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Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 17 DISTÚRBIOS DA CIRCULAÇÃO I - O tecido depende da circulação constante para levar nutrientes e remover produtos do catabolismo celular. A quantidade que entra e que sai, deve estar em equilíbrio para haver a saúde das células e órgãos. - Homeostase: (líquidos) sofre variações fisiológicas. Depende da manutenção da integridade da parede do vaso, pressão intravascular e osmolaridade. Qualquer alteração que leve a mudanças no volume vascular, pressão ou conteúdo proteico ou alterações na função endotelial, leva ao movimento de líquidos através da parede vascular. O extravasamento de líquido nos espaços intersticiais leva ao edema, que é o acúmulo de líquidos fora dos vasos. A homeostase também implica que o sangue se mantenha líquido até determinado momento, quando há a necessidade de formação do coágulo. - Trombose: coagulação em locais inapropriados - Embolia: migração do coágulo - Infarto: obstrução do fluxo sanguíneo pelos êmbolos, causando morte das células. - Hemorragia: inabilidade do sangue em coagular. - Choque: choque hipovolêmico é a perda de muito sangue e líquidos. EDEMA Acúmulo de líquido no interstício ou em cavidades do organismo. Pode ser composto por: - Transudato: líquido com baixo conteúdo de proteínas e baixa densidade. Indica que a permeabilidade vascular continua preservada, passando água, mas não moléculas grandes. - Exsudato: líquido rico em proteínas com maior densidade. Indica um processo inflamatório com a liberação de mediadores químicos que aumentam a permeabilidade vascular. Líquido turvo. O edema é classificado de acordo com sua localização: - Em cavidades, recebe o nome do prefixo hidro + o local do edema: hidrotorax, hidropericardio, hidroperitonio. - Quando é generalizado, recebe o nome de anasarca. Patogênese dos edemas: - A diferença das pressões hidrostática e coleidosmótica (oncótica, que depende da concentração de proteínas) movimenta os líquidos entre o vaso e o interstício. Quando a diferença entre as pressões oncóticas dos dois compartimentos é menor do que a diferença entre as pressões hidrostáticas, ocorre saída de líquidos dos vasos. Obs.: normalmente, os capilares conseguem reabsorver 85% do filtrado para o interstício e o sistema linfático drena os outros 15%. Mecanismos de formação dos edemas: - ↑ da pressão hidrostática intravascular - ↓ da pressão oncótica do plasma - ↑ da permeabilidade do capilar, com a saída de líquidos e proteínas para o interstício - ↑ da pressão oncótica intersticial - Obstrução da drenagem linfática - Queda na resistência vascular periférica → redução no enchimento das artérias → retenção renal de sódio e água → expansão do volume circulante → agravação do edema. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 18 O edema pode ser: - Edema generalizado: aumento do líquido intersticial em muitos ou em todos os órgãos. Manifestação subcutânea, sendo mais evidente nos pés, tornozelos e pernas; pode atingir a região periorbitária; pode atingir cavidades (pleura, peritônio e pericárdio). Causas: ► Redução da pressão oncótica: redução das proteínas plasmáticas → diminuição da pressão oncótica → acumulo de água no interstício. ► Insuficiência cardíaca: queda do débito cardíaco → estímulo do sistema adrenérgico → vasoconstrição e queda da filtração renal → retenção de sódio e água ► Edema renal (doenças renais): diminuição da excreção de sódio e água. ► Outras causas: cirrose hepática, pré-eclâmpsia (proteinúria, edema e hipertensão arterial durante a gravidez). - Edema localizado: provocado por algum fator que atua localmente, podendo ser a manifestação inicial de um edema generalizado. Locais acometidos com maior frequência: ► Membros inferiores: pode ser provocada por insuficiência cardíaca (primeiro sinal de um edema generalizado) ou por causas locais, como a obstrução linfática (elefantíase e retirada de linfonodos), obstrução da veia cava inferior, insuficiência valvular venosa. Aspecto macroscópico: depressão que fica após a compressão, chamado sinal de cacifo ou sinal de Godet. ► Edema pulmonar: aumento da pressão capilar, redução da pressão oncótica, distúrbio da drenagem linfática, ativação do sistema nervoso simpático e lesão endotelial. ► Edema cerebral: aumento de liquido intersticial ou intracelular no tecido nervoso. Como o cérebro não possui drenagem linfática e sua calota é rígida, pequenos aumentos no volume podem causar aumento da pressão intracraniana. HIPEREMIA Aumento da quantidade de sangue no interior dos vasos de um órgão ou território orgânico. Pode ser ativa, passiva ou crônica: - Hiperemia ativa: dilatação arteriolar, com aumento do fluxo sanguíneo local. A vasodilatação é de origem simpática ou humoral e deixa a área avermelhada. Pode ser fisiológica (quando há necessidade de maior irrigação, como acontece nos músculos esqueléticos durante exercícios físicos, na mucosa gastrointestinal durante a digestão, na pele) ou patológica (acompanhando inúmeros processos, principalmente inflamações agudas). - Hiperemia passiva: conhecida como congestão. Decorre da redução da drenagem venosa, que provoca distensão das veias e por isso a região afetada fica com coloração vermelho-escura, por causa da hemoglobina desoxigenada. Pode ser localizada (obstrução de uma veia) ou sistêmica (insuficiência cardíaca). Congestão pode ser causada por uma obstrução extrínseca ou intrínseca da veia, ou por redução do retorno venoso, como acontece na insuficiência cardíaca. DISTÚRBIOS DA CIRCULAÇÃO II HEMORRAGIA Saída de sangue do espaço vascular para o compartimento extravascular, cavidades ou interstício, ou para fora do organismo. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 19 • Hemorragia por rexe: sangramento que ocorre por ruptura da parede vascular ou do coração, com saída de sangue em jato. As principais causas são: traumatismos, enfraquecimento da parede vascular, que pode ocorrer por lesão do próprio vaso ou nas adjacências e aumento da pressão sanguínea. • Hemorragia por diapedese: é a que se manifesta sem grande solução de continuidade da parede do vaso e na qual as hemácias saem de capilares ou vênulas individualmente entre as células endoteliais, com afrouxamento da membrana basal. Tem causas diversificadas: anoxia, embolia gordurosa, septicemia, alergia. • Padrões de hemorragia - Petéquias: hemorragias puntiformes, de 1 a 2mm. - Púrpura: hemorragias pouco maiores que as petéquias, de 2mm a 1cm - Equimose: mancha hemorrágica na pele, sem edema e aumento de volume associado. - Sufusão: mancha hemorrágica na mucosa - Hematoma: extravasamento de sangue com inchaço/edema no local - Apoplexia: casos que a hemorragia acomete o órgão inteiro. A passagem de sangue para o local é impedida, ocorrendo o acúmulo de sangue. Hemorragia difusa ou maciça. Ex.: torção do pedículo venoso de testículo e ovário. • Diátese hemorrágica Tendência a sangramentos sem causa aparente ou hemorragia mais intensa ou prolongada após um traumatismo. Pode ser consequência de anormalidades da parede vascular (fragilidade), das plaquetas (deficiência ou disfunção) e dos sistemas de coagulação ou de fibrinólise. • Consequências da hemorragia: dependem da quantidade de sangue perdido, da velocidade da perda e do local afetado. As principais consequências ou complicações são: choque hipovolêmico, anemia ferropriva (perda de ferro), asfixia (hemorragia pulmonar com encharcamento dos alvéolos por sangue), tamponamento cardíaco (o sangue ocupa o espaço pericárdico, fazendo pressão e impedindo o coração de continuar com seu batimento normal), hemorragia intracraniana (aumenta a pressão intracraniana).CHOQUE Falência circulatória associada a grave distúrbio da microcirculação e hipoperfusão generalizada de tecidos e órgãos. A hipoperfusão pode ser causada por distúrbio da macrocirculação por falência da bomba cardíaca ou redução do volume sanguíneo ou distúrbio da distribuição do volume sanguíneo. • Etiopatogênese: Distúrbio inicial na macrocirculação que acomete o coração e o volume de sangue; compromete o Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 20 bombeamento de sangue e o retorno venoso. Pode ter causas variadas: hemorragia, diarreias, distúrbios da microcirculação, infecções, abertura de shunts arteriovenosos. • Categorias: - Choque cardiogênico: falência da bomba cardíaca causada por infarto no miocárdio, arritmias ventriculares, compressão/obstrução do fluxo sanguíneo. - Choque hipovolêmico: ocorre quando há perda súbita de grande quantidade de líquidos do organismo, podendo ser provocado por sangramento intenso, perda de plasma (queimaduras extensas) ou desidratação (diarreia profusa, calor excessivo). - Choque séptico: evolui de um quadro de inflamação sistêmica; liberação sistêmica de mediadores inflamatórios. Provocado principalmente por infecções por bactérias Gram negativas produtoras de endotoxinas LPS, mas pode ser causado por Gram positivas, fungos e toxinas bacterianas. Os LPS formam um complexo com uma proteína plasmática que se liga a receptores de leucócitos e células endoteliais, promovendo a liberação de vários mediadores químicos podendo ocorrer até ativação generalizada de leucócitos. A liberação de toxinas e de TNFα ativa as células endoteliais e aumenta a adesão de leucócitos, a produção de radicais livres e a liberação de proteases que lesam o endotélio. Toxinas bacterianas podem causar lesão direta das células parenquimatosas ou endoteliais, agravando assim o quadro geral. Exemplos de mediadores: TNFα, IL-1, Oxido nítrico, prostaglandinas, leucotrienos, histamina e radicais livres de O2. - Choque anafilático: reação antígeno-anticorpo mediada por IgE na superfície de mastócitos e basófilos (hipersensibilidade tipo I), provocando a liberação de substancias farmacologicamente ativas. A consequência mais grave é a dilatação de grande numero de vasos na microcirculação, o que resulta em queda da pressão arterial e do retorno venoso ao coração. - Choque neurogênico: menos frequente. Caracterizado por desregulação neurogênica que resulta em redução do tônus de artérias e veias, queda na resistência vascular periférica e diminuição do retorno venoso ao coração. Causado por afecções agudas do sistema nervoso central, como traumatismos, sangramento ou insolação. DISTÚRBIOS DA CIRCULAÇÃO III HEMOSTASIA Processo fisiológico envolvido com a fluidez do sangue e com o controle de sangramento quando ocorre lesão vascular. Para permitir sua circulação, o sangue precisa se manter em estado fluido dentro dos vasos; ao mesmo tempo é importante que soluções de continuidade na parede vascular sejam tamponadas por uma massa solidificada de sangue a fim de evitar seu extravasamento. A hemostasia depende da ação integrada de três componentes fundamentais: parede vascular, plaquetas e sistema de coagulação. TROMBOSE Processo patológico caracterizado pela solidificação do sangue dentro dos vasos ou do coração no indivíduo vivo. Trombo é a massa sólida formada pela coagulação do sangue. A trombose resulta da ativação patológica do processo normal de coagulação sanguínea, que pode ocorrer quando existe lesão endotelial, fator que sozinho pode iniciar a trombose; alteração do fluxo sanguíneo; hipercoagulabilidade do sangue. • Tríade de Virchow → lesão endotelial, alteração no fluxo sanguíneo e hipercoagulabilidade. - Lesão endotelial: a integridade do revestimento vascular é essencial para manter a fluidez do sangue. Lesão endotelial ocorre em várias situações: sob placa Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 21 ateromatosa, agressão direta de bactérias e fungos, presença de leucócitos ativados em inflamações agudas, traumatismos, invasão vascular por neoplasias malignas, hipertensão, hipercolesterolemia. A perda do revestimento endotelial permite contato direto do sangue com o conjuntivo subendotelial, adesão e agregação plaquetárias e redução dos fatores anticoagulantes. Em casos de tabagismo e hipercolesterolemia, não existe lesão do endotélio, apenas uma disfunção. Em todos esses casos, há redução da síntese de substâncias anticoagulantes e alteração da superfície celular, facilitando a adesão plaquetária. - Alterações do fluxo sanguíneo: duas situações favorecem a trombose, retardamento do fluxo e aceleração do fluxo e turbulência. 1. Retardamento do fluxo/Estase: causada por insuficiência cardíaca, dilatação vascular, aumento do hematócrito, aumento da viscosidade do sangue ou redução da contração muscular. O baixo fluxo sanguíneo causa hipóxia endotelial, agravando o quadro. O retardamento do sangue aumenta a permanência dos fatores de coagulação ativados no local. 2. Aceleração do fluxo e turbulência: o aumento da velocidade do sangue modifica o fluxo laminar, permitindo contato das plaquetas com a superfície interna dos vasos. Turbulência do fluxo lesa o endotélio, permite o contato das plaquetas com a parede vascular e diminui a velocidade do sangue. Pode ser causado por aneurismas, ocorre também em bifurcações ou na emergência de ramos arteriais, locais onde a direção do fluxo se modifica. - Hipercoagulabilidade: pode ser provocada por um aumento no número ou modificação funcional das plaquetas, alteração dos fatores pró ou anticoagulantes que podem ser congênitas ou adquiridas. • Aspectos morfológicos: no coração e nas artérias são massas cinza-avermelhadas, compostas por áreas pálidas de fibrina e plaquetas alternadas com regiões escuras contendo hemácias (linhas de Zahn). Esse aspecto se deve à deposição rítmica dos componentes celulares seguindo a pulsação do sangue, semelhante à formação das ondulações de areia em uma praia. Os trombos venosos são vermelho-azulados por serem formados predominantemente por hemácias e fibrina. Os trombos são secos, opacos e friáveis. • Evolução e consequências: Logo depois da formação de um trombo, ocorre ativação do sistema de fibrinólise e iniciam-se reações locais relacionadas com a organização do mesmo. Crescimento → se o processo de coagulação predomina sobre a trombólise, ocorre o aumento do trombo. Obstrução vascular é a principal consequência. Lise → quando o sistema fibrinolítico é muito ativo, pode ocorrer dissolução total ou parcial do trombo e restabelecimento da integridade vascular. Organização → nos casos de equilíbrio entre coagulação e fibrinólise, nas margens do trombo, neoformação e lise são simultâneas, de modo que seu volume permanece constante. Como a região central do trombo não recebe irrigação, normalmente ela sofre necrose. O organismo reage por meio de fagocitose dos restos de fibrina e das hemácias e proliferação de fibroblastos e células endoteliais, formando um tecido de granulação semelhante a um processo de cicatrização. Assim, o trombo é transformado em tecido conjuntivo bem vascularizado, Nesse momento, o trombo pode evoluir de dois modos: incorporação à parede do vaso ou recanalização, permitindo restabelecimento parcial do fluxo. Calcificação → forma um flebólito. Infecção → os trombos podem ser colonizados por bactérias ou fungos. Embolização → como são estruturas friáveis, os Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 22 trombos podem se destacar ou se fragmentar, formando êmbolos. • Coagulação intravascular disseminada → coagulação do sangue em grande número de pequenos vasos, levando à formação de centenas de microtrombos.Em consequência do consumo rápido de fatores de coagulação, de plaquetas e de fibrina que ocorre nessa situação, os pacientes apresentam sangramento profuso em diversos locais. O evento iniciador desse fenômeno é a liberação de grande quantidade de tromboplastina na circulação ou lesão endotelial extensa. Na primeira fase, o sistema de coagulação é ativado. Depois, a trombina é gerada com abundância transformando fibrinogênio em fibrina e formando microprecipitados. Numa terceira fase, a atividade fibrinolítica está esgotada e os múltiplos microtrombos causam obstáculo na microcirculação, provocando lesões das células e dos tecidos. Leva à isquemia ou à diátese hemorrágica (sangramentos múltiplos). * Trombose venosa profunda: síndrome da classe econômica. EMBOLIA Êmbolo: corpo sólido, líquido ou gasoso transportado pelo sangue e capaz de obstruir um vaso. Os êmbolos podem se originar de trombos, ou fragmentos de placas ateromatosas, vesículas lipídicas ou bolhas de gases ou podem ser corpos estranhos (fragmentos de projéteis). Os êmbolos se alojam nos vasos menores, resultando em oclusão vascular parcial ou completa, podendo levar à necrose isquêmica do tecido distal (infarto). • Tromboembolia pulmonar: origina-se de trombos formados nas veias profundas da perna (íleo-femorais), especialmente em indivíduos acamados após cirurgias ou fraturas. As consequências da embolia pulmonar dependem do tamanho e do número dos êmbolos, da extensão do aporte vascular colateral no tecido afetado, vulnerabilidade do tecido à isquemia e calibre do vaso ocluído. Êmbolos grandes obstruem o tronco da artéria pulmonar; êmbolos médios se alojam nos ramos pulmonares de médio calibre e em indivíduos saudáveis pode ser assintomático. Êmbolos pequenos podem ocluir a circulação pulmonar. Os êmbolos podem se impactar na bifurcação formando os chamados êmbolos em sela. • Tromboembolia arterial: quando os êmbolos se originam de trombos formados no coração ou na aorta. As principais sedes de obstrução da embolia arterial são o encéfalo, gerando acidente vascular cerebral isquêmico, artérias mesentéricas, podendo provocar infarto intestinal, baço ou rins, e membros inferiores. • Embolia de líquido amniótico: entrada de líquido amniótico na circulação materna antes ou durante o parto. A gestante apresenta dispneia, cianose, hipotensão arterial, e convulsões, além de hemorragias associadas à coagulopatia de consumo. • Embolia gasosa: presença de bolhas de gás que obstruem vasos sanguíneos. Pode ser venosa ou arterial. - Venosa: o ar chega às câmaras cardíacas direitas e aos ramos da artéria pulmonar onde se misturam com o sangue e formam uma espuma que pode funcionar como barreira de ar que se expande na diástole e compromete a função de bomba do ventrículo direito; além disso, o sangue em contato com o ar tende a coagular. - Arterial: em mergulhadores com retorno rápido à superfície, acontece a expansão dos gases dissolvidos no sangue e tecido adiposo, formando microbolhas Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 23 gasosas. Estas obstruem capilares e promovem a formação de fibrina, agregação plaquetária e ativação sistêmica de leucócitos e do sistema complemento. • Embolia gordurosa: presença de gotículas de lipídios na circulação sanguínea. Elas podem se formar por fraturas de ossos longos com medula óssea gordurosa, traumatismo extenso ou queimadura no tecido adiposo, procedimentos de lipoaspiração de cirurgia estética. Além da obstrução capilar, há liberação de ácidos graxos que resultam da lesão do endotélio, aumento da permeabilidade vascular e coagulação intravascular disseminada. DISTÚRBIOS DA CIRCULAÇÃO IV ISQUEMIA Isquemia é a redução ou falta do suprimento sanguíneo em determinado órgão ou estrutura. A intensidade da isquemia depende do grau de obstrução vascular (total ou parcial) e pode ocorrer de forma rápida (por exemplo, um trombo) ou lenta (por exemplo, obstrução progressiva por uma placa de aterosclerose). Compromete não apenas o suprimento de oxigênio, mas também os substratos metabólicos. • Causas A isquemia se instala toda vez que a oferta de sangue é menor que as necessidades básicas do órgão em determinado momento; então a isquemia pode ser provocada pela redução da oferta de sangue ou pelo aumento da demanda. - Diminuição da pressão entre artérias e veias: redução da pressão arterial causando isquemia em regiões sem anastomoses ou aumento da pressão venosa causando redução do gradiente artério-venoso. - Obstrução da luz vascular: causa mais frequente Obstrução anatômica → compressão do vaso (tumores, hematomas, edema em indivíduos acamados); espessamento da parede arterial (aterosclerose); bloqueio intraluminal (trombos ou êmbolos). Espasmos vasculares → contrações paroxísticas e intensas da parede vascular. Lesão endotelial - Aumento da viscosidade sanguínea: reduz o fluxo sanguíneo. - Aumento excessivo da demanda das células: esse fator causa isquemia quando associado à redução do suprimento sanguíneo. • Consequências: o metabolismo celular passa para a via anaeróbica, reduzindo bastante a quantidade de energia obtida; quando a queda de ATP ultrapassa o nível necessário para manter as funções básicas, as células entram em disfunção. Se os níveis de ATP continuarem caindo, as células começam a apresentar sinais de degeneração e podem ser levadas à morte. A isquemia pode ser relativa ou absoluta, temporária ou persistente. Suas consequências dependem de: - tipo de órgão atingido (se mais ou menos sensível à hipóxia ou anóxia) - do tipo de irrigação - da existência de circulação colateral - da velocidade da obstrução (aguda ou crônica) - do momento funcional do órgão - da capacidade do sangue de transportar O2. - da velocidade com que se instala (lenta→hipotrofia/rápida→necrose) - grau de redução do calibre do vaso afetado (total ou parcial) - vulnerabilidade do tecido afetado - eficiência da circulação colateral na região (órgãos de circulação terminal sofrem mais que órgãos com circulação dupla) Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 24 - Angina: isquemia miocárdica transitória (15seg a 15min); não chega a provocar necrose (infarto); ataques paroxísticos de desconforto toráxico (constritivo, aperto, asfixiante). * Se houver reperfusão, a área que sofreu isquemia pode permanecer viável. Se a oclusão for permanente, toda área será prejudicada. INFARTO Área circunscrita de necrose tecidual causada por isquemia absoluta prolongada devido a distúrbio da circulação arterial ou venosa. Sendo prolongada, a isquemia resulta em consumo da reserva energética na área afetada, provocando necrose tanto das células parenquimatosas como das estromais. O infarto pode ser branco ou vermelho. • Infarto branco: ocorre quando há obstrução arterial em órgãos sólidos com circulação terminal (com pouca ou nenhuma circulação colateral); são encontrados tipicamente no coração, baço e rins. • Infarto vermelho: a região atingida tem cor vermelha por causa da intensa hemorragia que se forma na área de necrose. É encontrado em órgãos frouxos como o pulmão e naqueles com irrigação dupla ou com rica circulação colateral. Pode ser causado por obstrução arterial ou venosa. - Obstrução arterial: encontrado em órgão com dupla irrigação ou com anastomoses, como se observa nos pulmões e no intestino. A obstrução de uma artéria resulta em isquemia e necrose tecidual, inclusive dos pequenos vasos. O sangue que chega pela outra artéria ou por ramos anastomóticos extravasa e se mistura com os tecidos em necrose, dando o aspecto hemorrágico. Ocorre também por oclusão de uma artéria por trombo ou êmbolo, produzindo um infarto branco; a lise do trombo ouêmbolo desobstrui o vaso e inunda a área necrótica com sangue. - Obstrução venosa: causada por trombose, compressão do pedículo vascular, torção do pedículo vascular. * Como a drenagem do sangue fica bloqueada, o fluxo na microcirculação também se interrompe; com isso, há necrose isquêmica e inundação por sangue da área necrosada; é por essa razão que todos os infartos por obstrução venosa são vermelhos. • Aspectos morfológicos - Infarto branco: área em forma de cunha com o ápice no ponto de obstrução vascular e base voltada para a superfície do órgão. No início, a região afetada é pálida pela falta de sangue e suas margens são pouco definidas. Nos dias seguintes adquire coloração branco-amarelada e se torna bem delimitada; nas suas margens pode haver halo hiperêmico hemorrágico. Após algumas semanas ou meses, o infarto é transformado em uma cicatriz conjuntiva, que forma uma depressão no local acometido. - Infarto vermelho: cor vermelho-escura. Microscopicamente caracterizado por necrose de coagulação, exceto no cérebro, onde é do tipo liquefativo. A partir de 6 a 8 horas de sua instalação, começa a demarcação leucocitária. No segundo dia, torna-se bem evidente a reação inflamatória com exsudato de neutrófilos e macrófagos, os quais fagocitam os restos celulares. Em seguida, forma-se tecido de granulação e, finalmente, cicatriz fibrosa. O infarto vermelho tem a mesma forma do branco, mas a área infartada é vermelho-escura, tem consistência dura e faz saliência na superfície. INFLAMAÇÃO I Inflamação é uma reação dos tecidos vascularizados (no tecido conjuntivo) a um agente agressor caracterizada morfologicamente pela saída de líquidos e células do sangue para o interstício. Embora seja um mecanismo de defesa para o organismo, pode gerar Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 25 danos. O agente inflamatório age sobre os tecidos e induz a liberação de mediadores que ao agirem nos receptores existentes nas células da microcirculação e nos leucócitos, produzem aumento da permeabilidade vascular e exsudação de plasma e de células sanguíneas para o interstício. Os estímulos que levam à liberação dos mediadores dessa reação levam também de modo mais lento, à liberação de mediadores com efeitos anti-inflamatórios, que são responsáveis pela redução da exsudação dos leucócitos e pela proteção contra os possíveis agentes lesivos dessas células. Cessada a ação do agente inflamatório, a microcirculação recupera o estado hemodinâmico original e o liquido e células exsudadas voltam à circulação sanguínea. Todo processo inflamatório passa por etapas ou momentos semelhantes: irritação, alterações vasculares, exsudação plasmática e celular, lesões degenerativas e necróticas, proliferação conjuntiva e vascular reparadora e modificações das células do exsudato. Esses momentos podem se sobrepor durante o processo. Objetivos da inflamação: minimizar, neutralizar, destruir, eliminar o agente agressor e induzir a reparação na região → cicatrização induzindo a regeneração. A inflamação é benéfica, mas se não for controlada pode ser prejudicial para o organismo. A reação inflamatória é necessária, porque ela vai conter o agente agressor e faz com que aquela região cicatrize e se regenere posteriormente. Aquele tecido agredido será substituído; pelo tecido normal ou dependendo da lesão forma-se um tecido conjuntivo com fibras colágenas, formando-se uma cicatriz na região. A inflamação vai provocar alterações vasculares, além de migração e ativação de leucócitos. O papel dessas células muitas vezes se sobrepõe pela liberação de mediadores químicos que tem funções semelhantes. A resposta inflamatória também pode gerar alterações sistêmicas, dependendo da quantidade e da resposta do indivíduo. SINAIS CARDINAIS Calor, rubor, tumor, dor e alterações funcionais. CAUSAS DA INFLAMAÇÃO No geral, a inflamação é produzida por agentes flogógenos simples: - Agentes físicos: calor, frio, eletricidade, radiação, trauma mecânico. - Agentes químicos: toxinas bacterianas, venenos vegetais e animais, substâncias cáusticas, metais pesados. - Agentes biológicos: vírus, bactérias, fungos, protozoários, parasitas, reações imunológicas. FENOMENOS IRRITATIVOS DA INFLAMAÇÃO Consistem no conjunto de modificações provocadas pelo agente inflamatório que resultam na liberação de mediadores químicos responsáveis pelos fenômenos subsequentes da inflamação. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 26 • Células e mediadores da inflamação: agentes lesivos atingem componentes do tecido, que produzem resposta local para adaptar os tecidos à nova situação, favorecendo a eliminação da agressão ou de seus efeitos. Essa resposta acontece através da liberação de mediadores que induzem modificações na microcirculação e migração de fagócitos para o interstício. O agente agressor pode irritar o tecido: - Através da liberação de substancias que encontram receptores nas células, as quais sendo ativadas liberam mediadores. - Indução de modificações em moléculas dos tecidos que ativadas desencadeiam reações que também liberam mediadores. - Produção por ação direta de lesões celulares ou da matriz extracelular, em consequência das quais são liberados mediadores. COMPONENTES DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA Células circulantes, plaquetas, fatores de coagulação, mediadores químicos. As células endoteliais que revestem os vasos, as células na camada muscular e as células ao redor no espaço extravascular, fibras do tecido conjuntivo, células residentes no espaço extravascular como os macrófagos, fibras elásticas, proteoglicanos, fibroblastos. Cada uma das células a seguir apresenta uma característica morfológica específica e um papel na resposta inflamatória. • Neutrófilo: surge no estado inicial de quase todas as reações inflamatórias agudas, especialmente nas infecções bacterianas. Com o passar do tempo, perde espaço para outros tipos de células, mas nos momentos iniciais, é a célula que chega com maior rapidez. Participa de processos inflamatórios agudos e processos infecciosos. Participa da formação de pus quando morre. Desaparece rapidamente. Fagocita e entra em apoptose, sendo posteriormente fagocitado por macrófagos. Morfologicamente, apresentam o núcleo basofílico e multilobulado → polimorfonucleares. • Monócito: migra da corrente sanguínea aos tecidos, passando a se chamar macrófago. Morfologicamente, tem o núcleo bem arredondado, basofílico e citoplasma abundante. • Macrófago: Fagócito profissional, sendo esta sua função primordial. Secreção de numerosos mediadores químicos. Ação sobre ampla variedade de antígenos e papel central na inflamação crônica, sendo as células mais abundantes. Podem estar presentes também na inflamação aguda. Na inflamação crônica podem apresentar funções diferentes, formando granulomas ou células gigantes multinucleadas. • Linfócito: Surge tardiamente, depois dos neutrófilos e macrófagos na inflamação aguda clássica; existem doenças que praticamente não tem macrófagos e neutrófilos, predominando os linfócitos desde o momento inicial. Persiste por mais tempo na região, podendo ser até por meses, característicos da inflamação crônica. Tem uma interação com os macrófagos, tendo a capacidade de destruir células ao ativar os macrófagos além de serem citotóxicos, tendo a capacidade de destruir ou lesar outras células. Núcleo muito abundante e citoplasma quase invisível. • Plasmócito: produção de anticorpos. Núcleo deslocado para a periferia e citoplasma abundante. • Eosinófilo: presentes em grande quantidade nas reações alérgicas. Abundante nas reações imunológicas mediadas por IgE e infecções parasitárias. Contém proteína básica principal que é importante por ser tóxicaaos parasitas contribuindo para destruir o agente agressor, mas que também provoca lise de células, causando dano tecidual nas reações imunológicas. Núcleo bem eosinofílico e citoplasma discreto ao redor • Basófilo: participação em processos alérgicos, produção de histamina e heparina que participam na vasodilatação e alteração de permeabilidade, liberação de outros mediadores químicos. Núcleo bem basofílico e abundante. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 27 • Mastócito: residente no tecido conjuntivo, participa na inflamação aguda e crônica, libera histamina e produtos do ácido aracdônico, produz citocinas que são responsáveis por recrutar mais células inflamatórias para o local, e está presente em reações alérgicas. TERMOS • Exsudação: extravasamento de fluidos, proteínas e células sanguíneas do sistema vascular para o tecido intersticial ou cavidades corporais. O líquido extravasado pode ser o exsudato ou o transudato. • Exsudato: fluido com alta concentração de proteínas e fragmentos celulares (>1,020g/mL) • Transudato: fluido com baixo teor proteico (<1,020g/mL) • Edema: excesso de fluido no interstício ou cavidades serosas; exsudato ou transudato. Dos sinais cássicos, o tumor é representado pelo edema. • Exsudato purulento ou pus: exsudato rico em leucócitos, maioria neutrófilos, fragmentos de células mortas, micro-organismos. Células associadas à infeção que morreram por apoptose ou por necrose pela quantidade de mediadores químicos. • Abscesso: inflamação aguda, purulenta, circunscrita. Se forma a partir de uma lesão inicial ou a formação de uma cavidade nova. Dentro dessa cavidade há pus, células ativas e líquido. Coleção de pus em cavidade neoformada circundada por membrana ou cápsula de tecido inflamado (membrana piogênica, área de tecido conjuntivo com células inflamatorias, que tenta delimitar a lesão). Com o passar do tempo, o tecido conjuntivo desta cápsula vai ficando cada vez mais fibroso, tornando a área mais delimitada ainda. • Empiema/pioperitônio/piocele: acumulo de pus em cavidades já existentes, por exemplo, pleura, peritônio e testículos. São também tipos de abscesso. • Flegmão ou fleimão: difusão do exsudato purulento pelos tecidos, sem formar cavidade bem circunscrita. TIPOS DE INFLAMAÇÃO • Inflamação aguda - Acontece rapidamente e dura menos tempo. - Primeira linha de defesa. - Curta duração → poucos dias. - Resposta imediata do tecido; reações vasculars imediatas e inespecífica diante da agressão. - Fenômenos exsudativos: saída de líquidos e proteínas plasmáticas e emigração de leucócitos, de dentro para fora dos vasos. - Participação de neutrófilos que são predominantes, macrófagos e outros. • Inflamação crônica - Pode evoluir a partir de uma inflamação aguda. - Maior tempo de duração, entre semanas ou meses. - Reação tecidual: aumento dos graus de celularidade e de outros elementos teciduais mais próximos da reparação. - Fenômenos proliferativos: ativação, transformação e organização dos linfócitos, macrófagos, proliferação de vasos e fibroblastos. - Linfócitos, plasmócitos, fibroblastos e macrófagos que são os mais abundantes. INFLAMAÇÃO AGUDA • Teminologia: nome do tecido + sufixo “ite”. Podem ser adjetivadas com termos morfológicos, como apendicite purulenta ou pleurite fibrinosa. • Resposta rápida ao agente nocivo Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 28 Três componentes principais: - Alterações no calibre vascular: vasodilatação; alteração no calibre dos vasos permitindo uma maior chegada de sangue no local. Aumento do fluxo sanguíneo. Os principais mediadores químicos que induzem a vasodilatação são a heparina e o óxido nítrico. As alterações vasculares são responsáveis por calor e rubor. - Alterações estruturais na microcirculação: proteínas plasmáticas e leucócitos saem da circulação e vão para os tecidos. Alteração na estrutura permitindo que vazem substâncias do seu interior para o meio externo. O aumento na permeabilidade é mediado por histamina e leucotrienos. Na inflamação o líquido extravasado não retorna para o lado venoso com a mesma quantidade. - Emigração, acúmulo e ativação de leucócitos: essas células se acumulam em determinada região do vaso, passam entre as células endoteliais e se acumulam na região no local da lesão tentando inativar o agente agressor, estando ativadas. A ativação delas no local da lesão vai acontecer com o passar do tempo. • Alterações na permeabilidade: Aumento da permeabilidade vascular → extravasamento de líquidos para o espaço extravascular → aumento da concentração de hemácias no leito vascular pela saída de liquido → aumento da viscosidade sanguínea → redução na velocidade do fluxo sanguíneo (estase) → aumento de leucócitos na maioria neutrófilos que acumulam ao longo do endotélio vascular → adesão ao endotélio e migração por diapedese. • Extravasamento de leucócitos: uma vez que as células precisam atravessar, elas sofrem marginação (aproximação das células endoteliais, da luz do vaso para a parede endotelial), rolamento e adesão ao endotélio → transmigração através do endotélio por diapedese → migração nos tecidos intersticiais em direção ao estímulo (quimiotaxia) Os leucócitos têm varias moléculas que vão permitir sua adesão às células endoteliais, por afinidade aos receptores das células endoteliais, que são as selectinas. Isso faz com que os pontos de contato aumentem e que eles diminuam a velocidade que estão passando dentro do vaso e vai permitir sua adesão às células endoteliais, ate que elas sofram uma retração deixando o neutrófilo passar por diapedese. • Quimiotaxia: após o extravasamento, os leucócitos migram nos tecidos em direção ao local da lesão pelo processo de quimiotaxia. Essas substâncias quimiotáticas (que induzem a quimiotaxia) podem ser exógenas, como os produtos bacterianos, ou endógenas, como componentes do sistema complemento (C5a), produtos da via da lipoxigenase (leucotrieno B4) e citocinas (família de quimiocinas IL-8). Quando os neutrófilos chegam ao seu destino, eles vão fagocitar o agente agressor e liberam citocinas, que recrutam macrófagos para o local, e esses macrófagos vão fagocitar o neutrófilo depois. - Fagocitose: incorporação de partículas no citoplasma de células fazendo sua degradação ou transformando- as em substancias inócuas, mediante enzimas celulares e produtos metabólicos. A fagocitose se dá em 3 fases: 1. Reconhecimento e ligação da partícula a ser ingerida através de receptores na superfície dos leucócitos. 2. Captura através de pseudópodes, que são extensões do citoplasma e engolfamento da partícula. 3. Morte e degradação, mecanismos dependentes de oxigênio no citoplasma da célula inflamatória. Após a fagocitose, os neutrófilos sofrem apoptose e são digeridos por macrófagos. • Defeitos na função leucocitária: doenças que podem ser genéticas ou adquiridas. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 29 • Mediadores químicos: As células normalmente armazenam mediadores pré-formados, mas são capazes de produzir instantaneamente se for necessário. Os mediadores químicos também podem ser secretados a partir do plasma na forma de precursores; sofrem clivagem e são ativados. A maioria deles tem meia vida muito curta. A produção de mediadores ativos é desencadeada por produtos de micro-organismos ou proteínas do próprio hospedeiro. Após a ativação e liberação são deteriorados, eliminados ou inibidos. Mais de um tipo de célula é capaz de produzir o mesmo mediador e mediadores diferentes são capazes de causar efeitos iguais ou semelhantes. * Piócitos: muitas vezes os neutrófilos não conseguem desempenhar sua função e acabam morrendo; são neutrófilos com núcleos mais segmentados e densosque os de um neutrófilo jovem. Não são mais células viáveis. • Resultados da inflamação A inflamação aguda pode evoluir para a inflamação crônica. Uma vez que vira inflamação crônica, terão outros tipos de células e destruição do tecido. Se o organismo conseguir reparar a área, não se forma pus. A área de inflamação pode ser substituída por tecido conjuntivo denso. A inflamação crônica não necessariamente evolui de uma inflamação aguda; ela pode ser crônica desde o inicio dependendo do que causa a inflamação. Depois que as células inflamatórias somem, elas induzem formação de novos vasos, o infiltrado inflamatório será substituído por células mononucleares (linfócitos e plasmocitos) e resolução do edema. INFLAMAÇÃO II FORMAS ESPECIAIS DE INFLAMAÇÃO AGUDA • Inflamação exsudativa: mais comum em serosas. Morfologicamente, o líquido que extravasa pode se apresentar com aspectos diferentes em relação ao seu conteúdo: - Inflamação serosa: exsudato fluido, com aspecto de soro. Pequeno número de células exsudadas. Ocorre principalmente em membranas serosas (pleurite, peritonite e pericardite serosas) ou mucosas (rinite serosa) e se curam com restituição da integridade. - Inflamação fibrinosa: exsudato rico em fibrina, que acomete especialmente serosas e mucosas. Há o deposito de camadas de fibrina no tecido conjuntivo, formando placas acinzentadas, inelásticas e friáveis com o passar do tempo. - Inflamação sero-fibrinosa: exsudato com aspecto de soro + depósitos de fibrina. - Inflamação sero-hemorrágico: líquido com aspecto hemorrágico - Sero-fibrinohemorrágica: aspecto de soro + depósitos de fibrina + aspecto hemorrágico → Aspectos macroscópicos: membrana de revestimento com aspecto granuloso e opaco. Pulmão: pleura com aspecto esbranquiçado e algumas áreas mais espessas. Consistência mais densa e órgão mais pesado, característica denominada hepatização. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 30 Adquire coloração acinzentada. → Aspectos microscópicos: alvéolos sem aeração pelo processo inflamatório. Vasos mais permeáveis com exsudação de líquidos e células. Material eosinofílico, com aspecto rendilhado permeado por células inflamatórias. As células inflamatórias são predominantemente representadas por neutrófilos. Septos alveolares eosinofílicos e algumas áreas acelulares, necróticos, com algumas células inflamatórias. • Inflamação catarral: acomete mucosas e pode ser aguda ou crônica. É representada pela exsudação de leucócitos com a morte e a descamação das células de revestimento da mucosa. Produção de muco pelas células mucosas da região. Os mediadores químicos estimulam recrutamento de células e maior secreção de muco pelas células mucosas. Ex.: faringite e laringite em gripe e resfriados • Inflamação pseudomembranosa: de etiologia bacteriana. As toxinas produzidas pelas bactérias levam à necrose do epitélio. Além do epitélio necrótico, tem a fibrina extravasada que forma uma camada mais espessa sobre a mucosa, fazendo com que aquela região adquira o aspecto de membrana. A pseudomembrana tem uma coloração esbranquiçada, e se for removida por raspagem, deixa no fundo uma superfície sangrante/cruenta. Infecção associada à inflamação. Ex.: laringe em difteria • Inflamação aguda necrosante: ocorre em área mais extensa, deixando uma área de necrose visível de grande parte do local inflamado. O exsudato pode ser fibrinoso, purulento ou hemorrágico. Há três formas principais: necrose causada pelo agente inflamatório, necrose por lesões vasculares e necrose consequente a reações imunitárias. Ex.: inflamação no intestino de recém-nascido: enterocolite necrosante, infecção bacteriana associada à irritação no intestino. • Inflamação purulenta ou supurativa: mais difusa. Formação de pus, que é um líquido de densidade, cor e cheiro variáveis, constituídos de duas partes: uma fluida, formada por plasma e produtos da liquefação de tecidos inflamados e outra sólida, representada pelos piócitos que são neutrófilos, macrófagos e eosinófilos degenerados. Associada à infecção bacteriana por estafilococos ou estreptococos. - Pústula (furúnculo): inflamação aguda com formação de pus, circunscrita da derme e às vezes do subcutâneo, de coloração amarelada causada geralmente por estafilococos que penetram nos folículos pilosos e nas glândulas sebáceas. • Abscesso: inflamação purulenta circunscrita, caracterizada por coleção de pus e fibrina, em cavidade neoformada em um órgão sólido, escavada nos tecidos pela própria inflamação e circundada por uma membrana ou cápsula de tecido inflamado, a membrana piogênca, da qual o pus é gerado. O abscesso é formado de uma cavidade central ocupada pelo pus, uma camada interna constituída por tecido infiltrado de leucócitos e já em início de destruição que é a membrana piogênica (fica entre a cavidade e a região de tecido conjuntivo) e uma camada externa formada pela camada do tecido onde ocorrem os fenômenos vasculares e exsudativos. Para ocorrer a cura do abscesso, a membrana piogênca deve ser eliminada; a cura vem dos tecidos de granulação e de reparo que são derivados da camada externa. O organismo tenta conter e isolar o abscesso. → Aspectos macroscópicos: área bem circunscrita e delimitada. Cavitações preenchidas por líquido. → Aspectos microscópicos: no interior da cavidade tem necrose, células inflamatórias, fibrina. Entre a cavidade e o tecido conjuntivo, há a região da membrana piogênca, uma área de transição. As fibras colágenas Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 31 ao redor, com o passar do tempo, vão se tornando mais espessas, formando uma cápsula, na tentativa de manter a inflamação circunscrita e recuperar a área. EFEITOS SISTÊMICOS DA INFLAMAÇÃO Efeitos desencadeados pela quantidade de mediadores químicos e pela resposta do hospedeiro. Indivíduos imunocomprometidos podem apresentar efeitos mais acentuados. • Febre: surge na fase aguda do processo inflamatório e está associada a um processo infeccioso. Os principais mediadores químicos envolvidos na febre são IL-1, TNF e as prostaglandinas. Os mediadores químicos agem no sistema nervoso como se estivessem regulando o termostato do nosso organismo para uma temperatura acima da normalidade, o que é necessário para eliminar algumas bactérias que não resistem à elevação da temperatura. Na fase inicial, a febre é necessária. • Proteínas de fase aguda: proteínas plasmáticas; amiloide sérica A encontra-se elevada também. • Leucocitose: leucocitose é o aumento geral de células inflamatórias. A população dessas células pode sugerir se a infecção é bacteriana, viral ou parasitária. Se algumas células forem liberadas da medula óssea para a circulação de maneira muito rápida, serão células imaturas, que podem aparecer no hemograma; isso acontece em processo infeccioso acentuado. Essas células podem ser neutrófilos (neutrofilia), linfócitos (linfocitose) ou eosinófilos (eosinofilia). Essas quantidades podem variar; algumas infecções bacterianas estão mais associadas à neutrofilia; infecções virais estão associadas à linfocitose e infecções parasitárias estão associadas à eosinofilia. • Outros efeitos: - Aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. - Calafrios. - Alteração de apetite com quadro de anorexia transitória. - Sonolência. - Fraqueza. → Todos esses sinais estão associados à inflamação e acontecem por causa dos mediadores químicos, das citocinas de uma forma geral. INFLAMAÇÃO CRÔNICA - Pode evoluir a partir de uma inflamação aguda. - Maior tempo de duração, entre semanas ou meses. - Reação tecidual: aumento dos graus de celularidade e de outros elementos teciduais mais próximos da reparação. - Fenômenos proliferativos:ativação, transformação e organização dos linfócitos, macrófagos, proliferação de vasos e fibroblastos. - Linfócitos, plasmócitos, fibroblastos e macrófagos que são os mais abundantes. Inflamação prolongada, que pode ficar semanas ou até meses e pode apresentar ao mesmo tempo a inflamação que ainda está ativa com a destruição do tecido e a tentativa de reparo. Esses eventos ocorrem simultaneamente. Um órgão com inflamação crônica apresenta áreas completamente cicatrizadas, áreas com cicatrização recente e áreas em que o tecido de granulação está ainda em formação coexistindo com áreas de exsudação celular. A inflamação crônica pode advir de uma inflamação aguda ou já pode começar como uma inflamação crônica, de início lento/insidioso. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 32 • Características morfológicas: as áreas de inflamação ativa são representadas pelas células inflamatórias mononucleares com predomínio em relação aos polimorfonucleares, tendo mais macrófagos, linfócitos e plasmócitos. A inflamação ativa ainda tem destruição tecidual que pode ocorrer porque o agente agressor ainda está presente ou por causa das células inflamatórias. As células inflamatórias destroem o tecido pela liberação de mediadores químicos e sua atividade fagocítica. Tentativa de cicatrização caracterizada por células endoteliais que induzem a formação de novos vasos e fibroblastos que induzem a formação de fibras colágenas e elásticas. • Causas: pode ocorrer por agentes biológicos, químicos ou pelo próprio organismo. Pode ser porque o agente etiológico ainda está presente, e alguns micro-organismos de baixa toxicidade podem levar ao processo mais duradouro de inflamação (tuberculose, sífilis). Alguns agentes químicos potencialmente tóxicos como a sílica, ou ate mesmo dentro do próprio organismo como uma placa ateromatosa (exógenos ou endógenos). Lesões autoimunes como artrite, lúpus. • Macrófagos: papel predominante na inflamação crônica. Podem ser observados como células com citoplasma amplo; porém, podem sofrer uma transformação para se tornar células gigantes multinucleadas, variando na sua morfologia. Quando estão na circulação são chamados de monócitos e quando migram para os tecidos são chamados macrófagos. No tecido eles podem ser ativados tanto por células do próprio organismo, como linfócitos T que liberam TNF-γ ou por endotoxinas bacterianas, ou mediadores químicos produzidos por outras células inflamatórias. Uma vez ativado, o macrófago tenta reparar o tecido e induzir a fibrose, mas pode lesar o tecido através da produção de mediadores químicos que vão lesar o tecido pela ativação da fagocitose do macrófago ou por alterar a permeabilidade de vasos, fazendo com que a inflamação dure por mais tempo. Ativam células endoteliais para formar novos vasos e ativam fibroblastos para depositar colágeno e vão também remodelar o tecido cicatricial, uma vez que foi formada a cicatriz no local. • Linfócitos: núcleo bem grande, em comparação com o citoplasma, e basofílico. Os linfócitos interagem com os macrófagos e produzem várias citocinas, entre elas TNF, IL-1 e quimiocinas, que são os mediadores químicos que vão recrutar mais células inflamatórias. O recrutamento constante de células inflamatórias faz com que a inflamação persista. Os linfócitos B se diferenciam em plasmócitos e adquirem o aspecto de núcleo periférico e citoplasma visível; são células responsáveis pela produção de anticorpos. A interação entre os macrófagos e os linfócitos acontece de forma dinâmica; os macrófagos se tornam ativados pelos linfócitos e ativam os linfócitos de volta. O linfócito então induz o recrutamento de macrófagos através de TNF-γ. Ao mesmo tempo em que recruta macrófagos, podem produzir TNF que recruta outras células inflamatórias, como os neutrófilos, que são menos frequentes, mas podem ocorrer. Os macrófagos também produzem mediadores químicos que recrutam neutrófilos. Os macrófagos também apresentam antígenos para linfócitos T, que são células citotóxicas. •Eosinófilos: abundantes em infecções parasitárias e reações mediadas por IgE como reações alérgicas. Citoplasma muito eosinofílico, parecido com os plasmócitos, se diferenciando pela cor do citoplasma. • Mastócitos: liberam citocinas que induzem a fibrose. • Neutrófilos: podem estar presentes em inflamações crônicas duradouras como a osteomielite. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 33 - Pólipo nasal: associado a caso de sinusite crônica. Rinosinusite. Aspecto ovalado e circunscrito, homogêneo. Coloração amarelada ou esbranquiçada no interior. Lesão revestida pelo epitélio da mucosa nasal; interior com tecido conjuntivo edemaciado, apresentando células e fibras bem separadas umas das outras; tecido delicado com inflamação ativa. Se o quadro persistir o tecido se torna mais denso. Superfície com epitélio pseudoestratificado com células altas e células mucosas. Pequenos vasos que podem estar dilatados. Numerosas células inflamatórias. - Gastrite: destruição da mucosa gástrica por processo inflamatório com muitas células inflamatórias. Vasos hiperemiados. PADRÕES DE INFLAMAÇÃO CRÔNICA • Infecção granulomatosa: dependendo dos estímulos que recebem de linfócitos T ou outros gerados do contato do agente inflamatório com os tecidos, os leucócitos exsudados, em especial os macrófagos, podem formar agregados celulares organizados que recebem o nome de granulomas. Granulomas são componentes da infecção granulomatosa, sendo agregados organizados de células inflamatórias, em especial macrófagos, transformados em células semelhantes a células epiteliais, cercados por um colar de leucócitos mononucleares, linfócitos e plasmócitos. Nos granulomas, os macrófagos se agrupam e formam pregas interdigitantes entre si, unindo-os de modo semelhante a células epiteliais, inclusive com diferenciação de áreas de adesão mais íntimas, denominados células epitelióides, que perdem sua função fagocítica. As células epitelióides se organizam em camadas concêntricas em torno do agente inflamatório. Podem estar presentes em reações imunológicas, infecciosas e não infecciosas, como esquistossomose e paracoccidioidomicose. → Granuloma tipo corpo estranho: provocado por um corpo estranho inerte, que não gera inflamação súbita, ocorrendo de forma lenta. Como exemplo fibras insolúveis e fios de sutura. Esses agentes são partículas grandes que não são fagocitados por uma única célula. Então, os macrófagos se unem formando as células gigantes multinucleadas, que nesse tipo de granuloma são chamadas células gigantes do tipo corpo estranho, que têm os núcleos dispostos aleatoriamente no seu citoplasma. Essas células aderem e englobam o corpo estranho. → Granuloma imune (ou epitelióide ou imunogênico): representado por partículas capazes de induzir a resposta imune celular, geralmente micro-organismos. Esses micro-organismos e as células inflamatórias envolvidas libram mediadores químicos, como IL-2 E TNF-γ que são responsáveis pela perpetuação da resposta inflamatória. - Granuloma imune tipo Th1 → TNF-γ e IL-2 → tuberculose. - Granuloma imune tipo Th2 → IL-4, IL-3 e IL-10 → esquistossomose. Essas classificações vão conferir um aspecto mais fibroso ou menos organizado do granuloma. Isso tudo é desencadeado pela participação de uma ou outra citocina predominante. No granuloma imune, as células gigantes multinucleadas formadas pelos macrófagos epitelióides são chamadas células gigantes de Langhans, que tem os núcleos dispostos na periferia de seu citoplasma, que é muito eosinofílico. PROCESSOS DE CURA E DE REPARO Lesões teciduais que se acompanham de morte celular ou destruição da matriz extracelular sofrem um processo de curaque se dá por cicatrização ou regeneração. Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 34 REGENERAÇÃO O tecido morto é constituído por outro morfofuncionalmente idêntico. Ocorre em órgãos com células que se renovem continuamente (epitélios de revestimento, medula óssea). No fígado → com a morte de pequeno numero de hepatócitos, os vizinhos são estimulados a entrarem em mitose, ocupando o lugar dos que desapareceram. Se a necrose for mais extensa, o estroma reticular sofre um colapso, impedindo a reorganização da arquitetura lobular, resultando na formação de nódulos regenerativos com trabéculas espessas. Depende de fatores de crescimento como o TNF e IL-6. CICATRIZAÇÃO Processo pelo qual um tecido lesado é substituído por um tecido conjuntivo vascularizado, sendo semelhante quer a lesão tenha sido traumática, quer ocasionada por necrose. Em ambos os casos, o primeiro passo é a instalação de uma reação inflamatória, cujo exsudato de células fagocitárias reabsorve o sangue extravasado e os produtos da destruição tecidual. Em seguida, há proliferação fibroblástica e endotelial, que forma o tecido conjuntivo cicatricial. Posteriormente, o tecido cicatricial sofre remodelação, que resulta em redução de volume da cicatriz, podendo haver até seu desaparecimento. • Cicatrização por primeira intenção: ferida cujas bordas foram aproximadas por sutura e que não tenha sido infectada. É mais rápida e forma cicatrizes menores, visto que a fenda da ferida é mais estreita e a destruição tecidual nas bordas é menor. Em uma ferida cirúrgica, o sangue extravasado forma um coágulo que ocupa o espaço entre as margens da ferida. Inicia-se reação inflamatória a partir de mediadores originados do coagulo de fibrina, das células presentes no coágulo, do conjuntivo das bordas da ferida e das células epiteliais da margem da lesão. Os principais são IL-1 e TNF-α, que ativam células endoteliais a expor moléculas de adesão (ICAM, VCAM e selectinas) favorecendo a adesão de leucócitos. Nas primeiras horas, predominam os neutrófilos. Em 18h outras quimiocinas atraem monócitos e depois de 24h aparecem os linfócitos. Os fagócitos fagocitam o coágulo, iniciando-se a produção do tecido conjuntivo cicatricial e regeneração do epitélio. Os macrófagos e os linfócitos exsudados sintetizam quimiocinas que induzem proliferação de fibroblastos e ativação da síntese de componentes da matriz. Forma-se um tecido conjuntivo frouxo rico em capilares sanguíneos e contendo leucócitos e matriz extracelular formada por fibras colágenas finas, acido hialurônico e quantidade moderada de proteoglicanos, que é o tecido de granulação. Tecido edemaciado com constante passagem de liquido para o espaço extravascular. Ainda durante a sua formação, já começa a remodelação do tecido cicatricial. A quantidade de colágeno aumenta com o tempo. As células fagocitárias vão desaparecendo e o tecido de granulação passa a ser constituído por um tecido conjuntivo progressivamente mais denso e menos vascularizado. O processo de cicatrização é controlado por vários fatores de crescimento e citocinas sintetizadas por macrófagos, plaquetas, células endoteliais e linfócitos T, além daqueles liberados da matriz extracelular ou produzidos após a ação de proteases nessa matriz. • Cicatrização por segunda intenção: quando a ferida é extensa e tem as margens afastadas, forma-se um grande coágulo. Se houver infecção associada, surge a reação inflamatória exuberante. A exsudação de macrófagos é intensa e se forma abundante tecido de granulação. Como as bordas são distantes, a regeneração da epiderme é mais lenta e demora mais Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 35 tempo para se completar. O tecido de granulação formado sofre remodelação, sendo evidente a retração da cicatriz. Quando há infecção em ambos os casos, o processo é mais intenso e é produzido maior quantidade de tecido de granulação. • Fatores que influenciam a cicatrização: isquemia local, infecção e corpos estranhos, temperatura local, baixa perfusão tecidual por lesões vasculares ou por perturbações hemodinâmicas, diabetes. • Cicatrização hipertrófica/queloide: formação excessiva de tecido conjuntivo denso em cicatriz cutânea podendo adquirir volume considerável. A cicatriz hipertrófica tende a ser reversível, reduzindo com o passar do tempo. O queloide forma tumorações nas áreas de cicatrização, mesmo em feridas pequenas, podendo não regredir ou ter regressão muito lenta. Microscopicamente os dois apresentam fibras colágenas irregulares, grossas, e formam feixes distribuídos ao acaso, contendo capilares e fibroblastos em maior número que uma cicatriz normal. FIBROSE Aumento do estroma conjuntivo de um órgão decorrente de cicatrização de lesão prévia ou processo reacional em que a produção de matriz extracelular não está relacionada com o processo reparativo. Em consequência das modificações na arquitetura do órgão e das alterações na função das células parenquimatosas secundárias à fibrose, podem surgir transtornos funcionais. Fibroses resultantes de processos cicatriciais por lesões traumáticas ou inflamatórias são frequentes, mas ficam circunscritas à área lesada. A primeira fase de uma fibrose é a reação inflamatória, na qual são liberadas citocinas e fatores de crescimento que desencadeiam a formação excessiva de MEC. - A inflamação crônica pode causar um dano maior no tecido, e aquela extensão é preenchida por tecido fibroso denso. - Participação de macrófagos e linfócitos que vão liberar mediadores químicos como os fatores de crescimento, citocinas e fatores que estimulam as metaloproteinases e induzem a prolifereção de fibroblastos, células endoteliais, etc. Além das citocinas, é preciso ter um equilíbrio: uma vez produzido muito colágeno, ele precisa ser degradado. Se não for degradado, ou se a degradação for diminuída, haverá a formação de fibrose no local. • Regressão de fibroses: depende de fatores fibrolíticos, representados, sobretudo, por metaloproteases e seus inibidores. Quando em estado muito avançado, a fibrose associa-se a poucas células, inclusive as responsáveis pela produção de metaloproteases, o que dificulta a sua remodelação. FASES DE CICATRIZAÇÃO DA FERIDA Inflamação aguda inicial → tecido de granulação que corresponde a um tecido conjuntivo fibroso e inicialmente frouxo, com células endoteliais que formará novos vasos → ferida formada com depósito de colágeno inicial se contrai → substituição pelo tecido original (ou não). * Em ambos os casos, tem chegada de células inflamatórias, fibroblastos, formação de tecido de granulação, formação de novos vasos e deposição de colágeno. As moléculas envolvidas podem ser vários fatores de crescimento, produzidos por células envolvidas no processo de regeneração, por exemplo: o fator de crescimento epidérmico produzido pelos macrófagos e plaquetas, estimula a proliferação de células epiteliais, TNF, INF, fator de crescimento de Prova 2 Patologia Geral Karolina Viana 36 fibroblastos. O colágeno se acumula com o passar do tempo, mas depois precisa ser degradado. Os eventos finais da regeneração podem culminar: - Na regeneração total do tecido, se o tecido tiver a capacidade de proliferação celular quando estimuladas. - Em tecidos estáveis há o crescimento compensatório, as células ficam hiperplasiadas para compensar a perda de função das células mortas. - Cicatrização por formação de cicatriz de tecido conjuntivo fibroso denso na região. TENTATIVAS DE REPARO - Encistamento: uma vez formado o abscesso, cavidade com pus, o tecido pode regenerar ou a cavidade pode resistir. Ao redor do abscesso forma a membrana piogênica com colágeno frouxo que com o passardo tempo vai ficando denso. Se o tecido não consegue ser substituído pelo tecido original, o colágeno denso circunda a área, formando a capsula fibrosa. Não é um cisto verdadeiro, pois cistos verdadeiros tem revestimento epitelial. - Calcificação: em casos de tuberculose. Podem ser áreas simultâneas: calcificação, regeneração e fibrose. * Esquistossomose: agente etiológico é o Schistossoma mansoni. O hospedeiro intermediário é o caramujo e não existe vacina. A via de contaminação é a água, e não é necessário o individuo ter feridas na pele para penetração do parasita. - Formas crônicas da doença: Intestinal: ovos se depositam na parede do intestino e a inflamação local faz com que ocorra a formação de granulomas levando a uma obstrução intestinal. Cólicas, diarreia com sangue e emagrecimento. Hepato-esplênica: individuo contaminado por uma grande carga de parasitas e os ovos migram e se depositam na veia porta, levando à hipertensão portal. Uma vez que os ovos se depositam na veia porta, prejudicam a circulação, gerando a hipertensão. Formação de granulomas e tentativa de reparo na forma de deposição de tecido conjuntivo denso. Macroscopicamente, na região da veia porta observa- se o aspecto em haste de cachimbo. Arquitetura e forma não prejudicadas. A área de fibrose é pálida. Fibrose de Symmers-Bogliolo. Microscopicamente, tecido conjuntivo fibroso denso com a formação de novos vasos. As áreas de fibrose são intercaladas por vasos bem dilatados e hiperemiados. FATORES QUE RETARDAM A CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS - Fatores locais → presença de corpo estranho, infecção, necrose, feridas submetidas a estresse mecânico. - Fatores sistêmicos → desnutrição, menor resposta imunológica, carência de vitamina C. - Disfunções genéticas → síndromes que causam alterações no colágeno e na elastina.
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