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Direito do CONSUMIDOR BEM-VINDOS AO EBOOK Programa de Educação Continuada a Distância CURSO DE DIREITO DO CONSUMIDOR MÓDULO I Aluno: EAD - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PARCERIA entRe PORTAL EDUCAÇÃO e SITES ASSOCIADOS 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores CURSO DE DIREITO DO CONSUMIDOR MÓDULO I MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores SUMÁRIO MÓDULO I 1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO 1.2 CONCEITO DE DIREITO DO CONSUMIDOR 1.3 CONCEITO DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR 1.3.1 Consumidor 1.3.2 Fornecedor 1.4 OBJETO 1.5 POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO E SEUS PRINCÍPIOS 1.5.1. Política Nacional das Relações de Consumo 1.5.2 Princípios nas Relações de Consumo MÓDULO II 2 A LEI 8.078/90 E OS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 2.1 SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR 2.2 FUNÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS BÁSICOS 2.2.1 Termo de Garantia 2.2.2 Manual de Instrução 2.2.3 Garantia Complementar MÓDULO III 3 A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC 3.1 RESPONSABILIDADE 3.1.1 Da Responsabilidade pelo fato do Produto e do Serviço 3.1.2 Da Responsabilidade pelo Vício do Produto 3.2 PRODUTO E SERVIÇO E SUAS RESPONSABILIDADES 3.2.1 Produto e Serviço 3.2.2 Serviços Públicos e sua Possibilidade de Paralisação 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO IV 4 PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR 4.1 A RESPONSABILIDADE DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS 4.1.1 Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor 4.1.2 Os PROCONs Estaduais e Municipais 4.2 DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA 4.2.1 Da Decadência 4.2.2 Da Prescrição 4.3 DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA MÓDULO V 5 PROPAGANDA E AS PRÁTICAS ABUSIVAS 5.1 PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA NA FASE CONTRATUAL 5.2 PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA E O CONTROLE PUBLICITÁRIO 5.3 DAS PRÁTICAS ABUSIVAS 5.4 CONTRAPROPAGANDA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO I 1 APRESENTAÇÃO E INTRODUÇÃO AO CURSO O direito do consumidor apresenta-se como um instrumento indispensável, pois o consumo é parte indissociável do cotidiano do ser humano. Independentemente da classe social e da faixa de renda, a pessoa consome desde o seu nascimento e em todos os períodos de nossa existência. Consumidores, por definição, somos todos nós. Os consumidores são as maiores partes do grupo econômico na economia. Celebramos, diariamente, diversos negócios jurídicos que caracterizam a relação de consumo. Quando acordamos e tomamos banho, celebramos contrato de consumo com empresa que fornece a água. Quando pegamos um transporte coletivo para irmos ao trabalho, celebramos um contrato de transporte. Quando vamos ao mercado e fazemos as compras, celebramos um contrato. Enfim, a relação de consumo está presente na maior parte de nossas vidas. O objetivo do curso é auxiliar, estudantes da graduação, especialização e profissionais como aplicar o direito do consumidor. 1.2 CONCEITO DE DIREITO DO CONSUMIDOR Antes de conceituarmos o direito do consumidor, faz-se necessário passarmos por uma breve análise histórica, para entendermos o porquê de uma legislação que visa proteger o consumidor. A origem do código de defesa do consumidor, CDC, veio a partir da segunda metade do século XIX, marcado pelo Estado Liberal Clássico, cujo fundamento, criado por Rosseau, era o do Princípio da Liberdade de Contratar e a Autonomia da 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Vontade (pacta sunt servanda), ou seja, todas as relações econômicas deveriam ser reduzidas no contrato. O Estado não interviria nessas relações, as pessoas eram livres para contratar o que quisessem desde que fossem capazes de manifestar a sua vontade. Tudo o que é contratual é justo, desde que as partes sejam livres para contratar. Eram essas as máximas da época. O Estado Liberal somente assistia à formação dos contratos. A economia fazia suas próprias leis, enquanto que o Estado só regia suas normas de direito público. Eram os dois principais princípios daquela época: 1) Autonomia da vontade: liberdade de contratar. A liberdade das partes assegura a segurança e a justiça dos contratos 2) Força obrigatória dos contratos: pacta sunt servanda. O contrato fazia lei entre as partes. Ressalte-se que nem mesmo o Poder Judiciário poderia analisar os contratos, pois, como já dito, se as partes eram capazes, ou seja, tinham o discernimento e vontade de celebrar os contratos, presumia-se que eles eram sempre justos, não havendo qualquer erro quanto a isso. Esses eram os dogmas que inspiraram o Estado Liberal, criado após a Revolução Francesa. Chegamos a ter um reflexo dessa época em nosso antigo código civil de 1916, em que prevalecia o individualismo em vez do socialismo. Felizmente, com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, uma constituição existencialista, ou seja, contrária ao individualismo e patrimonialismo, fez com que o Estado criasse um novo Código Civil, e foi justamente com isso que veio o Código Civil de 2002. Com o passar do tempo, esse excesso de liberalismo foi letal ao Estado Liberal. Devido à liberdade de contratar muitos abusos eram cometidos e isso foi bem observado no direito do trabalho, por exemplo, jornadas de trabalho excessivas, condições de trabalho insalubres, salários baixíssimos, etc. Tudo isso era permitido, pois, como visto o Estado não intervinha nessas relações, pois as partes eram livres 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores para contratar. O trabalhador acabava se submetendo, pois precisava do trabalho para seu sustento. Outro fato, mais voltado para o consumo, eram os contratos com cláusulas abusivas e sem falar nos preços excessivamente desproporcionais. O consumidor se submetia a essas cláusulas, pois, muitas das vezes o produto ou serviço lhe eram indispensável para sua vida. Com isso, viu-se que, na prática, a liberdade de contratar não garantia a igualdade e o equilíbrio perfeito dos contratos. Passou-se a entender que a igualdade das partes também é fundamental para o equilíbrio e a justiça dos contratos. Concluiu-se que as partes poderiam ser livres, mas suas condições econômicas, sócias, culturais, etc., influenciavam negativamente neste equilíbrio. Foram a partir destes fatos que o Estado começou a se transformar. Esse passou a dirigir, a interferir nesses contratos, deixando o Liberalismo puro de lado, para o Estado Intervencionista. O Estado passou a ser mais atuante em vez de mero observador das relações contratuais. Agora, sempre com o intuito de proteger a parte mais vulnerável, criou normas visando igualar essas pessoas. Tais normas podem ser divididas em duas espécies: 1) Obrigação de certas cláusulas nos contratos, ainda que as partes não a quisessem; 2) Vedação de certas cláusulas. Ou seja, mesmo que elas estejam no contrato,sê-lo-ão consideras nulas de pleno direito; Essa intervenção saliente-se, só pode ocorrer quando as partes estejam em uma desigualdade substancial. As legislações trabalhistas foram às pioneiras do novo Estado Intervencionista, seguida por diversas outras leis, inclusive o Código de Defesa do Consumidor. No Brasil, o direito do consumidor só foi reconhecido, a partir da Constituição da República de 1988, trazido no artigo 5º, com status de direito fundamental. Antes disso, o consumidor brasileiro assumia os riscos do consumo, submetendo-se a grandes abusos. 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Art. 5º, XXXII, CRFB/88: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. O poder constituinte originário, embora tenha colocado o direito do consumidor como direitos fundamentais, sendo com isso uma cláusula pétrea, reservou ao legislador ordinário a tarefa de criar uma lei consumerista. Tal obrigação está contida no artigo 48 do ADCT. Art. 48, ADCT: “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará o código de defesa do consumidor”. Com essas duas normas constitucionais, com os objetivos do novo Estado Intervencionista, foi criada a lei 8.078 de 1990, conhecida como o Código de Defesa do Consumidor. Por fim, há quem entenda que tal lei já nascera totalmente inconstitucional, por ferir o Princípio da Igualdade, uma vez que tal lei é de exclusiva proteção aos consumidores. Ocorre que esse princípio deve ser visto sob dois enfoques: a isonomia formal e a material (ou substancial). A primeira decorre da mera igualdade, como o nome já diz, forma, ou seja, a lei deve ser igual para todos, aplicada para todos. A segunda tem como fundamento a famosa frase de Rui Barbosa “tratar os iguais, igualmente; e os desiguais, desigualmente, na medida de suas desigualdades”. É com esse último enfoque que o CDC não é inconstitucional. Como já vimos, enquanto o consumidor estiver num patamar de vulnerabilidade perante o fornecedor, deverá ser tratado legalmente de forma diferente, para se alcançar uma relação de igualdade entre esses dois sujeitos da relação de consumo. Por tudo trazido até aqui, podemos, finalmente, conceituar o direito do consumidor como um conjunto de normas, estabelecidas na lei 8.078/90 (CDC), e que regula as relações de consumo, travadas entre os consumidores, parte vulnerável e os prestadores de serviços ou os vendedores de produtos. 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diz-se que em doutrina o CDC é um microssistema jurídico interdisciplinar que é formado por duas normas jurídicas, em um mesmo corpo legislativo, todas elas coordenadas entre si, tendo por objeto a defesa do consumidor. Portanto, trata-se de uma lei de cunhos inter e multidisciplinar, com caráter de um verdadeiro microssistema jurídico. Tem caráter interdisciplinar, porque se relaciona com outros ramos do direito e multidisciplinar, porque cuida de questões inseridas no direito constitucional, administrativo, penal, civil, etc. 1.3 CONCEITO DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR O Código de Defesa do Consumidor é uma lei especial que se inspirou em modelo legislativo estrangeiro já vigente. Contudo, os textos não foram totalmente transcritos, pois foi levado em conta o mercado de consumo e características específicas do Brasil. Esta lei foi criada exclusivamente para proteger o consumidor, parte mais vulnerável na relação jurídica. Somente se aplicará àquelas relações de consumo, caso contrário aplicar-se-á, comumente, o Código Civil. Para isso, é de suma importância o estudo dos sujeitos da relação de consumo, quais sejam, consumidor e fornecedor. Vamos a um exemplo para se ter noção da importância do referido tópico. Digamos que Carlos querendo comprar um carro novo resolve vender seu automóvel a Marcelo. Carlos possui apenas o requisito da onerosidade (vender o carro com um determinado valor), mas não possui o requisito da habitualidade (ter a atividade de vender carros). Neste caso, aplicar-se-á o Código Civil no que tange aos contratos de compra e venda. Agora, outra história seria se Carlos, dono de uma empresa de carro, vende como sua atividade econômica um carro a Marcelo, destinatário final do produto. Neste caso, estamos diante de uma relação de consumo, aplicando-se o CDC, com todos os institutos da lei 8.078/90, como, por exemplo, a possibilidade da inversão do ônus da prova e os benefícios processuais. 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.3.1 Consumidor No Brasil, existe um conceito legal de consumidor que foi criado pela lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, previsto no art. abaixo: Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. O artigo define para nós o que é consumidor. Em seu conceito, veem-se três elementos: A) subjetivo (pessoa física ou jurídica); B) objetivo (que adquire ou utiliza produto ou serviço); C) teleológico (a finalidade pretendida, ou seja, o destino final do produto ou serviço). A doutrina ainda divide o conceito de consumidor em: consumidor sticto sensu, é aquela pessoa que adquire, usufrui do produto ou serviço, é o real consumidor propriamente dito; e consumidor por equiparação, que são aqueles que não participam da relação de consumo diretamente, mas a lei os equiparou como tal, são aqueles dos artigos: 2º, parágrafo único e nos artigos 17 e 29. O principal ponto da definição de consumidor vem no conceito de destinatário final, que causa controvérsia na doutrina e na jurisprudência, tendo-se três correntes que vão definir o que seria destinatário final. São elas: 1) Teoria Finalista: também chamada de subjetiva, parte do conceito econômico de consumidor. Essa teoria restringe o conceito de destinatário final àqueles que apenas adquirem o produto ou serviço para seu uso próprio ou de sua família. Com isso é necessário ser destinatário final e econômico do bem, não 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores podendo adquirir o bem ou serviço como insumo, para uso profissional, revendê-lo, etc. Exemplo para esta teoria do que não seria consumidor: Uma empresa “X” que venda água mineral. Não há relação de consumo entre a e “X” e uma concessionária de serviço público fornecedora de água. Outro exemplo também seria uma empresa de telemarketing “Y” não é considerada consumidora de uma empresa concessionária de serviço público telefônico. Exemplo para esta teoria do que seria consumidor: Uma pessoa que adquire uma televisão numa loja de eletrodomésticos para que ele e sua família a usufrua. Resumindo, para esta teoria, consumidor é aquele que põe um fim na cadeia de produção. 2) Teoria Maximalista: também chamada de objetiva, ela tem uma abrangência maior do que seria consumidor. Para esta teoria, o destinatário final seria aquele destinatário fático, ou seja, pouco importa a destinação econômica que se dará ao bem, se é usado como insumo ou não, se é destinado à pessoa ou à família ou não. Assim, consumidor é visto puramente de forma objetiva, ou seja, não se vê a finalidade que se dará ao produto ou serviço. Essa teoria é criticada, pois o código de defesa do consumidor seria uma norma geral, podendo confundir sempreos sujeitos que seriam ora fornecedor, ora consumidor. Essa teoria se vincula ao medo que assombrava a época do Estado Liberal, que, como vimos, teve resquício em nosso antigo código civil de 1916, lei geral da relação privada. Como o CDC é anterior ao novo Código Civil, era até razoável essa teoria, devido ao individualismo que predominava no antigo Código Civil. Todavia, com a entrada em vigor do Novo Código em 2002, com o fundamento na Constituição Federal de 1988 e os Princípios da Eticidade, Boa-fé Objetiva e Socialidade, não há mais razão para que essa teoria predomine na doutrina. Para essa teoria, todos os exemplos colocados na Teoria Finalista acima são casos de relação de consumo. 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3ª) Teoria Finalista Mitigada: analisada por Cláudia Lima Marques, essa teoria parte da essência, como o nome já diz, da Teoria Finalista, mas buscando a ratio (essência) do direito do consumidor. Vimos, na parte histórica, que o Direito do Consumidor veio a partir de um novo Estado Intervencionista, visando proteger àqueles considerados vulneráveis. Com isso, para esta teoria, então, destinatário final seria aquele que põe fim na cadeia de produção, entretanto, tal definição é mitigada, relativizada, com o reconhecimento da vulnerabilidade. Ou seja, se a pessoa (física ou jurídica), mesmo que não colocasse fim na cadeia de produção, mas fosse-lhe reconhecida à vulnerabilidade, tal pessoa seria considerada consumidora. A autora partiu também do artigo 4º, I, do CDC: “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo”. Reconhecem-se três tipos de vulnerabilidade: técnica (consumidor não conhece as técnicas do produto ou serviço, podendo ser facilmente levado a erro); econômica (seria a própria ignorância na seara jurídica, contábil, econômica, etc.); fática (essa é a real vulnerabilidade decorrente da essencialidade que a pessoa precisa do produto ou do serviço, tendo que submeter-se às exigências do fornecedor). Exemplos específicos para se ver a teoria: Empresário “A” que adquiriu, de uma grande sociedade empresária “B”, cadeiras para seu pequeno restaurante. Aqui há relação de consumo, pois é caso de vulnerabilidade entre o pequeno empresário “A” e a grande sociedade empresária “B”. Outro exemplo se extrai de duas de várias jurisprudências do STJ: • Resp. 468.148SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes, Terceira Turma, unânime, em tal recurso foi considerado consumidora a pessoa jurídica SBC Serviços de Terraplanagem Ltda., ao adquirir crédito bancário para a compra de tratores a serem utilizados em sua atividade econômica. • Resp. 445.854MS, Rel. Min. Castro Filho, Terceira Tuma, unânime, em tal recurso considerou ser consumidor o agricultor Francisco João Andrighetto, ao 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores adquirir crédito bancário para a compra de colheitadeira a ser utilizada em sua atividade econômica. Pela definição legal, portanto, consumidor há de ser: Pessoa física ou jurídica, não importando os aspectos de renda e capacidade financeira; como destinatário final, ou seja, para uso próprio, individual, familiar ou doméstico, e até para terceiros, desde que o repasse não se dê por revenda. Não foi incluído na definição legal, o intermediário, que é aquele que compra com objetivo de revender após montagem, beneficiamento ou industrialização. Por fim, o Superior Tribunal de Justiça possui diversas jurisprudências adotando as três teorias aqui expostas. Todavia, recentemente, parece que o Tribunal adotou a Finalista Temperada. 1.3.2 Fornecedor Visto um dos sujeitos da relação de consumo, o consumidor, vamos ao estudo de fornecedor, cuja redação legal se encontra no artigo 3º da lei consumerista. Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. §1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. §2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações trabalhistas. 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diferentemente do que ocorre com o consumidor, o conceito de fornecedor não é debatido com frequência pelos autores, talvez em decorrência do vasto leque de atividades econômicas e da amplitude da área de prestação de serviços. Para evitar interpretações contraditórias, o legislador preferiu definir produto como sendo qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial e serviço como qualquer atividade fornecida no mercado de consumo (art. 3º, §1º e §2º), essa definição legal praticamente esgotou todas as formas de atuação no mercado de consumo. Fornecedor é não apenas quem produz ou fabrica, industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos industriais centralizados ou não, como também quem vende. Nesse ponto podemos verificar que a definição de fornecedor se distancia da definição de consumidor, pois enquanto a este há de ser o destinatário final, tal exigência não se verifica quanto ao fornecedor, que pode ser o fabricante originário, o intermediário ou o comerciante, bastando que faça disso sua profissão ou atividade principal. O Código de Defesa do Consumidor colocou dois requisitos para se caracterizar fornecedor: habitualidade e onerosidade. A) Habitualidade – fornecedor é aquele que tem o exercício habitual do comércio. Vimos no exemplo acima da venda de um automóvel (vide tópico 1.3). Desse modo, exclui-se da tutela consumerista e aplicar-se-á o Código Civil de regra. Atente pelo fato de que fornecedor é tanto pessoa jurídica (é normalmente a regra) como a pessoa física, bastando ter esses dois requisitos. Atente pelo fato de que fornecedor é gênero do qual comporta algumas espécies. Com isso, quando a lei quer responsabilizar a todos, ela usará o termo “fornecedor”. Todavia, quando quer designar alguns, especificamente fará o uso da nomenclatura da espécie. Como exemplo, podemos citar os profissionais liberais, previsto no art., 14, §4º, comerciante (art., 13), etc. Embora, no ramo do Direito Administrativo, não seja normal que as pessoas jurídicas de direito público exerçam uma atividade econômica, estas também podem ser consideradas fornecedoras, desde que haja prestação por parte do consumidor e contraprestação por parte delas. Mas, atenção, aqueles serviços pagos mediante um tributo (como por exemplo, os remunerados por uma tarifa) não se submetem ao 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores código de defesa do consumidor, porquanto aqui não há consumidor propriamente dito, mas sim a figura de um contribuinte, que paga aos cofres públicos, de acordo com a previsão orçamentária. Neste caso, trata-se de relação eminentemente pública, mais especificamente ao ramo do Direito Tributário. Podemos ver nos artigos 40 a 44 do Código Civil a definição do que seria pessoa jurídica de direito público, privado, nacional ou estrangeira, que neste último caso é tratado na lei civil de interno ou externo, respectivamente. Por fim, entes despersonalizados são aquelas sociedades que não possuem personalidade jurídica (pessoas jurídicasde fato), ou seja, aquelas que não possuem seus atos constitutivos registrados no cartório oficial competente. A lei não quis também afastar tais entidades, pois em não havendo personalidade jurídica, em regra, estas não poderiam ser sujeitos de direitos nem obrigações e, com isso, não poderiam ser demandadas em juízo no caso de futuros danos ao consumidor. O CDC afastou esse problema incluindo-as no rol de fornecedor. B) Onerosidade: outro requisito essencial para se enquadrar uma pessoa como fornecedora é a onerosidade. Consequentemente, aquelas pessoas que, embora atuem com habitualidade, mas que o fazem de forma gratuita, ou seja, altruística, não consideradas fornecedoras. É o caso de uma pessoa que leva o filho de sua vizinha gratuitamente ao colégio. Tais atos são considerados meros favores. Pegando o gancho, a onerosidade também não vive sem a habitualidade; como visto com exaustão até aqui, os dois requisitos são cumulativos. Por fim, ainda quanto à onerosidade, devemos destacar um ponto importante que é acontecimento normal no ramo do consumo. Trata-se dos serviços aparentemente gratuitos, ou seja, são aqueles que à primeira vista são gratuitos, mas analisando de forma mais detalhada o fornecedor está se beneficiando dela, ou seja, se remunerando por esse serviço aparentemente gratuito. E, nestes casos, embora sejam gratuitos, estão abrangidos pelo Código de Defesa do Consumidor. Podemos citar como exemplo os estacionamentos gratuitos de um shopping centers e supermercados. Estes são aparentemente gratuitos, porque o fornecedor tem como objetivo principal com isso captar maiores clientelas. O STJ já editou uma 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores súmula a esse respeito: Súmula 130 “a empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo, ocorridos em seu estacionamento”; Cabe uma observação importante. A doutrina e a jurisprudência são divergentes quanto à relação entre advogado e cliente; se realmente se trataria de uma relação de consumo ou não. Temos duas posições que vão disputar esse entendimento: 1) Não há relação de consumo, pois se aplica a lei 8.906/94 – Estatuto da OAB, os serviços advocatícios, suas prerrogativas e obrigações são impostas por esta lei. Tal norma é totalmente incompatível com a atividade de consumo, já a 2º corrente, há relação de consumo por tudo visto até aqui, trata-se de uma atividade que é exercida de forma habitual e onerosa. Vimos que o conceito de Consumidor está exposto no art. 2°, caput e seu parágrafo único e também sendo completado por outros dois artigos (17 e 29) e que apesar de algumas dificuldades, a definição de consumidor tem a grande virtude de colocar claramente o sentido querido na maior parte dos casos. Já o conceito de fornecedor está exposto no caput do art. 3°e a leitura desse caput, nos dá um panorama da extensão das pessoas enumeradas como fornecedoras. Que na realidade são todas as pessoas capazes, físicas ou jurídicas, além dos entes desprovidos. 1.4 OBJETO Os parágrafos, primeiro e segundo definem o objeto da relação de consumo: os produtos e os serviços, respectivamente. Produto é qualquer bem móvel ou imóvel. Esses dois institutos podem ser vistos nos artigos 79 a 84 do Código Civil. São bens imóveis o solo e tudo quando se lhe incorporar natural ou artificialmente. Os bens móveis os bens suscetíveis de 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Já os bens corpóreos são os materiais – aqueles que têm existências materiais, perceptíveis pelos sentidos humanos, como por exemplo, um anel, uma roda, uma mesa, etc. Por sua vez, os imateriais são os incorpóreos, ou seja, aqueles que não têm existência material, sendo abstratos, de visualização ideal. Trata-se de uma ficção dada pela lei. Já os serviços são quaisquer atividades fornecidas no mercado de consumo. A lei faz uma ressalva quanto às relações de caráter trabalhista, para que não houvesse nenhuma divergência com a CLT. É de uma clareza solar que o CDC não se aplica nas relações de trabalho. Vimos que ambas as leis vieram com advento do Estado Intervencionista, devido à desigualdade formada entre consumidor x fornecedor, e trabalhador x empregado. Com isso seria uma situação muito que esdrúxula deixar o CDC atingir as relações de emprego, pois neste caso inverteriam as relações: o trabalhador, vulnerável na relação de emprego, seria considerado fornecedor – passando a ser o sujeito mais forte da relação jurídica, pois presta serviço de forma remunerada e habitual (art. 2º da CLT). Foi por isso que o legislador fez essa ressalva para não haver futuro choque entre a CLT (defendendo os trabalhadores) e o CDC (defendendo os consumidores). 1.5 POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO E SEUS PRINCÍPIOS 1.5.1. Política Nacional das Relações de Consumo O CDC, antes de tratar da Política Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor, trata da Política de relações de Consumo, apresentando os objetivos e princípios que devem nortear o setor. 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Tal política deve ter por objetivos, em primeiro plano, o atendimento das necessidades dos consumidores que é o objetivo principal das relações de consumo, mas deve preocupar-se também com a transparência e harmonia das relações de consumo, para pacificar e compatibilizar interesses eventualmente em conflito. O objetivo do Estado, ao legislar sobre o tema, não será outro senão eliminar ou reduzir tais conflitos, anunciando sua presença como mediador, para garantir proteção à parte mais fraca e desprotegida. Pois é visível que o consumidor é a parte mais fraca na relação de consumo que para satisfazer suas necessidades de consumo é inevitável que ele compareça ao mercado e nessas ocasiões, se submeta às condições que lhe são impostas pela outra parte, no caso o fornecedor. O objetivo da defesa do consumidor não é, nem deve ser o confronto entre classes produtora e consumidora, senão o de garantir o cumprimento de bens e serviços pelos produtores e prestadores de serviços e o atendimento das necessidades do consumidor, este juridicamente protegido pela lei e pelo Estado. A política nacional das relações de consumo tem todo um sistema que se baseia na vulnerabilidade do consumidor. Estudaremos esse sistema quando analisarmos os princípios do Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 4º “A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios”. Importante ressaltar que o legislador não só criou direitos para os consumidores, mas também impôs ao Poder Público, a criação de órgãos para a execução dessa política nacional das relações de consumo como já analisamos. 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.5.2 Princípios nas Relações de Consumo Assim como todo ramo do Direito, o Direito do Consumidor possui seus princípios próprios. Princípios são diretrizes fundamentais, os conceitos básicos, as ideias estruturais de uma ciência. Nos dizeres de José Cretella Júnior: “Princípio é umaproposição que se coloca na base de uma ciência, informando-a”. Os princípios possuem três finalidades: 1) Orientar o legislador; 2) Auxiliar o intérprete; 3) Integrar a norma. A Política Nacional de relações de Consumo deve estar lastreada nos seguintes princípios: 1) Princípio da Vulnerabilidade – primeiro princípio e um dos mais importantes. Diz respeito ao reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor diante do fornecedor. Vulnerabilidade esta que se manifesta, conforme já estudado anteriormente, de forma tríplice: técnica, econômica e fática. I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. 2) Princípio do Dever Governamental – não cabe ao Estado, uma vez reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor perante o fornecedor, apenas editar leis. É dever dele, também, protegê-lo de forma efetiva, fiscalizando os produtos e serviços posto no mercado, conforme o inciso II, do artigo 4º, da lei de consumo. II – Ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) Por iniciativa direta; 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores b) Por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) Pela presença do Estado no mercado de consumo; d) Pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. Conhecido do público, Os PROCONs são órgãos públicos de defesa do consumidor e surgem como verdadeira atuação governamental. 3) Princípio da Harmonização dos Interesses e da Garantia de Adequação – conforme explica Leonardo de Medeiros Garcia “o objetivo da política nacional das relações de consumo deve ser a harmonização entre os interesses dos consumidores e dos fornecedores, compatibilizando a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico com a defesa do consumidor”. Com isso, o Código de Defesa do Consumidor não pode servir como bloqueio ao incentivo de novas pesquisas e tecnologias e nem como obstáculo para o desenvolvimento econômico, consequentemente. Visualizamos, também, o Princípio da Segurança no qual o consumidor tem direito básico à proteção de sua vida e saúde. Assim, o fornecedor não pode colocar no mercado produtos ou serviços que possam oferecer riscos ao consumidor. Os riscos advindos devem ser claramente advertidos ao consumidor, inclusive com orientações seguras de como minimizar esses riscos. É com base nesse princípio da Segurança que o CDC trouxe a mudança no que se refere à responsabilidade civil, que agora é regida pela Teoria do Risco, o qual será visto mais adiante quando formos estudar Responsabilidade Civil do Fornecedor. III – Harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal)... 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 4) Princípio do Equilíbrio nas Relações de Consumo – como visto, o fundamento para que se criasse o CDC veio na busca da verdadeira igualdade substancial. Percebeu-se que o consumidor é vulnerável perante o consumidor. Tendo isso em mente, essa busca por uma igualdade deve sempre nortear o legislador na hora de criar leis e o magistrado na hora de interpretá-las e aplicá-las. III - ... equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. 5) Princípio da Boa-fé Objetiva – o CDC inovou quando trouxe o princípio da boa-fé objetiva, o qual, posteriormente foi trazida pela Código Civil de 2002. É que, naquela época em que ainda está em vigor a Carta Civil de 1916, predominava o individualismo e o um regime puramente patrimonial. Posteriormente, em 1988, foi promulgada a Constituição Federal de 1988, trazendo novas características existencialistas, pautadas na solidariedade e fraternidade, enterrando de vez o individualismo. Visualizamos a boa-fé objetiva nos artigos 4º, III, como um princípio que orienta as relações de consumo e no art. 51, IV, como fator fundamental que, uma vez violando-o, gerará a abusividade da cláusula. Em 2002, com a entrada em vigor do novo Código Civil, a boa-fé objetiva passou a ser regida em todos os campos obrigacionais privados, não só mais nas relações de consumo. Tudo isso, para se compatibilizar com a nova Constituição Federal de 1988. No novo código podemos analisar esse princípio sobre dois enfoques: 1º) interpretativo (art. 113, CC); 2º) controlador (art. 187, CC); e 3º) integrativo (art. 422, CC). Este princípio, acerca do enfoque integrativo, estabelece um dever de conduta entre ambas às partes, devendo-as agir de forma leal, ética e confiança antes (fase pré-contratual), durante (execução) e depois do contrato – protegendo, assim, as expectativas tanto do consumidor quanto do fornecedor. Na função integrativa, a doutrina aponta, ainda, novos deveres na relação de consumo. São chamados os deveres anexos. Estes, por sua vez, são divididos em: 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a) Dever anexo de informação (Princípio da Informação); b) Dever anexo de cooperação; c) Dever anexo de proteção. a) Dever Anexo de Informação: a relação contratual deve-se mostrar clara para as partes. Esse princípio é de suma importância, primordialmente, na fase pré- contratual, em que as partes ainda estão estipulando condições para contratação. É aqui em que o fornecedor tem o dever de informar ao consumidor todas as características sobre o produto ou serviço. Podemos apontar também quanto ao abuso das práticas que se faz normalmente, trata-se daquelas cláusulas, cuja letra é escrita de forma minúscula e com cores claras, visando o cansaço da leitura. É com base nesse dever de informação que tais cláusulas são consideradas nulas. b) Dever Anexo de Cooperação: é dever de o fornecedor cooperar com o consumidor para que este possa adimplir o contrato, fornecendo meios para que este possa concluir o contrato. A título de exemplo, podemos citar os contratos bancários. A instituição financeira não pode ficar inerte, esperando que a dívida aumente astronomicamente com as taxas de juros. Esta deve sim, uma vez constatando que o consumidor esteja com dificuldade para adimplir sua parte, ajudá-lo, dando-lhe mecanismos como uma novação, por exemplo, para que este possa adimplir o contrato, levando à satisfação de ambas as partes. c) Dever Anexo de Proteção: podemos também ligá-lo ao princípio da Segurança. Aqui, impõe-se ao fornecedor uma conduta de preservação da integridade do consumidor e seu patrimônio, pois, quando violados, acarretará danos materiais e/ou morais. Quanto ao caráter interpretativo, o juiz deve interpretar as cláusulas de forma a retirar sempre aquelas de caráter maliciosas e individualistas. Por fim, a função controladora visa coibir qualquer abuso do direito subjetivo, limitando condutas e práticas comerciais abusivas. 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 6) Princípio da Educação e Informação dos Consumidores – cabe não só ao Estado, mas também às entidades de defesa do consumidor, educar e informador o consumidor acerca de seus direitos, com vistas à melhoria do mercado de consumo. É que quanto maior for o grau de informação e educação existente, menor será o índice de conflitos nas relações de consumo e, com isso, criar-se-ia uma sociedade mais justae equilibrada, uma vez que isto se trata de um dos objetivos da República federativa do Brasil – artigo. 3º, I, da Constituição Federal. IV – Educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo. 7) Princípio do Incentivo ao Autocontrole (ou Controle de Qualidade e Mecanismos de Atendimento pelas Próprias Empresas) – O Estado deve incentivar os fornecedores a tomarem medidas para solução de eventuais conflitos, visando assim maior proteção ao consumidor. É com base nisso que as empresas devem sempre manter um controle qualitativo em seus produtos e serviços juntamente com o atendimento aos consumidores. V – Incentivo à criação, pelos fornecedores, de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo. 8) Princípio da Coibição e Repressão de Abuso no Mercado – O que se quer neste princípio, já está fundamentado na Constituição Federal, em seu artigo 170, tratado no título da ordem econômica e financeira. Tal princípio visa proteger a ordem econômica, possibilitando, assim, uma concorrência leal, sempre denunciando o monopólio para que a empresa monopolizadora não aja com abusividade perante os consumidores, pois ela seria “dona” do mercado. Para efetivar esse princípio, as leis 4.137 de 10 de setembro de 1962 e 8.884/94 criaram o CADE, uma autarquia, entidade de direito público integrante da administração pública indireta. Cabe destacar seu artigo 1º: 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores “Art. 1º. Esta lei dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico”. VI – Coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e a utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízo aos consumidores. 9) Princípio da Racionalização e Melhoria dos Serviços Públicos – quando uma entidade, seja público ou privada, atua como fornecedora de serviços públicos, não se exime dos deveres do código de defesa do consumidor. Com isso, o consumidor, destinatário desses serviços, tem o direito de exigir um serviço público efetivo, com qualidade e segurança. VII – Racionalização e melhoria dos serviços públicos. 10) Princípio do Estudo das Modificações do Mercado – a sociedade tem como característica a mutabilidade constante. Estamos em constantes evoluções sociais. A cada dia é criado novas tecnologias, práticas, tendências, etc. Foi com base nisso que o legislador ordinário criou esse princípio. Um estudo dessas modificações visa evitar que as normas fiquem ultrapassadas e, consequentemente, sem eficácia. VIII – Estudo constante das modificações do mercado de consumo. 11) Princípio do Acesso à Justiça no Código de Defesa do Consumidor – este princípio não está positivado em um único inciso ou artigo. Ele é analisado como um sistema, por meio de artigos espalhados na lei de proteção ao consumidor. O legislador percebeu que em nada adiantaria criar todos esses direitos que o CDC 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores dá ao consumidor, se este não tivesse como reclamar e exercer esses direitos em juízo, uma vez violados. Não é demais dizer, sempre relembrando, que esses institutos que beneficiam o consumidor vieram para restabelecer a igualdade e o equilíbrio entre o consumidor e o fornecedor, pois este, geralmente, dispõe de melhores condições econômicas e técnicas para a disputa no judiciário. Podemos indicar alguns institutos especiais do CDC quanto ao acesso à justiça. a) Foro Competente é o do consumidor – conforme o artigo 101, I, do CDC, quando se tratar de relação de consumo, a ação pode ser proposta no domicílio do autor. b) Inversão do ônus da prova – diz o artigo 6º, VIII do CDC, que são direitos básicos do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, ao seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. A regra geral do processo civil é de que a prova cabe a quem alega, ou seja, ao autor cabe provar o fato constitutivo de seu direito e ao réu cabe alegar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 333, I e II, do CPC). O Código de processo civil adotou, então, a distribuição estática do ônus da prova. O CDC, de forma inovadora, adotou a distribuição dinâmica do ônus da prova, ou seja, o magistrado tem o poder, agora, de distribuir (inverter) o ônus probatório, caso verifique os requisitos do art. 6º, VIII: verossimilhança da alegação ou hipossuficiência do consumidor. Sendo assim, quando o magistrado verificar tais hipóteses, poderá de ofício ou a requerimento das partes, inverter o ônus da prova, presumindo como verdadeiros os fatos alegados pelo consumidor, dispensando-o de produzir outras provas, cabendo ao fornecedor a obrigação de produzi-las. 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Verossímil é aquela alegação que parece verdadeira, que é possível ou provável por não contrariar a verdade. Já a hipossuficiência, que não se confunde com vulnerabilidade (esta é fenômeno de direito material com presunção absoluta), é fenômeno processual que deve ser analisada em cada caso concreto pelo magistrado segundo regras ordinárias de experiência. c) Ações Coletivas – visando dar maior efetividade aos direitos do consumidor, o CDC permitiu, além das ações individuais, as coletivas. Art. 81. A defesa do consumidor dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. As ações coletivas, na verdade, fundamentalmente, visam buscar o pleno acesso à ordem jurídica justa. Influenciada pelo jurista italiano Mauro Cappelleti, reconheceu-se três grandes ondas de desenvolvimento do acesso à justiça, cabendo aqui neste estudo de direito do consumidor, indicar a segunda. A primeira onde era dar assistência gratuita aos necessitados. Todavia, verificou-se que, mesmo assim, nem todos os direitos seriam tutelados. O CPC teve grande influência também do individualismo, assim, só permite que alguém vá a juízo, em regra, na defesa de seus próprios interesses como pode ver no art. 6º do CPC (“ninguém poderá pleitear em nome próprio direito alheio”). Com base nesse culto ao individualismo, os direitos considerados supraindividuais, ou seja, aqueles que não são próprios a ninguém, ficavam de fora. Assim, a segunda onda do acesso à justiça foi a proteção dos interesses metaindividuais. Foi nesse entendimento que o CDC abriu espaço para as ações coletivas, porque muitas vezes esses direitos não só visam a um só indivíduo como toda uma coletividade. As ações coletivas de consumo estão estipuladas mais nos artigos 81 e seguintes do CDC. d) Proibição de Denunciação da Lide – trata-se de uma das modalidades de intervenção de terceiro, cuja fonte é uma ação regressiva. Tal procedimento 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autoresacarreta sempre um retardo na prestação jurisdicional. É com base nessa demora que o legislador, em se tratando de relação de consumo, proibiu tal instituto processual, pois o consumidor esperaria muito mais para ver sua pretensão satisfeita. Art. 88, CDC: “na hipótese do art. 13, parágrafo único, deste Código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide”. Podemos ainda indicar alguns mecanismos de efetivação da política nacional das relações de consumo: • Assistência jurídica integral e gratuita às pessoas hipossuficientes; • Órgãos de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor; • Delegacias de Polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; • Juizados Especiais e Varas Especializadas para a solução de litígios decorrentes da relação de consumo; etc. ------------- FIM DO MÓDULO I ------------ 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II 2 A LEI 8.078/90 E OS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR A lei 8.078/90 se tivesse limitado a seus primeiros sete artigos, ainda assim o consumidor poderia receber uma ampla proteção, eles refletem concretamente os princípios constitucionais de proteção ao consumidor e bastaria aos intérpretes compreender seus significados, como vimos no módulo I, agora iremos analisar o art. 6° do CDC onde trata dos direitos básicos do consumidor. Todavia, embora à primeira vista pareçam, os direitos do consumidor não se exaurem no dispositivo do artigo 6º. Na verdade trata-se de um rol meramente exemplificativo. Cada direito do consumidor estará presente em todos os artigos que estudaremos. É justamente por isso que neste tópico veremos apenas alguns incisos, pois os demais serão vistos em partes específicas. Um exemplo disso é o inciso I que diz respeito à vida e à saúde, o veremos mais profundamente quando formos estudar o artigo 8º. Mais uma vez, o legislador ordinário, ao elencar os direitos do consumidor no artigo 6º, fez questão de ressaltar que se trata dos direitos básicos, ou seja, não se trata apenas dos arrolados no presente artigo. Para consolidar de vez essa ideia, é necessário invocar a leitura do artigo 7º. Art. 7º. “Os direitos previstos neste Código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade”. Tratados e Convenções internacionais são pactos feitos por mais de um país soberano. Vale ressaltar que muitos deles podem chegar a ter hierarquia de emenda constitucional conforme o artigo 5º, § 3º, Constituição Federal, ou seja, quando tais 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores tratados versarem sobre direitos humanos e passarem pelo ritual do legislativo conforme o dispositivo citado. Legislação interna ordinária trata-se das leis infraconstitucionais: lei complementar, lei ordinária e lei delegada. Exemplo seria a aplicação dos institutos do Código Civil quando mais benéficos ao consumidor. É de suma importância saber então que se podem aplicar outras leis que não o CDC nas relações de consumo. Regulamentos são atos administrativos normativos, advindos do Poder Regulamentar que a administração pública possui. Esses atos de caráter público são estudados mais no direito Constitucional e mais detalhados no Direito Administrativo. Princípios Gerais do Direito são as formulações gerais do ordenamento jurídico, que vão servir como base para toda uma regulamentação jurídica. Analogia é procedimento lógico de constatação, por comparação, das semelhanças entre diferentes casos concretos, chegando o juiz a um valor. É o processo de aplicação a uma hipótese não prevista em lei de disposições concernentes a casos semelhantes. Costumes é conduta reiterada a partir da falsa impressão de existir norma jurídica a respeito da matéria. É a prática repetitiva e uniforme de determinado comportamento em virtude de se imaginá-lo obrigatório. Equidade, por fim, é a aplicação do Direito como justo, benévolo, a partir do sentimento de justiça. Pretende-se que na aplicação da lei o juiz a aplique de maneira que mais se ajuste ao sentimento de justiça do caso trazido. Feito uma observação preliminar acerca dos direitos básicos do consumidor, estudaremos agora alguns deles como dito anteriormente. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - A proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores III - A informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - A proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - O acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos assegurados a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, ao seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX – (Vetado) X - A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Os direitos básicos do consumidor são direitos fundamentais e universais do consumidor, reconhecidos pela ONU (Organizações das Nações Unidas). São eles: direito à segurança que outorga garantia contra produtos ou serviços que possam ser nocivos à vida, à saúde e à segurança; direito à escolha, que visa assegurar ao consumidor opção entre vários produtos e serviços com qualidade satisfatória e preços competitivos; direito à informação, onde diz que o consumidor deve conhecer os dados indispensáveis sobre produtos ou serviços para atuar no mercado de consumo e decidir com consciência; direito de ser ouvido, onde o consumidor deve ser participante da política de defesa, sendo ouvido e tendo assento nos organismos 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores de planejamento e execução das políticas econômicas e nos órgãos colegiados de defesa; direito à indenização, que é indispensável buscar a reparação financeira por danos causados por produtos ou serviços; direito à educação para o consumo, onde o consumidor deve ser educado formal e informalmente para exercitar conscientemente sua função no mercado, restabelecendo-se por esse meio, namedida do possível, o equilíbrio que deve haver nas relações de consumo; e finalmente, o direito a um meio ambiente saudável, à medida que o equilíbrio ecológico reflete na melhoria da qualidade de vida do consumidor. Assim, os direitos básicos do consumidor, universalmente reconhecidos, verificando- se que o legislador brasileiro cuidou de adotá-los e transplantá-los para o CDC, com algumas modificações ou ampliações. Com relação aos direitos básicos do consumidor, podemos enfatizar o inciso “V”, em sua primeira parte, diz respeito à Lesão. (a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais), ocorre quando há uma quebra do sinalagma, ou seja, uma das partes sofre com a desigualdade entre a prestação e a contraprestação. É um fato que ocorre na formação do contrato (diferentemente com a teoria da imprevisão, segunda parte do inciso “V”). Este instituto também é trazido pelo Código Civil em seu artigo 157 – “ocorre à lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação aposta”. Atente com a diferença entre esses dois institutos. O CDC é mais benevolente, pois não se exige a demonstração da necessidade ou inexperiência. Ou seja, em se tratando de relação de consumo, basta alegar a desproporção das prestações. É que, como já estudamos, o consumidor é sempre considerado vulnerável na relação de consumo. Sendo assim, não se faz necessário demonstrar o elemento subjetivo, uma vez que este já é presumível de forma absoluta pela lei. Há uma pequena divergência quanto à possibilidade de anular ou não o contrato quando há desproporção, pois, veja bem, a primeira parte do inciso “V” não fala em anulação, mas tão somente em modificação, pois, à primeira vista do 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores legislador, geralmente, o produto ou serviço é essencial ao consumidor, e não interessa a este anular o contrato. Mas, às vezes, mesmo havendo a modificação, o contrato pode permanecer oneroso e, consequentemente, o consumidor não poderá suportar os custos do contrato. Neste caso há entendimento jurisprudencial do STJ permitindo a anulação do contrato. E nem poderia ser diferente, pois o instituto da lesão do Código Civil permite a anulação. Como estudamos acima, o consumidor pode invocar para si o artigo 7º do CDC e aplicar o Código Civil perfeitamente. Artigo 171, II, CC – “além dos casos expressamente declarados na lei, é ANULÁVEL o negócio jurídico: (...) por vício resultante de (...) lesão”. A segunda parte do inciso “V” contempla a revisão em razão de fatos supervenientes que tornem as prestações excessivamente onerosas. Aqui, diferentemente da primeira parte do inciso que se vê a desproporção no surgimento do contrato, a causa do desequilíbrio é na execução do contrato, é posterior da formação deste. Ressalte- se que alguns doutrinadores, usando o Código Civil, chamam esta hipótese no CDC de Teoria da Imprevisão; todavia, para a doutrina majoritária é mais técnico chamar de Teoria da Base Objetiva do Negócio Jurídico. É que conforme o artigo 478 do CC é fundamental a demonstração da imprevisibilidade e a extraordinariedade do fato superveniente, além da extrema vantagem para o credor. Já no CDC não se exige tal comprovação, somente se exige que o fato, logicamente, seja superveniente acarretando a desproporção apenas e não a extrema vantagem do fornecedor. No art. 478 do Código Civil diz que: “nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação”. Aqui, se aplica a mesma divergência quanto à lesão: se o consumidor pode ou não também pedir a resolução do contrato. 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Outro inciso importante é o “VIII” quando fala em inversão do ônus da prova. Já tivemos a oportunidade de estudá-lo quando analisamos os princípios do direito do consumidor, Princípio do Acesso à Justiça no Código de Defesa do Consumidor. Cabe destacar uma questão importante que a doutrina e a jurisprudência nos trazem: é saber qual o momento adequado para se aplicar as regras de inversão do ônus da prova. Temos duas correntes: 1) O momento seria no despacho saneador, de forma a preservar o princípio processual do contraditório e da ampla defesa. Aqui, a inversão do ônus da prova seria uma regra de procedimento. 2) O correto momento seria na prolação da sentença, com isso, a inversão do ônus da prova seria uma regra de julgamento. É importante remeter o leitor à leitura do artigo 51, VI, do CDC, o qual considerou como nula sempre que uma cláusula contratual que estabeleça a inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor. Por fim, apesar de termos detalhado os direitos básicos do consumidor, é importante tecer alguns comentários sobre eles: A respeito da segurança do consumidor, a proteção à saúde e segurança está prevista nos artigos 8º ao 10º. Atente ao fato, como já mostramos que se trata agora de uma especificação de um dos direitos básicos do consumidor, mais precisamente nos incisos I, III e VI do artigo 6º. Vejamos os artigos referentes ao presente estudo: Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. § 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários. § 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito. A regra é de que os produtos e serviços postos no mercado de consumo não poderão acarretar riscos à integridade física do consumidor. Mas, sabemos que a maior parte dos produtos hoje possui nem que de forma ínfima, seja por lhe ser inerente ou não, um risco. Foi pensando nisso, que o CDC não vedou que esses objetos fossem expostos ao mercado, mas deve-se sempre haver a informação sobre tais riscos e uma efetiva segurança. A afirmativa do início da proposiçãodo caput do art. 8°, somente pode ser entendida se lida em consonância com a segunda proposição, pois só da interpretação das duas proposições em conjunto é que se poderá extrair a essência normativa do art. 8°. Se assim não fosse, não haveria como permitir a venda, por exemplo, de cigarros, já que ninguém em nenhum lugar do mundo civilizado poderá aceitar que fumar não traz ao menos riscos à saúde. Então, surge à necessidade de fixar adequadamente o sentido da segunda proposição que vem a ser o risco normal e previsível em função da natureza e fruição do produto ou serviço. A norma está de fato, tratando de expectativa, tanto do consumidor em relação ao uso e consumo, quanto do fornecedor em relação ao mesmo aspecto. 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Foi elaborada em função do comando constitucional a lei 9.294/96, que nos mostra as restrições quanto ao fumo, bebidas alcoólicas medicamentos, etc. Conforme já vimos, o Princípio da Informação garante que o consumidor tenha garantido o direito de ser informado, de maneira adequada, sobre os perigos que o produtor que adquira pode acarretar. A informação passou a ser elemento inerente ao produto e ao serviço, bem como a maneira como deve ser fornecida, por isso, essa informação deve ser correta, clara e precisa. Isto é, o fornecedor deve dar informações sobre os riscos que não são normais e previsíveis em decorrência da natureza e fruição dos produtos e dos serviços. Quanto à Segurança, a doutrina, liderada por Antônio Herman Benjamin, divide em três partes: periculosidade inerete, periculosidade adquirida e periculosidade exagerada. 1) Periculosidade Inerente: é aquela em que está presente de forma normal e previsível no produto ou serviço. Exemplo: faca, álcool etc. A regra geral é de que o fornecedor não está obrigado a indenizar o fornecedor. Exemplo: uma dona de casa se corta com a faca enquanto prepara a comida. Será que no caso da faca de cozinha o fornecedor tem de informar que o consumidor não pode friccioná-la na mão com o lado que corta? Se não der tal informação e um consumidor se acidentar cortando os dedos, será o fornecedor responsabilizado? Nesse caso, não é necessário que o fornecedor diga que o consumidor não deve experimentar a força do corte no próprio corpo. Havendo acidente desse tipo, a responsabilidade é exclusiva do consumidor. No entanto, se um produto que está sendo vendido, cujo manuseio é novo, desconhecido do consumidor, como por exemplo, um triturador, o fornecedor precisa dar informações claras sobre a utilização desse produto. 2) Periculosidade Adquirida: o produto é perigoso quando decorre da existência de um defeito que apresenta. Caso este não houvesse, não haveria 38 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores apresentação de risco. Podem se dividir ainda em: a) defeito de fabricação; b) defeito de concepção (projeto ou fórmula); c) defeito de comercialização. 3) Periculosidade Exagerada: é aquela em que o perigo é inerente, mas a informação, mesmo assim, não reduz os riscos. O potencial danoso é de tamanha monta que a previsibilidade não consegue ser preenchida pelas informações prestadas pelos fornecedores. Esses produtos, então, não podem ser colocados no mercado de consumo em nenhuma hipótese. Ainda quanto aos princípios da Segurança e Informação. A doutrina também aponta dois subprincípios decorrentes destes: Prevenção e Precaução. Aquela é observada primeiramente, ou seja, o CDC visa primeiro prevenir os danos causados aos consumidores, obrigando que os fornecedores deem toda a informação e segurança possível; as medidas que evitam o nascimento de atentados à saúde e segurança do consumidor devem ser priorizadas. Enquanto que a precaução se vê posteriormente, quando não mais for possível a prevenção, ou seja, caso o fornecedor não comprove que o produto ou serviço não oferece riscos, não deve introduzi-lo no mercado. Uma vez colocado o produto no mercado de consumo, e posteriormente, constatarem que este objeto possui algum vício que pode refletir na integridade física do consumidor, caberá ao fornecedor o dever de alertar aos consumidores, conforme o artigo 10, §§ 1º e 2º CDC. Podemos citar, a título de exemplo, os chamados “recall” dos produtos. Esta comunicação serve para alertar os consumidores dos riscos que devam ter quando utiliza o produto, ou evitando, quando necessário, a compra ou utilização do mesmo. A comunicação que se trata o § 3º também é de grande importância, pois a União, Estados, Distrito Federal ou Município tem, com fundamento no exercício do Poder de Polícia retirar os produtos do mercado de consumo, conforme for o caso. Ressalte-se que o fato de o fornecedor alertar os consumidores por meio destes dispositivos, uma vez constatado sobre os riscos, não exime o mesmo de responder civilmente. A doutrina, todavia, aceita a possibilidade de o fornecedor alegar a culpa concorrente, com o fundamento da boa-fé objetiva. Exemplo: Uma 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores pessoa compra um carro da marca X, o produtor do automóvel usa todos os meios necessários para comunicar que o carro da marca X veio com um defeito de fabricação e deve ser levado às concessionárias para troca da peça defeituosa. O consumidor fica inerte e, posteriormente, acaba sendo lesado por isso. Aqui, há culpa de ambas as partes: do fornecedor por ter posto no mercado um produto defeituoso, e o consumidor por ter agido de má-fé em não ter levado o produto para trocar a peça, mesmo sabendo que o mesmo estava com defeito. É primordial destacar também, que o consumidor seja educado para o consumo, a fim de que aumente o seu nível de consciência e ele possa enfrentar os percalços do mercado Objetiva-se dotar o consumidor de conhecimento acerca da fruição adequada de bens e serviços, de tal maneira que ele possa, sozinho, optar e decidir, exercendo agora outro direito, o da liberdade de escolha entre os vários produtos de boa qualidade colocados no mercado. Inovando, o legislador inscreveu no rol do art. 6° o direito contratual, abrangendo de maneira geral, as cláusulas abusivas e a publicidade enganosa. E mais, dentro do raciocínio de que o Estado pode ser fornecedor e, pois, prestador de serviço público, e os serviços públicos prestados pelas entidades oficiais, permissionárias ou concessionárias, também devem ser eficientes e seguros, o que não mostra a realidade nacional, principalmente na área da saúde, transportes e educação. 2.1 SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR Art. 105. Integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), os órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais e as entidades privadas de defesa do consumidor. Art. 106. O Departamento Nacional de Defesa do Consumidor, da Secretaria Nacional de Direito Econômico (MJ), ou órgão federal que venha substituí-lo, é organismo de coordenação da política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, cabendo- lhe: 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores I - Planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política nacional de proteção ao consumidor; II - Receber, analisar, avaliar e encaminhar consultas, denúncias ou sugestões apresentadas por entidades representativas ou pessoas jurídicas de direito público ou privado; III - Prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus direitos e garantias; IV - Informar, conscientizar emotivar o consumidor por meio dos diferentes meios de comunicação; V - Solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito policial para a apreciação de delito contra os consumidores, nos termos da legislação vigente; VI - Representar ao Ministério Público competente para fins de adoção de medidas processuais no âmbito de suas atribuições; VII - Levar ao conhecimento dos órgãos competentes as infrações de ordem administrativa que violarem os interesses difusos, coletivos, ou individuais dos consumidores; VIII - Solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como auxiliar a fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança de bens e serviços; IX - Incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros programas especiais, a formação de entidades de defesa do consumidor pela população e pelos órgãos públicos estaduais e municipais; X - (Vetado). XI - (Vetado). XII - (Vetado) XIII - Desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades. Parágrafo único. Para a consecução de seus objetivos, o Departamento Nacional de Defesa do Consumidor poderá solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização técnico-científica. A lei enumera os órgãos e entidades que integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, SNDC. Destaque para as entidades privadas de defesa do 41 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores consumidor, cuja lei também lhe dá legitimidade ativa para a propositura da ação coletiva de defesa do consumidor, conforme o artigo 82, IV, do CDC. Tal sistema tem como objetivo integrar os órgãos e entidades públicas e privadas para defender o consumidor. A atuação concreta da legislação protetiva do consumidor é feita pelos órgãos administrativos e entidades civis que atuam direta ou indiretamente na sua defesa, vem a ser o primeiro e único atendimento do consumidor que obtém ótimos resultados na resolução de conflitos. Fica à disposição do cidadão no atendimento de suas queixas, reclamações e no esclarecimento de suas dúvidas. Existiu até março de 1990 o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, na estrutura de Ministério Público da justiça, criado em 1885, tinha como finalidade assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional de defesa do consumidor, zelando pelos interesses deste. Em pouco tempo de existência, o CNDC prestou excelentes serviços à Nação, atuando em temas como planos de saúde, fraudes de alimentos e medicamentos, cartões de crédito, mensalidades escolares e outros. Com a reforma administrativa do Governo Collor de Mello, o CNDC foi extinto, sendo criado o DPDC, que é subordinado à secretaria Nacional do Direito Econômico. Conforme o artigo 106, o Departamento Nacional de Defesa do Consumidor coordenará a política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, até que um órgão venha a substituí-lo. Isso ocorreu com a criação do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), o qual é vinculado à Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. Suas atribuições básicas estão nos incisos do artigo 106. Portanto, o SNDC (Sistema Nacional de Defesa do Consumidor) é a conjugação de esforços do Estado, nas diversas unidades da Federação, e da sociedade civil, para a implementação efetiva dos direitos do consumidor e para o respeito da pessoa humana na relação de consumo, ou seja, o Sistema Nacional é o conjunto dos órgãos ligados direta ou indiretamente na defesa do consumidor e das entidades civis, atuando de forma coordenada. Conforme previsto no CDC, além dos órgãos Federais, Estaduais, do Distrito Federal, Municipais e entidades civis de 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores defesa do consumidor, integram também outros órgãos como a Secretaria de Direito Econômico; Ministério da Justiça, por intermédio do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor que é o organismo de coordenação da política do SNDC e tem como atribuições principais coordenar a política e ações do SNDC, bem como atuar nos casos de relevância nacional e nos assuntos de relevância para a classe consumidora, além de desenvolver ações voltadas à educação para o consumo e para melhor informação e orientação dos consumidores. 2.2 FUNÇÃO E GARANTIA DOS DIREITOS BÁSICOS Os direitos básicos do art. 6° do CDC, proteção à vida, à saúde e segurança; liberdade de escolha de produtos e serviços; educação para o consumo; informação; proteção contra publicidade enganosa e abusiva; proteção contratual; indenização; acesso facilitado aos órgãos administrativos e judiciários; facilitação da defesa dos seus direitos e qualidade dos serviços públicos. Sua função é dar proteção ao consumidor como, por exemplo, vítima de acidentes causados por produto ou serviço defeituoso, mesmo que não o tenha adquirido. O Código não permite que o fornecedor, na cobrança de dívida, ameace ou faça o consumidor passar vergonha em público. Não permite, também, que o fornecedor, sem motivo justo, cobre o consumidor no seu local de trabalho, pois é crime ameaçar, coagir, constranger física ou moralmente, fazer afirmações falsas, incorretas ou enganosas, expor ao ridículo o consumidor. Se o fornecedor cobrar quantia indevida, o que já foi pago, o consumidor terá direito de receber o que pagou, em dobro, com juros e correção monetária. O Código de Proteção e de Defesa do Consumidor possui um sistema de hermenêutica próprio. A interpretação desta lei deverá ser constantemente em favor do consumidor, ou seja, deverá ser de maneira mais favorável a este último, face ao caráter protecionista que possui. O seu sistema contratual determina que quanto à obrigatoriedade do pacto, esta se considera mitigada, as normas de cumprimento do 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores contrato, previamente estabelecidas, poderão ser modificadas por intermédio de provocação do Poder Judiciário no sentido de realizar a revisão e modificação das cláusulas contratuais abusivas. Em relação ao cumprimento de força obrigatória dos contratos de consumo, estes pelo simples fato de envolverem uma parte hipossuficiente, normalmente o consumidor, devem ser analisados sob a ótica de outro prisma - o da interpretação mais favorável ao consumidor. Como bem assevera Hélio Zaghetto Gama: Assiste ao consumidor a presunção legal da sua proteção nos contratos. Esta presunção decorre do primeiro princípio em que se funda a Política Nacional das Relações de Consumo, qual seja o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor, assim proclamada no inciso I do art. 4º do CDC. Em decorrência deste entendimento, o doutrinador supracitado enfatiza que as cláusulas contratuais são sempre interpretadas da maneira mais favorável ao consumidor, conforme determina o art. 47 do CDC. A parcialidade da interpretação decorre da constatação de que o consumidor é sempre a parte mais fraca nas relações jurídicas e por isso devem ser-lhe conferidos direitos frente às experiências dos fornecedores. Diante dos conflitos de consumo que surgem a cada dia entre o fornecedor e o consumidor, verifica-se o desequilíbrio entre as partes, em face da submissão, por exemplo, a uma cláusula abusiva, dado a imutabilidade do contrato ou mesmo a uma prática comercial abusiva ditada pela parte mais forte, demonstrando a manifesta vantagem excessiva. Surge assim a necessidade do intervencionismo estatal, permitindo a revisão das cláusulas contratuais pactuadas em razão do abuso, que implica
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