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TCC FINAL -ILVAN-WILKSON-18 06 2021

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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES 
Centro de Educação a Distância - CEAD 
 Curso de Tecnologia em Gestão de Saúde Pública 
 
 
 
 
 
 
 
 
HOMOFOBIA E VIOLÊNCIA CONTRA POPULAÇÃO LGBT NO 
BRASIL: UMA REVISÃO DE LITERATURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Joaíma-MG 
Março / 2021 
 
 
 
 
 
 
Ilvan André Silva 
Wilkson Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HOMOFOBIA E VIOLÊNCIA CONTRA POPULAÇÃO LGBT NO 
BRASIL: UMA REVISÃO DE LITERATURA 
 
 
 
 
 
Trabalho apresentado à disciplina de TCC II, do 
Curso de Tecnologia em Gestão de Saúde 
Pública, ofertado pela Universidade Estadual de 
Montes Claros como exigência para obtenção do 
grau de Tecnólogo em Gestão de Saúde Pública. 
 
 
Orientadora: Prof.. Ma. Marcilei da Conceição 
Horn. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Joaíma-MG 
Março / 2021
 
 
HOMOFOBIA E VIOLÊNCIA CONTRA POPULAÇÃO LGBT NO 
BRASIL: UMA REVISÃO DE LITERATURA 
 
 
 
 Ilvan André Silva1 
Wilkson Santos² 
 Marcilei da Conceição Horn³ 
RESUMO 
Introdução: No decorrer da história é notável a falta de compreensão acerca da legitimidade 
da forma homossexual de expressão da sexualidade humana. A homofobia como preconceito, 
tem seu último grau na violência, colocando em risco a vida da população de Lésbicas, Gays, 
Bissexuais e Transgêneros (LGBT). Esse fato não se resume, porém, apenas aos indivíduos 
homossexuais, pois a homofobia engloba questões de igualdade de direitos e a luta por políticas 
públicas que assegurem tais direitos. Objetivo: analisar a literatura específica acerca da 
homofobia e violência de LGBTs no Brasil. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa 
da literatura com artigos disponíveis nas bases de dados SCIELO e LILACS, publicados entre 
os anos de 2015-2020. Reultados: A violência psicológica como a principal manifestação de 
violência cometida contra LGBT’s, o que, em consequência, eleva o risco das violências 
físicas, falta de indicação nos boletins de ocorrências policiais e nas estatísticas de mortalidade, 
das causas dessas mortes, fazendo com que o número de pessoas trans vítimas de homicídio 
seja maior do que o apresentado pelas organizações. Conclusão: Destacamos preconceitos 
velados e explícitos, violências caracterizadas como “crimes de ódio” por unicamente sua 
orientação homossexual. 
 
Palavras-Chave: : População LGTB; Homofobia; Violência. 
 
ABSTRACT 
Introduction: Throughout history, there is a notable lack of understanding about the legitimacy 
of the homosexual form of expression of human sexuality. Homophobia as a prejudice, has its 
last degree in violence, putting the lives of the Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender (LGBT) 
population at risk. This fact is not limited, however, to homosexual individuals only, since 
homophobia encompasses issues of equal rights and the struggle for public policies that ensure 
such rights. Objective: This research aims to investigate existing laws and public policies that 
ensure the rights of the LGBT population in Brazil and seek to reduce violence against 
homosexuals. Methodology: This is an integrative literature review with articles available in 
the SCIELO and LILACS databases, published between the years 2016-2020. Results: The 
consequence, therefore, is the invisible deaths of transvestites and transsexuals, due to the lack 
of indication in the police reports and in the mortality statistics, of the causes of these deaths, 
making the number of trans people victims of homicide more than than that presented by 
organizations (BONASSI, et. al., 2015). Conclusion: We highlight veiled and explicit 
 
1
 Graduando em Tecnólogo de Gestão em Saúde Pública pela (Unimontes), Joaíma, Minas Gerais, Brasil 
2
 Graduando em Tecnólogo de Gestão em Saúde Pública pela (Unimontes), Joaíma, Minas Gerais, Brasil 
3 
Mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Mato Grosso, docente orientadora no curso Tecnologia 
em Gestão de Saúde na Unimontes. 
 
 
 
prejudices, violence characterized as “hate crimes” for its homosexual orientation only and the 
lack of preparation of health and safety professionals trained to serve this audience. 
Key Words: Laws; Public policy; LGTB population; Homophobia; Violence. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Quando uma pessoa nasce ela é identificada pela sua genética que é definida como 
masculina ou feminina. E a partir desta definição as pessoas assumem o papel social 
correspondente (MATOS e CIDADE, 2016). 
Historicamente, a homossexualidade no Brasil, é caracterizada um tanto quanto já dita 
preconceituosa, pelo fato dessa caracterização se dar pela vinculação aos papéis sexuais das 
Lésbicas, Gays Bissexuais, Travesti (LGBTs), como por exemplo, (o bofe, homem masculino 
sexualmente; e a bicha, um homem feminino e passivo sexualmente) (COSTA et al., 2015). O 
termo se tornou popular e usual do ativismo político, que representou um avanço nas 
reivindicações da população LGBT bem como na compreensão do preconceito que assola essa 
população (COSTA e NARDI, 2015). 
 A LGBTfobia, por sua vez, como descrita por Junqueira (2007), se refere a sentimentos 
negativos relacionados ao “medo” e ao “semelhante” direcionados a gays, lésbicas, travestis, 
transexuais e bissexuais. O ataque LGBTfóbico é sempre um conflito entre dois semelhantes, 
um que vivencia de forma plena a sua sexualidade e o outro que a esconde e tem vergonha dela. 
 Segundo Lima (2014) o regime autoritário abafou as iniciativas no movimento Lésbicas, 
Gays, Bissexuais e Transgêneros. Entretanto no ano de 1978 os jornais alternativos e 
movimentos sociais se expandiram no país, criticando o Regime Militar. Machado e Brotto 
(2016) afirma que a proteção social básica tem como responsabilidade tratar de questões em 
que busca prevenir o indivíduo e sua família que estão em situação de vulnerabilidade, 
buscando ações que visam fortalecer os vínculos familiares e comunitários no combate às 
desigualdades sociais. Segundo Perucchi et al. (2014) a população LGBTs sendo vítima de 
rejeição e discriminação preconceituosa, acaba sendo tarefa dificil para o jovem assumir não 
como heterossexual, uma vez que nem sempre encontram apoio e respeito por parte da família. 
Quando as condutas desses indivíduos são colocadas em questão, muitas vezes as regras não 
são atendidas na íntregra como disposto pelos superiores, às vezes usam mecanismos violentos 
sendo estes físicos ou psicológicos, tudo isso para repreendê-los e enquadrá-los à norma. 
 
 
O relatório Violência LGBTFóbicas no Brasil: dados da violência (BRASIL, 2018) 
disponibilizado pelo Ministério dos Direitos Humanos analisa dados quantitativos da Ouvidoria 
de Direitos Humanos – Disque 100, Grupo Gay da Bahia (GGB) e Rede Trans Brasil 
(RedeTrans) para mensuar a violência sofrida pela população LGBT em 2016. O GGB, como 
afirma o relatório, analisou principais canais midiáticos e quantificou 343 violações 
LGBTfóbicas das quais 50% aconteceram com homens gays e 42% com travestis e transexuais. 
Um relatório mais recente do Grupo Gay da Bahia (2018) aponta que a cada 20 horas morre de 
forma violenta um LGBT no Brasil por motivação discriminatória. 
Antes da criação efetiva do PNSILGBT, outros fatores foram importantes para a luta 
LGBT no que tanque a saúde equitativa. Assim, devemos pontuar o direito ao uso do nome 
social por meio da Carta Dos Direitos Humanos, a presença de militantesLGBT no Conselho 
Nacional de Saúde, a inclusão de orientação sexual e a identidade de gênero na análise de 
determinação social da saúde na 13ª Conferência Nacional de Saúde, a realização da 1ª 
Conferência Nacional de LGBT e a publicação da Portaria nº 457 que implantou as cirurgias 
de redesignação sexual para mulheres trans. (POPADIUK et al., 2016). 
Diante disto, o Ministério da Saúde instituiu, no segmento do Sistema Único de Saúde 
(SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais atráves 
da Portaria GM/MS nº 2.836 de 1º de dezembro de 2011. O documento exibe em 5 capítulos 
uma discussão sobre a temática e uma apresentação com fundamentação legal, objetivos, 
estratégias e ações. Esta política pública tem com objetivo geral “promover a saúde integral da 
população LGBT, eliminando a discriminação e o preconceito institucional e contribuindo para 
a redução das desigualdades e para consolidação do SUS como sistema universal, integral e 
equitativo.” (BRASIL, 2013). A política é, então, um instrumento de ação para os gestores e 
profissionais da saúde. 
A partir do exposto, questiona-se: O que a literatura entre 2016-2021 tem discutido 
sobre a violência e homofobia de LGBTs no Brasil? 
 Percebe-se que a violência contra LGBTs no Brasil é um problema de ordem social que 
ainda persiste. Assim, o objetivo da pesquisa é analisar na literatura específica acerca da 
homofobia e violência de LGBTs no país. 
 
 
METODOLOGIA 
 
 
 Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Buscou-se reunir em duas bases de 
dados pré-definidas, referências que discutissem a homofobia bem como violências dirigidas a 
 
 
essa população. A busca de referências para embasar esse trabalho foi realizada na Biblioteca 
Virtual em Saúde (BVS), com busca de publicações dos últimos 6 anos, nas bases de dados de 
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientifc Eletronic 
Library Online (SciELO) e a partir dos descritores: População LGTB; homofobia; violência, 
utlizando o operador booleano AND na combinação entre os descritores. 
Critérios de inclusão: artigos em português do Brasil e completos disponíveis na 
internet. Foram consideradas como critério de exclusão as publicações que não se enquadraram 
na modalidade artigo, os que foram publicados fora do recorte temporal definido, os que não 
apresentaram pesquisa de acordo com o tema abordado, teses, capítulos de teses, capítulos de 
livros, anais de congressos, idioma diferente ou por não preencher os critérios do estudo. 
A coleta ocorreu no mês de março e abril de 2021. Inicialmente, foram encontrados 
1649 artigos, que versavam sobre a temática da violência homofóbica. Foi realizada a leitura 
dos títulos e dos resumos, e após aplicação dos critérios de exclusão, foram selecionados 07 
artigos da língua portuguesa. 
 
RESULTADOS 
 
Os sete artigos selecionados, após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram 
lidos na íntegra e elencados no Quadro 3. 
Quadro 1– Descrição resumida das cinco referências analisadas no estudo. 
TÍTULO/AUTORES 
/ANO 
OBJETIVO PRINCIPAIS RESULTADOS 
Situações de violência 
contra travestis e 
transexuais em um 
município do nordeste 
brasileiro (SILVA et. al., 
2016). 
Análise do perfil 
sócio demográfico e 
da violência 
praticada contra 
travestis e 
transexuais de 
Cajazeiras-PR. 
81,25% da amostra se identificou como 
travesti, a maioria de cor parda, ensino 
médio completo, e profissão 
cabeleireira; 75% da amostra sofreu 
violência, a maioria do tipo verbal, e 
psicológica, 75% das violências 
ocorreram na rua. 
Violência física contra 
lésbicas, gays, bissexuais, 
travestis e transexuais no 
interior do nordeste 
brasileiro (PARENTE et. 
al., 2018). 
Análise do perfil 
sócio demográfico e 
da violência 
praticada contra a 
população LGBTT 
no interior do Ceará 
70% são do sexo biológico masculino, 
51,2% homossexuais gays, pardos, 
solteiros, ensino médio completo e com 
trabalho formal; 78,8% sofreu violência 
psicológica; das agressões físicas, 
21,8% foram empurrões e a maioria na 
 
 
face; 13,6% dos agressores de rua são 
transeuntes, e 7,3% dos agressores 
conhecidos foram amigos. 
Violência psicológica em 
lésbicas, gays, bissexuais, 
travestis e transexuais no 
interior do Ceará, Brasil 
(ALBUQUERQUE et. al., 
2016). 
Análise do perfil da 
violência psicológica 
praticada contra a 
população LGBTT 
78,8% já foi vítima de violência 
psicológica, 70,6% do sexo masculino, 
maioria de gays e identidade de gênero 
masculino e homossexuais; 77,5% das 
violências foram à distância, 45,4% 
desconhecidos na rua, a reação principal 
foi agressão física e 52,2% tiveram 
como consequência a tristeza. 
Vulnerabilidades mapeadas, 
Violências localizadas: 
Experiências de pessoas 
travestis e transexuais no 
Brasil (BONASSI et. al., 
2015). 
Investigar a 
violência contra 
travestis e 
transexuais de Santa 
Catarina, visando o 
perfil psicossocial e 
mapeamento de 
vulnerabilidades 
48% da amostra era de pessoas brancas, 
entre 18 a 50 anos, a maioria travestis, 
com ensino médio completo e 
pertencentes ao mercado de trabalho 
informal; 87% afirmaram ter sofrido 
discriminação, 76% violência 
psicológica, 62% violência física, 37% 
violência institucional; entre a agressão 
psicológica destaca-se a humilhação; 
em relação ao agressor, 65% declarou 
que são pessoas da população em geral. 
Foi como se a gente tivesse 
visto a morte: 
estigmatização, sofrimento 
psíquico e 
homossexualidade (RIOS 
et. al, 2018). 
Analisar e discutir a 
relação entre estilos 
corporais 
estigmatização e 
sofrimento psíquico 
em homens 
homossexuais do 
recife 
65,5% da amostra se identificou como 
negros, 18 a 24 anos, a maioria com 
curso superior, emprego formal com 
carteira assinada, 23,3% do estilo 
másculo e 31,8% do estilo efeminado; 
32,9% afirmou ter sofrido violência por 
orientação sexual e 57,1% sofreu 
discriminação; efeminados apresentam 
1,9 vezes mais relatos de violência e 2 
vezes mais de discriminação que os 
másculos; 76,6% dos que sofreram 
violência apresentaram depressão e 
 
 
79,2% dos efeminados apresentaram 
1,6 mais relatos de depressão que os 
másculos (50%). 
A política nacional de saúde 
integral de lésbicas, gays, 
bissexuais, travestis e 
transexuais: uma revisão 
bibliográfica;(NEGREIROS 
et al., 2019). 
Analisar a formação 
médica para a 
assistência à saúde 
da população LGBT 
na perspectiva de 
médicos que atuam 
na atenção básica. 
O GGB, como afirma o relatório, 
analisou principais canais midiáticos e 
quantificou 343 violações 
LGBTfóbicas das quais 50% 
aconteceram com homens gays e 42% 
com travestis e transexuais. Um 
relatório mais recente do Grupo Gay da 
Bahia (2018) aponta que a cada 20 horas 
morre de forma violenta um LGBT no 
Brasil por motivação discriminatória. 
O Direito à Saúde da 
População LGBT: Desafios 
Contemporâneos no 
Contexto do Sistema Único 
de Saúde (SUS); 
Montenegro, Velasque, 
Legrand, Whetten, Mattos, 
& Rafael (2019) 
Discutir as 
possibilidades de 
prejuízos para a 
população vivendo 
com HIV/aids 
durante o governo de 
Jair Bolsonaro, 
diante da diminuição 
do SUS e do 
aumento do setor 
privado de saúde. 
O governo de Jair Bolsonaro, 
juntamente a um Congresso 
majoritariamente conservador, 
promove cortes do financiamento de 
políticas de saúde, educação e pesquisa. 
Essas medidas podem implodir ações de 
defesa de direitos humanos focadas em 
minorias. 
Fonte: Elaborado pelos autores, maio de 2021. 
 
DISCUSSÃO 
Silva et. al. (2016) relata que as pessoas com identidades transgênero são estigmatizadas 
e o fato de a identificação de seu gênero estar em discordância com o sexo biológico resulta em 
situações de constrangimento e violência, sendo, portanto,comum ceder à heteronormatização. 
Essa lógica, no entendimento de Bonassi et. al. (2015), é socialmente imposta mesmo antes do 
 
 
nascimento, a qual considera apenas duas possibilidades, quais sejam, homem e mulher, cuja 
identificação decorre somente a partir de genitais. Tal imposição cultural além de legitimar a 
patologização das transgeneridades, torna-se alavanca propulsora das violências transfóbicas. 
 Em relação ao perfil psicossocial, Parente et. al. (2018) e Albuquerque et. al. (2016) 
encontraram resultados coincidentes que apontam para a maioria das vítimas sendo do sexo 
biológico masculino, identidade de gênero masculina e orientação sexual homossexual gay. 
Quanto à escolaridade, Silva et. al. (2016), Parente et. al. (2018) e Bonassi et. al. (2015) 
demonstraram que a maior parte das vítimas possui ensino médio completo, em sentido 
contrário de Rios et. al. (2018) identificou que a maior parte de sua amostra possui nível 
superior, completo ou não. 
 Importante destacar que tal resultado referente à escolaridade pode estar relacionado aos 
subgrupos participantes das pesquisas, pois no artigo de Rios et. al. (2018) a amostra era 
formada por homens homossexuais, diferentemente de Silva et. al. (2016) e Bonassi et. al. 
(2015), que trataram exclusivamente de transexuais e travestis, e Parente et. al. (2018) que 
envolveu um grupo mais abrangente de participantes, o que aponta para uma diferenciação com 
tendência ao agravamento das violências e estigmatizações em relação às travestis e 
transexuais. 
 Ressaltam-se, portanto, que Silva et. al. (2016) e Bonassi et. al. (2015) delimitaram a 
pesquisa nas categorias “travestis” e “transexuais”, a primeira discutindo violência física, e a 
outra, psicológica, respectivamente, das quais emerge uníssona argumentação: a de que tais 
categorias apresentam elevado grau de marginalização, repúdio e, em consequência, são os 
maiores alvos da violência. 
 Rios et. al. (2018), em seu estudo sobre estigmatização e violência contra homossexuais, 
informa que na comunidade gay do Recife, os homens masculinos são denominados “boys” e 
os femininos “pintosas”, e a maior parte dos relatos sobre o que é ser “pintosa”, está relacionada 
a situações de violência e discriminação, notadamente por estar em descordo com as normas 
sociais, em contraste com o padrão esperado para homens, que tem “passabilidade 
heterossexual” (RIOS et. al. 2018, p. 148). Tal argumentação é fortemente demonstrada através 
dos altos índices de vitimização encontrados pelos artigos em questão, onde a quase totalidade 
dos participantes afirmou ter sido vítima de algum tipo de violência (PARENTE et. al., 2018; 
ALBUQUERQUE et. al., 2016; SILVA et. al., 2016). Destaca-se, por conseguinte, que em se 
tratando de violência física, que as regiões corporais mais atingidas pelos atos violentos são a 
face e membros superiores, exatamente em razão do caráter humilhante representado por uma 
lesão na face (PARENTE, et. al., 2018). 
 
 
 Outro aspecto em comum nos artigos ora analisados refere-se a naturalização das 
violências pelas próprias vítimas. Bonassi et. al.(2015) ressalta que considerável parte de sua 
amostra apresentou dificuldade de compreender o que seria violência psicológica e seus 
subtipos (humilhação, hostilização, ameaça, calúnia/injúria/difamação), por entenderem, a 
exemplo, que humilhação não integra o conceito de violência por estar presente de forma 
corriqueira e habitual no cotidiano dessas pessoas. 
 Segundo Parente et. al. (2018), a violência psicológica assume a primeira posição 
(78,8%) nos tipos de violência pelas quais a população LGBT passa ao logo da vida, sendo esse 
um indício dessa naturalização das agressões psicológicas, o que, em consequência, eleva o 
risco das violências físicas. 
 Tais dados, no entendimento de Albuquerque et. al. (2016) apontam a violência 
psicológica como a principal manifestação de violência cometida contra LGBT’s e mais difícil 
de ser visibilizada, uma vez que se apoia em mecanismos simbólicos de poder cujo preconceito 
é caracterizado como uma questão natural em nossa sociedade. 
A consequência, portanto, são as mortes invisibilizadas de travestis e transexuais, em 
razão da falta de indicação nos boletins de ocorrências policiais e nas estatísticas de 
mortalidade, das causas dessas mortes, fazendo com que o número de pessoas trans vítimas de 
homicídio seja maior do que o apresentado pelas organizações (BONASSI et. al., 2015). Parente 
et. al. (2018) ressalta que os relatórios anuais do Disque 100 indicam que entre os anos de 2011 
a 2013, a Região Norte liderou as estatística de denúncias no canal governamental com 43% 
das mortes. 
 Os autores, Silva et. al. (2016, Bonassi, et. al., 2015 ) apontam, inclusive, a inexistência 
de informação sobre registro de Boletins de Ocorrências ou notificações em sistemas de 
informações, como uma lacuna em seu estudo, travestindo-se, dessa forma, em um tipo de 
violência institucional, também elencada nas obras em tela, com o agravamento do sofrimento 
e diminuição da procura de estabelecimentos que, em tese, seriam destinados a proteção e ao 
acolhimento. 
 Em Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais: da Formação Médica 
à Atuação Profissional, Negreiros et al (2019) apresentam médicos de atenção básica que têm 
discursos discriminatórios. Um médico afirma que não é possível tratar travesti como pessoa 
normal, pois a considera uma pessoa de alto risco. Há, ainda, uma forma de relacionar a 
população às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Tanto os gestores quanto os médicos 
compactuam com essa visão, como na fala de um médico: “Não dá pra não associar esse público 
às DST, como a aids mesmo.” (NEGREIROS et al., 2019, p. 28). 
 
 
 O texto de Negreiros et al. (2019) contribui com essa percepção, visto que, em relação 
ao nome social, um médico relatou que pode causar confusão na Unidade Básica de Saúde e na 
consulta e assim, apresentando desconhecimento sobre a importância do direito. 
 Outro ponto que se faz necessário citar é uma regularidade discursiva nos artigos. Tanto os 
médicos quanto os gestores de saúde colocam-se em uma posição de isenção de responsabilidade e 
culpabilizam os sujeitos pelos preconceitos que são submetidos. Destacam-se, aqui, dois fragmentos que 
expressam este aspecto: “O preconceito e a discriminação vêm por parte da própria população, que já 
chega aqui se sentindo excluída e discriminada; sem motivo, vem com expressões agressivas com a 
equipe, sem nenhuma situação de discriminação e exclusão” e “O preconceito é próprio deles, não é da 
equipe, de jeito nenhum! Eles já andam traumatizados. Alguns não se aceitam, outros a família 
abandona, não arrumam trabalho por causa do jeito deles. É um público fragilizado!” (NEGREIROS et 
al., 2019, p. 29). 
 A nomeação da pastora evangélica Damares Alves para o Ministério das Mulheres, da 
Família e dos Direitos Humanos representou um retrocesso para os direitos da população 
LGBT, para a população indígena e para as pessoas vivendo com HIV/aids. O novo ministério 
se recusou a adicionar a população LGBT como um grupo protegido pelo seu governo, 
declarando que políticas de diversidade ameaçam a família brasileira (Montenegro et al., 2019). 
 Observa-se nas falas de Damares ideias que reforçam os estereótipos de gênero e 
dificultam o trabalho das políticas públicas voltadas para a população LGBT. Esse 
posicionamento conservador é observado na primeira declaração da ministra: “Meninas vestem 
rosa, e meninos vestem azul”, afirmando que “não haverá mais doutrinação de gênero para as 
crianças e adolescentes do Brasil” (Montenegro et al., 2019). Além disso, o atual presidente da 
República, Jair Bolsonaro, já afirmou publicamente ser homofóbico, declarando que preferia 
ver seu filho morto em um acidente do que ser gay. O governo federal, aliado ao Congresso 
mais conservadordesde o período do regime militar, pode comprometer os direitos da 
população LGBT no Brasil, país com maior índice de homicídios LGBTfóbicos e considerado 
o mais perigoso para as pessoas transgêneras do mundo (Montenegro et al., 2019). 
 Enquanto a tendência mundial é de queda do crescimento dos casos de HIV/aids, o 
Brasil segue o rumo oposto e tem um aumento nos casos registrados, principalmente entre 
homens jovens que fazem sexo com outros homens, tal como destacam Montenegro et al. 
(2019). É importante ressaltar que o risco e a vulnerabilidade dos homossexuais femininos e 
masculinos com relação à infecção pelo HIV são resultado da falta de informação, do 
preconceito e do grande estigma social que recai sobre essa população (Santos et al., 2015). 
 O atual governo também tem representado retrocessos nas políticas de combate ao HIV. 
Em janeiro de 2019, o governo de Bolsonaro censurou um manual, desenvolvido pelo 
 
 
Departamento Nacional de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Sexualmente 
Transmissíveis, HIV/aids e Hepatites Virais (DDAHV), que abordava a saúde dos homens 
transgêneros, incluindo estratégias de redução de danos (por exemplo, necessidade de evitar 
seringas ou agulhas ao usar hormônios). De acordo com o Ministro da Saúde, Luiz Henrique 
Mandetta, a política de HIV/aids não deve desrespeitar a instituição familiar (Montenegro et 
al., 2019). 
 Os posicionamentos atuais do governo se mostram em desacordo com os eixos da 
Resolução n. 26 (2017), que prevê: 
 I − Acesso da população LGBT à atenção integral à saúde; II − Promoção e vigilância 
em saúde; III − Educação permanente, educação popular em saúde e comunicação; IV − 
Mobilização, articulação, participação e controle social; V − Monitoramento e avaliação das 
ações de saúde para a população LGBT. (p. 2). 
 Mesmo com os avanços da população LGBT no combate à epidemia de HIV/aids, que 
assolou sobremaneira esse segmento da população na década de 1980, ainda existem ameaças 
à população LGBT no combate a essa epidemia. Santos et al. (2015) apontam que os 
movimentos da população LGBT concentraram-se no combate à discriminação e ao preconceito 
e na prevenção da incidência no vírus, tanto para a própria comunidade quanto para a população 
geral. Os autores pontuam que, além do combate à homofobia, o combate à epidemia de 
HIV/aids contribuiu para a consolidação desses grupos, alvos de grande estigma social e de 
falta de informação. 
 Para que seja possível efetivar a mudança proposta pela Política Nacional de Saúde 
Integral LGBT e proporcionar o correto atendimento à população em sua diversidade, é 
necessário que os profissionais de saúde passem por revisão de seus pensamentos e posturas 
éticas. Os códigos de ética de profissões da saúde devem ser observados em suas pontuações 
enfáticas sobre a não discriminação nos atendimentos. A imposição da heterocissexualidade 
como o comportamento sexual padrão pode contrariar o princípio da autonomia, uma vez que 
limita as possibilidades de autodeterminação do usuário, obrigando-o a se submeter a padrões 
externos de retidão. Uma das formas de promover as mudanças necessárias nos serviços de 
saúde perpassa pelo questionamento da heterossexualidade como a única possibilidade 
aceitável de orientação sexual, buscando abarcar as especificidades dos diversos segmentos 
populacionais (Santos et al., 2015). 
 Os espaços institucionalizados devem ser ocupados por representantes da população 
LGBT, de forma a exercer-se o controle social no SUS. Essa dinâmica se dá pelo contato com 
gestores dos níveis municipais, estaduais e federais para a propositura de políticas novas e 
 
 
acompanhamento da implementação das existentes. A vulnerabilidade e a exposição aos riscos 
desse grupo social fazem com que seja necessário maior afinco nas pressões feitas (Silva et al., 
2017). A Lei n. 8.080, de 1990, que instituiu o SUS, no Capítulo II, artigo 7º, define a 
participação comunitária enquanto um dos princípios do Sistema ali detalhado. O Estado 
Brasileiro reconhece a participação social enquanto fator potente e necessário de enfrentamento 
às desigualdades características de nossa sociedade, de forma a fortalecer a democracia (Brasil, 
2013). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O artigo teve como foco apresentar uma revisão de literatura sobre a violência LGBTs. 
Destacamos preconceitos velados e explícitos, violências caracterizadas como “crimes 
de ódio” por unicamente sua orientação homossexual. Quanto as políticas públicas, elas 
continuam sendo acatadas por meio dos movimentos LGBT em reuniões e assembleias 
organizadas com o intuito de fazer valer as leis que já estão em vigor e acabar de vez com a 
violência contra essa população no Brasil. 
Quanto ao conceito de homofobia, tratá-la como doença, reforça o conceito patológico. 
Conclui-se que o padrão das violências se assemelha nas pesquisas encontradas, 
sobressaindo as agressões psicológicas, seguidas das físicas, com notória diferenciação entre as 
categorias que compõem a população LGBT, destacando-se as praticadas contra travestis e 
transexuais. 
Nesse cenário preocupante, caracterizado por relatos de violência, com assustadores 
níveis de crueldade na prática dos crimes, e a normalização das condutas discriminatórias, faz-
se necessário o aprofundamento dos estudos sobre o tema, para a necessária a compreensão da 
dinâmica dos delitos praticados contra a população LGBTs, para implementação de medidas 
preventivas e coercitivas, tendo em vista o fortalecimento da comunidade com o consequente 
enfrentamento necessário ao combate da violência. 
 É preciso a penalização aos agressores homofóbicos e resolutividade dos registros, pois 
dessa forma, será possível estabelecer medidas mais eficazes no combate aos crimes de 
intolerância de modo geral. 
 
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http://dx.doi.org/10.1590/S1413-29X2014000100009.Acesso%20em%2013/12/2020

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