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AN02FREV001/REV 4.0 1 1 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE AN02FREV001/REV 4.0 2 2 SAÚDE PREVENTIVA E PROMOÇÃO DA SAÚDE DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00 ATENDIMENTO AO ALUNO editorafamart@famart.edu.br mailto:editora AN02FREV001/REV 4.0 3 3 Sumário FAMÍLIA, SAÚDE E COMUNIDADE .......................................................................... 4 HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA E A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ..................... 6 SUS, OS MODELOS DE ATENÇÃO, AS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE NO BRASIL .................................................................................................................... 32 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ................................................................... 38 OS MODELOS DE ATENÇÃO ................................................................................. 41 ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE ................................................................................. 45 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA ........................................................ 46 ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE ....................................................................... 48 ATENÇÃO TERCIÁRIA À SAÚDE ........................................................................... 50 AS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE .......................................................... 51 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 70 AN02FREV001/REV 4.0 4 4 FAMÍLIA, SAÚDE E COMUNIDADE SAÚDE E SOCIEDADE Segundo o artigo 196 da Constituição Federal de 1988: A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Para Shuqair (1996), o Estado tem o dever de prestar benefícios aos cidadãos, a fim de proporcionar a melhoria das condições de vida. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito de saúde é definido como “o completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”. A saúde é um direito complexo, que envolve o bem-estar físico e mental, além do direito de não ficar doente. Portanto, isso significa que alimentação, abrigo, proteção, segurança, ausência de doenças e tratamentos são direitos relacionados à saúde do brasileiro. Assim como o direito ao abrigo está envolvido no conceito de saúde, a proteção contra o estresse e a segurança no trabalho também são aspectos do direito à saúde, porque se saúde é o completo bem-estar mental, é necessário ter total segurança, não só a segurança do trabalho. Além disso, o direito de não ser contaminado, e assim perder a saúde, bem como o direito a ser tratado, tudo isso é requisito para que um indivíduo tenha saúde. Concluindo, não podemos reivindicar saúde como apenas ausência de doença, temos de ter bem claro que saúde é também bem-estar físico, mental e social (CIANCIARULLO, 2007). O Estado tem a obrigação de oferecer serviços acessíveis a toda à população e que resolvam o problema, ou seja, eficientes. Em relação ao medicamento, além de garantir o seu acesso, deve assegurar que este chegue às pessoas com qualidade e dentro dos padrões estipulados nos regulamentos. E que, por meio das fiscalizações, se faça cumprir o poder de polícia das vigilâncias sanitárias, com o intuito de prevenção e não punição, para evitar as falsificações e venda de produtos de má qualidade, que possam causar prejuízo à saúde. AN02FREV001/REV 4.0 5 5 A saúde e a doença são objetos ao mesmo tempo sociais e biológicos. As pessoas são sadias, ficam doentes e morrem não apenas por causas biológicas, mas também por razões sociais. Em Sociologia, uma sociedade “é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, preocupações e costumes, e que interagem entre si”, na qual estão politicamente organizadas, partilhando objetivos comuns, dando sentido como um ser de relações, capaz de fazer sua própria vida (WIKIPEDIA, 2008). Logo, segundo Rouquayarol e Almeida Filho (2003), a organização social depende de como está produzida e distribuída a riqueza, a totalidade de desenvolvimento e, sobretudo, das condições de vida da população. Logo, o que se pode observar entre os grupos sociais é que as pessoas privilegiadas com poder aquisitivo (ricas) podem estar menos sujeitas à ação dos fatores ambientais, que estimulam a ocorrência de certos tipos de doenças. Ao contrário do que acontece com os grupos de baixa renda (pobres), que são mais propensos a doenças graves, morrem mais jovens, apresentam em maior proporção crianças desnutridas e uma taxa de mortalidade infantil mais elevada. Por exemplo, as parasitoses intestinais estão sempre onde a miséria se faz presente. Portanto, o histórico socioeconômico e cultural de uma comunidade tem relação com a determinação social das doenças. Assim, quando avaliamos as questões epidemiológicas no Brasil nos deparamos com um quadro que compreende doenças do atraso e do desenvolvimento, por exemplo, das parasitoses às doenças cerebrovasculares, da desnutrição à obesidade, da febre amarela às cardiovasculares. Para isso, os serviços brasileiros de saúde devem estar organizados para prevenir, tratar e recuperar com a mesma eficácia estes problemas de saúde pública. Estas complexas questões epidemiológicas estão relacionadas ao processo de desenvolvimento capitalista brasileiro, desigual e atrasado, que combina a tecnologia de ponta com o “fora de moda” em alguns setores, a pobreza da maioria com a riqueza para a minoria. Essas contradições estão relacionadas ao processo desordenado de industrialização, sem o devido planejamento urbano, o saneamento básico e o trânsito que suportasse a inversão do fluxo populacional, no sentido campo- cidade, na ordem de 30% a 70%. Além disso, esta desordem da industrialização reflete negativamente AN02FREV001/REV 4.0 6 6 no meio ambiente, por exemplo, por meio do desmatamento, dos resíduos industriais e do processo de trabalho, que são também responsáveis pela qualidade do desenvolvimento, da vida e da saúde (ROSA, 1997). É importante destacar que os determinantes sociais têm forte inter- relação, pois mantêm as semelhanças de propriedade, garantem a acumulação e produzem a desigualdade. Outros determinantes na má qualidade de vida e de saúde da população são os diferentes níveis de desenvolvimento regional, o salário das classes trabalhadoras e a concentração de terra. As condições precárias de trabalhar a terra, em função dos latifúndios e ausência de incentivos agrícolas, produzem o inchaço populacional nas cidades. Com isso, a produção e a oferta de empregos na indústria, comércio e setor de serviços são inversamente proporcionais à demanda. Para os que conseguem ocupação no mercado de trabalho, os salários são pequenos, o que impede o acesso aos bens essenciais. Esta desigualdade é mais frequente nas regiões norte e nordeste. Daí a ocorrência dos piores indicadores de saúde, já que é nestas regiões que a fome, a desnutrição e a mortalidade infantil são, em média, duas vezes superiores às verificadas no sul e sudeste. Além do que, em algumas cidades nordestinas a esperança de vida é até 30 anos menor em relação às encontradas nas regiões sul e sudeste (ROSA, 1997). A compreensão da relação entre saúde e sociedade é essencial para que possamos entender as contradições e o insucesso das políticas de saúde implantadas no Brasil até o momento. HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA E A SAÚDE PÚBLICANO BRASIL Repensar a saúde coletiva, aproveitando-se da história e da tradição da saúde pública, faz-se necessário para traçar um panorama da Saúde Coletiva no Brasil. Cerca de 1000 a.C - o Mundo Greco-Romano Conforme Rosen (1994), achados do Médio Império (2100-1700 a.C.) oferecem ideia das condições da saúde pública no Egito antigo. Por meio dos estudos históricos AN02FREV001/REV 4.0 7 7 das ruínas de Kahum foi verificado cuidados com o escoamento de água (por intermédio de calhas de pedra de mármore); sistema de abastecimento de água para beber; destino de dejetos e sistema de esgotamento. As pessoas mantinham-se limpas para se apresentarem puras aos olhos dos deuses e não por questão de higiene. As doenças, neste período, eram consideradas sobrenaturais. Logo, atribuía- se o processo saúde e doença a processos naturais. Os médicos gregos eram filósofos naturais. Não tinham o objetivo de lidar com problemas de saúde, mas desejavam entender o universo das relações entre o homem e a natureza. Assim, não distinguiam as diferentes doenças, só se preocupavam com vários grupos por meio de teorias sobre a mistura anormal dos fluidos do corpo (humoralismo) ou acerca dos estados das partes sólidas do corpo (solidismo). A relação solo e saúde eram reconhecidas pelos gregos pela necessidade de instalar suas construções em ambiente salubre. Usava-se então, a inspeção do fígado. Sacrificavam-se os animais que haviam pastado em determinada terra e observavam-se suas vísceras. Se estas apresentassem a cor amarelo-esverdeado, considerava-se a terra insalubre para o homem. Primeiros Relatos de Doenças Agudas Difteria: relatos de graves dores de garganta que muitas vezes terminavam em morte. Aplicava-se a palavra grega KYNANCHE às várias doenças inflamatórias agudas da garganta e laringe. As complicações eram: voz anasalada, dificuldade em engolir, saída de fluido pela narina durante a ingestão de líquidos, dificuldade de ficar de pé, presença de úlceras nas amígdalas e formação de uma membrana semelhante a uma teia de aranha. Malária: Muito familiar aos médicos gregos. Febres maláricas são abundantes e devido à periodicidade falavam em terçã e quartã. Nesta época, já se fazia a associação de pântanos e febre malárica. Logo, os rios eram desviados para os pântanos para prevenir a estagnação das águas e salubrificá-las. AN02FREV001/REV 4.0 8 8 É neste período da história da saúde que se originaram os termos: - Endemia: doença habitualmente comum entre pessoas de uma região, cuja incidência se prende à ocorrência de determinados fatores locais, se traduz pelo aparecimento de menor número de casos ao longo do tempo. - Epidemia: se caracteriza pela incidência, em curto período de tempo, de grande número de casos de uma doença. Idade Média (500 a 1500 d.C) Com a desintegração do mundo greco-romano, sob o impacto da invasão dos bárbaros, ocorreu o declínio da cultura urbana e a decadência da organização e da prática da saúde pública. Conforme Ferreira (1997), na Idade Média os problemas de saúde eram enfrentados em termos mágicos e religiosos (período chamado de “Idade das Trevas” – 500-1000 a.C) favorecendo um terreno de supernaturalismos. Os costumes e rituais pagãos eram usados para resolver os problemas de saúde dos indivíduos e comunidades. Ao mesmo tempo os cristãos afirmavam a existência de uma relação entre a doença e o pecado. A doença era uma punição pelo pecado. As causas da doença eram consideradas a possessão pelo diabo e a feitiçaria. Para resolver os problemas de saúde eram usadas as orações, a penitência e a invocação dos santos, para que, assim, o corpo fosse salvo e a alma ficasse mais forte fisicamente para suportar os ataques dos demônios. Outro problema presente nesta época foi o crescimento da população nas cidades. Com isso, as cidades apresentavam problemas para acomodar as pessoas, logo, muitas dificuldades de saúde pública começavam a surgir: ruas sem calçadas, as imundícies, os refugos eram acomodados nas beiras das estradas e, por fim, as doenças. Duas epidemias marcaram o começo da Idade Média: a Peste Justiniano, em 543, e a Morte Negra, em 1348. Outros surtos de doenças também arruinaram a AN02FREV001/REV 4.0 9 9 Europa e o litoral mediterrâneo, tais como: lepra, peste bubônica, varíola, difteria, sarampo, influenza, tuberculose, escabiose, antraz. Varíola: é no início do século 10 que aparece a primeira descrição da doença. O termo varíola surge no relato de Marius, significando simplesmente “pintado ou pontilhado”. Lepra: Representou a grande praga das pessoas medievais. O medo de todas as doenças dificilmente dava-se para comparar ao terror desencadeado pela lepra. A lepra assumiu proporções epidêmicas em decorrência dos grandes deslocamentos de populações resultantes das Cruzadas, pois ao retornar do Oriente, os cruzados trouxeram casos. Com o tempo a doença cedeu, em virtude de a morte negra ter levado a vida de muitos leprosos. Só no século XVI a lepra perdeu sua importância. Os leprosos eram isolados em hospedarias destinadas ao acolhimento de vítimas de doenças contagiosas. Quando estas pessoas sofriam de uma moléstia transmissível, que podia ameaçar diretamente a saúde dos que os circulam, a comunidade sentia-se no direito de, para se proteger, sujeitar este indivíduo a restrições. Surgiu, assim, a obrigação de notificar algumas doenças comunicáveis. Estes locais de isolamento de leprosos deram origem, mais tarde, aos hospitais, que em vez de receber os doentes para seu isolamento, começaram a tratá- los para sua recuperação. Os leprosos tornaram-se uma ameaça pública. Assim, as pessoas, para proteger os sadios, expulsavam-nos. E por ser uma doença incurável, eram considerados mortos-vivos. Para isso, era feito o funeral com a presença da vítima, como ritual de expulsão desta pessoa da sociedade. Os leprosos eram vestidos com uma mortalha, lia-se a missa solene para os mortos, jogava-se terra sobre o doente e então os padres o conduziam acompanhado pelos parentes, amigos e vizinhos, para os leprosários, fora do limite da comunidade. Período de colonização do Brasil (1500 a 1830) Conforme Barbosa-Filho e Stockler (1991), a sociedade brasileira foi formada por três tipos distintos: o branco europeu, o índio americano e o negro africano. AN02FREV001/REV 4.0 10 10 Na época da descoberta do Brasil, as Américas eram habitadas por cerca de 80 milhões de índios americanos. Em seguida, chegaram os primeiros portugueses, que em geral eram aventureiros e indivíduos expulsos de Portugal. Após 1530, chegaram fidalgos, funcionários do governo e soldados, que vinham com o desejo de enriquecer fácil. Como o governo português nada ganhava com a escravidão indígena, apoiava os jesuítas e a igreja na defesa do índio contra o interesse dos colonos em escravizá-los. Logo, os negros africanos (na grande maioria prisioneiros de guerra) eram escravizados para fazer os trabalhos domésticos e na lavoura. Segundo Rosa (1997), neste período entre a colonização e a chegada da família Real no Brasil, o país não apresentava nenhum modelo de atenção à saúde da população. As pessoas limitavam-se aos seus conhecimentos empíricos para desenvolver a arte de curar a partir de seus recursos (por exemplo, uso de plantas medicinais). A cidade do Rio de Janeiro era precária e mal cheirosa, provinciana, suja e descuidada. A situação das residências era terrível, mas pior ainda em lugares em que se acumulavam muitas pessoas. Não existia nenhuma preocupação com insetos, ratos ou outros animais, pois ninguém imaginava que eles pudessem transmitir enfermidades. Em relação à água, a preocupação era apenas quanto ao cheiro e, às vezes, com a sua cor. A presença de micro-organismos era conhecida e encarada comindiferença, pois não se imaginava que eles pudessem ser nocivos. As casas possuíam apenas uma janela, sem condição de que fosse renovado e purificado o ar (ROSA, 1997). Aos poucos foi surgindo a ideia de que as doenças eram causadas pelo mau cheiro. No século XVIII, torna-se popular a teoria dos miasmas, para explicar as doenças produzidas por cheiros de coisas estragadas e deterioradas. Neste período, a limpeza era tratada como uma questão de estética, e não como uma questão de saúde, ou seja, de higiene. Os lixos e os excrementos eram afastados das casas apenas por causa de seu cheiro. Na luminosa manhã de 8 de março de 1808, mais de 10 mil nobres exilados se AN02FREV001/REV 4.0 11 11 preparam para pôr novamente os pés em terra e iniciar não só um novo período para a história de Portugal, como uma nova era para o Brasil. Embora satisfeita com o desembarque, a família real não pôde deixar de notar que, além da cidade do Rio de Janeiro apresentar um cenário geográfico maravilhoso que envolve a Baía de Guanabara, que encantou a navegadores, viajantes e poetas, o fato é que a cidade exalava “os odores pútridos.” A população ficou deslumbrada com o glamour dos príncipes, nobres, cortesões e a Rainha Louca pisando em solo carioca, acompanhados do som dos clarins, o estourar dos rojões e os aplausos, porém, não foi capaz de ignorar a feiura de D. João VI e da princesa Carlota Joaquina, nem os gritos alucinados da Rainha Maria I e as cabeças raspadas das cortesãs (devido à epidemia de piolho ocorrida a bordo) (ROSA, 1997). Mas com a vinda da família real viu-se a necessidade do estabelecimento de um controle sanitário mínimo, para que então a realeza pudesse morar na cidade do Rio de Janeiro e instalar o império no país. Outro fato importante é a carência de profissionais médicos, o que oportunizou a proliferação pelo país dos boticários (farmacêuticos). Este profissional não apresentava formação acadêmica. Conforme Thomaz (2002), o conhecimento dos pajés, juntamente com o dos jesuítas (que sabiam aplicar e utilizar as plantas da flora brasileira e a cura de doenças) contribuiu para o início da manipulação destas fórmulas e o cuidado da população. A princípio os medicamentos já vinham prontos de Portugal. No entanto, dificuldades operacionais impediam a vinda frequente de navios. Assim, os jesuítas terminaram sendo os primeiros boticários da nova terra e nos seus colégios foram instaladas as primeiras boticas, onde o povo encontrava drogas vindas da metrópole, bem como remédios preparados de plantas medicinais, conhecimento incorporado dos pajés (THOMAZ, 2002, p. 2). Em 1839 foi criado o curso de Farmácia, anexo ao curso de Medicina, na Escola de Farmácia de Ouro Preto (BERMUDEZ, 1995). Assim, gradualmente, as boticas são substituídas pelas “Pharmácias” e com isso os medicamentos passam a ser formulados pelos farmacêuticos embasados em formulários internacionais, enciclopédias, farmacopeias populares. AN02FREV001/REV 4.0 12 12 Segundo Polignano (2008), “até 1850 as atividades de saúde pública estavam limitadas ao seguinte: delegação das atribuições sanitárias às juntas municipais e controle de navios e saúde dos portos”. A falta de um modelo sanitário para o país deixava as cidades brasileiras à mercê das epidemias (como a varíola, a malária, a febre amarela e posteriormente a peste), o que acabou gerando sérios problemas para saúde coletiva e para o comércio exterior. Devido à situação sanitária existente na cidade os navios estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro. Novas Doenças no Mundo no Período de 1400 a 1850 A história das grandes descobertas geográficas dos séculos XV e XVI trouxe a visão de um mundo mais espaçoso, mas também novos problemas. 1849: RUDOLF VIRCHOW – Elaborou uma teoria segundo a qual a doença epidêmica seria uma manifestação de desajustamento social e cultural. As doenças epidêmicas aparecem e desaparecem muitas vezes sem deixar rastro. Suor inglês (1485) Esta doença tinha como principais características a febre alta, com calafrios, cãibras nas extremidades e dores em várias partes do corpo, uma sensação de profunda angústia, dificuldade de respirar e irregularidade do pulso. Em casos graves apareciam delírios e alucinações (FERREIRA, 1997). A moléstia durava algumas poucas horas até um dia e como o restabelecimento acontecia após suores profundos, recebeu o nome de Suor Inglês. Ela matou milhares de pessoas em Londres em uma semana nos anos de 1508 e de novo em 1517, 1528 (surto mais grave) e 1551. Nunca se esclareceu de forma suficiente a natureza da doença. AN02FREV001/REV 4.0 13 13 Tifo Descrita pela primeira vez por Fracastoro, em 1546. Sempre esteve intimamente ligada às guerras, fome e pobreza. A doença continua a ser presente em acampamentos militares, prisões, navios e hospitais, ou seja, quando as pessoas se juntam e não conseguem manterem-se limpas, e assim se expõem inclusive ao piolho transmissor, passando a ser uma ameaça. Raquitismo ou doença inglesa Em 1649, doutor Fuller descreve a doença existente em crianças: o Raquitismo. A cabeça aumenta muito, ao passo que as pernas e partes inferiores mínguam demais. No século XVII, passou a atrair a atenção da saúde pública. Um aumento marcante de sua incidência ocorreu durante as duas primeiras décadas do século XVII, graças à severa pressão econômica e à terrível pobreza, em especial no sul da Inglaterra. Esse aumento estaria relacionado ao crescimento da vida urbana, quando era difícil consumir “carnes brancas”, em particular leite, este fato associado ainda à falta de banho de sol. Escorbuto, a negra do mar As rotas marítimas para o externo Oriente e o Novo Mundo implicavam viagens maiores. Assim, nas longas viagens os marinheiros encontravam seu grande inimigo no escorbuto. Uma enfermidade devido a uma dieta deficiente ou destituída de VITAMINA C. Em sua viagem, no ano de 1498, Vasco da Gama perdeu 55 de seus marinheiros. Em 1749 todos afirmavam o valor dos sucos de limão e de laranja. Então, em AN02FREV001/REV 4.0 14 14 1753 os britânicos editaram uma famosa ordem para que todos os marinheiros recebessem uma provisão de suco de limão. Doença dos trabalhadores Em 1700 aparece a primeira citação sobre as enfermidades dos trabalhadores. Em virtude de avanços econômicos e tecnológicos os mineiros e metalúrgicos estiveram entre os primeiros grupos ocupacionais a merecerem estudos. Em 1523 foi impressa a primeira publicação que trata dos riscos de um grupo ocupacional: sobre os venenos e maléficos vapores e gases metais, como prata, mercúrio, chumbo e outros, que o valioso negócio de ourives compele os trabalhadores a usar. Em 1567 surgem três livros tratando das doenças pulmonares dos mineradores, das moléstias dos funcionários metalúrgicos e das enfermidades causadas pelo mercúrio. Sífilis Entre as novas doenças dos séculos XVI e XVII sobressaiu-se a sífilis. Ela apareceu em Nápoles, de onde se disseminou para o resto do continente. 1495: Alemanha, França e Suíça. 1496: Holanda e Grécia. 1497: Inglaterra e Escócia. 1499: Hungria e Rússia. Algumas medidas de controle tiveram como alvo as prostitutas. O bordel era uma instituição aceita e a prostituição uma profissão amplamente praticada. Em 1496, Besançon expulsou as prostitutas e os estrangeiros acometidos pela doença. Ainda em 1497, Bamberg proibiu os sifilíticos de entrarem em hospedarias e igrejas e de AN02FREV001/REV 4.0 15 15 manterem quaisquer contatos com pessoas sadias. Foram criados hospitais para tratamento de sifilíticos. Em 1552, foi expedido um alvará que determinava que os sifilíticos deveriam procurar os HOSPITAIS DOS INCURABLES. As Revoluções ao movimentosanitário (1830-1900) Segundo Saga (1981), a febre amarela era endêmica, introduzida no Rio de Janeiro por um cargueiro norte-americano. A doença acometia a população principalmente no verão, quando provocou a morte de 6.500 pessoas no ano de 1850. No inverno podiam-se observar as doenças como varíola (que matou 3566 pessoas no ano de 1904), cólera, peste bubônica, tifo e a tuberculose. As primeiras medidas sanitárias foram tomadas no governo de Campos Sales, em 1899, com a criação do Instituto Manguinhos, destinado à produção de vacinas contra a peste bubônica. Para a organização da instituição o governo do Rio de Janeiro consultou o Instituto Pasteur de Paris, que indicou o brasileiro Osvaldo Gonçalves Cruz – paulista de São Luís do Paratinga – para tomar frente aos trabalhos de saneamento da cidade (SAGA, 1981). Conforme Polignano (2008), Oswaldo Cruz, nomeado diretor-geral de Saúde Pública por Ricardo Alves, se propôs a higienizar a cidade e erradicar a epidemia de febre amarela do Rio de Janeiro. Para sanear a cidade o diretor-geral de saúde pública organizou uma equipe “mata-ratos”, que percorria armazéns, becos, cortiços e hospedarias espalhando raticidas e removendo os lixos. Nesta época foi criado o cargo comprador de ratos, um funcionário do governo que andava nas ruas do centro e interior da cidade, pagando 300 réis por roedores apanhados pela população. A partir destas medidas, poucos meses depois, a peste bubônica estava sob controle (SAGA, 1981). A outra medida tomada por Oswaldo Cruz foi a Campanha para a erradicação da febre amarela. Foi criado um exército de 1.500 pessoas que passaram a exercer atividades de desinfecção no combate ao mosquito vetor da febre amarela. Esta brigada de “mata-mosquitos” vasculhava as casas e despejava petróleo nos alagados. AN02FREV001/REV 4.0 16 16 A falta de esclarecimento e a prepotência dos “guardas-sanitários” causaram revoltas na população (POLIGNANO, 2008). Mas os rápidos resultados da campanha acalmaram os ânimos. Isto pode ser percebido por meio da redução de mortes provocadas pela febre amarela, que em 1906 havia baixado para 42, contra 289 casos fatais em 1905 e 984 em 1902. Conforme Polignano (2008), este modelo de intervenção ficou conhecido como campanhista e foi concebido dentro de uma visão militar, em que os fins justificam os meios, e no qual o uso da força e da autoridade eram considerados os instrumentos preferenciais de ação. Mas ainda faltava a varíola. E a onda de insatisfação se agravava com outra medida de Oswaldo Cruz: a Lei Federal nº 1261, de 31 de outubro de 1904, que instituiu a vacinação antivariólica obrigatória para todo o território nacional. Nesta época corre o boato de que em vez de imunizar a vacina provocaria a doença. Surge, então, um grande movimento popular de revolta, que ficou conhecido na história como a revolta da vacina. Segundo Saga (1981), a imprensa e os positivistas opunham-se à nova lei, denunciando seu caráter arbitrário e a violência da privacidade praticada pelos “guardas-sanitários”, que vacinavam as pessoas à força. Rui Barbosa, em discurso no Senado diz: Assim como o direito veda ao poder humano invadir-nos a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme (...), expondo-nos (...), obstinadamente, a envenenar-nos com a introdução de um vírus, em cuja influência existem os mais fundados receios de que seja o condutor da moléstia ou da morte. Em 10 de novembro a multidão saiu às ruas para protestar contra a vacina obrigatória, tomando dimensões gigantescas. Apesar disso, ao passar o poder a seu sucessor, Afonso Pena, em 1906, Rodrigues Alves entregou a cidade totalmente saneada e modernizada. O modelo campanhista obteve importantes vitórias no controle das doenças epidêmicas, conseguindo inclusive erradicar a febre amarela da cidade do Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo proposto e o tornou hegemônico, como proposta de intervenção na área da saúde coletiva (SAGA, 1981; POLIGNANO, 2008). AN02FREV001/REV 4.0 17 17 Neste período Oswaldo Cruz procurou organizar a diretoria geral de saúde pública, criando uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço de engenharia sanitária e de profilaxia da febre amarela, a inspetoria de isolamento e desinfecção, e o instituto soroterápico federal, posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz. Na reforma promovida por Oswaldo Cruz foram incorporados como elementos das ações de saúde: - o registro demográfico, possibilitando conhecer a composição e os fatos vitais de importância da população; - a introdução do laboratório como auxiliar do diagnóstico etiológico; - a fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em massa. A era Bacteriológica (1875-1950) Segundo Lemos e Lima (2002), a partir das últimas décadas do século XIX surgiram as pesquisas sobre a etiologia (causas) das doenças infecciosas e Pasteur descobriu que as doenças eram causadas exclusivamente por meio da penetração e multiplicação de uma bactéria, nada mais do que isto. Os conceitos até então utilizados para explicar as causas das endemias na espécie humana foram deixados de lado, isto é, a relação entre ser humano e meio ambiente deixou de apresentar a importância que vinha assumindo. Abandonou-se a velha tradição da escola hipocrática quanto à influência do meio físico sobre o homem e sobre as doenças que o afligem. Ela foi relegada a um simples capítulo da história da medicina. Assim nascia a denominada era bacteriológica ou pastoriana. Com a era bacteriológica a teoria da unicausalidade teve sua grande época. Esta teoria baseava-se no conceito de que uma vez identificados os agentes vivos específicos de doenças, os chamados agentes etiológicos e os seus meios de transmissão, os problemas de prevenção e cura das doenças correspondentes estariam resolvidos, esquecendo-se dos demais determinantes causais relacionados AN02FREV001/REV 4.0 18 18 ao hospedeiro e ao ambiente. Entre as décadas de 1930 e 1950 iniciou a crise da teoria da unicausalidade e começou a prevalecer o conceito de multicausalidade, que considerava que a doença é um processo que ocorre por múltiplas causas. Estas causas podem ser agentes ou determinantes de doenças de caráter físico, químico, biológico, ambiental, social, econômico, psicológico e cultural. A presença ou ausência da doença era, mediante ação efetiva sobre um hospedeiro suscetível, um estímulo para iniciar ou perpetuar um processo de doença e, com isso, afetar a frequência com que uma patologia ocorre em uma população. A reviravolta da saúde (1920-1990) Com o controle das epidemias nas grandes cidades brasileiras o modelo campanhista deslocou a sua ação para o campo e para o combate das denominadas endemias rural, dada ser a agricultura a atividade hegemônica da economia da época. Este modelo de atuação foi amplamente utilizado pela Superintendência de Campanhas da Saúde Pública (SUCAM) no combate a diversas endemias (Chagas, Esquistossomose e outras), sendo posteriormente incorporada à Fundação Nacional de Saúde (POLIGNANO, 2008). Segundo Medici (2008), o sistema de saúde brasileiro no século XX seguiu a trajetória de países latino-americanos, como México, Chile, Argentina e Uruguai. Em 24 de janeiro de 1923 foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei Eloi Chaves, marco inicial da previdência social no Brasil. Por meio desta lei foram instituídas as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s), financiadas de forma tripartite, pelos empregados, empresa e governo. Ao longo dos Anos 30, com a crise e a revolução liderada por Getúlio Vargas, a estrutura das CAP's foi adicionada pela do Instituto de Aposentadoria e Pensão (IAP’s), autarquia centralizada no Governo Federal, supervisionada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Estas estruturas,organizadas por ramos de atividade, absorveram a maioria das antigas CAP's. Nesta época foram criados, ainda, os institutos de marítimos (IAPM), comerciários (IAPC), bancários (IAPB), estiva e AN02FREV001/REV 4.0 19 19 transporte de cargas (IAPTEC) e industriários (IAPI) (MEDICI, 2008). O golpe militar de 1964 e o governo autoritário que se instituiu criaram condições propícias para alterar o sistema de previdência social e assistência médica até então existente. O processo de unificação previsto em 1960 se efetiva em dois de janeiro de 1967, com a implantação do Instituto Nacional de Previdência social (INPS), reunindo os seis institutos de aposentadorias e pensões, o Serviço de Assistência Médica e Domiciliar de Urgência (SAMDU) e a Superintendência dos Serviços de Reabilitação da Previdência Social (SOUZA, 2002). Conforme Polignano (2008), o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), produto da fusão dos IAP’s, sofre a forte influência dos técnicos oriundos do maior deles, o IAPI. Estes técnicos, que passam a história conhecidos como “os cardeais do IAPI”, de tendências absolutamente privatizantes, criam as condições institucionais necessárias ao desenvolvimento do “complexo médico-industrial”, característica marcante deste período (NICZ, 1982 apud POLIGNANO, 2008). Na medida em que todo o trabalhador urbano, com carteira assinada, era automaticamente contribuinte e beneficiário do novo sistema, foi grande o volume de recursos financeiros capitalizados. O fato do aumento da base de contribuição, aliado ao fato do crescimento econômico da década de 70 (o chamado milagre econômico), do pequeno percentual de aposentadorias e pensões em relação ao total de contribuintes, fez com que o sistema acumulasse um grande volume de recursos financeiros. Ao unificar o sistema previdenciário, o governo militar se viu na obrigação de incorporar os benefícios já instituídos fora das aposentadorias e pensões. Um destes era o da assistência médica, que já era oferecido pelos vários IAPs, sendo que alguns destes já possuíam serviços e hospitais próprios. No entanto, ao aumentar substancialmente o número de contribuintes e consequentemente de beneficiários, era impossível ao sistema médico previdenciário existente atender a toda essa população. Diante deste fato, o governo militar tinha que decidir onde alocar os recursos públicos para atender a necessidade de ampliação do sistema, tendo ao final optado por direcioná-los para a iniciativa privada. Desta forma, foram estabelecidos convênios AN02FREV001/REV 4.0 20 20 e contratos com a maioria dos médicos e hospitais existentes no país, pagando-se pelos serviços produzidos, o que propiciou a estes grupos se capitalizar, provocando um efeito cascata com o aumento no consumo de medicamentos e de equipamentos médico-hospitalares, formando um complexo sistema médico-industrial. Este sistema foi se tornando cada vez mais complexo tanto do ponto de vista administrativo quanto financeiro dentro da estrutura do INPS, que acabou levando à criação de uma estrutura própria administrativa, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1978. A população com baixos salários, contidos pela política econômica e pela repressão, passou a conviver com o desemprego e as suas graves consequências sociais, como aumento da marginalidade, das favelas e da mortalidade infantil. O modelo de saúde previdenciário começa a mostrar as suas mazelas: - Por ter priorizado a medicina curativa, o modelo proposto foi incapaz de solucionar os principais problemas de saúde coletiva, como as endemias, as epidemias e os indicadores de saúde (mortalidade infantil, por exemplo); - Aumentos constantes dos custos da medicina curativa, centrada na atenção médico-hospitalar de complexidade crescente; - Diminuição do crescimento econômico com a respectiva repercussão na arrecadação do sistema previdenciário, reduzindo as suas receitas; - Incapacidade de o sistema atender a uma população cada vez maior de marginalizados, que sem carteira assinada e contribuição previdenciária se viam excluídos do sistema; - Desvios de verba do sistema previdenciário para cobrir despesas de outros setores e para realização de obras por parte do Governo Federal; - O não repasse – pela União – de recursos do Tesouro Nacional para o sistema previdenciário, visto ser esse tripartite (empregador, empregado, e União). Devido à escassez de recursos para a sua manutenção, ao aumento dos custos operacionais e ao descrédito social em resolver a agenda da saúde, o modelo proposto entrou em crise. Na tentativa de conter custos e combater fraudes o governo criou, em 1981, o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) ligado ao INAMPS. AN02FREV001/REV 4.0 21 21 O CONASP passa a absorver em postos de importância alguns técnicos ligados ao movimento sanitário, o que dá início à ruptura, por dentro, da dominância dos anéis burocráticos previdenciários. O CONASP encontrou oposição da Federação Brasileira de Hospitais e de medicina de grupo, que viam nesta tentativa a perda da sua hegemonia dentro do sistema e a perda do seu status. Para se mencionar a forma desses grupos atuarem, basta citar que eles opuseram e conseguiram derrotar dentro do governo, com a ajuda de parlamentares, um dos projetos mais interessantes de modelo sanitário, que foi o Prev-saúde, que depois de seguidas distorções acabou por ser arquivado. No entanto, isto não impediu que o CONASP implantasse e apoiasse projetos pilotos de novos modelos assistenciais, destacando o PIASS no nordeste. Devido ao agravamento da crise financeira o sistema redescobre, 15 anos depois, a existência do setor público de saúde e a necessidade de se investir nesse setor, que trabalhava com um custo menor e atendendo a uma grande parcela da população carente de assistência. Em 1983 foi criado a AIS (Ações Integradas de Saúde), um projeto interministerial (Previdência-Saúde-Educação), visando um novo modelo assistencial que incorporava o setor público, procurando integrar ações curativo-preventivas e educativas ao mesmo tempo. Assim, a Previdência passa a comprar e pagar serviços prestados por estados, municípios, hospitais filantrópicos, públicos e universitários. Este período coincidiu com o movimento de transição democrática, com eleição direta para governadores e vitória esmagadora de oposição em quase todos os estados nas primeiras eleições democráticas deste período (1982). Em 1982, o movimento das Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves marcaram o fim do regime militar, gerando diversos movimentos sociais, inclusive na área de saúde, que culminaram com a criação das associações dos secretários de saúde estaduais (CONASS) ou municipais (CONASEMS), e com a grande mobilização nacional por ocasião da realização da VIII Conferência Nacional de Saúde (Congresso Nacional, 1986), a qual lançou as bases da reforma sanitária e do Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS). A nova Constituição Brasileira é promulgada em 1988, definindo a saúde, no AN02FREV001/REV 4.0 22 22 artigo 196, como sendo: direito de todos e dever do estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Assim, o modelo médico neoliberal articula-se, onde podemos ressaltar que este setor médico privado se beneficiou do modelo médico-privativista, durante 15 anos a partir de 64, tendo recebido neste período vultosos recursos do setor público e financiamentos subsidiados, cresceu, desenvolveu e “engordou”. A partir do momento em que o setor público entrou em crise, o setor liberal começou a perceber que não mais poderia manter-se e nutrir-se daquelee passou a formular novas alternativas para sua estruturação. Direcionou o seu modelo de atenção médica para parcelas da população, classe média e categorias de assalariados, procurando por meio da poupança desses setores sociais organizar uma nova base estrutural. Deste modo foi concebido um subsistema de atenção médica supletiva composta de cinco modalidades assistenciais: medicina de grupo, cooperativas médicas, autogestão, seguro-saúde e plano de administração. Com pequenas diferenças entre si, estas modalidades se baseiam em contribuições mensais dos beneficiários, em contrapartida pela prestação de determinados serviços. Estes serviços e benefícios eram predeterminados, com prazos de carências, além de determinadas exclusões, por exemplo, a não cobertura do tratamento de doenças infecciosas. O subsistema de atenção médica supletiva cresce vertiginosamente na década de 80, de tal modo que no ano de 1989 chega a cobrir 31.140.000 brasileiros, correspondentes a 22% da população total, e apresenta um volume de faturamento de US$ 2.423.500.000,00 (MENDES, 1992 apud POLIGNANO, 2008). Este sistema baseia-se em um universalismo excludente, beneficiando e fornecendo atenção médica somente para aquela parcela da população que tem condições financeiras de arcar com o sistema, não beneficiando a população como um todo e sem a preocupação de investir em saúde preventiva e na mudança de indicadores de saúde. AN02FREV001/REV 4.0 23 23 Enquanto isto, ao subsistema público compete atender a grande maioria da população em torno de 120.000.000 de brasileiros, com os minguados recursos dos governos federal, estadual e municipal. Em 1990, a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, e a Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, conhecidas como Leis Orgânicas da Saúde, regulamentam o Sistema Único de Saúde (SUS). A Lei 8.080 estabeleceu a forma de repasse de recursos financeiros a serem transferidos para estados e municípios, e que deveriam ser baseados nos seguintes critérios: perfil demográfico; perfil epidemiológico; rede de serviços instalada; desempenho técnico e ressarcimento de serviços prestados. A edição das Normas Operacionais Básicas (NOB’s) trata das normas operacionais para o funcionamento e operacionalização do SUS, de competência do Ministério da Saúde, tendo sido editadas até hoje a NOB-SUS 01/91, NOB-SUS 01/93, NOB-SUS 01/96. - NOB 01/91: definia o repasse direto e automático de recursos do fundo nacional aos fundos estaduais e municipais de saúde, sendo 50% por critérios populacionais e os outros 50% segundo o perfil epidemiológico e demográfico, a capacidade instalada e a complexidade da rede de serviços de saúde, a contrapartida financeira, etc. Redefiniu toda a lógica de financiamento e, consequentemente, de organização do SUS, instituindo um sistema de pagamento por produção de serviços que permanece vigorando até hoje, em grande parte. - NOB 01/93: criou critérios e categorias diferenciadas, gestão para a habilitação dos municípios e, segundo o tipo de gestão implantado (incipiente, parcial, semiplena), haveria critérios também diferenciados de formas de repasse dos recursos financeiros. - NOB-SUS 01/96: representa um avanço importante no modelo de gestão do SUS, principalmente no que se refere à consolidação da municipalização. Revoga os modelos anteriores de gestão propostos nas NOB (gestão incipiente, parcial e semiplena) e propõe aos municípios se enquadrarem em dois novos modelos: Gestão AN02FREV001/REV 4.0 24 24 Plena de Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Municipal, conforme pode ser visto no quadro abaixo: QUADRO - MODELOS DE GESTÃO GESTÃO PLENA DE ATENÇÃO BÁSICA GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL Elaboração de programação municipal dos serviços básicos, inclusive domiciliares e comunitários, e da proposta de referência ambulatorial e especializada e hospitalar. Elaboração de programação municipal dos serviços básicos, inclusive domiciliares e comunitários, e da proposta de referência ambulatorial e especializada e hospitalar. Gerência de unidades ambulatoriais próprias Gerência de unidades próprias, ambulatoriais e hospitalares, inclusive as de referência. Gerência das unidades ambulatoriais do estado e/ou da União. Gerência das unidades ambulatoriais e hospitalares do estado e/ou da União. Introduzir a prática do cadastramento nacional dos usuários do SUS. Introduzir a prática do cadastramento nacional dos usuários do SUS. Prestação dos serviços relacionados aos procedimentos cobertos pelo PAB para todos os casos de referência interna ou externa ao município. Prestação dos serviços ambulatoriais e hospitalares para todos os casos de referência interna ou externa ao município. Normalização e operação de centrais de procedimentos ambulatoriais e hospitalares. Contratação, controle, auditoria e pagamento aos prestadores dos serviços contidos no PAB. Contratação, controle, auditoria e pagamento aos prestadores de serviços ambulatoriais e hospitalares. Operação do SIA/SUS, conforme normas do MS, e alimentação, junto às SES, dos bancos de dados de interesse nacional. Operação do SIH e do SIA/SUS, conforme normas do MS, e alimentação, junto às SES, dos bancos de dados de interesse nacional. Autoriza AIH e Procedimentos Ambulatoriais Especializados. Autoriza, fiscaliza e controla as AIH e Procedimentos Ambulatoriais Especializados e de alto custo. Execução de ações de vigilância sanitária e de epidemiologia. Execução de ações de vigilância sanitária e de epidemiologia. FONTE: NOB, 1996. Uma das alterações importantes da NOB 96 foi a forma de repasse dos AN02FREV001/REV 4.0 25 25 recursos financeiros do governo federal para os municípios, que passa a ser feito com base em um valor fixo per capita (Piso Assistencial Básico - PAB) e não mais vinculado à produção de serviços, o que possibilita aos municípios desenvolverem novos modelos de atenção à saúde da população. O PAB consiste em um montante de recursos financeiros destinado ao custeio de procedimentos e ações de assistência básica, de responsabilidade tipicamente municipal. Esse piso é definido pela multiplicação de um valor per capita nacional (atualmente) pela população de cada município (fornecida pelo IBGE) e transferido regular e automaticamente ao fundo de saúde ou conta especial dos municípios. Além disso, o município poderá receber incentivos para o desenvolvimento de determinadas ações de saúde agregando valor ao PAB. As ações de saúde que fornecem incentivos são: Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS); Programa de Saúde da Família (PSF); Assistência Farmacêutica Básica; Programa de Combate às Carências Nutricionais; Ações Básicas de Vigilância Sanitária; Ações Básicas de Vigilância Epidemiológica e Ambiental. Em outubro de 1998, Fernando Henrique Cardoso é reeleito para mais quatro anos de governo. Tendo em vista a crise econômica vivida pelo Brasil e outros países “emergentes”, o governo aumenta ainda mais os juros para beneficiar os especuladores internacionais e propõe para o povo um ajuste fiscal, prevendo a diminuição de verbas para o orçamento de 1999, inclusive na área de saúde. O corte previsto nesta área foi de cerca de R$ 260 milhões. Em novembro de 1998 o governo regulamenta a Lei 9.656/98 sobre os planos e seguros de saúde, que fora aprovada pelo Congresso Nacional em junho daquele ano. Se por um lado houve uma limitação nos abusos cometidos pelas empresas, por outro a regulamentação oficializa o universalismo excludente, na medida em que cria quatro modelos diferenciados de cobertura de serviços, a saber: Plano ambulatorial: compreende a cobertura de consultas em número ilimitado, exames complementares e outros procedimentos, em nível ambulatorial, incluindo atendimentos e procedimentoscaracterizados como urgência e emergência até as primeiras 12 horas. AN02FREV001/REV 4.0 26 26 Plano Hospitalar sem obstetrícia: compreende atendimento em unidade hospitalar com número ilimitado de diárias, inclusive UTI, transfusões, quimioterapia e radioterapia entre outros, necessários durante o período de internação. Inclui também os atendimentos caracterizados como de urgência e emergência que evoluírem para internação ou que sejam necessários à preservação da vida, órgãos ou funções. Plano Hospitalar com obstetrícia: acresce ao Plano Hospitalar sem obstetrícia, a cobertura de consultas, exames e procedimentos relativos ao pré-natal, à assistência ao parto e ao recém-nascido durante os primeiros 30 dias de vida. Plano odontológico: cobertura de procedimentos odontológicos realizados em consultórios. Plano referência: representa a somatória dos quatro tipos de plano anteriores. No início de 1999, o país atravessa uma grave crise cambial provocada pelos efeitos da globalização e da política econômica do governo. Este procura responder mais uma vez com um novo acordo de empréstimo junto ao FMI, e no plano interno com uma nova política recessiva, ditada pelo FMI, o que gera uma diminuição do PIB e um aumento ainda maior do desemprego no país. Em março de 1999 há o aumento da CPMF de 0,20% para 0,38% – aquele imposto criado para ser provisório e que deveria ser destinado unicamente para a saúde. Este imposto durou até 31 de dezembro de 2007. Século XXI Conforme Poles (2008), no século XXI a batalha da humanidade contra os vírus e bactérias na promoção da saúde parecia, para muitos pesquisadores, estar próxima AN02FREV001/REV 4.0 27 27 do fim. Com os avanços da biologia molecular e as pesquisas na área de engenharia genética, alguns cientistas chegaram a dizer que as doenças infecciosas seriam derrotadas. Mas a mesma tecnologia que avança nas novas descobertas científicas produz um efeito colateral tão nocivo quanto conhecido: a agressão ao meio ambiente. A história revela que os grandes surtos de doenças infecciosas ressurgem a partir de um quadro de desequilíbrio ecológico, que inclui o desmatamento, economia desigual, condições de vida inadequadas e políticas de saúde pública equivocadas. Assim, podemos dizer que as epidemias são um problema do futuro e não apenas do passado. Pois quem poderia imaginar que em pleno século XXI teríamos a Pneumonia Asiática (SARS), que matou 800 pessoas no mundo em 6 meses, segundo o epidemiologista Jarbas Barbosa. Nos últimos 25 anos surgiram no mundo em torno de 35 novas doenças, todas elas com transmissão favorecida por condições do mundo moderno, entre elas: AIDS, SARS, Ebola, etc. E novas patologias poderão continuar surgindo nas próximas décadas e a rapidez com que estes micro- organismos podem se deslocar ao redor do mundo torna cada vez mais assustador, pois em 1990, para dar a volta ao mundo levava-se 100 dias, atualmente o percurso é feito em 48 horas. A classe médica e as autoridades sanitárias estão em alerta quanto ao surgimento das chamadas pandemias-epidemias de alcance mundial. E os agentes mais propensos a gerar um surto mundial são os vírus transmitidos pelo ar, como por exemplo, a Influenza (gripe) e o Coronavírus (SARS). Pandemia - é uma epidemia de grandes proporções, que se espalha a vários países e a mais de um continente. Pode se instalar no mundo em cerca de 20 dias. Se o vírus aparecer em uma cidade com aeroportos, em 48 horas estará em outros países, portanto, a doença precisa: - ser de fácil transmissão (ar); - ter um período de incubação que não seja muito curto (até cinco dias), de forma que a pessoa infectada não adoeça antes de espalhar o vírus; - gerar um grande percentual de pacientes assintomáticos. Atualmente podemos visualizar a epidemia de gripe aviária na Ásia. Isso devido AN02FREV001/REV 4.0 28 28 ao vírus que provoca a doença, o H5N1, causar uma pandemia de gripe nos seres humanos. Este micro-organismo ainda não é capaz de passar de homem para homem, só se sofrer uma mutação. Até o momento, as pessoas doentes foram infectadas por contato com animais. Para os epidemiologistas, o fato mais preocupante em relação ao H5N1 é sua semelhança com o vírus da gripe espanhola, que entre 1918 e 1919 atingiu 50% da população mundial e matou mais de 20 milhões de pessoas. A cada 20 ou 30 anos, em média, acontecem surtos provocados por vírus mais agressivos. Acredita-se que esse seja o período necessário para que um desses micro-organismos sofra uma série de pequenas mutações que o transformem em um agente patogênico mais letal. “A questão não é se teremos uma nova pandemia, mas quando ela eclodirá”, afirma o médico Marco Antônio de Ávila Vitória, do Departamento de HIV/AIDS da Organização Mundial de Saúde (OMS). Há vírus que vivem sem provocar doenças em certas populações de animais e outros que se manifestam de forma endêmica em determinadas regiões. Quando esse equilíbrio é quebrado, os agentes patogênicos podem se manifestar de forma mais agressiva, provocando as epidemias. O contato das pessoas com esses vírus normalmente se dá de duas formas: quando o homem vai até seu habitat, em uma floresta, por exemplo, ou quando o animal migra para próximo do homem, porque teve seu ambiente natural depredado. Vírus como o Ebola e o Coronavírus (Sars) existem há milhões de anos e viviam adaptados aos animais. Não se sabe, por exemplo, desde quando existe o HIV, o vírus da Aids, que só começou a se propagar entre seres humanos nas últimas décadas do século passado. Novos vírus e bactérias não surgem do nada, nós é que vamos atrás deles na natureza. O grande problema que a sociedade mundial irá enfrentar no século XXI são as consequências do desequilíbrio ambiental, que será cobrado pela natureza em forma de mais doenças e esse preço não será pago apenas pelos doentes, mas por toda a saúde pública. Conforme o relatório do Banco Mundial estima-se que o custo global de uma pandemia de gripe pode chegar a US$ 800 bilhões, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Além das mortes, um surto desse tipo AN02FREV001/REV 4.0 29 29 prejudicaria seriamente o comércio internacional e a economia do planeta. As autoridades sanitárias internacionais, cientes dos riscos e possíveis perdas econômicas de vários países, já se preparam para conter possíveis pandemias que podem aparecer mais cedo ou mais tarde. Os regulamentos sanitários que vigoram sem mudanças desde a década de 60 – e só obrigam a notificar a febre amarela, o cólera, a poliomielite, a peste e a varíola – estão prestes a ser alterados. A lista de moléstias de notificação compulsória será ampliada e deverá incluir novas cepas do H5N1. Para casos de gripe, a melhor forma de prevenção e controle continua sendo a vacinação em massa. O problema é que, após o aparecimento de uma nova cepa de vírus, os laboratórios levam seis meses para produzir e testar uma vacina. Outro ponto importante é que o controle de qualquer doença infecciosa depende das condições socioeconômicas do local onde ela se manifesta e o tratamento da água. Mas a conscientização ambiental continua sendo uma das principais preocupações da humanidade em relação ao futuro e à saúde pública mundial. Diferenciação do Termo Saúde Pública de Saúde Coletiva Muitas têm sido as tentativas de definir a saúde coletiva e diferenciar o termo de Saúde Pública. A Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir as doenças, de prolongar a vida e melhorar a saúde e a eficiência mental e física dos indivíduos, por meio da intervenção técnica e política do Estado na assistência, que irá intervir no processo saúde-doença, quebrando sua cadeia causal mediante o tratamento e a reabilitação do indivíduo doente, ou evitando seus riscose danos por intermédio da prevenção e promoção da saúde, além do controle dos sadios, com base no conhecimento científico, ancorado nas técnicas de investigação empíricas, voltadas tanto para o individual (ações preventivas e de promoção à saúde com atividades de assistência médica e reabilitação), como para o coletivo (por intermédio de ações governamentais das políticas de saúde dirigidas ao coletivo) (MATUMOTO et al., 2001 apud PIRES FILHO, 1987; FERREIRA, 1975). AN02FREV001/REV 4.0 30 30 Essas ações são denominadas no nosso cotidiano de programas que se ocupam de alguns grupos de risco, tais como, crianças, gestantes, mulheres e idosos, ou para grupos acometidos por algum dano, tais como os hipertensos, as pessoas com tuberculose, com hanseníase, com diabetes, portadores do vírus HIV ou com AIDS. As ações de assistência médica individual configuram um instrumento para intervir na cadeia causal da doença em um determinado momento ou circunstância, que se enquadra segundo um risco ou dano dentro do processo saúde-doença, ou seja, como nas atividades de pronto atendimento. Quanto às ações dirigidas ao coletivo, podemos citar as tradicionais campanhas de vacinação ou as ações de controle de doenças, como a dengue, o cólera, ou as ações de educação em saúde. Nesse “coletivo” o homem é um ser “em geral”, ou seja, uma coleção de indivíduos para o qual se dirige a ação frente ao risco ou dano comum a eles. As intervenções em saúde também sempre serão as mesmas, não considerando as relações da vida cotidiana entre os homens, ou seja, seus afetos, medos, incertezas, a sexualidade e outros, que a saúde coletiva tenta abordar (MATUMOTO et al., 2001). Por exemplo, todo conhecimento produzido a respeito da forma de transmissão da AIDS poderia, em tese, já tê-la colocado sob controle por meio do uso de camisinhas e do não compartilhamento de seringas. Porém, os medos, as incertezas e a sexualidade ainda interferem no controle da doença. Esta outra aproximação para a compreensão do coletivo significa apreendê-lo enquanto campo estruturado de prática social, “que como totalidade se tornaria ponto de partida para a compreensão e estruturação das práticas sanitárias”. Dizer isto significa reconhecer outra concepção de homem, o homem como um ser social, em constante relação com outros homens e com seu meio, transformando-o e sendo transformado por ele, isto é, um protagonista da ação de saúde que se constrói. Este homem é, ao mesmo tempo, sujeito, ator social, protagonista e objeto da ação, aquele que se submeterá às intervenções. Assim, nasce no Brasil o termo Saúde Coletiva – que está hoje presente na agenda acadêmica e política de países da América Latina, do Caribe e da África. AN02FREV001/REV 4.0 31 31 Trata-se de uma forma de abordar as relações entre conhecimentos, práticas e direitos referentes à qualidade de vida. Em lugar das tradicionais dicotomias – saúde pública/assistência médica, medicina curativa/medicina preventiva, e mesmo indivíduo/sociedade busca-se uma nova compreensão, na qual a perspectiva interdisciplinar e o debate político em torno de temas como universalidade, equidade, democracia, cidadania e, mais recentemente, subjetividade, emergem como questões principais. Foi em torno desses temas e do desafio de formar profissionais atentos à corrente de novas ideias sobre os problemas de saúde – alguns antigos, outros produtos de mudanças recentes nos campos biomédicos, político e social –, que se organizou, em 1979, a Associação Brasileira de Pós- Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) (LIMA; SANTANA, 2006). Logo, Saúde Coletiva pode ser entendida como: Uma ciência histórico-social, percebendo que as características dos seres humanos (doentes ou não) são, sobretudo, um produto de forças sociais mais profundas, ligadas a uma totalidade econômico- social que é preciso conhecer e compreender para explicarem-se adequadamente os fenômenos de saúde e de doença com os quais ela se defronta (PEREIRA, 1986 apud MATUMOTO et al., 2001). Na Saúde Coletiva, o objeto não é mais o corpo biológico, mas os corpos sociais. O conceito saúde-doença da saúde coletiva tem base na determinação social do processo saúde-doença, diferente da saúde pública, que se baseia na causalidade. Logo, a saúde coletiva: É um campo de práticas diversas socialmente determinadas, que se apoiam em diferentes disciplinas científicas interdisciplinares com o desafio de compreender e interpretar os determinantes da produção social das doenças e da organização social dos serviços de saúde, fundamentando-se na interdisciplinaridade como possibilitadora da construção de um conhecimento ampliado da saúde e na multiprofissionalidade como forma de enfrentar a diversidade interna ao saber/fazer das práticas sanitárias” (NUNES, 1994 apud MATUMOTO et al., 2001). A construção dessa interdisciplinaridade dentro da equipe de saúde vai-se dando na identificação e respeito pelo núcleo de competência e responsabilidade de cada profissional, aquilo que é específico em termos de saberes e responsabilidades AN02FREV001/REV 4.0 32 32 e pelo campo de competência e responsabilidade comuns a todos os trabalhadores de saúde (CAMPOS, 2006). Conforme Campos et al. (2006), o campo da Saúde Coletiva é extenso e diversificado, reflete a própria concepção ampliada de saúde em suas inúmeras interfaces, embasada em três grandes formações disciplinares: as ciências sociais e humanas, a epidemiologia e a política e o planejamento. Assim, a presença da ciência social e humana (Antropologia, Sociologia, Economia, Política, História, Filosofia, Ética, Estética) é considerada como fundamental para a compreensão dos processos da vida, do trabalho, do adoecimento e da morte, assim como dos cuidados aos doentes e pacientes e das relações profissionais. Em relação à epidemiologia, como campo de investigação científica, desenvolve-se a partir do século XIX, quando o médico inglês John Snow estabeleceu os fundamentos da moderna epidemiologia ao estudar a cólera em Londres. A partir desses estudos podem-se compreender as relações agente infeccioso, hospedeiro e ambiente, no sentido de saber as causas das doenças em grupos de pessoas. Sobre política e planejamento são apenas algumas primeiras aproximações. Estas fazem parte das ferramentas para organização das ações de promoção de saúde. SUS, OS MODELOS DE ATENÇÃO, AS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE NO BRASIL Caracterização do Brasil: uma Sociedade em Transição Segundo o Ministério da Saúde, por intermédio de seu livro “Saúde Brasil 2006: uma análise da desigualdade em saúde demonstra alguns dados secundários disponíveis nos sistemas de informação do SUS, que possibilita informar os aspectos da sociedade brasileira no ponto de vida da saúde” (BRASIL, 2006), o contexto social e demográfico brasileiro assim se caracteriza: AN02FREV001/REV 4.0 33 33 - População brasileira: 186.770.613 habitantes (ano 2006); - Municípios: 5.564; - Distribuição da população nos municípios: 72% com 20 mil habitantes e somente 7,5% com mais de 100 mil. - Distribuição por Regiões: Municípios com até 20 mil habitantes – Nordeste, Sul; Municípios com mais de 100 mil habitantes - Sudeste. Transição Demográfica A importante contribuição à transição demográfica do Brasil foi resultante da queda da mortalidade a partir da década de 40 e, na década de 60, da acentuada queda na fecundidade: 1940-1960 – 6,2 filhos por mulheres; 1970 – 5,8 filhos por mulheres; 1970-1980 – 4,4 filhos por mulheres; 2000 - 2,4 filhos por mulheres. Evolução da Composição Etária do Brasil As mudanças rápidas na composição etária evidenciam o envelhecimento populacional acelerado. Segundo dados do IBGE, entre 1980- 2000: Menores de 15 anos - 38,2% para 29,6%; Entre 15-64 anos – 57,7 para 64,4% na população; Com mais de 65 anos – 6,1% para 8,6% na população. O grupo de 0 a 5 anos tem mostrado uma redução no seu ritmo de crescimento. Em 1981 a proporção era de seis idosos para cada 12 crianças. Em 2004 passou de AN02FREV001/REV 4.0 34 34 seis idosos para cada cinco crianças. Indicadores Sociais e a Evolução do IDH e Desigualdade Cor/Raça O índice de desenvolvimento humano (IDH) tem melhorado nos últimos anos. Em 1990 era 0,713 e passou em 2003 para 0,792. As desigualdades regionais e de raça/cor ainda persistem: População branca – IDH-M de 0,814 (municipal); População negra – IDH-M de 0,703(municipal). O Brasil ocupa a 64a posição no ranking dos países. Se o IDH fosse medido somente na população de raça branca o país ocuparia a 44a posição no ranking mundial. O IDH da raça negra cresceu mais do que a da raça branca. As diferenças estão baseadas no acesso desigual à educação. Educação População com mais de 10 anos de idade – média de seis anos de estudo (2000). - Taxa de analfabetismo: Maiores de 15 anos – 11,4% (2004); Mulheres – 11,4%; Homens – 11,6%; População rural – 25,8%; População urbana – 8,7%. Abastecimento de água - População urbana = 91,3% (2002) com acesso à água por rede geral; AN02FREV001/REV 4.0 35 35 - População rural = 22,7% (2002) com acesso à água por rede geral; - A qualidade da água distribuída é precária em muitas localidades do país por causa de problemas na distribuição ou deficiência no tratamento. Serviços de saúde - 113.033 estabelecimentos de saúde cadastrados (2006): 2.547 (2.3%) – são do tipo Vigilância, centro de regulação de serviços de saúde ou Cooperativas; 110.486 (97.7%) – prestam atendimento à população (seja clínico ou de distribuição de medicamentos). - A média de estabelecimentos de saúde por habitantes é de 5.9 para cada 10mil habitantes: 66,1% - Estabelecimentos de saúde de atenção básica; 32,6% - Média complexidade; 1,3% - Alta complexidade. - A esfera administrativa da maior parte dos estabelecimentos de saúde é a privada: 56% (61.614) são privados e 22% (13.856) prestam serviços para o SUS; 43% (47.758) são estabelecimentos privados não-SUS. Mortalidade - Segundo a causa: Infecciosas e parasitárias – 5,3%; Neoplasias – 16%; Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas – 6,1%; Doenças do Sistema Nervoso - 1,7%; Doenças do Sistema Cardiovascular – 32,5%; AN02FREV001/REV 4.0 36 36 Doenças do sistema respiratório – 11,6%; Doenças do sistema digestório – 5,5%; Doenças geniturinárias – 1,9%; Doenças originadas no período perinatal – 3,5%; Má formação congênita – 1,2%; Causas externas – 14,5%. - Segundo o sexo HOMENS - Doenças cardiovasculares: 28,2% em homens com menos de 60 anos; - Neoplasias: 40% dos óbitos ocorrem em pessoas com 70 anos ou mais. A proporção de homens que morrem antes dos 50 anos é de 15,7%; - Causas externas: maior proporção entre 15-39 anos é de 62,3%. MULHERES - Doenças cardiovasculares: 20,4% em mulheres com menos de 60 anos e 35% em mulheres após 80 anos; - Neoplasias: 40% dos óbitos ocorrem em pessoas com 70 anos ou mais. Enquanto 20,9% dos óbitos ocorrem antes dos 50 anos; - Causas externas: maior proporção entre os menores de 15 anos: 13%. Nascimentos (nascidos vivos) - O Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) registrou em 2004 um total de 3.026.548 nascidos vivos; - Destes, 83.970 (2,8%) das mães não referiram nenhuma consulta de pré- natal e 1.573.183 (52%) reportaram ter recebido sete ou mais consultas; - Em 2000, elas representavam 46% do total. Considerando os dados, nota- AN02FREV001/REV 4.0 37 37 se um aumento do percentual de mães que mencionaram ter sete ou mais consultas; - A diferença do número total de nascidos vivos de 2000 para 2004 foi de 180.213 nascimentos, representando um decréscimo de 5,6% nesse período. Mortalidade infantil - Entre 2000 e 2004, os óbitos de menores de um ano passaram de 68.199 para 54.183; - A taxa de mortalidade infantil no Brasil passou de 26,81/1.000 nascidos vivos em 2000 para 22,6/1.000 nascidos para 2004, o que representou uma redução de 15,7 no período; - A maior redução foi verificada na região nordestina, que passou de 41,4 para 33,9 por mil nascidos vivos. Entre 1996 e 2004, a redução na taxa de mortalidade infantil foi de 32%, chegando a 40% no Ceará. - As principais causas da mortalidade infantil são: Doenças infecciosas; Afecções originadas no período perinatal; Má formação congênita; Doenças do aparelho respiratório. - Dentre as principais causas, o grupo com maior volume de óbitos no período analisado no Brasil é das afecções geradas no período perinatal, que em 2004 apresentou 30.900, ou seja, 57% relativos a menores de 1 ano; - Dos 54.183 óbitos de menores de 1 ano ocorridos em 2004, 41% (22.329) eram da raça/cor branca, 33% (18.030) pardos e 2,8% (1.499) da raça/cor preta. Amarelos e indígenas totalizaram 626 (1,16). Os não informados representam 21,6%. AN02FREV001/REV 4.0 38 38 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e a Lei nº 8.142/90. Sua finalidade é alterar a situação de desigualdade na assistência à saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer pretexto. Este modelo de saúde está voltado para as necessidades da população, procurando resgatar o compromisso do estado para com o bem- estar social, especialmente no que refere à saúde coletiva, consolidando-o como um dos direitos da cidadania. Segundo Souza (2002) e Storpitis et al. (2008), o SUS é um dos maiores sistemas de saúde do mundo, sendo o único a garantir assistência integral e completamente gratuita para a totalidade da população, isto é, cerca de 180 milhões de pessoas, uma população superior à soma dos habitantes da Alemanha, França e Grã-Bretanha, sendo, portanto, uma das maiores estruturas públicas existentes do mundo. Os 38 milhões de brasileiros que possuem plano privado de saúde também são cobertos pelo SUS. Os atendimentos a assistência à saúde incluem desde pacientes portadores do HIV, sintomáticos ou não, a pacientes renais crônicos e com câncer. A rede ambulatorial do SUS é constituída por 56.642 unidades, sendo realizados, em média, 350 milhões de atendimentos ao ano. Esta assistência estende-se da atenção básica até os atendimentos ambulatoriais de alta complexidade. Segundo Brasil (2003), os princípios doutrinários do SUS são: Universalidade: o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação ou outras características sociais ou pessoais; Equidade: é um princípio de justiça social que garante a igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. A rede de serviços deve estar atenta às necessidades reais da população a ser atendida; Integralidade: significa considerar a pessoa como um todo, devendo as ações de saúde procurar atender a todas as suas necessidades. AN02FREV001/REV 4.0 39 39 Dentre os princípios organizativos podemos citar: Hierarquização: conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; referência e contrarreferência; Participação popular: dos processos decisórios, consolidado na participação dos usuários dos serviços de saúde nos chamados Conselhos Municipais de Saúde; Descentralizaçãopolítico-administrativa: consolidada com a municipalização das ações de saúde, tornando o município gestor administrativo e financeiro do SUS. Os objetivos e as atribuições do SUS são: Identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; Formular as políticas de saúde; Fornecer assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas; Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica; Executar ações visando a saúde do trabalhador; Participar na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico; Participar da formulação da política de recursos humanos para a saúde; Realizar atividades de vigilância nutricional e de orientação alimentar; Participar das ações direcionadas ao meio ambiente; Formular políticas referentes a medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; AN02FREV001/REV 4.0 40 40 Controle e fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde; Fiscalização e inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano; Participação no controle e fiscalização de produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; Incremento do desenvolvimento científico e tecnológico na área da saúde; Formulação e execução da política de sangue e de seus derivados. O financiamento do SUS é uma responsabilidade comum dos três níveis de governo. Os recursos federais correspondem a mais de 70% do total e vêm sendo repassado a estados e municípios, por transferência direta do Fundo Nacional de Saúde aos fundos municipais e estaduais, conforme o decreto 1.232, de 30 de agosto de 1994. A consolidação do SUS é uma corresponsabilidade dos três entes federados (União, Estados e Municípios): Gestor Federal: Formular, normatizar e avaliar a implementação da Política Nacional de Saúde e cooperar técnica e financeiramente com estados, Distrito Federal e municípios para o aperfeiçoamento da atuação institucional; Gestor Estadual: Formular, coordenar e avaliar a execução da Política Estadual de Saúde e cooperar técnica e financeiramente com todos os municípios; Gestor Municipal: Formular, avaliar e executar a Política Municipal de Saúde. Os gastos públicos com ações e serviços no Brasil em 2000, por parte do Governo Federal, Estadual e Municipal, podem ser estimados em 34 bilhões de reais. As principais fontes de financiamento do MS são das contribuições sociais, responsável por 75% do total. Os recursos provenientes de impostos (Recursos ordinários do Tesouro) participam de 14%, ou seja: - Contribuições sobre financiamentos (CONFINS): Lei Complementar n° 70/91 – 3% sobre as receitas das pessoas jurídicas (2001 – responderam com 38,9% dos recursos MS); AN02FREV001/REV 4.0 41 41 - Contribuição Provisória sobre movimentação ou transmissão de valores, créditos e direitos de natureza financeira (CPMF): Emenda constitucional 37 – 0,38% sobre as movimentações financeiras (28% dos recursos MS); - Contribuição social sobre o Lucro Líquido (CSLL): incide sobre os lucros das empresas, com uma alíquota de 9% sobre o lucro ou 12% do faturamento no caso de lucro presumido (7% do recurso MS); - Seguro obrigatório de danos causados por veículos automotores de vias terrestres (DPVAT): Lei 6.194/74 – As companhias seguradoras devem passar 50% do valor do prêmio recolhido ao SUS dos vitimados em acidentes de trânsito. OS MODELOS DE ATENÇÃO Conforme Storpirtis et al. (2008), o SUS é estruturado em três níveis de atenção que correspondem às responsabilidades dos municípios, estados e do Governo Federal. a) Nível Primário: fornece a assistência básica, que corresponde ao Programa de Saúde da Família, os postos de saúde, os pronto- atendimentos e as creches; b) Nível secundário: inclui os centros de saúde, policlínicas, hospitais gerais, maternidades e hospitais de trauma e emergência; c) Nível terciário: compreende os hospitais especializados em tratamentos complexos, podendo incluir os hospitais universitários. Este modelo está organizado de uma forma regionalizada em cada Estado conforme a Figura, abaixo: AN02FREV001/REV 4.0 42 42 FIGURA - MODELO REGIONALIZAÇÃO Assim, é importante entender alguns conceitos chaves em relação a este modelo de atenção básica proposto no Brasil: a) MACRORREGIÃO DE SAÚDE: conceito empregado para descrever a organização estadual das ações e serviços de saúde. Os critérios utilizados para configuração das Macrorregiões de Saúde incluíram elementos de geoprocessamento e indicadores econômico-sociais, tais como: localização geográfica, contingente populacional, organização do sistema viário, agrupamento por regionais de saúde, equidistância entre polos tecnológicos, cultura de deslocamento, recursos tecnológicos disponíveis, índice de desenvolvimento social (IDS), complexo econômico regional e bacia hidrográfica. Nesta abrangência, estabelece-se o compromisso de organizar a oferta de serviços de alta complexidade. Corresponde ao conceito de Região de Saúde descrito na NOAS 01/01. b) REGIONAL DE SAÚDE: sede administrativa regionalizada para desenvolvimento de ações e serviços de âmbito do gestor estadual, sediada em município polo de um conjunto de municípios, cuja delimitação respeita a divisão AN02FREV001/REV 4.0 43 43 geopolítica da Federação Catarinense de Municípios (FECAM). Nesta abrangência, estabelece-se o compromisso de organizar a oferta de serviços de média complexidade. c) REGIÃO DE SAÚDE (conceito definido na NOAS 01/01): Base territorial de planejamento da atenção à saúde, não necessariamente coincidente com a divisão administrativa do Estado, a ser definida pela SES. De acordo com as especificidades e estratégias de regionalização da saúde em cada Estado, considerando as características demográficas, socioeconômicas, geográficas, sanitárias, epidemiológicas, oferta de serviços, relações entre municípios, entre outras. Dependendo do modelo de regionalização adotado, um Estado pode se dividir em regiões e/ou microrregiões de saúde. Por sua vez, a menor base territorial de planejamento regionalizado, seja uma região ou uma microrregião de saúde, pode compreender um ou mais módulos assistenciais. d) MÓDULO ASSISTENCIAL (conceito definido na NOAS 01/01): Módulo territorial com resolubilidade correspondente ao primeiro nível de referência, constituído por um ou mais municípios, que contemplem as seguintes características: - conjunto de municípios, entre os quais há um município-sede, habilitado em Gestão Plena do Sistema Municipal (GPSM), com capacidade de ofertar a totalidade dos serviços relacionados aos procedimentos mínimos de média complexidade, com suficiência, para sua população e para a população de outros municípios vizinhos; ou - município em GPSM, com capacidade de ofertar com suficiência a totalidade dos serviços relacionados aos procedimentos mínimos de média complexidade para sua própria população, quando não necessitar desempenhar o papel de referência para outros municípios. e) MUNICÍPIO-SEDE DO MÓDULO ASSISTENCIAL: Município existente em um módulo assistencial que apresente a capacidade de ofertar a totalidade dos serviços relacionados aos procedimentos mínimos de média complexidade, correspondente ao primeiro nível de referência intermunicipal, com suficiência, para sua população e para a população de outros municípios a ele adstritos. AN02FREV001/REV 4.0 44 44 f) MUNICÍPIO-POLO: Município que apresenta o papel de referência para outros municípios, em qualquer nível de atenção. g) UNIDADE TERRITORIAL DE QUALIFICAÇÃO NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE (UTQAS): Representa
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