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GESTÃO ESTRATÉGICA E INTELIGÊNCIA NA SEGURANÇA PRIVADA AULA 1 Prof. Sivanei de Almeida Gomes CONVERSA INICIAL A primeira aula da disciplina Gestão Estratégica e Inteligência na Segurança Privada terá como assunto principal a difusão de conhecimentos introdutórios sobre o tema, seus aspectos históricos, a evolução da atividade de inteligência no Brasil, o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), e o que os compõe, suas missões e base legal. Abordaremos sua composição e como os entes federados podem integrar o SISP. Destacaremos também a diferença entre atividade de inteligência e investigação policial. TEMA 1 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA A atividade de inteligência acompanha a evolução histórica da humanidade, pois a procura por informações e pelo conhecimento remontam aos primórdios da civilização, que lutava pela sobrevivência, segurança e, principalmente, pela manutenção das relações de poder dentro do grupo social. Assim, não há qualquer dúvida de que a atividade de inteligência é vista como estratégica para qualquer organização no mundo dos negócios, tanto nos assuntos públicos como privados, uma vez que o volume de informações produzidas num mundo globalizado aumenta em progressão geométrica, enquanto que a capacidade de processamento desses dados não segue na mesma proporção. Buscando um conceito legal de inteligência, podemos mencionar o Artigo 1º, § 2º, da Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que a define nos seguintes termos: “[...] para os efeitos de aplicação desta lei, entende-se como Inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado [...]”. (Brasil, 1999) TEMA 2 – BREVE HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA A necessidade de conhecimento é intrínseca ao ser humano, pois somente por meio dele é possível sobreviver. O homem primitivo deveria, obrigatoriamente, conhecer todos os perigos que o cercavam, como o frio, os 3 animais perigosos, a maneira de saciar a fome e de se proteger. Portanto, coletar informações e analisá-las, que hoje, a grosso modo, definimos como atividade de inteligência, é uma atividade tão antiga quanto a própria humanidade. Muito embora o domínio da escrita tenha sido o grande meio catalisador das atividades de inteligência, não se pode olvidar que os chamados povos sem escrita também se valiam de outros recursos para a transmissão de informações, como a oralidade, tambores, sinais de fumaça, sinais de reflexo utilizando a luz solar ou lunar, feitos via cerâmicas ou espelhos, entre outros recursos. Exemplos da Antiguidade Clássica nos retratam essa realidade: No primeiro Império Universal (medos e persas), promovido por Ciro, O Grande, Dario, O Grande Rei, sucessor do primeiro, organizou um corpo de espiões: “Os olhos e os ouvidos do rei”, para espionar os sátrapas (vice-reis das unidades políticas e administrativas denominadas satrapias). Na Roma Antiga, era comum a presença de espiões atrás das cortinas para ouvir segredos. Antes do século II, Roma não possuía um corpo diplomático. Para resolver problemas, enviava pequenas missões que agiam em nome do governo, tornando-se, posteriormente, embaixadas permanentes: muitos membros prestaram-se ao serviço de espionagem. Toda a aristocracia romana tinha sua rede permanente de agentes clandestinos e casas com compartimentos secretos para espionarem seus hóspedes. Apesar deste histórico, os ramos só institucionalizaram a atividade de inteligência e espionagem no período do império (Revista Brasileira de Inteligência, 2005, p. 89). TEMA 3 – A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL De acordo com o site da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), temos que no Brasil, a inteligência de Estado desenvolveu-se durante o regime republicano, em especial a partir de 1927, e fez parte da história do país, em maior ou menor intensidade, tanto nos períodos democráticos quanto nas fases de exceção. A atividade de inteligência caracteriza-se pela identificação de fatos e situações que representem obstáculos ou oportunidades aos interesses nacionais. O levantamento e o processamento de dados e a análise de 4 informações ajudam os decisores governamentais a superar obstáculos ou a aproveitar oportunidades. Em todos esses momentos históricos, a inteligência esteve envolvida na produção e na proteção de dados, informações e conhecimentos, sempre a serviço do Estado. Com base na análise da sucessão dos diferentes órgãos de inteligência da histórica republicana, identifica-se quatro fases da atividade no Brasil. 3.1 Fase embrionária (1927 a 1964) A atividade esteve inserida, de forma complementar, em conselhos de governo (1927 a 1946) e no Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI – 1946 a 1964). Correspondeu à construção das primeiras estruturas governamentais voltadas para a análise de dados e para a produção de conhecimentos. 3.2 Fase da bipolaridade (1964 a 1990) A atividade esteve atrelada, de forma direta, ao contexto da Guerra Fria, de características notoriamente ideológicas. Abrangeu desde a reestruturação do SFICI até a extinção do Serviço Nacional de Informações (SNI). 3.3 Fase de transição (1990 a 1999) Com a redemocratização, a atividade de inteligência passou por processo de reavaliação e autocrítica para se adequar a novos contextos governamentais de atuação. A inteligência tornou-se vinculada a Secretarias da Presidência da República, primeiro como Departamento de Inteligência (DI) e, posteriormente, como Subsecretaria de Inteligência (SSI). 3.4 Fase contemporânea (1999 até hoje) Foi iniciada com a criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), consequência de ampla discussão política com representantes da sociedade no Congresso Nacional. É marcada pelo expressivo avanço da atividade no país – tanto pela consolidação da atuação da ABIN quanto pela expansão do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), também criado em 1999. 5 Durante a maior parte da fase contemporânea da inteligência brasileira, a ABIN esteve vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR) – órgão com status de ministério. A reforma administrativa executada pela presidente Dilma Rousseff, em 2015, levou a agência à estrutura da Secretaria de Governo. Com a entrada em exercício do presidente Michel Temer, o GSI foi recriado e a ABIN foi inserida novamente na hierarquia do GSI.1 TEMA 4 – SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA (SISBIN) O Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) foi instituído pela Lei n. 9.883, no dia 7 de dezembro de 1999, com objetivo de integrar e coordenar as ações de planejamento e execução da atividade de inteligência no país. Compete ao SISBIN, com base nos temas de interesse definidos pela Política Nacional de Inteligência, a obtenção e análise de dados e informações voltados para a produção e difusão de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório nacional e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado brasileiro. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) é o órgão central do SISBIN, encarregado de coordenar e integrar as atividadesde inteligência no país. No exercício de suas funções, compete à ABIN, nos termos do § 4º, da Lei 9.883/99: I – Planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o Presidente da República; II – Planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade; III – avaliar as ameaças, internas e externas, à ordem constitucional; IV – Promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina de inteligência, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento da atividade de inteligência. Atualmente, o Sistema Brasileiro de Inteligência é composto pelos seguintes órgãos: 1 Fonte: Agência Brasileira de Inteligência, disponível em: <http://www.abin.gov.br/institucional/historico/>, acesso em 6 set. 2017. . 6 I – Casa Civil da Presidência da República, por meio de sua Secretaria- Executiva; II – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI); III – Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, da Secretaria de Governo da Presidência da República, como órgão central do Sistema; IV – Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal, do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, do Departamento Penitenciário Nacional e do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça; V – Ministério da Defesa, por meio da Subchefia de Inteligência Estratégica, da Assessoria de Inteligência Operacional, da Divisão de Inteligência Estratégico-Militar da Subchefia de Estratégia do Estado- Maior da Armada, do Centro de Inteligência da Marinha, do Centro de Inteligência do Exército, do Centro de Inteligência da Aeronáutica, e do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia; VI – Ministério das Relações Exteriores, por meio da Secretaria-Geral de Relações Exteriores e da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais; VII – Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria-Executiva do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, da Secretaria da Receita Federal do Brasil e do Banco Central do Brasil; VIII – Ministério do Trabalho e Previdência Social, por meio da Secretaria-Executiva; IX – Ministério da Saúde, por meio do Gabinete do Ministro de Estado e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); X – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por meio do Gabinete do Ministro de Estado; XI – Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria-Executiva e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); XII - Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC); 7 XIII – Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, por meio da Controladoria-Geral da União (CGU); XIV – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio de sua Secretaria-Executiva; XV – Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, por meio de sua Secretaria-Executiva, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT; Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC); Secretaria de Aviação Civil (SAC) e Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO); XVI - Ministério de Minas e Energia, por meio de sua Secretaria- Executiva; XII – Ministério do Esporte, por meio de sua Secretaria-Executiva; e XIII – Advocacia Geral da União (AGU). Percebe-se que o SISBIN é integrado não só por órgãos de inteligência. Sua composição é multidisciplinar e definida por decreto do presidente da república levando-se em conta injunções conjunturais. Além dos órgãos e entidades federais que direta ou indiretamente possam produzir conhecimentos sobre assuntos de interesse para a atividade de inteligência e daqueles responsáveis pela defesa externa, relações exteriores e segurança interna, também podem integrar o SISBIN órgãos das Unidades da Federação, mediante convênios e ajustes específicos, devendo, nesses casos, ser ouvida a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional (CCAI). O funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência efetivar-se-á mediante articulação coordenada dos órgãos que o constituem, respeitada a autonomia funcional de cada um e observadas as normas legais pertinentes a segurança, sigilo profissional e salvaguarda de assuntos sigilosos2. TEMA 5 – SUBSISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA (SISP) O Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) foi instituído pelo Decreto 3.695/2000 com a finalidade de coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o país, bem como 2 Artigo 5º, do Decreto nº 4.376/2002. 8 suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões nesta área, cabendo aos órgãos que o compõem a missão de identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. A Agência Central do SISP é a Coordenação Geral de Inteligência (CGI) da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), do Ministério da Justiça (MJ), a quem compete integrar e coordenar as atividades de Inteligência de Segurança Pública, em âmbito nacional e internacional. NA PRÁTICA Em face do aumento da criminalidade mais organizada e violenta, não raro, os chefes das instituições policiais demandam seus órgãos de inteligência visando a produção de conhecimento sobre tais organizações, a fim de poder adotar medidas operacionais diferenciadas para coibir tal criminalidade, cujos métodos tradicionais de enfretamento não apresentam resultados satisfatórios. FINALIZANDO Nesta aula nosso objeto de estudo foi uma visão histórica da atividade de inteligência e seus conceitos, o Sistema Brasileiro de Inteligência e o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, além de suas missões e composição. 9 REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Histórico da Atividade de Inteligência no Brasil. Disponível em: <http://www.abin.gov.br/institucional/historico/>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Decreto n. 3.695, de 21 de dezembro de 2000. Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3695.htm>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Decreto n. 4.376/2002, de 13 de setembro de 2002. Dispõe sobre a organização e funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4376.htm>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Lei n. 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Poder Legislativo, Brasília. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9883.htm>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) – Curso de Introdução a Atividade de Inteligência, 2015.