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1 Materiais nao convencionais final

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA 
 
 
 
 CONSIDERAÇÕES SOBRE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 
INDUSTRIALIZADOS E OS NÃO CONVENCIONAIS 
 
 
 
 
Normando Perazzo Barbosa 
 
 
 Professor Titular, Doutor, do Departamento de Tecnologia da Construção Civil 
Centro de Tecnologia, Universidade de Federal da Paraíba 
Cidade Universitária 
58059-900 João Pessoa – PB 
email: nperazzo@lsr.ct.ufpb.br 
 
 
julho de 2005 
 
 
 
 
 
 
 1 
Introdução 
 
A arte de construir é uma atividade relativamente recente na história da humanidade 
[1]. De fato, o homem já era capaz de fazer jóias, pinturas, artefatos de caça e pesca, 
quando há cerca de 10 mil anos, com o advento da agricultura, sentiu necessidade de 
construir suas moradas para aguardar as colheitas. A partir daí foram surgindo as primeiras 
aglomerações humanas que deram origem às cidades. Evidentemente, os primeiros 
materiais de construção utilizados foram aqueles ofertados pela natureza como pedra, 
palha, galhos e troncos de árvores (Figura 1) e, sem dúvida, a terra. 
 
Figura 1 – Casa dos primórdios da humanidade (de [2]) 
 
Com esses materiais o Homem foi capaz de produzir belíssimas obras de 
engenharia, como são testemunhos as magníficas pirâmides do Egito, os palácios da Pérsia 
e da Babilônia, as imensas catedrais, castelos e mosteiros medievais e tantos outros 
monumentos fantásticos erguidos pelas civilizações da história antiga da humanidade. Ainda 
hoje se pode ver obras construídas pelos romanos que desafiam não as décadas nem aos 
séculos, senão aos próprios milênios (Figura 2), feitas numa época em que não se conhecia 
o aço nem o alumínio, nem tão pouco o cimento portland. 
 
 
 
Figura 2 - Aqueduto de Garda e Panteon Romano, símbolos de construções duráveis 
 
 A terra ainda hoje abriga quase um terço da humanidade [2] e em paises asiáticos, 
africanos e do oriente médio existem ainda muitíssimas urbes construídas quase que 
inteiramente com esse material. Inúmeras cidades do interior do Iran são um verdadeiro 
tributo à terra crua como material de construção (Figura 3). 
 
 
 2 
 
 
Figura 3 – Vistas das cidades de Yazd e de Bam, Iran, construídas em terra. 
 
 No Iraque, antiga Mesopotânia, um dos berços da civilização, grande parte desse 
patrimônio arquitetônico milenar foi vergonhosamente destruído por dezenas de milhares de 
bombas lançadas por homens monstruosos, que constituem a cúpula dirigente do país mais 
poderoso e violento do mundo. Julgando-se acima do bem e do mal, de pouca cultura, 
acham-se no direito de invadir e destruir uma riquíssima civilização para se apoderar das 
riquezas locais. Tudo isto contanto com a silenciosa conivência dos demais governos do 
mundo, que temendo represálias sejam militares sejam econômicas, não tiveram a 
dignidade de se contrapor à matança e destruição de um povo e de sua arquitetura milenar. 
 
No Brasil, muitas construções com terra foram feitas antes do aparecimento dos 
materiais industrializados, e representam ainda um notável patrimônio, sobretudo em 
cidades no que tiveram seu apogeu nos tempos coloniais como Mariana, Ouro Preto e 
tantas outras (Figura 4). 
 
 
Figura 4 – Construção de terra crua em Goiás Velho, Go 
 
Com a revolução industrial, no século dezessete, começaram a aparecer os 
materiais de construção que hoje são implicitamente conhecidos como materiais de 
construção convencionais, ou industrializados. Bilhões e bilhões de dólares são gastos em 
publicidade que tem conseguido incutir nas pessoas a idéia de consumi-los (Figura 5). 
Embora muitas vezes a construção industrializada apresente sofrível desempenho do ponto 
de vista do conforto interior, as pessoas preferem-na porque a propaganda está a lhes dizer 
que ela é que é boa. Ter a casa feita com tijolos cozidos, cerâmicas, aço, concreto, passou 
a ser símbolo de modernidade e sinal de status! 
 
 3 
 
 
Figura 5 – Incentivo ao consumo dos materiais de construção industrializados 
 
Todos os cursos de Engenharia e Arquitetura têm na sua grade curricular as cadeiras 
de Materiais de Construção nas quais quase que unicamente são apresentados os produtos 
industrializados: o cimento, o concreto, o aço, o alumínio, as cerâmicas, isto desde o século 
dezenove! Pouquíssimas fazem referencia ao bambu, por exemplo, ou mesmo a terra crua 
como material construtivo! 
 
A maciça propaganda e a difusão dos materiais industrializados teve como 
conseqüência o desprezo, o esquecimento e o abandono de técnicas e materiais 
tradicionais pelas camadas mais abastadas da população. Elas ficaram relegadas aos 
estratos mais carentes que têm dificuldade na transferência e perpetuação das antigas 
tecnologias. Aconteceu então o que se chama de perda de tecnologia! Décadas atrás era 
possível se encontrar taipeiros de qualidade. Conheciam a técnica da fabricação de paredes 
de taipa, sabendo distinguir a terra adequada, a quantidade de água a ser posta e como 
proceder para um bom acabamento final. Hoje, as construções que pessoas carentes de 
tudo fazem nas periferias das cidades e na zona rural, de péssimo aspecto estético e 
funcional (Figura 6), levou a população em geral a associar o material à pobreza. Isto, no 
entanto, deve ser desfeito, como se verá a seguir, em benefício do futuro da própria 
humanidade! 
 
 
 
 
Figura 6 - Casas de terra no Nordeste brasileiro: símbolo de tecnologia perdida 
 
Particularidades dos materiais industrializados 
 
 Não há dúvida que com os materiais industrializados podem-se ser feitas 
construções fantásticas, muitas vezes impossíveis de serem feitas com os materiais 
 
 4 
tradicionais. No entanto, eles apresentam certas características que merecem ser citadas e 
analisadas para dar motivos à meditação. 
 
Emissão de gás carbônico e de outros poluentes 
 
No processo de fabricação os materiais industrializados consomem oxigênio e 
liberam CO2 e muitos outros poluentes responsáveis por chuvas acidas que danificam 
severamente a natureza (Figura 7), e pelo chamado efeito estufa que lentamente está 
aquecendo a Terra. 
 
 
 
Figura 7 - Industrialização excessiva causa danos à Natureza (de [3]) 
 
 Em abril de 2004 foi noticiado na imprensa que modificações genéticas foram 
observadas em plantas sensíveis às mudanças ambientas em pleno Parque Ibirapuera, em 
São Paulo, megalópole já sufocada pela poluição, tanto industrial quanto social. 
 
O teor de gás carbônico na atmosfera tem crescido fortemente nas ultimas décadas, 
por conta da industrialização exagerada que tem tido lugar no Planeta. O CO2 é um dos 
principais causadores do aumento do efeito estufa, que simplificadamente é mostrado na 
Figura 8. Em atmosfera com baixo teor de CO2 grande parte da radiação infravermelha 
que a Terra recebe do sol é refletida de volta ao Cosmos. Numa atmosfera com muito gás 
carbônico, parte dessa radiação é refletida de volta a Terra. No meio rural, longe de 
industrias, a percentagem de CO2 não passa de 0,1-0,2 %. Nos grandes centros urbanos ela 
pode chegar até a mais de 1%. Em termos globais o que se esta verificando é o 
aquecimento gradativo do Planeta (Figura 9 ) diretamente ligado ao aumento da 
concentração de CO2 na atmosfera terrestre. A continuar neste ritmo, corre-se o risco de as 
geleiras nos pólos se fundirem. O nível do mar pode aumentar ate cerca de 80m (Figura 10) 
pondo em risco as populações costeiras e gerando um total desequilíbrio natural. Note-se 
que o fenômeno já começou. Neves eternas nos Alpes, por exemplo, tem perdido massa ao 
longo dos últimos anos. O mesmo pode ser dito das imensas geleiras da Antártida. A flora e 
a fauna marinha já estão sentindo o efeito. Destruição de corais por conta do aumento ainda 
que leve datemperatura da água do mar já tem sido percebida. É, pois, imperativo que o 
processo de emissão de CO2 seja controlado! Tudo que se puder fazer para minimizar este 
fenômeno será benéfico para o futuro da humanidade. 
 
 
 
 5 
 
 
Figura 8 - O efeito estufa (de [4]) 
 
 
 
 
Figura 9 – Aumento da temperatura media da Terra com o aumento da concentração de 
CO2 na atmosfera (de [4]) 
 
 
 
Figura 10 – Conseqüência de futura fusão das geleiras (de [4]) 
 
 
 6 
 O aquecimento da atmosfera esta aumentando os desequilíbrios climáticos cujas 
conseqüências são cada vez mais danosas (Figura 11), tendo em vista o aumento de 
população do mundo, sobretudo a mais pobre. Fenômenos naturais como chuvas fortes, 
inundações, ventos intensos, variações de temperatura, têm aumentado a freqüência e a 
intensidade. Temperaturas recordes atingiram a Europa no verão de 2002, matando 
centenas de idosos não habituados a tais níveis de temperatura. Em 2004, em Fortaleza, 
caiu uma chuva (mais de 200 mm em um dia) cujo tempo de recorrência seria de 250 anos! 
Também em 2004 um ciclone atingiu as costas de Santa Catarina, fenômeno nunca antes 
observado! 
 
 A fabricação de cimento portland é um dos maiores emissores de CO2 na atmosfera. 
Esta emissão é implícita ao seu processo de fabricação. Muito resumidamente o cimento 
portland vem da calcinação de argila com calcário (carbonato de cálcio). Durante essa 
queima, ocorre a descarbonatação do calcário segundo a reação: 
 
 CaCO3 + calor => CaO + CO2 
 
 
Figura 11- Desequilíbrios atmosféricos causando catástrofes 
 
Então, considerando-se a imensa produção de cimento portland no mundo atual (só 
no Brasil em 2001 foram consumidas quase 40 milhões de toneladas!), vê-se a fantástica 
quantidade de gás carbônico que é lançada na atmosfera por um único produto industrial! 
 
 
Consumo de energia 
 
 Os materiais industrializados exigem enormes quantidades de energia no seu 
processo de fabricação e manuseio. Para se produzir aço, por exemplo, é preciso chegar-se 
a temperaturas por volta de 1800 oC. Calcula-se que a energia envolvida na produção de um 
simples vergalhão de 12,5 mm seja da ordem de 80 kWh, consumo de uma família modesta. 
O alumínio exige por volta de 20 vezes mais! Para extrair esse metal, no Maranhão, há uma 
hidroelétrica construída unicamente para abastecer uma fábrica de Alumínio! Um saco de 
cimento de 50 kgf envolve aproximadamente 55 kWh! A temperatura nos fornos (Figura 12) 
chega a 1450oC. Para se produzir azulejos e revestimentos cerâmicos são exigidos 
possantes equipamentos para moagem, prensagem e queima dos materiais. Esta tem lugar 
a temperaturas até superiores a 1200 oC! Assim, se for levada em conta a enorme 
quantidade destes materiais produzidos no mundo moderno, (a produção de aço esta por 
volta de 800 milhões de toneladas anuais) pode-se ter uma idéia do consumo desenfreado 
de energia exigido para a fabricação dos materiais industrializados. 
 
 
 7 
Compare-se agora estes níveis de energia com aqueles exigidos para uma 
construção de tijolos de barro cru, sem cozimento, tão usado pelas civilizações egípcias e 
mesmo no Brasil colonial, ou com os de uma construção feita com colmos de bambu (Figura 
13), ofertados pela própria Natureza, cuja energia para sua produção foi unicamente a 
fornecida do astro rei! 
 
 
 
Figura 12 – Fabricação de aço, forno de fábrica de cimento portland 
 
 
Figura 13- Construções e baixíssimo consumo energético (à direita projeto do arquiteto 
colombiano Simon Velles) 
 
Geração de resíduos 
 
 A fabricação dos materiais de construção convencionais produz inúmeros resíduos 
em volumes por vezes espantosos. Tome-se como exemplo a fabricação de aço. A 
quantidade de escoria que resulta do processo é qualquer coisa de extraordinária. Parte 
dela já é reaproveitada na industria do cimento, o que é muito benéfico, porém nem toda ela 
é reaproveitada. Sobram ainda volumes consideráveis! 
 
A Figura 14 mostra uma industria cerâmica vermelha no Nordeste Brasileiro. Sem 
tecnologia avançada, considerável volume do produto é descartada no próprio processo de 
fabricação: muitas peças se quebram antes da comercialização e a deposição desses 
resíduos torna-se um problema ambiental. 
 
 Os métodos construtivos com os materiais industrializados produzem enormes 
quantidades de entulhos (restos de construção), difíceis de serem reincorporados na 
Natureza. Muitas vezes eles são dispostos irregularmente em terrenos baldios, aterros 
clandestinos, ao longo de vias e praças publicas (Figura 15), e mesmo em margens de rios 
urbanos. Estes têm suas calhas diminuídas e, quando das chuvas fortes, a água sem ter 
para onde ir, vai visitar, sem pedir licença, a casa das populações ribeirinhas, inundado-as e 
 
 8 
destruindo o pouco que possuem. O entulho permite a proliferação de ratos e insetos 
danosos ao Homem, aumentando a incidência de inúmeros tipos de doenças que afetam 
principalmente as populações pobres, aumentado-lhes o drama da sobrevivência. 
 
 
 
 
Figura 14 – Resíduos gerados na fabricação de cerâmica vermelha 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 15 – Deposição irregular de entulhos de materiais de construção convencionais 
 
 
Outros problemas ambientais 
 
 Torne-se às industrias de cerâmica do Nordeste. A fabricação de telhas e tijolos 
exige energia para calcinar as argilas. A energia mais barata na região é a que usa a 
vegetação local, e, tendo em vista o volume de lenha consumido nas olarias, vê-se que elas 
estão contribuindo para o triste fenômeno da desertificação constatado no interior nordestino 
(Figura 16). 
 
 9 
 
 
 
Figura 16 – Problemas gerados pelo uso da vegetação local como combustível 
em indústrias cerâmicas no Nordeste Brasileiro 
 
 
Necessidade de sistemas complexos e concentrados de produção e de mão de obra 
especializada na fabricação e na aplicação 
 
 A fabricação dos materiais industrializados é feita de modo centralizado, em 
complexos que reduzem cada vez mais a participação da mão de obra, substituída pela 
robotica, pela informatica e e mais ainda pela indiferença humana. 
 
 A aplicação dos materiais de construção convencionais não se faz sem o emprego 
de trabalhadores devidamente treinados para tal (Figura 17). A formação dessa mão de 
obra é mais complexa de que aquela na qual se usam materiais mais simples. Assim o 
paradoxo continua: muitos desempregados, sem acesso a treinamento, não conseguem 
trabalhar com os materiais convencionais! 
 
Figura 17 - Mão de obra especializada para aplicação dos materiais convencionais 
 
 10 
Custo elevado 
 
 Muitos dos materiais industrializados são hoje em dia fabricados por cartéis 
globalizados que combinam, impõem e aumentam continuamente preços aos consumidores. 
Assim, as industrias do cimento, do aço, do aluminio, das tintas, adotam mecanismos que 
conduzam ao lucro maximo, pouco importando se considerável parcela da população local 
não pode adquiri-los. Os precos nem sempre estão ligados ao custo, mas sim a quanto de 
lucro podem gerar. Assim, as fábricas preferem vender menos a maior preço que vender 
mais a menor preço, indiferentemente ao meio onde estão inseridas. Contrariamente, 
pequenos produtores de materiais de construção locais não conseguem repassar muitas 
vezes sequer seus custos de produção aos preços! Está-se, pois, em um sistema tentacular 
que suga injustamente o fruto do trabalho das pessoas e contribui para a absurda 
transferência de renda da maioria da população para os gigantescos grupos industriais e 
financeiros, sob os quais nem os governos centrais têm mais controle. São eles que ditam 
as regras, iludindo perversamente as populaçõescom a manipulada idéia de liberdade de 
mercado. 
 
 Veja-se o caso do aço: em sete meses subiu 75% para uma inflação inferior a 5%! 
(Figura 18). Assim, não é de admirar que as mega-empresas, através de seus lucros 
fabulosos que desafiam à imaginação, apropriem-se da renda mundial, concentrando-a, e 
alijando, cada vez mais, numerosa parcela da humanidade do acesso a seus produtos! 
Pouco importa, enquanto houver quem pague preços exorbitantes! 
 
 
Figura 18 – Distorção de preços e lucros exorbitantes da indústria do aço 
 
Tudo isto traz como conseqüência a crescente favelizacao das cidades (Figura 19), 
sobretudo nos hoje hipocritamente chamados países emergentes, para esconder sua real 
condição de sub-desenvolvidos, alguns deles condenados eternamente a esta condição. 
Como os materiais de construção industrializados custam caro, as populações excluidas por 
um sistema econômico que favorece alguns em detrimentos da imensa maioria procuram 
se abrigar de qualquer forma, como se vê na Figura 20. Essas más condições de habitação 
e falta de infraestrutura básica conduzem a gravíssimos problemas de saúde pública. A 
OMS calcula que na América Latina há 24 milhões de infectados com a doença de Chagas, 
provocada pelo protozoário Tripanosoma Cruzi , mal que se transmite pelo sangue causa 
lesões cardíacas e cujo vetor é o inseto conhecido como Barbeiro, no Brasil Vinchuca, na 
Argentina e Chile Pitos, na Colômbia, Chipos, na Venezuela. Ele encontra abrigo nos 
orifícios e vazios das paredes dessas sub-habitações e a doença de Chagas continua sendo 
uma triste realidade (Figura 21). No entanto, ao contrário da AIDS que ataca sem perdão 
pobres e ricos, como o mal de Chagas afeta às pessoas sem dinheiro, pouca ou nenhuma 
importância é dada à doença que, perfeitamente evitável, continua a minar a precária saúde 
dos deserdados povos latino-americanos. 
 
 
 
 
 11 
 
 
 
 
 
 Figura 19 – Materiais de construção caros: favelização das cidades 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 20 – Sub-habitações de pessoas à margem da sociedade moderna 
 
 
 
Figura 21 – Mal de Chagas ainda presente no Brasil 
 
 Assim, numa enorme e absurda contradição, apesar da imensa e crescente 
produção de materiais de construção industrializados, a humanidade chegou ao novo 
milênio com um deficit aproximado de 600 milhões de moradias (Figura 22). 
 
 
 
Figura 22 – Contradição: imensa produção de materiais de construção industrializados e 
centena de milhões de pessoas sem direito à casa 
 
 Não bastasse essa gritante falta de moradias para grande parcela da população 
mundial, parte significativa das que existem têm sido continuamente destruidas pela ação de 
governos dominados pelo ódio, como é o caso do instaldo no Estado de Israel, que 
bombardeia sem cessar as residências dos Palestinos, aumentando-lhes o deficit 
habitacional. Armas com as últimas tecnologias são empregadas nessa destruição das 
moradias de um povo que, numa gritante desigualdade, defende-se e reage como pode, 
muitas vezes fazendo uso das ancestrais pedras, quando não com o próprio corpo! 
 
 12 
 A insensatez não tem fim e centenas de bilhões de dólares têm sido gastos na 
demolição de constrções, muitas delas centenárias e mesmo milenárias, em países 
invadidos como o Iraque e o Afeganistão. O dinheiro gasto para destruir e tomar a antiga 
Mesopotânia já seria suficiente para eliminar praticamente toda a carência de moradia no 
chamado terceiro mundo e provê-lo de infraestrurua. Bombas moderníssimas (Figura 23), 
têm sido usada na destruição de casas hospitais, escolas, prédios públicos, muitos dos 
quais, verdadeiros patrimônios arquitetônicos da humanidade, construidos com os materiais 
tradicionais, como a terra. 
 
 
 
 
Figura 23 – Bombas usadas para destruição de casas e disseminação do sofrimento, e 
dirigentes do mundo sorrindo com a desgraça dos inocentes 
 
Se por um lado cerca de dois bilhões de seres humanos têm necessidade de uma 
casa digna, algumas centenas de milhares de pessoas, que certamente fazem parte de 
cúpula que dirige propositada e egoisticamente o mundo atual, têm suas habitações fora de 
qualquer realidade e do discernimento do espírito humano. Mas já dizia Aristóteles, séculos 
antes de Cristo, “a ganância dos Homens não tem limites”. Assim, parte deles possuem 
casas tão grandes (Figura 24) que dificilmente terão todos os seus cômodos visitados pelo 
proprietário ao longo de sua ilusória existência. Assim, não é de admirar que nesse mundo 
injusto, no qual uns são mais iguais do que os outros, surjam os Bin Laden e as bombas 
humanas, rotulados de terroristas porque golpeiam os que representam a injustiça, ao 
passo que a matança oficial é justificada em nome liberdade. Que liberdade? A de se 
escolher entre Coca Cola e Pepsi Cola? A liberdade de ser pobre, e de ser explorado? E a 
liberdade do direito a casa? Esta nunca houve e continua a não existir no “mundo 
moderno”! Na realidade o terrorismo está sendo alimentado pela ganância da parcela da 
população que detém as riquezas mundiais e não quer reparti-las. Sem o menor 
discernimento, tornam-se, os que delas fazem parte, os terroristas oficiais, mas alguns, de 
tão néscios, como seu representante maior no inicio do atual milênico (Figura 25), são 
incapazes de se reconhecer como tal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 24 - Casas de milionários em Brasíla: desafio ao bom senso humano 
 
 
Figura 25 – Instrumento do terrorismo de estado 
 
 A reabilitação dos materiais tradicionais 
 
 Foi após a segunda guerra mundial que a Terra apresentou um maior crescimento 
industrial. Até final dos anos 60 essa industrialização era baseada na energia relativamente 
barata, pouca preocupação se tinha com o meio ambiente e com a economia energética. 
Quando o Estado de Israel resolveu invadir terras onde se encontravam os palestinos 
acirrando a disputa desigual pela sua propriedade, as guerras com Egito e outros paises 
árabes produtores de petróleo tiveram como consequência um aumento significativo do 
preço desse material indispensável ao mundo industrializado. Teve fim a era da energia 
barata! Começou também a percepção de que os recursos energéticos do planeta não eram 
inesgotáveis. Foram surgindo os movimentos ecológicos, e a idéia de preservação dos 
recursos naturais. No ramo da arquitetura e da engenharia já apareceram pessoas 
pensando em voltar a utilizar materiais e tecnologias tradicionais que envolvessem menos 
energia e contribuissem para a preservação da Terra. Pouco a pouco essas ideias foram 
prosperando e hoje contam-se já muitas publicações sobre esses materiais e essas 
tecnologias, se bem que mereçam ainda muito mais difusão e penetração nos bitolados 
meios universitários em todo o mundo. No domínio da construção com terra (Figura 26) 
eventos interessantes e publicações de nível já mostram que ela merece seu lugar entre os 
materiais de construção. O mesmo pode-se dizer do bambu, outro fatástico material que 
merece ser muito mais explorado neste domínio. 
 
 
 14 
 
 
 
Figura 26 – Algumas publicações sobre construção com terra [2,5-11] 
 
Tudo isto levou o Prof. Minke, da Universidade de Kassel, Alemanha, a citar que: 
 
A arquitetura do futuro será aquela que terá em mente: 
 - a conservação dos recursos naturais 
 - a minimização do consumo de energia 
- a redução da poluição para a produção de construções higiênicas e saudáveis 
sem aumentar seu custo. 
 
 
Aos materiais tradicionalmente usados pelo Homem ao longo de sua história, 
agregando-se os resíduos das atividadeshumanas modificados de alguma forma a poderem 
ser empregados nas construções, internacionalmente concordou-se em chamá-los de 
materiais não-convencionais. No Brasil o prof. K. Ghavami, da PUC-Rio, pioneiro em 
estudos no assunto já em finais da década de 70, criou a ABMTENC, Associação Brasileira 
de Materiais e Tecnologias Não-Convencionais nos anos 90. Conferências nacionais e 
internacionais já foram organizadas no sentido de incentivar a difusão da pesquisa com 
esses materiais. 
 
Pode-se justificar a denominação de não-convencionais porque eles não são ainda 
regidos por normas técnicas já bem estabelecidas, aceitas e difundidas mundialmente. 
Embora já se tenha muito caminhado no sentido do desenvolvimento de documentos 
normativos consensuais, a estrada é ainda longa. 
 
 Pode-se dizer que os materiais de construção não convencionais são 
ecologicamente corretos porque: 
 
 
 15 
 - tratam-se de materiais tradicionais disponíveis na natureza, muitos dos quais 
renováveis, e como no caso do aproveitamento dos resíduos, contribuem para livrar o 
ambiente de seu incômodo; 
 - envolvem muito menor energia que os industrializados 
 - em geral são não poluentes 
 - muitos incorporam-se novamente à Natureza sem maiores danos 
- podem ser obtidos em processos não centralizados 
- podem gerar tecnologias apropriadas 
- podem levar a um menor custo construtivo 
- podem fazer uso intensivo de mão de obra 
 - podem ajudar na redução do problema da casa nos países em 
 desenvolvimento 
 
 Tecnologias apropriadas são aquelas que fazem uso de ferramentas e equipamentos 
simples e podem ser facilmente transferidas mesmo para populações de pouca ou nula 
instrução. Grande parte dos materiais não convencionais é adequada para esses tipos de 
atividade. Veja-se que aqui se pôs como sendo uma propriedade benéfica a possibilidade de 
uso intensivo de mão de obra, contrariamente ao que prega o monstruoso sistema 
capitalista, que procura ao máximo descartar o Homem das atividades de produção. Nos 
países em desenvolvimento, com taxas altíssimas de desemprego, poder-se-ia utilizar esse 
imenso contingente de mão de obra desqualificada e excluída para a fabricação de materiais 
de construção simples, saudáveis, a um custo relativamente baixo e com enormes ganhos 
sociais. A minimização do problema da casa é só uma questão de vontade política, como 
mais adiante será visto. 
 
Dificuldades com os materiais de construção não convencionais 
 
Apesar do que aqui se tem mostrado, existem muitas dificuldades em se aplicar em 
volumes consideráveis os materiais não convencionais na construção civil. 
 
 Algumas delas são: 
 
- Preconceito: certos materiais (como a terra, o bambu, as palhas e fibras vegetais) 
estão arraigados na mente da grande maioria das pessoas como “material de pobre”; 
- Não foram ainda tão pesquisados como os materiais industrializados – de fato, 
enquanto aço, concreto, tijolos cozidos vêm sendo estudados desde o século XIX, só 
recentemente houve um real incremento nas investigações sobre os materiais não 
convencionais, mesmo assim em pouquíssimas universidades do mundo; 
 
- Não estão inseridos nos cursos convencionais de engenharia e arquitetura (com 
poucas exceções), de forma que os profissionais saem da universidade sem a menor 
visão sobre eles; 
 
- Faltam técnicos para aplicá-los corretamente – conseqüência do item anterior. 
Embora com os materiais aqui referidos se possa gerar as tecnologias apropriadas, 
não deixam de ser tecnologia. Esta requer o mínimo de controle para se ter produtos 
de qualidade. Exige também a elaboração de um projeto a ser seguido. Assim, 
qualquer ação de maior monta correria o risco de se perder por falta de orientação 
técnica; 
 
- Órgãos governamentais desconhecem ou ignoram propositadamente tudo que é 
não convencional – conseqüência da maciça propaganda dos materiais 
industrializados que deixam pouco espaço para qualquer alternativa, e também da 
ainda pouca difusão dos materiais não convencionais. Some-se a isto a enorme 
 
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inércia dos organismos estatais, de mentalidade muito bitolada, avessos a qualquer 
mudança que incomode seu “status quo” e que lhe ameace fazer pensar e 
desenvolver algum esforço. 
 
- Dificuldade de se organizar processos de auto-construção e transferir tecnologia – é 
sabido que um dos mais fecundos meios de financiamento de políticos e dirigentes 
de órgãos estatais está na contratação de terceiros para execução de obras. 
Percentagens sobre os valores contratados são prática corrente tanto para 
enriquecimento de ocupantes de cargos ( e às vezes suas famílias e apadrinhados) 
como para serem gastos em eleições. Assim pouquíssimo é o interesse em se 
organizarem comunidades para atuarem como vetor do desenvolvimento. Some-se a 
isto a enorme distorção dos órgãos de “fomento à pesquisa” que em nome de um 
“cientifismo” maluco, importado sem questionamentos dos paises dominantes que 
têm interesses bem diversos daqueles das nações em desenvolvimento, 
desvalorizam tremendamente atividades de extensão universitária e mesmo de 
ensino. Hoje só tem “status de pesquisador” aquele que publicar bastante em 
“periódicos internacionais reconhecidos pela CAPES”, mesmo que se trate de tema 
de mínimo interesse para a sociedade brasileira. Assim, sendo o gênero humano o 
que é, já surgem os “profissionais das publicações”, comodamente instalados atrás 
de microcomputadores em salas de ar condicionado, ocupados em escrever; em 
“esticar” trabalhos de forma a fazê-los render o maior número de artigos possível; em 
trocar o titulo e algumas palavras de um texto para enviá-los novamente a outra 
revista. Tudo em nome da “produtividade”, que lhe dá direito a receber uma gorjeta 
no fim do mês com o pomposo apelido de “bolsa de incentivo à pesquisa”. 
Evidentemente não são todos que assim procedem mas isto não deixa de ser uma 
realidade e uma distorção de um modelo exclusivista. Já qualquer ação que pretenda 
orientar-se pelas palavras “Homens não convencionais” como o admirável Che 
Guevara que dizia “um dos grandes deveres da universidade é levar suas práticas 
profissionais ao seio do povo” é desencorajada por todos, desde um chefe de 
departamento negando uma meia diária ao professor excêntrico que deseja se 
deslocar para ajudar a uma comunidade carente, até aos supremos organismos 
fomentadores da pesquisa tupiniquim que estão convencidos de que fazer pesquisa 
é publicar. Esta supervalorização da chamada pesquisa no meio acadêmico leva a 
situações absurdas como revisor de artigo para revista exigir do autor a inserção de 
suas publicações, sob pena de rejeitar seu trabalho, até o caso escandaloso do 
professor coreano que chegou a publicar resultados falsos sobre a clonagem 
humana na conceituadíssima revista Science. Assim, no seio universitário, o mundo 
de fantasia prevalece sobre a realidade numa hipocrisia tão grande quanto a 
ambição do Homem. 
 
- Falta vontade política de resolver o problema da casa nos países em 
desenvolvimento – esta é uma triste realidade. De fato, os dirigentes de quase todas 
as nações estão hoje muito mais preocupados em agradar a quem não precisa, 
como os grandes banqueiros internacionais, o FMI, as multinacionais e outras 
instituições encarregadas de manter a dependência dos povos sob a tutela do imoral 
capital internacional, do que com o problema habitacional de sua população. É com 
imensa decepção que se vê o pagamento rigorosamente em dia de juros 
absurdamente elevados, quando o financiamento de um simples conjunto 
habitacional ou mesmo o conserto de uma estrada estragada pela chuva atrasa 
meses e meses e até anos. A existência de um contingente de populações carentes, 
dependentes, são de interesse das cúpulas dirigentes e dos políticos nefastos dos 
paises em desenvolvimento. Um povo necessitadoconstitui-se numa verdadeira 
reserva de mercado de votos, visto a mais fácil manipulação política pelos abutres 
que tomam conta do poder. 
 
 
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Considerações finais 
 
 A casa é um bem básico para todos os seres viventes. Pouco adianta dar escola às 
crianças se ao dela saírem não têm um ambiente higiênico e saudável para conviver com a 
família, estudar, alimentar-se e dormir. A crescente falta de habitação digna gera o que se 
está a ver hoje em todos os paises em desenvolvimento: promiscuidade, avanço crescente 
da marginalidade e da violência, mesmo nas cidades pequenas, outrora tidas como seguras. 
Se não tem casa, vai o ser humano praticamente viver na rua, e para sobreviver no 
monstruoso sistema capitalista neo-liberal, passa a se valer de tudo para conseguir dinheiro. 
Aumentam, então, o tráfico de drogas, os roubos e assaltos, que inquietam a todos nos dias 
de hoje. 
 
A eliminação do problema da casa no Planeta geraria enorme impacto ambiental se 
fossem ser empregados apenas os materiais industrializados, pelas razões que aqui foram 
apontadas. Mas monopólios a nível internacional do aço e do cimento não permitiriam que a 
casa chegasse para todos. Assim, apesar das dificuldades apresentadas, o futuro da 
humanidade vai requerer que os materiais não convencionais tenham uma participação 
muito maior no mundo da construção. É preciso desfazer o mito de que representam 
materiais de pobre, e, pelo contrário, possam ser valorizados pela sustentabilidade que 
podem dar às engenharia e arquitetura. A introdução de disciplinas sobre eles nos cursos 
técnicos e universitários é imprescindível. 
 
 Não se quer aqui de nenhuma maneira descartar os materiais de construção 
industrializados. O mundo não anda para trás! Muitos deles podem, perfeitamente, serem 
aliados. O que interessa é que se reduzam os problemas ambientais. Assim, quando 
possível, engenheiros e arquitetos devem procurar usá-los, mesmo que em associação com 
os materiais convencionais. Veja-se o exemplo da Figura 27, uma igreja nas proximidades 
de Lyon, França. Foi utilizada a terra crua nas paredes, mas há também estrutura em 
concreto armado, telhas cerâmicas, vidros, etc! Então, tem-se um material tradicional como 
a terra, aliando-se aos materiais industrializados! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 27 – Igreja na França associando materiais convencionais e não convencionais 
 
 Na Figura 28 vê-se agora que o mínimo de tecnologia pode transformar realidades. 
O mesmo material, a terra, usado sem tecnica apropriada conduz a um produto sem 
qualidade (à esquerda), ao passo que ela usada na forma de blocos prensados, associados 
com cimento em pequenas quantidades, com os devidos cuidados, mesmo fazendo-se uso 
de mão de obra iletrada, gera uma habitação saudável (à direita). 
 
 
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Figura 28 – Casa de terra sem e com tecnologia em favela na Paraíba 
 
 Na Figura 29 vê-se agora a associação do bambu, um dos materiais não 
convencionais de maior potencial, com materiais industrializados como concreto, tijolos 
cerâmicos, cobertura metálica, argamassa de cimento portland. À esquerda tem-se uma 
construção rural no Equador, à direita protótipo de casa, em Maceió, onde foi criado o 
Instituto do Bambu, com apoio do SEBRAE, Alagoas. Nota-se então que passos estão 
sendo dados na direção correta, sendo necessária sua divulgação e disseminação. 
 
 
 
Figura 29 – Bambu associado a materiais convencionais (à esquerda obra 
do arquiteto Jorge Moran, Equador) 
 
 Felizmente o sistema dominante não consegue se apossar da mente de todos os 
seres humanos: sempre há aqueles que pensam diferentemente, e isto traz um alento de 
esperança. Veja-se a notícia que segue, mostrando já a valorização de ações “não 
convencionais”: 
 
“En la última edición de los Premios Aga Jan de Arquitectura, uno de los más importantes del mundo 
y con mayor dotación, 500.000 $, dos (2) de los siete premios son humildes construcciones con 
tierra: la humilde escuela que en su pueblo Gando, en Burkina Fasso realizó con bloques de tierra 
comprimida el arquitecto Diebedo Francis Kere (la primera persona que salió fuera de su aldea para 
estudiar), y los refugios con sacos rellenos de tierra y alambre de espino hechos por Nader Khalili. 
Junto a otros premios concedidos por ejemplo a la restauración de las Torres Petronas y a la 
regeneración urbana del barrio palestino en la ciudad vieja de Jerusalén. ” ( De 
http://www.arquitecturaviva.com/Noticias.asp#el%20islam) 
 
 Na Figura 30 podem ser vistas as duas obras premiadas que têm a terra crua como 
material base. 
 
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Figura 30 – Obras “não convencionais” premiadas: escola à base de terra crua e prototipo 
de refugio construído com sacos de areia. (Foto: Nader Khalili/ Cal-Earth Institute) 
 
 O tipo de construçao da direita da Figura 30 já é usada pelas Nações Unidas em 
zonas de conflito armado, para proteção das populações pobres da insensatez humana. 
 
 Quando necessário, é benéfica a associação do material não convencional ao 
industrializado, daí porque necessário é conhecer a ambos. Isto com o fim de explorar 
conscientemente todas as suas potencialidades, e para que todos das futuras geraçoes 
possam ter seu futuro assegurado. Todos, repete-se, e não apenas os cidadãos à esquerda 
da Figura 31, mas também o desesperançado garoto à direita! Para tanto é preciso a 
conscientização de todos de que não existe poluiçao maior que a extrema pobreza e é 
possível erradicá-la, podendo os materiais de construção não convencionais, a engenharia e 
a arquitetura darem sua parcela de contribuição. Porém, para essa mudança é necessáio 
que também surja com força um “sistema econômico não convencional”. O que aí está, 
baseado no lucro máximo, nas “leis de mercado” manipuladas pelos poderosos, no 
consumo, na concentração de riquezas, na especulaçao, no capital, na indiferença e no 
desrespeito à pessoa humana, embora levando para muitos a ilusória impressão de que 
bem vivem porque possuem um aparelho de telefone celular ou um DVD, mesmo morando 
em condições sub-humanas, está disseminando a pobreza, o desemprego, a violência, o 
terrorismo e o medo, que reina soberano nos dias atuais. 
 
 
Figura 31 – Nova geração que espera viver na Terra sem problemas ambientais e sem a 
terrível poluiçao da pobreza 
 
Referências 
 
1- Salvadori, M (1990) – Perché gli edifici stano in piedi. Ed. Fabbri, Etas SPA, Milano, Itália. 
 
2- Fundação Calouste Gulbenkian (1993) – Arquitecturas de Terra. Lisboa, Portugal. 
 
3 – Time-Life (1995) – Ciência e Natureza, Ecologia. Abril Livros, São Paulo. 
 
4 – Time-Life (1995) – Ciência e Natureza, Tempo e Clima. Abril Livros, São Paulo. 
 
5- Minke, G - Earth Construction Hanbook (1999) – Wit Press, Southampton, England 
 
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6- Centre George Pompidou – Interni: Architettura di terra, Gruppo Editoriale Electra, Itália. 
 
7 - Barbosa, N P (1996) – Construção com terra crua: do material à estrutura. Monografia para 
concurso de Prof. Titular do DTCC, Centro de Tecnología da UFPB. 
 
8 –Fathi, H (1973) – Construindo com o povo. Ed. Brasileira Ed. Forense Universitária, Rio de Janeiro, 
1982. 
 
9 – Politécnico di Torino (1998) – Terra incipit vita nova. Anais de Seminário L´architettura di terra 
cruda dalla origini al presente. 16,17-abbil 1997, Turim, Itália. 
 
10 – Proterra (2002) – Anais do I Seminário Ibero-americano de Construção com Terra. Salvador, Ba, 
16-18 set 2002. 
 
11 - Houben, H; Guillaud, H (1989) - Traité de construction en terre. Edition Parenthèses, Marseille, 
França, 1989.

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