Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pancreatite Aguda 1 Pancreatite Aguda Anatomia do Pâncreas O pâncreas é um órgão retroperitoneal, quando se abre a cavidade abdominal, não consegue ver o pâncreas. É importante saber que o pâncreas está no retroperitonio porque quando o paciente tiver pancreatite, dor será no dorso. Pancreatite Aguda 2 A cabeça do pâncreas repousa sobre o duodeno. A cabeça do pâncreas compartilha a vascularização com o duodeno, a partir do tronco celíaco (que é A. gástrica esquerda, A. hepática comum e esplêncnica) e artéria mesentérica superior. É importante saber isso, pois, se precisar retirar, por exemplo a cabeça do pâncreas (como num tumor de cabeça de pâncreas), quando tira a cabeça do pâncreas deve-se tirar o duodeno tbm, pelo fato de ambos compartilharem vascularização, por isso que a cirurgia para retirar a cabeça de pâncreas chama-se duodenopancreatectomia. Pancreatite Aguda 3 Outro ponto importante da anatomia pancreática é que o colédoco para chegar até a 2ª porção do duodeno, passa pela cabeça pancreática, isso é importante pq o ducto pancreático principal desemboca junto com o colédoco na 2ª porção do dudodeno. É importante saber isso, pois se um cálculo impactar na papila de Vater, e impedir a secreção pancreática de sair, quando se tem uma dificuldade de saída da secreção pancreática isso pode levar à pancreatite. Por isso a principal causa de pancreatite aguda é litíase biliar. Outro ponto importante, é que se o indivíduo tiver um tumor de cabeça de pâncreas, ele pode crescer e causar uma obstrução de via biliar, a bile vai refluir fazendo que o paciente tenha icterícia. Além disso, a bile que reflui, volta para a vesícula torne-se distendida, cresça, tornando-se palpável. Fisiologia do pâncreas O pâncreas é um órgão de dupla função. O pâncreas tem função endócrina e uma função exócrina. Pancreatite Aguda 4 → Função endócrina: é exercida, por meio de células especializadas, estas células especializadas se unem em ilhotas, sendo estas ilhotas conhecidas como Langerhans. Então a função endócrina do pâncreas é exercida pelas células das ilhotas de Langerhans. Tem-se as células beta: responsável por produzir insulina; as células alfa: responsáveis por produzir glucagon; células delta: responsáveis por produzir somatostatina (a função desta célula é inibir a secreção pancreática). Isto é importante saber pois se o paciente tiver: 1) Fístula pancreática: Lembrar que fístula é uma comunicação anômala entre vísceras. A fístula pancreática pode surgir numa manipulação cirúrgica do pâncreas, quando a fístula pancreática ocorre, vai ter secreção pancreática passando por esta comunicação anômala indo em direção à víscera a qual a fístula pancreática se comunica. Para trata a fístula deve se reduzir o fluxo de secreção pancreática que passa por ela, deve-se fazer isso deixando o paciente em jejum (14 a 21 dias) o paciente vai se alimentar por nutrição parenteral total (NPT), além disso deve-se dar um medicamento para diminuir a secreção pancreática, sendo este medicamento o análogo da somatostatina (Octreotide) , e deixa a fístula fechar por segunda intenção. 2)Tumor endócrino funcionante: ocorre na célula mais funcionante do pâncreas que é a célula beta, sendo então um tumor de célula beta, que vai produzir muita insulina, Pancreatite Aguda 5 sendo chamado de Insulinoma, sendo benigno em 90% dos casos. Pode ser tratado por meio de cirurgia fazendo-se uma enucleação. → Função exócrina: é o pâncreas realizar a liberação de sua secreção na 2ª porção do duodeno para ajudar na digestão. A secreção pancreática é chamada de ''suco'' pancreático. Para liberar o suco pancreático o pâncreas precisa se contrair. O que estimula o pâncreas a liberar sua secreção é o duodeno, e o que estimula o duodeno a estimular o pâncreas é o alimento + acidez, no duodeno, o alimento + acidez provocam a liberação de secretina e colecistocinina, que vão até o pâncreas e provocam a liberação: bicabornato e pró enzimas, o bicabornato protege o duodeno de acidez e otimiza a ação das pró enzimas. As pró enzimas são enzimas inativas dentro do pâncreas, quando chegam no duodeno são ativadas, exercendo sua função. Se são ativadas dentro do pâncreas, provocas autodigestão pancreática, ocasionando pancreatite aguda. Pancreatite Aguda Definição É uma inflamação de um pâncreas previamente normal, pois se o se for num pâncreas que já tem alguma doença, passa a ser pancreatite crônica agudizada. Sendo que a pancreatite aguda pode ter repercussões locais e sistêmicas. Fisiopatologia Depois de desencadeado o processo inflamatório no pâncreas, ocorre uma retroalimentação, com liberação de enzimas digestivas no pâncreas que vão promover autodigestão pancreática, de vasos e tecidos adjacentes. Etiologia Pancreatite Aguda 6 Litíase biliar (40-70% dos casos) → O cálculo passa do colédoco em direção ao duodeno, o que provoca um hipertensão canalicurar transitória, que irá liberar Pancreatite Aguda 7 enzimas pancreáticas. Quando ele fica impactado o paciente terá quadro de icterícia obstrutiva. Alcoólica (25- 35% dos casos) → sendo > 50g/dia por mais de 5 anos Hipertrigliceridemia → > 1000mg/dL Microcálculos Neoplasia Medicamentosa (mesmo que o paciente tenha cálculos deve-se pesquisar medicamentos que podem ter contribuído para o quadro de pancreatite) Doenças metabólicas, hipercalcemia, hiperparatireoidismo (mesmo que o paciente tenha cálculos deve-se dosar triglicérides e cálcio) Idiopática Classificação Pode ser: De acordo com a gravidade: LEVE → Não apresenta falência orgânica e não apresenta complicações locais ou sistêmicas. É a mais comum, ocorre em 80% dos casos. MODERADA → Apresenta falência orgânica, de forma transitória (dura menos de 48h) e/ou complicações locais ou sistêmicas. GRAVE → Falência orgânica persistente Do ponto de vista fisiopatológico: se faz por meio da TC COM contraste OBS: como faz para achar o pâncreas na TC → deve-se achar os rins (dois feijõezinhos) quando achar os rins, a cobrinha na frente deles é o pâncreas. Pancreatite Aguda 8 Então a TC vai classificar a pancreatite como sendo: → Pancreatite intersticial edematosa → na TC o pâncreas vai estar todo da mesma cor, todo homogêneo. Isso significa que o contraste está sendo captado de forma homogênea pelas células, e se tem células captando contraste, quer dizer que não há necrose. Então neste caso vai ter só edema. Este tipo de pancreatite é a mais comum e ocorre em 80% dos casos. → Pancreatite necrosante (apresenta prognóstico ruim) → O contraste é captado de forma heterogênea pelo pâncreas, pois tem células mortas (necrose) e nessas áreas Pancreatite Aguda 9 não haverá a captação do contraste, em contrapartida em áreas que tiver células vivas, haverá captação de contraste. Isso vai fazer com que o pâncreas tem cores diferentes na imagem da TC. Podendo ser classificada em: → Estéril → Infectada: Quando na pancreatite necrosante ocorre infecção, haverá a formação de gases, que é visto na TC, vê-se uma área preta no pâncreas, da mesma cor da alça intestinal. Como vista na imagem abaixo, apontada pela seta amarela. Quadro clínico Pancreatite Aguda 10 Dor contínua ''em barra'' → começa epigástrica e mesográstrica e depois erradia para o dorso. Náusea e vômito Icterícia leve Sinais semiológicos (equimoses): Cullen → periumbilical Grey Turner → Flancos Fox → Base do pênis OBS: Tais sinais NÃO são patognomônicos da pancreatite!!! A causa destas equimoses são sangramento retroperitoneal, e pelo fato de o pâncreas ser um órgão retroperitoneal uma pancreatite pode causar estas equimoses. Estas equimoses são rara e indicam MAIOR GRAVIDADE. Outro sintoma que pode ocorrer é amaurose → que é a retinopatia Purstcher - Like: surgem manchas algodonosas Paciente pode ter desidratação por sequestro de líquido para o espaço retroperitoneal. Diagnóstico Pancreatite Aguda 11 2 OU 3 DOS SEGUINTES:Dor abdominal fortemente sugestiva; Aumento das enzimas pancreáticas amilase e/ou lipase maior ou igual 3x o normal; Amilase → volta ao normal + rápido Lipase → é a mais específica, demora um pouco mais a cair. Se tiver de escolher entre amilase e lipase, a lipase é a escolhida por ser mais específica. OBS: Ambas as enzimas não são específicas de pancreatite, outras situações podem aumentar amilase e lipase, trauma abdominal, sangramento digestivo, tumores. OBS: NÃO indicam gravidade!!! Exames de imagem característicos Qual o primeiro? Ultrassom → que apesar de não ver pâncreas (por ser um órgão retroperitoneal), busca encontrar colelitíase, que é a principal causa de pancreatite aguda. Qual o principal? O exame que se faz para ver pâncreas é a TC abdominal COM contraste! Quando que faz? Em 48 - 72 horas (para classificá-la em edematosa ou necrotizante) OU Imediata se: o paciente está em estado grave ou está piorando. Outros exames: USG endoscópica na suspeita de microlitíase Pancreatite Aguda 12 CPRE → Só quando tiver cálculos Prognóstico Preditores clínicos: que levam a pior prognóstico → Idade (quanto mais velho, pior) → Etiologia alcoólicas → Internação em <24h desde o início dos sintomas Pancreatite Aguda 13 → Obesidade → Peritonite ESCORES 1) RANSON: > ou = 3 DICA: O que não faz parte do RANSON: TGP/Amilase/Lipase/Bilirrubinas PARA LEMBRAR: Pancreatite Aguda 14 2) BALTHAZAR (TC): > ou = 6 (é meio ruim pq a TC só vai fazer depois de 48 a 72h) 3) APACHE - II : > ou = 8 (somente para paciente em CTI) 4) PCR → Quando muito elevada indica um prognóstico ruim Tratamento Medidas Iniciais → Internação → Dieta zero por período curto Pancreatite Aguda 15 → Hidratação e controle eletrolítico: MAIS IMPORTANTES → Analgesia (pode usar opioide se necessário) Reiniciando Dieta: → VO : dentro de 24 - 72h → Cateter Nasogastrica ou Nasoentérica: se o paciente não tolerou reiniciar a dieta por VO ou tiver íleo paralítico → Nutrição parenteral total: se o paciente não tolerou VO/cateter Tratamento da Pancreatite Biliar Pancreatite Biliar Leve: → Na maioria das vezes, o calculo impacta no esfíncter de Oddi, e provoca uma inflamação ali, o que causará a pancreatite. Mas logo este cálculo cai na 2ª porção do duodeno e é liberado nas fezes. Então na pancreatite leve, o cálculo não está mais na papila duodenal ocasionando a inflamação. → Neste tipo de paciente, a prioridade é retirar a vesícula, para evitar que novos cálculos, ocasionem novas pancreatites. Para saber se pode retirar a vesícula do paciente, deve-se avaliar o risco cirúrgico dele. Se o risco cirúrgico for : BOM: Faz a colecistectomia (CVL) na mesma internação do quadro de pancreatite. RUIM: CPRE + Papilotomia antes da alta Pancreatite Biliar + Colangite ou Obstrução distal GRAVE → Faz CPRE primeiro + papilotomia (quanto antes melhor, faz-se na mesma internação) + CVL (faz de forma eletiva após 4-6 semanas). Complicações Locais Pancreatite edematosa: Pode ter complicação precoce ou tardia → Na complicação precoce, ela tem evolução de < ou = a 4 semanas. Como há inflamação e edema, pode ter acúmulo de água ao redor do pâncreas. Então tem o que chamamos de coleção de líquidos aguda ao redor do pâncreas ou coleção fluida aguda peripancreática. Conduta> tto conservador, pois aquela inflamação vai se resolver, bem como a água será absorvida. Pancreatite Aguda 16 → Na complicação tardia da pancreatite edematosa, ela ocorre depois de 4 semanas. O líquido que antes estava solto ao redor do pâncreas, agora passa ter uma parede ao seu redor, uma parede de debri inflamatório e por isso, passa a ser chamada de pseudocisto. Pancreatite necrosante: Pode ter complicação precoce ou tardia → Na complicação precoce, haverá a evolução com < ou = a 4 semanas. Neste caso haverá necrose solta ao redor do pâncreas e eventualmente dentro pâncreas tb. Neste caso vamos chamar de coleção necrótica aguda intra e/ou extrapancreática. → Na complicação tardia, que ocorre após 4 semanas. Neste caso cria-se uma parede ao redor da necrose, o que passa a ser chamado de coleção necrótica organizada. Pancreatite Aguda 17 Tratamento das complicações: 1) Indicação de antibióticos: O ATB utilizado no pâncreas é um carbapenêmico (Imipenem) É indicado quando há NECROSE INFECTADA Como saber ? Gás na TC Se não tiver gás na TC, como faz para saber? Faz-se diagnóstico invasivo, fazendo a punção + cultura Pancreatite Aguda 18 2) Indicações de Necrosectomia: A) Necrose sintomática: paciente persiste com febre baixa, anorexia, SIRS B) Necrose INFECTADA Como fazer a necrosectomia? Drenagem endoscópica: melhor para encapsulada Percutânea via TC: ponte para cirurgia ou terapêutica única Cirúrgica: padrão ouro, mas utilizada só quando as anteriores não resolveram. Quando opta-se por fazer a cirurgia, espera-se entre 3 ou 4 semanas do início do quadro. Se fizer a cirurgia no momento do diagnóstico da necrose infectada, a necrosectomia será difícil e não será eficiente, por isso espera entre 3 ou 4 semanas, por que anatomicamente será mais fácil a visualização anatômica de onde fará a cirurgia. 3) Pseudocisto → Na maioria das vezes o tto é conservador Faz intervenção quando há: → Compressão de estruturas → Rotura (ascite) → Hemorragia por pseudoaneurisma → Para saber se a necrose e infectada ou estéril Presença de gás na região pacreática → se tem ar quer dizer infecção por aneoróbio → NECROSE INFECTADA (ocorre após a 2ª semana) Punção e cultura da necrose -se tiver crescimento de bactéria → NECROSE INFECTADA (faz-se necrosectomia), pode evoluir → Pseudocisto - necrose vai se desfazendo e o organismo vai produzindo um tecido por volta daquela coleção de necrose (ocorre geralmente após 4 semanas) - se nao desaparecer entre 4 ou 6 semanas ou tiver sintomático deve drenar (se tiver na cabeça do pâncreas) se tiver na cauda e corpo deve ressecar. Quando ele se infecta tem-se um abscesso pancreático ( trata com atb) Pancreatite Aguda 19 Antibiótico no caso de infecção e abscesso. Indicações cirúrgicas: Necrose infectada Necrosectomia deve ser feita depois de 2ª semana, sendo melhor na 4ª. Pseudocisto sintomatico que não regride Abscesso pancreático
Compartilhar