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1 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica Pancreatite aguda Definição • Condição inflamatória aguda do pâncreas que pode ser por vários motivos. • Acometimento variável de estruturas peripancreáticas e órgãos à distância. Ou seja, tudo que está próximo ao pâncreas tende a inflamar. • Doença multissistêmica (pega tudo). Associado a uma síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS). • 80-90% pancreatite leve. Chamada também de edematosa ou intersticial. • 10-20% pancreatite grave. Chamada também de necrosante ou necro-hemorrágica. Patogenia • Enzimas pancreáticas, digestivas, em pessoas saudáveis, são armazenadas e secretadas como pré-enzimas inativas: os zimogênios (tripsinogênio, quimiotripsinogênio, fosfolipase, etc). • Estímulo lesivo em células acinares, com liberação de catepsina B. Há ativação dos zimogênios, que só aconteceria no duodeno, dentro da própria célula, iniciando um processo de autodigestão no interstício pancreático. • Fosfolipase A e lipase digerem a gordura pancreática e peripancreática, levando a processo de saponificação (fusão de ácidos graxos com o cálcio), culminando com hipocalcemia. Elastase digere o tecido intersticial do pâncreas. • A tripsina, que também é liberada, ativa fatores de coagulação e sistema complemento, levando a formação de microtrombos (dentro do pâncreas), necrose e inflamação local. Levando a um ciclo vicioso, já que a própria inflamação gera mais inflamação. • Edema e inflamação locais levam ao aumento da permeabilidade capilar, mas transitoriedade dentro e fora dos vasos. Ainda, ocorre formação de shunts arteriovenosos, que podem favorecer a translocação bacteriana do intestino para o pâncreas. Então, o intestino por estar passando colado ao pâncreas facilita a saída de bactérias. Etiologia 1. Biliar; 40% 2. Álcool; 35% 3. Hipertrigliceridemia; 47% 4. Hipercalemia; 5. Trauma/iatrogênica; 6. Fármacos; 7. Outras causas; PANCREATITE AGUDA BILIAR 40% • Principal causa. Não se sabe ao certo o que acontece, mas se sabe que existe a passagem de pequenos cálculos (< 5 mm) através da ampola de Vater. Pode causar: ❖ Obstrução ou edema local podem aumentar a pressão intraductal e refluxo biliar. Então, o cálculo obstrui e a bile não consegue passar, o que gera aumento da pressão e refluxo da bile para dentro do pâncreas. ❖ Coledocolitíase está presente em 25-50% dos casos de cálculos na pancreatite aguda biliar, o que reforça a teoria. ❖ Não se associa a pancreatite crônica. O paciente pode ter várias pancreatites agudas, mas isso não quer dizer que ele terá uma pancreatite crônica. ❖ Quando se tem pancreatite aguda biliar, fazer colecistectomia previne recidivas. PANCREATITE AGUDA ALCÓOLICA (35%) • 5-10% dos alcoólatras. • Em geral, etilistas inveterados nos quais já existe algum acometimento pancreático subclínico. • Sintomas aparecem geralmente 1-3 dias após libação alcoólica intensa. • Fatores: ❖ Lesão tóxica direta do etanol. ❖ Com a ingesta do etanol, ocorre um estímulo a grande liberação enzimática. ❖ Ao mesmo tempo pode ocorrer a contração transitória do esfíncter de Oddi. ❖ Então está produzindo mais e impedindo de sair, o que leva a um aumento da pressão dentro dos ductos, levando a lesão e ativação das enzimas. ❖ Formação de cilindros proteináceos que obstruem os dúctulos, eles se calcificam, aumentando também a pressão. 2 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica HIPERTRIGLICERIDEMIA (47%) • Paciente diabéticos descompensados, hipertrigliceridemia familiar (até mesmo familiares que já tiveram pancreatite devido a hipercolesterolemia). • Fatores que podem levar a um aumento de triglicérides e, consequentemente, à pancreatite: uso de estrogênio, NPT, proporfol, hipotireioidismo, síndrome nefrótica. • A lipase é uma enzima que digere triglicérides. A partir do momento em que a lipase entra em contato com os triglicérides, eles liberam ácidos graxos nocivos ao tecido pancreático. Em quantidade normal isso não causa dano, mas quando há hipercolesterolemia, isso vai ocorrer em uma quantidade tão grande que acaba levando a lesão. • Isso acontece geralmente quando o triglicérides está > 1000mg/dl. Outras causas • Hipercalcemia, principalmente hiper-PTH. • Pós-operatório: ❖ Uso de circulação extracorpórea (CEC); ❖ Cirurgias abdominais, principalmente superior, por trauma direto. Quando se está operando qualquer coisa, se evita tocar no pâncreas, pois ele pode inflamar. • Pós CPRE: iatrogênica. Se injeta contraste na via biliar e ele pode refluir e entrar no pâncreas. Com isso pode trazer bactérias, bile e ele mesmo pode causar inflamação local. Qualquer inflamação local pode ativar proteínas digestivas e causar lesão. • Trauma abdominal fechado (especialmente em crianças). • Fármacos: ❖ Principalmente imunossupressores: azatioprina, 6- mercaptopurina, ciclosporina... ❖ DDI e pentamidina (principal causa em HIV+) ❖ Metronizadol, SMZ+TMP, tetraciclina, HCTZ, Furosemida, sulfassalazina, ácido valpróico, IECA, clonidina, etc... • Fibrose cística. • Infecções. ❖ Virais: caxumba, coxsackie, hepatite C, CMV, herpes, varicela zoster. ❖ Bacterianas/fúngicas: micoplasma, legionela, leptospira, salmonela, BK, brucelose, aspergillus, cândida. ❖ Parasitárias: Ascaris - obstrução direta da ampola de Vater. • Vasculites; • Má-formação pancreática: pâncreas divisum, pâncreas anular; • Envenenamento por escorpião. PANCREATITE IDIOPÁTICA • Até 20% dos casos. Hoje se sabe que esses casos que estão sendo considerados idiopáticos, na verdade tem uma causa. • Pode ser causada por uma microlitíase biliar (lama biliar), cálculos menores que 5 mm (???). ❖ Só por encontrar lama no USG, já se deve encaminhar o paciente para papilotomia (CPRE)/ colecistectomia para evitar que ele desenvolva pancreatite. • Disfunção do esfíncter de Oddi: ❖ Mensuração de pressão esfincteriana por CPRE, para ver se essa pressão está aumentada. Hoje não é algo que se faz na prática clínica do dia-a-dia ainda, é experimental. ❖ Encaminhar para papilotomia (CPRE). Manifestações clínicas • Dor abdominal: ❖ Aguda, contínua e em andar superior do abdome que pode ser do lado direito, esquerdo ou em epigástrio (em faixa) ou difusa, em níveis variados, podendo inclusive simular irritação peritoneal; ❖ Irradia para o dorso, mas nem sempre vai ter essa irradiação. ❖ Alivia com posição genupeitoral (flexão anterior do tórax). • Distensão abdominal secundária ao íleo paralítico. Quando se tem uma inflamação do abdome, a alça do intestino delgado fica paralisada sem funcionar direito, fazendo a distensão abdominal. • Náuseas/vômitos: ❖ Persistentes. Mesmo sem comer ele vomita/nauseia. ❖ O vômito não alivia a dor. • Febre, taquicardia, sinais de desidratação, dispneia, RNC, coma, derrame pleural reacional, principalmente do lado esquerdo. 3 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica • Icterícia leve obstrutiva (10%): ❖ Secundária a coledocolitíase ou edema em cabeça de pâncreas. Como a cabeça do pâncreas está em íntimo contato com a via biliar, então, o edema da cabeça do pâncreas pode comprimir a via. • Choque: ❖ Hipovolemia: Perda de líquidos para peritônio/retroperitônio e terceiro espaço. Esse paciente em 24 horas pode perder até 6 litros para peritônio e terceiro espaço. Quando é uma pancreatite grave, pode fazer uma hipovolemia severa. ❖ Vasodilatação sistêmica: na pancreatite tem tanto fator inflamatório sendo liberado que faz uma vasodilatação sistêmica. Então, além do pouco volume, a pressão cai, levando ao choque misto. • Insuficiência Renal (em pacientes graves) ❖ Geralmente pré-renal (o problema não é no rim): não está chegando volume no rim, então se hidrataro paciente ele melhora. Mas pode evoluir para necrose tubular aguda e quando isso acontece, ao hidratar o paciente ele não melhora. Sinais cutâneos • Grey-Turner: equimose em flancos; • Cullen: Equimose periumbilical; • Fox: equimose em base peniana; • Paniculite: necrose gordurosa subcutânea. Não necessariamente vai ser no abdome. Pode estar edemaciado, endurecido, com sinais flogísticos. Não são sinais que acontecem em todos os pacientes. Somente cerca de 15% dos casos vão cursar com algum desses sinais; não são patognomônicos de pancreatite. Diagnóstico • Quadro clínico + laboratório (amilase/lipase 3x VN) + imagem (casos específicos): ❖ 2 de 3: quadro clínico e laboratório ou laboratório e imagem... já dá diagnóstico. ❖ Amilase + lipase > 3x VN → E=95% S=95%. Se a amilase/lipase estiver aumentada apenas 2x VN, não dá diagnóstico. O ideal é sempre pedir os dois, amilase e lipase. OBS.: Amilase e lipase não inferem prognóstico. Então, se o paciente estiver com 10x o VN isso não quer dizer que ele está pior que um que tem 3x VN. • Amilase: ❖ Eleva nas primeiras 24h e mantém-se por 3-5d. ❖ S=85-90% E 70-75%. • Lipase: ❖ Mantém-se por 7-10 dias; ❖ S=80% E=85%. Laboratório inespecífico Esses inferem prognóstico!!! Quanto maior, pior prognóstico. • Leucocitose, PCR: aumentam em resposta a inflamação, p. ex. trauma, pós operatório, podem fazer leucocitose sem infecção bacteriana. ❖ SIRS. • Hiperglicemia: ❖ SIRS ou destruição das ilhotas de Langerhans. • Hipocalcemia: ❖ Saponificação do cálcio pela gordura peripancreática necrosada, o que tira o cálcio do sangue. • Aumenta ureia e creatinina; • Aumenta TGO, TGP: a inflamação do pâncreas pode gerar inflamação no fígado. Além de obstruir as vias biliares levando ao aumento de FA e bilirrubina. ❖ TGP > 150U/L sugere etiologia biliar, praticamente fecha o diagnóstico (E=96% S=48%). Se o TGP estiver < 150 não significa que não é biliar. O TGO é mais relacionado a álcool, então se estiver maior se imagina que seja alcoólica. Imagem • TC: melhor exame de imagem para diagnosticar e avaliar como está a pancreatite. ❖ Exame de escolha para dúvida diagnóstica ou pancreatite grave. ❖ Para pancreatite grave o ideal é que seja feita após as primeiras 72 horas (necrose bem estabelecida). Antes disso pode estar tudo borrado. Usado para ver quanto de pâncreas necrosou. ❖ TC com contraste; sem é ruim para abdome. ❖ TC não consegue ver via biliar, cálculos biliares; cerca de 40% dos cálculos biliares vão passar 4 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica despercebidos. Então, vai ver a pancreatite, mas não vai saber se é por causa biliar. Considerando isso, se pede USG associado a TC. • USG: ❖ Não vê bem o pâncreas, isso porque na pancreatite vai ter a distensão abdominal, com gases. Toda vez que tem gás, a USG não consegue ver bem. ❖ Interpretação gasosa; ❖ Litíase biliar. A USG é boa para ver a vesícula biliar, ver se tem bile na vesícula ou no colédoco, lama biliar. ❖ A USG é mais para dizer a causa da pancreatite e não para dizer como tá o pâncreas. • RNM: excelente, mas muito menos disponível. ❖ Vê bem o pâncreas e as vias biliares. ❖ Litíase biliar. ❖ É reservado para os pacientes com impossibilidade de contraste na TC. P. ex. disfunção renal. As setas mostram um borramento de gordura ao redor do pâncreas, que era para estar liso. O pâncreas, na imagem, está edemaciado e todo irregular, mostrando um processo inflamatório, uma pancreatite simples. (imagem A de cima) Isso (seta) aqui é um pedaço de pâncreas. Há líquido livre em vários locais. Há também calcificações. Está tendo uma necrose do pâncreas. (imagem B de cima) Tem edema e tem líquido livre. Está ocorrendo alguma necrose, mas é alguma coisa menor! (imagens A e B de baixo) Neste caso já é um processo mais resolvido. O pâncreas já está bem fácil de ver (seta B), mas tem um pedaço do pâncreas que necrosou (seta A)! Necrose já organizada, bem delimitada. Com certeza foi feita com mais de 72 horas. Há menos borramento de gordura em volta. INDICAÇÕES DE TC NA PANCREATITE GRAVE : 1. Dúvida diagnóstica. 2. Critérios clínicos de gravidade: dor + distensão abdominal + leucocitose + hipertermia > 39ºC → investigar se tem alguma infecção no local. 3. RANSON ≥ 3 ou APACHE II ≥ 8, pancreatite grave. 4. Deterioração clínica após tratamento conservador inicial por 72h. Ou seja, paciente tinha uma pancreatite leve, tratei por 72 horas, mas depois disso o paciente começou a piorar. 5. Deterioração aguda após melhora inicial. Paciente que estava respondendo, mas começa a piorar. Prognóstico CRITÉRIOS DE RANSON • Admissão: idade > 55 anos; leucometria >16.000; glicemia >200mg/dl; LDH > 350u/L; TGO >250u/L; • Primeiras 48 horas: queda do hematócrito>10%; aumento de ureia>10; sequestro líquido>6l; PO2 <60mmHg; excesso de base <-4; cálcio <8 mg/dl. É feito em dois momentos: admissão e primeiras 48 horas (reavaliação do paciente). Cada item é 1 ponto e depois de somar os pontos, joga na tabela para saber a letalidade. APACHE II são critérios para paciente grave. Geralmente usado para pancreatite, mas pode ser 5 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica usado para outras coisas. É complexo, tem que somar todos esses itens: Glasgow, condições clínicas, idade... Se o paciente tiver > 8 é paciente grave. Essa classificação de Atlanta revisada é a mais usada no pronto socorro e no dia-a-dia. Basicamente vai ver se o paciente tem falência orgânica, se ela se resolveu em 48h; caso não tenha se resolvido, já é pancreatite aguda grave. Mas se não tem falência orgânica nem complicações locais e sistêmicas, é uma pancreatite aguda leve. Alguns têm falência orgânica que melhora ou têm uma complicação local ou sistêmica sem falência já é moderadamente grave. CRITÉRIOS DE BALTHAZAR Critério tomográfica. Basicamente vai ver como está o pâncreas, o tipo de lesão, se é só um aumento difuso ou se tem coleções líquidas mal definidas, necrose. E vai avaliar também o grau de necrose, quantos % do parênquima está necrosado. Vai somar os pontos e ver a chance desse paciente ter alguma complicação. Tratamento FORMA LEVE • Dieta zero: ❖ Realimentar quando melhorar dos sintomas, tiver ausência de dor e vômitos, assim que ele sentir fome. Isso geralmente acontece dentro de 3-5 dias. Se o paciente não tolerar a realimentação, voltar à dieta zero. • Analgesia: ❖ Opiáceios, já que dói bastante e a dor é limitante. • Reposição volêmica: ❖ Controle hidroeletrolítico, já que ele pode fazer hipocalcemia, hiponatremia... FORMA GRAVE Além do que foi feito na leve, faz também... • Estabilização clínica na UTI, pois a pancreatite grave tem alta mortalidade. • Ressuscitação volêmica vigorosa: Ao menos 6L nas primeiras 24h, já que ele pode perder muito para o 3º espaço e peritônio nas primeiras 24 horas. • Nutrição enteral: se é um paciente que vai ficar muito tempo sem comer, já tenta passar uma sonda nasogástrica. NPT casos o paciente não tolere. Não deixar o paciente em dieta zero. • Não há indicação de antibióticoprofilaxia: pancreatite é inflamação, não infecção. ATB somente em caso de comprovação de infecção. Se for fazer ATB, usar: meropenem, imipenem... • CPRE: Primeiras 72h, na presença de calangite ou icterícia progressiva moderada a grave (doença obstrutiva), o ideal é que se faça a CPRE para desobstruir logo o paciente. • Colecistectomia: ❖ Todo paciente com pancreatite aguda biliar já resolvida, pois o índice de recidiva de até 25% caso não seja realizada. ❖ Se o paciente já está bem, está se alimentando, já vai para casa, o ideal é que não dê alta, tentar mandar primeiro para colecistectomia semi- eletiva. ❖ RealizarCPRE + papilotomia ou colangiografia intra-operatória. É preciso ter certeza de que não tem mais cálculo lá dentro, por isso se faz uma CPRE pré operatória ou durante a cirurgia se faz a colangiografia (jogar contraste dentro da via biliar); não pode fechar se tiver a chance de ter mais cálculos dentro, pois o paciente pode evoluir com piora. 6 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica Complicações Necrose pancreática infectada A necrose geralmente é estéril, mas ela pode infectar, pode ocorrer translocação bacteriana. • Piora clínica após melhora inicial ou novo quadro de febre, leucocitose ou sinais de sepse, geralmente 10 dias após início da pancreatite (3 dias para necrosar e 7 dias para infectar). • TC → gás no pâncreas ou tecido peripancreático. Isso que diz que tem infecção, porque a bactéria produz pus e o pus produz gás. • Se dúvida após TC, fazer punção de necrose pancreática guiada por algum exame de imagem ou punção de coleções líquidas. Se vier pus, já sabe que está infectada. Se tiver dúvida faz o gram ou cultura. Se tiver crescimento bacteriano, está infectado. • Se infectado, o tratamento é a necrosectomia. Abre a barriga e tira toda a necrose com o pus; geralmente é um procedimento que vai precisar ser feito mais de uma vez, repete depois de 2-3 dias. Hoje as necrosectomias são feitas por vídeo. Dentro da necrose tem gás (setas), então tem infecção. O tratamento é ATB e necrosectomia. Pseudocisto pancreático • Coleção intra ou peripancreática não infectada, envolvida por uma cápsula de fibrose ou tecido de granulação. É igual a um cisto, com líquido dentro, mas sua cápsula não é verdadeira; essa fibrose ou tecido de granulação endurece e se transforma na cápsula. ❖ Evolução das coleções líquidas/necrose. • Só pode chamar de pseudocisto 4 semanas após início da pancreatite. Se tiver menos que 4 semanas é coleção; se tiver 3 semanas e 5 dias, não pode chamar de pseudocisto ainda. Isso porque geralmente coleções que aparecem antes disso são transitórias, o corpo reabsorve. • 10% dos casos de pancreatite aguda. • Paciente que melhorou da pancreatite aguda e que volta depois de 1 mês dizendo que está sentindo a mesma dor de antes. Se for pancreatite alcoólica pode ser que tenha voltado, mas se for biliar, não. • Deve ser suspeitado em caso de recorrência de epigastralgia ou massa palpável; outros exames estão normais. • Diagnóstico: deve-se fazer uma TC. Um cisto com líquido dentro, sem gás e com uma cápsula mais grossa. Se tiver gás está infectado, abscesso. Dá para sentir essa massa palpável ao EF. O pseudocisto pode ser pequeno e não precisar fazer nada. • Complicações: ❖ Obstrução intestinal ou biliar: Pode comprimir o estômago. ❖ Rotura aguda para cavidade abdominal: Além da necrose, nesse líquido tem muita enzima pancreática. ❖ Hemorragia/pseudoaneurisma: complicação mais temida. O pseudocisto pode crescer para cima de um vaso fazendo invasão e corrosão de artéria adjacente (geralmente artéria esplênica), que vai vazar para dentro do cisto, levando a choque e óbito. Ou pode simplesmente corroer a artéria, mas não chegar a abri-la, formando um pseudoaneurisma. ❖ Fístula pancreática: ascite ou derrame pleural pancreáticos. Esse pseudocisto geralmente é irrigado por algum canalículo do pâncreas. Faz um vazamento lento do pseudocisto para cavidade/espaço pleural. O tratamento é NPT + octreotide para fechar a fístula. • Tratamento: ❖ Quando o pseudocisto não é complicado, deve-se observar por 6 semanas. Se for pequeno e não estiver causando nada. • Avaliação regressão espontânea: ❖ Seja invasivo nos casos de: ➢ Expansão do pseudocisto; ➢ Presença de complicações; ➢ Sintomático. ❖ Drenagem cirúrgica interna. ➢ Descompressão endoscópica ou por CPRE (stent) para estômago, duodeno ou jejuno. Via endoscopia, 7 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica abrindo o cisto para dentro do estômago, do duodeno ou do jejuno, a secreção pancreática cai aí e será digerida sem problema, uma hora isso fecha. Pode inclusive passar um stent para deixar aberta a passagem para dentro do estômago. ➢ Pode fazer também a drenagem aberta. ❖ Punção guiada por TC + ATB em caso de pseudocistos infectados; deve-se fazer antes da drenagem. Pancreatite crônica Definição • Reação inflamatória com consequente degeneração fibrótica, progressiva e irreversível do parênquima pancreático. • O pâncreas tem uma função exócrina, libera enzimas da digestão, mas também uma função endócrina, com produção de insulina, principalmente no corpo e na calda. Na crônica, ambas as funções estarão prejudicadas. • Pâncreas Calcificante crônica (95%) ❖ Plugs calcificados de proteínas, que obstruem pequenos e grandes ductos pancreáticos, com fibrose progressiva, estenoses e dilatações. Associada ao etilismo. • Pancreatite obstrutiva crônica: ❖ Lesão que obstrui o ducto de Wirsung, com dilatação homogênea e generalizada da árvore pancreática. Muitas vezes são lesões neoplásicas. Ele fica todo dilatado! ❖ Associada a tumores intraductais e mal- formações. • Pancreatite inflamatória crônica: ❖ Associada a doenças autoimunes. Etiologia • Pancreatite alcoólica (70-80%). ❖ 5-10% etilista crônico desenvolvem. • Pancreatite hereditária (2%). ❖ Paciente jovem (< 20 anos), sem história de etilismo, com parentes de primeiro grau com a doença. • Pancreatite crônica autoimune (4-6%): ❖ Associado a outras doenças autoimunes. • Pancreatite crônica idiopática: ❖ Forma juvenil (10-20 anos) e forma senil (50-60 anos). Manifestações clínicas • Esteatorreia (gordura não vai ser digerida) + DM (insulina não vai ser produzida) + calcificações. • Dor abdominal (80%): ❖ Episódios álgicos com duração inferior a 10 dias e período de remissão de meses a anos. O paciente tem vários episódios de agudização dentro de um paciente com pancreatite crônica. ❖ Períodos prolongados de dor diária com exacerbações recorrentes. É intermitente. ❖ Geralmente surge ou piora após alimentação: igual a pancreatite aguda. • Emagrecimento e desnutrição: ❖ Secundário a dor, esteatorreia (vitaminas lipossolúveis: KEDA) ou DM (também pela insuficiência endócrina). • Insuficiência pancreática exócrina – Esteatorreia. ❖ Má digestão dos triglicérides pela lipase deficiente: Fezes oleosas, acinzentadas fétidas e com alta aderência ao vaso sanitário. ❖ Pesquisa de gordura fecal: mostra esteatorréia. • Insuficiência pancreática endócrina – DM: Manifestação tardia. Diagnóstico • Amilase e lipase só se elevam em agudizações: não servem muito; são enzimas pancreáticas e como o pâncreas não está produzindo direito (por causa da fibrose). ❖ Podem estar normais ou até baixas por conta da perda de parênquima pancreático: mesmo quando deveriam estar aumentadas! • RX/TC abdome: 8 Beatriz Machado de Almeida Pancreatite aguda e crônica ❖ Calcificações em topografia pancreática; ❖ Sua ausência não afasta diagnóstico; • CPRE: ❖ Alterações em árvore ductal pancreática: vai ter irregularidades dos ductos (estenose, dilatação...) • RNM/USG endoscópica: São mais fidedignos, mas geralmente a TC de abdômen é ótima para ver! Tratamento DOR • Abstinência etílica: álcool agride o pâncreas, parar! • Fracionamento das refeições, redução da ingestão de gorduras. Substituição por triglicérides de cadeia média, pois não são digeridos pela lipase. Isso vai melhorar a dor e a distensão abdominal. • Suplementos enzimáticos orais com lipase e tripsina, para ajudar a absorver o que ele não consegue. • Descompressão ductal endoscópica/cirúrgica: caso o paciente tenha o ducto de Wirshpung obstruído, comprimido ou com estenose. Geralmente a via endoscópica é por CPRE. Mas pode sercirúrgica! • Analgesia: evitar usar opióide no começo, mas pode acabar usando. • Bloqueio/ neurólise do plexo celíaco: possível hipótese para parar a dor do paciente. PANCREATOJEJUNOSTOMIA LATERO- LATERAL (PUESTOW) • Uma das principais cirurgias! • Pacientes com dilatação ductal: há várias dilatações, pâncreas irregular. O paciente sente dor justamente por causa das estenoses, porque aumenta a pressão dentro do ducto. O líquido que deveria sair, não sai e o paciente sente dor. • Abre-se o pâncreas em fatia, faz o Y de ROUX no intestino e joga uma alça para o pâncreas que vai despejar seu conteúdo nessa alça. Enquanto a outra parte do Y, vai passar o alimento. PANCREACTOMIA SUBTOTAL • Quando não se tem dilatação do ducto! A dilatação seria nos dúctulos periféricos. Então, não tem como resolver e tem que tirar quase todo o pâncreas. • Resseca quase 95% do órgão (cauda e corpo); • Culmina em DM, porque está perdendo praticamente todo o pâncreas. PANCREATODUODENECTOMIA (WHIPPLE) Doença limitada à cabeça do pâncreas: retira só ela e deixa o resto do pâncreas. • Esteatorreia: Reposição das enzimas pancreáticas (lipase). • DM: Insulinoterapia, já que não há resistência, é falta de insulina mesmo.
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