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Introdução ao direito civil das coisas e da posse

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Direito das Coisas 
 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS 
➢ CONCEITO 
O direito das coisas regula a relação das pessoas com as coisas. 
→ Ou seja, o Direito das Coisas regula o poder dos homens sobre os bens apropriáveis e os modos de sua 
utilização econômica. 
 
• Distinção entre Bem (não apropriável) e Coisa (apropriável) 
 
→ Portanto, os bens, especificamente considerados, distinguem-se das coisas em razão da materialidade destas: 
as coisas são materiais e concretas, enquanto que se reserva para designar imateriais ou abstratos o nome de 
bens em sentido estrito. 
 Ademais, a coisa sempre apresenta economicidade, enquanto podem existir bens com ou sem 
qualquer expressão econômica. 
 
 Portanto, coisa é suscetível de apropriação e contêm valor econômico. 
Sendo assim, o direito das coisas regula a relação das pessoas com coisas apropriáveis. 
 
- O art. 1.225 define quais são os direitos reais (unem pessoa à uma coisa): 
Art. 1.225. São direitos reais: 
I - a propriedade; 
II - a superfície; 
III - as servidões; 
IV - o usufruto; 
V - o uso; 
VI - a habitação; 
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; 
VIII - o penhor; 
IX - a hipoteca; 
X - a anticrese; 
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; 
XII - a concessão de direito real de uso; e 
XIII - a laje. 
 
 
 
Já o art. 1.196 define o instituto da posse: 
✓ Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos 
poderes inerentes à propriedade. 
 
 Posse + direitos reais = conteúdo do direito das coisas. 
 
 
➢ DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E PESSOAIS 
Não há que se confundir direitos reais e direitos pessoais. Abaixo pode-se constatar a diferenciação principal entre as 
duas classes: 
 
Direitos Reais (ius in re) Direitos Pessoais (ius ad rem) 
Recai sobre a coisa 
OBJETO: a coisa em si 
Relação entre pessoas 
OBJETO: prestação. 
Atributivo Cooperativo 
Permanência, inconsumibilidade Transitoriedade 
Direito de Sequela Consumível 
Erga omnes Inter partes 
 
1. Direitos reais recaem sobre a coisa // direitos pessoais tratam de relação entre pessoas 
 
→ Os direitos reais possuem como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas, ou seja, 
recaem sobre uma coisa. 
 
→ Já os direitos pessoais possuem como conteúdo relações jurídicas entre pessoas. 
 
 
2. OBJETO: coisa nos direitos reais e a prestação nos direitos obrigacionais 
 
 Desse modo, no que se refere ao objeto dessas relações, pode-se dizer que: as relações jurídicas 
baseadas em direitos reais possuem como objeto a coisa em si; já as relações jurídicas fundadas em 
direitos pessoais têm como objeto a prestação. 
 
 O direito real requer a existência atual da coisa. Em contrapartida, a prestação é bem incorpóreo, que 
existe apenas em abstrato, e como conduta humana virtual só terá consistência no mundo fático ao 
tempo de seu cumprimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Direitos reais são atributivos // direitos pessoais são cooperativos 
 
→ Os direitos reais são atributivos: nos direitos reais, o titular age direta e imediatamente sobre o bem, 
satisfazendo suas necessidades econômicas e tendo acesso ao que lhe é de direito sem o auxílio ou 
intervenção de terceiros. Há um direito sobre a coisa (jus in re). 
 
→ Os direitos pessoais são cooperativos: nas obrigações, o titular do crédito necessariamente dependerá da 
colaboração do devedor para a sua satisfação. O credor tem direito a uma coisa (jus ad rem), que só será 
obtida pela atividade do devedor. Ou seja, atuação do devedor, no sentido de adimplir a prestação, será 
fundamental para a realização do direito ativo. 
 
Ex. – compra e venda: em um contrato como esse ambas as partes possuem obrigações recíprocas (são 
simultaneamente credoras e devedoras). Devem cooperar para que cada uma das partes tenha acesso à 
prestação. 
 
Portanto, os direitos reais são caracterizados pela imediatividade, e os obrigacionais, pela mediatividade, diante 
da inevitável necessidade de colaboração do devedor para a obtenção da prestação. 
 Sendo assim, enquanto o titular de direito real submete a coisa ao seu poder, sem a necessidade de 
colaboração da atividade de terceiros, o titular do crédito somente terá acesso à prestação que lhe 
é devida mediante uma conduta cooperativa do devedor, no sentido de dar, fazer ou não fazer. 
 
 Enfim, as relações de direito real se caracterizam pelo verbo ter (poder sobre os bens); já os direitos 
obrigacionais, pelo verbo agir (demandar comportamentos alheios. 
 
4. Direitos reais são permanentes (inconsumibilidade) // direitos pessoais são transitórios 
- Os direitos reais concedem ao titular um gozo permanente porque tente à perpetuidade. Já os direitos obrigacionais 
são eminentemente transitórios (temporários), pois se extingue no momento em que a obrigação correlata é 
cumprida. 
→ É ínsito à natureza humana o ideal de apropriação de bens. Todavia, as obrigações são efêmeras, transitórias, 
pois enquanto o credor deseja rapidamente satisfazer seu crédito, o devedor procura avidamente recuperar 
a liberdade que cedeu ao tempo da realização do negócio jurídico. 
Exemplo: relação professor com a faculdade Dom Helder – Dom Helder possui obrigação de pagar salário do 
professor, enquanto o professor tem a obrigação de lecionar. Se, por exemplo, o professor morre, a relação 
jurídica entre ele e a Dom Helder se extingue. 
Exemplo 2: Quando uma pessoa compra um apartamento, essa relação jurídica se extinguirá, uma hora ou outra, 
pela quitação integral. 
 Portanto, os direitos obrigacionais, pela sua natureza, são eminentemente transitórios: cumprida a 
obrigação, extinguem-se. Não exigido o seu cumprimento dentro de certo lapso de tempo, prescrevem. 
 
 
 
 
Já as relações jurídicas reais (do art. 1225), se perpetuam no tempo: 
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. 
→ A sucessão é aberta com a morte. Nesse sentido, com a morte de alguém, automaticamente (ou 
imediatamente), todas as propriedades do falecido são transferidas para seus herdeiros legítimos e 
testamentários (herdeiros previstos na lei ou herdeiros previstos em testamento). 
 
 A propriedade, portanto, não se extingue/consome com a morte e a propriedade é um direito real, o 
que a faz ser permanente e/ou inconsumível. Ela se perpetua no tempo (não se acaba com a morte). 
 
 
 
5. Direitos reais são oponíveis erga omnes // direitos pessoais possuem oponibilidade inter partes 
- Os direitos reais são oponíveis erga omnes (oponibilidade contra todos): os direitos reais podem ser classificados 
como poderes jurídicos, pois concedem a seu titular verdadeira situação de dominação sobre um objeto. Esse poder 
de agir sobre a coisa é oponível erga omnes, eis que os direitos reais acarretam sujeição universal ao dever de 
abstenção sobre a prática de qualquer ato capaz de interferir na atuação do titular sobre o objeto. 
→ Portanto, a relação jurídica de direito real é assim definida: como sujeitos, de um lado, se tem aquele que 
detém a titularidade formal do direito (ex. proprietário, usufrutuário, credor hipotecário); de outro a 
comunidade, a coletividade. Portanto, há apenas um sujeito ativo determinado. 
 
→ Ou seja, os direitos reais são excludentes, pois todos se encontram vinculados a não perturbar o exercício do 
direito real. 
 
- Em contrapartida, os direitos pessoais possuem oponibilidade interpartes: nos direitos pessoais há, em regra, um 
sujeito ativo, que tem um direito (credor); e um sujeito passivo, que tem um dever obrigacional (devedor). 
→ Ou seja, nesse caso, só surge uma faculdade jurídica de um credor exigir uma atuação relativamente ao sujeito 
passivo da relação, não atingindo imediatamente terceiros estranhos ao vínculo. 
 Se, eventualmente, um terceiro intervir ilicitamente em um negóciojurídico, induzindo a relação 
obrigacional ao inadimplemento, a sua responsabilidade perante o credor será extracontrarual. 
OBS: mitigação da oponibilidade interpartes - função social do contrato e relatividade dos efeitos contratuais. 
 
 
6. Direitos reais possuem poder de sequela // direitos obrigacionais são consumíveis 
 
Os direitos reais possuem poder de sequela e são oponíveis erga omnes, já os direitos obrigacionais, a contrario 
sensu, são consumíveis e possuem oponibilidade inter partes. 
 
- Os direitos reais aderem à coisa, sujeitando-a imediatamente ao poder do seu titular, com oponibilidade erga omnes. 
A inerência do direito real ao objeto afetado é tão substancial a ponto de fazer com que seu titular possa persegui-lo 
em poder de terceiros onde quer que se encontre. Esse direito de perseguir a coisa, é o poder de sequela. 
→ A palavre sequela decorre do verbo perseguir. A sequela decorre da oponibilidade erga omnes dos direitos 
reais, pois, se posso exigir de todos um dever de abstenção, nada me impede de retirar o bem do poder 
daquele que viola tal comando. 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de 
quem quer (oponibilidade erga omnes) que injustamente a possua ou detenha. 
 
Exemplificando: se A concede seu imóvel em hipoteca em favor de B, como garantia de um débito e, 
posteriormente, procede à venda do mesmo bem para C (como proprietário pode usar gozar e dispor), sem que 
cumpra a obrigação de adimplir o débito hipotecário, poderá o credor B retirar o imóvel do poder de C, com 
declaração de ineficácia da compra e venda com base na sequela, tendo em vista que a coisa estava afetada à sua 
atuação como titular de um direito real em coisa alheia, com registro prévio no ofício imobiliário. 
 Sendo assim, B pode excutir o imóvel de C, pois a hipoteca é um direito real e, por isso, há direito de 
sequela. Excutir é, desse modo, o ato de contratar um advogado que pede ao juiz para penhorar o bem 
hipotecado, o levando para leilão, onde alguém arremata e, com o dinheiro da arrematação, o credor 
que sofreu o inadimplemento é ressarcido. 
OBS 1 – Nesse caso, C pode ajuizar ação de indenização contra A. Isso pois C sofre uma evicção e o evicto pode 
mover uma ação indenizatória contra o alienante (o evicto e o evictor não possuem relação, a relação jurídica que 
existe é entre o evicto e o alienante). 
OBS 2 – bem de família: apesar do bem de família ser impenhorável, se uma pessoa, livremente, hipotecar o seu 
bem de família, ela estará renunciando a uma garantia legal e, por serem os direitos patrimoniais eminentemente 
disponíveis, o STJ decidiu pela possibilidade de se hipotecar o bem de família. Ao se hipotecar o bem de família, 
livremente, a pessoa estaria renunciando à garantia legal da impenhorabilidade. 
 
- A sequela inexiste nos direitos obrigacionais, pois a prestação só se dirige à pessoa do devedor, como sujeito passivo 
da relação jurídica, e mais ninguém. Em outras palavras, as obrigações vinculam as partes, sendo em princípio 
estranhas àqueles que não participam da relação jurídica. 
Ex.: se A se compromete a entregar um veículo a B em 30 dias (prestação de dar), mas culmina por entregar o objeto 
da prestação a C, deverá o credor B contentar-se com o pleito indenizatório, em face do devedor inadimplente, pois 
em princípio não poderá alcançar C, que não era vinculado ao contrato. 
 
 
Princípios do Direito Real: 
1 – TAXATIVIDADE (rol numerus clausus) 
- Destinando-se a operar contra toda a coletividade, não pode qualquer direito real ser reconhecido juridicamente se 
não houver prévia norma que sobre ele faça previsão. 
→ Portanto, inseridos em regime de ordem pública, os direitos reais são numerus clausus, de enumeração 
taxativa, localizados no rol pormenorizado do art. 1.225 do Código Civil e em leis especiais diversas. 
 
 Sendo assim, somente os direitos constituídos e configurados à luz do texto positivo é que poderão 
ser tidos como reais. Em razão da sua eficácia absoluta, a criação de novos direitos reais depende de 
reserva legislativa. 
 - A taxatividade importa considerar que fora do catálogo legal exclui-se a possibilidade de autonomia privada 
conceber direitos reais que produzam consequências erga omnes. A vontade humana não pode livremente criar 
modelos jurídicos de direitos reais, outras espécies que não as definidas n lei são inadmissíveis. 
 
→ A justificação é convincente. Os direitos reais são absolutos. Implicam, portanto, o dever imposto a toda a 
gente de respeitá-los, dever que não pode derivar da vontade de quem cria o direito. Há de resultar, 
inelutavelmente, da lei. Há de preexistir à criação do direito. Assim, a delimitação legal corresponde à 
natureza do direito real. 
 
Importante: vale ressaltar que, quando se diz que não há direito real senão quando a lei o declara, não se afirma 
que só sejam direitos reais os que estão discriminados no Código, porém que estão instituídos em outras leis. O 
que se não admite é a criação arbitrária de novos tipos, ou a ressurreição de velhas espécies rejeitadas pelo 
legislador. 
 A doutrina evoluiu para dizer que existem direitos reais dentro do CC, ou seja, nas legislações 
extravagantes. Portanto, os direitos reais são taxativos porque estão previstos em lei, e não apenas 
em 1 único dispositivo. 
 
- Em contrapartida, os direitos obrigacionais podem ser criados pela autonomia privada, concretizando-se pela 
elaboração do negócio jurídico. São caracterizados, portanto, como numerus apertus. Ex.: contratos atípicos, que não 
se amoldam a tipos previstos em lei, podendo resultar da fusão de vários tipos contratuais. 
→ Portanto, podem ser criados direitos obrigacionais pela autonomia privada, desde que respeitem os 
elementos essenciais do negócio jurídico que estão previstos no artigo 104 do CC (I - agente capaz; II - objeto 
lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei). 
 
 
2 – ADERÊNCIA, ESPECIALIZAÇÃO, INERÊNCIA OU IMANÊNCIA: 
Os direitos reais recaem sobre uma coisa, então é inerente à coisa, é imanente à coisa (cola na coisa). Portanto, o 
princípio da aderência decorre do fato dos direitos reais estabelecerem um vínculo, uma relação de senhoria entre o 
sujeito e a coisa, não dependendo da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir. O direito real gera, pois, 
entre a pessoa e a coisa, como foi dito, uma relação direta e imediata. 
 
→ Ademais, por meio desse princípio observa-se que, justamente por se tratar de uma relação entre direito e 
coisa, o titular pode exercer esse direito diretamente, sem que haja necessidade de intermediário ou 
intervenção de terceiros. Não há sujeito passivo, como ocorre nos direitos pessoais. 
 Ou seja, nos direitos reais, o titular age direta e imediatamente sobre o bem, satisfazendo suas 
necessidades econômicas e tendo acesso ao que lhe é de direito sem a necessidade de colaboração 
da atividade de terceiros. 
 
OBS: Exatamente por tal inerência que percebemos a existência do direito de sequela, que permite ao proprietário 
reaver sua propriedade quando possuída injustamente. 
 No caso dos direitos reais, é em razão do vínculo imediato entre a coisa e a pessoa que o titular do 
direito pode perseguir a coisa, onde quer que ela esteja. A aderência do direito real à coisa não é senão 
a constatação do fato de que o direito real permanece incidindo sobre o bem, ainda que este circule de 
mão em mão e se transmita a terceiros, pois o aludido direito segue a coisa (jus persequendi), em poder 
de quem quer que ela se encontre. 
OBS: No direito pessoal o vínculo se refere a uma pessoa. Até mesmo quando se visa a alcançar uma coisa que deve 
ser prestada pelo devedor, o que se encontra em primeiro plano não é a coisa, mas sim o devedor. Se este transferi-
la a terceiro, o credor não terá outro recursosenão cobrar do devedor perdas e danos. Não pode reivindicá-la do 
terceiro que a adquiriu, tendo de se contentar com a indenização a ser reclamada do devedor. 
 
3 – ABSOLUTISMO: 
Esse princípio pode-se dizer que o princípio do absolutismo tem duas vertentes, sendo uma verdadeira e a outra falsa. 
→ É fundamental perceber que o absolutismo dos direitos reais não decorre do poder ilimitado de seus titulares 
sobre os bens que se submetem a sua autoridade, podendo fruir do seu direito como quiser. Essa é uma 
percepção falsa. 
 
→ Atualmente, a ciência do direito relativizou a sacralidade da propriedade (antigamente o proprietário podia 
usar, gozar e dispor de forma absoluta, inatingível, sem nenhuma obtemperação). Como qualquer outro 
direito fundamental, ordenamento jurídico a submete a uma série de limitações (ponderação de valores). 
 
Ex.: Se uma pessoa for proprietária de uma fazenda ela não pode queimar a fazenda, cimentar a fazenda – 
existem dezenas de limites ao exercício da propriedade (no direito ambiental, no direito eleitoral, no direito 
administrativo). Portanto, falar que os direitos reais são absolutos, nesse viés, é uma assertiva falsa, já que 
nenhum direito é absoluto. 
Portanto, o absolutismo a que aqui se refere se insere em outra ordem. 
→ O absolutismo se refere à oponibilidade erga omnes dos direitos reais, de modo que eles acarretam sujeição 
universal ao dever de abstenção sobre a prática de qualquer ato capaz de interferir na atuação do titular sobre 
o objeto. 
 Ou seja, quem é titular de um direito real pode, absolutamente, opor contra qualquer pessoa os 
seus direitos. Esses direitos são oponíveis a toda coletividade, de modo que todos se encontram 
vinculados a não perturbar o exercício do direito real. 
 
 Surge, daí, o direito de sequela ou jus persequendi, isto é, de perseguir a coisa e de reivindicá-la em 
poder de quem quer que se encontre, porque o direito segue a coisa. Direito de sequela é o que tem 
o titular de direito real de seguir a coisa em poder de todo e qualquer detentor ou possuidor. 
 
O princípio do absolutismo, portanto, traz a oponibilidade erga omnes – contra todos – que venham ameaçar ou 
efetivamente prejudicar o titular do direito real. 
 
4 – PUBLICIDADE OU VISIBILIDADE: 
- Como consequência do princípio do absolutismo (oponibilidade erga omnes), surge o princípio da publicidade, por 
excelência para os bens imóveis. Os direitos reais sobre imóveis só se adquirem com o registro, no Cartório de 
Registro de Imóveis, do respectivo título (CC, art. 1.227. 
→ Isso, pois, os direitos reais só serão assim considerados (em sua integralidade e potência – podendo ser 
exercidos contra todos) se forem publicizados. Caso contrário, será um direito real minimizado pelo déficit 
de informações e consequente perda de credibilidade em relação aos terceiros. 
 
→ Assim, pelo registro do título aquisitivo (art. 1.227 do CC) é acautelada a segurança nas transações imobiliárias 
e também resguardada a boa-fé do adquirente do direito real e de terceiros que com ele se relacionarem. 
Mesmo nas situações em que o direito real seja constituído por outras vias (v. g., sucessão, usucapião ou 
acessão), ao modo de aquisição sempre se seguirá o registro no Cartório de Imóveis, com a função precípua 
de alardear a publicidade ao direito real. 
 
 Portanto, todos os direitos reais devem ser públicos, uma vez que todos devem ter conhecimento da 
existência do direito real. Essa publicidade decorre da necessidade de cognoscibilidade de todas as 
relações jurídicas que devam produzir efeitos perante terceiros, promovendo maior segurança jurídica e 
prestígio à boa-fé de terceiros que desejam conhecer a existência de direitos. 
Portanto, todos devem ter conhecimento da existência do direito real, e a publicidade vem para tal fim. 
OBS: no caso de bens móveis, basta a efetiva tradição do bem (CC, arts. 1.226 e 1.267). 
 
 
5 – TIPICIDADE OU TIPIFICAÇÃO: 
O princípio da tipicidade impõe que um direito real, para ser invocado, deve estar previsto em lei. Não há direito 
real sem lei anterior que o defina. Utiliza-se, no Brasil, a técnica do numerus clausus, ou seja, há uma enumeração 
taxativa na lei sobre o que é considerado direito real. 
→ Portanto, os direitos reais existem de acordo com os tipos legais. São definidos e enumerados determinados 
tipos pela norma, e só a estes correspondem os direitos reais, sendo, pois, seus modelos. 
 
→ Somente os direitos “constituídos e configurados à luz dos tipos rígidos (modelos) consagrados no texto 
positivo é que poderão ser tidos como reais. Estes tipos são previstos pela lei de forma taxativa”. 
 
 Portanto, o legislador trouxe para si o monopólio de constituir os direitos reais, devendo estes 
estarem sempre previstos em lei. 
 
OBS: Nos direitos obrigacionais, ao contrário, admitem-se, ao lado dos contratos típicos, os atípicos, em número 
ilimitado 
 
6 – PERPETUIDADE: 
- A propriedade é um direito perpétuo, pois não se perde pelo não uso, mas somente pelos meios e formas legais: 
desapropriação, usucapião, renúncia, abandono etc. 
OBS: Já os direitos obrigacionais, pela sua natureza, são eminentemente transitórios: cumprida a obrigação, 
extinguem-se. Não exigido o seu cumprimento dentro de certo lapso de tempo, prescrevem. 
→ Portanto, os direitos reais são inconsumíveis, ou seja, eles se perpetuam no tempo. E mais, a morte do seu 
titular, por si só, não gera a extinção do direito real: 
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. 
 A sucessão é aberta com a morte. Nesse sentido, com a morte de alguém, automaticamente (ou 
imediatamente), todas as propriedades do falecido são transferidas para seus herdeiros legítimos e 
testamentários (herdeiros previstos na lei ou herdeiros previstos em testamento). 
 
 A propriedade, portanto, não se extingue/consome com a morte e a propriedade é um direito real, o 
que a faz ser permanente e/ou inconsumível. Ela se perpetua no tempo (não se acaba com a morte). 
 
Obs.: Quando ocorre um desmembramento dos direitos reais, esse direito real desmembrado adquire caráter 
temporário // não perpetuo? Os direitos reais sobre coisas alheias são eminentemente temporários. Portanto, o 
usufruto, por exemplo, se extinguirá com a morte do usufrutuário; a hipoteca, se extinguirá com a quitação da dívida. 
Ou seja, com o passar do tempo, os direitos reais sobre as coisas alheias tendem a se extinguir. 
 
7 – EXCLUSIVIDADE: 
O princípio da exclusividade impõe que não se pode constituir direitos reais idênticos sobre a mesma coisa. Ex.: 
coproprietários, por exemplo, são donos de apenas uma parcela da coisa, não da integralidade ao mesmo tempo. 
→ Portanto, esse princípio quer dizer que 2 pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, derivado com 
exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real. Assim, não é possível instalar-se direito real onde 
outro já exista. 
OBS: Note-se que, no concurso entre diversos titulares de direitos reais sobre o mesmo bem - v. g., várias hipotecas 
no mesmo imóvel - aplica-se o brocardo prior tempore potior jure (primeiro no tempo, melhor no direito), 
prevalecendo o direito ao crédito por parte daquele que registrou o direito real com antecedência (art. 1.476 do 
CC). 
 
8 – DESMEMBRAMENTO: 
O princípio do desmembramento prevê que, sobre uma mesma coisa, podem ser exercidos vários direitos reais, por 
sujeitos diferentes. Ou seja, o direito real pode ser desmembrado em direitos reais menores. Ex.: A propriedade 
plena, por exemplo, poderá ser desmembrada em parcelas menores (usufruto, servidão, etc.). 
→ Portanto, o domínio (poder do titular sobre a coisa) é suscetível de desmembramento em diversos direitos 
fragmentados, que se manifestam conforme as variadas atividades desenvolvidas pelo homem sobre as 
coisas. Cada poder do domínio que é desmembrado culminapor constituir um novo direito real. 
 Assim, apesar de no direito brasileiro não se admitir pluralidade de domínios, pode ele se desdobrar 
em várias parcelas, em prol de outras pessoas. 
Exemplo: Nada impede que o titular do direito de propriedade fracione os poderes do domínio em favor de um credor 
hipotecário e de um usufrutuário, simultaneamente. No primeiro caso, o credor hipotecário terá o poder de disposição 
sobre o bem em caso de inadimplemento da obrigação garantida pela hipoteca. No segundo caso, o usufrutuário 
poderá usar e fruir da coisa, apesar de a titularidade ainda remanescer na pessoa do nu-proprietário. 
 Portanto, a possibilidade de desmembramento é manifestação derivada da decomposição dos diversos 
poderes jurídicos contidos na esfera dominial. Ex.: no usufruto o nu-proprietário se vê despido dos 
poderes de uso e gozo da coisa, porém mantém a faculdade de disposição, a despeito dos atributos 
dominiais concedidos ao usufrutuário. 
 
 
OBSERVAÇÃO – DIREITO DE PREFERÊNCIA: 
Presente predominantemente nos direitos reais de garantia, consiste no privilégio do titular do direito real em 
obter o pagamento de um débito com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Havendo o 
concurso de diversos credores, a coisa dada em garantia é subtraída da execução coletiva, pois o credor real, v. g., 
pignoratício, anticrético ou hipotecário, prefere a todos os demais. 
 O credor pignoratício é a pessoa com a qual fica estabelecido o penhor de coisa móvel como garantia, 
portanto, é a pessoa que recebe e pode contar com os benefícios proporcionados por esse penhor. 
 
 O credor hipotecário é aquele que dá como garantia do débito um bem imóvel. 
 
 Anticrese é o contrato em que o devedor entrega um imóvel ao credor, transferindo-lhe o direito de 
auferir os frutos e rendimentos desse mesmo imóvel para compensar a dívida; consignação de 
rendimento 
Ex.: A concede o seu imóvel em hipoteca em prol de B, como garantia de um contrato de mútuo e, posteriormente, 
torna-se inadimplente. O fato de o devedor A ter contraído débitos com vários outros credores não é algo 
significativo para o credor B. Com efeito, encontrando-se o imóvel afetado a seu poder imediato, terá o credor B 
preferência em receber. Caso, após a arrematação e satisfação do crédito preferencial, ainda remanesça alguma 
quantia, poderá o restante ser partilhado entre os credores quirografários. 
 É importante ressaltar que a preferência de direito real localiza-se apenas no valor dos bens 
especificamente afetados para o pagamento da dívida. No tocante ao restante do patrimônio do devedor, 
não subsiste qualquer preferência para o titular do direito real. Aliás, alienado o bem que se encontrava 
afetado pelo direito real e sendo insuficiente o valor apurado para a satisfação do credor, converte-se ele 
em quirografário pelo saldo restante (art. 1.430 do CC). 
 
 Ademais, note-se que, no concurso entre diversos titulares de direitos reais sobre o mesmo bem- v. g., 
várias hipotecas no mesmo imóvel-; aplica-se o brocardo prior tempore potior jure (primeiro no tempo, 
melhor no direito), prevalecendo o direito ao crédito por parte daquele que registrou o direito real com 
antecedência (art. 1.476 do CC). 
 
Portanto, o credor com garantia real tem o direito de receber do preço obtido na execução da coisa onerada, de 
preferência a qualquer outro, de modo geral, o quanto baste para o seu pagamento integral. Se o preço for 
insuficiente, continuará credor sem privilégio, do que faltar. A sua condição quanto a essa parte será, assim, a de 
credor quirografário. 
 
Importante: É notório que a preferência dos direitos reais vem perdendo destaque nos tempos atuais, em razão do 
advento dos chamados privilégios legais, instituídos em atenção ao interesse público voltado a créditos de grande 
repercussão social, como os acidentários e trabalhistas. 
→ Os privilégios legais são direitos obrigacionais que o legislador acolhe como prioritários para a sociedade. São 
créditos originariamente quirografários, que culminam por ultrapassar os direitos reais, quando da verificação 
de créditos em um concurso de credores. 
 
→ As duas categorias são inconfundíveis, pois, enquanto os privilégios criados pelo direito positivo recaem 
indistintamente sobre todo o patrimônio do devedor'- exceto os bens impenhoráveis -, a preferência de 
direito real localiza-se apenas no valor dos bens especificamente afetados para o pagamento da dívida. No 
tocante ao restante do patrimônio do devedor, não subsiste qualquer preferência para o titular do direito 
real. Aliás, alienado o bem que se encontrava afetado pelo direito real e sendo insuficiente o valor apurado 
para a satisfação do credor, converte-se ele em quirografário pelo saldo restante (art. 1.430 do CC). 
 
Em razão dos privilégios, por exemplo, créditos trabalhistas e créditos acidentários possuem primazia da 
satisfação do crédito, em detrimento de créditos com garantia real (art. 84, I-D, Lei nº 11.101/05). 
 
 
 
Situações intermediárias entre direitos reais e pessoais (Obrigações propter rem / AMBULATÓRIAS) 
- A obrigação propter rem trata-se de uma figura híbrida ou intermediária, que se situa entre o direito pessoal e o 
direito real. Tratam-se de prestações impostas ao titular de determinado direito real pelo simples fato de assumir 
tal condição, de modo que a pessoa do devedor será individualizada única e exclusivamente pela titularidade de um 
direito real. 
 
→ Obrigação propter rem é, portanto, a que recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito real. 
Portanto, transferem-se a eventuais novos titulares do referido direito. 
 A obrigação propter rem está vinculada à titularidade do bem, sendo essa a razão pela qual será 
satisfeita determinada prestação positiva ou negativa, impondo-se sua assunção a todos os que 
sucedam ao titular na posição transmitida. A obrigação nasce com o direito real e com ele se extingue. 
 
Ex.: despesas condominiais; obrigações da convenção de condomínio; obrigações ambientais na propriedade; 
obrigações tributárias (IPTU, IPVA); deveres entre vizinhos; despesas de conservação da coisa comum, etc. 
 
→ Nas obrigações propter rem, como a assunção decorre da titularidade da coisa, ao devedor será concedida, 
em certos casos, a faculdade de se libertar do vínculo, renunciando ao direito real em favor do credor. Trata-
se do chamado abandono liberatório ou renúncia liberatória. 
 
 RENÚNCIA PELO ABANDONO (“RENUNCIA LIBERATÓRIA” ou “ABANDONO LIBERATÓRIO”): é a 
faculdade de se liberar do vínculo renunciando o direito real em favor do credor. Isso por surgir 
justamente dessa relação de titularidade a um direito real, isto é, ter origem normativa na existência 
de uma situação jurídica de titular do bem. 
OBS: Nas obrigações pessoais é impossível o abandono, pois a obrigação segue a pessoa, onde quer que 
ela vá, e não o objeto. 
 
 Esquematicamente, portanto, pode-se apresentar 3 características das obrigações “propter rem”: 
 
a) Determinação indireta do devedor da obrigação – relação de titularidade do objeto (a pessoa do 
devedor é individualizada única e exclusivamente pela titularidade do direito real). 
 
b) Transmissão ao sucessor: a obrigação se transfere a eventuais novos titularidades do direito. 
 
c) Possibilidade de abandono liberatório. 
 
OBS – diferença direitos reais x obrigações propter rem: São obrigações que surgem atreladas a direitos reais, mas 
com eles não se confundem, em sua estruturação. Enquanto estes representam ius in re (direito sobre a coisa, ou na 
coisa), essas obrigações são concebidas como ius ad rem (direitos por causa da coisa, ou advindos da coisa). 
OBS 2: é lícito convencionar que obrigações propter rem sejam solvidas pelo possuidor da coisa. Certamente, o 
referido acordo é ineficaz relativamente a terceiros. Por exemplo, é lícito o negócio jurídico envolvendo o repasse dos 
encargoscondominiais ao locatário, sem que isso implique transferência da obrigação real, ou alteração de sujeição 
passiva, mas apenas um acordo de vontades restrito aos contratantes. Contudo, havendo inadimplemento de cotas 
condominiais pelo locatário, o prédio responsabilizará o proprietário e este, por sua vez, fará uso do instrumento 
contratual para obter direito de regresso em face do locatário. 
 
 É imprescindível conhecermos a distinção entre as obrigações propter rem e ônus reais. 
A diferença prática entre ônus reais e obrigações propter rem está em que, quanto a estas, o titular só fica 
vinculado às obrigações constituídas na vigência de seu direito, enquanto nos ônus reais o titular da coisa fica 
obrigado mesmo em relação as prestações anteriores por suceder na titularidade de uma coisa a que está 
visceralmente unida a uma obrigação. 
→ Portanto, enquanto as obrigações propter rem afetam o titular da coisa ao tempo em que se constitui a 
obrigação, nos ônus reais o adquirente posterior se responsabilizará por débitos contraídos pelo titular 
anterior, mas lhe é salvo ação de regresso. 
 Assim, alienado o imóvel com a existência de débitos, o novo proprietário assumirá os encargos 
em atraso, mesmo que a dívida tenha sido gerada pelo alienante. Os ônus reais são ambulatórios 
- movimentam-se de um titular a outro, não constituem dívidas do proprietário A ou B, mas sim 
encargos da própria coisa. 
 
Nesse sentido é a letra do art. 1.345 do Código Civil: "O adquirente de unidade responde pelos 
débitos do alienante em relação ao condomínio, inclusive multas e juros moratórios". 
OBS: A ação de regresso é o direito conferido àquele que ressarcir o dano causado por outrem de 
reaver o que houver pago daquele por quem pagou. Nesse caso, portanto, a ação de regresso é o 
direito conferido ao titular do direito real de pleitear uma ação, contra o verdadeiro responsável pela 
dívida (titular anterior), para que ele seja indenizado pelo valor das dívidas inadimplidas. 
 
Ex.: Assim, alienado o imóvel com a existência de débitos, o novo proprietário assumirá os encargos 
condominiais e tributários em atraso, respectivamente perante o condomínio e a municipalidade, mesmo que 
a dívida tenha sido gerada pelo alienante. 
 
Embora controvertida a distinção entre ônus reais e obrigações propter rem, costumam os autores apontar as 
seguintes diferenças: 
a) Em regra, nas obrigações propter rem, o titular da coisa só responde, em princípio, pelos vínculos constituídos 
na vigência do seu direito. Nos ônus reais, porém, o titular da coisa responde mesmo pelo cumprimento de 
obrigações constituídas antes da aquisição do seu direito. 
 
b) Nas obrigações propter rem o proprietário devedor responde com todo o seu patrimônio, ilimitadamente, 
pois é este que se encontra vinculado; já nos ônus reais, a responsabilidade pelo ônus real é limitada ao bem 
onerado, não respondendo o proprietário além dos limites do respectivo valor. 
 
c) os ônus reais desaparecem, perecendo o objeto, enquanto os efeitos da obrigação propter rem podem 
permanecer, mesmo havendo perecimento da coisa; 
 
d) Os ônus reais permitem ação de regresso. 
 
e) nos ônus reais, a ação cabível é de natureza real (in rem scriptae); nas obrigações propter rem, é de índole 
pessoal. 
 
Exemplo: Pedro vende um imóvel para Renato no dia 1 de fevereiro de 2020 e Renato, desavisado, após comprar o 
imóvel, descobre que existem 12 meses de atraso de taxas condominiais (no valor de 100 por mês) e de 1 parcela de 
IPTU (1200 reais por ano). Renato, após tomar a posse do bem, também fica 6 meses inadimplente. O imóvel vale 
100.000 reais. 
 De quanto é o valor das obrigações propter rem? Quanto se referem às obrigações e quanto se referem aos ônus 
reais? 
 Renato deve no total 3600 reais = 1200 reais de taxa condominial (12x100) + 1200 reais de IPTU (1 parcela de 
1200) + 1200 (6 meses inadimplente de taxa condominial + 6 meses IPTU). Nesse sentido, desse total, existem 2400 
reais de ônus reais, referentes às dívidas inadimplidas por Pedro quando era dono, que cabem ação de regresso, e 
apenas 1200 reais de obrigações mistas que são dever de Renato que não cabem ação de regresso pois não são ônus 
reais (dívida contraída enquanto ele era titular) 
 
Conclusão: Em razão da existência de um direito real, surgem obrigações próprias das coisas, isto é, o titular, junto 
ao direito de propriedade, possui obrigações com terceiros. Na hipótese de transferência do bem, ocorrerá, 
também a transferência das obrigações propter rem ao novo titular que também herda as obrigações propter rem 
do antigo titular na forma de ônus reais (limitados ao valor do bem e que desaparecem pelo abandono da coisa). 
 
DA POSSE (IUS POSSESSIONIS) 
➢ ORIGEM, CONCEITO E OBJETO 
O ius possessionis ou o juízo possessório é o estudo do direito possessório. 
- ORIGEM: A origem da posse é historicamente justificada no poder físico sobre as coisas e na necessidade do homem 
de se apropriar de bens. 
- O nosso direito protege não só a posse correspondente ao direito de propriedade e a outros direitos reais como 
também a posse como figura autônoma e independente da existência de um título (ius possessionis). Se ele é 
realmente o titular, como normalmente acontece, resulta daí a coincidência da titularidade e do exercício (ius 
possidendi). Portanto: 
→ Juízo Possessório (ius possessionis): é tão somente o direito fundado no fato da posse (é o direito DE posse) 
e sua possibilidade de proteção contra terceiros. Ex.: Se alguém instala-se em um imóvel e nele se mantém, 
mansa e pacificamente, por mais de ano e dia, cria uma situação possessória, que lhe proporciona direito a 
proteção. 
 
→ Juízo Petitório (ius possidendi): trata-se do direito À posse, decorrente do direito de propriedade, ou seja, é 
o próprio domínio. Ou seja, é o direito à posse conferido ao portador de título devidamente transcrito. Nesse 
caso, a posse não tem qualquer autonomia, constituindo-se em conteúdo do direito real. 
 
OBS: Tanto no caso do jus possidendi (posse causal, titulada) como no do jus possessionis (posse autônoma 
ou formal, sem título) é assegurado o direito à proteção dessa situação contra atos de violência, para garantia 
da paz social. 
 
 
 
 
 
 
 
Importante: 
 
Se o possuidor não é realmente o titular do direito a que a posse se refere, das duas uma: 
 
a) o titular abstém-se de defender os seus direitos e a inércia vai consolidando a posição do possuidor, que acabará 
eventualmente por ter um direito à aquisição da própria coisa possuída, por meio da usucapião; ou 
 
b) o verdadeiro titular não se conforma e exige a entrega da coisa, pelos meios judiciais que a ordem jurídica lhe 
faculta, que culminam na reivindicação e permitem a sua vitória. Enquanto não o fizer, o possuidor continuará a 
ser protegido. Assim, se o titular do direito não toma a iniciativa de solicitar a intervenção da pesada máquina 
judicial, as finalidades sociais são suficientemente satisfeitas com a mera estabilização da situação fundada na 
aparência do direito 
 
 
➢ ORIGEM HISTÓRICA DA POSSE 
A origem da posse é historicamente justificada no poder físico sobre as coisas e na necessidade do homem de se 
apropriar de bens. Diversas teorias procuram a partir de então justificar a necessidade de proteção à posse. 
→ Nada obstante, a cultura jurídica da modernidade é profundamente influenciada pelas teorias de Savigny e 
Ihering. Cada qual fornece elementos de identificação dos limites da tutela da posse, individualiza, a seu 
modo, as figuras do possuidor e do detentor e procura justificar a essência da proteção possessória. 
 
 
1. Teoria subjetiva (clássica) de Savigny – corpus e animus domini 
- Para Savigny, a posse caracteriza-se pela conjugação de dois elementos: 
a) o corpus, elemento objetivo que consiste na detenção física/controle material da coisa. É o bem corpóreo,o 
corpo físico. 
 
 não se trata essa apreensão de mero contato corporal com o bem, mas da disponibilidade física, no 
sentido da possibilidade do indivíduo de agir imediatamente sobre a coisa e dela afastar toda a ação 
de estranhos 
 
b) o animus domini, elemento subjetivo, que consiste na intenção do possuidor de exercer o direito como se 
proprietário fosse, de sentir-se o dono da coisa, mesmo não sendo. Não basta deter a coisa (corpus), mas 
haver uma vontade de ter a coisa para si. 
 
 Não é propriamente a convicção de ser dono, mas a vontade de tê-la como sua, de exercer o direito 
de propriedade como se fosse o seu titular. Trata-se do aspecto psíquico, volitivo, anímico ou 
subjetivo. Contudo, também se trata de um aspecto comportamental (não basta o aspecto psíquico, 
deve-se agir de acordo com essa vontade – agir como se fosse dono). 
 
 Pode ser explicado pela seguinte expressão: “quem pensa que é dono, se comporta como se dono 
fosse”. 
 
 Os dois citados elementos são indispensáveis, pois, se faltar o corpus, inexiste posse, e, se faltar o animus, 
não existe posse, mas mera detenção. A teoria se diz subjetiva em razão deste último elemento. 
- Portanto, para Savigny adquire-se a posse quando, ao elemento material (poder físico sobre a coisa), vem juntar-
se o elemento anímico (intenção de tê-la como sua). Ou seja, só é possuidor quem tem em suas mãos um corpus e 
tem animus domini. 
→ Para Savigny, os dois elementos agregam-se em singela fórmula matemática: P = C + A. 
 Excepcionalmente, nas situações em que alguém atue materialmente sobre a coisa sem o animus, 
cogitar-se-ia de mera detenção (v. g., locatário, comodatário, usufrutuário e -outras pessoas que 
entraram na coisa em virtude de relação jurídica). Os detentores não fariam jus à tutela possessória, 
justamente pela carência do elemento volitivo 
 
OBS - Critica-se, na teoria subjetiva, a exacerbação do papel da autonomia da vontade pela incondicionada ligação da 
posse ao animus domini. Essa visão restrita e unitarista camufla o ser humano concreto, capaz de se manifestar em 
uma pluralidade de relações possessórias, nas quais não releva o exame do animus domini, mas sim a proteção à 
moradia, ao trabalho e a defesa incondicional dos direitos da personalidade e da dignidade da pessoa humana. 
 
 
2. Teoria objetiva de lhering – corpus e exteriorização de ato de domínio 
- A teoria de Rudolf von Ihering é por ele próprio denominada objetiva porque não empresta à intenção, ao animus, 
a importância que lhe confere a teoria subjetiva. 
→ Para ele, o animus já se encontrava incluído no corpus, uma vez que animus, para este autor, é a consciência 
e a vontade do corpus, razão pela qual se acham ambos indissoluvelmente ligados. 
 
- Para Ihering, portanto, a posse é mero exercício da propriedade. 
→ A teoria objetiva indica que a posse é reconhecível externamente, independentemente de qualquer 
manifestação volitiva do possuidor, sendo suficiente que ele proceda em relação à coisa como se 
comportaria o proprietário em relação ao réu que é seu. 
 
 Ou seja, não é o elemento psicológico que revela a posse, mas sim como o poder fático do agente 
sobre a coisa se revela exteriormente. Assim, a posse se extrai da sua conduta visível diante da coisa. 
 
 Assim, torna-se despiciendo perquirir qualquer aspecto anímico do possuidor que não se traduza em 
um comportamento visível de exteriorização do domínio. Importa apenas o fato de o possuidor agir 
como agiria o proprietário, concedendo destinação econômica ao bem, fazendo valer a finalidade 
para a qual é naturalmente vocacionada. 
 
- Portanto, para essa teoria, para que a possa exista, basta o elemento objetivo, pois ela se revela na maneira como 
o proprietário age em face da coisa (conduta de dono). É a exteriorização da propriedade, a visibilidade do domínio, 
o uso econômico da coisa. 
→ Ou seja, SEGUNDO IHERING PARA TER POSSE É NECESSÁRIO TER CORPUS E EXTERIORIZAÇÃO DE ATO DE 
DOMÍNIO. É uma questão de visibilidade, de exteriorização de ato de domínio. 
 
 
 
 
 
 
➢ DEFINIÇÃO DE POSSE PERANTE O CÓDIGO CIVIL 
- O Código Civil de 2002 filia-se à teoria objetiva. Predomina na definição de posse a concepção de que sempre que 
haja o exercício dos poderes de fato, inerentes à propriedade, existe a posse (a não ser que alguma norma diga que 
esse exercício configura a detenção e não a posse). 
→ O conceito de posse, no direito positivo brasileiro, indiretamente nos é dado pelo art. 1.196 do Código Civil, 
ao considerar possuidor “todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes 
inerentes à propriedade”. 
 
 O art. 1128 define quais são os poderes inerentes à propriedade: O proprietário tem a faculdade de 
usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a 
possua ou detenha. 
 
 Portanto, o proprietário tem quatro direitos: usar, gozar, dispor e reivindicar. Assim, pela letra do 
legislador, o possuidor é quem, em seu próprio nome, exterioriza alguma das faculdades da 
propriedade, seja ele proprietário ou não. 
 
 Ou seja, para ser possuidor, basta exercer, de fato, um desses direitos inerentes à propriedade. Ex.: 
se uma pessoa usa um bem (usar), se a pessoa recebe os frutos de um bem (gozar) ou se uma pessoa 
pode dispor de um bem, nesse país, essa pessoa tem a posse. 
 
Ex.: o apartamento que Élcio mora é dele e da mulher dele, Élcio é possuidor desse apartamento? 
Sim, e ele é possuidor porque ele está usando o apartamento, na medida em que ele mora no 
apartamento com a família dele. 
 
Ex. 2: A é locatário de um imóvel, enquanto M é proprietário deste mesmo imóvel (locador). M é 
possuidor do imóvel? Sim, porque M está gozando desse imóvel. Em contrapartida, A também é 
possuidor? Sim, porque A está usando o apartamento. Ocorre que nesse caso A é possuidor direto e 
M é possuidor indireto (art. 1197 CC). 
 
➔ Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em 
virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo 
o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. 
 
➔ O possuidor direto é aquele que tem contato físico com a coisa (o locatário é o possuidor 
direto e o locador o possuidor indireto; comodatário possuidor direto e comodante possuidor 
indireto; depositário possuidor direto e depositante possuidor indireto). 
 
Ex. 3: Mathaus, amigo de Élcio, está com dificuldade financeira e, devido a isso, Élcio deixou Mathaus 
morar gratuitamente no apartamento que Élcio tem pelo prazo de um ano – foi celebrado um contrato 
de comodato. Mathaus é possuidor daquele apartamento? Sim, porque ele está usando. Nesse 
mesmo momento, o comodante Élcio é possuidor do apartamento? Sim, uma vez que, embora ele 
não esteja usando e nem gozando, ele pode dispor, portanto ele é possuidor indireto. 
 
OBS: em outros dispositivos não significa que não se tenha aderido à teoria de Savigny, mas apenas que o CC/02 
aderiu, preponderantemente à teoria objetiva (ex. há nítida concessão à teoria subjetiva no tocante à usucapião como 
modo aquisitivo da propriedade que demanda o animus domini de Savigny). 
OBS 2: O possuidor não pode ajuizar ação reivindicatória, ele pode ajuizar apenas ação de reintegração de posse. 
Então se o possuidor perder a posse para um ladrão, por exemplo, para ele pegar de volta o bem, ele vai ajuizar uma 
ação de reintegração de posse. Se o proprietário, por sua vez, quiser recuperar a posse de um bem que foi dele 
retirado, por ser proprietário, ele vai ajuizar uma ação reivindicatória. 
 
 
➢ DETENÇÃO – detentor, fámulo da posse ou servidor da posse 
A detenção é uma posse degradada, juridicamente desqualificada pelo ordenamento vigente. O legislador entendeu 
que, em determinadas situações, alguém possui poder fático sobre a coisa sem que sua conduta alcance repercussãojurídica, a ponto de ser negada ao detentor a tutela possessória. 
→ Ou seja, o detentor não poderá manejar ações possessórias e nem tampouco alcançar a propriedade pela via 
da usucapião. Em síntese, a lei desqualifica a posse, transformando-a em mera detenção em determinados 
casos. 
 
Importante: 
1. o detentor não possui legitimidade para ajuizar ações possessórias em defesa de um esbulho, turbação ou 
ameaça sobre o bem; 
 
2. uma pessoa não pode ser, ao mesmo tempo, detentora e possuidora. O proprietário pode ser, ao mesmo 
tempo, detentor direto ou indireto, mas ou se é detentor ou se é possuidor; 
 
3. todas as pessoas que usam bens públicos são detentoras e não possuidoras. 
 
Em virtude da adoção da teoria objetiva, o ordenamento brasileiro reconhece quatro hipóteses (taxativas) de 
detenção: 
 
1. Os servidores da posse 
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva 
a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao 
bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. 
- Em conformidade com o art. 1.198 CC, servidores da posse (ou gestores da posse) são aquelas pessoas que detêm o 
poder físico sobre a coisa em razão de uma relação subordinativa para com terceiro. 
→ Enfim, é aquele que apreende o bem em cumprimento de ordens ou instruções emanadas dos reais 
possuidores ou proprietários. Também conhecidos como fâmulas da posse, exercitam atos de posse em nome 
alheio, como mero instrumento da vontade de outrem. 
 
EX.: É o eloquente exemplo do caseiro perante o bem imóvel. Note-se que o caseiro de uma fazenda, como 
servidor da posse que é, não concede destinação econômica à coisa, pois somente gerencia conforme 
instruções alheias. Se, eventualmente, permanecer com o poder físico sobre o bem móvel ou imóvel pelo 
correspondente prazo da usucapião – sempre em cumprimento de ordens -, quem adquirirá a propriedade 
por usucapião será o seu empregador, na qualidade de real possuidor, jamais o detentor a ele subordinado (a 
não ser que tenha reservado parte do imóvel alheio para exercer atos de exploração econômica no interesse 
pessoal, de modo que, em relação a essa área específica, será verdadeiro possuidor). 
 
Ex.: policial detentor da arma que porta, soldado em relação às armas e à cama do quartel; a dos funcionários 
públicos quanto aos móveis da repartição; a do preso em relação às ferramentas da prisão com que trabalha; 
a dos domésticos quanto às coisas do empregador; 
 
Ex.: contrato de depósito x depósito judicial - Não duvidamos que havendo contrato de depósito, o 
depositário do ·bem será possuidor imediato da coisa, por força do negócio jurídico de natureza obrigacional 
que lhe concede a· poder de fato temporário sobre o bem. Nada obstante, no depósito judicial, o depositário 
ordinariamente será qualificado como detentor, na medida em que exerce um múnus – uma função pública -
, sendo uma espécie de longa manus do magistrado no exercício da atividade de guarda do bem litigioso. 
 Em todas essas hipóteses, aduz, o que sobreleva é a falta de independência da vontade do detentor, que 
age como lhe determina o possuidor. Há uma relação de ordem, obediência e autoridade. 
 
OBS: Dentre os deveres do servidor da posse podemos destacar o de conservar a coisa sendo possível, todavia, exigir 
do possuidor a restituição das despesas de conservação e o de comunicar ao possuidor a quem represente sob 
eventual ato de moléstia a posse, sob pena de responder pelos danos ocasionados àquele. 
→ Embora não tenham o direito de invocar, em seu nome, a proteção possessória, não se lhes recusa, contudo, 
o direito de exercer a autoproteção do possuidor, quanto às coisas confiadas a seu cuidado, consequência 
natural de seu dever de vigilância. 
 
Importante: O detentor não possui legitimidade para ajuizar ações possessórias em defesa de um esbulho, 
turbação ou ameaça sobre o bem. Contudo, o detentor, na qualidade de longa manus do possuidor, certamente 
poderá exercer a pretensão defensiva pela via do desforço imediato ou da legítima defesa da posse - com a 
ressalva de que o faça em nome e proveito do terceiro que represente -, limitando-se os atos de autodefesa ao 
exercício dos meios moderados para a proteção da posse. 
 Nesse sentido se posiciona o Enunciado nº 493 do Conselho de Justiça Federal: "O detentor pode, no 
interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder": 
 
 
- Ademais, estipula o parágrafo único do art. 1.198 do Código Civil que "aquele que começou a comportar-se do modo 
como prescreve este artigo, em relação à coisa e à outra pessoa, presume-se detentor até que prove o contrário". 
→ Esse dispositivo autoriza a conversão da detenção em posse nas situações em que a pessoa que 
originariamente praticava os atos de posse em nome alheio passa a praticar atos possessórios em nome 
próprio, com autonomia. 
Ex.: hipótese de um empregado que é demitido, mas continua a ocupar a casa destinada aos funcionários, 
sem que o ex-empregador atue no sentido de retirá-lo do local. Um prolongado período de inação resultará 
na objetiva e inequívoca percepção de que se deu a mutação da natureza do poder fático sobre o bem. 
 
→ A norma em exame se relaciona imediatamente com o art. 1.204 do Código Civil: "Adquire-se a posse desde 
o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à 
propriedade". Ou seja, o detentor será alçado à posição de possuidor no momento em que exerça poder de 
fato sobre a coisa, desenvolvendo o comportamento normal que um proprietário teria sobre o bem. 
OBS: corrobora com esse pensamento o Enunciado nº 301 do Conselho de Justiça Federal: "É possível a conversão da 
detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos 
possessórios". 
 Certamente, o ônus da prova quanto à transmudação de detenção para a posse caberá ao ex-detentor e 
supostamente atual possuidor, sobremaneira pela demonstração do comportamento das partes quando 
havia dependência e, posteriormente, quando esta cessou. A efetiva demonstração da posse terá 
especial utilidade para conferir indispensável legitimidade ativa para o possuidor postular a pretensão de 
usucapião, contando-se o prazo a partir do início da efetiva prática dos atos possessórios. 
 
 Não se ignore, contudo, a via inversa. Ocasionalmente aquele que ostentava a condição de possuidor 
direito poderá se converter em detentor, como servidor da posse. Vamos supor que um comodatário 
comece a receber pagamentos periódicos do proprietário para fins de conservação do imóvel. A 
habitualidade dos atos de subordinação às instruções emanadas por parte daquele que originariamente 
era o possuidor indireto, terá o condão de romper com o vínculo negocial ordinário, transmudando a 
relação jurídica em um vínculo empregatício que impactará na consumação do fato jurídico da detenção 
sobre o bem. 
 
 
2. Os atos de permissão ou tolerância 
De acordo com a primeira parte do art. 1.208 do Código Civil: 
Art. 1.208. Não induzem posse (e sim induzem detenção) os atos de mera permissão ou tolerância assim como 
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 Situações de permissão ou tolerância não induzem posse pois, nesses casos, uma pessoa pratica atos 
detentivos sobre determinado bem, sem, contudo, alcançar a posição de possuidor, uma vez que não concede 
a visibilidade ao domínio, colocando-se em situação de dependência perante o real possuidor. 
Ex. permissão: o visitante que, a convite do possuidor, ·ocupa por alguns dias um dos quartos da residência, será 
detentor daquele aposento pelo período que lá permanece. 
Ex. tolerância:se B guarda o seu veículo na vaga de garagem de seu vizinho A sem qualquer permissão prévia, é 
possível caracterizar os atos materiais de utilização da coisa como de mera tolerância, tendo em vista que o usuário B 
tem a perfeita noção de que a passividade de A decorre de sua condescendência, sendo que essa atitude de 
benevolência é fundamental para que continue utilizando a vaga de garagem. 
- A permissão distingue-se da tolerância: 
a) pela existência, na primeira, do consentimento expresso do possuidor. Na tolerância, há uma atitude espontânea 
de inação, de passividade, de não intervenção. 
 Ou seja, enquanto a permissão nasce de autorização expressa do verdadeiro possuidor para que terceiro 
utilize a coisa, a tolerância resulta de consentimento tácito ao seu uso, caracterizando-se ambas pela 
transitoriedade e pela faculdade de supressão do uso, a qualquer instante, pelo real possuidor; 
 
 Quer dizer, a permissão é um comportamento positivo e prévio, de aquiescência à prática por outrem 
de atos de detenção sobre o bem; já a tolerância é a conduta negativa, de condescendência · perante a. 
prática de atos detentivos. 
 
b) por representar uma manifestação de vontade, embora sem natureza negocial; enquanto na hipótese de tolerância 
não se leva em conta a vontade do que tolera, sendo considerada simples comportamento a que o ordenamento 
atribui consequências jurídicas; 
 
c) por dizer respeito a atividade que ainda deve ser realizada, enquanto a tolerância concerne a atividade que já se 
desenvolveu ou que já se exauriu; 
 
 Na tolerância, o usuário obtém a apreensão material da coisa, independentemente de qualquer ordem direta 
do real possuidor, porém tem a consciência de que está sob a esfera de vigilância daquele que é 
condescendente com a sua atividade. 
 
IMPORTANTE: Em comum, na permissão e tolerância - ou seja, tanto por quem autoriza, como por aquele que não se 
opõe à ocupação -, formam-se relações jurídicas em que uma das partes se situa perante a outra verticalmente, em 
situação de poder, ensejando o chamado direito potestativo. 
→ A parte que se encontra em estado de submissão não ·poderá evitar que a outra, unilateralmente, 
desconstitua sua situação fática, deliberando pela cessação da prática de atos materiais sobre a coisa. Assim, 
o usuário encontra-se em situação de poder transitório e efêmero sobre a coisa, sempre revogável pelo real 
possuidor, inibindo eventual caracterização de posse. 
 
3. A prática de atos de violência ou clandestinidade 
Consoante a parte final do art. 1208 do CC, não autorizam a aquisição de posse: 
Art. 1.208. Não induzem posse (e sim induzem detenção) os atos de mera permissão ou tolerância assim como 
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
- Portanto, enquanto materialmente existentes, os atos de violência e clandestinidade impedem a aquisição da 
posse por parte de quem delas se aproveita, configurando-se os ilícitos perpetrados sobre a coisa como simples atos 
de detenção, só transmudando-se para a natureza de posse com a efetiva cessação de tais condutas antijurídicas. 
 Em suma, enquanto perdurar a violência ou a clandestinidade, não haverá posse. Cessada a prática de tais 
ilícitos, surge a posse injusta, viciada, assim considerada em relação ao precedente possuidor. Contudo, trata-
se de posse útil em relação à terceiros, de modo que os atos de posse daí por diante praticados constituirão 
o ponto de partida da posse útil, como se nunca tivesse sido eivada de tal vício. 
OBS: A injustiça da posse fica circunscrita ao esbulhado e ao esbulhador. Em relação às demais pessoas, o 
detentor, agora possuidor em virtude da cessação dos vícios iniciais, será havido como possuidor, iniciando-se a 
posse útil. 
Exemplo: Imagine-se que A pratique esbulho possessório em face de B. Este praticará atos de autodefesa, na tentativa 
de retornar ao poder físico sobre a coisa. Em todo o período em que A se mantiver na coisa, prevalecendo-se da 
violência contra B, será considerado como detentor. Assim, impede-se que o esbulhador A possa ajuizar ação 
possessória em face de B. A apenas terá a condição de detentor convertida em possuidor quando B desistir de retornar 
à posse do imóvel cessando, assim, o uso da violência. 
OBS: O possuidor é mais tutelado que o detentor, isto é, o possuidor tem mais proteção jurídica que o detentor. 
Todavia, é muito comum a intervenção de um caráter para outro (um possuidor se tornar um detentor e vice-versa). 
Então, se a pessoa é detentora porque ela está usando de violência, cessada a violência, ela adquire posse? A resposta 
é que sim, ela pode adquirir a posse, é possível um detentor se convolar em possuidor (a doutrina costuma chamar 
isso de convalescimento) e quando ele se tornar o possuidor, ele passa a ter a proteção possessória. 
Importante: diversamente do fâmulo da posse e daqueles que utilizam a coisa com base em permissão ou 
tolerância, os ocupantes que fazem uso da violência ou clandestinidade são titulares de uma especial modalidade de 
detenção, conhecida como detenção autônoma. Já os servidores da posse e permissionários exercem detenção 
dependente, pois são meros instrumentos da posse alheia. 
 Em outras palavras, a situação do fâmulo da posse e do detentor por permissão ou tolerância é de 
dependência a uma posse alheia, mesmo que uns satisfaçam interesses alheios e outros, interesses próprios. 
Todavia, quem usa da violência ou clandestinidade pratica atos com total autonomia. 
 
 A detenção dependente é lícita; a independente é ilícita. Cessada a prática dos atos de violência ou 
clandestinidade, surge a posse injusta, viciada, assim considerada em relação ao precedente possuidor. Desse 
modo, ainda que este, esbulhado há mais de um ano, não obtenha a liminar na ação de reintegração de posse 
ajuizada, deverá ser, ao final, reintegrado em sua posse. 
➔ Segundo o art. 558 do novo CPC, a concessão de liminar de reintegração de posse tem como 
requisito básico a comprovação de que o esbulho se deu a menos de um ano e dia. 
 
 Todavia, em relação às demais pessoas, o detentor, agora possuidor em virtude da cessação dos vícios iniciais, 
será havido como possuidor, podendo até mesmo fazer uso das ações possessórias. A injustiça da posse fica 
circunscrita ao esbulhado e ao esbulhador. 
OBS: também é possível a conversão de uma detenção dependente ou subordinada em detenção autônoma quando 
alguém que atuava em nome alheio, na qualidade de fâmulo da posse, pratica atos de violência para excluir do poder 
de fato sobre coisa a pessoa a quem antes prestava contas. Note-se que, se o possuidor excluído prontamente reagir, 
o detentor continuará sendo como tal considerado, enquanto a disputa perdurar (art.1.208 do CC). Mas, se o detentor 
prevalecer e excluir o antigo possuidor, converte-se em novo possuidor, porém, perante o seu predecessor, a posse 
será qualificada como injusta. 
 
➢ NATUREZA JURÍDICA DA POSSE 
A natureza da posse é uma das mais discutidas controvérsias que cercam a matéria. 
1. Savigny (fato e direito): para a teoria subjetiva, a posse teria natureza dúplice. Em princípio, seria mera 
situação fática. Considerada isoladamente, a posse é um fato, pois sua existência independe das regras de 
direito. Mas, certas condições atribuem a esse fato os efeitos de um direito pessoal por produzir 
consequências jurídicas (v. g., usucapião e ações possessórias). 
 Por essa visão combinada de posse como fato e direito, a Lição de Savigny denominou-se teoria 
eclética. 
 
2. Ihering (direito): para Ihering, posse é um direito. Apoia-se ele em sua própria definição de direito: “os direitos 
são os interesses juridicamente protegidos. Assim, a posse consiste em um interesse juridicamente protegido. 
Ela constitui condição da utilização econômica da propriedade, e por isso o direito a protege. É relaçãojurídica, 
tendo por causa determinante um fato. 
 
3. Clóvis Beviláquia (fato): Para Beviláquia, posse é um fato, uma vez que não tem autonomia, não tem valor 
jurídico próprio. O fato possessório não está subordinado aos princípios que regulam a relação jurídica no 
seu nascimento, transferência e extinção. 
 
 
A divergência permanece, agora, no tocante à sua exata colocação no Código Civil: 
O CC/02 tendo adotado o princípio do numerus clausus, também não inclui a posse no rol taxativo dos direitos reais. 
Portanto, para o CC, posse não é um direito real. 
→ Contudo, parte da doutrina diverge no sentido de atribuir à posse o caráter de direito real, ou de uma espécie 
de direito sui generis. 
 
 Apesar dessas divergências, o possuidor é tão importante quanto o proprietário. Não há hierarquia 
entre eles. Não há mais tutela jurídica do possuidor em detrimento do proprietário ou vice-versa. 
 
 
Modalidades de posse 
- A posse é classificada em: 
→ direta e indireta; 
 
→ justa e injusta; 
 
→ de boa-fé e de má-fe; 
 
→ nova e velha; 
 
→ natural e civil; 
 
→ ad interdicta e ad usucapionem; 
 
→ posse simples e composse. 
 
1. Direta e Indireta = concorrência de posses – 1197 
 
A posse pode ser desmembrada, de modo que existam, ao mesmo tempo, posses paralelas – um possuidor não 
anula outro possuidor. Neste caso, haverá um possuidor direto, e um possuidor indireto: 
a) Possuidor direto: o possuidor direto é aquele que tem contato físico com a coisa, é aquele que está usando a 
coisa ou o corpus. Ou seja, a posse direta incide imediatamente sobre a coisa corpórea. 
Ex.: O locatário, comodatário, depositário, devedor fiduciante e por aí vai são exemplos de possuidores diretos. 
b) Possuidor indireto: é aquele que é possuidor, mas não tem contato físico com o corpus. É possuidor poque 
goza, ou porque dispõe, ou ambos. Ex.: Credor fiduciante, locador, comodante, depositante, etc. 
 
- A posse direta e indireta são uma decorrência do fenômeno do desmembramento da posse, que se verifica quando 
o proprietário, efetivando uma relação jurídica obrigacional com terceiro, transfere-lhe o poder de fato sobre a coisa. 
Apesar de não mais se manter na apreensão da coisa, o proprietário continuará sendo reputado possuidor, só que 
indireto. 
→ Assim, por força de uma relação jurídica travada entre o proprietário e um terceiro, detecta-se o 
desmembramento da posse em direta e indireta. Nesse caso, o proprietário (que permite que um terceiro 
apreenda a coisa), se mantém como possuidor indireto, enquanto o terceiro assume a posição de possuidor 
direto. 
IMPORTANTE – posse plena: registre-se que somente será possível falar em posse direta quando houver uma indireta 
e vice-versa. Com isso, o proprietário que estiver apreendendo a coisa consigo (é o exemplo do proprietário que 
reside na sua casa) não será possuidor direto, pois não existirá, na hipótese, uma posse indireta. Será um caso de 
posse plena, pois não houve o desdobramento da posse. 
 Não se cogita, portanto, o desdobramento da posse quando o proprietário reserva para si a propriedade 
plena. Nesse caso, sua posse é consequência das faculdades de uso e gozo inerentes aos poderes do domínio. 
Será proprietário possuidor. 
 
 É importante reforçar que também não se aperfeiçoa à ideia de desdobramento da posse quando sua 
aquisição se dá independente de qualquer relação jurídica com o titular. Daí, a pessoa que ingressa em 
imóvel abandonado não ser considerada possuidora direta, mas pura e simplesmente possuidora. 
 
Diante disso, conclui-se que o desdobramento da posse só se verifica quando faculdades que integram o 
domínio são transferidas a outra pessoa, para que a utilize como decorrência de relação jurídica de direito 
real (v. g., penhor, usufruto, propriedade fiduciária) ou obrigacional (v. g., comodato, locação). 
 Ou seja, todas as vezes que um bem sai das mãos do proprietário em razão de uma relação jurídica, 
há desmembramento da posse (posses paralelas // posses simultâneas). 
 
OBS: cabe enfatizar que não há desmembramento da propriedade, mas sim desmembramento da posse. Contudo, 
pode existir mais de um proprietário sobre a mesma coisa (coproprietários). Portanto, não há que se confundir posse 
com propriedade. 
 
- O art. 1.197 CC define a posse direta e a indireta: 
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito 
pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua 
posse contra o indireto. 
 POSSE DIRETA 
 
→ Em conformidade com o art. 1.197 do CC, posse direta ou imediata, é a que adquire o não proprietário, 
correspondente à apreensão física da coisa. 
 
 A posse direta é marcada pela temporariedade, pois o desdobramento da posse baseia-se em relação 
transitória de transferência de poderes dominais. De fato, em algum momento, a relação jurídica real 
ou obrigacional que deu margem ao desdobramento atingirá seu termo final, e a posse íntegra volverá 
ao proprietário. 
Exemplo: se A concede o bem em comodato a B por quatro anos, este será possuidor direto nesse 
período. Findo o prazo, A recuperará as faculdades do domínio temporariamente cedidas a B. Ou seja, A 
deixará de ser possuidor indireto e retomará a condição originária de proprietário pleno 
 
 Ademais, a posse direta é também caracterizada como subordinada ou derivada, já que a atuação do 
possuidor direto é limitada ao âmbito dos poderes dominiais a ele transferidos pelo possuidor 
indireto, de acordo com a espécie de relação jurídica. 
 
 
 
 
 POSSE INDIRETA 
 
→ Posse indireta é a que o proprietário conserva quando temporariamente cede a outrem o poder de fato 
sobre a coisa. 
 
 Sendo o possuidor aquele que exerce de fato algum dos poderes inerentes ao domínio não se pode 
negar que com o proprietário remanescem algumas faculdades dominiais, sendo outras transmitidas 
ao possuidor direto. 
O exemplo flagrante da simultaneidade possessória e o da locação: locador e locatário gozam do bem ao 
mesmo tempo; enquanto o proprietário (possuidor indireto) recebe frutos civis (aluguéis), o inquilino 
(possuidor direto) poderá receber frutos naturais e/ou industriais. 
 
 Portanto, a posse direta não anula a posse indireta do proprietário. A essa coexistência pacífica decorrente 
do desdobramento da relação possessória, dá-se o nome de posses paralelas. 
 
- Com efeito, são várias as hipóteses de partição de posse hauridas no Direito das Obrigações, no Direito de Família 
e no Direito das Sucessões. Exemplificando: os pais exercem o usufruto legal sobre o patrimônio do filho menor 
(art.1.689, CC), o inventariante dirige o espólio (art. 1.991, CC). Todos eles exercitam a posse direta de bens sobre os 
quais, respectivamente, o filho e os demais herdeiros remanescem com a posse indireta. 
 
 
► DEFESA DA POSSE 
- Os possuidores direto e indireto defendem suas posses autonomamente contra terceiros, por meio das ações 
possessórias, independentemente de assistência mútua, dispensando, assim o litisconsórcio ativo necessário (se 
houver, será facultativo). 
Exemplo: Assim, se A invadir o imóvel que B locou para C, tanto o proprietário B como o locatário C poderão 
ajuizar os interditos possessórios em face do agressor A. 
Obs: Igualmente, com a finalidade de repelir com presteza atentados à posse, a ambos será deferida a autodefesa ou 
autotutuela (art. 1210, § 1 ", Código Civil), vez que os ·dois exercem de fato os poderes inerentes ao domínio. 
 
→ É importante ressaltar que o possuidor direto pode defender a posse mesmo contra o possuidor indireto, na 
vigência da relação jurídica, em virtude de qualquer agressão à sua posse (e vice-versa). 
 
 Enquanto perdurar a relação jurídica de direito real ou obrigacional temporária, a tutela possessória 
deferida ao possuidor direto será dirigida emface de erga omnes, incluindo-se no, polo passivo o 
próprio titular da propriedade, que eventualmente desrespeitar a Vigência do negócio jurídico. 
Ex.: se o proprietário A corta a energia ou água do locatário B para forçar a sua saída do imóvel, terá B 
legitimidade para impedir o ataque à posse pela via das ações possessórias. 
Observação: 
Usucapião é uma forma de aquisição da propriedade através da posse, mas uma posse com animus domini. Então 
é possível que um proprietário não exerça a posse direta e outra pessoa exerça a posse direta e que, de forma 
mansa, pacífica e ininterrupta com animus domini por determinado tempo (que pode ser de 15; 10; 5; 2 anos) 
aquela pessoa perca a propriedade e que o possuidor, pela via da usucapião, adquira a propriedade. 
 
 Contudo, o advertir que pode "o possuidor direto defender a suo posse contra o indireto", o art. 
1.197 do Código Civil perdeu a oportunidade de enunciar em sua parte final que a recíproca é válida 
em favor do possuidor indireto. Em suma, caso o possuidor direto pratique qualquer ato ilícito ao 
exercício dos poderes fáticos do possuidor indireto, este manejará os interditos possessórios. 
Ex.: Pode-se ilustrar com a conduta antijurídica do locatário que impede que o proprietário realize a 
vistoria do imóvel prevista em contrato, ou do comodatário que cometa atos de dilapidação do bem. 
- Enunciado nº 76 da Jornada de Direito Civil do Conselho Federal de Justiça é de clareza solar: "O 
possuidor direto tem de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele". 
 
 
 
OBS 1 – O desdobramento possessório pode ser em vários graus. Concebe-se, a viabilidade de, no mínimo, uma 
tripartição da posse. Assim, por exemplo, e inexistir cláusula de vedação à sublocação; o sublocatário do imóvel será 
o possuidor direto e o proprietário e o locatário serão possuidores indiretos 
 Conclui-se, do exposto, que nem sempre o possuidor indireto será o proprietário, pois, eventualmente, essa 
condição recairá sobre· o titular de um direito real ou obrigacional que cede a posse direta a um terceiro. 
Assim, poderá esse locador propor ação de despejo mesmo que não ostente a condição de proprietário, sendo 
suficiente a constatação de uma relação obrigacional no qual ocupa a posição de possuidor indireto. 
 
 Ademais, cabe ressaltar que a pretensão de restituição de coisa cujo uso foi cedido ao possuidor direto integra 
a esfera jurídica do possuidor indireto, de modo que pode ser cedida a terceiro, para que este a obtenha no 
momento devido. Disso decorre que o adquirente da coisa, que recebe a titularidade da posse indireta e se 
sub-roga na sua posição, pode ajuizar contra o possuidor direto ação possessória, se não houver a restituição 
no tempo devido. 
 
Ex.: se no curso do contrato de comodato o proprietário A vende o imóvel a B, este terá ação possessória 
contra o comodatário C que se recuse a restituir o bem ao término da relação obrigacional originariamente 
avençada com A. 
OBS 2– posse x detenção: a posse direta jamais se confunde com a detenção. O detentor não exerce atos possessórios, 
pois a sua atuação sobre a coisa não provém de uma relação jurídica de direito real ou obrigacional, capaz de deferir-
lhe autonomia, a ponto de conceder visibilidade ao domínio. O detentor não exerce o elemento econômico da posse, 
pois não pratica atos de posse em nome próprio, mas em nome alheio. 
 
 
2. Posse justa: nec vim, nec clam, nec precário – Critério objetivo - 1200 
 
- A posse pode ser qualificada como justa ou injusta, a depender da forma pela qual ocorreu sua aquisição. 
a) Posse justa: é aquela cuja aquisição não repugna o direito, sendo isenta de vícios de origem, posto não ter 
sido obtida pelas formas enunciadas no art. 1.200 do CC (violência, clandestinidade ou precariedade). 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. 
 
b) Posse injusta: é a que foi obtida mediante violência, clandestinidade ou precariedade. Ou seja, é a que se 
instala no mundo fático por modo proibido e vicioso, ou então, mesmo iniciada de forma pacífica e pública, 
se converte em viciosa em momento posterior. 
 
 Portanto, a posse injusta se subdivide em: 
 
1. Posse violenta: adquire-se pelo uso da força ou pela ameaça. Seja pelo uso da força bruta ou da intimidação, 
não se indaga se a violência foi praticada contra o real possuidor ou em face do servidor da posse (ex. caseiro), 
bem como os motivos que a inspiraram, pois o vício é objetivo, sendo bastante a aquisição ilícita da coisa. 
 
 Caso o possuidor que sofreu o ato de violência prontamente responda com sua própria força (art. 
1.210, §1º do CC), só poderá falar na aquisição da posse pelo agressor no instante em que cessar a 
reação de defesa. 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e 
segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que 
o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição 
da posse. 
 
 No período em que há o embate, o agressor é meramente um detentor, só se podendo cogitar a 
posse – que será injusta – quando o possuidor esbulhado não mais resistir à ocupação, pacificando-
se a ocupação que foi iniciada de forma violenta. 
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a 
sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
OBS – violência e bens abandonados: não é considerada violenta a posse caso o uso da força se justifique para a 
remoção de obstáculos físicos para ingresso em bens abandonados (v. g., destruição de cadeados ou supressão de 
cercas). Pensamos que só há violência quando o apossamento resulta de uma conduta contrária à vontade do 
possuidor, pelo fato de a coisa ser arrebatada de alguém que a isso se oponha. Havendo abandono do bem que é 
objeto de ocupação, não é crível pensar em uma presumida oposição por parte de um possuidor que se mostrou 
inerte no cuidado com aquilo que lhe pertencia 
 No caso de pessoas que entram em imóveis abandonados, não poderá se admitir a existência de um 
esbulho, posto praticado o ingresso na posse sem violência, clandestinidade ou precariedade. Apesar 
de inadmissível as ações possessórias, nada impedirá o manejo da ação reivindicatória pelo 
proprietário, com fundamento na titularidade do bem, evidenciada a injustiça da posse pelo fato de 
aquele que invadiu não ter uma causa eficiente que justifique o seu ingresso no bem alheio. · 
 
2. Posse clandestina: adquire-se às ocultas de quem exerce a posse atual, sem publicidade ou ostensividade, 
mesmo que a ocupação seja eventualmente constatada por outras pessoas. Portanto, a clandestinidade 
relevante se refere à clandestinidade em relação ao atual possuidor. 
 
 Pode acontecer de o possuidor se ausentar por algum tempo, sem praticar atos que materialmente 
denotem o abandono. E, nesse caso, que ocorrerá a posse clandestina. 
 
→ Não é suficiente o mero desconhecimento por parte de quem foi privado do bem para definir a conduta como 
viciosa. É necessário demonstrar que o sujeito agiu de forma sorrateira, pois deseja camuflar o ato de 
subtração daquele que é esbulhado, praticando condutas que evidenciam mantê-lo em situação de completa 
ignorância diante do fato. Não basta, pois, a ignorância do possuidor para configurar a clandestinidade. 
 
Ex.: invasão de casa de praia fora de temporada de férias ou alteração de marcos que realizam a divisa entre 
dois imóveis. 
→ É importante ressaltar que não há posse clandestina: a publicidade é um pressuposto da posse na medida em 
que ela é um poder fático que se manifesta pela exteriorização de atos materiais. Portanto,

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