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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS DIREITOS HUMANOS Direitos Humanos Sob uma Perspectiva de Gênero Ana Paula Sousa Rodrigues (14-92986), Eduarda Millena Silva Meireles (14-93006), Francisco Lopes Filho (14-93014), Jaime Drumond Versiane Neto (14-51577), Jonas Luis Flores Teixeira (14-93010), Roger Vinicius Guedes Loscha (14-92998) Diamantina/MG 2020 DIREITOS HUMANOS Direitos Humanos Sob uma Perspectiva de Gênero Trabalho apresentado para a disciplina de Direitos Humanos, quarto período do curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais. Prof. Rafhael Lima Ribeiro Diamantina/MG INTRODUÇÃO O trabalho que ora se apresenta, visa trazer um estudo a respeito da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é considerado um documento histórico, delineado pela Carta das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, pela então resolução 217 A-(III) da Assembleia Geral da ONU no qual a mesma estabelece desde então a Proteção Universal dos Direitos Humanos e, tendo como principal fundamento a dignidade da pessoa humana. Antes de iniciarmos a falar dos Direitos humanos de maneira mais restrita, faz-se necessário uma recapitulação histórica que nos levou a esta grande conquista. Sabe-se bem que o século XX foi o mais conturbado da história da humanidade, sendo palco de duas grandes guerras que poderiam ter destruído o mundo, literalmente. Um século de tensões políticas mundiais que assustavam os participantes deste cenário assustador. A ascensão do Comunismo na União Soviética, o Fascismo italiano e o Nazismo na Alemanha ocasionou ao mundo um choque político nunca antes visto: o cenário para uma grande guerra estava pronto. E, em ascensão e com um grande exército, que os alemães invadem a Tchoslováquia, no dia 1 de setembro de 1939, e, assim, inicia-se a maior guerra já vivenciada pelos seres humanos, contabilizando mais 70 milhões de mortos, militares e civis. Pois bem, é assim que entra em cena a percepção do óbvio: era necessário, após este terror da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma organização que auxiliasse na manutenção da paz entre as nações e no tratamento aos seres humanos, e que os países respeitassem os acordos que ali fossem elaborados. Nunca antes os Direitos Humanos foram tão desrespeitados como no século XX: com o Comunismo, Nazismo, Fascismo etc. E a Segunda Guerra Mundial foi muito além, destruindo vidas e nações inteiras, gerando um prejuízo irreparável. Portanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos surge como remédio a tudo isso, para que não mais ocorresse coisas tal quais foi-nos apresentado nas revoluções e nas duas grandes guerras. Eis a importância medular deste documento. A Declaração Universal dos Direitos Humanos nasceu como um órgão de Conduta Mundial, para dizer a todo mundo que os Direitos Humanos são universais, bastando a condição de ser pessoa para ter os seus direitos protegidos. Quando se diz Direitos Humanos, automaticamente somos remetidos a perceber que este conceito não faz distinção de raça, cor, sexo etc., é um conceito que não se esgota em si mesmo, pelo contrário, é abrangente e abarca todos os seres que distinguem- se dos demais animais. Em suma, é um direito que abarca todos os seres humanos, de todas as regiões do mundo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos do qual é composta por trinta artigos, precedidos de um Preâmbulo com sete considerações é, como já foi dito, um importante documento que visa resguardar direitos e garantias fundamentais a todos os seres humanos. Em suma, Direitos Humanos constitui um conjunto de direitos fundamentais, dentro dos quais todos os seres humanos, de todos os povos e nações devem usufruir, pelo simples fato de existirem, pela condição de ser pessoa, independente da sua classe social, são exatamente os direitos equivalentes à dignidade da pessoa humana, incorporado em nosso ordenamento jurídico e previsto no Art. 1º, inciso III, da Constituição Federal. Segundo a Piovesan (2009), os Direitos Humanos refletem valores construídos, de modo que se desenvolvem a partir de um espaço simbólico de luta e ação social. Por isso os Direitos Humanos não nascem todos de uma só vez e nem de uma vez por todas, pois se verificam de modo a constituírem um paradigma e um referencial ético a orientar a ordem internacional. Vale ainda lembrar que a consagração dos Direitos Humanos como norma fundamental, que foi um processo histórico e gradativo, tem como principal função a garantia da dignidade de todas as pessoas, e foi consequência de vários momentos que provaram ser uma afronta a esta dignidade em todo o mundo, como já foi dito. DIREITOS HUMANOS SOB A PERSPECTIVA DE GÊNERO E OS DESAFIOS DA IGUALDADE A Constituição Federal de 1988, em seu Art.5°, apesar de fazer referência bem explícita à igualdade de direitos entre homens e mulheres, durante anos a avaliação sobre o cumprimento dos direitos humanos não tratou especificamente das violações aos direitos das mulheres. Em face disso, inserido no seu Art. 3° do qual consta que para construir uma sociedade justa, livre e solidária, é preciso que não possa existir qualquer tipo de preconceito e discriminação, logo, deve promover o bem de todos, sem preconceitos de qualquer origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação. Haja vista que, durante séculos os direitos foram guiados pela ideia de igualdade, como parâmetro para definir a titularidade de direitos. Inicialmente, a partir dessa premissa de noção de igualdade que determina os direitos iguais, o princípio da dignidade da pessoa humana veda o tratamento desigual. Contudo, em um mundo do qual é marcado e visível as desigualdades sociais, e o princípio sendo almejado por todos e em todos os tempos, esta afirmação de igualdade não foi suficiente para que não houvesse tanta discriminação e principalmente a violações de direitos. Nesse segmento, é preciso um olhar mais atento aos aspectos que diferenciam as pessoas e os grupos inerentes a ele, ora, não basta somente que o Estado se abstenha de discriminar, ou de tratar desigualmente, logo, é preciso que ele atue de forma positiva no sentido da redução das desigualdades existente, é necessário que o Estado reconheça os direitos específicos, como crianças, idosos, negros e negras, mulheres e LGBTs, entre outros. Em vista disso, o que corresponde e principalmente quando se analisa as questões referentes à convivência em sociedade, da qual pode-se identificar situações de desigualdades, por conta do sexo e de gênero, pessoas gays, lésbicas, transexuais, aos impedimentos baseados no gênero, as agressões verbais, físicas e sexuais, as circunstarias das quais são justificadas pela discriminação praticada contra essas pessoas, em decorrência de suas identidades sexuais de gênero. No que diz respeito a diversidade sexual, o emergente movimento gay é herdeiro direto das lutas feministas que, ao propugnarem a igualdade de direitos entre os sexos, buscaram desconstruir as desigualdades existentes entre homens e mulheres que eram supostamente baseadas em diferenças físicas, isto é, biológicas. E com isso surgiram tal conceito de gênero que corresponderia a um conjunto de maneiras de perceber, e assim designar e classificar as distinções sexuais, e então atribuindo-lhe um lugar e consequentemente um status social. Quando analisamos as questões relativas à convivência, em nossa sociedade, de pessoas gays, lésbicas, travestis e transexuais, uma gama variada de impedimentos baseados no gênero é detectada: a impossibilidade de manifestar a subjetividade; as agressões verbais, físicase sexuais; a dificuldade em ter respeitado o nome social. Tais circunstâncias podem ser justificadas pela discriminação praticada contra essas pessoas por conta de suas identidades sexuais e de gênero (RIOS; PIOVESAN, 2003 e SMITH, 2013) A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu preâmbulo visa, que “nos direitos humanos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, e na igualdade de direitos do homem e da mulher”, e decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida e uma liberdade mais ampla. No que tange esta declaração, do qual a mesma faz referência à igualdade de direitos entre homens e mulheres, observa-se que, durante séculos os direitos humanos não trataram especificamente das violações dos direitos humanos das mulheres. Haja vista que, a declaração universal reitera profunda consciência acerca dos direitos universais e inalienáveis pertencentes a todo homem e todas as mulheres. Ressalta-se que a luta das mulheres por direitos humanos tem percorrido um grande caminho, por reconhecimento e efetivação, visto que, ao longo dos anos elas foram privadas do exercício pleno dos direitos humanos, além de terem sido submetidas a abusos e violências, as mulheres têm tido um papel de grande importância na ampliação do alcance dos Direitos Humanos. No que concerne à busca por direitos na perspectiva internacional, o principal instrumento de direitos humanos que dispõe as mulheres, é a Convenção Contra Todas as Formas de Discriminação Contra Mulher (CEDAW) de 1979, por pressão dos movimentos feministas de diversos países, do qual constituiu um marco histórico que dispões amplamente sobre os direitos da mulher, com o objetivo de promover os direitos e na busca da igualdade de gênero e reprimir quaisquer tipo de discriminação. Diante disso, a CEDAW, é a grande Carta Magna dos direitos da mulher, ela simboliza o resultado de muita luta. No que corresponde a Convenção segundo Flávia Piovesan, a Convenção se fundamenta na dupla obrigação de eliminar a discriminação e de assegurar a igualdade. A Convenção trata do princípio da igualdade, seja como obrigação vinculante, seja como um objetivo. No entanto no ano de 1988 a nova Constituição Federal, em seu Art. 5°, o primeiro inciso iguala em direitos e obrigações os homens e as mulheres: “I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;” Essa afirmação decorre de uma necessidade justificada pelas diversas diferenciações atribuídas às pessoas exclusivamente pelo seu sexo. Hunt (2009) afirma que o surgimento dos argumentos explícitos para a igualdade política das mulheres modificou a ideia de inferioridade natural pelas questões biológicas. As mulheres passam a não mais serem vistas como um sexo inferior, mas como um sexo biologicamente diferente. Diante disso, “o princípio da igualdade, além das inequívocas dimensões subjetivas já assinaladas, é também um princípio com dimensão objetiva, isto é, vale como princípio jurídico informador de toda a ordem jurídico-constitucional”. (CANOTILHO, 2011, p. 432) Sob a perspectiva histórica, ficou claro que a mulher foi inferiorizada para corresponder a um padrão socialmente instituído. Sendo um padrão cultural que um dia considerou que o normal era o homem ter o comando supremo sobre a vida da mulher, promovendo o sexismo, como um dos pilares da desigualdade entre o gênero masculino e feminino. Para desconstruir esse valor soberano foi necessário um despertar coletivo que, por meio das lutas, providenciou tornar visíveis os interesses das mulheres e seus desejos de mudanças. Dentre os principais anseios, figurava a vontade delas de serem reconhecidas e amparadas como sujeitos de Direitos. Contudo, as conquistas não têm sido suficientes para vencer o avanço a violência, a discriminação no mercado de trabalho, as desigualdades salariais, violência doméstica, com isso, gerou a necessidade de combater diversas modalidades de opressão. Sendo assim, carece a necessidade do conhecimento a respeito das violações de direitos, para que possam experimentar verdadeira situação de equidade de gênero. É importante fazer uma ressalva que as ameaças e o desrespeito aos Direitos Humanos das mulheres não acontecem sem resistência e sem luta. Ressalta-se que, para a compreensão dos fundamentos que estão na base das discriminações contra as mulheres, os estudos de gênero deram uma grande contribuição. Com isso, o conceito de gênero, que tem sido utilizado politicamente pelo movimento feminista, da qual permite refutar a ideia de uma natureza feminina, que, por si só, explicaria a subordinação das mulheres. Sendo assim, a explicação da subordinação das mulheres não se apoia nas diferenças físicas ou biológicas que conformam uma anatomia de mulher ou de homem, conforme insistiam aqueles que afirmavam a existência de uma natureza masculina superior e de uma natureza feminina incompleta, frágil e, portanto, inferior. Ademais, a igualdade reflete conceitos amplos, ela passou por um processo de idas e vindas, desafios sob a perspectiva de gênero ao reconhecimento constitucional, do qual permanece para aplicação do princípio da igualdade e sua concretização. Faz-se necessário romper com os limites postos pelas relações de poder, ressaltando o compromisso do Estado em provar e assegurar que os Direitos Humanos não sejam violados, e com isso observando as particularidades e transformações politicas, sociais e econômicas e buscando a real aplicação dos mecanismos que primam pela igualdade inserida na Constituição Federal de 1988. CONCLUSÃO O presente trabalho se propôs a analisar e teve como premissa fundamental a tensão existente na humanidade, em relação aos direitos humanos sob a perspectiva de gênero. Para tanto, observamos que as desigualdades históricas existentes entre homens e mulheres envolvem interações sociais, além das características culturais e também relações de poder. Em vista disso, o reconhecimento aos direitos humanos entre homens e mulheres tem sido realizado através de muitas lutas por um avanço cada vez maior, haja vista que, nessas últimas décadas, percebe-se a mudança de entendimento da realidade social com a perspectiva de gênero, não exclusivamente as singularidades das mulheres mas a complexidade das violações humanas que o princípio da diferença entre homens e mulheres na distribuição de poder. Por esse motivo, é importante fazer uma ressalva em relação ao avanço das mulheres, da qual tem provado que é capaz de desempenhar suas funções em conjunto com outras, das quais antes era considerado exclusivamente da natureza do homem, com isso, vem se fortalecendo cada mais os vínculos entre os gêneros. Para isto, deve-se desconstruir padrões históricos e ideológicos que mantiveram a mulher submissa e alijada de reconhecer-se como sujeito de direitos, capaz de interferir politicamente na sociedade. Portanto, para tal discussão o conceito amplo de igualdade previsto na Constituição Federal de 1988, e principalmente nos ordenamentos internacionais jurídicos, considerado como um princípio, necessita de maior concretude. Daí o enfoque e o principal objetivo fundamental do país é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Tal previsão, ora, quando lida em relação ao artigo 5º do mesmo diploma legal, do qual prevê que todas as pessoas são iguais perante a lei, leva à adequada interpretação de que as identidades sexuais e de gênero são protegidas constitucionalmente como direitos fundamentais, ou seja, como aspectos indispensáveis para a vida com dignidade. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado, 1988. KRIEGER, C. K. Discriminação da mulher no trabalho. In: PIOVESAN,F. (Coord.). Direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2010. p. 480-498 FOUCAULT, Michel (1988). História da Sexualidade I - a vontade de saber. 18 ed. Rio de Janeiro: Graal. PINHEIRO, Ana Laura Lobato. Direitos humanos das mulheres, Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria URL: http://www.ipea.gov.br PIMENTEL, Silvia. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Dis- ormas de Discriminação contra a Mulher - Cedaw 1979 – ALMEIDA, Daniela Lima de Almeida. 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