoria da unicausalidade teve sua grande época. 
Esta teoria baseava-se no conceito de que uma vez identificados os agentes vivos 
específicos de doenças, os chamados agentes etiológicos e os seus meios de 
transmissão, os problemas de prevenção e cura das doenças correspondentes 
estariam resolvidos, esquecendo-se dos demais determinantes causais relacionados 
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ao hospedeiro e ao ambiente. 
Entre as décadas de 1930 e 1950 iniciou a crise da teoria da unicausalidade e 
começou a prevalecer o conceito de multicausalidade, que considerava que a 
doença é um processo que ocorre por múltiplas causas. Estas causas podem ser 
agentes ou determinantes de doenças de caráter físico, químico, biológico, ambiental, 
social, econômico, psicológico e cultural. A presença ou ausência da doença era, 
mediante ação efetiva sobre um hospedeiro suscetível, um estímulo para iniciar ou 
perpetuar um processo de doença e, com isso, afetar a frequência com que uma 
patologia ocorre em uma população. 
 
 A reviravolta da saúde (1920-1990) 
 
Com o controle das epidemias nas grandes cidades brasileiras o modelo 
campanhista deslocou a sua ação para o campo e para o combate das denominadas 
endemias rural, dada ser a agricultura a atividade hegemônica da economia da época. 
Este modelo de atuação foi amplamente utilizado pela Superintendência de 
Campanhas da Saúde Pública (SUCAM) no combate a diversas endemias (Chagas, 
Esquistossomose e outras), sendo posteriormente incorporada à Fundação Nacional 
de Saúde (POLIGNANO, 2008). 
Segundo Medici (2008), o sistema de saúde brasileiro no século XX seguiu a 
trajetória de países latino-americanos, como México, Chile, Argentina e Uruguai. Em 
24 de janeiro de 1923 foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei Eloi Chaves, 
marco inicial da previdência social no Brasil. Por meio desta lei foram instituídas as 
Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s), financiadas de forma tripartite, pelos 
empregados, empresa e governo. 
Ao longo dos Anos 30, com a crise e a revolução liderada por Getúlio Vargas, 
a estrutura das CAP's foi adicionada pela do Instituto de Aposentadoria e Pensão 
(IAP’s), autarquia centralizada no Governo Federal, supervisionada pelo Ministério do 
Trabalho, Indústria e Comércio. Estas estruturas,organizadas por ramos de atividade, 
absorveram a maioria das antigas CAP's. Nesta época foram criados, ainda, os 
institutos de marítimos (IAPM), comerciários (IAPC), bancários (IAPB), estiva e 
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transporte de cargas (IAPTEC) e industriários (IAPI) (MEDICI, 2008). 
O golpe militar de 1964 e o governo autoritário que se instituiu criaram 
condições propícias para alterar o sistema de previdência social e assistência médica 
até então existente. O processo de unificação previsto em 1960 se efetiva em dois de 
janeiro de 1967, com a implantação do Instituto Nacional de Previdência social 
(INPS), reunindo os seis institutos de aposentadorias e pensões, o Serviço de 
Assistência Médica e Domiciliar de Urgência (SAMDU) e a Superintendência dos 
Serviços de Reabilitação da Previdência Social (SOUZA, 2002). 
Conforme Polignano (2008), o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), 
produto da fusão dos IAP’s, sofre a forte influência dos técnicos oriundos do maior 
deles, o IAPI. Estes técnicos, que passam a história conhecidos como “os cardeais do 
IAPI”, de tendências absolutamente privatizantes, criam as condições institucionais 
necessárias ao desenvolvimento do “complexo médico-industrial”, característica 
marcante deste período (NICZ, 1982 apud POLIGNANO, 2008). 
Na medida em que todo o trabalhador urbano, com carteira assinada, era 
automaticamente contribuinte e beneficiário do novo sistema, foi grande o volume de 
recursos financeiros capitalizados. O fato do aumento da base de contribuição, aliado 
ao fato do crescimento econômico da década de 70 (o chamado milagre econômico), 
do pequeno percentual de aposentadorias e pensões em relação ao total de 
contribuintes, fez com que o sistema acumulasse um grande volume de recursos 
financeiros. 
Ao unificar o sistema previdenciário, o governo militar se viu na obrigação de 
incorporar os benefícios já instituídos fora das aposentadorias e pensões. Um destes 
era o da assistência médica, que já era oferecido pelos vários IAPs, sendo que alguns 
destes já possuíam serviços e hospitais próprios. No entanto, ao aumentar 
substancialmente o número de contribuintes e consequentemente de beneficiários, 
era impossível ao sistema médico previdenciário existente atender a toda essa 
população. 
Diante deste fato, o governo militar tinha que decidir onde alocar os recursos 
públicos para atender a necessidade de ampliação do sistema, tendo ao final optado 
por direcioná-los para a iniciativa privada. Desta forma, foram estabelecidos convênios 
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e contratos com a maioria dos médicos e hospitais existentes no país, pagando-se 
pelos serviços produzidos, o que propiciou a estes grupos se capitalizar, provocando 
um efeito cascata com o aumento no consumo de medicamentos e de equipamentos 
médico-hospitalares, formando um complexo sistema médico-industrial. 
Este sistema foi se tornando cada vez mais complexo tanto do ponto de vista 
administrativo quanto financeiro dentro da estrutura do INPS, que acabou levando à 
criação de uma estrutura própria administrativa, o Instituto Nacional de Assistência 
Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1978. 
A população com baixos salários, contidos pela política econômica e pela 
repressão, passou a conviver com o desemprego e as suas graves consequências 
sociais, como aumento da marginalidade, das favelas e da mortalidade infantil. O 
modelo de saúde previdenciário começa a mostrar as suas mazelas: 
- Por ter priorizado a medicina curativa, o modelo proposto foi incapaz de 
solucionar os principais problemas de saúde coletiva, como as endemias, as 
epidemias e os indicadores de saúde (mortalidade infantil, por exemplo); 
- Aumentos constantes dos custos da medicina curativa, centrada na 
atenção médico-hospitalar de complexidade crescente; 
- Diminuição do crescimento econômico com a respectiva repercussão na 
arrecadação do sistema previdenciário, reduzindo as suas receitas; 
- Incapacidade de o sistema atender a uma população cada vez maior de 
marginalizados, que sem carteira assinada e contribuição previdenciária se viam 
excluídos do sistema; 
- Desvios de verba do sistema previdenciário para cobrir despesas de 
outros setores e para realização de obras por parte do Governo Federal; 
- O não repasse – pela União – de recursos do Tesouro Nacional para o 
sistema previdenciário, visto ser esse tripartite (empregador, empregado, e União). 
Devido à escassez de recursos para a sua manutenção, ao aumento dos custos 
operacionais e ao descrédito social em resolver a agenda da saúde, o modelo 
proposto entrou em crise. Na tentativa de conter custos e combater fraudes o governo 
criou, em 1981, o Conselho Consultivo de Administração da Saúde 
Previdenciária (CONASP) ligado ao INAMPS. 
AN02FREV001/REV 4.0 
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O CONASP passa a absorver em postos de importância alguns técnicos ligados 
ao movimento sanitário, o que dá início à ruptura, por dentro, da dominância dos anéis 
burocráticos previdenciários. O CONASP encontrou oposição da Federação Brasileira 
de Hospitais e de medicina de grupo, que viam nesta tentativa a perda da sua 
hegemonia dentro do sistema e a perda do seu status. 
Para se mencionar a forma desses grupos atuarem, basta citar que eles 
opuseram e conseguiram derrotar dentro do governo, com a ajuda de parlamentares, 
um dos projetos mais interessantes de modelo sanitário, que foi o Prev-saúde, que 
depois de seguidas distorções acabou por ser arquivado. No entanto, isto não impediu 
que o CONASP implantasse e apoiasse projetos pilotos de novos modelos 
assistenciais, destacando o PIASS no nordeste. 
Devido ao agravamento da crise financeira o sistema redescobre, 15 anos 
depois, a existência do setor público de saúde e a necessidade de se investir nesse 
setor, que trabalhava com um custo menor e atendendo a uma grande parcela da 
população carente de assistência. 
Em 1983 foi criado a AIS (Ações Integradas de Saúde), um projeto 
interministerial (Previdência-Saúde-Educação), visando um novo modelo assistencial 
que incorporava o setor público, procurando integrar ações curativo-preventivas e 
educativas ao mesmo tempo. Assim, a Previdência passa a comprar e pagar serviços 
prestados por estados, municípios, hospitais filantrópicos, públicos e universitários. 
Este período coincidiu com o movimento de transição democrática, com 
eleição direta para governadores e vitória esmagadora de oposição em quase todos 
os estados nas primeiras eleições democráticas deste período (1982). Em 1982, o 
movimento das Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves marcaram o fim do regime 
militar, gerando diversos movimentos sociais, inclusive na área de saúde, que 
culminaram com a criação das associações dos secretários de saúde estaduais 
(CONASS) ou municipais (CONASEMS), e com a grande mobilização nacional por 
ocasião da realização da VIII Conferência Nacional de Saúde (Congresso Nacional, 
1986), a qual lançou as bases da reforma sanitária e do Sistema Único 
Descentralizado de Saúde (SUDS). 
A nova Constituição Brasileira é promulgada em 1988, definindo a saúde, no 
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artigo 196, como sendo: direito de todos e dever do estado, garantida mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, 
proteção e recuperação. 
Assim, o modelo médico neoliberal articula-se, onde podemos ressaltar que 
este setor médico privado se beneficiou do modelo médico-privativista, durante 15 
anos a partir de 64, tendo recebido neste período vultosos recursos do setor público 
e financiamentos subsidiados, cresceu, desenvolveu e “engordou”. A partir do 
momento em que o setor público entrou em crise, o setor liberal começou a perceber 
que não mais poderia manter-se e nutrir-se daquelee passou a formular novas 
alternativas para sua estruturação. 
Direcionou o seu modelo de atenção médica para parcelas da população, 
classe média e categorias de assalariados, procurando por meio da poupança desses 
setores sociais organizar uma nova base estrutural. Deste modo foi concebido um 
subsistema de atenção médica supletiva composta de cinco modalidades 
assistenciais: medicina de grupo, cooperativas médicas, autogestão, seguro-saúde e 
plano de administração. 
Com pequenas diferenças entre si, estas modalidades se baseiam em 
contribuições mensais dos beneficiários, em contrapartida pela prestação de 
determinados serviços. Estes serviços e benefícios eram predeterminados, com 
prazos de carências, além de determinadas exclusões, por exemplo, a não cobertura 
do tratamento de doenças infecciosas. 
O subsistema de atenção médica supletiva cresce vertiginosamente na década 
de 80, de tal modo que no ano de 1989 chega a cobrir 31.140.000 brasileiros, 
correspondentes a 22% da população total, e apresenta um volume de faturamento 
de US$ 2.423.500.000,00 (MENDES, 1992 apud POLIGNANO, 2008). 
Este sistema baseia-se em um universalismo excludente, beneficiando e 
fornecendo atenção médica somente para aquela parcela da população que tem 
condições financeiras de arcar com o sistema, não beneficiando a população como 
um todo e sem a preocupação de investir em saúde preventiva e na mudança de 
indicadores de saúde. 
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Enquanto isto, ao subsistema público compete atender a grande maioria da 
população em torno de 120.000.000 de brasileiros, com os minguados recursos dos 
governos federal, estadual e municipal. Em 1990, a Lei 8.080, de 19 de setembro de 
1990, e a Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, conhecidas como Leis Orgânicas 
da Saúde, regulamentam o Sistema Único de Saúde (SUS). A Lei 8.080 estabeleceu 
a forma de repasse de recursos financeiros a serem transferidos para estados e 
municípios, e que deveriam ser baseados nos seguintes critérios: perfil demográfico; 
perfil epidemiológico; rede de serviços instalada; desempenho técnico e 
ressarcimento de serviços prestados. 
A edição das Normas Operacionais Básicas (NOB’s) trata das normas 
operacionais para o funcionamento e operacionalização do SUS, de competência do 
Ministério da Saúde, tendo sido editadas até hoje a NOB-SUS 01/91, NOB-SUS 01/93, 
NOB-SUS 01/96. 
 
- NOB 01/91: definia o repasse direto e automático de recursos do fundo 
nacional aos fundos estaduais e municipais de saúde, sendo 50% por critérios 
populacionais e os outros 50% segundo o perfil epidemiológico e demográfico, a 
capacidade instalada e a complexidade da rede de serviços de saúde, a contrapartida 
financeira, etc. Redefiniu toda a lógica de financiamento e, consequentemente, de 
organização do SUS, instituindo um sistema de pagamento por produção de serviços 
que permanece vigorando até hoje, em grande parte. 
 
- NOB 01/93: criou critérios e categorias diferenciadas, gestão para a 
habilitação dos municípios e, segundo o tipo de gestão implantado (incipiente, 
parcial, semiplena), haveria critérios também diferenciados de formas de repasse 
dos recursos financeiros. 
 
- NOB-SUS 01/96: representa um avanço importante no modelo de gestão do 
SUS, principalmente no que se refere à consolidação da municipalização. Revoga os 
modelos anteriores de gestão propostos nas NOB (gestão incipiente, parcial e 
semiplena) e propõe aos municípios se enquadrarem em dois novos modelos: Gestão 
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Plena de Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Municipal, conforme pode 
ser visto no quadro abaixo: 
 
QUADRO - MODELOS DE GESTÃO 
GESTÃO PLENA DE ATENÇÃO BÁSICA GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL 
Elaboração de programação municipal dos 
serviços básicos, inclusive domiciliares e 
comunitários, e da proposta de referência 
ambulatorial e especializada e hospitalar. 
Elaboração de programação municipal dos 
serviços básicos, inclusive domiciliares e 
comunitários, e da proposta de referência 
ambulatorial e especializada e hospitalar. 
Gerência de unidades ambulatoriais próprias Gerência de unidades próprias, ambulatoriais e 
hospitalares, inclusive as de referência. 
Gerência das unidades ambulatoriais do estado 
e/ou da União. 
Gerência das unidades ambulatoriais e 
hospitalares do estado e/ou da União. 
Introduzir a prática do cadastramento nacional 
dos usuários do SUS. 
Introduzir a prática do cadastramento nacional 
dos usuários do SUS. 
Prestação dos serviços relacionados aos 
procedimentos cobertos pelo PAB para todos os 
casos de referência interna ou externa ao 
município. 
Prestação dos serviços ambulatoriais e 
hospitalares para todos os casos de referência 
interna ou externa ao município. 
 Normalização e operação de centrais de 
procedimentos ambulatoriais e hospitalares. 
Contratação, controle, auditoria e pagamento 
aos prestadores dos serviços contidos no PAB. 
Contratação, controle, auditoria e pagamento 
aos prestadores de serviços ambulatoriais e 
hospitalares. 
Operação do SIA/SUS, conforme normas do 
MS, e alimentação, junto às SES, dos bancos de 
dados de interesse nacional. 
Operação do SIH e do SIA/SUS, conforme 
normas do MS, e alimentação, junto às SES, dos 
bancos de dados de interesse nacional. 
Autoriza AIH e Procedimentos Ambulatoriais 
Especializados. 
Autoriza, fiscaliza e controla as AIH e 
Procedimentos Ambulatoriais Especializados e 
de alto custo. 
Execução de ações de vigilância sanitária e de 
epidemiologia. 
Execução de ações de vigilância sanitária e de 
epidemiologia. 
FONTE: NOB, 1996. 
 
Uma das alterações importantes da NOB 96 foi a forma de repasse dos 
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recursos financeiros do governo federal para os municípios, que passa a ser feito com 
base em um valor fixo per capita (Piso Assistencial Básico - PAB) e não mais vinculado 
à produção de serviços, o que possibilita aos municípios desenvolverem novos 
modelos de atenção à saúde da população. 
O PAB consiste em um montante de recursos financeiros destinado ao custeio 
de procedimentos e ações de assistência básica, de responsabilidade tipicamente 
municipal. Esse piso é definido pela multiplicação de um valor per capita nacional 
(atualmente) pela população de cada município (fornecida pelo IBGE) e transferido 
regular e automaticamente ao fundo de saúde ou conta especial dos municípios. 
Além disso, o município poderá receber incentivos para o desenvolvimento de 
determinadas ações de saúde agregando valor ao PAB. As ações de saúde que 
fornecem incentivos são: Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS); 
Programa de Saúde da Família (PSF); Assistência Farmacêutica Básica; Programa 
de Combate às Carências Nutricionais; Ações Básicas de Vigilância Sanitária; Ações 
Básicas de Vigilância Epidemiológica e Ambiental. 
Em outubro de 1998, Fernando Henrique Cardoso é reeleito para mais quatro 
anos de governo. Tendo em vista a crise econômica vivida pelo Brasil e outros países 
“emergentes”, o governo aumenta ainda mais os juros para beneficiar os 
especuladores internacionais e propõe para o povo um ajuste fiscal, prevendo a 
diminuição de verbas para o orçamento de 1999, inclusive na área de saúde. O corte 
previsto nesta área foi de cerca de R$ 260 milhões. 
Em novembro de 1998 o governo regulamenta a Lei 9.656/98 sobre os planos 
e seguros de saúde, que fora aprovada pelo Congresso Nacional em junho daquele 
ano. Se por um lado houve uma limitação nos abusos cometidos pelas empresas, por 
outro a regulamentação oficializa o universalismo excludente, na medida em que cria 
quatro modelos diferenciados de cobertura de serviços, a saber: 
 
 Plano ambulatorial: compreende a cobertura de consultas em número 
ilimitado, exames complementares e outros procedimentos, em nível ambulatorial, 
incluindo atendimentos e procedimentoscaracterizados como urgência e emergência 
até as primeiras 12 horas. 
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 Plano Hospitalar sem obstetrícia: compreende atendimento em 
unidade hospitalar com número ilimitado de diárias, inclusive UTI, transfusões, 
quimioterapia e radioterapia entre outros, necessários durante o período de 
internação. Inclui também os atendimentos caracterizados como de urgência e 
emergência que evoluírem para internação ou que sejam necessários à preservação 
da vida, órgãos ou funções. 
 
 Plano Hospitalar com obstetrícia: acresce ao Plano Hospitalar sem 
obstetrícia, a cobertura de consultas, exames e procedimentos relativos ao pré-natal, 
à assistência ao parto e ao recém-nascido durante os primeiros 30 dias de vida. 
 
 Plano odontológico: cobertura de procedimentos odontológicos 
realizados em consultórios. 
 
 Plano referência: representa a somatória dos quatro tipos de plano 
anteriores. 
 
No início de 1999, o país atravessa uma grave crise cambial provocada pelos 
efeitos da globalização e da política econômica do governo. Este procura responder 
mais uma vez com um novo acordo de empréstimo junto ao FMI, e no plano interno 
com uma nova política recessiva, ditada pelo FMI, o que gera uma diminuição do PIB 
e um aumento ainda maior do desemprego no país. 
Em março de 1999 há o aumento da CPMF de 0,20% para 0,38% – aquele 
imposto criado para ser provisório e que deveria ser destinado unicamente para a 
saúde. Este imposto durou até 31 de dezembro de 2007. 
 
 Século XXI 
 
Conforme Poles (2008), no século XXI a batalha da humanidade contra os vírus 
e bactérias na promoção da saúde parecia, para muitos pesquisadores, estar próxima 
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do fim. Com os avanços da biologia molecular e as pesquisas na área de engenharia 
genética, alguns cientistas chegaram a dizer que as doenças infecciosas seriam 
derrotadas. Mas a mesma tecnologia que avança nas novas descobertas científicas 
produz um efeito colateral tão nocivo quanto conhecido: a agressão ao meio ambiente. 
A história revela que os grandes surtos de doenças infecciosas ressurgem a partir de 
um quadro de desequilíbrio ecológico, que inclui o desmatamento, economia desigual, 
condições de vida inadequadas e políticas de saúde pública equivocadas. 
Assim, podemos dizer que as epidemias são um problema do futuro e não 
apenas do passado. Pois quem poderia imaginar que em pleno século XXI teríamos 
a Pneumonia Asiática (SARS), que matou 800 pessoas no mundo em 6 meses, 
segundo o epidemiologista Jarbas Barbosa. 
Nos últimos 25 anos surgiram no mundo em torno de 35 novas doenças, todas 
elas com transmissão favorecida por condições do mundo moderno, entre elas: AIDS, 
SARS, Ebola, etc. E novas patologias poderão continuar surgindo nas próximas 
décadas e a rapidez com que estes micro- organismos podem se deslocar ao redor 
do mundo torna cada vez mais assustador, pois em 1990, para dar a volta ao mundo 
levava-se 100 dias, atualmente o percurso é feito em 48 horas. 
A classe médica e as autoridades sanitárias estão em alerta quanto ao 
surgimento das chamadas pandemias-epidemias de alcance mundial. E os agentes 
mais propensos a gerar um surto mundial são os vírus transmitidos pelo ar, como por 
exemplo, a Influenza (gripe) e o Coronavírus (SARS). 
 
Pandemia - é uma epidemia de grandes proporções, que se espalha a vários 
países e a mais de um continente. Pode se instalar no mundo em cerca de 20 dias. 
Se o vírus aparecer em uma cidade com aeroportos, em 48 horas estará em outros 
países, portanto, a doença precisa: 
- ser de fácil transmissão (ar); 
- ter um período de incubação que não seja muito curto (até cinco dias), de 
forma que a pessoa infectada não adoeça antes de espalhar o vírus; 
- gerar um grande percentual de pacientes assintomáticos. 
Atualmente podemos visualizar a epidemia de gripe aviária na Ásia. Isso devido 
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ao vírus que provoca a doença, o H5N1, causar uma pandemia de gripe nos seres 
humanos. Este micro-organismo ainda não é capaz de passar de homem para 
homem, só se sofrer uma mutação. Até o momento, as pessoas doentes foram 
infectadas por contato com animais. Para os epidemiologistas, o fato mais 
preocupante em relação ao H5N1 é sua semelhança com o vírus da gripe espanhola, 
que entre 1918 e 1919 atingiu 50% da população mundial e matou mais de 20 milhões 
de pessoas. 
A cada 20 ou 30 anos, em média, acontecem surtos provocados por vírus mais 
agressivos. Acredita-se que esse seja o período necessário para que um desses 
micro-organismos sofra uma série de pequenas mutações que o transformem em um 
agente patogênico mais letal. “A questão não é se teremos uma nova pandemia, mas 
quando ela eclodirá”, afirma o médico Marco Antônio de Ávila Vitória, do 
Departamento de HIV/AIDS da Organização Mundial de Saúde (OMS). 
Há vírus que vivem sem provocar doenças em certas populações de animais e 
outros que se manifestam de forma endêmica em determinadas regiões. Quando esse 
equilíbrio é quebrado, os agentes patogênicos podem se manifestar de forma mais 
agressiva, provocando as epidemias. O contato das pessoas com esses vírus 
normalmente se dá de duas formas: quando o homem vai até seu habitat, em uma 
floresta, por exemplo, ou quando o animal migra para próximo do homem, porque teve 
seu ambiente natural depredado. 
Vírus como o Ebola e o Coronavírus (Sars) existem há milhões de anos e viviam 
adaptados aos animais. Não se sabe, por exemplo, desde quando existe o HIV, o vírus 
da Aids, que só começou a se propagar entre seres humanos nas últimas décadas do 
século passado. Novos vírus e bactérias não surgem do nada, nós é que vamos atrás 
deles na natureza. 
O grande problema que a sociedade mundial irá enfrentar no século XXI são 
as consequências do desequilíbrio ambiental, que será cobrado pela natureza em 
forma de mais doenças e esse preço não será pago apenas pelos doentes, mas por 
toda a saúde pública. Conforme o relatório do Banco Mundial estima-se que o custo 
global de uma pandemia de gripe pode chegar a US$ 800 bilhões, o equivalente a 2% 
do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Além das mortes, um surto desse tipo 
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prejudicaria seriamente o comércio internacional e a economia do planeta. 
As autoridades sanitárias internacionais, cientes dos riscos e possíveis perdas 
econômicas de vários países, já se preparam para conter possíveis pandemias que 
podem aparecer mais cedo ou mais tarde. Os regulamentos sanitários que vigoram 
sem mudanças desde a década de 60 – e só obrigam a notificar a febre amarela, o 
cólera, a poliomielite, a peste e a varíola – estão prestes a ser alterados. 
A lista de moléstias de notificação compulsória será ampliada e deverá incluir 
novas cepas do H5N1. Para casos de gripe, a melhor forma de prevenção e controle 
continua sendo a vacinação em massa. O problema é que, após o aparecimento de 
uma nova cepa de vírus, os laboratórios levam seis meses para produzir e testar uma 
vacina. 
Outro ponto importante é que o controle de qualquer doença infecciosa 
depende das condições socioeconômicas do local onde ela se manifesta e o 
tratamento da água. Mas a conscientização ambiental continua sendo uma das 
principais preocupações da humanidade em relação ao futuro e à saúde pública 
mundial. 
 
Diferenciação do Termo Saúde Pública de Saúde Coletiva 
 
Muitas têm sido as tentativas de definir a saúde coletiva e diferenciar o termo 
de Saúde Pública. A Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir as doenças, de 
prolongar a vida e melhorar a saúde e a eficiência mental e física dos indivíduos, por 
meio da intervenção técnica e política do Estado na assistência, que irá intervir no 
processo saúde-doença, quebrando sua cadeia causal mediante o tratamento e a 
reabilitação do indivíduo doente, ou evitando seus riscose danos por intermédio da 
prevenção e promoção da saúde, além do controle dos sadios, com base no 
conhecimento científico, ancorado nas técnicas de investigação empíricas, voltadas 
tanto para o individual (ações preventivas e de promoção à saúde com atividades de 
assistência médica e reabilitação), como para o coletivo (por intermédio de ações 
governamentais das políticas de saúde dirigidas ao coletivo) (MATUMOTO et al., 2001 
apud PIRES FILHO, 1987; FERREIRA, 1975). 
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Essas ações são denominadas no nosso cotidiano de programas que se 
ocupam de alguns grupos de risco, tais como, crianças, gestantes, mulheres e idosos, 
ou para grupos acometidos por algum dano, tais como os hipertensos, as pessoas 
com tuberculose, com hanseníase, com diabetes, portadores do vírus HIV ou com 
AIDS. 
As ações de assistência médica individual configuram um instrumento para 
intervir na cadeia causal da doença em um determinado momento ou circunstância, 
que se enquadra segundo um risco ou dano dentro do processo saúde-doença, ou 
seja, como nas atividades de pronto atendimento. 
Quanto às ações dirigidas ao coletivo, podemos citar as tradicionais 
campanhas de vacinação ou as ações de controle de doenças, como a dengue, o 
cólera, ou as ações de educação em saúde. Nesse “coletivo” o homem é um ser “em 
geral”, ou seja, uma coleção de indivíduos para o qual se dirige a ação frente ao risco 
ou dano comum a eles. 
As intervenções em saúde também sempre serão as mesmas, não 
considerando as relações da vida cotidiana entre os homens, ou seja, seus afetos, 
medos, incertezas, a sexualidade e outros, que a saúde coletiva tenta abordar 
(MATUMOTO et al., 2001). Por exemplo, todo conhecimento produzido a respeito da 
forma de transmissão da AIDS poderia, em tese, já tê-la colocado sob controle por 
meio do uso de camisinhas e do não compartilhamento de seringas. Porém, os medos, 
as incertezas e a sexualidade ainda interferem no controle da doença. 
Esta outra aproximação para a compreensão do coletivo significa apreendê-lo 
enquanto campo estruturado de prática social, “que como totalidade se tornaria ponto 
de partida para a compreensão e estruturação das práticas sanitárias”. Dizer isto 
significa reconhecer outra concepção de homem, o homem como um ser social, em 
constante relação com outros homens e com seu meio, transformando-o e sendo 
transformado por ele, isto é, um protagonista da ação de saúde que se constrói. Este 
homem é, ao mesmo tempo, sujeito, ator social, protagonista e objeto da ação, aquele 
que se submeterá às intervenções. 
Assim, nasce no Brasil o termo Saúde Coletiva – que está hoje presente na 
agenda acadêmica e política de países da América Latina, do Caribe e da África. 
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Trata-se de uma forma de abordar as relações entre conhecimentos, práticas e direitos 
referentes à qualidade de vida. Em lugar das tradicionais dicotomias – saúde 
pública/assistência médica, medicina curativa/medicina preventiva, e mesmo 
indivíduo/sociedade busca-se uma nova compreensão, na qual a perspectiva 
interdisciplinar e o debate político em torno de temas como universalidade, equidade, 
democracia, cidadania e, mais recentemente, subjetividade, emergem como questões 
principais. 
Foi em torno desses temas e do desafio de formar profissionais atentos à 
corrente de novas ideias sobre os problemas de saúde – alguns antigos, outros 
produtos de mudanças recentes nos campos biomédicos, político e social –, que se 
organizou, em 1979, a Associação Brasileira de Pós- Graduação em Saúde Coletiva 
(ABRASCO) (LIMA; SANTANA, 2006). 
Logo, Saúde Coletiva pode ser entendida como: Uma ciência histórico-social, 
percebendo que as características dos seres humanos (doentes ou não) são, 
sobretudo, um produto de forças sociais mais profundas, ligadas a uma totalidade 
econômico- social que é preciso conhecer e compreender para explicarem-se 
adequadamente os fenômenos de saúde e de doença com os quais ela se defronta 
(PEREIRA, 1986 apud MATUMOTO et al., 2001). 
Na Saúde Coletiva, o objeto não é mais o corpo biológico, mas os corpos 
sociais. O conceito saúde-doença da saúde coletiva tem base na determinação social 
do processo saúde-doença, diferente da saúde pública, que se baseia na causalidade. 
Logo, a saúde coletiva: É um campo de práticas diversas socialmente determinadas, 
que se apoiam em diferentes disciplinas científicas interdisciplinares com o desafio de 
compreender e interpretar os determinantes da produção social das doenças e da 
organização social dos serviços de saúde, fundamentando-se na interdisciplinaridade 
como possibilitadora da construção de um conhecimento ampliado da saúde e na 
multiprofissionalidade como forma de enfrentar a diversidade interna ao saber/fazer 
das práticas sanitárias” (NUNES, 1994 apud MATUMOTO et al., 2001). 
A construção dessa interdisciplinaridade dentro da equipe de saúde vai-se 
dando na identificação e respeito pelo núcleo de competência e responsabilidade de 
cada profissional, aquilo que é específico em termos de saberes e responsabilidades 
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e pelo campo de competência e responsabilidade comuns a todos os trabalhadores 
de saúde (CAMPOS, 2006). 
Conforme Campos et al. (2006), o campo da Saúde Coletiva é extenso e 
diversificado, reflete a própria concepção ampliada de saúde em suas inúmeras 
interfaces, embasada em três grandes formações disciplinares: as ciências sociais e 
humanas, a epidemiologia e a política e o planejamento. 
Assim, a presença da ciência social e humana (Antropologia, Sociologia, 
Economia, Política, História, Filosofia, Ética, Estética) é considerada como 
fundamental para a compreensão dos processos da vida, do trabalho, do adoecimento 
e da morte, assim como dos cuidados aos doentes e pacientes e das relações 
profissionais. 
Em relação à epidemiologia, como campo de investigação científica, 
desenvolve-se a partir do século XIX, quando o médico inglês John Snow estabeleceu 
os fundamentos da moderna epidemiologia ao estudar a cólera em Londres. A partir 
desses estudos podem-se compreender as relações agente infeccioso, hospedeiro e 
ambiente, no sentido de saber as causas das doenças em grupos de pessoas. 
Sobre política e planejamento são apenas algumas primeiras aproximações. 
Estas fazem parte das ferramentas para organização das ações de promoção de 
saúde. 
 
SUS, OS MODELOS DE ATENÇÃO, AS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS EM 
SAÚDE NO BRASIL 
 
Caracterização do Brasil: uma Sociedade em Transição 
 
Segundo o Ministério da Saúde, por intermédio de seu livro “Saúde Brasil 2006: 
uma análise da desigualdade em saúde demonstra alguns dados secundários 
disponíveis nos sistemas de informação do SUS, que possibilita informar os aspectos 
da sociedade brasileira no ponto de vida da saúde” (BRASIL, 2006), o contexto social 
e demográfico brasileiro assim se caracteriza: 
 
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- População brasileira: 186.770.613 habitantes (ano 2006); 
- Municípios: 5.564; 
- Distribuição da população nos municípios: 72% com 20 mil 
habitantes e somente 7,5% com mais de 100 mil. 
- Distribuição por Regiões: 
 Municípios com até 20 mil habitantes – Nordeste, Sul; 
 Municípios com mais de 100 mil habitantes - Sudeste. 
 
Transição Demográfica 
 
A importante contribuição à transição demográfica do Brasil foi resultante da 
queda da mortalidade a partir da década de 40 e, na década de 60, da acentuada 
queda na fecundidade: 
 
 1940-1960 – 6,2 filhos por mulheres; 
 1970 – 5,8 filhos por mulheres; 
 1970-1980 – 4,4 filhos por mulheres; 
 2000 - 2,4 filhos por mulheres. 
 
 
Evolução da Composição Etária do Brasil 
 
As mudanças rápidas na composição etária evidenciam o envelhecimento 
populacional acelerado. Segundo dados do IBGE, entre 1980- 2000: 
 
 Menores de 15 anos - 38,2% para 29,6%; Entre 15-64 anos – 57,7 para 64,4% na população; 
 Com mais de 65 anos – 6,1% para 8,6% na população. 
 
O grupo de 0 a 5 anos tem mostrado uma redução no seu ritmo de crescimento. 
Em 1981 a proporção era de seis idosos para cada 12 crianças. Em 2004 passou de 
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seis idosos para cada cinco crianças. 
 
Indicadores Sociais e a Evolução do IDH e Desigualdade Cor/Raça 
 
O índice de desenvolvimento humano (IDH) tem melhorado nos últimos anos. 
Em 1990 era 0,713 e passou em 2003 para 0,792. 
As desigualdades regionais e de raça/cor ainda persistem: 
 
 População branca – IDH-M de 0,814 (municipal); 
 População negra – IDH-M de 0,703(municipal). 
 
 
O Brasil ocupa a 64a posição no ranking dos países. Se o IDH fosse medido 
somente na população de raça branca o país ocuparia a 44a posição no ranking 
mundial. O IDH da raça negra cresceu mais do que a da raça branca. As diferenças 
estão baseadas no acesso desigual à educação. 
 
Educação 
 
População com mais de 10 anos de idade – média de seis anos de estudo 
(2000). 
- Taxa de analfabetismo: 
 Maiores de 15 anos – 11,4% (2004); 
 Mulheres – 11,4%; 
 Homens – 11,6%; 
 População rural – 25,8%; 
 População urbana – 8,7%. 
 
Abastecimento de água 
 
- População urbana = 91,3% (2002) com acesso à água por rede geral; 
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- População rural = 22,7% (2002) com acesso à água por rede geral; 
- A qualidade da água distribuída é precária em muitas localidades do país 
por causa de problemas na distribuição ou deficiência no tratamento. 
 
Serviços de saúde 
 
- 113.033 estabelecimentos de saúde cadastrados (2006): 
 2.547 (2.3%) – são do tipo Vigilância, centro de regulação de serviços 
de saúde ou Cooperativas; 
 110.486 (97.7%) – prestam atendimento à população (seja clínico ou de 
distribuição de medicamentos). 
- A média de estabelecimentos de saúde por habitantes é de 5.9 para cada 
10mil habitantes: 
 66,1% - Estabelecimentos de saúde de atenção básica; 
 32,6% - Média complexidade; 
 1,3% - Alta complexidade. 
- A esfera administrativa da maior parte dos estabelecimentos de saúde é 
a privada: 
 
 56% (61.614) são privados e 22% (13.856) prestam serviços para o SUS; 
 43% (47.758) são estabelecimentos privados não-SUS. 
 
Mortalidade 
 
- Segundo a causa: 
 
 Infecciosas e parasitárias – 5,3%; 
 Neoplasias – 16%; 
 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas – 6,1%; 
 Doenças do Sistema Nervoso - 1,7%; 
 Doenças do Sistema Cardiovascular – 32,5%; 
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 Doenças do sistema respiratório – 11,6%; 
 Doenças do sistema digestório – 5,5%; 
 Doenças geniturinárias – 1,9%; 
 Doenças originadas no período perinatal – 3,5%; 
 Má formação congênita – 1,2%; 
 Causas externas – 14,5%. 
 
 
- Segundo o sexo 
 
HOMENS 
- Doenças cardiovasculares: 28,2% em homens com menos de 60 anos; 
- Neoplasias: 40% dos óbitos ocorrem em pessoas com 70 anos ou mais. 
A proporção de homens que morrem antes dos 50 anos é de 15,7%; 
- Causas externas: maior proporção entre 15-39 anos é de 62,3%. 
 
MULHERES 
- Doenças cardiovasculares: 20,4% em mulheres com menos de 60 anos 
e 35% em mulheres após 80 anos; 
- Neoplasias: 40% dos óbitos ocorrem em pessoas com 70 anos ou mais. 
Enquanto 20,9% dos óbitos ocorrem antes dos 50 anos; 
- Causas externas: maior proporção entre os menores de 15 anos: 13%. 
 
 
Nascimentos (nascidos vivos) 
 
- O Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) registrou em 
2004 um total de 3.026.548 nascidos vivos; 
- Destes, 83.970 (2,8%) das mães não referiram nenhuma consulta de pré-
natal e 1.573.183 (52%) reportaram ter recebido sete ou mais consultas; 
- Em 2000, elas representavam 46% do total. Considerando os dados, nota-
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se um aumento do percentual de mães que mencionaram ter sete ou mais consultas; 
- A diferença do número total de nascidos vivos de 2000 para 2004 foi de 
180.213 nascimentos, representando um decréscimo de 5,6% nesse período. 
 
Mortalidade infantil 
 
- Entre 2000 e 2004, os óbitos de menores de um ano passaram de 
68.199 para 54.183; 
- A taxa de mortalidade infantil no Brasil passou de 26,81/1.000 nascidos 
vivos em 2000 para 22,6/1.000 nascidos para 2004, o que representou uma redução 
de 15,7 no período; 
- A maior redução foi verificada na região nordestina, que passou de 41,4 
para 33,9 por mil nascidos vivos. Entre 1996 e 2004, a redução na taxa de mortalidade 
infantil foi de 32%, chegando a 40% no Ceará. 
- As principais causas da mortalidade infantil são: 
 
 Doenças infecciosas; 
 Afecções originadas no período perinatal; 
 Má formação congênita; 
 Doenças do aparelho respiratório. 
 
 
- Dentre as principais causas, o grupo com maior volume de óbitos no 
período analisado no Brasil é das afecções geradas no período perinatal, que em 2004 
apresentou 30.900, ou seja, 57% relativos a menores de 1 ano; 
- Dos 54.183 óbitos de menores de 1 ano ocorridos em 2004, 41% 
(22.329) eram da raça/cor branca, 33% (18.030) pardos e 2,8% (1.499) da 
raça/cor preta. Amarelos e indígenas totalizaram 626 (1,16). Os não informados 
representam 21,6%. 
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O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 
 
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 
e regulamentado pela Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e a Lei nº 8.142/90. 
Sua finalidade é alterar a situação de desigualdade na assistência à saúde da 
população, tornando obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, sendo 
proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer pretexto. 
Este modelo de saúde está voltado para as necessidades da população, 
procurando resgatar o compromisso do estado para com o bem- estar social, 
especialmente no que refere à saúde coletiva, consolidando-o como um dos direitos 
da cidadania. Segundo Souza (2002) e Storpitis et al. (2008), o SUS é um dos maiores 
sistemas de saúde do mundo, sendo o único a garantir assistência integral e 
completamente gratuita para a totalidade da população, isto é, cerca de 180 milhões 
de pessoas, uma população superior à soma dos habitantes da Alemanha, França e 
Grã-Bretanha, sendo, portanto, uma das maiores estruturas públicas existentes do 
mundo. 
Os 38 milhões de brasileiros que possuem plano privado de saúde também são 
cobertos pelo SUS. Os atendimentos a assistência à saúde incluem desde pacientes 
portadores do HIV, sintomáticos ou não, a pacientes renais crônicos e com câncer. A 
rede ambulatorial do SUS é constituída por 56.642 unidades, sendo realizados, em 
média, 350 milhões de atendimentos ao ano. Esta assistência estende-se da atenção 
básica até os atendimentos ambulatoriais de alta complexidade. 
Segundo Brasil (2003), os princípios doutrinários do SUS são: 
 Universalidade: o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas 
as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação ou outras 
características sociais ou pessoais; 
 Equidade: é um princípio de justiça social que garante a igualdade da 
assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. A rede de 
serviços deve estar atenta às necessidades reais da população a ser atendida; 
 Integralidade: significa considerar a pessoa como um todo, devendo as 
ações de saúde procurar atender a todas as suas necessidades. 
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Dentre os princípios organizativos podemos citar: 
 Hierarquização: conjunto articulado e contínuo das ações e serviços 
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os 
níveis de complexidade do sistema; referência e contrarreferência; 
 Participação popular: dos processos decisórios, consolidado na 
participação dos usuários dos serviços de saúde nos chamados Conselhos Municipais 
de Saúde; 
 Descentralizaçãopolítico-administrativa: consolidada com a 
municipalização das ações de saúde, tornando o município gestor administrativo e 
financeiro do SUS. 
 
Os objetivos e as atribuições do SUS são: 
 Identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da 
saúde; 
 Formular as políticas de saúde; 
 Fornecer assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, 
proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais 
e das atividades preventivas; 
 Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica; 
 Executar ações visando a saúde do trabalhador; 
 Participar na formulação da política e na execução de ações de 
saneamento básico; 
 Participar da formulação da política de recursos humanos para a saúde; 
 Realizar atividades de vigilância nutricional e de orientação 
alimentar; 
 Participar das ações direcionadas ao meio ambiente; 
 Formular políticas referentes a medicamentos, equipamentos, 
imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua 
produção; 
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 Controle e fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse 
para a saúde; 
 Fiscalização e inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo 
humano; 
 Participação no controle e fiscalização de produtos psicoativos, tóxicos e 
radioativos; 
 Incremento do desenvolvimento científico e tecnológico na área da 
saúde; 
 Formulação e execução da política de sangue e de seus derivados. 
 
O financiamento do SUS é uma responsabilidade comum dos três níveis de 
governo. Os recursos federais correspondem a mais de 70% do total e vêm sendo 
repassado a estados e municípios, por transferência direta do Fundo Nacional de 
Saúde aos fundos municipais e estaduais, conforme o decreto 1.232, de 30 de agosto 
de 1994. 
A consolidação do SUS é uma corresponsabilidade dos três entes federados 
(União, Estados e Municípios): 
Gestor Federal: Formular, normatizar e avaliar a implementação da Política 
Nacional de Saúde e cooperar técnica e financeiramente com estados, Distrito Federal 
e municípios para o aperfeiçoamento da atuação institucional; 
Gestor Estadual: Formular, coordenar e avaliar a execução da Política 
Estadual de Saúde e cooperar técnica e financeiramente com todos os municípios; 
Gestor Municipal: Formular, avaliar e executar a Política Municipal de Saúde. 
Os gastos públicos com ações e serviços no Brasil em 2000, por parte do 
Governo Federal, Estadual e Municipal, podem ser estimados em 34 bilhões de reais. 
As principais fontes de financiamento do MS são das contribuições sociais, 
responsável por 75% do total. Os recursos provenientes de impostos (Recursos 
ordinários do Tesouro) participam de 14%, ou seja: 
- Contribuições sobre financiamentos (CONFINS): Lei Complementar 
n° 70/91 – 3% sobre as receitas das pessoas jurídicas (2001 – responderam com 
38,9% dos recursos MS); 
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- Contribuição Provisória sobre movimentação ou transmissão de 
valores, créditos e direitos de natureza financeira (CPMF): Emenda constitucional 
37 – 0,38% sobre as movimentações financeiras (28% dos recursos MS); 
- Contribuição social sobre o Lucro Líquido (CSLL): incide sobre os 
lucros das empresas, com uma alíquota de 9% sobre o lucro ou 12% do faturamento 
no caso de lucro presumido (7% do recurso MS); 
- Seguro obrigatório de danos causados por veículos automotores de 
vias terrestres (DPVAT): Lei 6.194/74 – As companhias seguradoras devem passar 
50% do valor do prêmio recolhido ao SUS dos vitimados em acidentes de trânsito. 
 
OS MODELOS DE ATENÇÃO 
 
Conforme Storpirtis et al. (2008), o SUS é estruturado em três níveis de atenção 
que correspondem às responsabilidades dos municípios, estados e do Governo 
Federal. 
a) Nível Primário: fornece a assistência básica, que corresponde ao 
Programa de Saúde da Família, os postos de saúde, os pronto- atendimentos e as 
creches; 
b) Nível secundário: inclui os centros de saúde, policlínicas, hospitais 
gerais, maternidades e hospitais de trauma e emergência; 
c) Nível terciário: compreende os hospitais especializados em tratamentos 
complexos, podendo incluir os hospitais universitários. 
 
Este modelo está organizado de uma forma regionalizada em cada Estado 
conforme a Figura, abaixo: 
 
 
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FIGURA - MODELO REGIONALIZAÇÃO 
 
 
Assim, é importante entender alguns conceitos chaves em relação a este 
modelo de atenção básica proposto no Brasil: 
 
a) MACRORREGIÃO DE SAÚDE: conceito empregado para descrever a 
organização estadual das ações e serviços de saúde. Os critérios utilizados para 
configuração das Macrorregiões de Saúde incluíram elementos de geoprocessamento 
e indicadores econômico-sociais, tais como: localização geográfica, contingente 
populacional, organização do sistema viário, agrupamento por regionais de saúde, 
equidistância entre polos tecnológicos, cultura de deslocamento, recursos 
tecnológicos disponíveis, índice de desenvolvimento social (IDS), complexo 
econômico regional e bacia hidrográfica. 
Nesta abrangência, estabelece-se o compromisso de organizar a oferta de 
serviços de alta complexidade. Corresponde ao conceito de Região de Saúde 
descrito na NOAS 01/01. 
 
b) REGIONAL DE SAÚDE: sede administrativa regionalizada para 
desenvolvimento de ações e serviços de âmbito do gestor estadual, sediada em 
município polo de um conjunto de municípios, cuja delimitação respeita a divisão 
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geopolítica da Federação Catarinense de Municípios (FECAM). Nesta abrangência, 
estabelece-se o compromisso de organizar a oferta de serviços de média 
complexidade. 
c) REGIÃO DE SAÚDE (conceito definido na NOAS 01/01): Base territorial 
de planejamento da atenção à saúde, não necessariamente coincidente com a divisão 
administrativa do Estado, a ser definida pela SES. De acordo com as especificidades 
e estratégias de regionalização da saúde em cada Estado, considerando as 
características demográficas, socioeconômicas, geográficas, sanitárias, 
epidemiológicas, oferta de serviços, relações entre municípios, entre outras. 
Dependendo do modelo de regionalização adotado, um Estado pode se dividir em 
regiões e/ou microrregiões de saúde. Por sua vez, a menor base territorial de 
planejamento regionalizado, seja uma região ou uma microrregião de saúde, pode 
compreender um ou mais módulos assistenciais. 
d) MÓDULO ASSISTENCIAL (conceito definido na NOAS 01/01): Módulo 
territorial com resolubilidade correspondente ao primeiro nível de referência, 
constituído por um ou mais municípios, que contemplem as seguintes características: 
- conjunto de municípios, entre os quais há um município-sede, habilitado 
em Gestão Plena do Sistema Municipal (GPSM), com capacidade de ofertar a 
totalidade dos serviços relacionados aos procedimentos mínimos de média 
complexidade, com suficiência, para sua população e para a população de outros 
municípios vizinhos; ou 
- município em GPSM, com capacidade de ofertar com suficiência a 
totalidade dos serviços relacionados aos procedimentos mínimos de média 
complexidade para sua própria população, quando não necessitar desempenhar o 
papel de referência para outros municípios. 
 
e) MUNICÍPIO-SEDE DO MÓDULO ASSISTENCIAL: Município existente 
em um módulo assistencial que apresente a capacidade de ofertar a totalidade dos 
serviços relacionados aos procedimentos mínimos de média complexidade, 
correspondente ao primeiro nível de referência intermunicipal, com suficiência, para 
sua população e para a população de outros municípios a ele adstritos. 
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f) MUNICÍPIO-POLO: Município que apresenta o papel de referência para 
outros municípios, em qualquer nível de atenção. 
g) UNIDADE TERRITORIAL DE QUALIFICAÇÃO NA ASSISTÊNCIA À 
SAÚDE (UTQAS): Representa

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