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IMED ESCOLA POLITÉCNICA GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL GABRIELA DALL’ASTA RIZZOTTO AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE NO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO - RS PASSO FUNDO 2019 GABRIELA DALL’ASTA RIZZOTTO AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE NO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO - RS Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Engenheira Civil no curso de Engenharia Civil, da Escola Politécnica IMED. Orientador: Me. Eng. Luis Eduardo Formigheri. PASSO FUNDO 2019 3 GABRIELA DALL’ASTA RIZZOTTO AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE NO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO - RS Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Engenheira Civil no curso de Engenharia Civil, da Escola Politécnica IMED. Passo Fundo, 09 de dezembro de 2019. BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Prof. Me. Eng. Luis Eduardo Formigheri – Engenharia Civil – IMED – Orientador Área de concentração: Geotecnia _____________________________________ Prof. Me. Eng. Maristâni Gampert Spannenber Formigheri – Engenharia Civil – IFSUL Área de concentração: Geotecnia _____________________________________ Prof. Me. Eng. Tamara Francisca Baggio – Engenharia Civil - IFSUL Área de concentração: Engenharia de Materiais 4 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Luis Eduardo Formigheri, agradeço as ricas sugestões e ensinamentos a este trabalho. Sua dedicação, paciência e sabedoria me incentivaram do início ao fim, me estimulando a continuar e buscar sempre a aprender ao longo desta caminhada. Muito obrigada! À minha família que esteve sempre me apoiando, suportando as situações-limites no decorrer de todo o curso, me incentivando a nunca desistir e por todo o auxílio necessário. Aos meus amigos e colegas, especialmente pela paciência de ouvir, acolher e retribuir com conselhos, me dando força e vontade de seguir adiante. Sou grata por toda cooperação e apoio de todos. Divido a todos esta etapa de minha vida acadêmica e futura vida profissional, o meu reconhecimento e carinho por vocês é imensurável. Muito obrigada! 5 RESUMO Este trabalho apresenta resultados de análises de estabilidade de um talude, de solo argiloso natural residual de basalto, localizado no município de Passo Fundo – RS. Inicialmente, apresenta-se uma visão geral dos tipos de movimentos de massa e tipos de ruptura que podem ocorrer em um maciço terroso sob forma de deslizamentos, rupturas de taludes, quedas, entre outros, além de ferramentas computacionais disponíveis no mercado para facilidade de análises de estabilidade. À vista disso, a metodologia baseou-se em realizar um levantamento topográfico do talude, a partir de medições. Também se realizou sondagem à trado manual, para caracterização táctil-visual do solo. Houve a importância de buscar informações referentes ao histórico de precipitação do município de Passo Fundo, além de estimar uma sobrecarga acidental para testes, considerando o peso de um caminhão e sobrecarga permanente de uma residência. Tais informações levantadas foram de suma importância como dados de entrada na realização das análises com o auxílio do software GEOSLOPE, onde buscou-se saber a resistência ao cisalhamento das camadas de solo, bem como a geometria dos perfis do talude. Para a interpretação das análises no quesito de estabilidade, necessitou-se realizar a classificação de riscos de acordo com a norma ABNT NBR 11682:2009. O risco do presente talude em estudo, de acordo com os critérios estabelecidos pela norma, classificou-se como médio – quanto à riscos de vidas humanas, e baixo – quanto à riscos ambientais e materiais, indicando um fator de segurança mínimo de 1,3. Na realização das análises, os parâmetros de resistência do solo foram utilizados valores retirados de bibliografia, a partir de campanha de ensaios de laboratórios realizados em dois munícipios próximos: Ijuí e Erechim. Tais análises consistiram em processos iterativos para avaliar o comportamento do talude sob condições adversas (análise drenada, análise não-drenada, sobrecarga e escavação no pé do talude), objetivando a comparação dos fatores de segurança de acordo com a recomendação mínima da norma de estabilidade. Para cada etapa de análise, realizou- se ainda comparações dos métodos de Morgenstern-Price, Spencer, Janbu e Bishop. A avaliação do comportamento do talude consistiu na realização das análises considerando os parâmetros do solo de Erechim e posteriormente do solo de Ijuí, onde os parâmetros de resistência como a coesão, peso específico natural e ângulo de atrito apresentaram-se muito divergentes, havendo a necessidade de reduzir os parâmetros do solo de Erechim e ajustar os mesmos do solo de Ijuí, para obter fatores de segurança mais condizentes e realistas com a presente situação do talude. Conclui-se que o talude se encontra em situação estável sob condição drenada, enquanto em análises sob condições adversas (saturação + sobrecarga + corte) houveram algumas variações nos fatores de segurança em comparação com a recomendação mínima da norma. Palavras-chave: Estabilidade de talude. Análises. Fator de segurança. 6 ABSTRACT This final paper presents results of stability analysis of natural soil, of residual natural clayey basalt soil, located at Passo Fundo - RS. Initially, it presents an overview of the types of mass movement and types of rupture that can occur in an earthen mass in the form of landslides, slope ruptures, falls, among others, as well as commercially available computational tools for stability analysis. In view of this, a methodology was based on performing a topographic survey of the slope, determined on the execution of measurements, and the addition of a manual geotechnical investigation for tactile-visual soil characterization. There was the importance of seeking information related to the precipitation history of Passo Fundo’s city, as well as estimating an accidental surcharge load for testers, considering the weight of a 6-ton truck, and a 10-ton residence surcharge load on top of the slope. This information were important as input data in the execution of analyzes with the support of GEOSLOPE software, where it was required to classify soil layer and shear strength, as well as a geometry of the slope tests. For an interpretation of stability analysis, a risk classification is required according to ABNT NBR 11682: 2009. The risk of the present slope in study, according to the criterion established by the norm, was classified as medium - in terms of risks to human lives, and low - in terms of environmental and material risks, indicating a minimum safety factor of 1.3. . In the analyzes, the soil resistance parameters were used values taken from bibliography, from laboratory tests campaign realized in two nearby municipalities: Ijuí and Erechim. These analyzes consisted of iterative processes to evaluate the slope behavior under adverse conditions (Mohr–Coulomb analysis, undrained analysis, surcharge load and cut excavation), aiming at the comparison of safety factors according to the minimum recommendation of the stability norm. For each analysis step, a comparison of the Morgenstern-Price, Spencer, Janbu and Bishop methods was performed to evaluate the variation of the safety factors obtained. The evaluation of the slope behavior consisted of the analysis considering the soil parameters of Erechim and later the soil of Ijuí, where the resistance parameters such as cohesion, natural specific weight and friction angle were very convergent, being necessary reducing the soil parameters of Erechim and adjusting those of the soil ofIjuí, to obtain safety factors more consistent and realistic with the present slope situation. It is concluded that the slope is in a stable situation under Mohr–Coulomb condition, while in analyzes under adverse conditions (saturation + surcharge load + cut) there are some variations in safety factors compared to a minimum norm recommendation. Keywords: Slope stability. Analisys. Safety factor. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Composição de talude ......................................................................................................... 16 Figura 2: Esquema dos sinais de rastejo ............................................................................................ 18 Figura 3: Representação do fenômeno "corrida" ............................................................................... 19 Figura 4: Escorregamento rotacional ................................................................................................. 21 Figura 5: Escorregamento translacional ............................................................................................. 21 Figura 6: Esquema de queda .............................................................................................................. 22 Figura 7: Geometria de ruptura .......................................................................................................... 23 Figura 8: Instrumentos de monitoramento de taludes ........................................................................ 27 Figura 9: Representação do método de fatias e as forças atuantes .................................................... 32 Figura 10: Software PLAXIS (Superfície de deslizamento e deformação da malha) ....................... 35 Figura 11: Exemplo da aplicação da ferramenta GEOSLOPE .......................................................... 35 Figura 12: Exemplo do software SLIDE............................................................................................ 36 Figura 13: Visualização em 3D software SLIDE3 ............................................................................. 36 Figura 14: Mudança na geometria do talude ...................................................................................... 38 Figura 15: Localização do município de Passo Fundo ...................................................................... 39 Figura 16: Resultados dos índices físicos do solo e parâmetros de resistência na condição natural e inundada de Erechim .................................................................................................................. 40 Figura 17: Gráfico de parâmetros de resistência ao cisalhamento (a) ângulo de atrito e (b) coesão . 42 Figura 18: Imagens de satélite nos anos de (1) 2011, (2) 2015 e (3) 2018 ........................................ 44 Figura 19: Foto atual do talude .......................................................................................................... 45 Figura 20: Medições do talude ........................................................................................................... 47 Figura 21: Indicação das seções ......................................................................................................... 48 Figura 22: Representação das seções A-A, B-B, C-C e D-D ............................................................. 49 Figura 23: Locação dos furos de sondagem ....................................................................................... 51 Figura 24: Sondagem S01 .................................................................................................................. 52 Figura 25: Sondagem S02 .................................................................................................................. 53 Figura 26: Sondagem S03 .................................................................................................................. 54 Figura 27: Sondagem S04 .................................................................................................................. 55 Figura 28: Sondagem S05 .................................................................................................................. 56 Figura 29: Sondagem S06 .................................................................................................................. 57 Figura 30: Sondagem S07 .................................................................................................................. 58 Figura 31: Sondagem S08 .................................................................................................................. 59 8 Figura 32: Sondagem S09 .................................................................................................................. 60 Figura 33: Sondagem S10 .................................................................................................................. 61 Figura 34: Perfis corte A-A e B-B ..................................................................................................... 62 Figura 35: Perfil corte E-E ................................................................................................................. 63 Figura 36: Perfis corte C-C e D-D ..................................................................................................... 64 Figura 37: Tabelas de fatores de segurança conforme a norma ......................................................... 66 Figura 38: Temperatura e precipitações médias em Passo Fundo ..................................................... 67 Figura 39: Normais climatológicas de Passo Fundo no período de 1961-1990 ................................. 68 Figura 40: Corte A-A - perfil trecho 1 ............................................................................................... 70 Figura 41: Corte B-B - perfil trecho 2 ................................................................................................ 70 Figura 42: Corte C-C - perfil trecho 3 ................................................................................................ 71 Figura 43: Corte D-D - perfil trecho 4 ............................................................................................... 71 Figura 44: Análise drenada de todos os perfis (parâmetros do solo de Erechim) .............................. 73 Figura 45: Análise não-drenada de todos os perfis (parâmetros do solo de Erechim) ...................... 75 Figura 46: Análises drenada e não-drenada, respectivamente, com sobrecarga acidental em todos os perfis........................................................................................................................................... 77 Figura 47: Análises na condição drenada de todos os trechos com parâmetros de solo de Ijuí ........ 80 Figura 48: Análises da condição não-drenada de todos os trechos com parâmetros de solo de Ijuí . 81 Figura 49: Análises drenada e não-drenada, respectivamente, com sobrecarga acidental em todos os perfis........................................................................................................................................... 83 Figura 50: Análise drenada de todos os perfis (parâmetros reduzidos do solo de Erechim) ............. 86 Figura 51: Análise não-drenada de todos os perfis (parâmetros reduzidos do solo de Erechim) ...... 88 Figura 52: Análises drenada e não-drenada, respectivamente, com sobrecarga acidental em todos os perfis........................................................................................................................................... 89 Figura 53: Análise drenada de todos os perfis (parâmetros de solo ajustados de Ijuí) ..................... 92 Figura 54: Análise não-drenada de todos os perfis (parâmetros de solo ajustados de Ijuí) ............... 94 Figura 55: Análises drenada e não-drenada,respectivamente, com sobrecarga acidental em todos os perfis........................................................................................................................................... 96 Figura 56: Análises na condição drenada (escavações de 2m no pé do talude) ................................. 98 Figura 57: Análises na condição não-drenada (escavações de 2m no pé do talude) ....................... 100 Figura 58: Análises drenada e não-drenada, respectivamente, com sobrecarga acidental em todos os perfis......................................................................................................................................... 101 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características dos movimentos de massa ......................................................................... 17 Tabela 2: Tipos de instrumentação de monitoramento de taludes ..................................................... 26 Tabela 3: Nível de segurança desejado contra a perda de vidas humanas ......................................... 28 Tabela 4: Nível de segurança desejado contra danos materiais e ambientais .................................... 29 Tabela 5: Fatores de segurança mínimos ........................................................................................... 29 Tabela 6: Características dos métodos de equilíbrio limite ............................................................... 31 Tabela 7: Caracterização geotécnica do solo de Passo Fundo ........................................................... 41 Tabela 8: Parâmetros de resistência do solo de Erechim utilizados na primeira análise ................... 72 Tabela 9: Variação dos fatores de segurança conforme método de análise na condição drenada ..... 74 Tabela 10: Variação dos fatores de segurança conforme método de análise na condição não-drenada .................................................................................................................................................... 76 Tabela 11: Variação dos fatores de segurança a condição drenada e não-drenada com sobrecarga acidental ..................................................................................................................................... 78 Tabela 16: Parâmetros de resistência do solo de Ijuí utilizados na terceira análise ........................... 79 Tabela 13: Comparação dos métodos de análise na condição drenada de todos os perfis do solo de Ijuí .............................................................................................................................................. 81 Tabela 14: Comparação dos métodos de análise na condição não-drenada de todos os perfis do solo de Ijuí ......................................................................................................................................... 82 Tabela 19: Variação dos fatores de segurança a condição drenada e não-drenada com sobrecarga acidental ..................................................................................................................................... 84 Tabela 12: Parâmetros de resistência reduzidos do solo de Erechim utilizados na segunda análise . 85 Tabela 13: Variação dos fatores de segurança conforme método de análise na condição drenada ... 87 Tabela 14: Variação dos fatores de segurança conforme método de análise na condição não-drenada .................................................................................................................................................... 88 Tabela 19: Variação dos fatores de segurança a condição drenada e não-drenada com sobrecarga acidental ..................................................................................................................................... 90 Tabela 20: Parâmetros de resistência do solo atribuído utilizados na quarta análise ........................ 91 Tabela 21: Comparação dos métodos de análise na condição drenada de todos os perfis ................ 93 Tabela 22: Comparação dos métodos de análise na condição não-drenada de todos os perfis ......... 95 Tabela 23: Variação dos fatores de segurança a condição drenada e não-drenada com sobrecarga acidental ..................................................................................................................................... 97 Tabela 24: Comparação dos métodos de análise na condição drenada de todos os perfis com 10 escavações .................................................................................................................................. 99 Tabela 25: Comparação dos métodos de análise na condição não-drenada de todos os perfis com escavações ................................................................................................................................ 100 Tabela 26: Variação dos fatores de segurança na condição drenada e não-drenada com sobrecarga acidental ................................................................................................................................... 102 LISTA DE EQUAÇÕES Equação (1): Fator de segurança proposto por Fellenius ........................................................ 27 Equação (2): Fator de segurança determinado por Gerscovich ............................................... 28 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 14 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................... 15 2.1 Geral ............................................................................................................................................ 15 2.2 Específicos ................................................................................................................................... 15 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................................ 15 3.1 Taludes ...................................................................................................................................... 15 3.1.1 Taludes construídos............................................................................................................ 16 3.1.2 Taludes naturais ................................................................................................................. 16 3.2 Movimentos de massa .............................................................................................................. 16 3.2.1 Rastejos .............................................................................................................................. 18 3.2.2 Corridas .............................................................................................................................. 18 3.2.3 Escorregamentos ................................................................................................................... 20 3.2.3.1 Escorregamentos rotacional ........................................................................................... 20 3.2.3.2 Escorregamentos translacionais ..................................................................................... 21 3.2.4 Quedas ................................................................................................................................... 22 3.3 Tipos de rupturas ..................................................................................................................... 22 3.3.1 Ruptura planar .................................................................................................................... 23 3.3.2 Ruptura circular..................................................................................................................23 3.3.3 Ruptura em cunha .............................................................................................................. 24 3.3.4 Tombamento ...................................................................................................................... 24 3.4 Manifestações patológicas de movimentos ............................................................................. 24 3.4.1 Instrumentação de monitoramento de taludes .................................................................... 25 3.5 Fator de segurança ................................................................................................................... 27 3.6 Análise de estabilidade............................................................................................................. 30 3.6.1 Método de equilíbrio limite................................................................................................ 30 3.6.2 Método dos elementos finitos ............................................................................................... 32 12 3.6.3 Ferramentas computacionais .............................................................................................. 33 3.6.3.1 Software GEOSLOPE ................................................................................................ 36 3.7 Condições de contorno para análise de estabilidade............................................................. 37 3.8 Solos ............................................................................................................................................. 38 3.8.1 Parâmetros geotécnicos ......................................................................................................... 40 4 METODOLOGIA .................................................................................................................... 42 4.1 Histórico .................................................................................................................................... 42 4.2 Caracterização do talude ......................................................................................................... 45 4.3 Geometria do talude................................................................................................................. 45 4.4 Solo do talude ........................................................................................................................... 49 4.4.1 Sondagem à trado ............................................................................................................... 50 4.4.2 Parâmetros de resistência do solo ...................................................................................... 65 4.5 Classificação de riscos conforme NBR 11682:2009 ............................................................... 65 4.6 Precipitação em Passo Fundo.................................................................................................. 67 4.7 Sobrecarga e corte .................................................................................................................... 68 5 ANÁLISE DE RESULTADOS ................................................................................................ 69 5.1 Primeira análise.......................................................................................................................... 72 5.1.1 Condição drenada .................................................................................................................. 73 5.1.2 Condição não-drenada........................................................................................................... 75 5.1.3 Acréscimo de sobrecarga acidental ....................................................................................... 76 5.2 Segunda análise .......................................................................................................................... 78 5.3.1 Condição drenada .................................................................................................................. 80 5.3.2 Condição não-drenada........................................................................................................... 81 5.3.3 Acréscimo de sobrecarga acidental ....................................................................................... 83 5.3 Terceira análise .......................................................................................................................... 84 13 5.2.1 Condição drenada .................................................................................................................. 86 5.2.2 Condição não-drenada........................................................................................................... 88 5.2.3 Acréscimo de sobrecarga acidental ....................................................................................... 89 5.4 Quarta análise ............................................................................................................................ 90 5.4.1 Condição drenada .................................................................................................................. 92 5.4.2 Condição não-drenada........................................................................................................... 94 5.4.3 Acréscimo de sobrecarga acidental ....................................................................................... 96 5.3 Análises de possíveis escavações ............................................................................................... 97 5.3.1 Condição drenada .................................................................................................................. 98 5.3.2 Condição não-drenada......................................................................................................... 100 5.3.3 Acréscimo de sobrecarga acidental ..................................................................................... 101 6 CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 103 7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 105 14 1 INTRODUÇÃO Analisar a estabilidade de taludes é fazer uma avaliação da possibilidade de escorregamentos de massa de solo em diferentes geometrias. Estas análises são feitas a partir da comparação das tensões cisalhantes mobilizadas com as tensões resistentes ao cisalhamento. A norma ABNT NBR 11682:2009 define fatores de segurança mínimos para a estabilidade de taludes que impactam em riscos às vidas humanas e quanto à riscos ambientais. A instabilidade dos taludes causada pelos processos de deslizamentos, quedas, rastejos, escorregamentos, recalques, etc., devido a fatores adversos das condições de contorno, podem causar consequências perigosas para áreas vizinhas, resultando em prejuízos econômicos e sociais. Em toda obra de engenharia o solo está presente, sendo assim, é muito importante a investigação e/ou análise do tipo de solo para conhecer os parâmetros de resistência, e, com isso, viabilizar a obra de forma técnica e econômica. Especificamente para estabilidade de taludes, o conhecimento do solo é de suma importância a fim de evitar riscos de ruptura. Com o avanço da tecnologia ao longo dos anos, houve a implementação de novos métodos de análises com a utilização de ferramentas computacionais (equilíbrio limite, elementos finitos, diferenças finitas, etc.) facilitando a visualização e a modelagem em duas ou três dimensões. Neste trabalho será avaliada a estabilidade de um talude próximo aos laboratórios da Faculdade IMED, no município de Passo Fundo - RS, utilizando uma ferramenta computacional (software GEOSLOPE),sob condições variadas de carregamento, descarregamento, níveis de água, situações hipotéticas de cortes, etc. Cabe ao engenheiro civil analisar e desenvolver um projeto adequado para garantir que áreas de riscos de taludes e/ou encostas não cause problemas às áreas vizinhas, e ainda verificar a suscetibilidade de eventos de movimentação de massa de solo no local. 15 2 OBJETIVOS 2.1 Geral O objetivo geral do trabalho é avaliar a estabilidade de um talude de solo natural situado no estacionamento dos pavilhões de laboratórios da Faculdade Meridional (IMED), em Passo Fundo – RS. 2.2 Específicos Os objetivos específicos deste trabalho são: a) Obter e analisar dados geométricos e geotécnicos do talude; b) Testar os métodos de equilíbrio limite através de software; c) Avaliar a estabilidade sob condições adversas (análise drenada e não drenada); d) Avaliar condições de sobrecarga e alívio de tensões no pé do talude (corte); e) Analisar fator de segurança conforme a norma ABNT NBR 11682:2009. 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Taludes Taludes são definidos como qualquer superfície inclinada de maciços terrosos, rochosos ou mistos, originado de processos geológicos e geomorfológicos diversos. Apresentam modificações antrópicas, como: cortes, desmatamentos, introdução de cargas, etc. (AUGUSTO FILHO; VIRGILI; DILÁSCIO, 2018, p. 400). Fiori (2015) explica que um talude pode ser classificado de duas formas: natural, como no caso de encostas ou vertentes, ou artificial, quando é construído pelo homem, no caso de cortes e aterros. A Figura 1 ilustra a composição de um talude. 16 Figura 1: Composição de talude Fonte: ABNT (NBR 9061:1985) 3.1.1 Taludes construídos De acordo com Gerscovich (2016), denomina-se taludes construídos aqueles que são executados pela ação humana, resultante de cortes em encostas, de escavações ou de lançamento de aterros. 3.1.2 Taludes naturais Taludes naturais são formados pela ação da natureza, sem interferência humana. Gerscovich (2016) salienta que os taludes naturais podem ser compostos por solos residuais e/ou coluvionares, além de rocha. Os solos residuais permanecem no local de origem, enquanto os solos coluvionares são transportados pela ação da gravidade. Devido as ações das forças gravitacionais, os taludes naturais ficam sujeitos a problemas de instabilidade, pois estas forças contribuem para a propagação do movimento. São formados naturalmente através de erosões ou outros processos da natureza, após longo período de tempo. De acordo com Barnes (2016), se o talude for composto por solos que resistem à força de gravidade, ele permanecerá estável, sem movimentação da massa de solo. 3.2 Movimentos de massa Movimentos de massa são movimentos que envolvem massa, volume de solo e/ou rocha que se desloca em conjunto, e diferem da erosão que ocorre grão a grão. Também pode ser definido como 17 deslizamento, escorregamento, ruptura de talude, quedas, entre outros, e refere-se à movimentação de descida de solos e rochas, ou ambos, sob o efeito da gravidade, e geralmente potencializado pela ação da água (CEMADEN, 2016). A Tabela 1 abaixo apresenta as características de movimentos de massa proposto por Augusto Filho (1991). Tabela 1: Características dos movimentos de massa PROCESSOS CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO, MATERIAL E GEOMETRIA Rastejo ou fluência (creep) Vários planos de deslocamento (internos); Velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com a profundidade; Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes; Solo, depósitos, rocha alterada/fraturada; Geometria indefinida. Escorregamentos (slides) Poucos planos de deslocamento (externos); Velocidades médias (km/h) e altas (m/s); Pequenos a grandes volumes de material; Geometria e materiais variáveis; Planares - solos pouco espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza; Circulares – solos espessos homogêneos e rochas muito fraturadas; Em cunha – solos e rochas com dois planos de fraqueza. Quedas (falls) Sem planos de deslocamento; Movimentos tipo queda livre ou em plano inclinado; Velocidades muito altas (vários m/s); Material rochoso; Pequenos a médios volumes; Geometria variável: lascas, placas, blocos, etc.; Rolamento de matacão; Tombamento Corridas (flows) Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas à massa em movimentação); Movimento semelhante ao de um líquido viscoso; Desenvolvimento ao longo das drenagens; Velocidades médias a altas; Mobilização de solo, rocha, detritos e água; Grandes volumes de material; Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas. Autor: Augusto Filho (1991) 18 3.2.1 Rastejos Os rastejos são movimentos lentos e contínuos de material de encostas. Podem envolver grandes massas de solo, por exemplo, taludes de uma região, sem que haja, na área interessada, diferenciação entre material em movimento e material estacionário. A movimentação é provocada pela ação da gravidade, por intervenção dos efeitos de variações de temperatura e umidade. O fenômeno de expansão e de contração da massa de material, por variação térmica, se transforma em movimento, encosta abaixo, numa espessura proporcional à atingida pela variação de temperatura. Abaixo dessa profundidade, haverá somente rastejo causado pela ação da gravidade (GUIDICINE; NIEBLE, 1984). É possível observar aos sinais que evidenciam a presença do rastejo: árvores inclinadas ou troncos curvados; deslocamento de postes e cercas; trincas e rupturas em elementos rígidos; deformações de elementos estruturais de rocha ou solo. A Figura 2 a seguir representa os sinais do fenômeno denominado como rastejo. Com o passar do tempo, um rastejo pode evoluir para um escorregamento verdadeiro (MASSAD, 2010). Figura 2: Esquema dos sinais de rastejo Fonte: Maciel Filho e Nummer (2014) 3.2.2 Corridas Tominaga, Santoro e Amaral (2009) definem corridas como formas rápidas de escoamento (m/h), causadas pela perda de atrito interno das partículas de solo, em virtude da destruição de sua estrutura interna, quando há excesso de água. Estes movimentos são gerados a partir de solo, rocha e árvores, que quando entram em contato com a água, formam uma massa de elevada densidade e viscosidade. 19 As corridas de massa abrangem uma gama variada de denominações na literatura nacional como: fluxos de detritos (debris flow), avalanche de detritos (debris avalanche), fluxos de lama (mud flow), fluxos de terra (earthflow), avalanche de rochas (rock avalanches), sendo diferenciados principalmente em função de suas velocidades e das características dos materiais que mobilizam (BRASIL, 2010). É possível observar este fenômeno conforme a ilustração da Figura 3 abaixo. Hungr, Leroueil e Picarelli (2013) apresentam uma classificação dos tipos de corridas com suas respectivas características: a) Fluxo de detritos (debris flow): fluxo de escoamento muito rápido a extremamente rápido de detritos saturados em uma direção íngreme. Forte arrastamento de material e água do caminho de fluxo; b) Corrida de lama (mud flow): movimento com velocidade rápida a extremamente rápida, formado por um fluxo crescente de solo plástico saturado através de um canal íngreme. Envolve uma significativa porcentagem de água em relação ao material da origem. Apresenta alto arrastamento de material e água ao longo da superfície; c) Avalanche de detritos (debris avalanche): movimento muito rápido a extremamente rápido de detritos parcialmente ou totalmente saturados em uma encosta íngreme. Ocorre em todas as escalas; d) Fluxo de terra (earthflow): movimento rápido ou mais lento, intermitente de solo argiloso e plástico, facilitado por uma combinação de várias superfícies de cisalhamento discretas e cisalhamento interno. Períodoslongos de dormência relativa alternam com "surtos" mais rápidos; e) Avalanche de rocha (rock avalanche): movimento extremadamente rápido e massivo, formado por rocha e/ou neve fragmentada. Figura 3: Representação do fenômeno "corrida" Fonte: Highland e Bobrowsky (2008) 20 3.2.3 Escorregamentos Os escorregamentos são considerados como acidentes geológicos que pode causar a perda de vidas humanas e danos ambientais. Das e Sobhan (2014) definem escorregamentos como movimento descendente da massa de solo que ocorre em uma superfície de ruptura. Tominaga, Santoro e Amaral (2009) definem escorregamentos como: Conhecidos também como deslizamentos, são processos de movimentos de massa envolvendo materiais que recobrem as superfícies das vertentes ou encostas, tais como solos, rochas e vegetação. Estes processos estão presentes nas regiões montanhosas e serranas em várias partes do mundo, principalmente naquelas onde predominam climas úmidos. No Brasil, são mais frequentes nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Caracterizam-se por movimentos rápidos, bruscos, com limites laterais e profundidades bem definidas. Podem abranger solo, solo e rocha ou apenas rocha. Sua geometria pode ser circular, planar ou em cunha, em função da existência ou não de estruturas ou planos de fraqueza nos materiais envolvidos, que condicionam a formação das superfícies de ruptura (OLIVEIRA, 2010). 3.2.3.1 Escorregamentos rotacional Segundo Hungr, Leroueil e Picarelli (2013), escorregamento rotacional, ilustrado na Figura 4, é caracterizado como um deslizamento de uma massa de solo homogêneo e geralmente coesivo, em uma superfície de ruptura rotacional, onde ocorre pequena deformação interna. A velocidade deste escorregamento é normalmente lenta a rápida, mas pode ser extremamente rápido em solos sensíveis ou colapsados. De acordo com Highland e Bobrowsky (2008), a ocorrência mais comum deste fenômeno é em materiais homogêneos, portanto, o escorregamento rotacional é o tipo mais frequente em aterros. 21 Figura 4: Escorregamento rotacional Fonte: Highland e Bobrowsky (2008) 3.2.3.2 Escorregamentos translacionais De acordo com Maciel Filho e Nummer (2014) escorregamentos translacionais são aqueles cuja superfície de ruptura é plana. Podem ser classificados como: escorregamentos translacionais de rocha, de solo, de rocha e solo e escorregamentos translacionais remontantes. Estes se desenvolvem em etapas sucessivas à montante da encosta. A Figura 5 a seguir ilustra este fenômeno. É um dos tipos mais comuns de deslizamentos encontrados pelo mundo, em todos os tipos de ambientes e em todas as condições (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008). Figura 5: Escorregamento translacional Fonte: Highland e Bobrowsky (2008) 22 3.2.4 Quedas Quedas, ilustrados na Figura 6, são movimentos de massa nos quais um ou vários blocos de solo ou rocha, ou ambos, se desprendem de uma encosta, sem que ao longo desta superfície ocorra deslocamento cortante apreciável. A massa pode cair e quebrar com o impacto, começar a repicar e rolar em encostas íngremes, e continuar até terrenos mais planos (VARNES, 1978). A ocorrência deste processo está condicionada à presença de afloramentos rochosos em encostas íngremes ou taludes de escavação, sendo potencializados pelas amplitudes térmicas, por meio da dilatação e contração da rocha, além da ação antrópica (BRASIL, 2010). Figura 6: Esquema de queda Fonte: Highland e Bobrowsky (2008) 3.3 Tipos de rupturas Para compreender o comportamento de um talude é necessário conhecer os tipos de ruptura e como cada um deles deve ser tratado. Uma massa de solo pode se romper em diferentes formas: circular, planar, multiplanar, mista, etc. Geralmente, os possíveis modos de ruptura estão condicionados à presença de heterogeneidades ao longo do perfil do talude, por exemplo: camadas com contrastes elevados de resistência ou a existência de descontinuidades ocasionam mudanças bruscas na superfície de ruptura (GERSCOVICH, 2016). A Figura 7 representa os 4 tipos de rupturas que podem ocorrer em um talude. 23 Figura 7: Geometria de ruptura Fonte: Augusto Filho, Virgili e Diláscio (2018, p. 404) 3.3.1 Ruptura planar Harrison e Hudson (1997) definem ruptura planar como uma ruptura governada por descontinuidades em relação a geometria do talude. Acontece quando um plano de escorregamento ocorre praticamente paralelo a face do talude e mergulha com um ângulo inferior ao da face do mesmo, mas superior ao ângulo de atrito. De acordo com Hoek e Bray (1981) existe a hipótese de que a superfície de deslizamento e a abertura de tração tem direção paralela à superfície do talude. 3.3.2 Ruptura circular Este tipo de ruptura é comum ocorrer em maciços de solos ou maciços muito alterados. A ruptura também pode ocorrer em taludes de rochas, maciços rochosos altamente fraturados sem predominância na orientação das descontinuidades. O comportamento do escorregamento é diferente do comportamento no caso de ruptura planar, pois neste caso o maciço se comporta de acordo com o escorregamento rotacional (TOMINAGA et al, 2009). 24 3.3.3 Ruptura em cunha De acordo com Tominaga et al (2009), este tipo de ruptura ocorre quando dois planos afloram na superfície do talude mantendo as mesmas condições para ruptura planar, mas neste caso o escorregamento ocorre na direção de movimento ao longo da linha de interseção das superfícies de ruptura. É um tipo de ruptura encontrado em várias formas de descontinuidade, cuja orientação, espaçamento e continuidade determinam a forma e o volume da cunha. 3.3.4 Tombamento Neste tipo de movimento ocorre rotação em torno de um ponto abaixo do centro de gravidade de um ou vários blocos, ou por meio de forças aplicadas por blocos vizinhos, ou por fluidos que passam nas fissuras. Dependendo da inclinação do talude e da orientação de suas descontinuidades, pode culminar ou não com a queda ou deslizamento. Pode incidir em diversos tipos de rochas, solos granulares ou coesivos, podendo movimentar desde algumas centenas até a milhares de metros cúbicos de material (FERNANDES, 2010). Os autores Highland e Bobrowsky (2008) caracterizam o tombamento como uma rotação frontal de uma massa de solo ou rocha para fora do talude, em torno de um ponto, ou eixo, abaixo do centro de gravidade da massa deslocada. As ocorrências são notadas em taludes de corte, onde acontece o desconfinamento devido à mudança de geometria do talude, ocasionando o movimento de tombamento dos blocos. 3.4 Manifestações patológicas de movimentos Em taludes e/ou encostas é comum ter evidências de movimentação. É possível identificar estes movimentos quando se observa algumas patologias no local de entorno, riscos de rupturas, desníveis horizontais, etc. Vaz e Gurgueira (2018) salientam que a classificação mais empregada é a tátil-visual, principalmente pela facilidade com que pode ser aplicado no campo ou em amostras de sondagens para identificar patologias. De acordo com Moura (2018), existem alguns fatores que podem indicar a suscetibilidade de possíveis deslizamentos da massa de solo, como por exemplo: ausência de vegetação, erosão devido à exposição do solo, alta inclinação, manchas de umidade e abertura de trincas de tração. 25 3.4.1 Instrumentação de monitoramento de taludes Guidicini e Nieble (1983) salientam que, de uma forma geral, a instrumentação de obras e áreas de risco significa sistematizar as observações sobre o comportamento das mesmas sendo uma prática de grande importância, devido aos impactos que um talude pode representar no quesito social, ambiental e econômico. No monitoramento, as grandezas que podem ser medidas em campo são: os deslocamentos verticais, os deslocamentoshorizontais, as tensões efetivas e totais, as poropressões, forças e temperatura. Os principais tipos de instrumentos empregados no monitoramento de taludes são os pluviômetros, os piezômetros, os indicadores de nível d’água e os medidores de deslocamento, como os marcos superficiais e os inclinômetros (RIZZO, 2007). A Tabela 2 a seguir apresenta alguns instrumentos manuseados e a Figura 8 os ilustra. É válido destacar que uma boa instrumentação pode ser feita com medidores simples e de baixo custo. É totalmente possível fazer um programa de instrumentação de taludes utilizando-se medições manuais, observações visuais sistemáticas, medidas de níveis de água com uso de bóias em poços ou medidas de deslocamentos feitas com topografia básica (BRESSANI, 2009). 26 Tabela 2: Tipos de instrumentação de monitoramento de taludes TIPO DE INSTRUMENTO CARACTERÍSTICAS Inclinômetro Mede deslocamentos horizontais dentro do terreno, permite localizar a profundidade da superfície de ruptura e acompanhar a progressão dos movimentos de um talude. Pluviômetro A chuva penetra por um funil no topo e atinge um pequeno reservatório. Quando preenchido, este bascula e aciona um contato elétrico que fornece um pulso para o sistema de aquisição de dados. A contagem dos pulsos em um determinado período, permite determinar a chuva acumulada e a intensidade da mesma. Piezômetro Trata-se de um tubo vertical ligado a uma ponta porosa por onde a água pode livremente entrar ou sair. Mede-se a poropressão através da altura de coluna d’água no tubo. Marcos superficiais Os deslocamentos na superfície do terreno podem ser observados através de marcos superficiais, sendo necessário pontos de referências ou marcos fixos, de concreto ou parafusos inoxidáveis. Alongâmetros (Tell Tales) Medem os deslocamentos horizontais de pontos diversos ao longo da cota na qual são instalados. Trata-se de um fio tencionado, fixo na extremidade interna correspondente ao ponto de medida e livre na extremidade externa localizada na face dos taludes. Extensômetros (Strain Gages) Pode medir deslocamentos até deformações bem grandes. Trata-se de sistemas que utilizam barras de aço ancoradas em pontos bem determinados no subsolo e com seu deslocamento relativo medido na superfície, o que permite determinar de maneira direta quanto de deslocamento está ocorrendo em diferentes áreas do subsolo. Fonte: Adaptado de Geo-Rio (2000) 27 Figura 8: Instrumentos de monitoramento de taludes Fonte: Adaptado de Geo-Rio (2000) 3.5 Fator de segurança Silva (2011) comenta que de acordo com a teoria proposta por Fellenius (1922), a relação entre a resistência à movimentação e a tensão de cisalhamento que tende a causar a movimentação ao longo de uma superfície, é denominada como fator de segurança, conforme Equação 1. A ABNT (NBR 11682:2009) define fator de segurança como o valor da razão entre a resistência (tensão cisalhante máxima disponível) e a resistência mobilizada (tensão cisalhante atuante ao longo da superfície de ruptura). (1) F.S= Resistência ao cisalhamento disponível Tensões de cisalhamento atuantes De acordo com Gerscovich (2014), existe um fator de segurança admissível F. Sadm, que corresponde a um valor mínimo a ser atingido e varia em função de um tipo de obra e vida útil, e depende das consequências de uma eventual ruptura, considerando as perdas humanas e/ou econômicas. Além disso, através de métodos determinísticos são atribuídos valores aos fatores de segurança, tendo-se a seguinte relação ilustrada na Equação 2. 28 (2) FS= τf τmob { >1 → obra estável =1 → ocorre ruptura <1 → não tem significado físico A ABNT (NBR 11682:2009) explica que os fatores de segurança (FS) têm a finalidade de cobrir as incertezas naturais das diversas etapas de projeto e construção. Ainda, na metodologia recomendada pela norma, admite-se que o valor de FS pode variar em função da situação de ruptura do talude, levando em consideração o perigo de perda de vidas humanas e à possibilidade de danos ambientais e materiais, conforme tabelas apresentadas a seguir. A partir dos riscos que podem estar envolvidos, o projeto deve inicialmente se enquadrar em uma das classificações de nível de segurança, definidas a partir das possibilidades de perdas de vidas humanas (ABNT NBR 11682:2009), conforme Tabela 3 abaixo. Tabela 3: Nível de segurança desejado contra a perda de vidas humanas Nível de segurança Critérios Alto Áreas com imensa movimentação e permanência de pessoas, como edificações públicas, residenciais ou industriais, estádios, praças e demais locais, urbanos ou não, com possibilidade de elevada concentração de pessoas Ferrovias e rodovias de tráfego intenso Médio Áreas e edificações com movimentação e permanência restrita de pessoas Ferrovias e rodovias de tráfego moderado Baixo Áreas e edificações com movimentação e permanência eventual de pessoas Ferrovias e rodovias de tráfego reduzido Fonte: ABNT NBR 11682:2009 Segundo a ABNT (NBR 11682:2009), o engenheiro civil deve ainda enquadrar o projeto de acordo com a Tabela 4, para atender os critérios propostos relacionados com a segurança contra danos materiais e ambientais. Após delimitar os dados iniciais, deve-se levar em consideração o fator de segurança mínimo no projeto, de acordo com a Tabela 5. 29 Tabela 4: Nível de segurança desejado contra danos materiais e ambientais Nível de segurança Critérios Alto Danos materiais: Locais próximos a propriedades de alto valor histórico, social ou patrimonial, obras de grande porte e áreas que afetem serviços essenciais Danos ambientais: Locais sujeitos a acidentes ambientais graves, tais como nas proximidades de oleodutos, barragens de rejeito e fábricas de produtos tóxicos Médio Danos materiais: Locais próximos a propriedades de valor moderado Danos ambientais: Locais sujeitos a acidentes ambientai moderados Baixo Danos materiais: Locais próximos a propriedades de valor reduzido Danos ambientais: Locais sujeitos a acidentes ambientais reduzidos Fonte: ABNT NBR 11682:2009 Tabela 5: Fatores de segurança mínimos Nível de segurança contra danos a vidas humanas Nível de segurança contra danos materiais e ambientais Alto Médio Baixo Alto 1,5 1,5 1,4 Médio 1,5 1,4 1,3 Baixo 1,4 1,3 1,2 Fonte: ABNT NBR 11682:2009 NOTA 1: No caso de grande variabilidade dos resultados dos ensaios geotécnicos, os fatores de segurança da tabela acima devem ser majorados em 10%. Alternativamente, pode ser usado o enfoque semiprobabilístico indicado no Anexo D. NOTA 2 No caso de estabilidade de lascas/blocos rochosos, podem ser utilizados fatores de segurança parciais, incidindo sobre os parâmetros γ, ϕ, c, , em função das incertezas sobre estes parâmetros. O método de cálculo devem ainda considerar um fator de segurança mínimo de 1,1. Este caso deve ser justificado pelo engenheiro civil geotécnico. NOTA 3 Esta tabela não se aplica aos casos de rastejo, voçorosas, ravinas e queda ou rolamento de blocos. A ABNT (NBR 11682:2009) ressalta nas notas, da Tabela 5, alguns apontamentos que devem ser considerados. Na nota 1, é recomendado que os parâmetros deresistência ao cisalhamento do solo sejam majorados em 10% devido à incerteza, ou seja, há uma variabilidade dos resultados obtidos em ensaios. Na nota 2, aplica-se em casos de obras parciais, onde é preciso a modificação de um talude rochoso, sem que haja, essencialmente, a necessidade de contenção, portanto, é considerado um fator de segurança mínimo de 1,1, e sendo justificado pelo engenheiro de acordo com o tipo de obra a ser realizada. A nota 3 é uma recomendação de segurança da norma, porém é possível considerar os fatores de segurança para os casos de rastejo, voçorosas, ravinas, quedas ou rolamento de blocos. 30 3.6 Análise de estabilidade Analisar a estabilidade de um talude envolve um conjunto de métodos cujo objetivo é verificar o quão próximo da ruptura um determinado talude encontra-se, levando em conta diferentes conjuntos de fatores (geometria do talude, natureza do terreno, pressões neutras, sobrecargas, etc.) (AUGUSTO FILHO; VIRGILI; DILÁSCIO, 2018). Gerscovich (2016) salienta que a finalidade da análise de estabilidade de taludes é avaliar a possibilidade de ocorrência de escorregamento de massa de solo presente em talude natural ou construído. Geralmente, estas análises são realizadas pela comparação das tensões cisalhantes mobilizadas com a resistência ao cisalhamento. 3.6.1 Método de equilíbrio limite Segundo Liu, Shao e Li (2015) o método de equilíbrio limite (LEM) é amplamente utilizado por pesquisadores e engenheiros na realização de análise de estabilidade de taludes. As técnicas de limite de equilíbrio mais comuns são os métodos de fatias, tais como: o método comum de fatias (Fellenius), Bishop simplificado, Spencer, e o método de Morgenstern-Price. Para Tonus (2009), os métodos de equilíbrio limite indicam que há equilíbrio na massa do solo, considerada como corpo rígido, com grande chance de escorregamento. Por se tratar de um método de fácil aplicação e ampla utilização durante muitos anos, os métodos de equilíbrio limite são utilizados frequentemente. A Tabela 6 abaixo descreve alguns dos métodos mais usuais atualmente, e apresenta algumas características que diferem os métodos uns dos outros. 31 Tabela 6: Características dos métodos de equilíbrio limite MÉTODO CARACTERÍSTICAS Fellenius (1927) Superfície de ruptura circular Satisfaz o equilíbrio de momentos Bishop Simplificado (1955) Superfície de ruptura circular Satisfaz o equilíbrio de momentos Satisfaz o equilíbrio de forças verticais Janbu Simplificado (1968) Superfície de ruptura qualquer Satisfaz o equilíbrio de forças verticais e horizontais Morgenstern-Price (1965) Superfície de ruptura qualquer Satisfaz o equilíbrio de momentos Satisfaz o equilíbrio de forças verticais e horizontais Spencer (1967) Superfície de ruptura qualquer Satisfaz o equilíbrio de momentos Satisfaz o equilíbrio de forças verticais e horizontais Fonte: Tonus (2009) De acordo com a GeoRio (2000), o método de Spencer (1967) apresenta valores mais realísticos do F.S. e vê como uma determinada limitação a complexidade dos cálculos, tal como o método Morgenstern e Price (1965), que apresenta como limitação a exigência de cálculos com a utilização de computador. Tem vantagem sobre o método Janbu (1972) considerações mais precisas por não considerar as forças verticais entre fatias, tal como Bishop simplificado (1955). Janbu (1972) é um método de grande utilização, apesar das suas limitações práticas. Os métodos de Morgenstern- Price (1965) e Spencer (1967) satisfazem todas as condições de equilíbrio estático. O método de Morgenstern-Price (1965) é utilizado para estudos ou análises detalhadas (retroanálises). Para análises mais complexas, com restrições geométricas da superfície de ruptura, o método de Spencer (1967) é o mais aplicado. O método das fatias (Figura 9), é a forma mais utilizada em estudos de estabilidade de taludes, pois permite que o solo seja heterogêneo, que o talude apresente superfície irregular e possibilita incluir a distribuição da poropressão. A partir disso, realiza-se o equilíbrio de forças em cada fatia, adotando as tensões normais na base da fatia como sendo geradas pelo peso de solo contido na mesma. Calcula-se então, o equilíbrio do conjunto através da equação de equilíbrio de momentos em relação ao centro do círculo, considerando os pesos e as forças tangenciais na base das fatias (GERSCOVICH, 2016). 32 Figura 9: Representação do método de fatias e as forças atuantes Fonte: Massad (2010) Segundo Fiori e Carmignani (2011), teoricamente um talude apresenta como uma massa de solo submetida a três campos de forças distintas: − Forças devidas ao peso dos materiais; − Forças devidas ao escoamento da água; − Forças devidas à resistência ao cisalhamento. Portanto, o estudo de estabilidade dos taludes deve levar em conta o equilíbrio entre essas forças, onde as duas primeiras se somam e tendem a movimentar a massa de solo encosta abaixo, enquanto a última atua como um freio a esta movimentação (FIORI; CARMIGNANI, 2011). 3.6.2 Método dos elementos finitos Com o avanço da tecnologia, a aplicação do método dos elementos finitos na análise geotécnica tornou-se cada vez mais usual. Este método tem várias vantagens: a possibilidade de modelação com um grau muito elevado de realismo (geometria complexa, sequências de carregamento, a presença de material de reforço, a ação da água e as deformações do solo no local) (MATTHEWS; FAROOK; HELM, 2014). De acordo com Oberhollenzer, Tschuchnigg e Schweiger (2018) na comparação do método de equilíbrio limite com o método dos elementos finitos, tem-se que as análises numéricas não solicitam nenhuma definição da falha de mecanismo e possibilitam a determinação do nível de segurança com maior precisão. Além disso, as análises de elementos finitos têm como técnica a redução de forças, do ângulo de atrito, e da coesão, até que não exista mais a possibilidade de ser alcançado no procedimento numérico. 33 Silva (2011) comenta que além de uma modelação mais realista, este método realiza o cálculo com base nas relações tensão-deformação dos materiais, possibilitando, a especificação da lei de comportamento dos mesmos (linear elástica, não linear, elastoplástica, entre outras). Apesar dos resultados serem mais rigorosos e precisos, este tipo de análise exige uma maior experiência computacional e a inserção de dados de qualidade, obrigando o utilizador à coleta de mais informações, muitas vezes inexistentes ou difícil de obter. 3.6.3 Ferramentas computacionais Os profissionais que atuam na área de estabilização de taludes, utilizam softwares como ferramentas de apoio para o desenvolvimento de estudos. São ferramentas importantes para o desenvolvimento de retroanálises, avaliação do fator de segurança do talude, entre outras funções que permitem uma visualização mais realista, simplificada e ágil (AUGUSTO FILHO; VIRGILI; DILÁSCIO, 2018). De acordo com Augusto Filho, Virgili e Diláscio (2018), os programas tipo CAD na estabilização de taludes, são muito úteis no tratamento de levantamentos topográficos de detalhe, na elaboração de seções de terraplenagem e de elaboração de desenhos das obras de estabilização, gerando pranchas. Augusto Filho, Virgili e Diláscio (2018) salientam ainda que programas do tipo SIG (Sistema de Informações Geográficas) também são utilizados em projetos de estabilização de taludes, principalmente nas etapas de trabalho iniciais e mais regionais, ou realizando o mapeamento de áreas suscetíveis a movimentos de massa e outros processos de instabilizações. Além disso, uma ferramenta muito comum e de fácil acesso é Google Earth Pro, que permite a obtenção de imagens aéreas de satélite, podendo ser útil em projetos de estabilização de taludes. Uma das ferramentas computacionaisbem empregada é o software PLAXIS, ilustrado na Figura 10, baseado no método de elementos finitos. De acordo com Carapiá (2018), o programa utiliza uma malha de elementos finitos, contendo de 6 a 15 nós de elementos triangulares, podendo ser refinada ao todo ou em áreas específicas (cluster). É possível estipular o tipo de análise efetuada, geometria do problema, condições de contorno, nível d'água e modelos constituídos dos diferentes materiais, de acordo com as estruturas, camadas de solo e interfaces. Permite trabalhar com estado plano de deformação ou axissimétricas, sendo especialmente desenvolvido para engenharia geotécnica. GEOSLOPE, ilustrado na Figura 11, é outro software bastante utilizado, desenvolvido pela 34 GEO-SLOPE International, Canadá, baseado nos métodos de equilíbrio limite que também incorpora um pacote de elementos finitos, desenvolvido especificamente para a análise de deformação e estabilidade de estruturas geotécnicas. Inclui modelagem de estabilidade (SLOPE / W), modelagem de escoamento (SEEP / W), modelagem de tensão e deformação (SIGMA / W), modelagem dinâmica (QUAKE / W), modelagem térmica (TEMP / W), modelagem de contenção (CTRAN / W) e modelagem de zona vadose (VADOSE / W). (BISWAS; GHOSH, 2012) Outra ferramenta disponível no mercado é o software SLIDE, considerado um dos mais completos na análise de estabilidade. De acordo com a L3 Software, o SLIDE analisa elementos finitos, águas subterrâneas e infiltração, levantamento rápido, sensibilidade, análise probabilística e projeto de apoio, conforme a Figura 12. Leva em consideração todos os tipos de solos, rochas, encostas, aterros, barragens de terra e muros de contenção. Existe ainda, a versão mais atualizada com a visualização em 3D, ilustrada na Figura 13, e permite uma análise mais aprofundada de todos os tipos de solo, com geologia completa, materiais anisotrópicos, carregamento e suporte. Diante das ferramentas disponíveis no mercado, é importante ressaltar que qualquer software pode ser considerado o mais apropriado para o projeto, o que será determinante para que isto ocorra, é a quantidade e a confiabilidade de dados. Torres Filho e Andrade (2015) comentam que a influência da escolha do software parte de um limitante, ou seja, a necessidade de um maior número de dados para a execução dos ensaios, o que normalmente inviabiliza o procedimento e acaba tornando-se mais trabalhoso e oneroso, sendo importante adequar as informações à ferramenta adotada, para refinar melhor o projeto e torná-lo mais econômico, porém ainda seguro. 35 Figura 10: Software PLAXIS (Superfície de deslizamento e deformação da malha) Fonte: Silva (2011) Figura 11: Exemplo da aplicação da ferramenta GEOSLOPE Fonte: Teixeira, Reis e Izzo (2016) 36 Figura 12: Exemplo do software SLIDE Fonte: Santos, Montanari e Pereira (2016) Figura 13: Visualização em 3D software SLIDE3 Fonte: Rocscience (2017) 3.6.3.1 Software GEOSLOPE De acordo com Sinimbuh e Mundim (2016) os dados de entrada do software GEOSLOPE para a realização da análise são baseados na geometria do maciço que ser quer analisar e de parâmetros geotécnicos do solo como: a coesão, o ângulo de atrito e peso específico, e com isso, é possível modelar simplificadamente e com condições reais de campo o estado em que se encontra o maciço de solo, se este corre risco de ruptura e/ou deslizamentos, além do fator de segurança da estrutura, ou seja, o quão resistente ele se encontra em cada coordenada referente a uma pequena região de solo. Ainda segundo Sinimbuh e Mundim (2016), os resultados obtidos pelo software engloba o 37 fator de segurança mínimo para cada camada de solo ou para a estrutura inteira, exibe as forças que atuam em cada fatia de solo, bem como o estado de tensões geral do maciço, aponta a superfície de deslizamento mínimo. Além disto, para um estudo mais aprofundado é possível utilizar uma segunda ferramenta, o SIGMA/W, onde é possível verificar os as tensões e deformações no maciço. Existem ainda outros tipos de ramais, como o SEEP/W (águas subterrâneas), QUAKE/W (análise de terremotos), TEMP/W (termometria), CTRAN/W (transporte de contaminantes), AIR/W (análise de fluxos de ar) e VADOSE/W (zonas e coberturas de solos vadosos ou superficiais). 3.7 Condições de contorno para análise de estabilidade Para a realização de análise de estabilidade de um talude é necessário que seja levado em consideração fatores determinantes que impactam na estabilidade do mesmo. Esta avaliação de análise de uma massa de solo depende da geometria do talude, do tipo de solo no local de estudo, a presença de água, sobrecargas atuantes, etc. Fiori e Carmignani (2011, p. 186) explicam que: A água influi fortemente na estabilidade de taludes pelo efeito da pressão neutra, da pressão de percolação e pela remoção do elemento aglutinante ou cimento do solo em solução, diminuindo sua coesão. [...] Outro aspecto importante é que, em caso de saturação do solo, elimina-se o efeito da tensão superficial, que, em muitos solos de granulometria fina, aparenta ter uma coesão aparente. Massad (2010, p. 88) explica que existem alguns fenômenos que influenciam na estabilidade de taludes, podendo causar a ruptura, conforme itens a seguir: a) Alteração da geometria do talude, através de cortes ou escavações, retaludamentos (aumentando a sua inclinação), conforme a representação na Figura 14. O autor utiliza o termo “taludar”, que significa “rasgar em degraus”; b) Colocação de sobrecargas no topo de taludes; c) A infiltração de águas de chuvas contribui para à destruição da vegetação existente (reduzindo a resistência do solo), ou ainda, provoca um “amolecimento” do solo, devido a saturação, reduzindo a resistência; d) A poluição ambiental e o desmatamento levam à destruição da vegetação, que tem um papel importante da estabilização de taludes ou encostas. 38 Figura 14: Mudança na geometria do talude Fonte: Massad (2010) A presença de solos heterogêneos, a característica do material e seus parâmetros geotécnicos são condicionantes analisados em um talude. Augusto Filho, Virgili e Diláscio (2018, p. 403) destacam que: O ângulo de atrito e a coesão, são parâmetros determinantes da resistência ao cisalhamento, variam bastante, de acordo com a característica do solo. A coesão possui uma parcela relacionada à capilaridade, a coesão aparente, que varia com o grau de saturação do solo. Outros parâmetros e propriedades dos solos relevantes: peso específico, porosidade, índice de vazios, mineralogia, granulometria, plasticidade, permeabilidade, história de tensões e compressibilidade. 3.8 Solos É válido ressaltar a importância do conhecimento do tipo de solo da região, portanto, é necessário encontrar informações referentes ao solo na região do estado do Rio Grande do Sul, para determinar os parâmetros geotécnicos e conhecer as características. A Figura 15 abaixo ilustra a localização da área em avaliação. 39 Figura 15: Localização do município de Passo Fundo Fonte: Adaptado de CPRM (2006) e Google Earth (2019) O solo da região de Passo Fundo é classificado como solo residual de basalto e pertence à província geológica do planalto Rio-Grandense, segundo a geologia do Rio Grande do Sul, e pertence à bacia do Paraná de acordo com a geologia do Brasil (BERTORELLI; HARALYI, 1998). De acordo com Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa (1999) o solo é classificado como latossolo distrófico vermelho. São solos muito profundos, drenados e altamente intemperizados, apresentando uma sequência de horizontes A-Bw-C, onde Bw é do tipo latossólico. Estes solos têm pouco incremento de argila com a profundidade, transição gradual entre os horizontes e, porserem muito intemperizados, têm predomínio de caulinita e óxidos de ferro, o que lhes proporciona baixa CTC (capacidade de troca catiônica) 18 %, o que os caracteriza como distroférrico (STRECK et al., 2008). 40 3.8.1 Parâmetros geotécnicos Biavati (2017) retirou amostras indeformadas na região de Erechim – RS, em condições climáticas favoráveis, para a realização de ensaio de cisalhamento direto, com objetivo de determinar os parâmetros de resistência do solo. O solo é classificado como um solo residual argilo-siltoso oriundo de rocha matriz basáltica. Os índices físicos do solo de Erechim e os parâmetros de resistência avaliados por Biavati (2017), estão ilustrados na Figura 16. É possível observar que a coesão na condição natural do solo é de 29,50kPa, e na inundada é 17,50kPa, o ângulo de atrito natural é de 22,15° e o peso específico na condição natural é de 15,15 kN/m³. Figura 16: Resultados dos índices físicos do solo e parâmetros de resistência na condição natural e inundada de Erechim Fonte: BIAVATI (2017) De acordo com o trabalho de pesquisa de caracterização geotécnica do solo de Passo Fundo dos autores Sachetti, Rojas e Heineck (2014), a partir de ensaios realizados de uma parcela de solo, coletada junto à Britadeira Farroupilha no Bairro São Luiz Gonzaga (local onde realiza-se a extração de rochas para utilização em construção civil e pavimentação), foram obtidos os seguintes resultados: 41 − Densidade real dos grãos: 2,81 g/cm³; − Índice de plasticidade em torno de 4%, sendo considerado como fracamente plástico; − Argila inativa, a partir do índice de atividade de 0,36. A partir de coletas de amostras deformadas do solo de Passo Fundo para caracterização física do solo, é apresentado os resultados na Tabela 7, é mostrada a predominância da fração argilosa com 70%, a areia apresenta 22% da composição total, e em seguida, 5% de silte (GIRARDELLO 2007). Tabela 7: Caracterização geotécnica do solo de Passo Fundo PARÂMETRO VALOR Argila (%) 70 Silte (%) 5 Areia (%) 22 Limite de Liquidez (%) 53 Limite de Plasticidade (%) 42 Índice de Plasticidade 11 Peso específico natural (kN/m³) 16,3 Umidade natural (kN/m³) 34 Índice de vazios 1,19 Grau de saturação (%) 75,7 Porosidade (%) 54 pH 5,4 Matéria orgânica <0,8 CTC (cmole/dm³) 8,6 Condutividade hidráulica (m/s) 1,39. 10−5 Fonte: Adaptado de Girardello et. al (2007) Do ponto de vista geotécnico, o solo de Passo Fundo é classificado como CH, ou seja, argila de alta plasticidade. O solo apresenta pH ácido, alto teor de argila, baixo teor de matéria orgânica e baixa CTC (capacidade de troca catiônica), típica de solos com predominância do argilo-mineral caulinita (REGINATTO et al., 2012). A partir de um trabalho de caracterização de parâmetros geotécnicos de um solo residual de basalto realizado na região norte do Rio Grande do Sul, no município de Ijuí, os autores Diemer et al. (2008) realizaram experimentos com 5 parcelas de solos, em locais distintos, denominados de: Solo A, Solo B, Solo C, Solo D e Solo E. Conforme os resultados obtidos no ensaio de granulometria, o solo mais similar com o de Passo Fundo é o Solo D, portanto, o ângulo de atrito é de 23,60º e a coesão 42 de 6,68 kPa, conforme Figura 17 abaixo. Figura 17: Gráfico de parâmetros de resistência ao cisalhamento (a) ângulo de atrito e (b) coesão Fonte: Diemer et al. (2008) 4 METODOLOGIA Este trabalho foi realizado com base em pesquisas presentes em livros, artigos, teses e dissertações que abordam os conceitos essenciais para o desenvolvimento da revisão bibliográfica e contextualização do assunto. Realizou-se um levantamento de informações necessárias como: parâmetros de solo e caracterização geométrica do talude em estudo, e posteriormente, utilizou-se uma ferramenta computacional (GEOSLOPE), que serviu como auxílio para análise e testes no decorrer do desenvolvimento do trabalho. 4.1 Histórico Para a realização da análise do presente estudo foi necessário levantar dados históricos do local onde o talude situa-se. A partir de imagens de satélite obtidas com o auxílio da ferramenta Google Earth, foi possível representar o mesmo local em datas diferentes, conforme a Figura 18, onde a imagem número 1 é no ano de 2011, imagem número 2 de 2015 e a imagem número 3 de 2018. Observa-se, previamente que, no ano de 2011, havia vegetações de vários portes e menos construções 43 no entorno, e ao longo do tempo, essa configuração foi se modificando devido a implantação de novas edificações, evidente no ano de 2015. O ano de construção dos pavilhões dos laboratórios da IMED foi em 2015, conforme foi possível observar nas imagens de satélites a movimentação de terra para início da obra. Em 2016 os pavilhões já estavam concluídos. Analisando o talude, percebeu-se que o mesmo foi cortado, e não houve informações sobre a geometria (inclinação, extensão, altura) do mesmo, apenas pôde-se notar que a sua inclinação era bem suave, e a extensão era diferente da atual. Após a construção dos galpões e estacionamento dos laboratórios da Faculdade IMED, houve alteração na área do talude, possibilitando visualizar que a geometria e extensão foi bastante modificada, tornando-o íngreme. Além disso, existem sobrecargas desconhecidas atuantes oriundas de edificações construídas ao lado do local de estudo, onde as forças se dissipam em parte do talude. Devido a estes fatores, é necessário analisar a estabilidade para assegurar que não ocorra a ruptura. 44 Figura 18: Imagens de satélite nos anos de (1) 2011, (2) 2015 e (3) 2018 Fonte: Adaptado de Google Earth (2019) 1 2 3 45 4.2 Caracterização do talude O presente talude do estudo localiza-se ao lado do estacionamento dos laboratórios da Faculdade Meridional – IMED, na Rua Arno Otto Kiehl, 65 - Vila Lucas Araújo, no município de Passo Fundo – RS. Trata-se de um talude de solo natural e possui as seguintes características físicas: − Talude de vegetação superficial; − Manifestações de pequenas patologias na face do talude (manchas de umidade, vegetação desenvolvida em estágios diferentes e alguns desníveis na face do talude); − Sobrecarga proveniente da edificação na crista do talude; − Canaleta de drenagem no pé do talude (alívio de tensões). Na Figura 19 a seguir, é possível visualizar a presente condição do talude no ano de 2019, com os aspectos das características físicas citadas acima. Figura 19: Foto atual do talude Fonte: Autora (2019) 4.3 Geometria do talude A caracterização topográfica do talude realizou-se a partir de visitas técnicas na região, realizando medições da crista até o pé do talude, para determinar sua extensão, calcular a altura e o ângulo de inclinação. Para esta etapa, foi indispensável a utilização de algumas ferramentas de 46 medições como: trena de 100 m, ripas para cravação no solo e mangueira de nível. A Figura 20 ilustra a medição do talude. Primeiramente, o talude foi divido em 4 partes para medições. O método de medição baseou- se em cravar ripas em 3 locais distintos: na crista, no corpo e no pé do talude, e com a utilização da mangueira de nível, foi possível verificar o desnível de um ponto para outro, somando os resultados para definir a altura do perfil avaliado do talude. A inclinação do talude, foi determinada através de cálculos de razões trigonométricas, ou seja, a partir de relações entre comprimentos dos triângulos formados pelo talude, possibilitou determinar o ângulo de cada uma das 4 partes do talude. A geometria caracterizada após este processo resultou- se nos seguintes dados: − Extensão total da face do talude de 12,80 m e 9,80 m (no sentido perpendicular à edificação dos pavilhões) e 6,50 m (em sua parcela de menor comprimento), conforme ilustração
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