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Abrangência das Ações em Saúde

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Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
PROBLEMA 1 – ABERTURA 
A HISTÓRIA DA SAÚDE NO BRASIL: 
DA COLONIZAÇÃO AO INÍCIO DA REPÚBLICA: 
O Brasil foi “descoberto” ao final do século 
XV, sendo inicialmente ignorado por não 
apresentar riquezas minerais evidentes, 
situação que foi drasticamente alterada em 
1534 devido à presença abundante de Pau-
Brasil, árvore de madeira valiosa para a 
produção de pigmentos. Visando atender às 
demandas da população crescente de 
colonizadores portugueses, o Conselho 
Ultramarino (órgão da Coroa Portuguesa que 
regia a organização colonial) instituiu, no 
século XVI, os cargos de físico e cirurgião-
mor, cujas funções englobavam o zelo a 
saúde dos lusitanos. Essas posições, no 
entanto, não foram preenchidas 
satisfatoriamente, pois poucos profissionais 
desejavam abandonar as condições de vida 
da Europa para enfrentar os riscos de um 
local inexplorado, sendo ainda mais 
desestimulados pelos baixos salários 
oferecidos. 
A população da época era, em sua maioria, 
pobre, buscando na colônia uma chance de 
ascender socialmente, e graças a essa 
condição econômica não conseguia arcar 
com os custos de um médico estrangeiro, 
recorrendo a curandeiros negros e indígenas 
(a confiança popular pelo tratamento 
ofertado também não era elevada, pois as 
sangrias acabavam por enfraquecer o 
doente, criando um estigma negativo). Os 
remédios feitos de raízes e ervas preparados 
por esses indivíduos eram bem quistos, pois 
eram acessíveis para a população, uma vez 
que os boticários (profissionais não 
instruídos formalmente) recusavam-se a 
atender pessoas pobres e médicos se faziam 
inacessíveis. 
O fluxo constante de escravos e mercadorias 
pelos portos da colônia fez com que diversas 
epidemias ocorressem em solo brasileiro, 
como a varíola (doença das bexigas), que 
afetou não só os núcleos urbanos como 
também os sertões, sem que fosse possível 
haver uma interferência concreta por parte 
de médicos e práticos, já que não existia 
conhecimento suficiente sobre doenças 
infectocontagiosas, levando o “tratamento” a 
abordar somente o isolamento dos doentes 
em benefício dos sadios, culminando na 
morte dos infectados em matas remotas. 
Essa medida extrema era bem aceita, porém 
tentativas mais cientificas de controle da 
doença eram temidas pela comunidade 
graças à influência da religião, pois os 
profissionais eram expulsos das localidades 
ao tentar aplicar pus de pessoas 
contaminadas em corpos sadios (intentava-
se induzir o corpo a aceitar as células de 
defesa do doador presentes no conteúdo 
purulento, gerando um mecanismo de 
imunização). 
Em 1808, a vinda da família real para o Brasil 
fez com que fosse necessário criar uma nova 
imagem para a colônia, aproximando-a do 
ideal de prosperidade europeu, de modo que 
as primeiras escolas de medicina foram 
criadas no Rio de Janeiro (1813) e na Bahia 
(1815) para atender de maneira constante e 
organizada a demanda sanitária local. 
Em 1828, devido as suspeitas de que 
doenças infecciosas que assolavam o Brasil 
eram trazidas ao continente por navios 
mercantes, foi instaurada a Inspetoria de 
Saúde dos Portos, que tinha autoridade para 
colocar em quarentena qualquer 
embarcação suspeita de infecções. Ainda 
com o propósito de manter o Rio de Janeiro 
livre de moléstias, a Junta de Higiene e 
Saúde move seus esforços para a população 
local, exigindo que todos os membros da 
Corte se vacinassem contra a varíola (a 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
vacina foi criada em 1796 por um médico 
inglês, sendo fabricada com o pus de 
bovinos doentes, com grande aceitação no 
mundo ocidental). 
A presença de miasmas (“ar corrompido”) 
oriundos do mar fez com que diversos 
médicos solicitassem aos mais abastado que 
deixassem a cidade em direção às serras 
durante períodos de crise, recomendando 
para aqueles impossibilitados de realizar tais 
viagens que deixassem de consumir bebidas 
e frutas geladas por facilitarem a ocorrência 
de infecções. Tiros de canhão eram 
disparados por milicianos para movimentar o 
ar carioca com o objetivo de dissipar agentes 
patogênicos. 
Já em 1829, D. Pedro I solicitou a criação da 
Imperial Academia de Medicina, instituição 
que passou a ser o órgão de confiança do 
Imperador para a resolução de questões 
ligadas à saúde coletiva, contando com a 
participação temporária da Junta de Higiene 
e Saúde, que não obteve êxito em seu 
propósito. 
As medidas sanitárias ineficazes fizeram 
com que muitos dos indivíduos mais ricos 
procurassem auxílio médico na Europa ou 
em clínicas recentemente construídas nas 
serras fluminenses, deixando a população 
carente aos cuidados de curandeiros negros. 
Os escassos hospitais públicos e Santas 
Casas eram temidos pelos doentes, pois a 
superlotação desses espaços (muitos leitos 
comportavam mais de dois pacientes) 
somada à falta de higiene causava a morte 
da maioria dos pacientes. 
 Sobre as Santas Casas: Em 1543 foi 
fundada a primeira Santa Casa de 
Misericórdia na vila de Santos, seguida 
pelas do ES, da BA, do RJ e da vila de 
São Paulo, todas ainda no século XVI. A 
origem dessa instituição remonta a 1488, 
ano no qual a regente portuguesa D. 
Leonor fundou o primeiro hospital da 
categoria para atender a missão cristã de 
atender os enfermos. 
O fim do império no Brasil veio sem que 
fossem solucionados os impasses em 
relação à saúde pública, o que trouxe ao país 
a fama da insalubridade, que afastava 
visitantes estrangeiros dos portos nacionais. 
D. Pedro II, lembrado como um governante 
que incentivava as ciências e a produção 
intelectual, doou quantias significativas para 
a construção de um laboratório na França 
para pesquisar e analisar as patologias que 
afligiam o país, recebendo assim elogios da 
mídia, mas longe de atingir o mesmo grau de 
apoio de seus súditos. 
Em 1889, a proclamação da República 
fomentou a ideia de modernizar o Brasil, de 
modo a encaixar o país nos moldes do 
desenvolvimento. Assim, o trabalho passou 
a ser interpretado como capital humano, 
surgindo a necessidade de capacitar a mão-
de-obra e mantê-la apta para o exercício 
laboral. Nesse contexto, a Medicina passa a 
ser o pilar de consulta para assuntos 
sanitários, comprometida a promover a 
saúde individual e da comunidade, agindo 
como uma linha de defesa para proteger o 
processo de “civilização” nacional. 
A saúde pública surge como um novo ramo 
do conhecimento médico, lentamente 
instituída sobre os pilares científicos da 
medicina moderna, com o intuito de 
conhecer as doenças que assolavam o país, 
compreendendo seus mecanismos de ação, 
profilaxia e tratamento, o que foi fortemente 
amparado pela epidemiologia. Serviços 
estaduais de saúde substituíram os órgãos 
provinciais, sendo deficientes e 
desorganizados nos primeiros anos de sua 
criação, o que favoreceu a ocorrência de 
epidemias nas principais cidades do Brasil 
entre 1890 e 1900, com um grande número 
de óbitos. Políticos forneceram cargos de 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
alto escalão para médicos, que firmaram o 
compromisso de formar estratégias de 
manutenção e prevenção em saúde nas 
áreas delimitadas pelo governo. Os 
primeiros objetivos desse programa eram 
fiscalizar as condições sanitárias da 
população urbana e retificar pontos de 
enchentes e criadouros de ratos e insetos, 
contribuindo para o processo de reforma 
estrutural nas grandes cidades. Esse 
momento foi o marco inicial da internação 
compulsória de indivíduos afetados por 
doenças mentais e infectocontagiosas. 
Com a valorização republicana da força de 
trabalho, pela primeira vez a atuação do 
Estado em questões de saúde passou a ser 
global, indicando a criação das primeiras 
políticaspúblicas de saúde, inseridas no 
contexto das políticas sociais, ainda 
incipientes no início do período republicano. 
A REPÚBLICA VELHA: 
Com a presença do café como principal 
produto de exportação nacional e sua 
elevada rentabilidade uma grande 
quantidade de capital foi revertida para as 
cidades, financiando processos de 
industrialização e expansão urbana, essa 
última necessária devido ao fluxo de 
imigrantes desde o século XIX. Melhorar as 
condições de saneamento básico não era 
um objetivo endereçado para o bem-estar da 
população, mas sim para proteger áreas 
vitais para a economia, atuação que resultou 
na negligência do espaço rural, visível 
somente quando seus problemas afetavam a 
produção agrícola. O Serviço Sanitário 
paulista, criado em 1892, foi uma instituição-
modelo organizada e sofisticada atuante no 
controle e prevenção de doenças, financiada 
pela lucratividade do mercado cafeeiro. Esse 
órgão expandiu seus serviços de vigilância 
por todos os espaços do estado, tornando 
obrigatória a notificação de casos de 
doenças infecciosas em residentes ou 
visitantes e tornou obrigatória a formação 
médica (seja no Brasil ou no exterior) para 
habilitar um indivíduo a prestar atendimento 
para a população, punindo os curandeiros 
que atendiam a população menos abastada. 
O governo do estado de São Paulo criou, em 
1892, os primeiros laboratórios 
bacteriológicos, vacinogênicos e de análises 
clínicas e farmacêuticas, que viriam a se 
transformar logo depois nos institutos 
Butantã, Biológico e Bacteriológico. 
Profissionais estrangeiros trazidos para o 
Brasil fizeram com que fosse possível 
inaugurar o Instituto Pasteur, importante 
fabricante de insumos médico-veterinários. 
Em 1902, um surto de febre amarela provou 
a importância dos institutos em fornecer 
pareceres baseados em tendências 
científicas da época, pois para desbancar a 
conduta dos “Miasmáticos”, que isolavam os 
doentes e culpavam a poluição e os vômitos 
dos infectados pela propagação da doença, 
um grupo de voluntários contendo dois 
biólogos das instituições foram picados por 
mosquitos Aedes aegypti encontrados em 
locais próximos às vítimas, contraindo a 
infecção e comprovando as teorias que 
envolviam o vetor da doença. 
O Rio de Janeiro, em sua posição de elevada 
importância para o país também contava 
com um centro de pesquisas, o Instituto 
Sorológico de Manguinhos, em 
funcionamento desde 1889. Além de 
produzir inicialmente soros e vacinas, foi o 
local de atuação de Oswaldo Cruz, que 
diversificou a atuação do instituto, o qual 
passou a ser reconhecido como um dos 
laboratórios mais respeitados do mundo, 
reunindo pesquisadores e cientistas 
renomados, como Carlos Chagas. Em 1908, 
graças a relevância de Oswaldo Cruz para a 
saúde e os movimentos sanitários no Brasil, 
os laboratórios de Manguinhos foram 
renomeados em sua homenagem 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
É notório, entretanto, que fora das áreas 
periféricas aos centros, nada mudou para a 
saúde da população, uma vez que os 
avanços não conseguiam atingir as 
localidades mais remotas, reduzindo o 
número de doentes nos grandes centros 
urbanos, mas mantendo elevados os índices 
nacionais das mesmas patologias. 
Carlos Chagas foi um biólogo de 
fundamental importância para a medicina 
sanitarista brasileira, pois foi o responsável 
por descobrir em 1909 o protozoário 
Trypanosoma cruzi, causador da Doença de 
Chagas. Ao visitar a cidade mineira de 
Lassance o cientista observou um grande 
número de insetos hematófagos, conhecidos 
localmente por barbeiros, e buscou 
compreender suas características, 
encontrando em seu intestino amostras do 
protozoário, que também foi visto ao estudar 
amostras de sangue colhidas entre a 
população do lugarejo. Assim, Cruz decifrou 
o papel do Trypanosoma cruzi no 
desenvolvimento de sintomas como 
aumento do fígado, febre e problemas 
cardíacos, frequentes na região, criando um 
quadro clinico detalhado para descrever a 
moléstia descoberta. 
Ao final da primeira década do século XX, a 
população rural brasileira se encontrava 
fragilizada social e economicamente, afetada 
pela subnutrição, alcoolismo, malária, 
doença de Chagas e demais outras 
patologias, de modo que os doentes, 
afastados de locais que forneciam 
atendimento médico qualificado, recorriam a 
tônicos fortificantes ou se colocavam à 
mercê dos coronéis, que forneciam remédios 
extraídos de raízes e ervas naturais no Brasil 
em troca de apoio político. É nesse contexto 
de vulnerabilidade que surge o Jeca Tatu, 
personagem de Monteiro Lobato que 
evidencia a imagem frágil e debilitada do 
homem campesino. Nas cidades a situação 
não mudava de figura, pois o crescimento 
populacional oriundo da vinda de imigrantes 
pirou ainda mais as condições de vida locais, 
aumentando o número de cortiços e 
moradias precárias. Era nesse cenário que 
duas teorias se chocavam em meio a elite 
intelectual do Brasil: a eugenia, que culpava 
a miscigenação pelas epidemias, alegando 
que só seria possível erradicar tais 
complicações esperando a extinção desse 
“híbrido brasileiro”, e uma argumentação de 
cunho social, que caracterizava o território 
nacional como um grande hospital que 
necessitava de intervenção emergencial, 
pois o fator sanitário é tão importante para o 
crescimento nacional quanto a produção 
econômica. 
Medidas de cunho sanitarista atingiram 
principalmente os grandes polos urbanos 
nos primeiros anos do século XX, sendo a 
Amazônia uma exceção devido ao surto da 
borracha em 1913, momento no qual o 
próprio Oswaldo Cruz se embrenhou na 
região para compor um plano de erradicação 
de doenças que ameaçavam os 
seringueiros. O Rio de Janeiro também foi 
marcado pelas intervenções de Oswaldo 
Cruz, culminando na Revolta da Vacina, em 
1904. A ação de brigadas sanitaristas na 
cidade carioca envolveu a eliminação de 
criadouros de ratos e insetos, e a destruição 
de cortiços e favelas, com seus morros 
totalmente derrubados, mas resultou numa 
completa mudança estrutural na cidade, 
reduzindo o número de óbitos e epidemias 
naquela região. Tal modelo de controle 
epidemiológico foi aplicado em outras 
capitais em maior ou menor escala, mas 
contribuindo para diminuir os valores 
encontrados para morbidade de doenças 
que assolaram por séculos a população 
urbana. 
 A Revolta da Vacina: a intervenção 
estatal constante nos centros urbanos foi 
vista com desconfiança pelo povo 
principalmente devido a desapropriação 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
truculenta nos cortiços e favelas, muitas 
vezes apoiada por policiais ainda mais 
violentos. Essa situação atingiu seu 
clímax em novembro de 1904, período no 
qual Oswaldo Cruz conseguiu convencer 
o Congresso Nacional a autorizar 
campanhas compulsórias de vacinação 
contra a varíola, o que ocorreu sem antes 
informar a população sobre os objetivos e 
funcionamento daquela medida, levando 
a uma reação em massa por parte dos 
cariocas, insuflando o discurso de 
políticos de oposição e transformando o 
caráter do movimento, direcionando a 
revolta para o presidente da época, 
Rodrigues Alves. Patrimônios públicos 
foram depredados e manifestantes 
morreram num espaço de seis dias 
finalizados com a prisão dos líderes do 
movimento e a revogação do caráter 
obrigatório da vacinação. A lição 
governamental aprendida com essa 
insurreição foi a necessidade de 
comunicação com as camadas populares 
de modo a organizar campanhas e 
programas junto ao povo, evitando assim 
seu descontentamento. 
Essas medidas de reformulação do espaço 
nas grandes cidades mantiveram como 
privilegiados os membros da elite, pois 
garantiram a presença de saneamento 
básico em seus bairros e nos locais de 
atuação comercial,enquanto os pobres 
permaneceram marginalizados, habitando 
locais não contemplados com os avanços 
supracitados. Esse constante descaso ficou 
evidente na epidemia de gripe espanhola 
ocorrida em 1918, na qual médicos e a 
população de classe alta fugiram dos centros 
urbanos, abandonando os demais habitantes 
em situação de miséria, contornada somente 
graças a solidarização do povo, que se 
esforçou para tratar os doentes em hospitais 
improvisados. Esse surto matou cerca de 
500 mil pessoas 
ERA VARGAS: 
A ascensão de Getúlio Vargas ao poder após 
a Revolução de 1930 fez com que fosse 
necessário remodelar o governo, removendo 
quaisquer indícios do período oligárquico, 
modificando inclusive a Constituição, 
aprovada em 1934.Seu governo se estende 
até 1945, passando por uma fase ditatorial 
denominada Estado novo (1937-1945), 
momento no qual uma nova Cata Magna foi 
escrita, apoiando-se num viés populista 
capaz de conter as revoltas do povo. 
A unificação dos ministérios de saúde e 
educação em outubro de 1930 fomentou 
uma remodelagem nas políticas sanitárias 
com a finalidade de instaurar a burocracia 
federal como regente dos serviços, 
contribuindo para o caráter centralizador da 
Era Vargas. O Estado assegurou a 
população a responsabilidade por zelar pela 
saúde coletiva, e esse posicionamento foi 
mais bem aceito em áreas rurais, antes 
desprezadas pelo governo, enquanto 
grandes centros urbanos já bem equipados 
desaprovavam a modificação de um sistema 
de saúde adequado e independente em 
troca do controle estatal. Passaram a ser 
tratadas apenas doenças presentes numa 
lista prioritária, sem que as demais 
demandas populares fossem atendidas, 
menosprezando inclusive o 
acompanhamento de gestantes. 
Os médicos foram exonerados de seus 
cargos nas comissões sanitárias, sendo 
substituídos por burocratas e políticos que 
nada sabiam sobre saúde pública. 
Reclamações eram malvistas e notificadas 
pelas autoridades como forma de concentrar 
o poder. Para se protegerem em meio a um 
governo autoritário, a classe médica se 
organizou para defender e ampliar 
determinados privilégios, escrevendo um 
código moral muito distinto do que temos 
hoje como o Código de Ética Médica. 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
Após o golpe que instaurou o Estado Novo, 
Vargas direcionou os esforços em saúde 
novamente para as capitais, principalmente 
atendendo trabalhadores da indústria e do 
comércio, medida implementada de modo a 
obter apoio popular. Durante a República 
Velha os trabalhadores e operários não eram 
assegurados de forma eficaz em caso de 
acidentes em serviço devido às contradições 
presentes nas diversas leis que abrangiam 
tal assunto, sendo a única exceção a Lei Elói 
Chaves, criada em 1923, responsável pelas 
Caixas de Aposentadorias e Pensões, 
fundos de garantia classistas (ferroviários e 
portuários) que, em resposta a retenção de 
uma porcentagem salarial assegurava o 
direito a aposentadoria, a atendimento 
médico e a cobertura de despesas 
funerárias, concedendo inclusive pensões 
aos herdeiros do segurado. O governo 
varguista fez uso dos moldes originados 
dessa lei e expandiu-os para outras 
categorias profissionais, criando os IAPS 
(Institutos de Aposentadorias e Pensões), 
permitindo que uma grande parcela da 
população fosse atendida por médicos sem 
exigir novos gastos públicos. Apesar disso, o 
amparo fornecido por esses órgãos era 
irregular, não atendendo as necessidades de 
doentes em situação mais grave, que 
sofriam com o isolamento sanatorial como 
forma ineficaz de tratamento. Trabalhadores 
sem carteira assinada encontravam-se em 
situação ainda pior, pois eram desprovidos 
de qualquer auxilio de classe por não 
contribuírem oficialmente para os fundos de 
sua categoria, recorrendo aos hospitais 
filantrópicos em caso de adoecimento, 
tratados nesses locais como indigentes. 
Com medidas como essa, Getúlio Vargas 
ganhou imenso apoio popular, mesmo que 
muitas pessoas ainda não tivessem 
garantias legais de atendimento à saúde, 
como trabalhadores rurais e urbanos sem 
carteira assinada. A Constituição de 1934 
passou a incorporar lentamente diversos 
direitos para o proletariado, culminando com 
a edição da Consolidação das Leis 
Trabalhistas de 1943, que obriga o 
pagamento de um salário mínimo, 
indenização para acidentes laborais, 
atendimento médico para os doentes e férias 
remuneradas para todos aqueles portadores 
da carteira de trabalho, momento marcante 
como o início de um fundo previdenciário que 
aumentou a segurança do trabalhador, 
expandindo-se com o passar do tempo. 
Já existiam desde o início da República 
brasileira campanhas de educação em 
saúde, voltadas para a quebra de hábitos 
anti-higiênicos que podiam causar doenças, 
mas a maior parte da população não pudera 
usufruir adequadamente desse material por 
ser analfabeta. No Estado Novo, a partir de 
1938, mensagens de cunho higienista e 
sanitarista passaram a ser veiculadas nas 
rádios de todos os estados, devido a 
popularização desse meio de comunicação. 
Cursos de formação de enfermeiras 
sanitaristas também entraram em voga, com 
a missão de ensinar a população carente 
noções básicas de higiene e fazer o 
encaminhamento de doentes para os 
hospitais públicos/filantrópicos. Medidas 
pedagógicas atualizadas eram empregadas 
na produção de cartazes e panfletos 
informativos, tão ilustrados e coloridos que 
qualquer pessoa, alfabetizada ou não, era 
capaz de compreender a mensagem 
prevista. 
A influência da eugenia desde a República 
Velha ainda tinha reflexos na produção de 
materiais educativos, pois diversos dos 
conselhos transmitidos ao público se 
orientavam em pilares fascistas e racistas, 
mesclando princípios sanitários com textos 
que exaltavam o grau de desenvolvimento 
alemão, atribuindo-o a presença de uma 
“raça pura” ariana e comparando-o ao atraso 
brasileiro e a existência de uma população 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
“biologicamente fraca” e contaminada por 
imigrantes indesejáveis do Oriente. Esse 
posicionamento era adotado por alguns 
profissionais da saúde até o ano de 1942, 
quando o Brasil tomou parte na 2ª GM ao 
lado dos EUA por pressão desse último, 
contexto geopolítico que alterou 
drasticamente as campanhas em curso, que 
passaram a exaltar o povo norte-americano, 
descrevendo propriedades nutritivas dos 
produtos alimentícios oriundos de empresas 
americanas. 
No contexto do Estado Novo, o número de 
mortes por doenças epidêmicas caiu 
drasticamente, principalmente nos centros 
urbanos do Sul e Sudeste, porém doenças 
endêmicas se fizeram presentes, como ISTs, 
tuberculose, Doença de Chagas e patologias 
gastrointestinais. Mesmo com novas formas 
de conter endemias rurais e com o aumento 
do acesso do operariado a atendimento 
médico, o brasileiro se mantinha doente. 
O estado de saúde da população foi 
ressignificado em dois momentos, atraindo 
visibilidade internacional. O primeiro foi 
quando um pesquisador americano 
observou que na América Latina os 
principais óbitos eram causados por doenças 
parasitárias e infectocontagiosas já 
controladas nos EUA, ao passo que lá as 
doenças da modernidade (cardiopatias e 
câncer) eram responsáveis pelo maior 
número de mortos. O segundo período de 
choque foi em 1942, quando fez-se 
necessário compor um grupo de 100 mil 
soldados brasileiros em estado físico e 
mental impecavelmente avaliado para 
integrar a FEB (Força Expedicionária 
Brasileira), entretanto observou-se que a 
maior parte estava com a saúde 
comprometida de algum modo, tornando-a 
inapta para os afazeres da guerra. 
Essas notícias correram o Brasil, fazendo 
com que o governo fizesse a única coisa a 
seu alcance para se proteger das ameaças 
populares,culpar os enfermos, 
classificando-os como párias, incapazes de 
gerar riquezas para o Brasil e ainda 
queixosos de não receber atenção médica. A 
responsabilidade estatal de proteger a saúde 
do povo não era cumprida integralmente e 
por isso diversos brasileiros ainda morriam 
por não receberem o atendimento devido. 
O PERÍODO DEMOCRÁTICO (1945-1964): 
Após o fim da 2 Guerra Mundial e a vitória do 
Aliados sobre o Eixo, manifestações contra a 
ditadura passaram a toar o Brasil, 
culminando na deposição de Getúlio Vargas 
e na formulação de uma nova Constituição 
em 1946, em vigor até o início da ditadura 
militar. Esse período foi marcado pela 
redemocratização, com o voto secreto sendo 
meio de eleição para os principais cargos 
políticos do país. 
Medidas populistas se mantiveram como a 
principal estratégia dos governantes para 
manutenção de boa imagem pessoal, sendo 
a resolução dos reais problemas sociais 
relegada a segundo plano, visível apenas 
quando a população se aglutinava em 
movimentos revoltosos. Os anos 50 no 
Brasil marcaram o desejo de independência 
econômica nacional, buscando distanciar o 
país de políticas imperialistas, mas a entrada 
de capital estrangeiro ainda era constante, 
empregado principalmente na modernização 
da produção econômica brasileira, tendência 
bastante evidente durante o governo de 
Juscelino Kubitschek (1956-1961). 
Eurico Gaspar Dutra foi o sucessor direto de 
Getúlio Vargas, assumindo o governo em 
1946. A prioridade de sua gestão era 
organizar os serviços públicos, mas as 
tensões políticas internas e a forte 
burocracia da era varguista entravaram os 
projetos propostos pela presidência. Em 
1948 foi desenvolvido o plano Salte, uma 
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tentativa de melhorar os sistemas de saúde, 
alimentação, transporte e energia nacionais 
que não foi totalmente implementada, 
atraindo críticas negativas nos veículos de 
comunicação. 
Em 1953, no segundo momento do governo 
de Vargas, foi criado o Ministério da Saúde, 
mas a nova pasta recebia contribuições 
financeiras mínimas, explicitando o descaso 
das autoridades com a saúde da população. 
Com as limitações de caixa, o Estado pouco 
podia fazer para melhorar a saúde coletiva, 
pois faltavam profissionais especializados, 
equipamentos, infraestrutura adequada e 
estímulos para garantir a proatividade dos 
servidores. As falhas ministeriais são 
explicadas pela ausência de reformas 
sanitárias de peso e de políticas 
fundamentadas em saúde, muitas vezes 
sobrepondo órgãos e instituições, atolando 
ainda mais em burocracia a saúde popular. 
As primeiras ações do Ministério tiveram 
como foco o interior, visando combater as 
doenças que mais assolavam os habitantes 
daquela região, criando em 1956 o 
Departamento Nacional de Endemias 
Rurais, que também buscou promover a 
educação sanitária em meio rural. As 
medidas adotadas por esse órgão não foram 
tão eficazes como era exposto pelas 
propagandas do governo. 
O clientelismo também afetava 
negativamente a ação do Ministério da 
Saúde, pois diversos recursos eram 
desviados por políticos para atender a sua 
área de abrangência eleitoral em troca de 
apoio popular, privando outras localidades 
de receber tais insumos, o que também 
implicou na paralização de importantes 
projetos conduzidos pela esfera federal. 
A atenção à saúde no meio rural era de 
responsabilidade quase exclusiva das ações 
do Ministério, enquanto que em meio urbano 
os trabalhadores eram amparados por 
centros próprios ou financiados com o IAPS, 
mantidos pela contribuição de patrões e 
empregados. Revisões das leis trabalhistas 
foram realizadas, culminando em aumento 
dos benefícios recebidos em caso de 
afastamento por doença. Com o aumento no 
número de segurados por esses fundos de 
previdência o valor revertido ao médico por 
atendimento teve de ser elevado, atingindo 
50% das arrecadações anuais, o que causou 
redução na qualidade dos serviços 
prestados como forma de controlar o 
orçamento previdenciário. 
O setor privado passa a observar a ineficácia 
da máquina pública em assegurar serviços 
em saúde para a população, e começa a 
pressionar o governo para que os projetos de 
construção de centros estatais fossem 
interrompidos em troca de financiamentos e 
empréstimos a juros reduzidos para que 
fossem instaladas grandes redes de clínicas 
e hospitais que venderiam seus serviços 
para a população, aos IAPS e ao próprio 
Estado. Medidas foram aprovadas para 
privilegiar tais grupos, com boa parte das 
verbas destinadas para o crescimento de 
hospitais privados sendo embolsada por 
políticos sócios de clínicas, evidenciando os 
reais beneficiados por esses investimentos. 
Em 1960, devido as insatisfações populares 
e a impossibilidade de gerenciar os IAPS, 
houve um processo de reorganização 
previdenciária pela sanção da Lei Orgânica 
da Previdência Social (Lops), que 
uniformizou as contribuições laborais para 
cada instituto, porém isso não foi revertido 
em melhorias na qualidade dos serviços 
prestados. 
No Brasil dos anos 60 a mortalidade infantil 
ainda era um sério problema, mesmo com as 
intervenções do Ministério da Saúde em 
ampliar os postos de puericultura e as 
campanhas de assistência e atendimento às 
mães, pois a população ainda vivia em 
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precárias condições de saneamento básico, 
sem acesso a água de qualidade, vitimando 
ainda mais crianças por inflamações e 
patologias gastrointestinais. O modelo 
clientelista de política vigente no interior 
entravava a execução de projetos 
direcionados às crianças, que não eram 
taxados como obrigatórios, mas sim como 
provas da bondade dos políticos, resultando 
em forte apoio eleitoral. 
Nesse viés de vulnerabilidade social o 
governo passou a ter como prioridade 
garantir que a população estivesse bem 
nutrida, uma vez que intelectuais brasileiros 
correlacionam a fome e a miséria 
vivenciadas pela população como fator 
determinante para o surgimento de doenças. 
O surgimento das Ligas Camponesas no 
Nordeste e os pronunciamentos do médico 
Josué de Castro chamou a atenção da mídia 
nacional e estrangeira, fazendo com que o 
governo revidasse violentamente as 
manifestações populares das Ligas que 
defendiam também ideais comunistas. 
Com o cenário nacional bastante turbulento 
a medicina passou a se politizar, 
aproveitando de seu prestígio popular par a 
lutar pelo bem-estar comum, exigindo dos 
políticos medidas que beneficiariam as 
camadas sociais mais carentes, o que fez 
com que a saúde passasse a ser pauta 
constante em reivindicações de 
trabalhadores. João Goulart, presidente 
engajado com as Reformas de Base, teve 
dificuldade em conciliar as demandas 
públicas com a necessidade de apoio 
econômico, o que fragilizou a estrutura 
democrática do governo, contribuindo para a 
instituição de uma nova ditadura no Brasil. 
A DITADURA MILITAR BRASILEIRA: 
A Revolução de 1964 (autodenominada 
dessa forma pelos militares) teve como 
objetivo neutralizar ameaças comunistas 
presentes no Brasil, dando fim aos regimes 
democráticos e populistas do período 
anterior. Diversos indivíduos foram 
perseguidos, dentre os quais cientistas, 
músicos, estudantes e sindicalistas. Josué 
de Castro, um dos defensores da população 
rural e carente nos movimentos nordestinos, 
teve seus direitos políticos cassados nessa 
época. 
O AI n° 2, instituído em 1965, reduziu a dois 
o número de partidos nacionais (Arena - 
situação/ MDB - oposição), sendo que 
ambos eram de certa forma cerceados pelo 
governo. O Executivo era privilegiado, 
detendo a maior parte do poder, enquanto os 
demais serviços governamentais passaram 
a ser geridos por tecnocratas, que ignoravam 
as questões sociais comofatores de tomada 
de decisões, embasando-se somente em 
fatores econômicos. 
Nos primeiros anos da ditadura, entre 1968 
e 1974, o PIB nacional se elevou 
rapidamente, atingindo patamares de uma 
nação desenvolvida, graças a modernização 
do setor econômico nacional e a inibição das 
conquistas salariais alcançadas nos anos 
anteriores. O país ascendeu a novos níveis 
na economia mundial, mas o cenário interno 
era muito diferente: o “milagre econômico” 
não mudou a vida do brasileiro, cujo poder 
de compra foi notavelmente reduzido. 
Para mascarar o cotidiano não tão próspero 
internamente, o governo divulgava 
amplamente os avanços da medicina, como 
o primeiro transplante cardíaco realizado na 
América Latina, em 1968 (Dr. Euríclides de 
Jesus Zerbini). 
O Ministério da Saúde foi afetado pela 
mudança de governo, sendo o primeiro efeito 
a redução das verbas orientadas para a 
saúde pública, decrescendo constantemente 
até o final do regime militar. Programas, 
campanhas e tarefas sanitárias eram 
repassadas para outras pastas, o que 
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impediu a ocorrência de melhorias nos 
serviços de saúde. 
O posicionamento do Ministério em 
considerar a saúde como algo individual 
alterou em grande escala suas formas de 
atuação, pois o pouco capital acumulado 
passou a ser aplicado em pagamentos para 
clínicas particulares que atendiam a 
população pobre e para desenvolver 
campanhas de vacinação, sem 
direcionamento para a melhoria do 
saneamento básico, o que levou ao aumento 
de casos de doenças como dengue, malária 
e meningite, epidemias que após 1971 eram 
censuradas pelo governo, impedindo a 
população de compreender as reais 
dimensões do descaso. Esse cenário de 
restrição de informações só terminou em 
1974 quando uma epidemia sem 
precedentes de meningite atingiu o Brasil, 
exigindo que o poder público esclarecesse a 
situação, organizando uma campanha 
ostensiva de vacinação que durou até 1977. 
Para garantir o controle estatal sobre as 
instituições de acesso público e se 
aproveitando das dificuldades 
administrativas dos IAPS, foi criado em 1966 
o Instituto Nacional de Previdência Social 
(INPS), unificando todas as classes 
trabalhistas num só órgão. Essa nova 
instituição, sob administração do Ministério 
do Trabalho, seria responsável por 
assegurar a saúde do trabalhador, ao passo 
que o Ministério da Saúde deveria, no papel, 
criar medidas que melhorassem a qualidade 
de vida da população. 
O Estado passou a ser o único coordenador 
dos serviços previdenciários, recolhendo 8% 
dos salários para compor o fundo de 
assistência da população segurada. Ao 
mesmo tempo, a maior parte dos médicos e 
hospitais estava de alguma forma ligada à 
previdência, mesmo aqueles de caráter 
privado, pois a participação do governo seria 
apenas suplementar, colocando os 
convênios público-privados como peça 
fundamental no atendimento à saúde. 
Nesse período foram comuns as fraudes 
médicas, pois a máquina pública era lenta 
em desviar as verbas de direito do INPS e 
esse era ainda mais vagaroso ao pagar os 
conveniados, fazendo com que 
procedimentos desnecessários e 
internações fantasmas fossem uma forma 
dos profissionais receberem aquilo que lhes 
era de direito, fragilizando todo o sistema. 
Para evitar gastos com a previdência, 
empresas do setor privado passaram a 
aderir à medicina de grupo, recebendo 
subsídios estatais para cuidar 
separadamente dos seus funcionários, numa 
tentativa obscura de reduzir a demanda 
pública. 
Em 1974, para evitar que o INPS sucumbisse 
em seu mar de fraudes e má administração 
foi criado o Ministério da Previdência e 
Assistência Social (MPAS), que seria o 
responsável direto pelo fundo previdenciário, 
criando também a Dataprev, empresa que 
processava os dados da previdência e 
evitava fraudes internas. Cabe salientar 
também que as atividades relacionadas ao 
atendimento médico dos pensionistas 
passaram para a coordenação do Instituto 
Nacional de Assistência Médica da 
Previdência Social (INAMPS). 
Para reduzir as críticas ao regime, medidas 
foram implementadas para garantir 
assistência médica para a população, como 
a formação do Programa de Assistência do 
Trabalhador Rural (Funrural), que ampliava 
ao campo os direitos dos trabalhadores 
urbanos, e o Plano de Pronta Ação (PPA), 
que buscava agilizar o atendimento de 
urgência, delegando ao MPAS somente o 
pagamento dos hospitais prestadores de 
serviços aos segurados. Em 1975 foi criado 
o Sistema Nacional de Saúde, mecanismo 
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MEDICINA UNIME – 2019.2 
que serviria para baratear e aumentar o 
alcance das ações em saúde. 
A política de atenção em casos de acidentes 
em local de trabalho era débil no Brasil, com 
o pagamento do salário insalubridade agindo 
somente como um mediador de conflitos, 
levando os acidentados a buscar amparo na 
previdência. Hospitais optavam por amputar 
os membros lesionados mesmo que fosse 
possível salvá-los, condenando aqueles 
indivíduos a condição de inválidos pelo resto 
da vida, recorrendo a esmolas ou ao 
mercado informal para se manter. Doenças 
ocupacionais também eram menosprezadas, 
mesmo que a crescente poluição acabasse 
por vitimar os operários de forma lenta. 
A entrada de capital externo no Brasil 
durante o milagre econômico trouxe consigo 
empresas estrangeiras de seguros-saúde 
que se popularizaram entre as camadas 
sociais beneficiadas pelo período de 
prosperidade relativa, negócio esse que se 
mostrou altamente rentável, pois o custo dos 
atendimentos médicos era irrisório se 
comparado ao lucro obtido. Também se 
instalaram em território nacional grandes 
laboratórios farmacêuticos que obliteraram a 
concorrência brasileira, vendendo diversos 
novos medicamentos por todo o país, alguns 
já proibidos no exterior e outros sem eficácia 
comprovada. Ao serem perseguidas pelo 
governo essas empresas simplesmente 
interrompiam toda a produção, afetando a 
população, que ficava sem seus remédios e 
acabava se revoltando contra o governo. 
DÉCADAS DE 1980 E 1990: 
O governo militar caiu por terra em 1985 
após o fracasso do modelo econômico 
idealizado pelo regime no final dos anos 70, 
momento no qual a população voltou a se 
aglutinar em prol da liberdade e da 
democracia, exigindo eleições direta para 
presidente, contexto que fez com que o 
general João Figueiredo acelerasse o 
processo de redemocratização, devolvendo 
ao povo os seus direitos políticos e liberdade 
de expressão. 
Essa reconquista democrática teve como 
marco o ano de 1988, quando a Constituição 
Cidadã foi aprovada, prevendo eleições para 
o ano seguinte. O Brasil voltava a ser 
governado pela população, mas isso veio em 
um dos piores momentos de recessão 
econômica da história, com hiperinflação e 
redução drástica do poder de compra do 
brasileiro. 
A saúde no Brasil apresentava-se 
sucateada, graças a precária expansão do 
sistema de saneamento básico e a 
insuficiência na distribuição de profissionais 
pelo grande espaço territorial, resultando em 
mortes oriundas da falta de socorro 
especializado e da infraestrutura 
insatisfatória dos hospitais. 
Tirando proveito da abertura política, 
moradores da periferia urbana iniciaram 
movimentos em protesto contra as 
condições sanitárias locais e em busca de 
melhor qualidade de vida, sendo apoiados 
por padres e médicos sanitaristas, sendo 
assim formados os Conselhos Populares de 
Saúde, que buscavam aproximar as regiões 
marginalizadas da atenção à saúde. Médicos 
também aproveitaram o momento para 
discursar expressando seu 
descontentamento com condições laborais e 
om a formação educacional no ramo, uma 
vez que o número de faculdades de Medicina 
aumentou de forma notável durante o regime 
militar, entregandoao mercado profissionais 
já saturados pelas demandas não atendidas 
por parte da população. 
Ainda no final dos aos 70, duas instituições 
surgiram para tentar reverter o quadro da 
saúde pública no país, a Associação 
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde 
Coletiva (Abrasco) e o Centro Brasileiro de 
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Estudos da Saúde (Cebes), percussoras do 
Movimento Sanitarista, que visava buscar 
respostas para os problemas vivenciados em 
saúde através do debate. O produto desse 
movimento foi o documento “Pelo direito 
universal à saúde”, que coloca o acesso à 
saúde como um direito do cidadão e dever 
do Estado, texto tão influente que teve papel 
na Assembleia Constituinte, sobrepondo os 
lobbies de políticos que se beneficiariam 
com a ruína da saúde pública e culminando 
na inclusão de diversas propostas sugeridas. 
O Sistema Unificado e Descentralizado de 
Saúde foi um dos principais frutos da 
Constituição de 1988, baseado no princípio 
de integrar serviços públicos e privados em 
saúde numa rede hierarquizada e 
regionalizada. O Estado passou a classificar 
a saúde privada como complementar aos 
esforços públicos e passou a intervir de 
forma mais marcante nesse setor. Os 
desafios para implementação do Suds foram 
os mesmos de qualquer outra política de 
descentralização, com oposição por parte de 
empresas particulares que temiam redução 
em sua lucratividade com a adesão ao 
sistema estatal, além do já conhecido desvio 
de verbas por parte da administração 
municipal. 
O Sistema Único de Saúde foi a solução 
encontrada para suprir as dificuldades de 
implementação do Suds, contando com a 
integração dos serviços ofertados pelo 
Estado e compondo uma plataforma de 
inserção e aplicação das políticas 
elaboradas pelo Ministério da Saúde em 
nível regional, aliando a esse plano as 
medidas municipais e estaduais. Com o SUS 
foi extinto o INAMPS, pois a assistência 
medica do trabalhador passa a ser integrada 
aos demais programas de saúde popular, 
deixando o controle previdenciário sob o 
controle do INSS (Instituto Nacional do 
Seguro Social). 
A REFORMA SANITÁRIA NO BRASIL: 
A década de 1970 trouxe consigo a criação 
de múltiplos órgãos governamentais para 
regulamentar as bases da atenção médica 
previdenciária, porém nenhum deles foi 
verdadeiramente bem-sucedido em seu 
propósito, situação essa que era encoberta e 
manipulada pelo Ministério da Saúde. 
Graças a esses conflitos surgiam ideias que 
lentamente se desdobravam em simpósios e 
produções acadêmicas levadas aos Cebes. 
O 1° simpósio sobre Política Nacional de 
Saúde (1979) foi um momento de grande 
importância para o que viria a emergir no 
futuro como a Reforma Sanitária, pois foi 
nesse evento que o documento “A questão 
democrática na área da saúde” foi aprovado, 
servindo como base para a conclusão do 
encontro ao reunir as reivindicações de 
classe e o posicionamento dela contra o 
autoritarismo e a negligência para com a 
saúde pública. Os principais pontos desse 
documento que serviram como pilares das 
discussões da Reforma sanitária são o 
direito universal à saúde, o caráter 
intersetorial dos determinantes da saúde 
(visão global do processo de adoecimento e 
bem-estar), o papel do Estado em intervir 
ativamente no setor da saúde, 
descentralização, hierarquização e 
regionalização dos serviços ofertados, e 
participação popular. Desde esse momento 
já era sugerida a criação de um sistema 
único de saúde, com ações preventivas e 
emergenciais. 
Os anos 1980 trouxeram consigo a crise do 
sistema previdenciário, que não conseguia 
suprir a demanda de segurados e tampouco 
organizava o aumento das arrecadações, 
dando voz a diversos posicionamentos que 
propunham sanar o problema, orbitando 
desde posturas liberais, com a instituição de 
previdências privadas, até medidas 
centralizadoras, nas quais o Estado 
recolheria uma porção maior do lucro das 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
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empresas como forma de quitar as dívidas 
do sistema. A solução escolhida pelo 
governo não se direcionava para nenhum 
dos lados, o que só aumentava a decadência 
do sistema. Para dar um fim rápido para essa 
situação, foi escolhido que se cortassem os 
investimentos em assistência médica, 
mesmo que esse setor não fosse o maior 
detentor das arrecadações (já haviam no 
Brasil empresas estrangeiras que forneciam 
seguros saúde e diversas empresas se 
responsabilizavam pelo cuidado com o 
trabalhador para não ter seu lucro afetado 
pelo governo), criando um novo método de 
precificação de serviços, definido antes do 
tratamento, a Guia de Internação Hospitalar, 
que superou o sistema antigo por tentar 
racionalizar o pagamento ao setor privado. 
Em dezembro de 1984 foi realizado um novo 
Simpósio sobre Política Nacional de Saúde 
para tentar chegar a um consenso entre 
empresários e sanitaristas, no qual o único 
ponto acordado por todos era a necessidade 
de maiores investimentos orçamentários 
para a saúde. 
Já em janeiro de 1985 foi realizada a 
Reunião de Montes Claros, um momento de 
lideranças discutirem quais seriam os 
próximos passos com a retomada da 
democracia no Brasil. A carta produzida 
nesse encontro reafirmava os pontos 
debatidos em 1979. A partir de então 
diversos outros encontros ocorreram para 
aprofundar as medidas propostas para a 
nova república, como a unificação do 
Ministério da Saúde com o INAMPS. 
Waldir Pires, ministro da Saúde no governo 
de Sarney, fez inúmeras decisões que 
direcionavam o funcionamento do sistema 
público de saúde para algo mais próximo do 
que é visto nos dias atuais, iniciando a 
universalização da clientela hospitalar, com 
a integração de hospitais universitários ao 
plano, sendo impelidos a atender a 
demanda, mesmo se o indivíduo não fosse 
filiado ao sistema previdenciário. As 
prioridades gerenciais do novo governo 
lembravam novamente os postulados de ‘79 
ao descentralizar a administração e os 
centros de saúde, reduzindo a concentração 
de investimentos no Sul e Sudeste e 
buscando a diminuição das desigualdades 
entre o espaço rural e as cidades. 
O momento de fato decisivo para a Reforma 
Sanitária foi a VIII Conferência Nacional de 
Saúde (CNS), realizada em Brasília no ano 
de 1986 e presidida por Antônio Sérgio da 
Silva Arouca (FIOCRUZ). Os temas 
abordados nesse momento relacionavam-se 
com o direito à saúde, o financiamento do 
setor e as reformulações necessárias ao 
sistema nacional de saúde, sendo que a 
questão de maior engajamento dizia respeito 
a formulação desse novo modelo de 
atenção, ao que foi descartada 
imediatamente a possibilidade de 
estatização direta, uma vez que era 
necessário expandir e fortalecer o poder 
estatal, sendo a participação privada uma 
concessão regida sobre as leis nacionais. A 
separação de saúde e previdência também 
foi alvo de debates, pois essas instituições 
seriam responsáveis por processos distintos 
uma vez que a saúde fosse universalizada. 
Os congressistas apoiavam a criação de 
uma nova Constituição. 
Setores tecnocratas e burocráticos 
defendiam, em oposição aos congressistas 
da VIII CNS, uma unificação pelo alto, com 
passagem direta do INAMPS para o 
Ministério da Saúde, menosprezando a 
relevância das estratégias de integração já 
em andamento, que serviriam como uma 
maneira de suavizar a transição para um 
eventual sistema unificado em saúde. 
Enquanto as AIS se expandiam por cerca de 
90% do território municipalizado do Brasil, as 
relações entre gestores e prestadores de 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
serviços tornava-se mercantilizada, 
esgotando a premissa administrativa do 
programa. 
A implantação do SUDS e sua relação de 
convênio com as secretarias estaduaise 
municipais de saúde ocorreu conjuntamente 
a formação da Comissão Nacional de 
Reforma Sanitária, o que levantou 
novamente debates sobre os riscos de se 
colocar o bem-estar popular sob 
responsabilidade do INAMPS. O SUDS tinha 
seu avanço dificultado pela negação de 
órgãos estaduais participarem de forma ativa 
na realocação de verbas. 
O movimento de Reforma culmina na 
consolidação da nova Constituição, 
promulgada em 1988, na qual a saúde se 
insere como um direito intrínseco a cidadania 
e incorporada no âmbito de seguridade 
social. Os impactos desse movimento 
revelam-se na criação do SUS, programa 
amparado pelos ideais debatidos ainda em 
1979, mas que refletiam os planos e 
proposições de um novo período 
democrático na garantia da harmonia 
coletiva. 
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: 
A formulação do texto base para o Sistema 
Único de Saúde envolveu diversos grupos de 
pontos de vista conflitantes, havendo 
representação do setor de saúde privada, 
funcionários dos Ministérios da Saúde e da 
Atenção Médica da previdência Social, e de 
pesquisadores envolvidos no movimento de 
Reforma Sanitária, sendo esses últimos 
apoiados por organizações externas e 
relevantes como a OPAS e a OMS. Os 
pontos de polêmica na elaboração da Lei 
Orgânica da Saúde são: 
1) a incorporação do INAMPS ao MS, com 
fechamento dos escritórios regionais; 2) a 
participação popular, que havia sido vetada 
pelo Presidente Collor de Mello; 
3) as conexões do novo sistema de saúde 
com o setor privado (se esse seria 
complementar ou de livre participação); 
4) descentralização consensual dos serviços 
de saúde (o setor privado iria se reportar ao 
órgão gestor do SUS ou aos estados e 
municípios?); 
5) regulamentação do Fundo Nacional de 
Saúde, explicitando os percentuais de 
vinculação orçamentária e as frações 
endereçadas a cada unidade federativa; 6) a 
implementação de um plano de carreira para 
os profissionais da área após dois anos de 
implementação do programa. 
 Definição de Lei Orgânica: é a lei maior 
de um município ou Distrito Federal, mas 
pode ser também a lei que disciplina o 
funcionamento de um setor específico de 
algum dos poderes. 
A Lei Orgânica da Saúde ou lei 8080/90 foi o 
documento que criou o Sistema Único de 
Saúde brasileiro, dispondo em seu segundo 
artigo a saúde como um direito fundamental 
do ser humano e que deve ser assegurado 
pelo Estado, responsabilidade está descrita 
como formulação e execução de políticas 
econômicas e sociais que visem a redução 
de riscos de doenças e agravos e no 
estabelecimento de condições para que o 
acesso de todos aos serviços propostos seja 
universal e igualitário. É notória a 
fundamentação do SUS sobe os pilares da 
participação popular, uma vez que o 
documento preconiza que as atribuições da 
comunidade, família e indivíduo não são 
excluídas pela atividade do Estado. 
A saúde passa a ser vista como uma 
associação múltipla de fatores que refletem 
a dinâmica do ambiente em torno do 
indivíduo, passando a ser encarada como 
determinante e indicadora da organização de 
um país em uma revisão da lei feita em 2013. 
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O SUS tem como princípios a universalidade 
(o atendimento é fornecido a todos os 
indivíduos em todos os níveis de 
assistência), a integralidade de assistência 
(conjunto de ações e serviços preventivos e 
curativos em esfera individual e coletiva, 
necessária em todos os casos), e a equidade 
(tratar os desiguais com desigualdade). 
As diretrizes que regimentam o 
funcionamento adequado do Sistema Único 
de Saúde são a regionalização e 
hierarquização (organização lógica em 
níveis de complexidade crescentes e 
adequada a área geográfica de inserção), 
descentralização (distribuição de 
responsabilidades da União até o município) 
e controle social (engajamento popular nas 
medidas e ações planejadas pelos 
servidores, inserindo a comunidade como 
agente na manutenção de sua saúde). 
A Lei n° 8080 deixa clara a possibilidade de 
participação privada em serviços de saúde 
no Brasil, mas sempre de forma 
complementar aos serviços estatais, sendo 
que convênios podem ser estabelecidos 
para suprir demandas eventuais, 
principalmente junto a hospitais e clínicas 
com fins não lucrativos. Também é 
estabelecido um conjunto de comissões e 
grupos permanentes que têm por função 
avaliar o desempenho das políticas 
implementadas, compostos tanto por 
profissionais e governantes como por 
usuários do sistema. 
O SUS passa a ser responsável não só pelo 
atendimento médico da população e do 
trabalhador como também pela vigilância 
sanitária e epidemiológica, controle dos 
bancos de sangue, substâncias tóxicas, 
medicamentos e produtos alimentícios, além 
de preservar ao desenvolvimento técnico e 
cientifico na área da saúde. 
A lei n° 8142/90 teve por principal finalidade 
instituir a Conferência de Saúde, reunião 
quadrienal (4 em 4 anos) que avaliará a 
situação da saúde nacional, propondo novas 
políticas para sanar as deficiências 
observadas, contando com a participação de 
vários setores sociais, e o Conselho de 
Saúde, órgão permanente composto por 
representantes do governo, prestadores de 
serviços e usuários de modo a formular 
estratégias e controlar a execução das 
políticas públicas. 
Após a regulamentação legal das ações e 
atividades do SUS surge o período das 
Normas Operacionais Básicas (NOB), sendo 
a NOB 01/96 referente a alocação de verbas 
vindas do Fundo Nacional de Saúde, 
permitindo a transferência direta de um piso 
de atenção básica calculado per capita de 
forma direta para municípios cadastrados, 
visando assim maior equidade no 
redirecionamento de verbas, garantindo uma 
parte desse contingente e outra ficaria a 
cargo da adesão do município às estratégias 
de saúde da família, programa esse que 
buscava romper a dicotomia prevenção/cura. 
Na contemporaneidade surgem debates 
acerca da real extensão da universalidade 
preconizada pelo SUS, pois o sistema de 
saúde nacional não é unicamente estatal, e 
a participação de empresas privadas faz com 
que sejam mantidas diversas realidades 
sociais vivendo em paralelo, desde o 
indivíduo carente que recorre somente ao 
SUS até o membro da elite capaz de pagar 
por atendimento diretamente ao prestador, 
mas que também está inserido no contexto 
da saúde pública, o que se distancia dos 
ideais de adesão integral ao sistema, 
situação motivada não só pela existência de 
fornecedores particulares dos serviços 
públicos como também pela ineficácia do 
sistema em lidar com determinadas 
demandas. 
 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
PROBLEMA 1 – INTERMEDIÁRIA 
O ARCABOUÇO JURÍDICO DO SUS: 
O Sistema Único de Saúde teve suas 
primeiras definições expressas por meio da 
Constituição Federal (artigos 196 a 200 
falam sobre a responsabilidade do Estado 
como provedor de condições sanitárias para 
a população), pela Lei n° 8080/90 
(competências e atribuições iniciais do novo 
órgão, primeira regulamentação específica 
para o Sistema), e pela Lei n° 8142/90 
(determina a distribuição de verbas para o 
programa e propõe medidas que incentivem 
o controle social, como as Conferências e os 
Conselhos de Saúde). 
Para orientar a consolidação do SUS, 
Normas Operacionais Básicas (NOB), 
inicialmente a Cargo do INAMPS e 
posteriormente criadas pelo Ministério da 
Saúde, foram elaboradas, instituindo uma 
série de portarias regulatórias. 
DA JUNÇÃO ENTE INAMPS E MS: 
O Ministério da Saúde incorporou esse órgão 
previdenciário através do decreto n° 
99060/90, passando mais três anos com 
estruturas sobrepostas às do Ministério. 
As NOB foram responsáveis por definir o 
papel de cada esfera do poder público na 
implementação do sistema, pelo 
direcionamento derecursos do Fundo 
Nacional de Saúde e de seus equivalentes 
de menor escala, e também por determinar 
as condições relativas à gestão dessa 
instituição, assegurando a participação de 
estados e municípios. 
A primeira Norma Operacional Básica, 
NOB/1991, ainda foi escrita sob influência do 
INAMPS, possuindo caráter centralista, ótica 
sob a qual a instituição atuava. Tem como 
principais pontos: 
 Secretarias Estaduais e Municipais 
seriam prestadores de serviços 
equiparados aos do setor privado; 
 O INAMPS mantém-se como gestor 
único do SUS; 
 A gestão estadual ainda dá seus 
primeiros passos, agindo muito mais 
como colaboradora em prestação de 
serviços; 
 Início da municipalização, com Unidades 
de Saúde sendo transferidas da esfera 
federal para os municípios, mas sem 
formar uma rede de atendimento; 
 Criação da Unidade de Cobertura 
Ambulatorial, que ao ser multiplicada pela 
população local definiria o teto de verbas 
repassadas anualmente. 
Em 1992, ainda sob gestão do INAMPS foi 
publicada uma nova NOB graças ao 
consenso ente o Ministério da Saúde, o 
Conselho Nacional de Secretários de Saúde 
e o Conselho Nacional de Secretarias 
Municipais de Saúde. Tinha como objetivos 
normatizar a assistência à saúde, estimular a 
implementação e desenvolvimento do SUS e 
fornecer os recursos operacionais 
necessários para efetivação dos preceitos 
constitucionais sanitários. 
A NOB/91 criou o Índice de Valorização de 
Qualidade, aplicado aos hospitais que 
integravam o SUS, e o Fator de Estímulo à 
Gestão Estadual, que regulava o repasse 
automático de verbas para áreas habilitadas 
de modo a estimular o desenvolvimento 
tecnológico da rede pública, além do 
Prosaúde, programa criado para reorganizar 
os serviços sanitários nas três esferas do 
poder. A NOB/91 continuava sendo seguida, 
com o INAMPS sendo responsável pelo 
repasse de recursos. 
Em 1993, por meio da Lei n° 8689, o 
INAMPS foi incorporado ao SUS, rompendo 
com o caráter centralizador presente desde 
a formação do Estado brasileiro. O MS 
passou a ser a única autoridade responsável 
por esse sistema a nível federal, alcançando 
a descentralização unidirecional postulada 
pela Constituição. 
A NOB/1993 foi o primeiro documento do tipo 
editado exclusivamente pelo Ministério da 
Saúde, consolidando os princípios debatidos 
na IX Conferência Nacional de Saúde, dentre 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
os quais estão as Comissões Intergestores 
Bipartite e Tripartite, formulando um sistema 
de gestão cooperativa entre instâncias do 
governo, intensificando o processo de 
municipalização. Além disso, o documento 
também aborda: 
 Inclusão municipal como parte da gestão, 
formando a terceira instância do SUS; 
 Categorização municipal em três fases 
de gerência (incipiente, parcial e 
semiplena); 
 Definição ainda rasa do papel estadual 
no desenvolvimento de estratégias no 
Sistema, mas é notório o início de sua 
atuação como gestores; 
 Transferência automática e regular fundo 
a fundo de verbas oriundas do teto global 
da assistência para municípios de gestão 
semiplena. 
Apesar do êxito obtido pelos membros da 
categoria semiplena e dos impactos desse 
processo para a municipalização, ainda 
havia superposição de responsabilidades, 
pois os limites de atuação de cada instância 
não eram bem delimitados. 
Foi por meio do decreto n° 1232/94 que foi 
regulamentado o repasse automático fundo 
a fundo que distingue o SUS de outras 
iniciativas governamentais. Esse mecanismo 
foi imprescindível para o sucesso do 
Sistema, pois as medidas conveniais 
existentes à época não seriam suficientes 
para garantir a parceria entre União, estados 
e municípios. A relevância desse texto é 
tamanha que se enquadra como o ato 
normativo mais importante, depois das leis 
de criação, para a operacionalização 
funcional desse programa, pois conferiu 
agilidade aos processos de cunho financeiro 
de uma forma peculiar para um sistema de 
saúde. 
O Sistema Nacional de Auditoria (SNA) do 
SUS foi criado em 1993 pela lei n° 8689 
como uma forma de avaliar de forma 
descentralizada aspectos financeiros, 
científicos, patrimoniais e contábeis do SUS, 
sendo esse órgão regulamentado pelo 
Decreto n° 1651/95. O SNA busca, de forma 
transparente, estimular o controle social por 
meio da exposição dos dados coletados. 
Mais uma Portaria do MS, dessa vez do ano 
de 1996, institui a NOB-SUS/96, um dos 
principais elementos estruturantes do SUS 
ao regulamentar a política de 
municipalização, instituindo o município 
como um gestor pleno de seus serviços de 
saúde, além de redefinir as 
responsabilidades estaduais e federais e de 
fomentar a gestão plena da atenção básica. 
Seus principais aspectos são: 
 Caracterizar as responsabilidades 
sanitárias de cada gestor, fomentando 
um novo pacto federativo em saúde; 
 Estabelecer uma relação entre o SUS e a 
população, apresentando o agente 
responsável por sua saúde, o município 
(seja diretamente ou como referência); 
 Reorganizar o modelo assistencial, 
fornecendo ao setor municipal a 
responsabilidade pela atenção básica; 
 Consolidar as Comissões Intergestores 
Bi e Tripartite como mecanismos 
permanentes de negociação entre os 
níveis de coordenação do programa; 
 Aumentar o repasse de verbas da União 
a estados e municípios, utilizando para 
isso o Piso de Atenção Básica (PAB), 
Fração Assistencial Especializada (FAE), 
Incentivo ao Programa de Saúde da 
Família (PSF) e Programa de Agentes 
Comunitários da Saúde (Pacs), Índice de 
Valorização de Resultados (IVR), Piso 
Básico de Vigilância Sanitária (PBVS) e o 
Índice de Valorização do Impacto em 
Vigilância Sanitária (Ivisa); 
 Regulamentar as relações entre 
município, estado e federação, 
destacando: 
o Participação pública e privada, sendo 
essa garantida por meio de contratos 
ou convênios; 
o Subordinação a só um gestor em todos 
os níveis de governo; 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
o A relação entre gestores organiza a 
referência de pacientes entre 
localidades, mediada pelo estado; 
o Consolida as Comissões Intergestores 
como fóruns de negociação e 
articulação; 
o Corresponsabilidade do município 
com suas instituições supervisoras em 
suas competências; 
o Papel estadual na redistribuição de 
verbas por meio da discriminação 
positiva (mais verbas para áreas 
vulneráveis); 
o Ação da Programação Pactuada e 
Integrada (PPI) como formalizadora de 
relações, propondo estratégias de 
ampliação e execução; 
o Redefinição das funções do MS como 
gestor, integrando de maneira mais 
eficaz suas instituições subordinadas; 
o Incorporar ao SUS ações de vigilância 
sanitária e epidemiológica; 
o Reorganizar o modelo de atenção 
básica, ampliando o alcance do PSF e 
Pacs como estratégia principal, 
adotando um incentivo financeiro para 
as áreas cobertas. 
 
Essa NOB foi alterada por outras portarias de 
modo a ressignificar os pisos relativos às 
competências do SUS, sendo que suas 
últimas modificações foram causadas pelas 
Noas de 2001 e 2002. 
Em 2000, a Emenda Constitucional n° 29 
alterou uma série de artigos da Constituição 
de 1988, acrescentando um artigo dentre as 
disposições transitórias que assegurava os 
recursos mínimos para financiar os serviços 
e ações públicas em saúde, sendo bastante 
criticada por correntes econômicas 
poderosas contrárias a designação de 
recursos. A aplicação de verbas no setor 
sanitário seria, no mínimo, igual aos 
investimentos do ano anterior, segundo um 
projeto de lei complementar publicado em 
2007. 
A portaria n° 95/2001 cria as Normas 
Operacionais da Assistência à Saúde 
(Noas), que introduz o conceito de redes de 
assistência e institui os Planos Diretores de 
Regionalização e de Investimentos. Também 
são ampliadasas responsabilidades 
municipais no contexto da Atenção Básica, 
definindo a regionalização na assistência. 
A Noas/02, instituída pela portaria n° 
373/2002 postula os encaminhamentos da 
CIT, em reunião de novembro de 2001, 
momento no qual CONASS e Conasems 
firmaram um acordo contemplando 
pareceres relativos ao único comando de 
centros de média complexidade e o 
fortalecimento do poder estadual sobre 
interações intermunicipais, principalmente 
no que diz respeito ao acompanhamento dos 
recursos transferidos. O objetivo principal 
das novas Noas era promover a equidade na 
alocação de verbas e no acesso popular ao 
atendimento à saúde em todas as esferas de 
gestão, por meio de três planos articulados 
entre si: a regionalização e organização da 
assistência, o fortalecimento da capacidade 
gestora do SUS, e a revisão de estados e 
municípios habilitados. 
Assim, a descentralização e a regionalização 
passaram a se relacionar, com a 
participação cada vez mais evidente da PPI 
e dos estados como moderadores de 
referências intermunicipais, o que só seria 
alcançado com o fortalecimento da gestão 
dessas instâncias. Os principais pontos da 
Noas/02 são: 
 Elaboração do Plano Diretor de 
Regionalização (PDR) e do PPI, 
coordenados pelo setor estadual; 
 Ampliação da atenção básica por meio de 
direcionamento de verbas federais através 
do PAB, calculado per capita para beneficiar 
as localidades mais engajadas no processo 
de consolidação do PSF; 
 Instituição de políticas para atendimento de 
alta complexidade; 
 Qualificação das regiões e microrregiões. 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
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A Noas/02 também organiza alternativas 
assistenciais mais adequadas às 
necessidades da população em tempo 
oportuno, otimiza a utilização de recursos e 
subsidia mecanismos de avaliação e 
controle dos serviços, como a PPI. Esse 
documento foi editado pelas diversas 
portarias que dizem respeito ao Pacto pela 
Saúde. 
PACTOS DO SUS: 
Com a consolidação do SUS por meio das 
portarias que compunham as NOB e as 
Noas, a gestão tornou-se um processo mais 
complexo, criando a necessidade de serem 
pactuadas entre as esferas gestoras do 
Sistema (União, estados e municípios) uma 
série de responsabilidades capazes de 
garantir o controle social, a organização de 
regiões e microrregiões, qualifica o acesso à 
atenção integral em saúde e cria um fundo 
de financiamento tripartite para estimular a 
equidade em transferências ente fundos, 
respeitando sempre a coerência e 
planejamento em gestão e as diferenças 
regionais. 
Esses princípios foram firmados no ano de 
2006 entre o MS, CONASS e Conasems, 
compondo um Pacto que se estende a três 
distintas dimensões: Pacto pela Vida, Em 
Defesa do SUS e de Gestão, promovendo 
inovações nos processos e instrumentos 
ligados à gestão, além de redefinir 
responsabilidades coletivas frente aos 
resultados sanitários em função das 
necessidades populares e fomentar a 
execução de acordos entre gestores. 
PACTO PELA VIDA: 
Entende-se como Pacto pela Vida o 
compromisso firmado em torno de 
prioridades de impacto direto na saúde do 
brasileiro. A priorização de setores se dá por 
meio de metas de caráter nacional, estadual 
e municipal, que podem ser agregadas frente 
a pactuações. 
As seis prioridades acordadas são: 
 Saúde do idoso: 
Visa a promoção do processo de 
envelhecimento ativo e saudável, com 
atenção integral e integrada à saúde da 
pessoa idosa. Medidas intersetoriais 
também são importantes para assegurar 
esses princípios, garantindo a integralidade 
do Cuidado. 
Para promover a saúde do idoso também foi 
proposta a implementação de serviços de 
atenção domiciliar e o acolhimento prioritário 
desses em unidades de saúde, respeitando 
os parâmetros de classificação de risco. O 
aumento da participação popular também é 
mencionado, devendo para tal ser divulgada 
a Política Nacional de Saúde da Pessoa 
Idosa, assim como o treinamento de 
profissionais sanitários nessa área, em 
medidas de educação permanente e durante 
a formação acadêmica. 
A produção científica é abordada ao ser 
postulado o apoio ao desenvolvimento de 
estudos e pesquisas e o incentivo a 
cooperação nacional e internacional em 
experiências no setor de saúde do idoso. 
Para atender a essas necessidades foram 
propostas uma série de ações e medidas, 
como a Caderneta de Saúde da pessoa 
idosa, que ao apresentar informações 
relevantes sobre o estado de saúde do 
indivíduo possibilita melhor 
acompanhamento pelos profissionais do 
setor. O manual de Atenção Básica à Saúde 
da Pessoa Idosa, também idealizado nesse 
período, tem por intuito a formação de ações 
de saúde seguindo as diretrizes da Política 
Nacional de Saúde do Idoso. O programa de 
educação permanente à distância, por sua 
vez, tem por finalidade implementar cursos e 
medidas que auxiliem o trabalho do 
profissional sanitário na atenção básica. 
Mudanças no processo de acolhimento e 
assistência farmacêutica buscam suprir 
dificuldades do acesso do idoso ao 
atendimento à saúde, ao passo que a 
atenção diferenciada na internação e 
cuidado domiciliar buscam integrar a equipe 
Júlia Figueirêdo – ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE 
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multiprofissional no cenário do atendimento, 
tornando-o mais humanizado. 
 Controle do câncer de colo de útero e 
de mama: 
Os principais objetivos para esse tópico 
eram a cobertura de 80% dos exames 
preventivos para câncer de colo de útero e 
60% das mamografias, além de incentivar a 
realização de cirurgias de alta frequência 
(pode ser feito em ambulatório e resulta em 
menores danos ao retirar as lesões) com 
pagamento diferenciado e realizar punções 
mamárias em 100% dos casos necessários. 
 Redução da mortalidade infantil e 
materna: 
Para esse segmento, foram propostas as 
seguintes metas: reduzir em 5% as 
mortalidades neonatal e materna em 2006, 
diminuindo no mesmo período 20% das 
mortes por pneumonia e 50% daquelas 
causadas por doenças diarreicas. A criação 
de comitês de vigilância do óbito em 80% das 
cidades com mais de 80 mil habitantes 
também foi proposta, junto à elaboração de 
proposta de intervenção frente às doenças 
mais prevalentes. No âmbito da mortalidade 
materna, o pacto visa garantir o fornecimento 
de insumos para o tratamento de síndromes 
hipertensivas no parto e a qualificação de 
bancos de sangue para atender as 
necessidades das maternidades. 
 Fortalecimento da capacidade de 
resposta às doenças emergentes e 
endemias, enfatizando a dengue, 
tuberculose, hanseníase, malária e 
influenza: 
No que se refere à dengue, foi proposto 
reduzir a 1% a infestação predial de Aedes 
aegypti em 30% dos municípios prioritários, 
além de criar planos de atenção e 
contingenciamento para os pacientes 
contaminados nos mesmos municípios. 
A meta para o controle da hanseníase foi 
retirá-la do rol de problemas públicos de 
saúde, conseguindo um índice inferior a 1 
caso a cada 10 000 habitantes em todos os 
municípios brasileiros. 
Curar 85% dos novos casos de tuberculose 
bacilífera diagnosticados por ano, reduzir em 
15% a incidência anual de malária na 
Amazônia Legal (2006) e implantar planos 
de contingência e um novo sistema de 
informação para notificar casos de Influenza 
também são medidas propostas nessa 
seção do Pacto. 
 Promoção da saúde: 
O processo de promoção da saúde seria de 
responsabilidade dos três governos, que 
juntos elaborariam ainda em 2006 a Política 
Nacional de Promoção de Saúde. A 
população também seria colocada no centro 
desse objetivo, internalizando em cada 
indivíduo seu papel em relação a adoção de 
um estilo de vida saudável, aliando 
exercícios e alimentação adequada ao 
combate ao tabagismo. Para tanto, é preciso 
articular os programas de promoção de 
atividades físicas,sejam eles preexistentes 
ou criados após o Pacto. 
 Fortalecimento da Atenção Básica: 
O principal quesito desse objetivo é assumir 
a Estratégia de Saúde da Família como eixo 
primordial para alcançar o desenvolvimento 
da atenção primária, adereçando as 
diferenças regionais de forma a não impactar 
negativamente na adoção do programa. 
Caberiam às três instâncias da gestão do 
SUS financiar essa nova estratégia, 
garantindo a infraestrutura necessária para o 
trabalho e a formação de vínculos 
empregatícios favoráveis à permanência 
profissional. 
Atualizações na área de educação 
permanente permitem à equipe atuante 
numa localidade que se capacitem para o 
trabalho em atenção básica, que será 
monitorado e avaliado pelas três esferas do 
governo, agindo como um exercício de 
gestão. Ampliar a ESF nos grandes 
agrupamentos urbanos e rumo ao interior 
também é algo preconizado pelo regimento 
pactual. 
No ano de 2008 forma acrescentadas cinco 
novas prioridades ao que havia sido 
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postulado em 2006, com um total de 11 
metas para o período 2008/2009. As adições 
foram: 
 Saúde do trabalhador; 
 Saúde Mental; 
 Fortalecimento da capacidade de 
resposta do sistema de saúde às 
pessoas com deficiência; 
 Atenção integral às pessoas em 
situação ou risco de violência; 
 Saúde do homem. 
Para os anos de 2010 e 2011 foram 
adotadas as mesmas 11 metas junto a 
medidas de monitoramento do Pacto pela 
Saúde. 
PACTO EM DEFESA DO SUS: 
Esse documento tem por objetivos assegurar 
o compromisso dos gestores do SUS com a 
consolidação da Reforma Sanitária Brasileira 
por meio da defesa dos princípios 
constitucionais do Sistema, desenvolvendo 
assim ações e programas articulados para 
garantir que o SUS se insira no rol de 
políticas públicas. 
Para alcançar tais propósitos, esse Pacto 
aposta na promoção da Cidadania como 
mecanismo de controle social ao evidenciar 
o direito à saúde, originando assim uma onda 
de repolitização da saúde aos moldes da 
Reforma Sanitária, aplicando esses debates 
ao contexto contemporâneo do SUS. A 
aprovação orçamentária e o compromisso 
com o financiamento adequado do Sistema 
também são mencionados. Assim, foi criada 
a Carta dos Direitos dos Usuários do SUS, 
ao passo que a Gestão deste, de forma 
integrada, ampliou as relações com a 
população, de forma geral, e com 
movimentos de cunho social, principalmente 
aqueles ligados à saúde, sendo também 
aprovado o orçamento conjunto das três 
esferas de gestão, explicitando o 
compromisso de cada uma delas com a 
manutenção dos princípios constitucionais. 
PACTO DE GESTÃO: 
Esse documento estabelece princípios para 
a gestão do SUS nos aspectos de 
descentralização, regionalização, 
financiamento, planejamento, PPI, 
regulação, participação e controle social, 
gestão do trabalho e educação na saúde. 
O Pacto de Gestão fomentou um ambiente 
propício para o federalismo mais cooperativo 
no âmbito do SUS, delimitando claramente o 
papel de cada gestor para evitar que 
responsabilidades se sobrepusessem, 
fortalecendo assim a organização do 
Sistema. 
O processo deflagrado por esse documento 
foi de um choque descentralizador 
acompanhado do fortalecimento de regiões 
sanitárias, desburocratização normativa e 
consolidação das Comissões Intergestores 
Bipartite (estado e os municípios de seu 
território). No geral, o Pacto trouxe um novo 
acordo sanitário baseado em uma unidade 
doutrinária e diversidade operacional. 
Os gestores que participam do acordo 
firmaram o compromisso de construir redes 
de atenção à saúde, organizando regiões 
sanitárias baseadas em cogestão, fortalecer 
o controle e participação social por meio de 
espaços físicos e ações, valorizar a 
cooperação gestora, qualificar o acesso ao 
cuidado integral e redefinir mecanismos de 
avaliação do Sistema. 
DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE: 
Os Determinantes Sociais de Saúde (DSS) 
podem ser definidos de diversas formas, 
sendo sempre constante sua inserção no 
conceito de que as condições de vida e 
trabalho do indivíduo e da população estão 
diretamente relacionadas com sua saúde. 
Para a Comissão Nacional sobre os 
Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), 
os DSS são as condições sociais, 
econômicas, étnicas, culturais, psicológicas 
e comportamentais que influenciam a 
ocorrência de doenças e seus fatores de 
risco numa comunidade. A OMS, por sua 
vez, possui um significado mais curto, que 
diz que os DSS são as situações sociais de 
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vida e trabalho. Uma definição ampla para 
esse conceito é a série de características 
sociais dentro das quais a vida se desenrola. 
Ainda que hoje os DSS sejam levados em 
consideração no processo de saúde-doença, 
isso não ocorreu durante toda a história, 
sendo um processo gradual de rompimento 
de teorias. No século XIX, a explicação mais 
utilizada para o adoecimento era a teoria 
miasmática, capaz de responder às 
indagações propostas num período de 
industrialização e crescimento populacional, 
alicerçada pelos estudos na área de riscos 
ocupacionais e contaminação de alimentos e 
água. Para Virchow, um cientista atrelado à 
essa corrente de pensamento, a medicina 
era intrínseca às ciências sociais, sendo os 
fatores socioeconômicos capazes de 
impactar notavelmente o bem-estar 
individual, devendo ser analisados por meio 
de pesquisas científicas. 
No final do século, viu-se a ascensão da 
corrente bacteriológica, evidenciada pelos 
estudos de Koch e Pasteur, fez com que 
conflitos entre a visão estritamente técnica 
da doença e seu enfoque social se 
inserissem no centro das discussões da 
época, influenciando inclusive a criação e o 
financiamento da Universidade Johns 
Hopkins, orientada para o estudo de 
doenças específicas por meio de um viés 
bacteriológico e da excelência laboratorial, 
estreitando o campo de visão da saúde 
pública, distanciando-a dos movimentos 
sociais. Esse modelo se disseminou com a 
participação do grupo Rockfeller no 
financiamento de diversas escolas médicas, 
sendo uma no Brasil (Faculdade de Higiene 
e Saúde Pública de São Paulo). 
O século XX foi marcado por tensões entre 
as diversas abordagens da saúde pública, 
chegando inclusive a se manifestar na OMS, 
que vivenciou períodos mais centrados em 
aspectos tecnológicos e individuais junto a 
outros nos quais as questões social e 
ambiental se destacavam. A própria 
definição de saúde dada pela OMS desde 
1948 expressa um enfoque que extrapola o 
científico, ao afirmar que essa é um estado 
de completo bem-estar físico e mental, não 
somente a inexistência de doenças. Após o 
sucesso das campanhas para erradicação 
da varíola em 1950, entretanto, nota-se um 
investimento crescente em tratamentos para 
moléstias específicas, adotando a aplicação 
de tecnologia para prevenção ou cura. 
Há uma alteração constante de ideologias 
durante o restante do século XX: na década 
de 1970 foram a Conferência de Alma-Ata e 
o lema “Saúde para todos no ano 2000” que 
trouxeram novamente à tona a visão social e 
integral da saúde, ao passo que os anos’80 
foram marcados pela individualização da 
saúde graças às companhias privadas, 
retomando a uma concepção mais coletiva 
em 1990 com os debates sobre as Metas do 
Milênio, culminando com a criação de uma 
Comissão sobre Determinantes Sociais da 
Saúde pela OMS em 2005. 
Foi nas últimas décadas que os estudos e 
pesquisas se concentraram nas relações 
organizacionais entre uma comunidade e 
seu estado sanitário, principalmente 
abordando as iniquidades existentes, 
segundo Whitehead, as desigualdades 
internas sistematizadas, evitáveis e injustas 
que influem negativamente na saúde de 
alguns grupos. 
Segundo Nancy Adler, existem 3 gerações 
de

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